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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Campus Maracanã Professor Rodrigo Química Inorgânica “I agree with Poincaré that ‘it is far better to foresee even without certainty than not to foresee at all’. ” Linus Pauling 2009/1 IFRJ Química Inorgânica I Sumário 1. O Modelo Atômico Moderno 1 2. Configuração Eletrônica e Tabela Periódica 8 3. Propriedades Periódicas 3.1 – Carga Nuclear Efetiva (Z* ou Zeff) 3 3.2 – Raio Atômico 13 3.3 – Energia de Ionização (EI) 15 3.4 – Afinidade Eletrônica (AE) 19 3.5 – Eletronegatividade (χ) 20 Exercícios 22 4. A Regra do Octeto 23 5. Ligação Iônica 25 5.1 – Sólidos Iônicos 26 5.2 – As Estruturas Cristalinas dos Sólidos Iônicos 5.2.1 – A Estrutura do Cloreto de Sódio 28 5.2.2 – Estrutura do Cloreto de Césio 28 5.2.3 – A Estrutura da Esfarelita 29 5.2.4 – Estrutura da Fluorita e da Antifluorita 29 5.2.5 – Outras Estruturas 30 5.3 – Energia do Retículo Cristalino (U0) 30 5.4 – Raio Iônico 34 5.5 – Regras de Fajans: Poder Polarizante e Polarizabilidade 35 5.6 – Hidrólise de Cátions 36 5.7 – Outras Conseqüências do Aumento do Caráter Covalente da Ligação Iônica 38 Exercícios 40 6. Ligação Covalente 41 6.1 – Estruturas de Lewis 41 6.2 – Teoria da Ligação de Valência 44 6.2.1 – Hibridação dos Orbitais Atômicos 46 6.2.1.1 – Hibridação do tipo sp3 46 6.2.1.2 – Ligações π: Hibridação do tipo sp2 e sp 47 6.2.1.3 – Expansão do Octeto 49 IFRJ Química Inorgânica II 6.3 – Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência 52 6.4 – Ressonância 55 7. Conceitos Ácido-Base 7.1 – De Arrhenius a Brønsted-Lowry 56 7.2 – O Conceito ácido-base de Lewis 58 Exercícios 61 8. Compostos de Coordenação 8.1 – Um breve histórico sobre Compostos de Coordenação 62 8.2 – Classificação dos ligantes e nomenclatura de complexos 65 8.3 – Isomeria em compostos de coordenação 68 8.4 – A Teoria da Ligação de Valência Aplicada a Compostos de Coordenação 69 8.5 – A Teoria do Campo Cristalino (TCC) 72 8.6 – A Origem das Cores dos Compostos de Coordenação Segundo a TCC 77 Exercícios 80 Bibliografia 81 Aulas Experimentais 82 IFRJ Química Inorgânica 1 1. O Modelo Atômico Moderno Em 1911, Ernest Rutherford propusera um novo modelo para o átomo baseado em seus resultados que contradiziam o modelo atômico proposto por J. J. Thomson. O modelo proposto por Thomson, com os elétrons grudados na massa positiva, levava a uma distribuição uniforme de cargas. Pensando nessa distribuição uniforme Rutherford desenvolveu um experimento onde partículas alfa (de carga positiva) seriam lançadas contra uma fina folha de ouro. Devido à natureza elétrica neutra do átomo de Thomson, a partícula alfa não sofreria qualquer perturbação em sua trajetória. Rutherford realizou a experiência com o polônio, um emissor de partículas alfa em uma caixa de chumbo com uma fenda. As partículas alfa ao atravessarem a fina folha de ouro se chocavam contra um anteparo fluorescente de sulfeto de zinco. A experiência revelou que grande parte das partículas alfa atravessava sem problemas a folha de ouro, mas foram observados grandes desvios e, de forma surpreendente, algumas partículas voltavam direto para a fonte emissora. Para justificar esses resultados Rutherford propôs um novo modelo para o átomo, com um núcleo positivo de grande massa, porém muito pequeno em relação ao volume total do átomo e os elétrons descreveriam órbitas ao redor do núcleo. No entanto, o modelo para o átomo de Rutherford tinha um grande problema: não era estável segundo as leis da física conhecidas na época. Como podiam um núcleo positivo e uma carga negativa, o elétron, estarem tão próximos e não se atraírem? O problema foi parcialmente resolvido com o movimento circular exercido pelo elétron. Ao descrever uma trajetória em torno do núcleo, havia uma força centrípeta que compensaria a força atrativa. Mas essa solução se mostrou insuficiente, caindo numa outra armadilha da física clássica. Do eletromagnetismo, qualquer carga acelerada, como o elétron, emitiria energia continuamente, tendo como conseqüência uma diminuição do raio da trajetória. Conforme o elétron emitisse energia, mais próximo do núcleo ele ficaria, até o momento onde o choque entre elétron e núcleo seria inevitável. E sobre essas condições o átomo proposto por Rutherford não poderia existir. Entre o final do século XIX e o início do século XX, a física clássica já havia demonstrado diversas limitações. A instabilidade do átomo de Rutherford era mais uma, talvez a mais grave, afinal não se conseguia explicar porque um átomo poderia existir. Este impasse tinha que ser resolvido de alguma forma: ou mudaria o modelo ou mudaria a teoria. Em 1913, Niels Bohr mudou os dois. Em 1900, para solucionar uma falha da física clássica Max Planck havia proposto – fruto de seu desespero, segundo suas próprias palavras – a hipótese quântica. Esta hipótese estabelecia que a energia era descontínua e que o processo de absorção e emissão acontecia segundo a equação: E = hυ (1) onde E é a energia envolvida, h é a constante de Planck (de valor de 6,63.10–34 J.s) e υ é uma frequência de radiação eletromagnética. Então, só era permitido absorver e emitir “pacotes” de IFRJ Química Inorgânica 2 energia múltiplos de hυ. A idéia desesperada de Planck foi usada por Albert Einstein em 1905 para explicar o efeito fotoelétrico – um outro fenômeno que não encontrava explicação na física clássica. Bohr, como Einstein, também usou a hipótese quântica de Planck para explicar porque os átomos eram estáveis, revolucionando o pensamento sobre átomos. Bohr fez dois postulados fundamentados nas idéias de Planck para o átomo de hidrogênio. O primeiro postulado “resolvia” a estabilidade dos átomos frente à física clássica. Bohr considerou que os elétrons nos átomos poderiam orbitar sem emitir radiações, mas nem todas as órbitas eram permitidas aos elétrons. Apenas as órbitas de energia dada pela equação abaixo eram permitidas: 222 0 4 nh8 m.eE ∈−= (2) onde m é a massa do elétron, e é a carga do elétron, ∈0 é a constante elétrica de permissividade do vácuo, h é a constante de Planck e n é um número que só pode assumir valores inteiros (1, 2, 3, 4, ..., n). No segundo postulado, Bohr estabeleceu que um elétron deixa seu estado fundamental (n = 1) se absorver uma quantidade de energia equivalente à diferença de energia entre o estado fundamental e o estado excitado. Assim, para o elétron passar da órbita n = 1 para a órbita n = 3, a quantidade de energia fornecida será exatamente igual à diferença de energia entre estas órbitas (Figura 1). Além disso, ao retornar ao estado fundamental, o elétron emite a mesma quantidade de energia absorvida antes para passar ao estado excitado. Com isso, Bohr deu um comportamento quântico ao elétron e, consequentemente, ao átomo. O modelo atômico de Bohr, além de resolver o problema da instabilidade que surgiu no modelo atômico de Rutherford, também explicou os espectros que eram observados para os átomos, em especial, para o átomo de hidrogênio (Figura 2). Figura 1. Transição entre o estado fundamental (n=1) e o estado excitado (n=3). A quantidade de energia absorvida e emitida é igual à diferença de energia entre as órbitas. IFRJ Química Inorgânica 3 É importante entender que o modelo de Bohr não é totalmente quântico. Em sua dedução, Bohr usou de elementos da física clássica para chegar até a quantização das órbitas dos elétrons, de forma que este modelo acabou sendo reconhecido como um modelo transitório, que apontava para a necessidade de se chegar numa teoria mais geral para sistemas atômicos. Por volta do ano de 1925, Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger, separadamente, desenvolveram duas versões diferentes (porém equivalentes) da parte da física que trataria de maneira correta os átomos: a mecânica quântica. A versão de Schrödinger, também conhecida como mecânica ondulatória se tornou mais popular por uma série de facilidades em relação ao esquema de matrizes de Heisenberg e é por isso que vamos nos focar no modelo desenvolvido por Schrödinger. Schrödinger começou a desenvolver sua teoria analisando as idéias do Príncipe francês Louis-Victor Pierre Raymond de Broglie, que propôs que a matéria, assim como a luz, apresentava um comportamento dual de onda-partícula. Para Schrödinger, o trabalho de Louis de Broglie pecava por não apresentar um tratamento matemático adequado. Para ele, se a matéria apresentava características ondulatórias, existiria uma função de onda (ψ) que descreveria e representaria a matéria. Figura 2. Espectro atômico do hidrogênio. Espectro de emissão (em cima) e de absorção (em baixo). Através da equação que leva o seu nome, Schrödinger desenvolveu um método para encontrar as funções de onda de diversos sistemas – em especial para a química, as funções de onda para o átomo de hidrogênio. As funções de onda para o átomo de hidrogênio dependem de alguns parâmetros, chamados números quânticos – sendo o mais importante deles o número quântico principal, n, que define a camada que o elétron está localizado. Um dado conjunto de números quânticos, define um orbital atômico.1 Dessa forma, abandonava-se a idéia de Bohr de elétrons em movimento ao redor do núcleo, substituindo-se pela idéia de densidade eletrônica em uma dada região no espaço. A interpretação das funções de onda foi introduzida por Max Born. Ele percebeu que o quadrado da função de onda representava a probabilidade do evento representado por aquela 1 É preciso entender de forma clara a diferença entre órbitas de orbitais. Órbita é a trajetória do elétron ao redor do núcleo e tem interpretação determinística. Orbital é a representação visual da função de onda e tem interpretação probabilística. IFRJ Química Inorgânica 4 função de onda. Então, ao elevarmos as funções de onda dos elétrons ao quadrado, temos a probabilidade de se encontrar um elétron na região do espaço definida pelo orbital. Portanto: ψ = Função de onda, orbitais atômicos; ψ2 = Probabilidade de se encontrar o elétron na região do espaço definida pelo orbital. Na Figura 3 podemos acompanhar o comportamento de algumas funções de onda do tipo “s” de camadas diferentes em relação à distância r do núcleo. Pela Figura 3, percebe-se que o orbital s de número quântico principal n = 1, o orbital 1s, não corta o eixo x para nenhum ponto. Isto é, a função de onda não tem valor zero em nenhum ponto. Já para os outros dois orbitais, o 2s e o 3s, existem alguns pontos onde o valor da função é zero. Para o orbital 2s temos um ponto onde a função de onda tem valor zero. Já para o 3s, são dois os pontos onde a função passa pelo zero. Sempre que a função passa pelo valor zero, dizemos que ela trocou de fase. A função de onda do orbital 2s estava em valores positivos (fase positiva) e, ao passar no zero, foi para valores negativos (fase negativa). O orbital 3s, na primeira vez que passa no zero, muda da fase positiva para a negativa e, na segunda passagem por este valor, vai da fase negativa para a positiva. Se pensarmos em probabilidade, ψ2, uma função de onda como a do orbital 2s teria o comportamento semelhante ao mostrado na Figura 4. Como elevamos a função ao quadrado, a fase negativa se torna positiva. No entanto, o ponto onde a função tem valor zero, permanece no zero em ψ2. Portanto, o ponto onde a função de onda tem valor zero equivale à probabilidade zero de se encontrar o elétron. A conclusão disto é que, dependendo da função de onda, existirá uma região no espaço onde a probabilidade de se encontrar o elétron é nula. Esta região é chamada de região nodal. Figura 3. Comportamento dos orbitais atômicos do tipo s em função da distância r do núcleo. IFRJ Química Inorgânica 5 Figura 4. Uma função de onda (ψ) e o quadrado desta função (ψ2) Voltando na Figura 3, a função de onda do orbital 1s não possui valor zero para nenhum ponto. Portanto, o orbital 1s não possui regiões nodais. Os orbitais 2s e 3s têm, respectivamente, uma e duas regiões nodais. Como é possível perceber, existe uma estreita relação entre o número quântico principal e o número de regiões nodais de uma função de onda. O número de regiões nodais pode ser definido por n – 1, onde n é o número quântico principal. Na Figura 5, as regiões nodais dos orbitais 2s e 3s estão destacadas. Além de definir quantas regiões nodais um orbital tem, o número quântico principal define também quantos subníveis uma camada (ou nível) tem. Ao primeiro nível, n = 1, só é permitido um subnível. No segundo, n = 2, são permitidos dois subníveis, a terceira camada tem três subníveis e assim por diante. Ou seja, o número de subníveis de cada nível é igual ao número quântico principal da camada. Cada subnível é formado por um conjunto de orbitais de mesmo tipo. O subnível s é formado por um orbital do tipo s. Já o subnível p é formado por três orbitais do tipo p. O subnível d é formado por cinco orbitais do tipo d. A Tabela 1 resume a relação entre alguns subníveis e os tipos de orbitais. Figura 5. Orbitais atômicos 1s, 2s e 3s e suas regiões nodais. IFRJ Química Inorgânica 6 Tabela 1. Relação entre subníveis e orbitais. Subnível Tipo de orbital Número de Orbitais s s 1 p p 3 d d 5 f f 7 g g 9 h h 11 i i 13 O subnível s é formado por um orbital s e está presente em todas as camadas. O orbital s é caracterizado por ter uma forma esférica, como mostra a Figura 6. Figura 6. Forma espacial do orbital s. O subnível p é formado por três orbitais do tipo p, que se localizam ao longo dos eixos x, y e z (Figura 7). Por este motivo, são chamados de orbitais px, py e pz. Como é possível ver na Figura 8, os orbitais p possuem planos nodais e, por isso, uma fase positiva e outra negativa. Outra característica interessante é que estes três orbitais têm a mesma energia. Orbitais de mesma energia são chamados de orbitais degenerados. O subnível p é encontrado a partir da segunda camada. Figura 7. Os três orbitais p e suas formas espaciais. IFRJ Química Inorgânica 7 Figura 8. Orbital p e seu plano nodal. Subnível d é formado por cinco orbitais do tipo d (Figura 9) e é encontrado a partir do terceiro nível. Assim como os orbitais p, os orbitais do tipo d são degenerados. No entanto, sob algumas condições, a degenerescência destes orbitais pode ser quebrada. Figura 9. Os cinco orbitais d e suas posições no espaço. O subnível f é permitido a partir do quarto nível energético. Ele é formado por sete orbitais degenerados do tipo f, que podem ser vistos na Figura 10. Os subnívels g, h, i, e outros, existem teoricamente. Na prática, esse orbitais não são observados no estado fundamental dos átomos que se conhece atualmente. No entanto, experimentos de estados excitados podem detectá-los. Conhecendo-se como variam os níveis, subníveis e orbitais, constrói-se a configuração eletrônica dos átomos, assunto de grande importância para o entendimento da reatividade dos compostos. IFRJ Química Inorgânica 8 Figura 10. Os sete orbitais f e suas posições no espaço 2. Configuração Eletrônica e Tabela Periódica A configuração eletrônica de um átomo no estado fundamental, segue algumas regras que são conhecidas como o princípio de Aufbau. A primeira das regras está relacionada com a ordem de ocupação dos orbitais pelos elétrons. A distribuição eletrônica começa no orbital de menor energia, o 1s, e os elétrons restantes entram no próximo orbital vazio de menor energia – até que todos os elétrons do átomo sejam distribuídos. A ordem de energia pode ser prevista pelo diagrama de Pauling: 1s 2s 3s 2p 4s 3p 5s 4p 3d 6s 5p 4d 7s 6p 8s 7p 6d 7d 6f 5d 4f 5f 5g 7f 6g 7g 6h 7h 7i (...) (...) A distribuição dos elétrons segue a ordem das diagonais, indo de cima para baixo como indicam as setas. Dessa forma, a ordem de energia dos orbitais é: 1s<2s<2p<3s<3p<4s<3d<4p<5s<4d<5p<6s<... Os orbitais marcados em azul são, normalmente, omitidos no diagrama de Pauling, pois os elementos conhecidos até então não têm elétrons suficientes para ocupar estes orbitais quando no estado fundamental. No entanto, com a síntese de novos elementos artificiais, isto pode mudar no futuro. A segunda regra está relacionada com o Princípio da Exclusão de Pauli e pode ser enunciada de várias formas. A maneira mais fácil de entendê-lo é que o número máximo de elétrons que podem ocupar um mesmo orbital são dois – e neste caso, os spins dos elétrons devem ser necessariamente contrários. A terceira regra é conhecida como Regra de Hund. Quando um subnível possui orbitais degenerados, primeiro ocupa-se todos os orbitais com um elétron para, então, entrar com segundo elétron. Um exemplo da Regra de Hund pode ser visto na Figura 11. IFRJ Química Inorgânica 9 Viola a Regra de Hund (a) Segue a Regra de Hund (b) Figura 11. Duas possibilidades para a distribuição de 3 elétrons em um subnível p. (a) um exemplo onde a Regra de Hund não está sendo respeitada e (b) a maneira correta, seguindo a Regra de Hund. Seguindo estas regras, chega-se à configuração eletrônica do estado fundamental dos átomos. Algumas exceções são observadas, como o cobre, prata, ouro, platina, molibidênio e grande parte dos elementos da série dos lantanídeos e actnídeos. Quando se determina a configuração eletrônica destes elementos se observa que um orbital de maior energia está ocupado no lugar de um de menor energia (segundo a prioridade do diagrama de Pauling). Alguns exemplos são mostrados na Tabela 2. Tabela 2. Algumas exceções ao diagrama de Pauling. Configuração eletrônica Elemento Diagrama de Pauling Experimental 29Cu [Ar] 4s2 3d9 [Ar] 4s1 3d10 42Mo [Kr] 5s2 4d4 [Kr] 5s1 4d5 78Pt [Xe] 6s2 4f14 5d8 [Xe] 6s1 4f14 5d9 A configuração eletrônica dos elementos e a maneira que a Tabela Periódica está organizada têm grande relação. A Tabela Periódica moderna foi montada a partir da tabela feita por Mendeleev em 1869. Mendeleev colocou os 63 elementos que eram conhecidos naquela época em ordem crescente de massa atômica em linhas horizontais, que chamou de período. Os elementos com propriedades semelhantes foram organizados em linhas verticais, que foram chamadas de grupos ou famílias. As propriedades dos elementos, principalmente a reatividade, estão relacionadas com a configuração eletrônica destes elementos. Portanto, nos grupos da Tabela Periódica estão elementos com configuração eletrônica semelhante. Fazendo a distribuição eletrônica do lítio, sódio, potássio e rubídio – todos do grupo 1 (ou 1A) – podemos perceber isso: 3Li 1s2 2s1 19K 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1 11Na 1s2 2s2 2p6 3s1 37Rb 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s1 Todos os elementos do grupo 1 da tabela têm seu último elétron ocupando um orbital s. A configuração eletrônica de todos termina com ns1, onde n é o período da tabela periódica que o elemento se encontra. Fazendo o mesmo para os elementos do grupo 2 da tabela, como o berílio, magnésio, cálcio e estrôncio, temos: 4Be 1s2 2s2 20Ca 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 12Mg 1s2 2s2 2p6 3s2 38Sr 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 IFRJ Química Inorgânica 10 A configuração eletrônica dos elementos do grupo 2 na tabela termina com Xs2, onde X é o período da tabela periódica que o elemento se encontra. Se fizermos isto para todos os grupos, iremos verificar que os elementos do mesmo grupo sempre têm o mesmo número de elétrons no mesmo subnível. Apenas o número da camada é que muda. Assim, podemos dividir a tabela periódica de acordo com os subníveis e número de elétrons, como mostra a Figura 12. Uma vez que conhecemos a configuração eletrônica dos elementos e sua relação com a Tabela Periódica, podemos então avançar nossos estudos sobre as propriedades periódicas dos elementos. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 s1 p6 s2 p1 p2 p3 p4 p5 d1 d2 d3 d4 d5 d6 d7 d8 d9 d10 Bloco “p” Bloco “s” Bloco “d” f1 f2 f3 f4 f5 f6 f7 f8 f9 f10 f11 f12 f13 f14 Bloco “f” Figura 12. A Tabela Periódica e sua relação com a configuração eletrônica dos elementos. 3. Propriedades Periódicas 3.1 – Carga Nuclear Efetiva (Z* ou Zeff) Considere um átomo com dois elétrons, como o mostrado na Figura 13. O elétron A está sobre influência direta do núcleo. Toda a carga nuclear irá atrair este elétron. Já o elétron B, não estará sob influência de toda a carga nuclear. De certa forma, o elétron A funciona como uma barreira da carga nuclear, atenuando-a. É como se uma parte da carga nuclear se perdesse ao atrair o elétron A, sobrando apenas uma fração da carga nuclear total para atrair o elétron B. Dizemos então que o elétron A blinda a carga nuclear para o elétron B. IFRJ Química Inorgânica 11 Figura 13. Um núcleo e dois elétrons A e B. A influência do núcleo é diferente para os elétrons. Dessa forma, define-se o termo carga nuclear efetiva (Z* ou Zeff) como sendo a fração da carga nuclear que chega ao elétron. Podemos expressar a carga nuclear efetiva como sendo: Z* = Z – σ (3) onde Z é a carga nuclear e σ representa a blindagem. Consideremos um átomo com cinco elétrons. Entre o último elétron e o núcleo estão os quatro elétrons anteriores. Estes quatro elétrons estão blindando a carga nuclear para o último elétron que, portanto, terá o menor valor de Z* dentre os cinco elétrons deste átomo. Já o primeiro elétron não possui blindagem, logo Z* = Z. Portanto, um dado elétron é blindado por todos os elétrons de camadas anteriores a sua. A eficiência da blindagem depende basicamente do número de elétrons e do tipo de orbitais que estão sendo ocupados. A influência do tipo dos orbitais na eficiência da blindagem está relacionada com o número de planos nodais que o orbital possui. Considere um orbital do tipo s, um do tipo p e um do tipo d. O orbital s, por ser esférico, blinda a carga nuclear em todas as direções (Figura 14a). Já o orbital p possui um plano nodal. Na posição do plano nodal, a probabilidade de se encontrar o elétron é nula. Dessa forma, existe uma posição no espaço onde a carga nuclear pode passar sem ser atenuada pelos elétrons. (Figura 14b). Da mesma forma, orbitais d possuem dois planos nodais que permitem a passagem da carga nuclear sem ser atenuada pelos elétrons (Figura 14c). Portanto, existe uma relação direta entre o número de planos nodais (e os tipos de orbitais) e a eficiência da blindagem. Resumindo, a blindagem varia da seguinte maneira: orbitais s > orbitais p > orbitais d > orbitais f > ... Embora a carga nuclear efetiva possa ser determinada (quantitativamente ou qualitativamente) para todos os elétrons de um átomo, normalmente o interesse principal está nos elétrons da camada de valência, pois são eles os maiores responsáveis pela reatividade e propriedade de um elemento. Dessa forma, a partir de agora, quando a carga nuclear efetiva for citada, esta se refere aos elétrons da camada de valência. IFRJ Química Inorgânica 12 Figura 14. Representação esquemática da blindagem em relação ao tipo de orbitais. (a) Orbital s, por ser esférico, consegue blindar a carga nuclear igualmente em todas as direções; (b) Na posição do plano nodal do orbital p, a carga nuclear passa livremente (representada de vermelho na figura); (c) Em um orbital d tem- se dois planos nodais, onde a carga nuclear não é blindada (em vermelho). A carga nuclear efetiva varia nos períodos de maneira regular, aumentando da esquerda para a direita. Para compreender esta tendência, tomemos o segundo período da Tabela Periódica como referência. A carga nuclear, Z, aumenta do lítio (Z=3) para o neônio (Z=10). Fazendo a distribuição eletrônica dos elementos deste período, encontra-se: 3Li 1s2 2s1 4Be 1s2 2s2 5B 1s2 2s2 2p1 6C 1s2 2s2 2p2 7N 1s2 2s2 2p3 8O 1s2 2s2 2p4 9F 1s2 2s2 2p5 10Ne 1s2 2s2 2p6 Os orbitais sublinhados são os que devem ser considerados para o efeito de blindagem do último elétron. O lítio e o berílio têm a mesma blindagem, realizada pelos dois elétrons do orbital 1s. Como a carga nuclear do berílio (Z=4) é maior que a do lítio (Z=3), pela equação (3) pode-se verificar que a carga nuclear efetiva aumenta do lítio para o berílio. Indo para a direita no período, a blindagem tem uma mudança: a partir do boro, os elétrons do orbital 2s se juntam aos do orbital 1s no termo de blindagem para o orbital 2p. Do boro ao flúor, a blindagem é mesma, enquanto a carga nuclear aumenta. Portanto, teremos um aumento na carga nuclear efetiva ao seguirmos o aumento do número atômico em um mesmo período da Tabela Periódica. IFRJ Química Inorgânica 13 Mas como comparar as cargas nucleares efetivas de elementos com blindagens diferentes, como, por exemplo, berílio e boro? Para isso, é necessário buscar parâmentros quantitativos para que se possa calcular de fato o termo de blindagem de cada elemento e, então, subtraí-lo da carga nuclear. Uma maneira de calcular o termo de blindagem foi proposta por John Clarke Slater, mas não iremos nos aprofundar em seu trabalho. Ao invés disso, analisaremos os valores calculados, apresentados na Tabela 3, para tirarmos algumas conclusões. Tabela 3. Valores de carga nuclear efetiva (Z*) para diferentes elementos. Li Be B C N O F Ne Z 3 4 5 6 7 8 9 10 Z*(2s) 1,28 1,91 2,58 3,22 3,85 4,49 5,13 5,76 Z*(2p) – – 2,42 3,14 3,83 4,45 5,10 5,76 Pelos valores apresentados na Tabela 3, pode-se verificar dois pontos principais. O primeiro é o da tendência de Z* aumentar ao longo do período. O segundo é que a eficiência da blindagem do orbital 2s para o orbital 2p não é muito grande. Os valores de Z*(2s) mostram que o orbital 1s blinda aproximadamente metade da carga nuclear. Ao comparar os valores de Z*(2s) com os de Z*(2p) verifica-se que a adição do orbital 2s na blindagem (presente no termo Z*(2p)) tem pouco peso. Por esta razão, utiliza-se a aproximação de que elétrons de uma mesma camada não blindam uns aos outros; de forma que a blindagem é exercida pelos elétrons das camadas anteriores. Nos grupos, a situação é problemática. Adotando uma parte do grupo 1 da Tabela Periódica como caso de estudo, teremos a seguinte situação: 3Li 1s2 2s1 11Na 1s2 2s2 2p6 3s1 19K 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1 37Rb 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s1 Como avaliar a tendência da variação de Z* se tanto a blindagem (orbitais sublinhados) quanto a carga nuclear estão variando de maneira significativa? Aqui, a análise só é possível em termos quantitativos. Para avaliar as propriedades periódicas nos grupos é mais conveniente usar um outro parâmetro para a atração núcleo-elétron: o raio atômico. 3.2 – Raio Atômico Desde o modelo atômico proposto por Rutherford, o tamanho do átomo está relacionado com a posição dos elétrons em relação ao núcleo. Portanto, define-se raio atômico como a distância entre o núcleo e o último elétron do átomo. Como sabermos se um elétron está mais ou menos afastado do núcleo? Considere dois núcleos diferentes atraindo um elétron qualquer. O núcleo que atraí-lo com mais força, terá o menor raio, pois a distância entre este núcleo e o elétron será menor. Portanto, o raio de IFRJ Química Inorgânica 14 um átomo é uma função direta da capacidade do núcleo em atrair o seu último elétron e, como foi visto no item anterior, o melhor parâmetro desta força é a carga nuclear efetiva. Na Figura 15 pode-se ver a relação entre o aumento da carga nuclear efetiva e a diminuição do raio atômico para os elementos do segundo e terceiro período da tabela periódica. Dentro dos períodos o raio atômico diminui da esquerda para a direita, acompanhando o aumento de Z*. Nos grupos, o raio atômico aumenta conforme o número de camadas aumenta. Novamente, usaremos o grupo 1 como exemplo. A distribuição eletrônica de alguns dos elementos deste grupo é 3Li 1s2 2s1 11Na 1s2 2s2 2p6 3s1 19K 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1 37Rb 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s1 Tem-se sempre o aumento de camadas de um elemento para o outro. Dessa forma, o último elétron está sempre uma camada além do que o último elétron do elemento anterior e, portanto, o raio atômico aumentará conforme o número de camadas cresce. 0 1 2 3 4 5 6 7 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Número atômico Raio Atômico (angstrons) Carga Nuclear Efetiva Li C F Na Si Cl Figura 15. Variação da carga nuclear efetiva e do raio atômico para o segundo e terceiro períodos da Tabela Periódica. Tanto o raio atômico como a carga nuclear efetiva são parâmetros para entender a variação de duas propriedades importantes dos átomos: a energia de ionização e a afinidade eletrônica. IFRJ Química Inorgânica 15 3.3 – Energia de Ionização (EI) A energia de ionização é definida como a energia necessária para remover-se 1 mol de elétrons de 1 mol de átomos (ou íons) no estado gasoso, segundo a reação M(g) → M+(g) + 1e– Para remover um elétron de um átomo é preciso dar energia ao sistema, dessa forma, a energia de ionização é sempre positiva. Como o raio atômico, a EI varia de acordo com a força com que o núcleo atrai o elétron. Quanto maior for força de atração, mais difícil é a retirada do elétron. Existem várias energias de ionização, dependendo de quantos elétrons o elemento já perdeu. Resumindo: M(g) → M+(g) + 1e– 1° EI M+(g) → M2+(g) + 1e– 2° EI M2+(g) → M3+(g) + 1e– 3° EI M3+(g) → M4+(g) + 1e– 4° EI M(n–1)+(g) → Mn+(g) + 1e– enésima EI A EI sempre aumenta conforme mais elétrons são retirados, isto é 1° EI < 2° EI < 3° EI < 4° EI < ...< enésima EI. A explicação para isto é simples. Quando retiramos um elétron, fazendo do elemento um cátion, a atração do núcleo sobre os elétrons restantes aumenta. Assim, a saída do próximo elétron necessitará de mais energia que a do elétron anterior. A variação da EI nos períodos segue uma tendência governada pela carga nuclear efetiva. Quanto maior Z*, maior será a EI e por isso, são os gases nobres os elementos com maiores valores de energia de ionização. O mesmo raciocínio pode ser aplicado usando o raio atômico como referência. Se o raio atômico é menor, considera-se que o elétron está sendo mais atraído pelo núcleo. Então, para raios atômicos menores, teremos valores de EI maiores. Na Tabela 4 estão listadas as energias de ionização para alguns elementos da Tabela Periódica. Observando os valores da Tabela 4, vemos que a variação da EI ao longo do período não é constante. Quando passamos do grupo 15 para o 16, ao invés de observarmos o aumento na EI, acompanhando o aumento de Z* (ver Tabela 3), tem-se uma diminuição da EI. O mesmo ocorre entre os grupos 2 e 13. Precisa-se, então, compreender a natureza dessas anomalias. Começaremos tentando compreender o problema entre o grupo 2 e o 13. Para isso, precisamos da configuração eletrônica dos elementos. Para o berílio e o boro: 4Be 1s2 2s2 5B 1s2 2s2 2p1 O elétron que será removido no berílio está emparelhado no orbital 2s. Já no boro, o elétron retirado é o do orbital 2p. Essa questão está relacionada com a degenerescência dos orbitais do subnível 2p. O subnível 2p do boro, que possui três orbitais p degenerados, tem apenas um elétron em um dos orbitais. Manter três orbitais com a mesma energia pode ter um custo energético para o átomo. Se todos os orbitais de um mesmo subnível estiverem nas IFRJ Química Inorgânica 16 mesmas condições, isto é, ou todos desocupados ou todos com um elétron ou todos com dois elétrons, tem-se um equilíbrio de energia. Caso a ocupação não seja a mesma, como é o caso no subnível 2p do boro, há um custo energético. Aqui se pode utilizar uma analogia com uma balança de dois pratos. Se as massas nos dois pratos forem iguais, os pratos ficarão equilibrados naturalmente. Mas, se as massas forem diferentes, alguém terá que intervir, puxando o lado com menor massa para baixo, tentando manter os pratos equilibrados. Ou seja, há um custo energético para manter os pratos no mesmo nível. Tendo isto em mente, voltemos ao caso do berílio e do boro. O berílio irá perder um dos elétrons do orbital 2s. Já o boro, irá perder o elétron do subnível 2p, que possui três orbitais p que devem ter a mesma energia. Como só um dos três está ocupado, o custo para o átomo manter estes orbitais em um mesmo patamar energético é grande. Com a saída deste elétron, todos os orbitais 2p estarão desocupados, todos em uma mesma situação. Com a saída do elétron, não haverá mais um custo adicional para manter a degenerescência dos orbitais do subnível 2p. Por conta disso, a saída do elétron do boro demanda menos energia que a retirada do elétron do berílio, apesar da carga nuclear efetiva ser maior para o boro. Da mesma forma, isto acontece em outros períodos destes grupos. Tabela 4. Valores em eV da primeira energia de ionização de alguns elementos. Grupos 1 2 13 14 15 16 17 18 H 13,60 He 24,59 Li 5,32 Be 9,32 B 8,30 C 11,26 N 14,53 O 13,62 F 17,42 Ne 21,56 Na 5,14 Mg 7,64 Al 5,98 Si 8,15 P 10,48 S 10,36 Cl 12,97 Ar 15,76 K 4,34 Ca 6,11 Ga 6,00 Ge 7,90 As 9,81 Se 9,75 Br 11,81 Kr 14,00 Este efeito do “equilíbrio dos orbitais” também é o responsável pela anomalia entre o grupo 15 e o 16. Usemos como exemplo o nitrogênio e o oxigênio. As configurações eletrônicas destes elementos são: 7N 1s2 2s2 2p3 8O 1s2 2s2 2p4 O nitrogênio tem três elétrons no subnível 2p, um elétron para cada um dos orbitais. Então, estes orbitais estão equilibrados e não há um custo adicional para mantê-los degenerados. Já o oxigênio, possui quatro elétrons no subnível 2p, o que significa que um dos orbitais tem dois elétrons enquanto os outros dois têm um elétron cada. Portanto, existe um desequilíbrio entre os orbitais p do oxigênio e, assim como o boro no caso anterior, haverá um custo extra de energia para manter a degenerescência destes orbitais. Temos então os orbitais do nitrogênio “equilibrados” e os do oxigênio “desequilibrados” (Figura 16). IFRJ Química Inorgânica 17 (a) (b) Figura 16. A distribuição dos elétrons no subnível 2p para: (a) nitrogênio e (b) oxigênio. Se o nitrogênio perder um elétron, ele passará a uma situação de desequilíbrio. Em contrapartida, o oxigênio ao perder um elétron cai exatamente na situação do nitrogênio, com três elétrons para os três orbitais p. Portanto, a saída do elétron do nitrogênio é altamente desfavorável (quebra o “equilíbrio”), enquanto a saída do elétron do oxigênio torna os orbitais do subnível p “equilibrados”. Então, observa-se que as EIs para os elementos do grupo do nitrogênio são maiores que as do grupo do oxigênio, apesar da carga nuclear efetiva aumentar do grupo 15 para o 16. A variação ao longo dos grupos acompanha a variação do raio atômico. Raios maiores são um indicativo de forças de atração núcleo-elétron menores. A conseqüência é que o elétron estará menos preso ao átomo, sendo mais fácil retirá-lo. Por isso, a EI será menor quando se desce nos grupos. Um outro ponto interessante para se destacar sobre a variação da energia de ionização vem dos grupos 1, 2 e 13. A Tabela 5 mostra as três primeiras energias de ionização de alguns elementos destes grupos. Tabela 5. Os três primeiros potenciais de ionização em eV de alguns elementos. Grupos 1 2 13 Li 5,32 75,63 122,4 Be 9,32 18,21 153,85 B 8,30 25,15 37,93 Na 5,14 47,28 71,63 Mg 7,64 15,03 80,14 Al 5,98 18,83 28,44 K 4,34 31,62 45,71 Ca 6,11 11,87 50,89 Ga 6,00 20,51 30,71 Nota-se que para a 1° EI, os menores valores no período são sempre dos elementos do grupo 1. Já para a 2° EI, os menores valores são os do grupo 2. E, para a 3° EI, os menores valores observados são os do grupo 13. Então, podemos dizer que os elementos do grupo 1 perdem, preferencialmente um elétron. Enquanto os elementos do grupo 2 formam cátions do tipo M2+ com maior facilidade. Já os do grupo 13, são os que consomem menos energia para formar cátions M3+. Esta variação está diretamente relacionada com a configuração eletrônica IFRJ Química Inorgânica 18 destes elementos. Tomando como exemplo o terceiro período da tabela periódica (sódio, magnésio e alumínio) tem-se 11Na 1s2 2s2 2p6 3s1 12Mg 1s2 2s2 2p6 3s2 13Al 1s2 2s2 2p6 3s2 3p1 Como são do terceiro período, todos irão perder primeiramente os elétrons da terceira camada. Como a carga nuclear efetiva do sódio é a menor dentre estes elementos, a saída do primeiro elétron do sódio demanda uma menor energia do que para os outros. Após a saída do primeiro elétron os elementos teriam a seguinte configuração: 11Na+ 1s2 2s2 2p6 12Mg+ 1s2 2s2 2p6 3s1 13Al+ 1s2 2s2 2p6 3s2 Na segunda energia de ionização, a saída do segundo elétron, tem-se uma situação diferente da anterior. O cátion sódio perderia um elétron da segunda camada, enquanto magnésio e alumínio ainda possuem elétrons na terceira camada. Isto significa que o sódio perderá um elétron de uma camada mais interna que magnésio e alumínio. Portanto, a energia para retirar o segundo elétron do sódio é muito maior que para os outros elementos aqui analisados. E isto irá se repetir para todos os elementos do grupo 1 quando comparados aos elementos do grupo 2 e 13. Da mesma forma, o magnésio, após a 2° EI terá uma camada a menos, enquanto o alumínio continuará tendo um elétron na terceira camada. Desta forma, a 3° EI será menor para o alumínio do que para o sódio e o magnésio. A Tabela 5 mostra ainda outro fato curioso. Avançando nos grupos, observa-se uma diminuição nos valores de EI – menos entre o alumínio e o gálio. A diminuição dos valores de EI dentro dos grupos é esperada, uma vez que o raio aumenta descendo nos grupos e, portanto, a energia de ionização deve diminuir. Portanto, é preciso entender por que isto não é observado entre os elementos alumínio e gálio. Assim como as outras variações não esperadas, a razão para a anomalia reside na configuração eletrônica destes elementos: 13Al 1s2 2s2 2p6 3s2 3p1 31Ga 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d10 4s24p1 O gálio possui elétrons em orbitais do tipo d. Como exposto anteriormente, orbitais deste tipo têm pouca eficiência na blindagem dos próximos elétrons. Dez dos dezoito elétrons que o gálio tem a mais que o alumínio tem pouco efeito para a blindagem. Portanto, a blindagem do gálio varia de maneira discreta quando confrontada com o aumento do número de elétrons. Se a blindagem não varia de maneira significativa devido a estes dez elétrons em orbitais d, o mesmo não pode ser dito sobre a carga nuclear do gálio. Os dezoito prótons a mais fazem a força de atração do núcleo do gálio ser muito maior do que a do alumínio. A soma dos dois fatores (grande aumento na carga nuclear e um aumento relativamente pequeno da blindagem) faz a carga nuclear efetiva do gálio ser maior que a do alumínio. IFRJ Química Inorgânica 19 Assim, a energia para retirar um elétron do gálio é maior que no alumínio, apesar do gálio ter uma camada a mais. Alguns desses efeitos eletrônicos são observados também no ganho de elétrons, como será visto adiante. 3.4 – Afinidade Eletrônica (AE) A energia de ionização representa o quão fácil (ou difícil) um átomo perde um elétron. Já a afinidade eletrônica mede a tendência de um átomo se tornar um ânion. A afinidade eletrônica pode ser definida como sendo a energia envolvida na reação de 1 mol de átomos no estado gasoso com 1 mol de elétrons: M(g) + 1e–→ M–(g) Ao contrário da EI, que é sempre positiva, o ganho de elétrons pode ter valores positivos ou negativos. A afinidade eletrônica definida nestes termos também é chamada de entalpia de ganho de elétron (ΔHge). Outra definição da afinidade eletrônica é considerá-la o oposto da entalpia de ganho de elétrons, isto é AE = – ΔHge e será esta definição que usaremos aqui. Assim, valores positivos de AE significam liberação de energia enquanto valores negativos representam processos onde há absorção de energia ao se ganhar o elétron. Quanto maior for a AE, maior é a tendência do átomo de ganhar um elétron. Esta tendência seguirá, basicamente, três parâmetros: a configuração eletrônica, a carga nuclear efetiva e o raio atômico. A configuração eletrônica dos elementos terá a mesma influência que para o caso da EI. Para orbitais degenerados, como os do tipo p, haverá um custo adicional de energia se a distribuição eletrônica não é simétrica. Já a carga nuclear efetiva funciona como um parâmetro de atração ao elétron que irá entrar no átomo. Quanto maior for Z*, mais fácil é a entrada do elétron, portanto, maiores serão os valores de afinidade eletrônica. O raio atômico tem um papel importante para a afinidade eletrônica. A entrada de um novo elétron em um subnível sofrerá repulsão dos elétrons que já o ocupam. Quanto mais elétrons, maior a repulsão. Se o raio atômico for grande, a repulsão será minimizada, pois os elétrons podem se dispersar em um volume maior. Para átomos com raios menores, a repulsão será mais forte, dificultando a entrada do elétron. A Tabela 6 mostra os valores de afinidades eletrônicas para alguns átomos. Pode-se perceber que a tendência seria a AE aumentar ao longo do período, acompanhando o aumento de Z*. É possível verificar algumas exceções a esta tendência, como o grupo 2 e o grupo 15, além do grupo 18. Como foi dito antes, a explicação para os valores de EI (Tabela 4) mais altos que o esperado está relacionada com a distribuição simétrica dos elétrons em orbitais degenerados. A saída de um elétron quebra este arranjo simétrico (para o nitrogênio, Figura 16a). Da mesma forma, a entrada de um elétron também produz um desequilíbrio na distribuição dos elétrons nestes orbitais. Portanto, a entrada de um novo elétron será altamente desfavorável, o que leva aos valores negativos para alguns dos IFRJ Química Inorgânica 20 elementos (como o nitrogênio, berílio e magnésio) ou valores próximos de zero para alguns outros elementos. Tabela 6. Valores de afinidade eletrônica (em eV) para alguns elementos. Grupos 1 2 13 14 15 16 17 18 H 0,754 He – 0,5 Li 0,618 Be < 0 B 0,277 C 1,263 N – 0,07 O 1,461 F 3,399 Ne – 1,2 Na 0,548 Mg < 0 Al 0,441 Si 1,385 P 0,747 S 2,077 Cl 3,617 Ar – 1,0 K 0,502 Ca 0,02 Ga 0,30 Ge 1,2 As 0,81 Se 2,021 Br 3,365 Kr – 1,0 Rb 0,486 Sr 0,05 In 0,3 Sn 1,2 Sb 1,07 Te 1,971 I 3,059 Xe – 0,8 A influência do raio atômico é mais sutil e menos constante. Pode-se usar o flúor e o cloro como exemplos para ilustrar isto. O cloro é maior que o flúor e, por isso, o elétron que entrará no átomo será menos atraído pelo núcleo. Consequentemente a entrada do elétron seria menos favorecida. No entanto, com o aumento do raio atômico, ao mesmo tempo em que o elétron fica mais distante do núcleo também ficará distante dos outros elétrons do cloro, diminuindo a repulsão. No caso do flúor, a atração do núcleo ao elétron que irá entrar é grande, já que o raio é menor que o do cloro. Mas, se o raio é pequeno, a repulsão dos outros elétrons em relação ao novo elétron também é grande. Então, temos no cloro uma menor atração, mas também uma menor repulsão, enquanto o flúor tem maior atração e repulsão. O resultado deste quebra-cabeça energético é que a entrada do elétron para o átomo de cloro é mais favorecida que para o flúor. Portanto, entre flúor e cloro, a repulsão é o fator determinante. Mas, se continuarmos descendo no grupo, veremos que a atração passará a governar o valor da AE. Por conta de todas essas variáveis, a afinidade eletrônica é uma propriedade de difícil previsão quando comparada com a energia de ionização, a carga nuclear efetiva ou o raio atômico. Um outro ponto importante a ser destacado, são os valores negativos para as afinidades eletrônicas dos gases nobres. Isto indica que é preciso dar energia aos elementos do grupo 18 para que aceitem o elétron. Curiosamente são os elementos desse mesmo grupo, que apresentam os maiores valores de energia de ionização nos períodos. 3.5 – Eletronegatividade (χ) Em uma ligação química com elementos diferentes, um atrai mais os elétrons que o outro. A eletronegatividade é a propriedade que representa a força de atração de um átomo IFRJ Química Inorgânica 21 pelos elétrons de uma ligação. Esta propriedade está diretamente relacionada com as outras duas aqui apresentadas: a energia de ionização e a afinidade eletrônica. Um elemento eletronegativo é aquele que: 1) não perde elétrons com facilidade – ou seja, tem um valor elevado de EI; 2) aceita elétrons com facilidade – valores elevados de AE. Ao contrário da EI e AE, não existe uma medida experimental para a eletronegatividade; ao invés de uma definição experimental, têm-se diversas definições teóricas para a eletronegatividade. Uma definição bastante usada e muito ilustrativa é a proposta por Mulliken: ( ) 2 AEEI M +=χ (4) Uma outra escala de eletronegatividade, muito mais popular que a de Mulliken, foi proposta por Pauling, que levou em consideração que a eletronegatividade não era uma propriedade de um átomo isolado. Com isso, os valores da escala de Pauling são ligeiramente mais coerentes que os de Mulliken. A Tabela 7 mostra alguns valores de eletronegatividade para ambas as escalas. Tabela 7. Eletronegatividades de Pauling (P) e Mulliken (M) de alguns átomos. Grupos 1 2 13 14 15 16 17 18 Li 0,98 (P) 1,28 (M) Be 1,57 (P) 1,99 (M) B 2,04 (P) 1,83 (M) C 2,55 (P) 2,67 (M) N 3,04 (P) 3,08 (M) O 3,44 (P) 3,22 (M) F 3,98 (P) 4,43 (M) He – 5,5 (M) Na 0,93 (P) 1,21 (M) Mg 1,31 (P) 1,63 (M) Al 1,61 (P) 1,37 (M) Si 1,90 (P) 2,03 (M) P 2,19 (P) 2,39 (M) S 2,58 (P) 2,65 (M) Cl 3,16 (P) 3,54 (M) Ne – 4,60 (M) É importante lembrar que o uso da eletronegatividade só faz sentido ao se tratar de fenômenos relacionados às ligações químicas. IFRJ Química Inorgânica 22 Exercícios 1 – Defina orbital. 2 – Qual é a interpretação de Max Born para a função de onda? 3 – Defina o que é região nodal. Qual sua relação com o número quântico principal? 4 – Dê a definição da Regra de Hund e do Princípio da Exclusão de Pauli. 5 – Explique o que é blindagem e como esse parâmetro varia com o tipo dos orbitais. 6 – Defina carga nuclear efetiva. 7 – Explique como a carga nuclear efetiva varia ao longo de um período da tabela periódica. 8 – Qual a relação entre a carga nuclear efetiva e o raio atômico? 9 – Explique porque o raio atômico diminui do Boro para o Flúor. 10 – Explique porque a primeira energia de ionização do Lítio é menor que o do Berílio. 11 – Consulte a Tabela 4 e explique: a) a variação da energia de ionização ao longo dos períodos; b) a variação da energia de ionização ao longo dos grupos. 12 – Explique a variação da energia de ionização entre os grupos 15 e 16. 13 – Qual o significado físico dos valores positivos ou negativos da afinidade eletrônica? 14 – Por que a energia de ionização é sempre positiva? 15 – Por que a afinidade eletrônica do nitrogênio é negativa? 16 – Sabe-se que os gases nobres, em sua grande maioria, são inertes. Relacione esse comportamento com a energia de ionização e a afinidade eletrônica destes elementos. 17 – Defina eletronegatividade. 18 – Por que não existem valores de eletronegatividade de Pauling para o hélio e o neônio? IFRJ Química Inorgânica 23 4. A Regra do Octeto Os gases nobres apresentam valores altos de EI e valores negativos de AE, o que significa que não perdem ou ganham elétrons com facilidade. Some isto ao fato de serem praticamente inertes (ainda hoje existem poucos compostos formados por gases nobres) e têm-se alguns elementos com propriedades intrigantes para os cientistas da época. Tão intrigantes que a inércia química dos gases nobres foi considerada um modelo de estabilidade para os outros elementos da Tabela Periódica. Os átomos se combinavam para atingirem a estabilidade de um gás nobre e, portanto, chegar a um estado de menor energia. Esta foi a proposta de Gilbert N. Lewis. Gilbert Lewis foi um homem de idéias simples, porém extremamente úteis. Primeiro propôs uma nova divisão para as substâncias como polares e não polares ao invés de inorgânicas e orgânicas. Seguindo essa idéia de substâncias polares e não polares, ele concluiu certas coisas interessantes. As diferentes propriedades que estas substâncias apresentavam estavam ligadas à mobilidade dos elétrons da molécula. Ele escreveu: “Se então considerarmos moléculas não polares como sendo aquelas onde os elétrons pertencentes a um átomo em particular estão restritos de tal forma que eles não podem se afastar muito de suas posições normais, enquanto nas moléculas polares os elétrons, tendo mais mobilidade, se separam na molécula formando partes positivas e negativas, então todas as propriedades diferentes entre os dois tipos de compostos tornam-se dependentes dessa hipótese(...)” (Traduzido de LEWIS, 1916). Hoje essa idéia é um conceito bem sólido para os químicos. No entanto, numa época onde Niels Bohr tinha acabado de propor seu modelo atômico de órbitas quantizadas, atribuir as propriedades de substâncias químicas à mobilidade dos elétrons era algo revolucionário. No entanto, sua outra idéia, sobre o “átomo cúbico” teria um impacto ainda maior na química, pois explicaria porque os elementos se ligam uns com os outros da maneira que o fazem. Era sabido na época que a diferença entre a valência máxima positiva e negativa de um elemento era, frequentemente, oito (e nunca mais que oito). Lewis então propôs a idéia do “Átomo Cúbico” (Figura 17), que sustenta que quando os átomos possuem oito elétrons – um em cada vértice de um cubo – tem-se uma situação de grande estabilidade. Por conta disso, o flúor (Figura 17g) recebe um elétron, apresentando uma carga negativa em seus compostos. E é claro, todos os gases nobres possuem todos os vértices dos cubos preenchidos com elétrons. É preciso lembrar que a mecânica quântica de Schrödinger, que traria os conceitos de orbitais e configuração eletrônica, só apareceria dez anos depois das primeiras idéias de Lewis. No entanto, nem a introdução de uma nova teoria do átomo mudou o foco central das idéias de Lewis. É claro que se abandonou a idéia de elétrons localizados em vértices de cubos, completamente incompatível com o caráter probabilístico da mecânica quântica, mas a estabilidade através dos oito elétrons se manteve. Mudou-se também o nome de “Átomo Cúbico” para a conhecida Regra do Octeto. IFRJ Química Inorgânica 24 Li (a) (b) Be (c) (d) (e) (f) (g) (h) B C N O F Ne Figura 17. Exemplos da idéia de Lewis sobre do “Átomo Cúbico.” A Regra do Octeto está relacionada com o número de elétrons na camada de valência. Um átomo qualquer estará mais estável quando ficar com oito elétrons em sua camada de valência – que é o número de elétrons da camada de valência dos gases nobres. A exceção feita a esta regra é o hélio, que só possui apenas dois elétrons. Os átomos próximos a este gás nobre, como hidrogênio, lítio e berílio, seguirão a sua configuração eletrônica. Ou seja, a Regra do Octeto pressupõe que um átomo alcança a estabilidade máxima quando está com a configuração eletrônica do gás nobre mais próximo a ele. Selecionando o segundo e terceiro períodos da Tabela Periódica: 2He 3Li 4Be 5B 6C 7N 8O 9F 10Ne 11Na 12Mg 13Al 14Si 15P 16S 17Cl 18Ar As configurações eletrônicas dos gases nobres He, Ne e Ar são: 2He 1s2 10Ne 1s2 2s2 2p6 18Ar 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 Enquanto para os outros elementos mostrados acima: 3Li 1s2 2s1 4Be 1s2 2s2 5B 1s2 2s2 2p1 6C 1s2 2s2 2p2 7N 1s2 2s2 2p3 8O 1s2 2s2 2p4 9F 1s2 2s2 2p5 11Na 1s2 2s2 2p6 3s1 12Mg 1s2 2s2 2p6 3s2 13Al 1s2 2s2 2p6 3s2 3p1 IFRJ Química Inorgânica 25 14Si 1s2 2s2 2p6 3s2 3p2 15P 1s2 2s2 2p6 3s2 3p3 16S 1s2 2s2 2p6 3s2 3p4 17Cl 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5 Pode-se acompanhar que os elementos lítio, berílio e boro irão perder seus elétrons para chegar à configuração eletrônica do hélio. Do carbono até o alumínio, tem-se elementos que atingirão a configuração eletrônica do neônio. Do silício ao cloro, elétrons serão ganhos para chegar-se até a configuração eletrônica do argônio. Segundo a Regra do Octeto, o lítio, sódio e os outros elementos do grupo 1, perderão um elétron, formando cátions de carga +1. Já os do grupo 2, perderão dois elétrons, formando cátions de carga +2. Por sua vez, os elementos do grupo 3, perderão três elétrons. Tal observação é coerente com os valores de energia de ionização apresentados anteriormente na Tabela 5. Os elementos do grupo 1 têm a menor 1° EI, pois, perdendo apenas um elétron, eles chegam à configuração de gás nobre. Da mesma forma, a 2° EI é menor no grupo 2 porque os elementos deste grupo “precisam” perder dois elétrons e a 3° EI é menor no grupo 3 já que é necessária a saída de três elétrons destes átomos para que se chegue até a configuração estável dos gases nobres. Alguns elementos formarão cátions enquanto outros formarão ânions para alcançar a estabilidade na configuração eletrônica. Uma conseqüência lógica disto é que, se um elemento necessita perder elétrons e outro ganhar, a transferência de elétrons será altamente favorável, como no caso do sódio (que precisa perder um) e do cloro (que precisa ganhar um). O sódio se tornará um cátion e o cloro um ânion, estabilizando a ambos durante este processo. Mas, existem outros casos, como nos óxidos de nitrogênio, NOx, onde ambos os elementos necessitam ganhar elétrons para chegar na configuração eletrônica mais estável. Neste caso, não haverá a formação de cátions e ânions, pois isto não traria a estabilidade para os átomos. Portanto, a ligação química terá diferentes aspectos de acordo com os elementos envolvidos nela. 5. Ligação Iônica A ligação iônica é, fundamentalmente, a atração eletrostática entre um cátion e um ânion de um dado composto. Um exemplo é o cloreto de sódio, onde há o cátion Na+ e o ânion Cl–, que se atraem mutuamente. Como foi dito anteriormente, ela se forma pela conveniência de um dado elemento perder um elétron e outro ganhar. Dessa forma, tem-se: 11Na = 1s2 2s2 2p6 3s1 17Cl = 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5 Na Cl IFRJ Química Inorgânica 26 que irão formar um par iônico: 11Na+ = 1s2 2s2 2p6 17Cl– = 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 Na Cl + O NaCl, como se sabe, é um sólido na temperatura ambiente. Como é formado ligações iônicas, o NaCl e diversos outros sólidos formados por íons, são chamado de sólidos iônicos. Os sólidos iônicos possuem características que os diferenciam de outros sólidos. Uma barra de ferro ou aço ou uma bolinha de naftalina são sólidas, mas têm características muito diferentes do NaCl. As propriedades características de sólidos iônicos estão relacionadas com a natureza iônica de suas ligações. 5.1 – Sólidos Iônicos Algumas características são comuns a diversos sólidos iônicos, como a baixa condutividade elétrica, o alto ponto de fusão, a solubilidade, a dureza e clivagem. A baixa condutividade elétrica observada em compostos iônicos no estado sólido se deve, principalmente, a falta de mobilidade existente no estado sólido, uma vez que a condutividade está ligada diretamente à presença e mobilidade de íons. No entanto, uma vez fundidos, os compostos iônicos conduzem eletricidade. Infelizmente a quantidade de energia necessária para fundir um sólido iônico é, normalmente, elevada. Os altos pontos de fusão dos sólidos iônicos se devem a dois fatores. O primeiro deles está relacionado com a força da ligação iônica. Sendo uma ligação relativamente forte, a energia necessária para separar os íons é grande. O segundo fator está no número de ligações que devem ser quebradas. A ligação iônica em um sólido iônico é dita multidirecional, isto é, se propaga em todas as direções. Portanto, um íon positivo está ligado a vários outros íons negativos que também estarão ligados a alguns outros íons positivos e assim por diante, num grande arranjo tridimensional. Portanto, para se fundir um sólido iônico, não basta quebrar a ligação de um único par iônico. Quando solúveis, os sólidos iônicos liberam íons em solução e, por este motivo, são bons condutores uma vez dissolvidos. Uma outra característica é que a solubilidade dos sólidos iônicos aumenta com o aumento da constante diéletrica (permissividade elétrica) do solvente. Isto pode ser explicado utilizando o modelo da atração eletrostática entre os íons. A energia de atração entre o cátion e o ânion é dada pela Lei de Coulomb: r qqE ...4 . επ −+ = (5) onde E é a energia, q+ e q– são as cargas do cátion e do ânion respectivamente, ε é a constante de permissividade do meio e r é a distância entre o cátion e o ânion. A Tabela 8 mostra os valores da constante de permissividade elétrica para alguns solventes normalmente utilizados. Como solubilizar é separar os íons, quanto menor for a IFRJ Química Inorgânica 27 energia dada pela equação (5), maior será a tendência de o sólido ser solúvel. Portanto, ao aumentarmos o valor de ε do meio, estaremos diminuindo a atração entre os íons do sólido iônico. Isto explica a solubilidade destes sólidos em água, que possui uma constante de permissividade elétrica alta. Tabela 8. Constantes de permissividade elétrica de alguns meios. Meio ε (C2/J.m) Vácuo 8,85.10–12 Água 7,25.10–10 Acetonitrila 2,90.10–10 Amônia 2,20.10–10 Uma outra maneira de entender este mesmo fenômeno é considerando os dipolos existentes nos solventes. Quanto maior é a constante de permissividade elétrica, mais intenso é o dipolo. Como os íons têm carga, a existência de pólos positivos e negativos no solvente favorece a dissociação. Os sólidos iônicos costumam ser duros, porém quebradiços. Estes sólidos possuem cristais característicos e, também, planos de clivagem característicos. A clivagem é um dos métodos preliminares de se identificar minerais. Os planos de clivagem podem ser explicados utilizando o modelo mostrado na Figura 18. Um sólido iônico (Figura 18a) é golpeado em um local de seu cristal (Figura 18b). Suas camadas se modificarão de forma que íons de mesma carga têm suas distâncias diminuídas, o que leva a grande repulsão dentro do sólido (Figura 18c). A repulsão é tanta que há a quebra do sólido (Figura 18d). (a) (b) (c) (d) Figura 18. O modelo de clivagem nos sólidos iônicos. IFRJ Química Inorgânica 28 Embora tenham propriedades gerais semelhantes, os sólidos iônicos apresentam diversas estruturas cristalinas. Como o arranjo tridimensional dos elementos no cristal irá influenciar diretamente algumas propriedades, é preciso se conhecer um pouco destas estruturas cristalinas. 5.2 – As Estruturas Cristalinas dos Sólidos Iônicos 5.2.1 – A Estrutura do Cloreto de Sódio O cloreto de sódio apresenta uma estrutura cristalina com célula unitária cúbica de face centrada (cfc) (Figura 19). Cada átomo de sódio está ligado, diretamente, a seis átomos de cloro; assim como cada átomo de cloro se liga a seis outros átomos de sódio, em arranjo octaédrico, formando assim a estrutura tridimensional. Como existem seis átomos de cloro ligado ao um de sódio, diz-se que o número de coordenação (NC) do sódio é seis. Nesta estrutura, o NC do cloro também é seis. Figura 19. A estrutura cristalina do cloreto de sódio em visão frontal e em perspectiva. Um outro fator importante é a proporção entre sódio e cloro dentro da célula unitária. Considere que os átomos de sódio sejam os vermelhos na Figura 19. Apenas 1/8 dos átomos localizados no vértice do cubo está do lado de dentro da célula unitária. Como são oito os vértices, tem-se um átomo do lado dentro. Cada átomo na face do cubo está com metade do átomo do lado de dentro e a outra metade do lado de fora. Então, como são seis faces, a soma total dá três átomos. Assim, o total de átomos de sódio dentro da célula unitária é de quatro átomos (um dos vértices e três dos átomos da face). Fazendo o mesmo para os átomos de cloro, chegaremos a conclusão que existem os mesmos quatro átomos. Portanto, a proporção é de 4:4, como deveríamos esperar, o número de átomos de sódio é igual ao número de átomos de cloro. Outros sólidos iônicos que possuem a mesma estrutura do cloreto de sódio são: LiCl, KBr, KCl, KI, RbI, AgCl, AgBr, MgO, CaO, TiO, FeO, etc. 5.2.2 – Estrutura do Cloreto de Césio O cloreto de césio apresenta uma cristalização distinta da do cloreto de sódio possivelmente pelo seu maior raio em relação ao sódio. Sua estrutura é cúbica e o número de coordenação, tanto do cátion quanto do ânion, é oito para sólidos com este arranjo cristalino IFRJ Química Inorgânica 29 (Figura 20). A proporção cátion-ânion na célula unitária é de 1:1. São exemplos de outros sólidos com esta estrutura o CsBr, CsI, CsCN, CaS, etc. Figura 20. A estrutura cristalina do cloreto de césio em perspectiva. 5.2.3 – A Estrutura da Esfarelita A esfarelita, mineral do sulfeto de zinco, também conhecido como blenda possui um empacotamento cfc com os átomos de enxofre ocupando os vértices e faces do cubo e os de zinco formando um tetraedro dentro da célula unitária (Figura 21). O número de coordenação de ambos é quatro, em arranjo tetraédrico. A proporção de átomos de zinco e de enxofre na célula unitária é semelhante àquela observada para o cloreto de sódio: 4:4. O cloreto de cobre (I), sulfeto de cádmio e sulfeto de mercúrio (II) são alguns exemplos de sólidos iônicos que cristalizam desta forma. O sulfeto de zinco também pode cristalizar de outra forma, conhecida como wurtzita. Na wurtzita há um empacotamento hexagonal expandido, sendo muito diferente da estrutura da blenda. Como este é um empacotamento menos comum, não se detalhará seus aspectos. Figura 21. A estrutura cristalina do ZnS em perspectiva, destacando o tetraedro dos átomos de zinco e um dos tetraedros entre o zinco e átomos de enxofre. 5.2.4 – Estrutura da Fluorita e da Antifluorita A fluorita, CaF2, apresenta um cristal com empacotamento cfc, com a célula unitária contendo um cubo interno (Figura 22). Os átomos de cálcio ocupam o cubo externo e, portanto, existe um total de quatro átomos de cálcio na célula unitária. Os átomos de flúor formam o cubo interno e todos estão dentro da célula unitária e, portanto, a proporção entre cálcio e flúor na célula unitária é de 4:8. O número de coordenação para cálcio e flúor também são diferentes. Cada cálcio está ligado a oito átomos de flúor, enquanto o NC observado para o IFRJ Química Inorgânica 30 flúor é quatro. São exemplos de sólidos iônicos com estrutura da fluorita: UO2, BaCl2, CaCl2, HgF2, PbO2, etc. Na estrutura da antifluorita tem-se a posição de cátions e ânions invertida. Os seguintes sólidos iônicos são exemplos da estrutura da antifluorita: K2O, K2S, Li2O, Na2O, Na2S, etc. Figura 22. A estrutura cristalina do fluoreto de cálcio em visão frontal e em perspectiva. 5.2.5 – Outras Estruturas Apenas as estruturas mais comuns foram comentadas com detalhes, mas existem diversas outras estruturas de sólidos iônicos, como a do rutilo, do arseneto de níquel ou da wurtzita (Consulte livros de mineralogia para mais detalhes do assunto). 5.3 – Energia do Retículo Cristalino (U0) Define-se energia do retículo cristalino como a energia liberada quando os íons de um composto iônico no estado gasoso formam um cristal, como mostra a equação abaixo. M+(g) + X–(g) → MX(s) (6) Para calcular esta energia, precisam-se levar em conta todos os aspectos envolvidos na equação (6). Como já foi discutido, o modelo de força eletrostática é adequado para descrever a atração entre os íons. Portanto, começaremos a análise com a equação (5), apenas trocando as cargas dos íons pelo número de carga destes (Z+ e Z–) multiplicado pela carga do elétron (e) e com o valor da constante de permissividade elétrica no vácuo (ε0) uma vez que se está no estado gasoso. Com isso, tem-se: r eZZEcoulomb ...4 .. 0 2 επ −+ = (7) A equação (7), da Energia de Coulomb, representa a atração de um par iônico. Quanto maior é o número de carga dos íons, maior é a atração. Da mesma forma, quanto maior é a distância r entre os íons, menor é a atração e quanto menor for a distância, maior é a atração. Para distâncias muito pequenas, a Energia de Coulomb torna-se cada vez menor (lembre-se que esta energia é negativa! Mais atração = energia mais negativa). A Figura 23 mostra o perfil de energia obtido com a equação (7). O mínimo de energia será para distâncias cada vez IFRJ Química Inorgânica 31 menores; e quando a distância tende a zero, a energia é infinitamente negativa. Isto, claro, é impossível. O problema desta análise é considerar somente a atração entre os íons. Cátions e ânions possuem elétrons que se repelem mutuamente conforme a distância entre o par iônico diminui. Portanto, é preciso levar em conta a repulsão dos íons no cálculo da energia do retículo cristalino. Para grandes valores de r, a repulsão será mínima, próxima de zero. A repulsão irá aumentar conforme os íons se aproximam. Para distâncias muito pequenas, a repulsão tenderá ao infinito, como mostra a Figura 24. Além da distância entre os íons, a repulsão dependerá também do número de elétrons do sistema. Quanto maior o número de elétrons, maior será a repulsão. Na Tabela 9 estão resumidos os fatores de repulsão em função do número de elétrons do sistema. Figura 23. Gráfico da energia de Coulomb para um par iônico em função da distância entre os íons Então, para uma descrição correta da ligação iônica e para calcular a energia do retículo cristalino, é preciso levar em consideração tanto a atração quanto a repulsão. Reescrevendo a equação (7) com o termo de repulsão (n): ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= −+ nr eZZEtotal 11. ...4 .. 0 2 επ (8) Mas a equação (8) ainda deixa de fora aspectos importantes como, por exemplo, a estrutura cristalina dos sólidos iônicos. Como as estruturas são diferentes, desde o arranjo espacial até o número de coordenação, as forças atuantes em cada átomo serão diferentes. Portanto, é preciso considerar-se este fator geométrico nos cálculos. Isto se faz introduzindo a constante de Madelung (A), que terá um valor para cada estrutura cristalina (Tabela 10). IFRJ Química Inorgânica 32 Figura 24. Energias de atração e repulsão em função da distância entre os íons. Tabela 9. Fatores de repulsão. Configuração eletrônica do íon Fator de Repulsão (n) He 5 Ne 7 Ar, Cu+ 9 Kr, Ag+ 10 Xe, Au+ 12 Tabela 10. Constante de Madelung para algumas estruturas cristalinas. Estrutura Cristalina Constante de Madelung (A) Cloreto de Sódio 1,74756 Cloreto de Césio 1,76267 Esfarelita 1,63806 Wurtzita 1,64132 Fluorita 2,51939 A equação (8) mostra a energia da ligação para um par de íons. No entanto um par de íons não forma um cristal. O cloreto de sódio, para citar um exemplo, precisa de no mínino 4 pares de íons para formar uma célula unitária de seu cristal. Por isso, precisa-se considerar um grande número de íons para se ter a energia do retículo cristalino. Introduzindo a constante de Avogadro (N) na equação (8), obtém-se o valor para um mol do sólido iônico. A equação (8) com as constantes de Madelung e de Avogadro torna-se: IFRJ Química Inorgânica 33 ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= −+ nr eZZANU 11. ...4 .. 00 2 0 επ (9) onde r0 é a distância de ligação entre o cátion e o ânion no retículo cristalino. A Figura 25 mostra o resultado da equação (9) de maneira gráfica. Através da equação (9), tendo o valor da distância da ligação ou dos raios iônicos, pode-se calcular o valor da energia do retículo cristalino para um sólido iônico. Figura 25. Perfil energético de uma ligação iônica em função da distância entre os íons. Há um mínimo de energia, que corresponde à energia do retículo cristalino, quando se atinge o comprimento de ligação. Por exemplo, a energia do retículo cristalino do cloreto de sódio pode ser calculada facilmente apenas sabendo os raios iônicos típicos dos íons sódio (114 pm) e cloreto (167 pm). A distância entre os íons, r0, será a soma entre os raios iônicos: r0 = 114 pm + 167 pm = 281 pm (10) O fator de Madelung para a estrutura cloreto de sódio pode ser encontrado na Tabela 10. Para usarmos o fator de repulsão, é preciso conhecer a configuração eletrônica do íon e consultar a Tabela 9. O íon sódio, Na+, tem a seguinte configuração eletrônica: 11Na+ = 1s2 2s2 2p6 que é a mesma configuração eletrônica do Ne. Portanto, o fator de repulsão para o sódio é igual a sete. O cloreto, Cl–, tem a seguinte configuração eletrônica: IFRJ Química Inorgânica 34 17Cl– = 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 que é a configuração eletrônica do Ar. Segundo a Tabela 9, o fator de repulsão neste caso é igual a nove. Então, o fator de repulsão (n) para o cloreto de sódio será a média daqueles encontrados para seus íons: 8 2 97 =+=n (11) Reunindo todos os dados e constantes para o NaCl: A = 174756 n = 8 r0 = 2,81.10-10 m Z+ = +1 Z– = –1 N = 6,02.1023 /mol e = 1,602.10–19 C ε0 = 8,85.10–12 C2/J.m e substituindo os valores na equação (9), U0 = – 754 kJ/mol O valor “experimental” para a energia do retículo cristalino do NaCl é – 787 kJ/mol. Isto significa que se pode estimar a energia do retículo cristalino com erro muito pequeno (4,2%) através da equação (9). A energia do retículo cristalino pode ser utilizada como uma medida da estabilidade do agregado iônico. Quanto mais energia for liberada durante a formação do retículo cristalino, mais forte é a ligação entre os íons. Isto implica que, para separá-los, será preciso mais energia. Considere dois sólidos iônicos, MX e MZ. Suponha que o sólido MX tenha um valor de U0 de – 500 kJ/mol enquanto o MZ libera 800 kJ/mol quando se forma. Se as energias de hidratação dos íons X– e Z– são semelhantes, pode-se supor que o sólido MZ tenha uma solubilidade inferior ao MX, uma vez que para separar seus íons é necessária uma quantidade muito maior de energia. Da mesma forma, MZ terá um ponto de fusão maior que MX. Portanto, conhecendo-se a energia do retículo cristalino é possível estimar o comportamento de sólidos iônicos para diferentes propriedades. 5.4 – Raio Iônico Quando um átomo perde ou ganha elétrons, seu tamanho varia em relação ao do átomo neutro. Então, o raio atômico não serve como parâmetro para o tamanho dos íons. Ao perder um ou mais elétrons, o tamanho do átomo diminui porque uma camada antes ocupada pode ficar sem elétrons (casos dos grupos 1 e 2) e também por conta da maior atração exercida pelo excesso de prótons em relação ao número menor de elétrons. Logo, quanto maior for a carga do cátion, menor será seu raio. No caso contrário, quando são formados ânions, o raio aumenta. A atração do núcleo para cada elétron diminui, uma vez que existem mais elétrons para “dividir” a força de atração do núcleo. Outro motivo é a repulsão entre os elétrons. Quanto maior for o número de elétrons em excesso, maior será a repulsão. Portanto, quanto maior for a carga do ânion, maior será o raio iônico. IFRJ Química Inorgânica 35 A medida de raios iônicos é muito mais complicada que a de raios atômicos. Fatores como a estrutura dos sólidos iônicos, número de coordenação e caráter covalente devem ser levados em conta. 5.5 – Regras de Fajans: Poder Polarizante e Polarizabilidade O poder polarizante representa o quanto um íon pode polarizar a nuvem eletrônica de um outro íon em sua direção. Ou seja, o quanto um núcleo de um átomo atrai os elétrons de outro átomo. Tanto o cátion, como o ânion, polarizam um ao outro. Normalmente costuma-se tratar de poder polarizante apenas para cátions, uma vez que o efeito do poder polarizante dos ânions em cátions são muito mais fracos. O poder polarizante depende de dois parâmetros principais: o raio iônico e a carga do cátion. Para avaliar corretamente o efeito de cada parâmetro no poder polarizante, variaremos um de cada vez (embora este seja um exercício puramente teórico). Primeiramente, considere dois cátios de mesma carga, Mn+, mas de raios iônicos diferentes. Segundo a equação (7) uma mesma carga, quando em distâncias diferentes, terá forças de atrações diferentes. Como a força (ou a energia de atração) é inversamente proporcional à distância. Para o cátion de menor raio a força do núcleo será mais atuante na periferia do núcleo. Portanto, quanto menor for o raio iônico do cátion, maior será seu poder polarizante. Da mesma forma, considere dois cátions de cargas diferentes, mas com o mesmo raio iônico. A variável da equação (7) agora é Z+. A força de atração aumentará sempre que a carga aumentar. Portanto, o cátion de maior carga atrairá os elétrons do ânion de forma mais efetiva. Mas, é preciso que se lembre, carga e raio iônico estão intimamente ligados. Portanto, quando a carga do cátion aumenta, o raio diminui. Assim, para melhor descrever o poder polarizante, usa-se a razão carga-raio dos cátios. Cátions de elevada razão carga-raio, são mais polarizantes que cátions de razão carga-raio pequena. A polarizabilidade pode ser descrita como o inverso do poder polarizante. É quanto um íon se permite polarizar na presença de outro íon. Novamente, esta medida é dependente da carga e do raio do ânion. Ânions grandes, dos últimos períodos da Tabela Periódica, são muito polarizáveis. Da mesma forma, ânions de carga elevada (em módulo) tendem a ser mais polarizáveis, uma vez que seus elétrons não estão sofrendo grande atração do próprio núcleo. O que acontece quando temos um cátion com grande poder polarizante e um ânion extremamente polarizável? Quando o ânion se deixa polarizar, seus elétrons vão à direção ao cátion, dando um caráter covalente a esta ligação. Então, o poder polarizante e a polarizabilidade são importantes parâmetros na análise de da ligação iônica. Sabe-se que existe um grau de covalência nas ligações iônicas e isto é governado por estes dois parâmetros. Fajans resumiu estas idéias em quatro regras, que são conhecidas como Regras de Fajans: IFRJ Química Inorgânica 36 1) Um cátion pequeno favorece a covalência. Em íons pequenos a carga positiva se concentra em um pequeno volume. Com isto o íon se torna altamente polarizante e, por isso, tenderá a distorcer mais o ânion. 2) Um ânion grande favorece a covalência. Íons grandes são altamente polarizáveis, já que os elétrons de periferia estão afastados da influência próprio núcleo, ficando suscetíveis a influência de núcleos vizinhos, como os do cátion. 3) Carga elevada (em módulo), em qualquer um dos íons, favorece a covalência. Como foi visto, a carga elevada aumenta o poder polarizante do cátion e também a polarizabilidade do ânion. 4) O poder polarizante de cátions sem a configuração de gases nobres favorece a covalência. Este é um aspecto interessante. Os cátions sem a configuração de gases nobres, são, normalmente, elementos dos blocos d ou f da Tabela Periódica. Neste caso, a péssima blindagem dos orbitais do tipo d e/ou f causa um grande aumento na carga nuclear efetiva destes cátions. A consequência é que seu poder polarizante é ainda maior que de um cátion com configuração de gás nobre. 5.6 – Hidrólise de Cátions Uma vez que grande parte da química é feita em meio aquoso, temos que conhecer as propriedades dos compostos neste meio. O estudo da dissociação em meio aquoso trouxe vários conceitos novos e muito importantes para o dia a dia da química. O mais importante destes conceitos é, sem dúvida, o de ácidos e bases. O Sueco Svante Arrhenius definiu um ácido como composto que, em água, liberava íons H+, enquanto uma base liberaria íons OH–. Mais de 20 anos depois, o dinamarquês Johannes N. Brønsted e o inglês Thomas M. Lowry, separadamente, formularam novas idéias sobre ácidos e bases. O conceito de ácido é de uma substância capaz de doar um próton (comumente tratado como o íon H+) enquanto a base é a substância que irá acomodar o próton. Como as reações ácido-base de Brønsted-Lowry são reações em equilíbrio, podem-se determinar as constantes de destes equilíbrios e, então, montar uma escala chamada de pH, para classificar as substâncias como ácidas, neutras ou básicas. No meio aquoso, um ácido segundo Brønsted e Lowry se comporta da seguinte forma: HA + H2O H3O+ + A– (12) enquanto uma base apresentaria a seguinte reação: B + H2O HB+ + OH– (13) Considere o ânion A–, a base conjugada do ácido HA na reação (12). Ao dissolvermos um sal MA em água, o ânion A– sofrerá um processo que chamamos de hidrólise, representado na equação abaixo (considerando que M+ é um íon espectador). IFRJ Química Inorgânica 37 A– + H2O HA + OH– (14) Da mesma forma, o ácido conjugado HB+ sofrerá uma hidrólise se um sal HBX for dissolvido em água (considerando X– um íon espectador): HB+ + H2O H3O+ + B (15) Na reação (14) a hidrólise é do tipo básica enquanto na reação (15) a hidrólise foi ácida. Se, por exemplo, o sal fosse formado pelo cátion HB+ e o ânion A- teríamos os dois tipos de hidrólise acontecendo. Mas, nem todos os cátions e ânions apresentam reações de hidrólise. Por exemplo, as bases conjugadas de ácidos fortes não se comportam como o ânion A–. O mesmo se aplica para cátions de bases fortes: não apresentam hidrólise. No entanto, a hidrólise de cátions é um processo menos trivial do que para os ânions. A questão vai além de ser derivado de uma base forte ou fraca. Como explicar que uma solução de cloreto férrico ou de alumínio tem pH ácido? Quando um sólido iônico é dissolvido, há a quebra da ligação entre cátion e ânion, mas também há a formação de ligações entre soluto e solvente. Isto é, os cátions e os ânions formam ligações (em grande parte intermoleculares) com o as moléculas do solvente, o que chamamos de solvatação. Quando o solvente é a água, chamamos este processo de hidratação. A água é um solvente sabidamente polar, então, suas partes positivas, os hidrogênios, se aproximam dos ânions enquanto a parte negativa, o oxigênio, interage com os cátions. Para os cátions há a formação de espécies chamadas de complexos aquo-íons, tipicamente na proporção de um cátion para seis moléculas de água como mostra a Figura 28. É a partir desses aquo-íons que o fenômeno de hidrólise acontece. M H2O H2O OH2 OH2 OH2 OH2 n+ [M(H2O)6] n+ Figura 26. Um aquo-íon de um cátion de carga +n, com número de coordenação igual a seis. Dependendo das características do cátion Mn+, a interação com o oxigênio da água pode ser intensa. Tão intensa a ponto de o oxigênio preferir uma ligação com o cátion do que com um dos hidrogênios. Quanto mais o cátion atrair o par de elétrons, isto é, quanto maior for o poder polarizante do cátion, mais intensa será a interação. Conforme a interação cátion- oxigênio se torna forte, a ligação oxigênio-hidrogênio enfraquece, até que a ligação se rompe, IFRJ Química Inorgânica 38 liberando um íon H+ para o meio. Isto faz do aquo-íon [M(H2O)6]n+ um ácido de Brønsted. Para uma solução de cloreto férrico, existirão os seguintes equilíbrios em solução: [Fe(H2O)6]3+(aq) + H2O(l) [Fe(H2O)5(OH)]2+(aq) + H3O+(aq) [Fe(H2O)5(OH)]2+(aq) + H2O(l) [Fe(H2O)4(OH)2]+(aq) + H3O+(aq) [Fe(H2O)4(OH)2]+(aq) + H2O(l) [Fe(H2O)3(OH)3](s) + H3O+(aq) O hidróxido de férrico, [Fe(H2O)3(OH)3], é um precipitado cor ferrugem que, normalmente, está presente nas soluções de ferro (III). Para evitar sua formação, adiciona-se um pouco de ácido à solução, deslocando as reações de equilíbrio no sentido inverso. De maneira contrária, a adição de base favorece a formação do hidróxido. Dependendo do cátion, os hidróxidos podem apresentar comportamento anfótero. Um composto é dito anfótero quando reage tanto com ácidos como com bases. O hidróxido de alumínio, insolúvel, quando em presença de ácidos ou bases, se dissolvendo segundo as reações abaixo: Al(OH)3 + 3H3O+ Al3+ + 6H2O Al(OH)3 + OH– [Al(OH)4]– um processo semelhante ao do hidróxido de zinco: Zn(OH)2 + 2H3O+ Zn2+ + 4H2O Zn(OH)2 + OH– [Zn(OH)3]– O mesmo tipo de reação é observado para óxidos e/ou hidróxidos de berílio, gálio, ferro (III), cromo (III) e outros. 5.7 – Outras Conseqüências do Aumento do Caráter Covalente da Ligação Iônica Podem-se observar outras conseqüências do aumento do caráter covalente das ligações iônicas. Exemplos deste fator aparecem em propriedades como o ponto de fusão e ebulição, solubilidade e estabilidade térmica. A Tabela 11 reúne os pontos de fusão de alguns compostos para a análise do efeito da polarização da ligação iônica. É possível perceber que o ponto de fusão é menor nos compostos com maior caráter covalente. Comparando-se compostos do mesmo ânion e com cátions de um mesmo grupo (mesma carga), percebe-se o este efeito mais facilmente. O BeCl2 possui um ponto de fusão menor que o CaCl2. Segundo as regras de Fajans, cátions com menor raio, favorecem a covalência. Da mesma forma, comparando-se compostos de mesmo cátion e ânions de um mesmo grupo, como os haletos de lítio ou potássio, tem-se que quanto maior for o raio do ânion, maior é o caráter covalente da ligação iônica, menor será o ponto de fusão. IFRJ Química Inorgânica 39 Tabela 11. Pontos de fusão de alguns compostos. Composto Ponto de Fusão Composto Ponto de Fusão BeCl2 405 °C NaBr 747 °C CaCl2 782 °C MgBr2 700 °C HgCl2 276 °C AlBr3 97,5 °C LiF 845 °C KCl 771 °C LiCl 605 °C KBr 734 °C LiI 449 °C KI 681 °C Um outro fator importante a ser considerado é a carga dos íons. A comparação entre os brometos de sódio, magnésio e alumínio mostram que o cátion com o maior poder polarizante – portanto maior razão carga/raio – terá o menor ponto de fusão. Há ainda o último fator evidenciado por Fajans, cátions sem a configuração de gás nobre possuem maior poder polarizante aumentando o caráter covalente da ligação iônica. Ao analisar os valores de ponto de fusão dos cloretos de cátions +2, BeCl2, CaCl2 e HgCl2 nota-se que o ponto de fusão do último é menor, caracterizando um acentuado caráter molecular. Embora seja claro o efeito da polarização da ligação iônica, deve-se tomar cuidado neste tipo de análise, afinal a fusão de compostos não é uma função apenas do caráter da ligação. Um exemplo claro é visto na Tabela 11. O brometo de sódio tem ponto de fusão maior que o brometo de potássio, embora o cátion sódio seja menor que o cátion potássio (o que aumentaria o caráter covalente). É conveniente lembrar que além de favorecer a covalência, um cátion menor também diminui a energia do retículo cristalino, estabilizando o composto iônico no estado sólido, como se pode analisar pela equação (9). Desta forma, nem sempre a covalência será o fator determinante, principalmente nos casos onde o poder polarizante não é tão pronunciado, como para os cátions sódio e potássio. Também se pode correlacionar a polarização da ligação iônica com a temperatura de decomposição de carbonatos. Os carbonatos de metais alcalinos terrosos se decompõem na seguinte ordem: BeCO3 (instável), MgCO3 (350 °C), CaCO3 (900 °C), SrCO3 (1290 °C) e BaCO3 (1360 °C). Este comportamento pode ser explicado com base na polarização do íon carbonato pelos cátions, forçando sua decomposição no óxido e em CO2. Dessa forma, quanto maior for o poder polarizante do cátion, mais fácil é a decomposição do carbonato. Este argumento pode ser usado também para explicar a baixa temperatura de decomposição de carbonatos como os de cádmio e chumbo (II) (por volta de 350 °C). Uma vez que são cátions sem a configuração de gás nobre, possuem alto poder polarizante e, portanto, facilitam a decomposição. O mesmo raciocínio pode ser usado para a decomposição de nitratos, sulfatos e fosfatos. IFRJ Química Inorgânica 40 Exercícios 1 – A Regra do Octeto é baseada em algumas propriedades atípicas dos elementos do grupo 18. Quais são estas propriedades e que relação elas têm com oito elétrons? 2 – Por que os compostos iônicos não conduzem eletricidade no estado sólido, mas o fazem quando dissolvidos ou fundidos? 3 – Explique porque compostos iônicos possuem pontos de fusão elevados quando comparados com compostos covalentes. 4 – Os haletos de potássio apresentam os seguintes valores de solubilidade em água à 10°C: KCl = 30g/100g de água; KBr = 60g/100g de água; KI = 135g/100g de água. Sabendo que todos têm a estrutura cristalina do cloreto de sódio, explique o aumento da solubilidade destes compostos utilizando para isso a energia do retículo cristalino. DADOS: Raios iônicos: K+ = 152 pm; Cl– = 167 pm; Br– = 182 pm e I– = 206 pm. 5 – Calcule a densidade do cloreto de sódio (estrutura na Figura 19). Dados: Cl– = 167 pm Na+ = 113 pm (N.C.=4); 116 pm (N.C.=6); 132 pm (N.C. = 8); 153 pm (N.C.=12). 6 – Defina polarizabilidade e poder polarizante. 7 – Segundo as regras de Fajans, a ligação entre um cátion pequeno e um ânion grande será mais covalente que a ligação entre um cátion grande e um ânion grande. Explique este efeito. 8 – A tabela a seguir mostra a comparação entre a soma dos raios iônicos do cátion Ag+ e os haletos (r++r–) e os valores experimentais observados. Composto r++r– (pm) rexperimental (pm) erro AgF 248 246 0,81 % AgCl 296 277 6,86 % AgBr 311 289 7,61 % AgI 320 281 13,88 % Os raios iônicos utilizados para a soma “r++r–” foram compilados por Shannon e Prewitt (Shannon, R. D. Acta Crystallogr., A32, 751 – 767, 1976) baseados em dados experimentais. Compostos iônicos como fluoretos e óxidos foram usados para determinar os raios de cátions enquanto o raio dos ânions, como os haletos, foi extraído de compostos iônicos com os metais alcalinos. Com base nesta informação e de posse com os dados da tabela, explique as razões que levam ao erro crescente entre os dados teóricos (r++r–) e os dados experimentais. IFRJ Química Inorgânica 41 6. Ligação Covalente Como foi discutido no final do item 4, a ligação entre sódio e cloreto tem características diferentes de uma ligação num óxido de nitrogênio, NOx, uma vez que nem o oxigênio nem o nitrogênio têm tendência a doar elétrons um ao outro. Portanto, para este tipo de ligação, não é adequado tratar os átomos como íons, e o modelo eletrostático tão útil para descrever as propriedades de compostos iônicos, não pode ser utilizado. Para descrever as ligações covalentes – aquelas onde há o compartilhamento de elétrons numa ligação – existem diversos modelos. Desde o mais simples, proposto por Lewis até a Teoria dos Orbitais Moleculares (que não será abordada). 6.1 – Estruturas de Lewis Lewis fez a proposta mais simples para descrever as ligações covalentes. Os compostos dividem elétrons até que ambos respeitem a regra do octeto. Para isto, poderiam fazer ligações simples (com dois elétrons), duplas (duas de dois elétrons) ou até triplas (três de dois elétrons). Ele desenvolveu uma série de regras para construir as “Estruturas de Lewis”, que nada mais são que as representações das ligações nas moléculas. Para exemplificar estas regras, usaremos o CH4 e o NO2–. 1) Identifique o átomo central Normalmente, o átomo central é aquele que fará o maior número de ligações (maior valência) ou o átomo que está em menor quantidade na molécula. Quando existem dois elementos nestas condições, o de menor eletronegatividade é o mais indicado para atuar como átomo central. Na molécula de CH4, estes dois critérios convergem para o átomo de carbono, que precisa fazer quatro ligações para completar o octeto enquanto o hidrogênio só precisa de uma ligação. No ânion nitrito os dois critérios também convergem para o nitrogênio, que tem valência de três ligações ao invés de duas do oxigênio. 2) Ligar os outros átomos ao átomo central até seu limite máximo (valência) Uma vez que o átomo central esteja identificado, ligue-o aos outros átomos, conforme mostra a Figura 27. Cuidado para não ultrapassar a valência do átomo central (como colocar 5 ligações para o carbono). H C H H H O N O Figura 27. Segunda regra para a construção da estrutura de Lewis. IFRJ Química Inorgânica 42 3) Se a valência do átomo central esgotar e ainda restarem átomos, ligue-os aos átomos ligados ao átomo central. Nas espécies usadas exemplo, não existe este caso. Isto é necessário nas moléculas de HClO4, H2SO4 ou H3PO4. 4) Contagem do número de elétrons da molécula O próximo passo é saber quantos elétrons de valência existem na molécula. Para isso, somam-se todos os elétrons da camada de valência de cada átomo. Para cada carga positiva que a molécula tiver, um elétron é retirado do total. Em contrapartida, para cada carga negativa, um elétron é somado ao total. O número de elétrons na estrutura de Lewis deve ser igual à soma do número de elétrons de valência dos elementos que formam a estrutura. O CH4 é formado de um carbono (6C = 1s2 2s2 2p2) que possui quatro elétrons na camada de valência e de quatro hidrogênios (1H = 1s1) cada um com um elétron na camada de valência. Como é uma molécula neutra, o número total de elétrons será: 1 átomo de Carbono + 4 átomos de Hidrogênio = CH4 4 elétrons + 4 x 1 elétron = 8 elétrons O NO2– é formado por um nitrogênio (7N = 1s2 2s2 2p3), que tem cinco elétrons na camada de valência e de dois oxigênios (8O = 1s2 2s2 2p4) cada um com seis elétrons na última camada. Fora isso, a molécula tem uma carga negativa. O número total de elétrons é: 1 átomo de Nitrogênio + 2 átomos de Oxigênio + 1 carga negativa = NO2– 5 elétrons + 2 x 6 elétrons + 1 elétron = 18 elétrons 5) Complete os octetos e conte os elétrons da molécula Uma vez com os átomos ligados ao átomo central, devem-se completar os octetos. Cada ligação conta como dois elétrons. Então, um átomo com três ligações, precisará de mais dois elétrons. Um átomo que só faz uma ligação precisará de mais seis elétrons (com exceção dos átomos que só precisam de dois elétrons, como o hidrogênio). Uma vez completo todos os octetos, deve-se contar o número de elétrons na molécula. Se o número for igual ao encontrado no passo 4, a estrutura já está definida. Se o número for diferente, é preciso fazer ligações múltiplas entre os átomos. Na Figura 27, para o CH4, vemos que existem quatro ligações, num total de oito elétrons para o átomo de carbono. Cada átomo de hidrogênio está participando de uma ligação, de forma que todos têm dois elétrons. Então, estão todos respeitando a regra do octeto. Logo, não é preciso adicionar nenhum elétron na estrutura, tampouco realizar ligações múltiplas, já que o número e elétrons do passo 4 coincide com o da estrutura (4 ligações = 8 elétrons). Já para o ânion NO2–, é preciso completar o octeto. Na Figura 27 vemos que o nitrogênio faz duas ligações, num total de quatro elétrons. Portanto, é preciso se adicionar mais quatro elétrons ao nitrogênio para que este fique com o octeto completo (Figura 28a). Os IFRJ Química Inorgânica 43 oxigênios precisam de mais seis elétrons cada um, já que estão com apenas uma ligação simples (Figura 28b). O N O (a) O N O (b) Figura 28. (a) Os quatro elétrons para completar o octeto do nitrogênio e (b) os seis elétrons para completar o octeto dos oxigênios. Ao completar o octeto e contar o número de elétrons na estrutura de Lewis verifica-se que existem vinte elétrons (Figura 28b). No passo quatro calculou-se que o ânion NO2– deveria ter apenas dezoito elétrons. Para reduzir o número de elétrons em uma estrutura de Lewis, fazem-se ligações duplas ou triplas. Fazendo uma ligação dupla entre o átomo de nitrogênio e de oxigênio, chega-se a uma estrutura com apenas dezoito elétrons (Figura 29). O N O Figura 29. Estrutura de Lewis para o NO2–. 6) Determine as cargas formais Com a estrutura montada, devem-se determinar as cargas formais. É preciso ter em mente que as cargas formais não são os números de oxidação dos átomos. Para determinar as cargas formais precisa-se da configuração eletrônica de um dado átomo e do número de elétrons deste mesmo átomo na estrutura de Lewis. O número de elétrons na estrutura de Lewis é feito da seguinte forma (procedimento apenas para determinar a carga formal!): contam-se os elétrons não-ligantes normalmente enquanto que cada ligação conta como um elétron para cada átomo que participa da ligação. A eletronegatividade dos elementos participantes da ligação não é considerada! A carga formal será a diferença entre o número de elétrons que o átomo tem em sua camada de valência determinada por sua configuração eletrônica e o número de elétrons presente na estrutura de Lewis. O somatório das cargas formais de todos os átomos da estrutura de Lewis deve ser igual à carga apresentada pela molécula (ou íon). No CH4 o carbono faz quatro ligações (Figura 27). Portanto, o número de elétrons na estrutura de Lewis, para o carbono, será de quatro elétrons. Como este é o número de elétrons de sua camada de valência, a carga forma para o átomo de carbono nesta molécula será igual a zero. Da mesma forma, os átomos de hidrogênio fazem uma só ligação. Então, cada um possui um elétron na estrutura de Lewis. Como este também é o número de elétrons em sua camada de valência, as cargas formais para os átomos de hidrogênio têm valor igual a zero. Avançando para o NO2–, o nitrogênio faz três ligações e tem dois elétrons não ligantes (Figura 29), um total de cinco elétrons. Este também é o número de elétrons em sua camada de valência, por isso, o nitrogênio tem carga forma igual a zero. Como os átomos de oxigênio IFRJ Química Inorgânica 44 são diferentes na estrutura da Figura 29, precisam ser tratados de forma diferente. Começando pelo oxigênio da dupla (duas ligações e quatro elétrons não ligantes), tem-se um total de seis elétrons. O mesmo número de elétrons em sua camada de valência – então a carga formal para este oxigênio é zero. O segundo oxigênio faz uma ligação e tem mais seis elétrons não ligantes, um total de sete elétrons na estrutura de Lewis. Como o oxigênio só possui seis na camada de valência, a carga formal para este oxigênio é de –1 (carga formal: 6 – 7 = –1). O somatório das cargas formais dos átomos que forma NO2– coincide com a carga total do ânion (c.f. = 0 + 0 + (–1) = –1). Isto indica que a estrutura de Lewis está coerente. Como as estruturas de Lewis para as moléculas derivam de um modelo muito simples, elas têm diversos problemas. O primeiro deles é não prever a geometria espacial da molécula, parâmetro fundamental em muitas propriedades. Outro fator é sua limitação a moléculas que respeitem a regra do octeto. Apenas com as idéias de Lewis não é possível explicar porque alguns átomos conseguem ir além do octeto. Um outro problema pode ser visto na estrutura do NO2–. Na estrutura da Figura 29, um dos oxigênios faz uma ligação dupla e outro faz uma ligação simples. Como os dois oxigênios são iguais, as ligações poderiam estar invertidas. Qual seria a estrutura certa? Nenhuma? As duas? Cada uma estaria certa em 50%? A solução para alguns destes problemas veio com a Teoria da Ligação de Valência. 6.2 – Teoria da Ligação de Valência A Teoria da Ligação de Valência (TLV) cresceu diretamente das idéias de Lewis sobre o emparelhamento de elétrons de dois diferentes átomos. Em 1927, W. Heitler e F. London propuseram um modelo baseado na recém formulada mecânica quântica para tratar a molécula de hidrogênio. Este tratamento quântico ficou conhecido como método da ligação de valência e foi desenvolvido nos anos seguintes, principalmente por Linus Pauling e John C. Slater. Não serão abordados aqui os aspectos matemáticos da TLV, apenas suas consequências e os avanços que trouxe para o entendimento da ligação química. A idéia central da TLV vem do entrosamento dos orbitais atômicos de cada átomo para formar ligações químicas. Se os orbitais se encontram de maneira frontal (Figura 30a), tem-se uma ligação do tipo sigma (σ). Se os orbitais estão paralelos (Figura 30b), forma-se uma ligação do tipo π. Figura 30. (a) Ligação σ entre orbitais do tipo s e p e (b) Ligação π entre dois orbitais do tipo p. IFRJ Química Inorgânica 45 Usaremos a molécula do CH4 para compreender estas idéias. As configurações eletrônicas dos átomos desta molécula são: 6C = 1s2 2s2 2p2 1H = 1s1 considerando apenas as camadas de valência de ambos os átomos, tem-se: 2s 2p Para o Carbono: 4 orbitais 1s Para os 4 Hidrogênios: Sabe-se que o carbono fará uma ligação com cada hidrogênio (Figura 27) e como é preciso um elétron de cada um dos átomos para formar estas ligações, os elétrons emparelhados no orbital 2s do carbono precisarão ser desemparelhados. Além disso, um desses elétrons precisará ser excitado até o orbital p vazio. Isto é chamado de promoção do elétron. Por conta da promoção do elétron, o carbono estará com quatro orbitais com um elétron cada, podendo então ligar-se a quatro outros átomos. Então, as ligações do CH4 se formam da seguinte maneira: 2s 2p 1s 1s 1s 1s Carbono Hidrogênios Segundo a TLV, tem-se uma ligação entre dois orbitais do tipo s e três ligações entre orbitais s do hidrogênio e os do tipo p do carbono (Figura 31). Uma conclusão disto é que uma das ligações do metano será diferente das demais, já que os orbitais envolvidos são diferentes. Porém, resultados experimentais dizem o contrário: todas as ligações entre carbono e hidrogênio na molécula de CH4 são iguais em comprimento e em termos energéticos. Para justificar observações como esta, foi introduzido um novo conceito dentro da TLV: o de hibridação dos orbitais atômicos. Figura 31. Tipos diferentes de ligações: (a) entre dois orbitais s e (b) entre um orbital s e um p. IFRJ Química Inorgânica 46 6.2.1 – Hibridação dos Orbitais Atômicos Voltemos à etapa de promoção de um dos elétrons do orbital 2s para o orbital vazio do subnível 2p. Existe um gasto de energia para promover o elétron para um orbital de maior energia, que será compensado depois com a formação da ligação. Este gasto de energia seria inexistente se os orbitais dos subníveis 2s e 2p tivessem a mesma energia. No entanto, só orbitais do mesmo tipo podem ser degenerados. Aqui entra uma particularidade dos orbitais. Como são as representações espaciais das funções de onda, estas podem ser combinadas de diversas maneiras, de forma que a energia total da molécula seja minimizada. A combinação das funções de onda dá origem a outras funções, que geram outros orbitais, que são as combinações dos orbitais iniciais. Este é o fundamento da hibridação dos orbitais atômicos. Eles se combinam de forma a minimizar a energia da molécula e, por fim, justificar as observações experimentais. 6.2.1.1 – Hibridação do tipo sp3 Na hibridação do tipo sp3 um orbital do tipo s irá se combinar com três orbitais do tipo p que formarão quatro orbitais híbridos do tipo sp3. É este o tipo de hibridação com os orbitais do carbono no metano, para citar um exemplo. No carbono do metano, representa-se a hibridação da seguinte maneira: 2s 2p 4 orbitais híbridos do tipo sp3 São estes quatro orbitais híbridos do tipo sp3 do carbono que irão se ligar aos quatro átomos de hidrogênio. Com o modelo da hibridação, todos os orbitais do carbono envolvidos nas ligações com os átomos de hidrogênio são iguais, explicando porque as quatro ligações no metano são idênticas. A hibridação dos orbitais também define a geometria da molécula. Como os orbitais se combinam buscando minimizar a energia do sistema, eles se distribuem no espaço tentando minimizar as repulsões entre as ligações. Isto é, eles se afastarão o máximo possível um do outro. Se houvessem duas ligações, o ângulo entre elas seria de 180°. Com quatro ligações (quatro orbitais do tipo sp3) a maior distância possível é encontrada quando o ângulo entre as ligações é de 109,47°. Este arranjo espacial é chamado de tetraedro (Figura 32). O tetraedro tem quatro faces triangulares e quatro vértices. O átomo central, o carbono no CH4, se posiciona no centro do tetraedro enquanto os outros átomos, os de hidrogênio neste exemplo, ocupam os vértices do tetraedro (Figura 33). IFRJ Química Inorgânica 47 Figura 32. O tetraedro. HH H H C H C H H H 109,47o Figura 33. Algumas maneiras de visualizar a geometria tetraédrica do CH4. 6.2.1.2 – Ligações π: Hibridação do tipo sp2 e sp As ligações π têm uma particularidade: os orbitais que formarão este tipo de ligação precisam estar paralelos. Por esta razão, os orbitais que participarão de uma ligação do tipo π não podem ser híbridos. Tomemos as móleculas de eteno (C2H4) e o dióxido de carbono (CO2) como exemplos. Suas estruturas de Lewis são mostradas na Figura 34. Cada carbono da molécula de eteno tem uma ligação do tipo π e três do tipo σ. No dióxido de carbono são duas ligações π para um só carbono. Então, cada carbono do eteno terá que “reservar” um dos orbitais p para fazer a ligação π. Da mesma forma, o carbono do CO2 terá de “reservar” dois de seus orbitais do tipo p. C C H H H H O C O Figura 34. As estruturas de Lewis do eteno e do dióxido de carbono. Então, a hibridação dos carbonos seria do tipo sp2, conforme o esquema abaixo: 2s 2p 2s 2p Ligação π 1 orbital s + 2 orbitais p = 3 orbitais híbridos sp2 IFRJ Química Inorgânica 48 São os três orbitais híbridos do tipo sp2 que farão as três ligações σ de cada carbono na molécula de eteno. Estas ligações definem um plano e têm um ângulo de 120° entre elas. Este arranjo é chamado de trigonal plano (ou trigonal planar) e a ligação π é perpendicular ao plano das ligações σ (Figura 35). C C HH HH 120o Orbitais p não hibridizados que formarão a ligação π Figura 35. A geometria trigonal plana e a posição dos orbitais p não hibridizados. Já para a molécula de dióxido de carbono, a hibridação será do tipo sp, uma vez que apenas um dos orbitais p estará disponível para combinar-se com o orbital s: 2s 2p 2s 2p Para duas ligações π1 orbital s + 1 orbital p = 2 orbitais híbridos sp As duas ligações σ, formadas pelos orbitais híbridos sp, estarão separadas por um ângulo de 180°, dando origem a uma geometria angular (Figura 36). As ligações π são perpendiculares entre si (como os orbitais p não hibridizados). Na Figura 36, uma das ligações π é formada ao longo do eixo z (orbitais p azuis) enquanto a outra é formada no eixo x (orbitais p vermelhos). O C O 180o CO O zzz y x x x Figura 36. A geometria linear com os orbitais híbridos sp e as ligações π. IFRJ Química Inorgânica 49 As hibridações do tipo sp3, sp2 e sp descrevem de maneira correta os compostos onde o átomo central é um elemento que segue a regra do octeto. Moléculas que têm como átomo central elementos do segundo período da Tabela Periódica apresentarão uma destas hibridações citadas acima. No entanto, a formação de orbitais híbridos com apenas orbitais do tipo s e p não conseguem explicar a existência de alguns compostos, como o PCl5 ou o SF6. 6.2.1.3 – Expansão do Octeto Tanto o PCl5 como o SF6 são exemplos de compostos onde o átomo central ultrapassa o número de ligações esperado pela regra do octeto. Para formar um maior número de ligações, os átomos centrais precisam de mais orbitais disponíveis que os do tipo s e p. E a partir do terceiro período da Tabela Periódica estes novos orbitais, do tipo d, estão disponíveis. Para melhor entender este fenômeno, deve-se olhar em particular cada caso. O fósforo é o átomo central da molécula de PCl5. Situado no grupo 15, o mesmo do nitrogênio, no bloco p da Tabela Periódica, o fósforo precisaria de três ligações para completar o octeto. E isso é observado em alguns de seus compostos como nas moléculas de PH3 ou PCl3. A configuração eletrônica do fósforo é: 15P = 1s2 2s2 2p6 3s2 3p3 É a partir da terceira camada que o subnível d começa, estando disponível para hibridizar com os orbitais do subnível 3s e 3p do fósforo. Aqui está a razão central da expansão do octeto. Átomos que tenham orbitais d vazios em suas camadas de valência podem usá-los para fazer um número maior de ligações. Como estes orbitais d vazios têm energias próximas a dos outros orbitais preenchidos da camada de valência, a hibridação com orbitais de um subnível vazio não tem um custo energético muito grande. No final, a energia liberada com o maior número de ligações compensará o gasto na hibridação. É por isso que os elementos do segundo período não expandem o octeto, pois em suas camadas de valência (a segunda), não existem subníveis com orbitais vazios de energia próxima da dos ocupados. A hibridação do fósforo pode ser vista na Figura 37. Com cinco orbitais híbridos do tipo sp3d, o fósforo pode fazer as cinco ligações observadas no composto PCl5. Na hibridação do tipo sp3d tem-se um arranjo espacial bipiramidal triangular, pois a figura corresponde a duas pirâmides que dividem a mesma base triangular (Figura 38). As ligações da base das pirâmides (ligações equatoriais) estão separadas por ângulos de 120° entre si e por um ângulo de 90° com as ligações axiais (Figura 39). IFRJ Química Inorgânica 50 3s 3p 3d E E 1 orbital s + 3 orbitais p + 1 orbital d 5 orbitais híbridos sp3d 4 orbitais do tipo d não hibridizados Figura 37. A hibridação sp3d do fósforo. Cl ClCl P Cl Cl Cl P Cl Cl Cl Cl Figura 38. A geometria bipiramidal triangular em diversas representações. Cl ClCl P Cl Cl 90o 120o Figura 39. Ângulos da geometria bipiramidal triangular. IFRJ Química Inorgânica 51 O caso do enxofre no SF6 será semelhante ao observado para o fósforo no PCl5. A diferença está no número de ligações e no número de elétrons do enxofre em relação ao fósforo. A configuração eletrônica do enxofre é 16S = 1s2 2s2 2p6 3s2 3p4 Como precisa formar uma ligação a mais do que o fósforo no PCl5, o enxofre usará um orbital d a mais, formando seis orbitais híbridos, do tipo sp3d2 (Figura 40). 3s 3p 3d E E 1 orbital s + 3 orbitais p + 2orbitais d 6 orbitais híbridos sp3d2 3 orbitais do tipo d não hibridizados Figura 40. A hibridação sp3d2 do enxofre. A distribuição das ligações no espaço segue um arranjo octaédrico (Figura 41). Um octaedro pode ser descrito como sendo duas pirâmides unidas por uma base quadrada. Todas as ligações fazem ângulos de 90° entre elas. Existem outros tipos de hibridação de orbitais, mas ou não são muito comuns ou são pequenas variações dos tipos que foram apresentados, como a hibridação sd3 que apresenta as mesmas características da sp3, mas usa orbitais d ao invés dos orbitais p. De toda forma, estas variações também são incomuns. IFRJ Química Inorgânica 52 F F F F F F S F F F F S F F S F F F F F F Figura 41. Diferentes maneiras de se representar um octaedro. 6.3 – Modelo da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência No início dos anos 40, N.V. Sidgwick e H.M. Powell fizeram um levantamento das estruturas das moléculas até então conhecidas e perceberam que era possível prever suas formas aproximadas a partir do número de pares de elétrons na camada de valência do átomo central da molécula. Anos mais tarde, em 1957, R.J. Gillespie e R.S. Nyholm aperfeiçoaram as idéias de Sidgwick e Powell e desenvolveram o que se chamou de Modelo da Repulsão dos Pares Eletrônicos da Camada de Valência (ou Modelo VSEPR, sigla do inglês Valence Shell Electron Pair Repulsion). O modelo da VSEPR é extremamente útil para se determinar a geometria das moléculas partindo apenas da estrutura de Lewis. Além disso, é mais simples usar o modelo VSEPR que a teoria da hibridação, sendo que ambos darão, obrigatoriamente, o mesmo resultado para as estruturas moleculares. De certa maneira, é mais fácil usar a teoria VSEPR para descobrir a hibridação a partir da geometria do que o contrário. A teoria da VSEPR é bem simples e sustenta que o arranjo das moléculas no espaço é determinado pelas repulsões entre os pares de elétrons presentes no nível de valência, uma vez que qualquer par de elétrons, ligante ou não ligante, ocupa espaço e repelem um ao outro. Pares de elétrons isolados repelem mais que os que participam de uma ligação, uma vez que só são atraídos por um núcleo, enquanto que os pares ligantes são atraídos por dois núcleos. Por conta dessa maior repulsão, eles “ocupam mais espaço” que os demais e, com isso, causam distorções no arranjo espacial da molécula. As ligações duplas apresentam maior repulsão que as simples, pois a densidade eletrônica entre os dois átomos envolvidos é maior quando há ligações múltiplas. Pelo menos motivo, a ligação tripla apresenta maior repulsão que a dupla. Embora sejam consideradas em termos repulsivos, as ligações π não são consideradas como pares de elétrons ligantes para a definição da geometria molecular. Isto é, se um átomo central tem três ligações σ e uma do tipo π, para o modelo da VSEPR só devem-se contar apenas três pares de elétrons, uma vez que o par que forma a ligação π estará restrito ao espaço definido pela ligação σ. A repulsão aumenta conforme a sequência: ligações simples < ligações duplas < ligações triplas < pares isolados. O par de elétrons de maior repulsão afasta os outros pares de elétrons de si. Também é preciso definir a diferença entre o arranjo espacial de uma molécula e sua geometria. O arranjo espacial leva em conta qualquer par de elétrons, ligante ou isolado. Está IFRJ Química Inorgânica 53 diretamente ligado à hibridação do átomo central. Por outro lado, a geometria só leva em consideração as posições nucleares, isto é, só os átomos e ligações são considerados. Os pares de elétrons que não participam de ligações são ignorados na geometria molecular. No entanto, ambos os conceitos estão relacionados. A geometria da molécula é dependente do arranjo espacial (e da hibridação). A Tabela 12 mostra a relação entre o número de pares de elétrons, arranjos espaciais, hibridação e a geometria das moléculas. A Figura 42 mostra alguns os exemplos citados na Tabela 12. Tabela 12. Relação entre número de pares de elétrons e parâmetros da geometria molecular. Legenda: M = átomo central, L = pares de elétrons de ligações σ e E = pares de elétrons não ligantes. N° de pares de elétrons Tipo de molécula Arranjo espacial Hibridação Geometria Exemplo 2 ML2 Linear sp Linear BeH2 3 ML3 Trigonal Planar sp2 Trigonal Planar BCl3 3 ML2E Trigonal Planar sp2 Angular SO2 4 ML4 Tetraédrico sp3 Tetraédrica CH4 4 ML3E Tetraédrico sp3 Piramidal NH3 4 ML2E2 Tetraédrico sp3 Angular H2O 5 ML5 Bipiramidal Trigonal sp3d Bipiramidal Trigonal PCl5 5 ML4E Bipiramidal Trigonal sp3d Tetraédro Distorcido TeCl4 5 ML3E2 Bipiramidal Trigonal sp3d Forma de “T” ClF3 5 ML2E3 Bipiramidal Trigonal sp3d Linear I3– 6 ML6 Octaédrico sp3d2 Octaédrica SF6 6 ML5E Octaédrico sp3d2 Piramidal de Base Quadrada BrF5 6 ML4E2 Octaédrico sp3d2 Quadrado Planar XeF4 Uma forma simples de compreender como funciona o modelo VSEPR é analisando o caso do CH4, NH3 e H2O. Na Figura 43 estão representadas as estruturas de Lewis para estas moléculas. Em todas as moléculas o átomo central tem quatro pares de elétrons: no CH4 são quatro pares ligantes; no NH3 um não ligante e três ligantes e na molécula de H2O são dois de cada tipo. Então, nas três moléculas, o arranjo espacial será tetraédrico. Este arranjo define a hibridação do tipo sp3 para todas as moléculas. A geometria molecular, como já foi dito, depende apenas dos átomos (ou dos pares ligantes). Portanto o metano tem geometria tetraédrica, a amônia tem geometria piramidal, e a água é angular. Na amônia, como a IFRJ Química Inorgânica 54 repulsão do par de elétrons não ligante é maior, os demais ângulos serão menores, em torno de 107° entre as ligações, como mostra a Figura 44. Na água a repulsão será ainda maior, pois são dois os pares não ligantes. Por isso, o valor do ângulo entre as ligações da água será o menor observado entre estas moléculas, por volta de 104,5° (Figura 45). Be HH Cl B Cl Cl H C H H H N H H H S O O O H H Cl P Cl Cl Cl Cl Cl Te Cl Cl Cl I I I F Cl F F S F F F F F F Br F F F F F Xe F F F F Figura 42. Estruturas das moléculas citadas na Tabela 11. H C H H H H N H H H O H Figura 43. As estruturas de Lewis das moléculas de CH4, NH3 e H2O. Com uma teoria de argumentos simples como a TLV e a VSEPR pode-se prever, partindo-se das estruturas de Lewis, a geometria molecular e a hibridação das moléculas. Mas isto ainda não é suficiente para compreender o comportamento de todas as moléculas que se conhece. O “problema” do íon nitrito, NO2–, de ter duas estruturas equivalentes (comentado anteriormente na página 44) é muito comum e tem grande importância nas propriedades IFRJ Química Inorgânica 55 destas moléculas. A Teoria da Ligação de Valência propôs uma primeira explicação para este fenômeno, que hoje é conhecido por ressonância. N H H H Maior Repulsão 107o Figura 44. A geometria da amônia e seus ângulos. O HH Grande Repulsão Repulsão Figura 45. A geometria da água e seus ângulos. 6.4 – Ressonância Na Figura 46 podem ser vistas algumas moléculas que possuem mais de uma estrutura de Lewis equivalente. N O O N O O C O O O 2 C O O O 2 C O O O 2 S O O S O O Figura 46. Algumas moléculas com mais de uma estrutura de Lewis. IFRJ Química Inorgânica 56 Uma só estrutura é insuficiente para descrever estas moléculas, de forma que a estrutura “real” da molécula seria uma mistura de todas estas estruturas, uma média de todos os estados. A “média” dessas estruturas é chamada de estrutura de ressonância (Figura 49). A ressonância é a explicação para interessantes fenômenos nas moléculas. O caso mais representativo deste fenômeno vem do benzeno e a grande estabilidade de seu conjunto de ligações insaturadas quando comparado a outras moléculas contendo insaturações onde não existe a ressonância. Tem-se, então, que a ressonância é um efeito estabilizador, principalmente em sistemas com ligações π conjugadas ou em íons onde a carga é distribuída por vários elementos. Alguns outros exemplos são os carboxilatos, ânions e cátions vinílicos e outras substâncias aromáticas como o benzeno. Por conta deste efeito, tem-se uma última regra para a construção das estruturas de Lewis: considerar todas as estruturas de ressonância de uma espécie. A estrutura mais representativa é, normalmente, a que tem os valores de cargas formais mais próximos a zero. N O O C O O O 2 S O O Figura 49. Estrutura de ressonância para o nitrito, carbonato e dióxido de enxofre. 7. Conceitos Ácido-Base 7.1 – De Arrhenius a Brønsted-Lowry A primeira teoria ácido-base foi proposta pelo sueco Svante Arrhenius. Em seus estudos de condutividade em solução aquosa, dentre outras coisas, ele convencionou que uma substância seria considerada um ácido se originasse íons H+. Por outro lado, uma base daria origem a íons OH–. Foi o primeiro sentido químico para ácidos e bases. O modelo de Arrhenius carregava o “problema” de apenas tratar de sistemas aquosos. No entanto, suas idéias sobre os íons H+ e OH– foram o início da caracterização de ácidos e bases. A história diz que as idéias de Arrhenius não foram bem aceitas no início, e em seu exame de doutorado sua nota foi a menor possível para a aprovação. Como a ciência nunca está parada, a situação se modificou e, por seu trabalho sobre de dissociação de eletrólitos, Arrhenius foi laureado com o Prêmio Nobel de Química de 1903. Em 1923, o dinamarquês Johannes N. Brønsted e o inglês Thomas M. Lowry apresentaram suas idéias sobre ácidos e bases. A particularidade deste modelo é que eles trabalharam de maneira independente e chegaram numa mesma formulação, numa mesma época. O conceito ácido-base de Brønsted-Lowry pode ser considerado uma extensão das idéias de Arrhenius. A primeira vantagem da teoria de Brønsted-Lowry é que ela não é restrita ao meio aquoso. Além disto, uma nova definição de ácido e base é proposta. É chamada de IFRJ Química Inorgânica 57 ácido uma espécie capaz de doar um próton (o íon H+), enquanto a base é a espécie que irá receber o próton. A partir desta definição, chegava-se a novos conceitos, como o de ácidos e bases conjugados. Numa reação ácido-base, teríamos dois pares de ácidos e bases conjugadas. Na equação ácido1 + base2 base conjugada1 + ácido conjugado2 (16) o ácido1 transfere um próton para a base2 e assim origina a base conjugada1. Da mesma forma, a base2 ao ser protonada, origina o ácido conjugado2. A equação (16) mostra o equilíbrio entre duas reações ácido-base. O parâmetro termodinâmico energia livre de Gibbs, ΔG, indica o sentido preferencial da reação num equilíbrio. Além de ΔG, também é muito utilizada a constante de equilíbrio do sistema. Para simplificar a notação, a equação (16) será escrita da forma HA + B A + HB+ (17) A constante de equilíbrio, Kc, para esta reação é [B][HA] ][HB][AK c ⋅ ⋅= +− (18) Para o estado gasoso, a constante de equilíbrioc e o parâmetro ΔG se relacionam por ΔG = –RT.ln Kc (19) onde R é a constante dos gases ideais e T a temperatura. Para uma melhor análise, extraindo- se o logaritmo em (19), encontra-se: Kc = e–ΔG/RT (20) Dessa forma é mais simples entender a dependência entre ΔG e Kc. Se o valor de ΔG é negativo, o valor de Kc será sempre maior que um. Neste caso, o sentido direto é o favorecido. Por outro lado, se ΔG é positivo, Kc terá valores menores que um, ou seja, a reação mais favorecida é a do sentido inverso. Dessa forma estabeleceu-se o conceito de força de ácidos e bases. O ácido HA será mais forte que HB+ se o Kc da reação (17) for maior que um. Da mesma forma que B será uma base mais forte que A–. Portanto, um ácido forte terá uma base conjugada fraca e vice e versa. Em meio aquoso, as constantes de equilíbrio de ácidos e bases foram medidas em relação à água. A forma de dedução para a constante é a mesma feita para o Kc. Considerando um sistema aquoso e um ácido HA, tem-se: HA + H2O A + H3O + (21) c Normalmente para o estado gasoso a constante de equilíbrio é denotada Kp. IFRJ Química Inorgânica 58 Como a água é o solvente, sua concentração é muito maior que as das outras espécies envolvidas no equilíbrio. Desta forma, convencionou-se que a concentração da água é constante em relação às outras espécies do equilíbrio. A expressão da constante de equilíbrio para esta reação será: O][H[HA] ]O[H][A K 2 3 c ⋅ ⋅= +− ⇒ [HA] ]O[H][A O][HK 32c +− ⋅=⋅ ⇒ [HA] ]O[H][A K 3a +− ⋅= (22) Uma outra forma de se expressar estas constantes é usar o valor de pKa e pKb, que são definidos como pKa = –log Ka (23) pKb = – log Kb (24) Neste caso, quanto menor o valor de pKa (ou pKb) mais forte é o ácido (ou base). 7.2 – O Conceito ácido-base de Lewis O modelo ácido-base de Brønsted-Lowry demonstrou uma grande evolução em relação ao de Arrhenius. Um outro conceito ácido-base, proposto por Gilbert Lewis, é ainda mais completo. Segundo Brønsted-Lowry ácidos eram as espécies que transferiam íons H+ para as bases que, por sua vez, nada mais eram que ânions ou espécies neutras com alguma característica especial. Foi Lewis quem percebeu essa característica, de que a base só poderia receber o íon hidrogênio do ácido se tivesse ao menos um par de elétrons para uma nova ligação. Ademais, ter um par de elétrons disponível era o requisito para formar ligações com cátions. A visão de Lewis para a situação era muito clara: não era a transferência do íon hidrogênio que era importante e sim a disponibilidade dos elétrons na base. Portanto, era preciso uma nova definição para ácidos e bases. E foi assim que Lewis definiu uma base como sendo uma espécie doadora de par de elétrons enquanto o ácido é a espécie que receberia o par de elétrons. Embora Lewis tenha introduzido seu conceito no mesmo ano de que Brønsted e Lowry, suas idéias só tiveram a devida atenção a partir da década de 30. O modelo de Lewis pode ser aplicado a uma série inimaginável de reações químicas. Um exemplo seria em reações orgânicas. As reações de substituição eletrofílica ou nucleofílica são simplesmente reações entre um ácido e uma base de Lewis. Também as de eliminação e adição. Um exemplo clássico disto são as reações de alquilação de Friedel-Crafts (Figura 50). Neste tipo de reação há uma grande seqüência de reações intermediárias que podem ser interpretadas como reações ácido-base de Lewis. IFRJ Química Inorgânica 59 C2H5 Cl AlCl3 C2H5Cl AlCl3+ + C2H5 Cl AlCl3 H C2H5 + Cl AlCl3 C2H5 ++ AlCl3 HCl Figura 50. Uma alquilação de Friedel-Crafts. Na primeira etapa, o cloroetano (C2H5Cl), faz o papel da base de Lewis através do átomo de cloro. O cloreto de alumínio (AlCl3) é o ácido de Lewis, e tem papel de catalisador nesta reação. Na segunda etapa, o benzeno atua como base de Lewis, enquanto que o composto C2H5ClAlCl3, através do carbono, é o ácido. Na terceira etapa, temos novamente o cloro, ou mais precisamente o AlCl4– como base de Lewis e o hidrogênio como ácido de Lewis. Para o estudo de química inorgânica as idéias de Lewis são fundamentais. Os metais são facilmente identificados como ácidos de Lewis. Nas reações de formação de complexos, os ligantes são as bases de Lewis que irão doar o par eletrônico para o metal central. Nem só com metais isso é observado. Reações deste tipo também são vistas com ametais e semi-metais, como por exemplo, em compostos de enxofre, silício e boro. Estes são apenas alguns exemplos de reações envolvendo ácidos e bases de Lewis, mas qualquer reação que envolva doação de par de elétrons pode ser interpretada como sendo uma reação ácido-base de Lewis. O exemplo da formação do oleum é muito importante na discussão de ácidos e bases. Nesta reação, o anidrido sulfúrico, SO3, é o ácido de Lewis que receberá o par de elétrons do ácido sulfúrico, a base de Lewis nesta reação (Figura 51). Vemos aqui o ácido sulfúrico, um ácido forte em meio aquoso segundo Brønsted-Lowry, atuando como uma base segundo Lewis. Este comportamento é, talvez, o mais ilustrativo do que realmente são os conceitos ácido-base. S O O O O S OH OHO Figura 51. A formação do Oleum, que envolve a dissolução de SO3 em ácido sulfúrico é um exemplo interessante de reação ácido-base de Lewis. Aqui o ácido sulfúrico é a base de Lewis, enquanto o SO3 é o ácido. Sistematizar o estudo de força de ácidos e bases de Lewis é uma tarefa mais complicada do que para o conceito de Brønsted-Lowry. Isto se deve ao fato de que no conceito de Brønsted-Lowry o ácido é sempre fixo (o íon H+) e quanto maior afinidade da base em IFRJ Química Inorgânica 60 relação a este íon, mais forte ela é. No conceito ácido-base de Lewis, o ácido pode ser uma infinidade de compostos ou íons. E a particularidade de cada sistema influenciaria na construção de uma “escala de força” para ácidos ou bases de Lewis. De maneira geral, pode- se dizer que quanto mais fácil é para uma espécie a doação de elétrons, mais forte é a base de Lewis. Enquanto que, para um ácido, o inverso é verdadeiro. Quanto mais ávido por elétrons for a espécie, mais forte será o ácido de Lewis. Existem outros conceitos ácido-base, uns com aplicação restrita, outros com aplicação mais ampla. Assim como no caso da TLV e da TOM, não há um conceito certo e o outro errado. Não existe um ácido absoluto, dependendo do modelo que se escolhe, o comportamento pode variar. Vale citar uma frase encontrada no início do capítulo sobre ácidos e bases do livro de James E. Huheey: “Podemos fazer um ácido ser o que quisermos – a diferença ente os vários conceitos ácido- base não está em qual é o certo, mas qual é o mais conveniente para o uso em uma situação particular.” IFRJ Química Inorgânica 61 Exercícios 1 – Descreva como a Teoria da Ligação de Valência explica a formação de uma ligação covalente entre dois átomos. 2 – Escreva as estruturas de Lewis para as moléculas de NH3 e H2O e também para os íons NH4+ e H3O+. Construa o diagrama dos orbitais atômicos para os átomos centrais, mostrando a hibridação em cada caso e explique que mudanças a entrada do íon H+ nas moléculas trará para os ângulos de ligação destes íons em relação às moléculas neutras. 3 – Por que os elementos a partir do terceiro período da tabela periódica podem expandir o octeto e os do segundo período não o fazem? 4 – Escreva as estruturas de Lewis para cada espécie abaixo. Escreva também as cargas formais para cada átomo, a hibridação do átomo central e a geometria de cada espécie. a) H2O b) SO2 c) PCl3 d) PCl5 e) BrF5 f) O3 g) NO2– h) NO2+ i) NH3 j) CH2O k) CO2 l) I3– m) SO3 n) CH3+ o) ClF3 p) BH3 q) SF6 r) XeF4 s) NO3– t) SO42– u) CO32– v) PO43– x) TeCl4 z) TeCl6 5 – Escreva todas as estruturas de ressonância para os íons SO42– e NO3– e para as moléculas SO3 e XeO3. Escreva o híbrido de ressonância e escolha a estrutura de Lewis mais significativa para cada espécie. 6 – Identifique que moléculas ou íons do exercício 4 possuem átomos centrais que poderiam atuar como bases de Lewis. 7 – Nas reações abaixo, identifique o ácido e a base de Lewis: a) HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O(l) b) BH3 + NaH → NaBH4 c) CsF + SF4 → Cs[SF5] 8 – Em reações de substituição nucleofílica de primeira ordem há a formação de carbocátions. A estabilidade dos carbocátions segue a seguinte ordem: C(CH3)3+ > CH(CH3)2+ > CH2CH3+ > CH3+ Explique porque a estabilidade diminui – ou seja, a reatividade aumenta – quando o número de grupos alquila ligados ao carbono positivo diminui. 9 – Use argumentos da Teoria da Ligação de Valência para mostrar que os compostos de boro do tipo BX3 (X = H, Cl, Br e I) são ácidos de Lewis. Qual deve ser o ácido mais forte dentre os citados? IFRJ Química Inorgânica 62 8. Compostos de Coordenação 8.1 – Um breve histórico sobre Compostos de Coordenação Atribui-se a Alfred Werner o início do estudo com compostos de coordenação. Werner estudava sais que possuíam seis moléculas de amônia em sua fórmula química como o CoCl2.6NH3. Outros como C.W. Blomstrand e P.T. Cleve além de S.M. Jørgensen também tentaram desvendar a possível estrutura desses compostos. A sugestão inicial, feita por Blomstrand, era de que as moléculas de amônia estariam ligadas como numa corrente (Figura 52a). Um grande número de compostos contendo diferentes números de amônia foi sintetizado, como a série de compostos CoCl3.xNH3 (onde x = 3, 4, 5 ou 6), tornando a questão estrutural um desafio para os pesquisadores. Alguns experimentos feitos pelo grupo de Werner com estes compostos mostrou alguns fatos interessantes. Através da precipitação com sais de prata sabia-se que o comportamento dos ânions destes compostos era diferente dependendo do número de moléculas de amônia presentes no composto. As reações abaixo mostram este comportamento: CoCl3.6NH3 + Ag+ (em excesso) → 3 AgCl (s) CoCl3.5NH3 + Ag+ (em excesso) → 2 AgCl (s) CoCl3.4NH3 + Ag+ (em excesso) → 1 AgCl (s) Para explicar esses resultados, foi proposto que o íon cloreto poderia estar ligado diretamente ao cátion colbato III e nesta condição ele não precipitaria. Portanto, se o ânion está ligado ao metal, sua ligação é mais forte; enquanto que se o ânion está no final da “corrente” de amônia, sua ligação é mais fraca. Jørgensen propôs então um outro modelo para as ligações em compostos deste tipo, onde o cloreto poderia trocar de posição com a amônia, se ligando diretamente ao metal (Figura 52b). Assim, ao perder uma molécula de amônia, o cloreto iria se ligar ao cobalto III, não precipitando com adição de íons prata. a) Co NH3 NH3 NH3 Cl NH3 NH3 NH3 Cl b) Co NH3 NH3 NH3 XNH3 H3NX H3NX Figura 52. a) Proposta de representação da molécula de CoCl2.6NH3. A amônia e cloreto numa disposição em corrente. b) Modelo proposto por Jørgensen para um composto com cobalto III. Em negrito estão as moléculas que podem trocar de posição. O modelo proposto por Jørgensen permitia entender a característica dos ânions presentes nestes compostos. Pois às vezes só havia um deles ligado diretamente ao metal, às vezes dois e às vezes nenhum. No entanto, este modelo ainda seria abalado pela constatação de Werner, que mais de dois ânions poderiam estar ligados diretamente ao metal. Desta forma, ele concluiu que as moléculas de amônia não poderiam estar ligadas numa corrente. Além disso, Werner se deparou IFRJ Química Inorgânica 63 com outro resultado intrigante. Os compostos de cobalto III com amônia tinham cores diferentes, como mostra a Tabela 13. Tabela 13. Compostos CoCl3.xNH3 (onde x = 4, 5 ou 6) e suas cores. Composto Cor CoCl3.6NH3 Amarelo CoCl3.5NH3 Roxo CoCl3.4NH3 Verde CoCl3.4NH3 Violeta O fato do composto CoCl3.4NH3 ter duas cores indicava a presença de isômeros. Portanto, a estrutura destes compostos deveria explicar também este fato. A estrutura proposta por Jørgensen (Figura 52b) não era capaz de atender as últimas observações feitas por Werner. O arranjo em corrente deveria ser abandonado em favor de um outro. Werner propôs uma estrutura diferente, um arranjo onde as seis moléculas de amônia estariam ligadas diretamente ao metal (Figura 53). Este arranjo possibilitaria a ligação de um, dois ou três íons cloretos, trocando de posição com as moléculas de amônia. NH3 NH3 NH3 H3N H3N H3N M X X X Figura 53. Proposta de Werner para a estrutura de hexamino sais. M representa um metal de carga +3 e X um ânion de carga –1. O grande problema desta proposta era o número de ligações feitas pelo metal, que ia contra as idéias de ligação daquele período. Nesta época Lewis ainda não havia proposto seu modelo de ligações químicas e a valência era tratada como uma capacidade dos átomos de se combinarem. Segundo esta definição de valência, um metal com carga positiva de três, deveria se combinar três vezes com um outro composto que fosse monovalente. É aqui que se percebe como a idéia de Werner foi revolucionária. Ele percebeu que para explicar o comportamento destes compostos era preciso romper com o conceito de valência (ao observar os outros dois modelos propostos, nas Figuras 52a e 52b, vê-se claramente o acordo com o conceito de valência da época). Esta capacidade adicional do metal em fazer mais ligações foi chamada por Werner de “valência secundária”, enquanto conceito original foi chamado de “valência primária”. Hoje em dia, os termos cunhados por Werner são chamados de número de coordenação (valência secundária) e estado de oxidação (valência primária). IFRJ Química Inorgânica 64 Além de sais de cobalto, Wener também utilizou sais de cromo III para formar compostos com amônia, que foram chamados de complexos. Werner observou a troca de moléculas de amônia por moléculas de água e concluiu que os sais hidratados também eram complexos. O composto CrCl3.4H2O, assim como o CoCl3.4NH3, apresenta duas cores: verde-escuro e azul violáceo. Werner conseguiu demonstrar que o cloreto de cromo (III) azul era um composto com formula [Cr(H2O)6]Cl3 (seis moléculas de água estavam ligadas diretamente ao cromo). Já no verde, a fórmula poderia ser escrita como [CrCl2(H2O)4]Cl.2H2O (dois cloretos estão ligados diretamente ao metal). Novamente, um complexo com fórmula química do tipo [MA4B2] apresentava isomeria. A síntese de outros complexos com esta estequiometria levava sempre à mesma conclusão: dois isômeros. Era preciso descobrir que geometria possibilitaria a formação de isômeros. Werner postulou que os seis ligantes iriam se distribuir de maneira simétrica ao redor do metal. Desta forma, ele chegou a três estruturas básicas: um hexágono planar, uma forma prismática e de um octaedro (Figura 54). Em um complexo com todos os seis ligantes iguais, não haveria como diferenciar as estruturas, visto que todas as posições seriam equivalentes. No entanto, com ligantes diferentes, em proporções diferentes, isto poderia ser feito. O número de isômeros de um complexo formado por um metal (M) e dois ligantes diferentes (A e B), de fórmula [MA4B2] era conhecido de isômeros e apenas uma das estruturas levava ao número correto de isômeros: um hexágono planar apresentaria três os isômeros. O mesmo número de isômeros seria encontrado para a forma prismática. Já na estrutura octaédrica, um complexo de fórmula MA4B2 teria apenas dois isômeros. Em um complexo de fórmula MA3B3 se observaria exatamente o mesmo número de isômeros para cada uma das diferentes estruturas. Bastaria Werner investigar quantos isômeros eram formados em complexos do tipo MA3B3. O resultado observado foi que o número de isômeros era sempre dois, independente de metais e ligantes. Desta forma, Werner teve argumentos sólidos para propor que os complexos formados por seis ligantes tinham geometria octaédrica. Em 1917, Werner ganhou o prêmio Nobel de química “pelo seu trabalho na ligação de átomos em moléculas, o qual trouxe uma nova luz nas recentes investigações e abriu um novo campo de pesquisa especialmente em química inorgânica”. Embora brilhante, o trabalho de Werner não esgotava as perguntas deixadas pelos complexos. Por que as cores diferentes? Como estes compostos realmente são formados? Por que alguns são mais estáveis que outros? Estas perguntas encontrariam suas respostas em diferentes modelos propostos para explicar a formação dessa nova classe de compostos: os complexos ou compostos de coordenação. IFRJ Química Inorgânica 65 A A AA A A A A A A A A A A A A A A (i) (ii) (iii) Figura 54. As estruturas propostas por Werner para um complexo MA6. (i) Um hexágono plano, (ii) em forma de prisma e (iii) o octaedro. O metal (omitido nas figuras) se posiciona no centro das estruturas. 8.2 – Classificação dos ligantes e nomenclatura de complexos Os ligantes são classificados, principalmente, de acordo com o número de ligações que podem fazer com o metal. Existem ligantes monodentados, que são aqueles que fazem somente uma ligação e ligantes ditos quelantes, onde há mais de um ponto de coordenação com o metal. Os ligantes quelantes também são chamados de ligantes polidentados. Existem diversos tipos, como os bidentados (dois pontos de coordenação), tridentados (três pontos de coordenação) ou tetradentados (quatro pontos de coordenação) e assim por diante. Existem também ligantes do tipo ambidentados. São ligantes que possuem dois pontos de coordenação, mas não é possível usá-los juntos com o mesmo metal. Isto é, ou se ligam por um dos pontos ou pelo outro. São, portanto, ligantes monodentados, mas com mais de uma opção de coordenação. São clássicos ligantes ambidentados o SCN–, que pode se ligar pelo enxofre ou pelo nitrogênio e, também, o NO2– que pode se ligar tanto pelo nitrogênio como pelo oxigênio. A Figura 55 mostra a estrutura de alguns ligantes comuns em compostos de coordenação. A nomenclatura de complexos segue uma sistemática própria definida pela IUPAC. As regras básicas são: a) O nome do ânion antecede ao do cátion. b) Quando há vários ligantes iguais são usados os prefixos di, tri, tetra, penta, etc para indicar a quantidade de cada ligante. A exceção desta regra se dá quando o nome do ligante já contém a indicação de um número, como por exemplo, etilenodiamina ou bipiridina. Nestes casos usam-se outros prefixos para indicar o número de ligantes: bis, tris e tetraquis, como nome do ligante sendo colocado entre parênteses. O uso destes prefixos está resumido na Tabela 14. c) Ao escrever o nome do complexo, os ligantes são citados em ordem alfabética, qualquer que seja a sua carga e não levando o prefixo em consideração. O nome do metal deve seguir os dos ligantes, com a indicação de seu estado de oxidação entre parênteses, utilizando algarismos romanos. Não há espaço entre nenhum dos nomes, prefixos ou parênteses. Os ligantes e seus nomes para o uso em nomenclatura de compostos de coordenação, bem como abreviações, estão listados na Tabela 15. IFRJ Química Inorgânica 66 OO Acetilacetonato (acac) N N Bipiridina (bipy) H2N O O Glicinato (gly) H2N NH2 Etilenodiamina (en) O O O O (CH3COCHCOCH3) (NC5H4)2 Oxalato (ox) NH2CH2CO2 NH2CH2CH2NH2 C2O4 2 N Piridina (py) NC5H5 N O O N O O ou Nitrito ou Nitro NO2 N N O O O OO O O O Etilenodiaminotetraacetato (edta ou Y) S C N S C N ou Tiocianato SCN ou Isotiocianato NCS Figura 55. Alguns ligantes importantes para os compostos de coordenação. Em vermelho os átomos que se coordenam ao metal e entre parênteses as abreviações para alguns dos ligantes. Tabela 14. Prefixos para indicar o número de ligantes. Prefixos Número de ligantes Prefixos Número de ligantes Mono (opicional) 1 Hepta 7 Di, bis 2 Octa 8 Tri, tris 3 Nona 9 Tetra, tetraquis 4 Deca 10 Penta, pentaquis 5 Undeca 11 Hexa 6 Dodeca 12 IFRJ Química Inorgânica 67 d) Ao escrever a fórmula química de um composto de coordenação, deve-se agrupar o metal e ligantes com colchetes. O metal é escrito primeiro, seguido dos ligantes em ordem de carga. Primeiro os negativos, seguido dos neutros e, então, os positivos. No caso de dois ou mais ligantes de cada tipo, considera-se a ordem alfabética de acordo com o símbolo do elemento coordenado ao metal. e) O nome de íons complexos positivos ou de complexos neutros não sofre qualquer alteração. f) Ao nome de íons complexos negativos deve ser adicionado o sufixo “ato”. Existem outras regras, para complexos com mais de um centro metálico ou para ligantes em ponte, mas estas regras ou complexos deste tipo não serão abordados. Tabela 15. Nome de alguns ligantes para nomenclatura dos complexos.1 Espécie Nome no complexo Espécie Nome no complexo Fluoreto (F–) Fluoro Piridina (py) Piridino Cloreto (Cl–) Cloro Bipiridina (bipy) Bipiridino Brometo (Br–) Bromo Etilenodiamina (en) Etilenodiamino Iodeto (I–) Iodo Cianeto (CN–) Ciano Trifenilfosfina (P(C6H5)3)2 Trifenilfosfino Amideto (NH2–) Amido Água (H2O) Aquo Hidroxido (OH–) Hidroxo Amônia (NH3) Amin3 Óxido (O2–) Oxo Peróxido (O22–) Peroxo Monóxido de carbono (CO) Carbonil Acetato (CH3COO–) Acetato Óxido Nítrico (NO) Nitrosil Acetilacetonato (acac) Acetilacetonato Gás oxigênio (O2) Dioxigênio Carbonato (CO32–) Carbonato Gás nitrogênio (N2) Dinitrogênio Glicinato (gly) Glicinato Hidreto (H-) Hidrido Nitrato (NO3–) Nitrato Tiocianato (SCN–) Tiocianato4 Sulfato (SO42–) Sulfato Tiocianato (NCS–) Isotiocianato5 Oxalato (ox) Oxalato Nitrito (ONO–) Nitrito6 Fenil (C6H5*, Ph ou φ) Fenil Nitrito (NO2–) Nitro7 1 O ligante etilenodiaminotetraacetato, edta, permanece com o mesmo nome. 2 P(C6H5)3, PPh3 ou Pφ3. 3 Também se encontra o uso de “amino”. 4 Quando ligado pelo enxofre. 5 Quando ligado pelo nitrogênio. 6 Quando ligado pelo oxigênio. 7 Quando ligado pelo nitrogênio. Por exemplo, os complexos [Co(NO2)3(NH3)3] e K4[Fe(CN)6] são nomeados, segundo as regras citadas, como triamintrinitrocobalto(III) e hexacianoferrato(II) de potássio, respectivamente. Analisando cada caso separadamente, começando pela fórmula química do [Co(NO2)3(NH3)3], como o NO2– é um ânion e a amônia é uma molécula neutra, o primeiro aparece antes na fórmula química. O NO2– é um ligante ambidentado e, portanto, tem duas opções de coordenação. Da maneira que a fórmula está escrita, nota-se que é o nitrogênio que está ligado ao metal – o que IFRJ Química Inorgânica 68 leva ao nome nitro. A amônia, NH3, quando coordenada recebe o nome de amin e, portanto, vem antes no nome do complexo. Como são três espécies NO2– e NH3, usa-se o prefixo “tri”. Por fim, o estado de oxidação do cobalto é descoberto pelo somatório das cargas. O complexo como um todo é neutro e cada íon nitrito possui carga –1, dando um total de três cargas negativas. Portanto, o cobalto no complexo citado acima deverá ser +3. O outro composto, normalmente chamado de ferrocianeto de potássio, possui um cátion (K+) que não faz parte do íon complexo, que é a parte abrigada entre os colchetes: [Fe(CN)6]4–. Como cada íon cianeto tem carga –1 o estado de oxidação para o ferro é +2. Sendo seis o número de ligantes, usa-se o prefixo “hexa” antes de “ciano”, que é a nomenclatura para o íon cianeto quando coordenado. Por se tratar de um ânion, é preciso adicionar o sufixo “ato” ao final do nome. 8.3 – Isomeria em compostos de coordenação Existem diversas formas de isomeria em compostos de coordenação, mas o foco aqui será apenas em dois tipos de isomeria: a geométrica e a de ligação. A isomeria geométrica vem de diferentes arranjos com os mesmos ligantes em um complexo octaédrico ou quadrado planar. O primeiro caso de isomeria em geometria octaédrica vem de complexos com fórmula química MA4B2. Como se pode ver na Figura 56, há dois arranjos para esta fórmula. Este arranjo faz lembrar o caso de isomeria cis- e trans- de compostos orgânicos cíclicos. E este é da mesma forma que chamamos estes isômeros. O isômero trans- apresenta os mesmos ligantes (B) em lados opostos em relação a um plano contendo os outros ligantes. No isômero cis-, os ligantes iguais estão em posições adjacentes no octaedro. Complexos com geometria quadrado planar também apresentarão este tipo de isomeria, mas para complexos do tipo MA2B2. A denominação cis- ou trans- para o complexo deve vir antes do nome do mesmo. B A A A M B A A A A A M B B Isômero cis Isômero trans Figura 56. Isomeria geométrica em complexos do tipo MA4B2. Nos complexos octaédricos ainda existe outro tipo de isomeria, para compostos com dois tipos de ligantes, de fórmula MA3B3. A Figura 57 mostra os dois isômeros, nomeados de mer- e fac-. No isômero mer-, que deriva de meridional, os três ligantes iguais estão contidos em um mesmo plano que passa pelo centro do octaedro, ou seja, um plano que contém o metal. No IFRJ Química Inorgânica 69 isômero fac-, que significa facial, os três ligantes iguais estão contidos em uma das faces do octaedro. Assim como no caso para os isômeros cis- e trans-, o caso de isomeria mer- e fac- deve ser escrita no nome do complexo. B A B A B A M B B B A A A M Isômero mer Isômero fac Figura 57. Isomeria geométrica em complexos do tipo MA3B3. Em vermelho a face do octaedro com três ligantes do mesmo tipo. A isomeria de ligação ocorre quando o complexo tem um ligante que é ambidentado. Por conta disto, existirão complexos com a mesma fórmula, mas estrutura diferente, como mostra a Figura 58. Neste caso de isomeria não é preciso acrescentar nada ao nome dos compostos de coordenação, já que o nome do ligante muda dependendo do ponto de coordenação. O NH3 H3N H3N Co NH3 NH3 N O 2+ N NH3 H3N H3N Co NH3 NH3 O 2+ O (I) (II) Figura 58. Isomeria com o ligante NO2– em um complexo [Co(ONO)(NH3)5]2+ (I) (pentaaminonitritocobalto(III)) e [Co(NO2)(NH3)5]2+ (II) (pentaaminonitrocobalto(III)). 8.4 – A Teoria da Ligação de Valência Aplicada a Compostos de Coordenação Sobre o ponto de vista da Teoria da Ligação de Valência (TLV) a formação de um íon complexo é uma reação entre uma base de Lewis (ligante) e um ácido de Lewis (metal ou íon metálico). A base de Lewis doa elétrons ao ácido, formando uma ligação covalente entre as duas espécies. Como esta ligação pode ser classificada como uma ligação coordenada (ou dativa) os compostos deste tipo ficaram conhecidos como compostos de coordenação. IFRJ Química Inorgânica 70 A abordagem da TLV para os compostos de coordenação se dá através da hibridação de orbitais atômicos do átomo central, o ácido de Lewis, em conjunto com as propriedades magnéticas destes compostos. Por exemplo, os complexos do cátion Pt2+ são normalmente tetracoordenados (número de coordenação = 4), diamagnéticos e têm geometria quadrado planar. Como base nestas informações, é possível deduzir a hibridação do complexo. O cátion Pt2+ possui oito elétrons em orbitais d da quinta camada. A Figura 59 mostra o diagrama de orbitais atômicos para a espécie Pt2+. 5d 6s 6p Figura 59. Diagrama de orbitais atômicos para o cátion Pt2+. Como os complexos de platina(II) possuem na maioria das vezes quatro ligantes, é preciso que o cátion possua quatro orbitais atômicos vazios para receber os quatro pares de elétrons dos ligantes. Na Figura 8, vemos que o cátion Pt2+ pode utilizar os quatro orbitais vazios da sexta camada. No entanto, sabe-se que os complexos de platina(II) deste tipo são diamagnéticos. Se os quatro pares de elétrons dos ligantes utilizarem os orbitais dos subníveis 6s e 6p o complexo será paramagnético, pois existem dois elétrons desemparelhados no subnível 5d. Para levar em conta a propriedade magnética, precisa-se considerar o emparelhamento de elétrons no subnível 5d, como mostra a Figura 60. 5d 6s 6p 5d 6s 6p Figura 60. Emparelhamento de elétrons no subnível 5d para o cátion Pt2+ em complexos do tipo [ML4] (M = íon metálico e L = Ligante). A se considerar o emparelhamento, um dos orbitais do subnível 5d fica vazio e, portanto, será usado na hibridação. Dessa forma, ao invés de se obter uma hibridação do tipo sp3 se terá uma hibridação do tipo dsp2 (um orbital 5d, o orbital 6s e dois orbitais 6p, Figura 61). Isto também é consistente com a geometria observada dos complexos. No caso de uma hibridação sp3 a IFRJ Química Inorgânica 71 geometria do complexo seria tetraédrica. Já com a hibridação do tipo dsp2 a geometria é quadrado planar, como a observada experimentalmente. 5d 6s 6p 5d p 4 orbitais híbridos do tipo dsp2 Figura 61. Esquema de hibridação dos orbitais atômicos para o cátion platina(II). O níquel(II) também possui oito elétrons em orbitais d e existem diversos complexos com o cátion Ni2+ que possuem as mesmas características dos complexos de platina(II). No entanto, existem também alguns complexos onde o ligante é o mesmo, o número de coordenação é o mesmo, mas com propriedades são diferentes. Um exemplo deste tipo são os complexos [PtCl4]2– e [NiCl4]2–. O complexo tetracloroplatinato(II) é diamagnético. Já o complexo tetracloroniquelato(II) é paramagnético. Além disso, as geometrias dos dois são diferentes. Isto pode ser explicado pela TLV utilizando o mesmo raciocínio anterior. O complexo tetracloroplatinato(II) por ser diamagnético terá uma hibridação dsp2 e geometria quadrado planar. Já o complexo tetracloroniquelato(II), por ser paramagnético, mantém os seus elétrons desemparelhados no subnível 3d. Portanto, os quatro orbitais atômicos usados para a hibridação serão o 4s e os três do subnível 4p. Como a hibridação será sp3 (Figura 62) a geometria do ânion [NiCl4]2– é tetraédrica. 4s 4p 3d 4 orbitais hibrídos do tipo sp3 3d Figura 62. Hibridação do níquel(II) no complexo [NiCl4]2–. IFRJ Química Inorgânica 72 Embora a TLV explique alguns pontos da química dos compostos de coordenação, ela falha em alguns pontos. Como na explicação das cores dos complexos ou por usar um dado experimental para prever outras propriedades do composto. Por conta disto, outras teorias surgiram para descrever a ligação, estrutura e propriedades dos complexos. 8.5 – A Teoria do Campo Cristalino (TCC) Quando Bohr teve sucesso na descrição do espectro atômico do hidrogênio através de sua teoria das órbitas quantizadas, ficou claro que espectroscopia e a configuração eletrônica das espécies estavam intimamente ligadas. Para entender, por exemplo, as cores dos compostos de coordenação, era preciso uma teoria que envolvesse a configuração eletrônica destes. A Teoria do Campo Cristalino (TCC) foi uma das teorias que surgiram para explicar o comportamento eletrônico dos compostos de coordenação. Com argumentos bastante simples, a TCC explicava diversas propriedades dos compostos de coordenação e, por isso, passou a ser utilizada para prever e explicar o comportamento desses compostos. Segundo a TCC cada ligante é tratado como um ponto esférico de densidade negativa que, ao se aproximar do metal, entra em repulsão com os elétrons que ocupam orbitais do tipo d dos metais. A repulsão causada pelos ligantes irá depender do arranjo destes em relação ao metal (e seus orbitais d). Quando são seis os ligantes, a geometria é octaédrica (o que se chama na TCC de campo octaédrico). Para quatro ligantes, o campo é tetraédrico (se a geometria for tetraédrica). No campo octaédrico, os ligantes se aproximam na direção dos eixos espaciais x, y e z. Os orbitais do tipo d, posicionados nos eixos, experimentarão uma maior repulsão do que os posicionados na região entre os eixos (Figura 63). Quando analisamos os cinco orbitais d, os dois que estão posicionados nos eixos ( 2y2xd − e 2zd ) aumentarão de energia, enquanto os três entre os eixos (dXY, dXZ e dYZ) terão uma energia menor (Figura 64). Há, portanto, uma quebra na degenerescência dos cinco orbitais d, dando origem ao desdobramento dos orbitais d, onde os orbitais 2y2xd − e 2zd são chamados de orbitais eg e os orbitais dXY, dXZ e dYZ são chamados de t2g. A diferença de energia entre os orbitais eg e t2g é chamada de parâmetro de desdobramento do campo cristalino, simbolizado por Δo (Dq ou 10Dq também são usados para expressar esta diferença de energia). IFRJ Química Inorgânica 73 Figura 63. Orbitais d do metal em um campo octaédrico. Δo -2/5 Δoorbitais d eg t2g +3/5 Δo Figura 64. Desdobramento dos orbitais d em um campo octaédrico. A estabilidade dos complexos (e algumas outras propriedades) dependerá de como os elétrons estarão distribuídos. Define-se a energia de estabilização do campo cristalino, EECC, como sendo Oge2gt )Δ0,6n0,4n(EECC +−= (25) onde n é o número de elétrons que ocupa os orbitais. Quanto mais negativa for EECC, maior é o ganho em estabilidade causado pelo desdobramento. Por exemplo, o íon Cr3+ tem configuração d3. Portanto seus três elétrons irão ocupar os orbitais t2g. Então a energia de estabilização para um complexo deste íon seria: OOCr 1,2Δ0)Δ0,630,4(EECC −=⋅+⋅−= (26) IFRJ Química Inorgânica 74 A partir de íons com configuração d4 existem duas possibilidades: ou ocupar os orbitais de maior energia (eg) ou ter elétrons emparelhados nos orbitais de menor energia. Sempre que a energia de desdobramento (ΔO) for maior que a energia gasta para o emparelhamento de elétrons (P) o sistema terá elétrons emparelhados. Estes complexos são chamados de complexos de campo alto ou de spin baixo. Entretanto, se o desdobramento for menor que a energia de emparelhamento, o elétron ocupa um orbital de maior energia. Os complexos com configuração eletrônica deste tipo são chamados de complexos de campo fraco ou de spin alto. Por tais motivos torna-se de fundamental importância saber que fatores influenciam na magnitude de ΔO. E são dois os mais importantes: o metal (quanto ao número de oxidação e a série de transição a que pertence) e o ligante. O metal exerce forte influência no desdobramento. Ao aumentarmos a carga do metal o desdobramento aumenta, pois quanto maior é a carga, maior é a atração entre o metal e o ligante. Ademais, séries de transição mais elevadas geram maiores desdobramentos. Tal comportamento é explicado, pois orbitais mais volumosos necessitam de menor energia para o emparelhamento de elétrons e, por serem mais difusos (maior polarizabilidade), geram maiores interações com os ligantes. Como exemplo deste efeito podemos citar o [Fe(H2O)6]3+ que possui ΔO = 14000 cm-1 (1,74 eV) enquanto o [Ru(H2O)6]3+ tem ΔO = 28600 cm-1 (3,55 eV). A natureza do ligante também é responsável pela magnitude do desdobramento. Os ligantes que forçam o emparelhamento ou, em outras palavras, causam um grande desdobramento, são chamados de ligantes de campo forte. Já os ligantes que irão formar um complexo de spin alto são chamados de ligantes de campo fraco. A determinação dos valores de ΔO se dá por espectroscopia. Analisando-se as transições e energias envolvidas podem-se calcular os valores de ΔO. Com base nesses dados, construiu-se a série espectroquímicaa: I–<Br–<S2–<SCN–<Cl–<NO2–<<F–<OH–<C2O42– (ox)<O2–<H2O <NCS–<CH3CN<NC5H5 (py)<NH3<NH2CH2CH2NH2 (en) <2,2´-NC5H5C5H5N (bipy)<NO2–<P(C6H5)3<CH3–<CN–<CO Os ligantes do início da série são considerados de campo fraco e os do final os de campo forte. A TCC não consegue explicar a ordem dos ligantes na série espectroquímica. Levando-se em conta a força da interação eletrostática era de se esperar que um ligante carregado causasse uma ligação mais intensa do que ligantes neutros (e, portanto, um maior desdobramento). Outro exemplo da imprecisão da TCC na série espectroquímica é que a água é um ligante mais fraco que a amônia, mesmo tendo um momento de dipolo maior. A série espectroquímica foi explicada mais tarde por uma outra teoria, baseada nos orbitais moleculares. a Em negrito está o átomo que fará a ligação em ligantes ambidentados. As abreviações são: oxalato (ox); piridina (py), etilenodiamina (en) e bipiridina (bipy). Esta série é resultado de uma média de parâmetros, podendo haver inversões em alguns casos. IFRJ Química Inorgânica 75 A abordagem feita para o campo octaédrico também foi feita para o tetraédrico. A diferença é a posição dos ligantes em relação aos orbitais d. Em um complexo octaédrico, os ligantes estão posicionados nos eixos (Figura 63), enquanto no campo tetraédrico, os ligantes estão posicionados fora dos eixos. Portanto, os ligantes de um complexo com geometria tetraédrica irão afetar os orbitais d do metal de forma diferente da observada em um campo octaédrico. Os orbitais d fora do eixo (dXY, dXZ e dYZ) serão mais afetados pela presença dos ligantes e, por isso, serão os de maior energia no diagrama dos orbitais – onde são identificados como orbitais t2. Já os dois orbitais que ficam nos eixos serão os de menor energia, chamados de orbitais e. A Figura 65 mostra o desdobramento dos orbitais d para um campo tetraédrico. A magnitude do parâmetro de desdobramento do campo cristalino para complexos tetraédricos (Δtd) é menor que para os complexos do mesmo metal em um campo octaédrico. Normalmente, os complexos tetraédricos são de campo fraco: Δtd é menor que a energia de emparelhamento dos elétrons. Δtd +2/5 Δtd orbitais d e t2 -3/5 Δtd Figura 65. Desdobramento dos orbitais d em um campo octaédrico. A geometria tetraédrica não é a única possível para o número de coordenação 4. Há também a geometria quadrado planar. A geometria quadrado planar pode ser vista como um caso extremo do efeito de Jahn-teller. O efeito de Jahn-Teller causa uma distorção geométrica em complexos octaédricos, principalmente em complexos onde os metais possuem configuração eletrônica d8 e d9. A distorção causada pelo efeito de Jahn-Teller pode ou alongar ou encurtar as ligações de alguns dos ligantes e isto leva a uma mudança no diagrama de orbitais. A Figura 66 mostra as distorções que levará até um complexo com geometria quadrado planar. IFRJ Química Inorgânica 76 L L L L L M L L L L L L M L L L L L M a) b) c) Figura 66. Uma distorção causada pelo efeito de Jahn-Teller. a) Um complexo octaédrico regular; b) os ligantes no eixo z se afastam; e c) um complexo com geometria quadrado planar. Ao considerar que os ligantes do eixo z irão se distanciar, até que não haja mais ligação entre eles e o metal, admite-se que a repulsão nos orbitais localizados no eixo z irá diminuir. Assim, um novo desdobramento irá ser observado, onde os orbitais com componentes no eixo z terão energia menor do que no campo octaédrico, enquanto os outros orbitais sofrem um acréscimo energético em relação à situação anterior (Figura 67). Os complexos quadrado planar são, tipicamente, de campo forte. Desta forma, os elétrons são emparelhados antes de se ocupar um orbital de maior energia. orbitais d eg t2g dxz dyz dxy dz2 dx2-y2 Quadrado Planar Octaédrico dxz dyz dxy dz2 dx2-y2 Figura 67. Desdobramento em um complexo com geometria quadrado planar. IFRJ Química Inorgânica 77 8.6 – A Origem das Cores dos Compostos de Coordenação Segundo a TCC Segundo a TCC, muitas vezes as cores observadas nos complexos têm origem em transições eletrônicas entre os orbitais d do metal sendo, portanto, um reflexo do desdobramento destes orbitais. Quanto maior for desdobramento, mais energia será necessária para as transições eletrônicas acontecerem. Dessa forma, o comprimento de onda absorvido será menor.b Quando a luz branca (luz visível) atravessa o composto, este absorve um dado comprimento de onda com energia idêntica ao da magnitude do desdobramento dos orbitais d, e os outros comprimentos de onda presentes passam sem serem absorvidos. Portanto, enxergamos uma mistura de cores de todos os comprimentos de onda – menos o que foi absorvido. É o que chamamos de cores complementares. A Tabela 16 mostra as cores e suas cores complementares. Voltando ao caso descrito por Werner para os isômeros CrCl3.6H2O. Quando se tinha o complexo [Cr(H2O)6]3+, era observada uma cor azul para violácea. Isto significa que a absorção se dá numa faixa entre 560 e 595 nm. Já o complexo [CrCl2(H2O)4]+ exibe uma cor verde escura, sinal de que absorve o comprimento de onda característico da cor vermelha, na faixa de 650 à 750 nm. Isto está de acordo com a série espectroquímica. O cloreto é um ligante mais fraco que a água e, portanto, a troca de moléculas de água por íons cloreto causa uma diminuição na magnitude do desdobramento dos orbitais. Portanto, observa-se que o íon-complexo [CrCl2(H2O)4]+ tem seu máximo de absorvância num comprimento de onda maior (de menor energia) que o do íon- complexo [Cr(H2O)6]3+. Medindo-se o comprimento de onda absorvido por um complexo em uma transição eletrônica do tipo d-d (entre os orbitais t2g e eg) determina-se o valor experimental do parâmetro de desdobramento do campo cristalino (ΔO). Tabela 16. Cores e suas cores complementares. Comprimento de onda (nm) Cor Absorvida Cor Complementar 400 – 435 Violeta Amarelo esverdeado 435 – 480 Azul Amarelo 480 – 490 Azul esverdeado Laranja 490 – 500 Verde azulado Vermelho 500 – 560 Verde Roxo 560 – 580 Amarelo esverdeado Violeta 580 – 595 Amarelo Azul 595 – 650 Laranja Azul esverdeado 650 – 750 Vermelho Verde azulado b Lembre-se: pela relação de Planck, E = h.c/λ. Então, quanto menor o comprimento de onda (λ) maior é a energia (E). IFRJ Química Inorgânica 78 O princípio é muito simples, semelhante a qualquer fenômeno de absorção/emissão de energia por um átomo. Porém, nem todas as transições eletrônicas são possíveis entre os orbitais d do metal. Existem transições que são prováveis, que são chamadas de transições permitidas, e outras pouco prováveis, as ditas transições proibidas. Para classificar as transições eletrônicas como permitida ou proibida, usam-se duas regras de seleção: a) Regra de seleção por spin Esta regra define que em uma transição eletrônica provável não há mudança de spin de um elétron. Na Figura 68, como os orbitais eg estão vazios qualquer um dos elétrons nos orbitais t2g pode ser excitado aos orbitais eg sem a necessidade de inversão do spin. Têm-se então cinco transições permitidas no caso ilustrado na Figura 68. O número de transições permitidas influencia na intensidade de absorção e, portanto, na intensidade da cor observada. orbitais d eg t2g Figura 68. Exemplo de desdobramento dos orbitais d em um campo octaédrico forte. Neste caso, qualquer um dos cinco elétrons pode ser excitado aos orbitais eg sem que haja inversão do spin. A Figura 69 mostra um sistema diferente. Existe a possibilidade de transição eletrônica, porém os elétrons em orbitais t2g, ao serem excitados, precisam mudar de spin para ocupar os orbitais eg sem violar o Princípio da Exclusão de Pauli. Portanto, qualquer transição neste sistema seria uma transição proibida. Compostos nesta situação possuem coloração muito pálida ou incolor. orbitais d eg t2g A transição só é possível através da inversão do spin. Figura 69. Exemplo de desdobramento dos orbitais d em um campo octaédrico fraco. Para que um dos três elétrons possa ser excitado aos orbitais eg é preciso que haja inversão do spin. IFRJ Química Inorgânica 79 b) Regra de Laporte A regra de Laporte afeta mais os complexos de geometria octaédrica. Segundo esta regra, as transições eletrônicas entre orbitais de mesma paridade (isto é, orbitais classificados como “g”) são proibidas. Teoricamente esta regra anularia qualquer transição eletrônica de complexos octaédricos, pois as transições são entre os orbitais t2g e eg. Na prática, como as ligações não são estáticas e estão sempre vibrando o complexo nem sempre será um octaedro perfeito levando a uma perda de simetria dos orbitais. Como as transições eletrônicas são muito mais rápidas que as vibrações das ligações, há a possibilidade de transição de elétrons entre os orbitais d durante estas distorções geométricas. Tal problema não ocorre entre os complexos tetraédricos, já que nesta geometria não há centro de inversão e, portanto, os orbitais não recebem a classificação “g”. Alguns complexos possuem cores oriundas de outras transições eletrônicas que não as do tipo d-d. Como não se pode explicá-las de maneira satisfatória através da TCC, não iremos abordá-las. IFRJ Química Inorgânica 80 Exercícios 1 – Nomeie os compostos abaixo: a) Ni(CO)4 e) Fe(CO)5 i) [Co(H2O)6]Cl2 b) Fe[CoF6] f) K3[Fe(CN)6] j) Na2[Zn(OH)4] c) [RuCl2(NH3)4]Cl g) [Cr(NH3)3(H2O)3]Cl3 l) [Fe(acac)(NH3)4]Br d) [Co(NH3)6][NiCl4] h) [AgCl2]– m) Na[Fe(EDTA)] 2 – Considere um complexo formado pelo íon cobalto (III), dois ânions tiocianato e quatro amônias. a) Quantos são os isômeros para este complexo? b) Escreva a fórmula estrutural de todos os isômeros. c) Nomeie todos os isômeros. 3 – Com base nas informações experimentais fornecidas, deduza a hibridação do metal e geometria dos complexos listados abaixo: a) [Ni(CO)4]2+ é diamagnético. b) [Co(NH3)6]3+ é diamagnético. c) [CoF6]3– é paramagnético. 4 – Explique porque o complexo [Ru(ox)3]3– é um complexo de campo forte enquanto o [Fe(ox)3]3– é de campo baixo. Mostre também o diagrama dos orbitais d para cada complexo. 5 – Por que a TCC não pode ser usada para explicar a ordem de força dos ligantes? Por exemplo, F– e OH– são ligantes mais fracos que P(C6H5)3 e CO. 6 – Por que os orbitais 2zd e 22 yxd − são os de maior energia quando a geometria é octaédrica e de menor energia quando a geometria é tetraédrica? 7 – Preveja qual dos compostos apresentará o maior Δo e justifique sua escolha: a) [CoF6]3– ou [Co(CN)6]3– b) [Ru(CN)6]3– ou [Fe(CN)6]3– c) [Fe(CN)6]3– ou [Fe(CN)6]4– 8 – Preveja, com base nas informações dadas, se os complexos são de campo forte ou fraco. Justifique suas escolhas. a) O complexo [Mn(H2O)6]2+ é incolor. b) O complexo [Ru(NH3)6]2+ é diamagnético. 9 – Ordene os complexos abaixo conforme o aumento do comprimento de onda absorvido. Justifique a ordem escolhida. [Co(H2O)6]2+; [Co(SCN)4]2–; [Co(CN)6]3–; [CoCl4(H2O)2]2– IFRJ Química Inorgânica 81 Bibliografia ATKINS, P. W. e FRIEDMAN, R. S. Molecular Quantum Mechanics. 3a edição. Oxford: Oxford University Press, 1997. ATKINS, P. W. e SHRIVER, D. F. Inorganic Chemistry. 3a edição. 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WERNER, A. “On the Constitution and Configuration of higher-order Compounds.” Nobel Lectures, Chemistry 1901–1921, 256-269, 1913. Referências para as figuras: Figura 2: Extraída e adaptada de: DEPARTAMENT OF PHYSICS, UNIVERSITY OF CINCINNATI. Acessado em 29/09/2006 www.physics.uc.edu/~sitko/CollegePhysicsIII/28-AtomicPhysics/AtomicPhysics.htm Figuras 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 23, 24, 25, 32, 33, 50, 56, 58 e 64: Extraídas e adaptadas de: ATKINS, P. W. e SHRIVER, D. F. Inorganic Chemistry. 3a edição. Oxford: Oxford University Press, 1999. Figura 8: Extraída e adaptada de: DEPARTMENT OF CHEMISTRY, MICHIGAN STATE UNIVERSITY. Acessado em 29/09/2006. www.cem.msu.edu/~corneill/poster/piso1.gif Figura 63: Extraída e adaptada de: mooni.fccj.org/~ethall/cobalt/cobalt.htm IFRJ Química Inorgânica 82 Química Inorgânica: Aulas Experimentais Comportamento Químico dos Compostos Iônicos 83 Obtenção e Propriedades do Hidrogênio 84 Obtenção e Propriedades do Peróxido de Hidrogênio 85 Estudo do Cromo, Manganês, Ferro, Cobalto e Cobre 86 Compostos de Coordenação 89 IFRJ Química Inorgânica 83 Comportamento Químico dos Compostos Iônicos 1) Hidratação e Deliqüescência (Demonstrativo) Coloque uma pequena porção de cloreto de cálcio e cloreto de sódio em dois vidros de relógio. Observe-os no final da aula. 2) Hidrólise, Deslocamento de Equilíbrio e Anfoterismo 2.1 – a) Adicione 1,0 mL de solução de sulfato de alumínio em um tubo de ensaio. Verifique o pH da solução usando papel indicador universal. b) Acrescente ao tubo um pedaço lixado de fita de magnésio, observando o conteúdo do tubo e da fita de magnésio após o término da liberação gasosa. c) Para um efeito comparativo, repita o teste substituindo a solução de sulfato de alumínio por soluções de ZnSO4, MgSO4, Na2SO4 e Fe2(SO4)3. 2.2 – a) Adicione 1,0 mL de uma solução aquosa de cloreto, nitrato ou sulfato de alumínio em dois tubos de ensaio e meça o pH da solução (se já foi medido no item 2.1 não é necessário repetir). b) Adicione, gota a gota, solução de hidróxido de sódio 5% até observar o término da precipitação nos dois tubos. c) Em um dos tubos contendo o precipitado, adicione, gota a gota, solução aquosa de HCl 10%. No outro tubo, continue adicionando NaOH até que se tenha grande excesso da base. Observe se há dissolução do precipitado nos tubos. d) Repita a experiência 2.2 para soluções aquosas (cloretos, nitratos ou sulfatos) dos seguintes cátions: Zn2+, Mg2+ e Fe3+. 3) Decomposição Térmica a) Coloque em um tubo de ensaio uma pequena porção de nitrato de alumínio sólido. Na capela, aqueça o tubo e registre o tempo até o aparecimento de um gás castanho. b) Repita o procedimento acima utilizando os nitratos de cobre II, cálcio e sódio. Compare os resultados obtidos. IFRJ Química Inorgânica 84 Obtenção e Propriedades do Hidrogênio 1. Obtenção do gás hidrogênio 1.1 – Reação entre metais e ácidos Em um tubo de ensaio, coloque uma pequena porção de zinco metálico. Adicione ao tubo 1,0 mL de solução aquosa 6,0 mol/L de ácido clorídrico ou ácido sulfúrico e observe. Repita o mesmo procedimento trocando o zinco metálico por ferro, alumínio e cobre. Aqueça o tubo de ensaio se necessário. 2. Propriedades do gás hidrogênio 2.1 – Preparação e recolhimento Encha com água cerca de 2/3 da capacidade de uma cuba e introduza dois tubos de ensaio nela. Verifique se não há bolhas no interior dos tubos. Em um tubo de ensaio com saída lateral, coloque uma pequena porção de zinco metálico. Adicione cerca de 5 mL de solução aquosa de ácido clorídrico ou ácido sulfúrico (6,0 mol/L) ao tubo, fechando o sistema em seguida. Introduza o tubo de látex na cuba e despreze as primeiras bolhas de gás. Recolha o gás nos dois tubos de ensaio. Segure os tubos de ensaio de cabeça para baixo e realize, imediatamente, as experiências descritas no item 2.2. Aproveite o sistema gerador de gás para a experiência 2.3.1. 2.2 – Testes de comburência e combustibilidade Comburência: Introduza um palito de fósforo (ou barbante) em brasa no interior de um dos tubos contendo hidrogênio e observe. Combustibilidade: Aproxime a chama de um palito de fósforo do gargalo de um dos tubos contendo hidrogênio e observe. 2.3 – Reatividade do hidrogênio molecular e hidrogênio nascente 2.3.1 – Hidrogênio molecular Introduza o tubo de látex da experiência 2.1 em um tubo de ensaio contendo solução aquosa de Fe(NO3)3 e 3 gotas de ácido sulfúrico. Observe. Repita o mesmo procedimento usando soluções de KMnO4 e K2Cr2O7 ao invés da solução de Fe(NO3)3. 2.3.2 – Hidrogênio nascente Coloque 2 mL de Fe(NO3)3, KMnO4 e K2Cr2O7 em diferentes tubos de ensaio. Adicione uma pequena quantidade de zinco metálico e 2 mL de ácido clorídrico ou sulfúrico em todos os tubos e observe. Compare os resultados das experiências 2.3.1 e 2.3.2. IFRJ Química Inorgânica 85 Obtenção e Propriedades do Peróxido de Hidrogênio 1) Obtenção Em uma cuba, prepare um banho refrigerante com gelo (misture sal grosso se necessário). Em seguida, transfira para um béquer de 150 mL, cerca de 80 mL de água deionizada. Introduza o béquer na cuba e espere alguns minutos até que a água fique gelada. Adicione lentamente 10 mL de uma solução aquosa de ácido sulfúrico 2,0 mol/L no béquer contendo a água gelada e meça o pH ao final da adição usando um papel indicador universal. Acrescente, agitando continuamente com um bastão de vidro, cerca de 2 g de peróxido de sódio em pequenas porções. Verifique o pH do meio com o papel indicador universal a cada adição de peróxido de sódio. Interrompa a adição do peróxido de sódio quando o meio estiver fracamente ácido (pH = 6). Use esta solução de peróxido de hidrogênio para os ensaios posteriores. 2) Teste de identificação Em um tubo de ensaio, junte 2,0 mL de solução de dicromato de potássio e 1,0 mL de ácido sulfúrico 2,0 mol/L. Adicione em seguida 2,0 mL de éter etílico ou álcool amílico. Então, adicione 2,0 mL da solução de peróxido de hidrogênio preparada. Agite levemente o tubo e observe a cor na camada orgânica. 3) Propriedades 3.1 – Ação oxidante a) Adicione cerca de 3 mL da solução de peróxido de hidrogênio em um tubo de ensaio e, em seguida, 2 mL de iodeto de potássio amidonado. Observe até o fim da prática. b) Umedeça uma tira de papel de filtro com solução de acetato de chumbo II. Na capela, exponha o papel ao gás sulfídrico. Observe a coloração do papel. Adicione algumas gotas da solução de peróxido de hidrogênio ao papel e observe. c) Transfira 1 mL de uma solução de cloreto de cromo para um tubo de ensaio. Em seguida, adicione hidróxido de sódio até a dissolução do precipitado. Adicione a solução de peróxido de hidrogênio, gota a gota, e observe. 3.2 – Ação redutora a) Em um tubo de ensaio contendo 0,5 mL de permanganato de potássio 0,01 mol/L, 2 mL de água e 1 mL de ácido sulfúrico 2 mol/L, adicione 5 mL da solução de peróxido de hidrogênio. Observe. b) Em um tubo contendo 1 mL das soluções de ferricianeto de potássio e cloreto férrico, adicione 3 mL da solução de peróxido de hidrogênio. Observe. IFRJ Química Inorgânica 86 Estudo do Cromo, Manganês, Ferro, Cobalto e Cobre 1) Cromo 1.1 – Redução do íon Cr2O72– Adicione a um tubo de ensaio 1,0 mL de solução de dicromato de potássio e 2,0 mL de ácido sulfúrico 0,10 mol/L. Em outro tubo de ensaio (de preferência seco), transfira alguns cristais de sulfito de sódio. Verta a mistura do primeiro tubo no tubo contendo o sulfito de sódio e observe. 1.2 – Caráter anfótero do Cr(OH)3 Transfira 1,0 mL de solução de cloreto de cromo III para dois tubos de ensaio. Em seguida, adicione solução de hidróxido de sódio 5% nos dois tubos até observar a precipitação do hidróxido de cromo III. A um dos tubos, adicione solução de ácido clorídrico e observe. Ao outro tubo, adicione cuidadosamente excesso da solução de hidróxido de sódio 5%. Observe o resultado e reserve este tubo para a experiência 1.3. 1.3 – Oxidação ao íon CrO42– Transfira cerca de 2,0 mL do conteúdo do tubo de ensaio da experiência 1.2 para outro tubo. A este tubo, adicione solução de peróxido de hidrogênio gota a gota e observe. 2) Manganês 2.1 – Números de oxidação do manganês (Demonstrativo) Aqueça em um cadinho uma pequena porção de permanganato de potássio até a liberação de gás. Verta o sal aquecido em uma proveta (2 L) cheia de água e observe. 2.2 – Formação do íon manganato Em um tubo de ensaio contendo 2,0 mL de solução de permanganato de potássio e 3,0 mL de solução de hidróxido de sódio 5%, adicione um ou dois cristais de sulfito de sódio. Aguarde até cerca de dois minutos e observe se há mudança de coloração. Caso a cor permaneça, aqueça o tubo. 2.3 – Poder oxidante do íon MnO4– 2.3.1 – Meio ácido Em um tubo de ensaio adicione 2,0 mL de solução de permanganato de potássio e 1,0 mL de solução de ácido sulfúrico 0,10 mol/L. Em seguida, transfira 1,0 mL de solução de iodeto de potássio para o tubo. Observe a coloração. Adicione duas gotas de goma de amido ao sistema e observe. 2.3.2 – Meio básico Repita o procedimento anterior, trocando a solução de ácido sulfúrico por solução de hidróxido de sódio 5%. Adicione a goma de amido e observe. IFRJ Química Inorgânica 87 3) Ferro 3.1 – Identificação do Fe2+ Em quatro tubos de ensaio contendo 2 mL de solução de sulfato ferroso amoniacal, adicione algumas gotas das seguintes soluções (uma em cada tubo): a) Ferricianeto de potássio (K3[Fe(CN)6]); b) Tiocianato de potássio (KSCN); c) Ferrocianeto de potássio (K4[Fe(CN)6]); d) Hidróxido de sódio. 3.2 – Identificação do Fe3+ Em quatro tubos de ensaio contendo 2 mL de solução de cloreto férrico, adicione algumas gotas das seguintes soluções (uma em cada tubo): a) Ferricianeto de potássio (K3[Fe(CN)6]); b) Tiocianato de potássio (KSCN); c) Ferrocianeto de potássio (K4[Fe(CN)6]); d) Hidróxido de sódio. Compare os resultados dos procedimentos 3.1 e 3.2 e escolha a melhor forma de diferenciar e identificar os íons Fe2+ e Fe3+. 3.3 – Oxidação do íon Fe2+ a íon Fe3+ A um tubo de ensaio contendo 1,0 mL de solução de sulfato ferroso amoniacal, juntar 1,0 mL de solução de ácido sulfúrico diluído. Em seguida, adicionar ao tubo, gota a gota, solução de permanganato de potássio. Faça o teste de identificação de Fe2+ ou Fe3+ para caracterizar a espécie presente após a reação. 3.4 – Oxidação de Fe0 A um tubo de ensaio contendo 5,0 mL de solução 5% (m/v) de ácido clorídrico adicione uma pequena porção de ferro metálico. Observe (aqueça o sistema se necessário). Deixe o tubo em repouso e faça o teste de identificação de Fe2+ ou Fe3+ para caracterizar a espécie presente após a reação. 4) Cobalto 4.1 – Oxidação do íon Co2+ Juntar em um tubo de ensaio 2,0 mL de solução de Co2+ com 2,0 mL de uma solução de NaOH. Adicionar ao produto formado um pouco de solução de peróxido de hidrogênio. Observe. 5) Cobre 5.1 – Redução do íon Cu2+ ao íon Cu+ Em um tubo de ensaio contendo 2,0 mL de solução de sulfato de cobre II adicionar gotas de solução de iodeto de potássio até parar a precipitação ocorrida. Observe todas as IFRJ Química Inorgânica 88 mudanças ocorridas. Em seguida, adicionar algumas gotas de uma solução de goma de amido. Observe novamente. 5.2 – Redução do íon Cu2+ a Cu0 Em um tubo contendo 3,0 mL de solução de sulfato de cobre II, introduza um pedaço de ferro metálico (sem sinais de oxidação). Observe. 5.3 – Oxidação do Cu0 ao íon Cu2+ Na capela, coloque em um tubo de ensaio um pedaço de cobre metálico e 2,0 mL de ácido nítrico concentrado. Observe. IFRJ Química Inorgânica 89 Compostos de Coordenação 1) Complexos de Cobre II a) Em um tubo de ensaio contendo 2,0 mL de solução de sulfato de cobre II 0,1 mol/L adicione lentamente, na capela, solução aquosa concentrada de amônia. Observe a coloração da solução. Adicione água deionizada lentamente e observe. b) Em um tubo de ensaio contendo 2,0 mL de solução de sulfato de cobre II 0,1 mol/L adicione cloreto de sódio sólido em pequenas quantidades até a saturação da solução. Observe o efeito da adição de cloreto de sódio. Adicione água deionizada lentamente e observe. 2) Complexos de Cobalto II Faça uma diluição (1:2) de 4,0 mL de uma solução de cloreto de cobalto II 3%. a) Transfira para um tubo de ensaio 0,5 mL da solução aquosa de cloreto de cobalto II diluída. Na capela, adicione cuidadosamente ácido clorídrico concentrado ao sistema e observe. Após isto, adicione água deionizada e observe. b) Transfira 2,0 mL da solução aquosa de cloreto de cobalto II diluída para um tubo de ensaio. Adicione 5,0 mL de uma solução aquosa de oxalato de sódio 0,125 mol/L e observe. Reserve o tubo para comparação na experiência “2d.” c) Em um tubo de ensaio contendo 2,0 mL da solução de cloreto de cobalto II diluída e adicione 5,0 mL de solução aquosa saturada de tiocianato de potássio e observe. Reserve o tubo para comparação na experiência “2d.” d) Em um tubo de ensaio contendo 1,0 mL de solução aquosa de cloreto de cobalto II diluída adicione 2,5 mL de solução aquosa de oxalato de sódio 0,125 mol/L. Ao mesmo tubo, adicione 2,5 mL de solução concentrada de tiocianato de potássio e observe. Refaça a experiência trocando a ordem de adição dos ligantes tiocianato e oxalato (Se preciso, compare a coloração com os tubos das experiências “2b” e “2c”). 3) Complexos de Ferro III a) Transfira 1,0 mL de uma solução aquosa de cloreto férrico 0,10 mol/L para três tubos de ensaio. Adicione ao primeiro tubo 4,0 mL de solução aquosa de oxalato de sódio 0,125 mol/L. Ao segundo tubo, adicione 4,0 mL de solução aquosa de fluoreto de sódio 0,25 mol/L. Acrescente 4,0 mL de água deionizada ao terceiro tubo. Observe atentamente as cores das soluções. IFRJ Química Inorgânica 90 Aos três tubos adicione gota a gota solução de tiocianato de potássio (ou amônio) de concentração 0,10 mol/L até mudança de coloração. Conte o número de gotas gasto para provocar a mudança em cada tubo. b) Transfira para dois tubos de ensaio 0,5 mL de solução aquosa de cloreto férrico 0,10 mol/L e 2 mL de uma solução de oxalato de sódio 0,125 mol/L. Observe a cor da solução nos tubos de ensaio. Adicione em seguida 2,0 mL de uma solução de fluoreto de sódio 0,25 mol/L em um deles e no outro 2,0 mL de água deonizada. Observe. c) Transfira para dois tubos de ensaio 0,5 mL de solução aquosa de cloreto férrico 0,10 mol/L e 2,0 mL de uma solução de flureto de sódio 0,25 mol/L. Observe a cor da solução nos tubos de ensaio. Adicione em seguida 2,0 mL de uma solução de oxalato de sódio 0,125 mol/L em um deles e no outro 2,0 mL de água deonizada. Observe. Compare os resultados dos tubos de ensaio das experiências “3b” e “3c”. 4) Complexos de Prata a) Coloque cinco gotas de uma solução de nitrato de prata 0,10 mol/L em dois tubos de ensaio diluindo em seguida com cerca de 1,0 mL de água deionizada. Em um béquer, prepare cerca de 20 mL de solução saturada de cloreto de sódio. Utilizando uma pipeta, adicione de três a cinco gotas da solução saturada de cloreto de sódio nos tubos de ensaio. Observe a formação de precipitado. b) Em um dos tubos contendo precipitado, continue adicionando a solução de cloreto de sódio, lentamente, agitando vigorosamente o tubo de ensaio. Só pare a experiência uma vez que tenha adicionado grande excesso da solução saturada de cloreto de sódio. Observe o efeito da adição de cloreto de sódio em excesso. Após isto, adicione uma gota de uma solução 0,10 mol/L de nitrato de prata e observe. c) Adicione, na capela, algumas gotas de solução aquosa concentrada de amônia ao outro tubo da experiência “4a" contendo o precipitado e observe (ATENÇÃO! Conte o número de gotas ou leia o volume adicionado de solução de amônia concentrada). d) Em um tubo de ensaio coloque cinco gotas de nitrato de prata e acrescente em seguida cerca de 1,0 mL de água deionizada. Adicione de três a cinco gotas de iodeto de potássio para formação de precipitado. Na capela, adicione ao tubo o mesmo número de gotas (ou o mesmo volume) de solução aquosa concentrada de amônia utilizado no procedimento “4c” e observe. Compare os resultados dos ensaios “4c” e “4d”. Capa Sumárionull O Modelo Atômiconull A Regra Do Octeto Ligação Covalente Compostos De Coordenação Bibliografia Aulas Experimentaisnull Comportamento Químico dos Compostos Iônicosnull