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9 Tecido Nervoso Durantc a evolução dos metazoários surgiram dois siste- mas de integração para coordenar as funções dos vários órgãos especializados que apareceram nesses animais: os sistemas nervoso e endócrino. O tecido nervoso acha-se distribufdo pelo organismo, interligando-se e formando uma rede de comunicações, que consti tui o sislema nervoso. Anatomicamente, este sis- tema é dividido em: (1) sistema nervoso central (SN formado pelo encéfalo e medula espinhal; e (2) siste nervoso periférico (SNP), formado pelos nervos e pequenos agregados de células nervosas denominados gânglios nervosos (Fig. 9.1). Os nervos são constituídos principalmente por prolongamentos dos neurônios (oélu* las nervosas) situados no SNC ou nos gânglios nervosos, Sistema nervoso pertfirico Neuron ios ate rentes SISTEMA NERVOSO Sistema nervoso central (SNC) Recebe informaçoes do ambienie e as transmits para o SNC Mucosa olfatórla i Retina > Ouvldo Interno» Gânglios sensor ia is<^ Botões gustatlvos i 0 - ^ > — O Pele, musculos.» articulações, vísceras Sistema nervoso perrférico Neurônios eterentes Transmlte para a periferia intormações geradas no SNC Glandules satJvares •- Musculos esquelóticos Nervos e gânglios Cérebro e medula espinrial Nervos e gânglios Fig. 9.1 Desenho esquemático e simpl i f icado mostrando a organizaçâo funcional dos sistemas nervoso central e periférico, TECIDO NERVOSO 155 O tecido nervoso apresenta dois componentes princi- pais: (1) os neurôn ios, células geralmente com longos pro longamentos, e (2) vários tipos de células da glia ou neu- roglia, que sustentam os neurònios e parlicipam de outras | funções importantes. No SNC há uma segregação entre os corpos celu lares I dos neurônios e os seus prolongamentos. Isto faz com que j sejam reconhecidas no encéfalo e na mediüa espinhal duas | porçòesdistintas, denominadassubstância brancaesubs- j lância cinzenla. A substância cinzenta é assim chamada porquc mos- | tra essa coloração quando observada macroscopicamente. | É formada principalmente por corpos celuiares dos neu- | rónios e células da glia, contendo também prolongamen tos deneurônios. A substància branca nào contém corpos celuiares de | neurônios, sendo constituida por prolongamentos de neu- |rônios e por células da glia. Seu nome origina-se da pre- | sença de grande quantidade de um material esbranquiça- : dodenominado mielina, que envolve certos prolongamen tos dos neurònios (axônios). Os neuronios têm a propriedade de responder a altera- ções do meio em que se encontram {estimulos) com mo- ; dificações da diferença de potencial elétrico que existe en- | tre as superficies externa e intema da membrana celular. | As células que exibem essa propriedade (neurônios, cólu- las musculares e de algumas glândulas) são ditas "excitá- veis". Os neurônios reagem prontamente aos estimulos, e jamodiheacao do potencial pode restringir-se ao local do estfmulo ou propagar-se ao restante da céiula, através da jmembrana. Esta propagação constitui o que se denomina jimpulso nervoso, cuja função é transmitir informações a outros neurônios, a músculos ou a gtândulas. Os neurônios, através de seus prolongamentos geral mente longos e numerosos, formam circuitos. Da mesma maneira que os circuitos eletrônicos, os ciKuitos neuronais sâodediversos tamanhos ecomplexidade. Ocircuito neu ral pode ser simples, porém na maioria das vezes trata-se jda combinação de dois ou mats circuitos que interagem jpara executar uma função. Muitos circuitos elementares se oomunicam em grau crescente de complexidade para exe cutar funções cada vez mais complexas. [ As funções fundamentais do sistema nervoso sào: (1) detectar, transmitir, analisar e utilizar as informaçòes ge- radas pelos estimulos sensoriais representados por calor, hiz, energia mecânica e modificaçòes químicas do ambi- ente externo e interno; (2) organizar e coordenar, direta ou indiretamente, o funcionamento de quase todas as funções do organismo, entre as quais as funções motoras, viscerais, endocrinas e psíquicas. Assim, o sistema nervoso estabili- za as condições intrínsecas do organismo, como pressão sanguínea, tensão de O-e de CO^teor de glicose, de hor- monios e pH do sangue, e participa dos padrões de com- portamento, como os relacionados com a alimentação, re- produção, defesa e interação com outros seres vivos. EURÔNIOS As céluias nervosas ou neurônios são formadas por um corpo celular ou pericário, que contém o núcleo e do qual partem prolongamentos. Em geral, o volume total dos pro- Jongamentos de um neurônio é maior do que o volume do corpo celular. Os neurônios possuem morfologia complexa, porém quase todos apresentam trê$ componentes (Fig, 9.2): • dendri tos, prolongamentos numerosos, especial izados na função de receber os estimulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios; • corpo celular ou pericário, que é o cenrro trófico da cé- lula c é também capaz d e receber estimulos; • axônio, prolongamento único, especializado na condu- ção de impulsos que transmitem informações do neu- rônio para outras células (nervosas, musculares, glan- du lares). As dimensões e a forma das células nervosas e seus pro longamentos são muito variáveis (Fig. 9.2). O corpo celu lar pode ser esférico, piriforme ou anguloso. Em geral, as células nervosas são grandes, podendo o corpo celular medir até 150 u.m. Uma célula com esta dimensão, quan do isolada, é visivel a olho desarmado. Todavia, os neurô- nios denominados células granulosas do cerebelo estão Dendrilos Corpüsculos tie Nissi Segmenlo inicial do axônio Oligodendfócrto Nodo de Ranvier Axònio de oulro neurónio Sinapse Pericário Cone de implanlaçâo Bainha de mielina Ramo colaleraf do axônio Axõnio Sistema nervoso central Sistema nervoso periférlco Mil Sistema nervosc H i — ~ - l _ Cólula de Schwann Ramo colateial Placas motoras Fig. 9.2 Neurônio motor. A mielina que envolve o axônio no sis tema nervoso central é produzida pelos oligodendrócitos e no sistema nervoso periférico pelas células de Schwann. O corpo celular do neurônio contém um núcleo grande, claro, com um nudéolo bem visivel. O pericário contém corpúsculos de Nissl encontrados também nos dendritos mais grossos. A parte supe rior direita mostra um axônio de outro neurònio, com trèsbotões terminals, um dos quais faz sinapse com o neurônio do desenho. O axônio deste neurônio termina em três placas motoras que transmitem o impulso nervoso para as fibras musculares estriadas esqueléticas. As setas indicam a direcão do impulso nervoso. 156 H1STOLOGIA BÁSICA entre as menores células dos mamfferos, medindo seu cor- po celular 4 a 5 P-m de diâmetro. De acordo coin sua morfologia, os neurônios podem ser classificados nos seguintes tipos {Figs. 9.3 e 9.4): • neurônios multipolares, que apresentam mais de dois prolongamentos celulares; • neuron i os bipolares, possuidores de um dendrito e de um axônio; e • neurônios pseudo-unipoiares, que apresentam, proxi mo ao corpo celular, prolongamento único, mas este logo se divide em dois, dirigindo-se um ramo para a periferia e outro para o sistema nervoso central. Os neurônios pseudo-unipolares aparecem na vida embrionária sob a forma de neurônios bipolares, com um axônio e um dendrito nascendo de extremidades opostas do pericário. Durante o desenvolvimento, os dois prolon gamentos se aproximam e se fundem por um pequeno percurso, proximo ao pericário. Os dois prolongamentos das células pseudo-unipolares, por suas características morfológicas e eletrofisiológicas, são axônios, mas as arborizações terminals do ramo peri- férico recebem estímulos e funcionam como dendritos. Neste tipo de neurônio, o estímulo captado pelos dendri tos transita diretamente para o terminal axônico, sem pa*-| sar pelo corpo celular. A grande maioria dos neurônios é multipolar. Neurôníos| bipolares são encontrados nos gânglios coclear e vestibular,! na retina e na mucosa olfatória. Neurônios pseudo-unipolares' são encontrados nosgânglios espinhais, que são gàngliossen- sitivos siruados nas raizes dorsais dos nervos espinhais. Os neurônios podem ainda ser classificados segundo sua função. Os neurônios molores controlam órgãos efe-; tores, tais como glândulas exócrinas e endócrinas e floras: musculares, Os neurônios sensoriais recebem estimulos sensoriais do meio ambiente e do próprio organismo. Os interneurônios estabelecem conexões entre outros neurò- nios, formando circuitos complexos. Durante a evolução dos mamiferos ocorreu grande au- mento no numero e na complexidade dos interneurônios* As funçoes mais complexas e de mais alto nivel do siste ma nervoso dependem das interaçôes dos prolongamen tos de muitos neurônios. No SNC os corpos celulares dos neurônios localizam- se somentena substância cinzenta. A subsláncia branca não apresenta pericários, mas apenas prolongamentos destes, No SNP os pericários são encontrados em gânglios e eni alguns órgãos sensoriais como a mucosa olfatória. Cétula piramidal do cortex cerebral Célula de Purkinje {cerebeto) J**? Neurônlo da area ópiics Mr Neurônio \ secreiorda \ hipótise Neurônio motor da medula espinhal Neurônlos bipolares Neuronio pseudo-unipolar Neurônio central do sistema nervoso autõnomo Neurônio ganglionar do sistema nervoso autônomo Fig. 9.3 Esquemas de alguns tipos de neurônios. A morfologia dessas células é miiito complexa. Todos os neurônios mostrados, exceto os dois neurônios bipolares e o pseudo-unipolar, que não sâo muito numerosos no tecido nervoso, são neurõnios do tipo multipolar. TECIDO NERVOSO 157 BIPOLAR TIPOS DE NEURÓNIOS MULT! POLAR PSEUDO-UNIPOLAR Dendritos t/ V Diroção do Impulso Direçâo do impulso Terminal axônico Terminal axônico Terminal axônico Fig. 9.4 Representação simpliíicada da morfologia dos três tipos principals de neurônios. CORPO CELULAR 0 corpo celular ou pericário é a parte do neurônio que j contém o núcleo e o citoplasma envolvente do nucleo (Fig. 19.2). É, principalmente, um centro trófico, mas também tem funçào receptora e integradora de estimulos, recebendo estímulos excitatórios ou inibitórios gerados em outras céiuliis nervosas. \'a maioria dos neurònios o núcleo é esférico e aparece jpouco corado, pois seus cromossomos acham-se muito distendidos, indicando a alta atividade sintética dessas células. Cada núcleo tem em geral apenas um nucléolo, grande e central. Proximo ao nucléolo ou à membrana nuclear observa-se, no sexo feminino, cromatina sexual, sob a forma de um grânulo esférico bem distinto. A cro matina sexual é constituída por um cromossomo X que permanece condensado e inativo na intérfase (ver Cap. 3). 0 corpo celular dos neurónios (Fig. 9.5) é rico em reti- culo endoplasmático rugoso, que forma agregados de cis ternas paralelas, entre as quais ocorrem numerosos polir- ribossomos livres. Esses conjuntos de cisternas e ribosso- mos se apresentam ao microscópio óptico como manchas basófílas espalhadas pelo citoplasma, os corpúsculos de Nissl (Figs. 9.2 e 9.6). A quantidade de retículo endoplasmático rugoso varia com o tipo e o estado funcional dos neurônios, sendo mais abundante nos maiores, particular men te nos neurônios motores (Fig. 9.6). 0 aparelho de Golgi localiza-se exclusivamente no pe- ricário, consistindo em grupos de cisternas localizadas em torno do núcleo (Fig. 9.5). As mitocôndrias existem em quantidade moderada no pericário, mas estão presentes em grande quantidade no terminal axônico. Os neurofilamentos são filamentos in termed iários (10 run de diàmetro), abundantes tanto no pericário como nos prolongamentos. Em certos preparados por imprcgnação pela prata, esses neurofilamentos se aglutinam e sobre eles ocorre umfl deposição de prata metálica, aparecendo assim as neurofibrilas visíveis ao microscópio óptico. O citoplas ma do perícário e dos prolongamentos também apresenta microtúbulos semelhantes aos encontrados em outros ti pos celulares. Em determinados locais os pericários contêm grânulos de melanina, pigmento de significado funcional ainda des- conhecido nesse tipo celular. Outro pigmento as vezes encontrado nos corpos dos neurônios é a lipofuscina de cor parda, contendo lipidios, que se acumula com o decor- rer da idade e consiste em resfduos de material parcialmen- te digerido pelos Hsossomos. DENDRITOS A maioria das células nervosas possui numerosos dendri tos, queaumentam consideravelmente a superfície celular, tornando possível receber e integrar impulsos trazidos por numerosos terminals axônicos de outros neurõnios. Cal- culou-se que até 200.000 terminações de axdnios estabele- cem contato funcional com os dendritos de uma única cé- lula de Pufkinje (Fig. 9.3). Os neurônios qutí possuem um só dendrito (neurônios bipolares) são pouco freqüentes e localizam-se somente em certas regiões específicas. Ao contrário dos axônios (fibras nervosas), que mantêm o diâmetro constants ao longo de seu comprimento, os den dritos tornam-se mais finos à medida que se ramificam, como os galhos de uma árvore (Fig. 9.4). A composição d o citoplasma da base dos dendritos, proximo ao perícário, é semelhante à do corpo celular, porém os dendritos não apresentam aparelho de Golgi. A grande maioria dos impulsos que chegam a um neurònio são recebidos por pequenas projeções dos dendritos, as 158 HISTOLOGIA BÁSICA Sinapse Güa Nipsl Sinapse $? - Sinapse Glia ' - ^ k í g - N í s s l Gone de implanlação Microiubuloí, fig. 9.5 Descnho baseado em micrografias detrônicas. A superficie do neurônio c completamente coberla por terminações sinápti- cas de outros neurônios t>u por prolongamentos de células da glia. Nas sinapses, a membrana do neurõnio é mais espessa, sendo c'ha mad a membrana pós-sináptica. O prolongamento do neurõnio sem ribossomos (parte inferior da figura) é o cone de imp'anta- Cão do axônio. Os outros prolongamentos da célula sâo dendritos. Notar a ausência de material exlracelular. espinhas ou gêmulas. Essas gêmulas, com 1 a 3 u-m de comprimento e menos de 1 urn de diâmetro, geralmente são formadas de uma parte alongada presa ao dendrito c que termina por uma pequena dilatação. Essas gêmu- las existem em grande quantidade e desempenham im- portantes funções. Elas são o primeiro local de proces- samento dos sinais (impulsos nervosos) que chegam ao neurônio. Esse mecanismo de processamento localiza-se num complexo de diversas proteínas presas à superfície citosólica da membrana pós-sináptica, que é visível ao microscópio eletrônico e recebeu o nome de membrana pós-sináptica, muito antes do descobrimertto de suas funções. As gêmulas dendrfticas participam da plastici- dade dos neurônios relacionada com a adaptação, memó- ria e aprendizado. Essas gêmulas são estrururas dmámi- cas / com plasticidade morfológica baseada na proteína actina, um componente do citoesqueleto que está relaci- onado a formação das sinapses e à sua adaptação funcio- nal, mesmo em adultos. AXÔNIOS Cada neurônio possui apenas um único axônio, que é um cilindro de comprimento e diâmetro variáveis conforme o tipo de neurônio. Alguns axônios são curtos, mas, na mai- oria dos casos, o axônio é mais longo do que os dendritos TECIDO NERVOSO 159 Fig. 9.6 Fotomicrograha de um neuronio motor, uma célula mui to grande da medula espinhal, cujo citoplasma apresenta muitos .granules de Nissl. O prolongamento celular (parte superior) è um dendrilo. Ko centro do corpo celular observa-se o nucleo gran de, torn um nucléolo esférico, fortemente corado. da mesma célula. Os axônios das células motoras da me dula espinhal que inervam os músculos do pé, por exem- >^lo, tern cerca de 1 m de comprimento. | Geralmente o axônio nasce de uma estrutura pirami- dal do corpo celular, denominada cone de implantação {Fig. 9.5). Nos neurônios cujos axônios são miebnizados, a parte do axônio entre o cone de implantação e o início da bain ha de mielina é denominada segmento inicial. Este segmen to recebe muitos estímulos, tanto excitatórios como inibi- tórios, de cujo resultado pode originar-se um potencial de açâo cuja propagação é o impulso nervoso. O segmento inicial contém vários canais iônicos, importantes para ge- rar o impulso nervoso. Em toda sua extensão, os axônios tém um diâmetro constante e não se ramificam abundan- temente, ao contrário do que ocorre com os dendritos. Os axõnios podem dar origem a ramificações em ârtgulo reto denominadas colaterais, que sáo mais freqüentes no SNC (Fig. 9.2). O citoplasma do axônio ou axoplasma apresen- ta-se muito pobre em organelas. Possui poucas mitocôn- drias, cisternas do reticulo endoplasmático liso e microtu- bulos. Porém os neurofilamentos são freqüentes. A porção final do axônio em geral é muito ramificada e recebe o nome de telodendro. Existe um movimento muito ativo de moléculas e orga nelas ao longo dos axônios. O centro de produção de pro- teínas é o pericário, e as moléculas protéicas sintetizadas migram pelos axônios (íluxo anterógrado) em diversas velocidades, mas há duas correntes principais: uma rápi- da (centenas de milimetros por dia) e outra lenta (uns pou- cos milimetTos por dia). Além do fluxo anterógrado existe também um rranspor- te de substâncias em sentido contrário, isto é, do axônio para o corpo do neurônio. Este fluxo retrógrado leva mo- léculas diversas para serem reutilizadas no corpo celular e leva também material captado por endocitose, incluindo virus e toxinas. O fluxo retrógrado é utilizado em neurofi- siologia para estudar o trajeto das fibras nervosas: injeta- se peroxidase ou outro marcador nas regiôes com termi nals axônicos e examina-se a distribuiçâo do marcador certo tempo após a injeção. Microtúbulos e proteínas motoras são responsáveis pe los fluxos axonais. As protefnas motoras prendem vesicu- las, organelas ou moléculas e "caminham" sobre os micro- túbulos. Uma dessas protefnas é a dineina, que toma par te no fluxo retrógrado, e outra é a cinesina, que participa d o fluxo anterógrado. Ambas são ATPases (rompem uma ligação do ATP, liberando energia). APLICAÇÃO MÉDICA O fluxo retrõgrado pode levar moléculas e particulas estranhas e prejudiciais para o corpo celular sihiado no S\'C. É por esta via, por exemplo, que o virus da raiva, depois oe penetrar nos nerves, é transportado para o corpo das células nervosas, causando uma encefalite muito grave. POTENCIAIS DE MEMBRANA A célula nervosa tern moléculas na membrana que são bombas ou então canais para o transporte de ions para dentro e para fora do citoplasma. O axolema ou membra na plasmática d o axônio bombeia Na' para fora do axo plasma, mantendo uma concentração de Na* que é ape- nas um décimo da concentração no fluido extracelular. Ao contrário, a concentração de K* é mantida muito mais baixa do que no fluido extracelular. Desse modo, existe uma diferença de potencial de - 6 5 mV através da mem brana, sendo o interior negativo em relação ao exterior. Este é o potencial de repouso da membrana. Quando o neurônio é estimulado, os canais iônicos se abrem e ocorre um rápido influxo do Na extraceluiar (um ion cuja con- centração é muilo mais alta no fluido extracelular do que no citoplasma). Esse influxo modifica o potencial de re pouso de -65 mV para +30 mV. O interior do axôrúo se torna posit ivo em relação ao meio extracelular, originan- do o potential de ação ou impulso nervoso. Todavia, o potencial de +-30 mV fecha os canais de Na' e a membra na axonal se torna novamente impermeável a este ion. 160 HISTOLOGIA BÁSICA Nos axônios, em poucos milissegundos a abertura dos canais de K modihca essa situação iônica. Devido à alta concentração intracelular de potássio, este ion sai do axô- nio, por difusão, e o potencial de membrana volta a ser de —65 mV, terminando o potencial de ação. A duração desses eventos é muito curta (cerca d e 5 ms) e ocorre ape- nas numa pequena area da membrana. Porém, o potenci al de açào se propaga ao longo do axônio, isto é, as alte- rações elétricas abrem canais de sódio vizinhos e, em se- qüência, abrem-se canais de potássio. Assim / o potencial de membrana se propaga rapidamente ao longo do axô- nio. Quando o potencial de membrana chega na termina- ção do axônio, promove a extrusão dos neurotransmis- sores armazenados, que vão estimular ou inibir outros neurônios ou células nào neurais, como as células mus- culares e as de certas glândulas. A P L I C A Ç Ã O M É D I C A Osanes(£sicosdt> açào local sobrcosaxonios sào mole- culas que se ligam aos canais de sódio, inibindo o trans pose desse íon e, conseqiientemente, inibindo também o potencial dc ação rcsponsável pelo impulso nervoso. Assim, ficam bloqueados os impulsos que seriam inter- pretados no cérebro como sensação de dor C O M U N I C A Ç Ã O S I N Á P T I C A A sinapse é responsável pela transmissão unidirecional d impulsos nervosos. As sinapses são locais de contactoen-] tre os neurônios ou entre neurônios e outras células cteltM ras, por exemplo, células musculares e glandulares. A funH ção da sinapse é transformar um sinal elétrico (impulso) nervoso) do neurônio pré-sináptico em um sinal quimicd) queatua sobrea célula pós-sináptica. A maioria dassinap-1 ses transmite informações por meio da liberação de neo-| rotransmissores. Neurotransmissores sãosubstânciasque, quando se combinam com proteinas receptoras, abrem ouf fecham canais iônicos ou então desencadeiam uma case* ta molecular na célula pós-sináptica que produz segundes mensageiros intracelulares. Neuromoduladores são men- sageiros quimicos que não agem diretamente sobre as si napses, porém modificam a sensibilidade neuronal aw; estímulos sinápticos excitatórios ou inibitórios. Alguns] neuromoduladores são neuropeptídios ou esteróides pro duzidos no tecido nervoso, outros são esteróides circulan- tes no sangue. A sinapse se constitui por um terminal axô- nico (terminal pré-sináptico) que traz o sinal; uma rcgiào na superficie da outra célula, onde se gera um novo sinal: (terminal pós-sináptico); e um espaço muito delgado en tre os dois terminals, a fenda pós-sináptica (Fig. 9.7). A sinapse de um axônio com o corpo celular chama-se axo- somática, a sinapse com um dendrito chama-se axo-den- Terminal pró-slnápilco 0 A despolarização da membrana pté-sináplica induz... ...breve abertura dos canals decâlcio O intluxo de calclo promove a exocliose das vesiculas slnáplicascom... © ...llberaçàodo neurolransmissor © Recuperaçáo de membrana pelas vesiculas cobertas Fenda slnaptica ULLLI © O neurolransmissor com os recoptores e... © ...promove a despoiarizaçào da membrana pos-slnaplica Regiáo pós-slnáptica Fig, 9.7 Principals aspectos funcionais das duas partes da sinapse: o terminal axônico, pré-sináptico, e a membrana do neurônio pós- sináptico do circuito. Os numeros indicam a seqüência dos eventos durante a atividade da sinapse. REL, retículo endoplasmático liso. T K . I I I U N I R V O N O I h i Fig. 9.8 Tipos de sinapses. Os terminais axônicos geralmente transmitem os impulses nervosos para dendritos ou para corpos celulares de neu- rôníos, porém, embora com menor freqüência, podem estabelecer sinapses com outros axônios. (Redesenhado, com permissao, de Cormack DH: Essential Histology, Lippincott, 1993.) Axossomatica ou Axodendrilica Tipos de sinapses Axodendrilica Axoaxônica Corpo celular ou dendrito DGndfilo dritica e entre dois axônios chama-se axo-axônica (Fig. 9.8). 0 terminal pré-sinápticocontém vesículas sináptícas com neurotransmissores e contém também muitas mitocôndrias (Figs. 9 7 e 9.9). Geralmente, os neurotransmissores são sintetizados no corpo do neurônio e armazenados em vesiculas no termi nal pré-sináptico, sendo liberados na fenda sináprica por exocitose durantea transmissão do impulse. Oexoesso de membrana que se forma no terminal pré-sináptico é cap- tado por endocitose para ser reutilizado na formação de novas vesículas sinápticas (Fig. 9.7). Alguns neurotransmis sores são sinterizados no compartimento pré-sináptico, com a participação de enzimas e precursores trazidos do corpo do neurònio polo transporte axonal. Os primeiros neurotransmissores descobertos foram a acetilcolina e a noradrenalina. A Fig. 9.10 mostra urn axô- nio cujo neurotransmissor é a noradrenalina. A maioria dos neurotransmissores são aminas, aminoácidos ou pequenos peptídios (neuropeptídios). Porém outros tipos de molécu- las e até compostos inorgânicos, como o gás óxido nítrico, são utilizados pelos neurônios como neurotransmissores. Diversos peptfdios que aruam como neurotransmisso res são usados em outros tecidos, como, por exemplo, hor- mônios do tubo digestive Além disso, os neuropeptidios são importantes no sistema nervoso por participarem da regulação de certas sensações e impulsos emocionais, como prazer, dor, fome e sede (Fig. 9.11). Além das sinapses qutmkas , nas quais a transmissão do impulso é mediada pela liberação de certas substânci- as, existem ainda as sinapses elétricas. Nestas, as células nervosas unem-se por junções comunicantes (ver Cap. 4), que possibilitam a passagem de ions de uma célula para a outra, promovendo, assim, uma conexão elétrica e a trans- rnissao de impulsos. As sinapses elérricas são raras nos mamiferos, sendo mais enconrradas nos vertebrados infe- riores e nos invertebrados. > « L Fig. 9.9 Micrografia eletronica de sinapse prepa- rada pela técnica de criofratura. Aparece urn ter minal axônico mostrando numerosas vesiculas sinapticas e uma mitocôndria (M). 25.O00X. (Re- prod uzido com permissao de Heuser (E, Salpeter SR: Organization of acethylcholine receptors in quick-frozen, deep-etched, and rolary-replicated Torpedo postsynaptic membrane. / Cell Biol 82:150,1979.) 162 HIST0L0G1A BÁSICA Fig. 9.10 Terminal de fibra pós-ganglionar adrenérgica da glán- dula pineal. Muitas vesfculas sináptícas, de aproximadamente 50 nm, tèm um grânulo elétron-denso. Estas vesfculas contêm no- radrenalina. 57.000X. (Cortesia de A. Machado.) Seqüência das Etapas Durante a Transmissão nas Sinapses Quimicas As alterações que ocorrem durante a transmissao do im pulso nas sinapses quimicas estão ilustradas na Fig. 9.7. A despolarização que se propaga ao longo da membra-] na celular abre canais de cálcio na região pré-sinápticaJ promovendo o influxo de cálcio que dispara a exocitosej das vesfculas sinápticas. Os neurotransmissores libera-l dos por exocitose reagem com os receptores da membra-] na pós-sináptica, provocando a despolarização da mem- brana pós-sináptica. Estas sinapses são excitatórias, poM que causam impulsos na membrana pós-sináptica. Eml outras sinapses, a interação do neurolransmissor comtd receptores provoea uma hiperpolarização, sem transmis- são do impulso nervoso. Estas sinapses são chamadas' i ii i li itórias Assim, as sinapses podem excitar ou inibir a transmissào d o impulso, rcgulando a atividade neural (Fig. 9.12). Neurõnío c-ciladoi Neurônios in lb i dor os Neuron io motor Intblção pós-sináptlca Fig. 9.12 Exemplos de sinapses exátatórias e inibitórias num neu* rônio motor. (Redesenhado, com permissão, de Ganong WF: Re- view of Medical Physiology, 15th ed. Appleton & Lange, 1991.) Substância P Angiotensina II ( A s ^ í X y 3 ^ * ^ ) ! ^ Sede? do0homonio fctoinlzante ( S £ ) í S ) ^ ^ ^ S e X O ? (LHJ Colecislocinina 8 i'.-ijiidortina Prazer? Fig. 9.11 Seqüência dos aminoácidos em alguns neuropeptidios e as sensaçOes e impulsos dos quais eles provaveimente participant (Reproduzido com permissao de Alberts B et al: Molecular Biology of tlie Cell, 2nd ed. Garland Press, 1993.) TECIDO NERVOSO 163 Uma vez usados, os neurotransmissores são removidos rapidamente por degradação enzimática, difusão ou endo- I dtose, por intermédio de receptores especihcos localizados na membrana pré-sináptica. (AS CÉLULAS DA GLIA E A | ATIVIDADE NEURONAL | Sob a designação geral de neuroglia ou glia, incluem-se | vários tipos celulares presentes no sistema ncrvoso central | ao lado dos neurônios. Nas lâminas coradas pela HE as células da glia não se destacam bem, aparecendo apenas os seus núcleos, espa- | lhados entre os nucleos de dimensões maiores dos neurô- I nios. Para o estudo da morfologia das células da neuroglia I usam-se métodos especiais de impregnação pela prata ou pelo ouro. Calcula-se que haja no sistema nervoso central 10 cen tos da glia para cadaneurônio, mas, em virtude do menor | tamanho dascélulasda neuroglia, elasocupam aproxima- | damente a metade do volume do tecido, O tecido nervoso tem apenas uma quantidade minima de material extrace- lular, e as células da glia fornecem um microambiente ade- quado para os neurônios e desempenham ainda outras fun- |ções. Oligodendrócitos Os oligodendrocitos (Figs. 9.13 e 9.14) produzeitt as bainhas | de mielina que servem de isolantes elétricos para os neu- lônios do sistema nervoso central. Os oligodendrocitos tern prolongamentos que se enrolam em volta dos axônios, produzindo a bainha de mielina, como mostra a Fig. 9.15. Células de Schwann As células de Schwann tern a mesma função dos oligoden- I drócitos, porém se localizam em volta dos axônios do sis- | tema nervoso periférico. Cada célula de Schwann forma | mielina em torno de um segmento de um único axônio. Ao | contrário, os oligodendrocitos tern prolongamentos, por j intermédio dos quais envolvem diversos axôrüos. A Fig. 9.27 mostra como a membrana da céluia de Schwann se enrola em volta do axônio. Astrócitos J Os astrócitos são células de forma estrelada com multiplos | processos irradiando do corpo celular. Essas células apre- i sentam feixes de filamentos in termed iários constituídos pela | proteína fibrilar ácida da glia, que reforçam a estrutura ce- l hilar. Os astrócitos ligam os neurônios aos capilares sangui- | neos e à pia-máter (uma delgada camada de tecido conjun- | Svoque reveste o sistema nervoso central). Os astrocitos com I prolongamentos menos numerosos e mais longos são cha- | mados astrocitos fibrosos e se localizam na substância bran- | ea; os astrocitos protoplasmáticos, encontrados na substan- | cia cinzenta, apresentam maior numero de prolongamentos joue são curtos e muito ramifícados (Figs. 9.13,9.14 e 9.16). | Dentre as células da glia, os astrocitos são as mais numero- sas e de maior diversidade funcional. Além da função de sustentação, os astrocitos participam [docontrole da composição iônica e molecular d o ambien- Astrócito protoplasmâtico Oligodendrocitos Fig. 9.13 Desenhos de células da neuroglia, baseados em cortes preparados por impregnaçoes metálicas. Observar que apenas os astrocitos apresentam pés vasculares, em volta de capilar san- guineo. te extracelular dos neurônios. Alguns astrocitos apresen tam prolongamentos, chamados pés vasculares, que se expandem sobre os capilares sanguíneos. Admite-se que esses prolongamentos transferem moléculas e ions do san- gue para os neurônios. Prolongamentos com dilataçôes semelhantes aos pés vasculares são encontrados também na superficie d o sistema nervoso central, formando uma camada continua. APLICAÇÃO MÉDICA Os espaços deixados pelos neurônios do sistema nervo so central mortos por doenças ou acidentes são preen- chidos pela proliferação (hiperplasia) e pela hipertroh'a (aumento de volume) dos astrocitos, um processo de- nominado gliose. Os astrocitos também participam da regulação de diver sa s atividades dos neurônios. Éstudos in vitro mostraram 164 HISTOLOGIA BÂSICA Fig. 9.14 Fotomicrografias de preparados realizados com o método de impregnação metálica de Golgi, mostrando células da neuro glia do cortex cerebral. A: Astrócitos fibrosos, com prolongamentos em lorno de vasos sanguineos (VS). 1.000X. B: Astrócilos proto plasmáricos próximos à superfície do cérebro (seta). 1.900X. C: Célula da microglia. 1.700X. D: Oligodendrócitos, 1.900X. (Repro- duzido, com permissão, de Jones E, Cowan WM: The nervous tissue. In: Histology. Cell and Tissue Biology, 5th ed. Weiss L (editor), Elsevier, 1983.) TECIDO NERVOSO 165 Ftg. 9.15 Bainha de mielina do sistema nervoso central. Um único oligodendrócito, por seus prolongamentos, forma bainhas de mielina para diversas fibras nervosas. O no- | dulo de Ranvier, no sistema nervoso central, pode ser re- cnbcrto por prolongamentos de ourras células da neuro- glia ou ficar exposlo ao meio extracelular. Na parte supe rior esquerda da figura aparece uma vista da superfície externa do oligodendrócito. (Redesenhado e reproduzido com permissâo de Bunge et al: / Biophys Biochem Cytol 10:67, 1961.) Cit, citoplasma do oligodendrócito; EE, espaço extra celular. Vaso sanguined Fig. 9.16 Corte de cérebro impregna- do pela prata (método de Del Rio Hortega), mostrando asrrócitos fibro- sos com seus prolongamentos termi- x \ v nando na superficie externa de vasos ■ A* i sanguíneos. Aumento médio. 166 HISTOLOGIA BÁSICA que os astrócitos têm rcceptores para noradrenalina, ami- noácidos (como o ácido gama-amiiio-butírico — GABA), hormônio natriurético, angiotensina II, endotelinas e ou- tras moléculas. A presença de lantos receptores sugere que os astrócitos respondem a diversos sinais químicos. Os astrócitos podem influenciar a arividade e a sobre- vivência dos neurôrtios, graças à sua capacidade de con- trolar os constituintes do meio extraeelular, absorver ex- cessos localizados de neurotransmissores e sintetizar mo lecular neuroativas, como peptidios da farrulia do angio- tensinogênio e encefalinas (precursores de opióides). Exis- tem evidências expeTimentais de que os astrócitos trans- portam compostos ricos em energia do sangue para os neurônios e metabolizam glicose até o estado de lactato, que é passado para os neurônios. Finalmente, os astrócitos se comunicam uns com os outros por meio de junções comunicantes formando uma rede por onde informaçoes podem transitar de um local para outro, atingindo grandes distâncias deniro do siste- ma nervoso central. Por exemplo, por essa rede e pela pro- dução de citocinas, os astrócitos podem interagir com oli- godendrócitos e influenciar a renovação da mielina, tan to em condições normais como em condiçòes patológicas. Células EpendimárJas As células ependimárias são células epiteliais colurtares que revestem os venfrículos d o cérebro e o canal central da medula espinhal. Em alguns locais as células ependimári- as são ciliadas, o que facilita a movimentação d o líquido cefalorraquidiano. Mícrogl ia As células da microglia são pequenas e alongadas, com prolongamentos curtos e irregulares (Figs. 9.13 e 9.14). Essas células podem ser identificadas nas lâminas histoló- gicas coradas pela hematoxilina-eosina porque seus nucle us são escuros e alongados, contrastando com os núcleos esféricos das outras células da glia. As células da micro glia são fagocitárias e derivam de precursores trazidos da medula óssea pelo sangue, representando o sistema mo- nonuclear fagocitário no sistema nervoso central. Elas par- ticipam da inflamação e da reparaçáo d o sistema nervoso central. Quando ativadas, as células da microglia retraem seus prolongamentos, assumem a forma dos macrófagos e tornam-se fagocitárías e apresentadoras de antigenos (ver Cap. 14). A microglia secreta diversas citocinas regulado- ras do processo imunitário e remove os restos celulares que surgem nas lesões do sistema nervoso central. APL1CAÇÀO MÉDICA Na doença esclerose multipla as bainhas de mielina s3o dcstruidds por mecanismo ainda não complotamentf esclarecido, causando d iversits distiirbios neurologicos. Nessa doença, os restos de mielina sâo removídos pela microglia, cujas células se tornam morfologicamente semelhantes aos macrófagos. Os restos de mielina fago- citados por essas cálu las sâo digeridos pelas enzimas dos lisossomos. SISTEMA NERVOSO CENTRAL O sistema nervoso central é constiruído pelo cérebro, rebelo e medula espinhal. Como nãocontém um estroma de tecido conjuntivo, o sistema nervoso central (em a con- sistência de uma massa mole. Quando cortados, o oérebro, o cerebelo e a medula es pinhal mostram regiòes brancas {substancia branca) e re gions acinzentadas {substancia cinzenta). A distribuição da mielina é responsável por essa diferença de cor, que é visível a fresco. Os principais constituintes da substânda branca são axônios mielinizados {Fig. 9.17), oligodendró- citos produtores de mielina. Ela possui também outras células da glia. A substância branca não contém corposde neurônios. A substância cinzenta é formada por corpos de neurô- nios, dendritos, a porção inicial não mielinizada dos axô- rúos e células da glia. Na substancia cinzenta tern lugaras Fig. 9.17 Corte transversal da medula espinhal na transiçào en- tre a substancia cinzenta (abaixo) e a substância branca (acima). Notar os corpos de neurônios e prolongamentos celulares nume* rosos na substancia cinzenta, enquanto a substancia branca con- siste principalmente em fibras nervosas cuja mielina foi parcial- mente dissolvida pelo processo histológico. Pararrosanilina e azul-de-toluidina. Aumento médio. TECIIX) NERVOSO 167 sinapses do sistema nervoso central. A substância cinzen ta predomina na superffcie do cérebro e do cerebelo, cons- tituindo o cortex cerebral e o cortex cerebelar (Figs. 9.18 a 9.20), enquanto a substância branca predomina nas partes mais cen rrais. Na substância branca eneonrram-se acúm u- los de neurônios, formando ilhas de substância cinzenta, denominadas núcleos. No cortex cerebral a substância cinzenta está organiza- da em seis camadas diferenciadas pela forma e tamanho dos neurônios. Os neuróníos de certas regiões do cortex cerebral recebem e processam impulsos aferentes (senso- riais), e em outras regiões neurônios eferentes (motores) geram impulsos que vão controlar os movimentos volun- tários. Assim, as céhilas do cortex cerebral integram as in- formações sensoriais e iniciam as respostas voluntarias. 0 cortex cerebelar tern três camadas (Figs. 9.19 e 9.20): a camada molecular, a mais externa; uma camada central com as grandes oélulas de Purkinje; e a camada granulo- sa, que é a mais interna. As células de Purkinje sào muito grandes, bem visiveis, e seus dendritos são muito desen- volvidos, assumindo o aspecto de um leque (Fig. 9.3). Es- fig. 9.18 Corte do cortex cerebral impregnado pela prata, mos- 1 trando muilos neurônios de forma piramidal, seus prolongamen- fcs c algumas células da neuroglia. Aumento médio. Fig. 9.19 Fotomicrogralia mostrando as très camadas da substàn- cia cinzenta do cerebelo e a substáncia branca, constituída ape- nas por fibras nervosas e células da glia. Hematoxilina e eosina. Pequeno aumento. ses dendritos ocupam a maior parte da camada molecu lar. Por esse motivo, as células da camada molecular são muito esparsas. A camada granulosa é formada por neu- rônios muito pequenos (os menores do organismo) e or- ganizados de modo muito compacto (Fig. 9.19). Em cortes transversais da medula espinhal, a substàn- cia branca se localiza externamente e a cinzenta intema- mente, com a forma da letra H (Fig. 9.21). O traço horizon tal d o H apresenta um oriffcio, corte do canal central da medula, revestido pelas células ependimárias. Esse canal representa a luz do tubo neural embrionário. A substân- cia cinzenta dos traços verticals do H forma os cornos an- teriores, que con têm neurônios motores (Fig. 9.35) e cujos axônios dão origem às raizes ventrais dos nervos raquidi- anos. Forma também os cornos posteriores, que recebem as fibras dos neurônios siruados nos gânglios das raizes dorsais dos nervos espinhais (fibras sensitivas). Os neur6- nios da medula são multipolares e vohimosos, principal- mente os neurônios motores dos cornos anteriores (Figs. 9.22 e 9.23). 168 H1STOL0GIA BÁSICA Fig. 9.20 Corte onde aparecem as trés camadas do cerebelo, Uma célula de Purkinje mostra parte de sua rica arborização dendritica. Hcmatoxilina e eosina. Agmento médio. Núcleo de célula Fibres Neurônla da glia nervosas Subslãncia cinzenla Fibtas nervosas Substância btanca Fig. 9.21 No centre, aparece a medula espinhal observada em corle transversal, com vista desarmada. À esquerda, demonstra-se i eslrutura da substância cinzenta, e à direila, a da substância branca, IIC IIX) NERVOSO 169 Fig. 9.22 Corte da substância cinzenta da medula espinhal mos- trando diversos neurônios motores com o citoplasma basófilo devído à presença de rmiitos corpusculos de Nissl. Os nucléolos podem ser vistos em alguns micleos. Os neurônios estão circun- dados por prolongamentos neuronais e das células da glia. Pa- rarrosanilina e azul-de-toluidina. Aumento médio. Fig. 9.23 Corte da substância cinzenta da medula espinhal. Ob- servam-se claramente os prolongamentos dos neurônios e das células da glia. Notar que as células da glia (núcleos esféricos e pequenos) são mais numerosas do que os neurônios. Hematoxi- lina e eosina. Aumento medic- MENINGES 0 sistema nervoso central está contido e protegido na cai- xa craniana e no canal vertebral, sendo envolvido por membranas de tecido conjuntivo chamadas meninges (Fig. 9.24). As meninges são formadas por três camadas, que, de fora para denrro, são as seguintes: dura-máter, aracnóide e pia-máter (Fig. 9.24). A dura-máter é a meninge mais extema, consrituida por tecido conjuntivo denso, continuo com o periósteo dos ossos da caixa craniana. A dura-mater, que envolve a me dula espinhal, é separada do periósteo das vertebras, for- mando-se entre os dois o espaço peridural. Este espaoo contém veias de parede muito delgada, tecido conjuntivo frouxo e tecido adiposo. A parte da dura-máter em con- tacto com a aracnóide constitui um local de fácil clivagem, onde muitas vezes, em situaçòes patológicas, pode acu- mular-se sangue externamente à aracnóide, no chamado espaço subdural . Este espaço não existe em condições normais. A superficie interna da dura-máter e, na dura-máter do canal vertebral, também a superficie externa sào revesti- das por um epitélio simpler pavimentoso de origem me- senquimatosa. A aracnóide apresenta duas partes, uma em contacto com a dura-máter e sob a forma de membrana, e outra constituida por traves que ligam a aracnóide com a pia- máter. As cavidades entre as traves conjuntivas formam o espaço subaracnóideo, que contém líquido cefalorraqui- diano, comunica-se com os ventriculos cerebrais mas nào tern comunicação com o espaço subdural. O espaço suba- racnóideo, cheio de liquido, consritui um colchão hidráu- lico que protege o sistema nervoso central contra trauma- tismos. A aracnóide é formada por tecido conjuntivo sem vasos sanguineos e suas superficies são todas revestidas pelo mesmo tipo de epitélio simples pavimentoso, de ori gem mesenquimatosa, que reveste a dura-mater. 170 HISTOLOGIA BÁSICA Pia-máter £2; ^Espaço subdural Dura-máter Aracnóide Espaço subaracnóideo - Astfóctlo • Capilar sanguíneo Fig. 9.24 Estrutura das meninges, mostrando a superposição da pia-máter, aracnóide e dura-máter. Os astrócitos formam um arcabouça tridimensional que é ocupado pelos neurônios (não mostrados). Os prolongamentos dos astrócitos formam uma camada contínua envolvendo os vasos sanguíneos, contribuindo para a estruluraçao da barreira hematoencefáiica. (Reproduzido com permissão de Krstic RV: Microscopic Human Anatomy. Springer-Verlag, 1991.) I IX tl >( > \ERVOSO 171 A aracnóide forma, em certos locais, expansòes que perfuram a dura-máter e vão fazer saliências em seios ve- nosos, onde terminam como dilataçôes fechadas: as vilo- sidades da aracnóide. A função destas vilosidades é transferir liquido cefalor- raquidiano para o sangue. O liquido atravessa a parede da vilosidade e a do seio venoso, até chegar ao sangue. A pia-máter é muito vascularizada e aderente ao tecido nervoso, embora não fique em contacto direto com células ou fibras nervosas. Entre a pia-máter e os elementos ner- vosos situam-se prolongamentos dos astrócitos, que, for- mando uma camada muito delgada, unem-se fírmemente à face interna da pia-máter. A superfície externa da pia- máter é revestida por células achatadas, originadas do mesênquima embrionário. Os vasos sanguineos penetram no tecido nervoso por meio de túneis revcstidos por pia-máter, os espaços peri- vasculares. Á pia-máter desaparece antes que os vasos se transformem em capilares. Os capilares do sistema nervo so central são totalmente envolvidos pelos prolongamen tos dos astrócitos. Barreira Hematoencefálica E uma barreira funcional que dificulta a passagem de cer- tas substâncias, como alguns antibióticos, agentes quimi- cos e toxinas, do sangue para o tecido nervoso. A barreira hematoencefálica é devida a uma menor per- meabilidade dos capilares sanguineos do tecido nervoso. Seu principal componente estrutural são as junções oclu- sivas entre as células endoteliais. Estas células não são fe- nestradas e mostram raras vesiculas de pinocitose. É pos- sivel que os prolongamentos dos astrócitos, que envolvem completamente os capilares, também façam parte da bar reira hematoencefálica. Além de uma possivel participa- Ção direta na barreira, há estudos mostrando que as jun- çòes oclusivas d esses capilares sào induzidas pelos prolon gamentos dos astrócitos. PLEXOS CORÓIDES E LIQUIDO CEFALORRAQUIDIANO Os plexos coróides são dobras da pia-máter ricas em capi lares fenestrados e dilatados, que fazem saliência para o interior dos ventriculos. Formam o teto do terceiro e do quarto ventriculos e parte das paredes dos ventriculos la terals. São constituidos pelo tecido conjuntivo frouxo da pia-mater, revestido por epitélio simples, cubico ou coiu- nar baixo, cujas células são transportadoras de ions (ver Cap. 4). A principal funçào dos plexos coróides é secretar o li quido cefalorraquidiano (LCR), que contém apenas peque- na quantidade de sólidos e ocupa as cavidades dos ventri culos, o canal central da medula, o espaço subaracnóideo e os espaços perivasculares. Ele é importante para o meta- bolismo do sistema nervoso centra 1 e o protege contra trau ma tismos. No adulto a quantidade de LCR é" estimada em 141) ml. Trata-se de um liquido claro, de baixa densidade (1,004 a Fig. 9.25 Fotomicrografia de corte do plexo coroide, que é constituído por uma parte central de tecido conjuntivo frouxo com muitos capilares sanguineos (CS), coberto por epitélio cúbico simples (cabeça de seta). Hematoxilina e eosína. Aumento médio. 172 HISTOLOGIA BÁSICA 1,008). Contém raras células descamadas e dois a cinco lin- fócitos por mililitro. É produzido de modo continue», e isto explica a saída cons tan te de líquido nas lesões cranianas que atingem a aracnóide. OIXR é absorvido pelas vilosi- dades aracnóides, passando para os seios venosos cere- brais. (No sistema nervoso central não existem vasos Iin- fáticos.) APLICAÇÃO MÉDICA A obstrução du fluxo de LCK, qualquer qua >eja a cau sa, resulla no distúrbio denominndo hidtocefalia. Es)a gituação patológica c caractcri7.ada pela dilatação dos ventrícutos do encéfalo produzida pelo acúmulo de LCR. A hidrocefalia pode também ser devida a uma diminuiçâo na absorçáo de LCR pelas vilosidades arac- nóideas ou, trials raramente, a neoplasma (cancer) do plexo coróide que produza excesso de LCR. Os sintomas neurológicos e psíquicos decorrem da compressão do cortex cerebral e de outr.is estruturas do sistema nervo- so central. A hidroccfalia iniciada antes do nascimento ou na criança muito pequena causa afastamento das suturas dos ossos cranianos e aumento progressivo da cabeça, podendo ocorrer convulsoes, retardo mental e fraqueza muscular. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Os componentes do sistema nervoso periférico são os ner- vos, gânglios e terminações nervosas. Os nervos são fei- xes de fibras nervosas envolvidas por tecido conjuntivo. FIBRAS NERVOSAS As fibras nervosas são constituídas por urn axônio e suas bainhas envoltórias. Grupos de fibras nervosas formam os feixes ou tratos do SNC e os ner\'os do SNP. Todos os axônios do tecido nervoso do adulto são en- volvidos por dobras únicas ou multiplas formadas por uma célula envoltória. Nas fibras periféricas a oélula envoltória é a célula de Schwann. No SNC ascélulas envoltóriassão os oligodendrócitos. Axônios de pequeno diâmetro são en volvidos por uma única dobra da célula envoltória, cons- tituindo as fibras nervosas amielinicas (Figs. 9.26,9.28 e 9.29). Nos axônios mais calibrosos a célula envoltória for ma uma dobra enrolada em espiral em torno do axônio. Quanto mais calibroso o axônio, maior o numero de envol- tórios concêntricos provenientes da célula de revestimen- to. O conjunto desses envoltórios concèntricos é denomi nado bainha de mielina e as fibras são chamadas fibras nervosas mieiínicas (Figs. 9.27 a 9.29). Tanto nas fibras mielinicas como nas amielinicas as porções de membrana da célula envoltória, que se prendem internamente ao axõ- nio e externamente à superfície da célula envoltória, cons- tituem os mesaxônios (interno e externo) (Figs. 9.26 a 9.28). Fibras Mielinicas Nas fibras mielinicas do sistema nervoso periférico, a mem brana plasmática da célula de Schwann se enrola em volta do axônio (Figs. 9.27, 9.28 e 9.30). Essa membrana enrola da se funde, dando origem à mielina, um complcxo lipo- protéico branco que é parcialmente removido pelas técni- cas histológicas- Assim, a mielina é constituída por diver- Núcleo dacélula de Schwann M e M x ó n i u S Cíloplasma da célula de Schwann Nucleo da célula de Schwann Fig. 9.26 O desenho superior mostra o u'po mais freqüente de fibra amielínica, na qual cada axônio tern seu próprio mesaxônio. Quando os axônios são muito finos (desenho inferior), podem juntar-se num mesmo compartimento de célula de Schwann. Neste caso,M;. vários axônios para um só mesaxônio. TECIDO NERVOSO 173 Mesaxónlo interno Mesaxónio oxlerno Fig, 9.27 Desenhos de quatro fases sucessivas da formação de mielina pela membrana da celula de Schwann. No primeiro desenho (superior esquerdo), o axõnio começa a ser envoi vido pelo citoplasma da célula de Schwann. No ultimo (inferior direilo), observam- se o mesaxônio interno e o externo. sas camadas de membrana celular modificada. Essa mem brana tern maior proporçào de lipid ios do que as membra- nas celulares em geral. A bainha de mielina se interrompe em intervalos regu- lares, formando os nódulos de Ranvier, que são recober- tos por expansões laterais das células de Schwann (Figs. 9.28 e 9.31). O intervalo entre dois nódulos é denominado intemódulo e é recoberto por uma única célula de Schwann. A espessura da bainha de mielina varia com o diâme- tro do axõnio, porém é constante ao longo de um mesmo axônio. Ao microscópio óptico observam-se na mielina fendas em forma de cones, as incisuras de Schmidt- Lantermann (Fig. 9.31). que são areas onde permaneceu o dtoplasma da célula de Schwann durante o processo de enrolamento (Fig. 9.31). Fibras Amielfnicas Tanto no sistema nervoso central como no periférico nem todos os axônios são recobertos por mielina. As fibras amielinicas peri f ericas são também envolvidas pelas cé- lulas de Schwann, mas neste caso nao ocorre o enrolamento em espiral. Uma única célula de Schwann envolve várias fibras nervosas (Fig. 9.26), cada fibra tendo o seu próprio Rg. 9.28 Desenhos tridimensionais esquemáricos mostrando a ultra-eslrutura de uma fibra mielinica (A) e de uma fibra amielinica (B>. 1, nucleo e citoplasma de célula de Schwann; 2, axônio; 3, microtúbuio; 4, neurohlamento; 5, bainha de mielina; 6,mesaxônio; 7, nódulo de Ranvier; 8, interdigitação dos proces- »5 das células de Schwann no nodulo de Ranvier; 9. vista lateral de um axônio anüelínico; 10, lamina basal. (Ligeiramente modi- ficado e reproduzido com permissão de Krstic RV: Ultraslntcturc of the Mammalian Cell Springer- Verlag, 1979.) mesaxônio. Nas fibras amielinicas nãoexistem nódulosde Ranvier, pois nelas as células de Schwann formam uma bainha continua, 174 HISTOLOGIA BÁSICA Fig. 9.29 Micrografias eletrônicas de um nervo com fibras mielínicas (M) e amielínicas (A). A micxografia menor, no canto inferior esquerdo, é um axônio mielíníco cortado transversalmente e muito ampliado. Notar os filamentos intermediários (neurofilamentos) e os microtúbulos. O núcleo que aparece proximo ao oenlro da figura é de uma célula de Schwann. O núcleo alongado da direita (P) é de uma célula do perineuro. As setas indicam o citoplasma de células do pefineuro e proximo à seta mais inferior aparece uma junçãoentre células perineurais. Observar também as fibras reticularcs do endoneuro (FK). Aumento da micrografia maior: 30.000 x. Aumento da micrografia menor: 60.000X. TEC1DO NHRVOSO 175 Cíloptasma da célula de Schwann Mjellna Mesaxõnio extemo Mesaxônio extemo Fig. 9.30 Micrografias eletrônicas de fibras mielinicas. Micrografia superior, aumento de 20.000X. Micrografia inferior, aumento de J.000X. 176 HISTOLOGIA BÁSICA InciButas de H Nodulo Schmidt-Lantetmann Jr de Ranvler Fig. 931 O desenho do centro represcnta uma fibra nervosa pe- riférica vista ao microscópio ópHco. A parle central pontilhada c o axônio que está envolvido pela mielina (em negro) e pelo cito- f>lasma das células de Schwann (CS). Aparece um núcleo de cé-ula de Schvvann. Observar ainda as incisufas de Schmidt- Lantermann (quadrado da esquerda) e um nodulo de Ranvier (quadrado da direita). O desenho de cima mostra a ultra-estru- tura da incisura de Schmidl-I^nlermann indicada no desenho do centro. A incisura forma-se pelo aprisionamento de certa quan- tidade do citoplasma da célula de Schwann, durante a formação da mielina. O desenho inferior mostra que o nódulo de Ranvier é recoberlo por digilações laterals da célula de Schwann, No SNC os axônios amielínicos são mais numerosos. Ao contrário das fibras amielinicas perifericas, esses axônios lêm bainha. No encéfalo e na medula espinhal, os axônios ficam livres entre os outros elementos neurais e os prolon- gamentos das células da glia. NERVOS No sistema nervoso periférico as fibras nervosas agrupam- se em feixes, dando origem aos nervos (Fig. 9.22). Devido ao seu conteúdo em mielina e colágeno, os nervos são es- branquiçados, exceto os raros nervos muito finos for dos somente por fibras amielinicas. O tecido de sustentação dos nervos (Figs. 9.32 a 9.36) é constituído por uma camada fibrosa mais externa de teci do conjuntivo denso, o epineuro, que reveste o nervoei preenche os espaços entre os feixes de fibras nervosas. Cada um desses feixes é revestido por uma bainha de várias ca- ■ madas de células achatadas, justapostas, o perineuro. As células de bainha perineural unem-se por junções oclusi- vas, constituindo uma barreira à passagem de muitas ma- cromoléculas e importante mecanismo de defesa contra agentes agressivos. Dentro da bainha perineural encon- tram-se os axônios, cada um envolvido pela bainha de cé- lulas de Schwann, com sua lamina basal e um envoltório conjuntivo constituído principalmente por fibras reticula- res sintetizadas pelas células de Schwann, chamado endo- neuro (Fig. 9.33). Os nervos estabelecem comunicação entre os centros nervosos e os órgãos da sensibilidade e os efetores (mús- culos, glândulas). Possuem fibras aferentese eferentes. As aferentes levam para os centros as informações obtidas no interior do corpo e no meio ambiente. As fibras eferentes levam impulsos dos centros nervosos para os órgãos efe tores comandados por esses centros. Os nervos que pos suem apenas fibras de sensibilidade (aferentes) são chama- dos de sensitivos e os que são formados apenas por fibras que levam a mensagem dos centros para os efetores são os nervos motores. A maioria dos nervos possui fibras dos dois ripos, sendo, portanto, nervos mistos. Esses nervos possuem fibras mielínicas e amielinicas (Fig. 9.29). GÂNGLIOS Os acúmulos dc neurónios localizados fora do sistema nervoso central recebem o nome de gânglios nervosos. Em sua maior parte, os gànglios são órgãos esféricos, protegi- dos por cápsulas conjuntívas e associados a nervos. Alguns gânglios reduzem-se a pequenos grupos de células nervo sas situadas no interior de certos órgãos, principalmente na parede do tubo digestivo, constituindo os gãnglios in- tramurais. Conforme a direção do impulso nervoso, os gânglios podem ser: sensoriais (aferentes) ou gânglios do sistema nervoso autônomo (eferentes). Gânglios Sensoriais Os gânglios recebem fibras aferentes, que levam impul sos para o sistema nervoso central. Há dois ripos de gân- glios sensoriais. Alguns são associados aos nervos crani anos (gânglios cranianos) e outros se localizam nas rai zes dorsais dos nervos espinhais (gânglios espinhais). Os gânglios espinhais são aglomerados de grandes corpos neuronais (Fig. 9.37), com muitos corpos de NTissl e cir- cundados por células da glia denominadas células saté- lites. Os neurônios dos gânglios cranianos e espinhais são pseudo-unipolares e transmitem para o sistema nervoso central as iniormações captadas pelas terminações senso riais de seus prolongamentos periféricos. O gãnglio do nervo acústico é o único gânglio craniano cujas células são bipolares. Um estroma de tecido conjuntivo apóia os neurônios e forma uma cápsula que envolve cada gânglio sensorial. i n ; II " i SL'RVOSO l"7 Endoneuro Perineuro Epineuro Medula espinhal Gángllo sensotial Célula de / Schwann Mfeüna Interneurônio Corpo celular de neufônio moloi Fig. 9.32 Representação esquemática de nervo mislo e do arco reflexo mais simples. No exemplo dado, a fibra sensorial parte da pele epor meio de um interneurônio ativa um neurônio motor cujo axõnio iner\'a um músculo estriado (esquelélico). Um exemplo da atividade desse arco reflexo é a retirada rápida da mão quando toca um objeto muito quente. (Redesenhado e reproduzido com permissão de Ham AW: Histology, 6th ed. Lippincott, 1969.) Fig. 933 Micrografia elelrônica de corte transversal de nervo, mostrando o epineuro, o perineuro e o endoneu ro. O epineuro é um tecido conjunflvo denso rico em fi- bras colágenas (Col) e em fibroblastos (seta). O perineu ro é consfltuído por diversas camadas de células achata- das e unidas para formar uma barreira à penetração de macromoléculas no nervo. O endoneuro é formado prin- cipalmente por fibras reticulares (FR) sintetizadas pelas células de Schwann (CS). 1.200X. 178 HISTOLOGIA BÁSICA " > : Fig. 934 Corte transversal de um nervo, mostrando o epineuro, perineuro c endoncuro. A bainha de mielina que envolve cada axô- nio foi parcialmente removida pelo processo histológico. Pararrosarulina e azul-de-toluidina, Aumento médio. Fig. 9.35 Corte transveral de um nervo de grosso diâmetro, corado para mostrar seu conteúdo em colágeno. Coloração pelo picro- sirius. Fotomicrografia com luz polarizada. Aumento médio. M-'CIIX) NERVOSO 179 Fig. 9.36 Corte transversal de dois nervos de pequeno diâmelro. Notar os núcleos das células de Schwann (cabeças de seta) e axônios (setas). Pararrosanilina e azul-de-loluidina. Aumento médio. Fig. 9.37 Gânglio sensorial constituido por neurônios pseudo-unipolares, impregnado pela prata. Aumento medio. 180 HISTOLOGIA BÁSICA Gãnglios do Sistema Nervoso Au tônomo Os gânglios do sistema nervoso autônomo aparecem, ge- ralmente, como formações bulbosas ao longo dos nervos do sistema nervoso autònomo, localizando-se alguns no interior de certos órgãos, principalmente na parede do tubo digestivo, formando os gànglios intramurais. Estes con- têm pequeno número de células nervosas e não possuem cápsula conjuntiva, sendo seu estroma continuação d o próprio estroma do órgão onde estáo situados. Nos gânglios do sistema nervoso autônomo os neurô- nios geralmente são multipolares e nos cortes histológicos mostram um aspecto estrelado. Freqüentemente, a cama- da de células satélites que envolve os neurônios desses gánglioséincompleta,eosgàng]ios inhMnnmiispossucm apenas raras células satélites. SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O sistema nervoso autônomo relaciona-se com o controle da musculatura Usa, com a modulação do ritmo cardíaco e com a secreção de algumas glândiüas. Sua função é ajus- tar certas atividades do organismo, a fim de manter a cons- tância do meio interno (homeostase). Embora seja, por definiçâo, um sistema motor, fibras que recebem sensaçôes originadas no interior do organismo acompanham as fibras motoras do sistema autônomo. O termo autônomo pode dar a impressão de que esta parte do sistema nervoso funciona de modo completamen- te independente, o que não é verdade. As funçòes do sis tema nervoso autônomo sofrem constantemente a influên- cia da atividade consciente do sistema nervoso central. O conceito de sistema nervoso autõnomo é principal mente funcionaJ. Anatomicamente, ele é formado por aglo- merados de células nervosas localizadas no sistema nervo so central, por fibras que saem do sistema nervoso central através de nervos cranianos e espinhais, e pelos gânglios nervosos situados no curso dessas fibras. O sistema autô- nomo é uma rede de dois neurônios. O primeiro neurônio de cadeia autônoma está localizado no sistema nervoso central. Seu axônio entra em conexão sináptica com o se- gundo neurônio da cadeia, localizado num gânglio do sis tema autônomo ou no interior de um órgão. As fibras ner vosas (axônios) que ligam o primeiro neurônio ao segun- do são chamadas de pré-ganglionares e as que partem do segundo neurônio para os efetores são as pós-gangliona- res (Fig. 9.38). O mediador químico nas sinapses das célu- las pré-ganglionares é a acetilcolina (fibras colinérgicas). A camada medular da glandula adrenal é o único órgão cujas células efetoras recebem fibras pré-ganglionares e não pós-gangliona res. O sistema nervoso autônomo é formado por duas par ies, distintas por sua anatomia e por suas funções: o siste ma simpático e o parassimpático (Fig. 9.38). Os nucleos nervosos (grupos de células nervosas) do simpitico se localizam nas porções torácica e lombar da medula espinhal. Axônios desses neurônios (fibras pré- ganglionares) saem pelas raizes anteriores dos nervos es pinhais dessas regimes. Por isso, o sistema simpático é cha- mado também de divisão toracolombar do sistema ner voso autônomo. Os gânglios do sistema simpátíco formam a cadeia vertebral e plexos situados próximos às vísceras (Fig. 9.38). O mediador quimico das fibras pós-gangliona res do simpático é a noradrenalina (fibras adrenérgicaslJ Noradrenalina e adrenalina são liberadas também pelaj camada medular da glândula adrenal em resposta a estf- mulos pré-ganglionares. A secreção da medular da adre-j nal tern efeito parecido com a estimulação do sistema sim< pático. Os núcleos nervosos (grupos de neurônios) do paras* simpático situam-se no encéfalo e na porção sacral dal medula espinhal. As fibras desses neurônios saem porj quatro nervos cranianos (III, VII, IX e X) e pelo segundo,! terceiro e quarto nervos espinhais sacrais. O parassimpá-j tico é denominado também de divisao craniossacral do: sistema autônomo. O segundo neurônio do parassimpático fica em gàngli*| os menores do que os do simpárico e sempre localizados perto dos órgãos efetores. Freqüentemente, esses neurònios| se localizam no interior dos órgãos, como, por exemplo,na parede do estômago e intestine Nesses casos as fibras préj ganglionares penetram nos órgãos e aí vão entrar em sii napse com o segundo neurônio da cadeia (Fig. 9.38). O mediador quimico liberado pelas terminações nervo sas pré- e pós-gangliona res do parassimpático é a acetil colina. Esta substância é rapidamente destruída pela ace- tilcolinesterase, sendo esta uma das razões pelas quaisoi estímulos parassimpáticos são de ação mais breve e maij localizada d o que os estimulos do simpático. Distr ibuição A maioria dos órgãos inervados pelo sistema nervoso a» tônomo recebe fibras do simpático e do parassimpáticGJ (Fig. 9.38). Em geral, nos órgàos em que o simpátíco é estH mulador, o parassimpático tern ação inibidora, e vice-van sa. Por exemplo, a estimulação do simpático acelera o rit mo cardiaco, ao passo que a estimulação das fibras paras- simpátJcas diminui esse ritmo. APLICAÇÃO MÉDICA Degeneração e Regeneração do Tecido Nervoso Como os neurônios dos mamíferos geralmente nâo se dividem, a destruição de um neurônío representa uma perda permanente. Seus prolongamentos, no entanlo, dentro de certos limites, podem rcgenerar-se devido à atividade sintética dos respectivos pericários. Por isso os nervos se regeneram, embora com dificuldadc. Quando uma célula nervosa é destruída, as que a ela se ligam nada sofrem, exceto nos raros casos em que um neurònio recebe impulsos exclusivamente de outro. Neste caso, o neurônio que fica compleramente priva- dode impulsos nervosos, pela dcstruiçãodooulro, so- fre a chamada degeneração transneuronal. Ao contrário dos elementos nervosos, as células da glia do SNC, e as do sistema nervoso peri iérico (cclulas de Schwann e células satélites dos gânglios), são dota- das de grande capacidade de proliferaçào. Os espaços deixados pelas células e fibras nen'osas do sistema ner voso central destruido por acidente ou doença s3o pre- enchidos por células da neuroglia. Devido à sua distribuição por todo o corpo, as lesões dos nervos não são raras. Quando um nervo é seccio- rECIDO NERVOSO 181 ktescncefalo Melencéfalo Cervical Torácica Medula esplnhal Gângliociliar- Lombar - Sacral 01 ho Glândula lacrimal Gtãndula submandibular Glândula sublingual Glândula paiõllda Cotação Laringô. Itaquéia e brônquios Pulmão Estômago Intestitio delgado Vasos sanguineos abdominais Figado Vesícula biliar Ductos biliares Pancreas MeduUir da adrenal Rim Colon Relo Bexlga Nervo pôlvico órgãos sexuais e ^ j j ^ ; genitais extemos W ^ Fig. 9.38 Esquema geral das vias eferentes do sistema nervoso autonomo. As fibras ner\*osas pré-ganglionares estâo representadas por linhas cheias e as pós-ganglionares, por Unhas interrompidas. As linhas azuis sâo as fibras parassimpálicas, e as vertnelhas sâO as fibras simpáticas. (Modificado e reproduzido com permissão de Youmans W: fundamentals of Human Physiology, 2nd ed. Year Book, 1962.) » nado, ocofrem alterações degenerativas, seguidas de uma iase de reparaçào. Num nen-o lesado deve-se dtstinguir a parte da li bra que, pela lesão. desligou-se do seu neurònio (parte dislal) e a parte que continua unida ao neurõnio (parle proximal). O segmento proximal, por manler conlato com o pericário, que é o centro trõfico, freqiientemente é regenerado, cnquanlo o segmento dislal degenera to- talmente e acaba porse r reabsorvido. A l:ig. 9.39 explica de modo esquemático as modifi- caçôes que ocorrem nas fibras nervosas lesadas e nos respecrivos pericários. O corpo celular cujo axõnio sofre lesão mostra as seguintes alterações: 1. cromatólise, isto é, dissoluçào dos corpúsculos de Nissl c conseqüente diminuiçao da basofilia cito- plasmátíca; 2. aumento do volume do pericário; 3. deslocnmento do núcleo para a periferia do peri- cário. Quanto à fibra nervosa, è preciso distinguir a s alte- raçòes da parte que fica ligada ao pericario, sen centro trófico, da parle distal, desligada do pericário, que não tern como repor seus constituintes. Proximo ao ferimen- 182 HISTOLOGIA BÁSICA (A) (B) 2 semanas (C> 3 semanas (D) 3 meses <E> Alguns mesas Fig. 939 Modificações que podem ocorrer quando a fibra nervosa é seccionada. A: Fibra nervosa motora normal. Notar a posiçãodo] núcleo do neurônio e a distribuição da substânda de Nissl. B: Quando a fibra sofre lesão, o núcleo do neurônio desloca-se para á periferia c diminui a quantidade da substância de Nissl (cromatólise)- A parte distal da fibra nervosa degenera, havendo fragmen-j tação da mielina, que é fagocitada por macrófagos. C: Devido à falta de uso, a fibra muscular esfriada se atrofia. A proliferação dan células de Schwann deu origem a um dlindro, que é penetrado pelos axônios em cresdmento. Estes crescem a uma velocidade de 0,5 a 3 mm por dia. D: No exemplo dado, a regeneraçâo foi bem-sucedida, e a fibra muscular voltou ao seu diâmetro normal. Ed Quando o axônio nâo enconlra um cilindro de células de Schwann, seu cresdmento é desordenado, formando muitas vezes os "neu j^ romas de amputação". (Redesenhado e reproduzido com permissão de Willis AT: Tfie Principles o/Patfiology and Bacteriology, 3rd edj Butterworth, 1972.) to, uma pequena extensão da fibra lesada porém ligada ao pericário tcoto proximal) degenera, mas seu cresd- mento se inicia logo que os restos alterados sâO rernovi- dos por macrófagos. No coto distal, tanto o axónio, agora separado de seu centro trofico (pericário), como a bainha de mielina de- generam totalmente, sendo fagocitados por macrófagos (Fig. 9.39 B). Enquanlo se processam essas alterac/tes, as celulas de Schwann proliferam. formando colunas celu- lares compactas. Essas colunas servirão de guia para os axônios que vào crescer durante a fase de regeneração. O segmento proximal do axônio cresce e se ramifica, formando vários filamentos que progridcm em direcão às colunas de celulas de Schwann (Fig. 9.39 C). Toda- via. somente as fibras que penetram nessas colunas tern possibilidade de alcancar um órgão efetor (Fig. 9.39 D). Quando a parte distal do nervo é perdida, como ocorrc na amputaçào de um metnbro, as fibras nervosas cres cem a esmo, formando uma düataçáo muito dolorosa na extremidade do nervo. chamada neuroma de amputa- çâo (Fig. 9.39 E). A efiriência fundonal da regeneração depende de as fibras ocuparem as colunas de celulas de Schwann des- finadas aos locals corretos. Num nervo misto, por exem plo, seas fibras sensitivas regeneradas ocuparem colu nas destinadas as placas motoras de um musculo estri- ado, a funçào do músailo não será restabelecida. A pos- sibilidade de recuperação funcional é aumentada pelo fato de cada fibra em regencração dar origem a vários pnílongamentos e cada coluna receber prolongamentos devárias fibras. Plas t i c idade Neuronal Ao contrário do que se supunha até pouco tempo, o sis- tema nervoso exibe certo grau de plastiddade mesmo no adulto. A plasticidade c muilo grande durante o desenvolvimento embrionário, quando se forma um excesso de neurônios e os que não estabelecem sinap- ses eorretas com outros neurônios sâo eliminados. Di- versos estudos realizados em mamíferos adultos mos- traram que após uma lesão do SNC os circuitos neuro- nais se ritirgani/am, gramas <\o crescimento dos prolon gamentos dos neurônios. que formani novas sinapses para substituir as perdidas pela les3o. Assim, estabele- cem-se novas comunicações que, dentro de certos limi- tes, podem restabelecer as atividades fundonais dos dr- cuitos perdidos. E&sa propriedade do teddo nervosoé denominada plasticidade neuronal. Oprocessoregene- rativo é controlado por diversos fatores de cresdmento prod u/.idos por neurõnios, células da glia e por células alvo da atividade dos neurônios. Esses fatores de cres dmento constituem uma famflia de moléculas chama- das neurotrofinas. TECIDO NERVOSO 183 BIBLIOGRAFIA Both well M: Functional interactions of neurotrophins ai"*d neurotrophin receptors. Annu Rev Neurosci 1995;18:223. jQaik DL et al: Generalized potential of adult neural stem cells. Science | 2000;288:1660. Compagnone NA, Mellon SH: Neurosteroids biosynthesis and function of this novel neuromodulators. Front Neuroendocrincl'20OO;21:t. tide FF et al: Neurotrophins and their receptors — Current concepts and implications for neurological diseases. Neurol 1993;121:8-17. Gage FH: Mammalian neurol stem cell. Science 2OO0;287:1433. Giulian D, Carpuz M: Neuroglial secretion products and their impact on Ihe nervous s ystem. Adv Neurology 1993;59:315- Halpain S: Actin and the agile spine: how and why do dendritic spines dance? Trends Neurosei 2000;23{4):14. rUuser M et al: Diversity and dynamics of dendritic signaling. Science 2000;290;739. 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