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C) ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE AUTOR PEDRO DE QUEIROZ SAMPAIO FILHO Introdução Caro leitor, você sabia que a filosofia tem servido ao longo da história como a base onde a humanidade pôs o desenvolvimento da razão? Mas não é apenas um suporte para a dúvida, é também uma referência para muitas áreas do desenvolvimento humano. A apreensão do mundo através da reflexão é exercício que remete ao conhecimento científico e esse aspecto é esperado daqueles que ingressam num curso de arte. Entre outras formas de apreensão, os sentidos objetivos são os primeiros referentes. A visão responde por cerca de setenta por cento de nosso aprendizado cognitivo, enquanto a audição, a dezessete por cento. Os demais sentidos fecham a totalização. Para o estudioso, “olhar e ver” é o ato de aprender a processar o pensamento através dos limites. Só quando se passa do limiar do olhar para o universo do ver, que se realiza um ato de leitura e de reflexão. Segundo esse pensamento, acredita-se que a educação do olhar pode ser uma ferramenta eficaz na construção raciocínio lógico e na formação do julgamento estético. Assim, percepção da arte é ciência. Essa ótica não esconde ou nega a existência de grande documentação disponível sobre a educação pela arte, graças às contribuições de filólogos, antropólogos, historiadores da educação, etnólogos, musicólogos, museólogos, pedagogos e biblioteconomistas, que deixam clara a necessidade da arte no ensino-aprendizagem. Não existe um único indivíduo humano capaz de fugir à influência da arte. Pessoas de qualquer parte do planeta, se desprovidos de música, pintura, arquitetura ou escultura, qualquer forma de expressão artística, mesmo nas formas mais elementares de sua manifestação, estão fadados ao recrudescimento. A Estética contribui, dessa forma para o desenvolvimento do pensamento artístico. É a área da filosofia que, à vista da razão, observa a obra de arte sob aspectos cognatos apreendidos dos cinco sentidos objetivos da percepção humana. Uma compreensão da realidade estabelecida por meio do senso crítico. Estética e filosofia da arte Introdução 131 Palavras do professor-autor Leitor amigo, o caminho do esteta consiste em interpretar sinais de uma obra. Imagine o homem, na busca de ferramentas para a expressão do seu imaginário, usando sistematicamente recursos de sua própria essência: os sentidos objetivos como receptores e os subjetivos como fruidores. Para alcançar a comunicação os utiliza, primeiro com humanos e depois com outras formas de vida. Entenda a Arte como ferramenta educacional. Ela sempre foi um método de reconhecimento e de aproveitamento do imaginário humano, desde a Grécia de Péricles; dos sofistas; de Sócrates, Platão, ou Aristóteles. É notada através da filosofia que forjou a consciência ocidental. Entretanto, foram necessários dois milênios para notarmos sua importância na escola institucional. Concebida no Brasil por Anísio Teixeira, após seus estudos com John Dewey, a educação pela arte permitiu criar uma rede municipal de ensino, desde a escola primária à universidade em sua gestão como secretário de Educação do Rio de Janeiro. Alguns estetas sugerem uma visão que evidencie “emoções” e sentimentos latentes, por meio da catarse propiciada pela arte, sem privilegiar o “intelecto”. Outros, pela a vida cotidiana do “homem por inteiro”, dando função a todas as suas capacidades intelectuais, idéias, sentimentos, habilidades manipulativas, paixões e ideologias. Muitas vezes a arte serve a propósitos distintos, seja o despertar de uma consciência individual ou uma mentalidade coletiva. Seu conteúdo é tão distinto quanto os axiomas: “As necessidades de muitos superam as necessidades de poucos” - Platão, ou: “A necessidade de um só exige o empenho de muitos”, - Aristóteles. As necessidades de superação estética despertam o censo crítico. Estes “sentimentos” dão a apreender e compreender os significados ocultos dos objetos de arte, garantindo a preservação dos povos, enquanto identidade cultural, através das gerações. Para compreender o processo é necessário dedicação à questão filosófica e social, sem esquecer que não existe cultura sem Arte. Pedrinho Sampaio Estética e filosofia da arte Palavras do professor - autor 132 Ementa Introdução a Estética e a filosofia. Percepção Estética. Desenvolvimento da capacidade de observar criticamente uma obra de arte. O “fazer”, o “realizar” ou “concretizar”, sendo interpretado pela cognição ativa. Experimentalismo sensorial. Introdução ao elemento criador: a “técnica” e a “expressão”. 4. Orientações para o estudo do caderno Caro leitor, Interpretar, entender e compreender as diferentes expressões culturais presentes no cotidiano do indivíduo e da sociedade são situações que ocorrem cotidianamente e nem nos damos conta. A Estética é um elemento constitutivo de nossa civilização que aliado à ética nos permite viver de forma produtiva e procedente. Desenvolver esse senso estético, crítico é acima de tudo permitir que as idéias possam ser apresentadas e apreciadas segundo critérios lógicos particulares de cada cultura. 5. Objetivos de ensino-aprendizagem 1. Responder perguntas “Como?” e “Por quê?” o observador como fruidor da arte, “a quem ela é direcionada?”. 2. Interpretação: Análise de uma obra de arte, 3. Guia de estudo “Estética e Filosofia da Arte” 4. Mostra de slides e ”visitas” a museus e outros ambientes (virtuais) para observação 5. História da arte 6. Filosofia da arte 7. Guia de estudo “Estética e Filosofia da Arte” 8. Experimentalismo sensorial. Introdução ao elemento criador: a “técnica” e a “expressão”. Estética e filosofia da arte Ementa 133 Unidade 1 - Estética e filosofia da arte Síntese da unidade Trabalhar-se-á com a visão geral do conceito de Estética e Filosofia da Arte a partir da noção individualizada de cada um dos componentes da disciplina. A abordagem de forma não linear procurará dar aos alunos paralelos históricos como referências culturais. De Platão a Umberto Eco poderá o leitor encontrar consideráveis objetos de observação da construção do pensamento humano. Introdução à estética Embora algumas correntes da biologia social e da psicologia aplicada apresentem argumentos sobre a constatação de “cultura” advinda de outras espécies, tais relatos estão embasados em parâmetros como inteligências múltiplas, organização social, ou características restritivas a cada espécie. Ao contrário da natureza cruel, a história da civilização é em síntese a História Cultural e Social do Homem. A artificialidade de sua expressão cultural é a essência da própria natureza – ou “artificialeza” – humana. É compreensível que outras espécies tragam em sua gênese caráter social, emoção e até certa aptidão lingüística, denotando um traço cultural. Porém, somente humanos produzem e apreciam Arte. É a Arte, ainda, objeto expressivo e impressivo, alvo de estudo da filosofia, assim como o é a Cultura, que por força da premissa a cerca da natureza da manifestação cultural fora do domínio humano, convencionou-se chamar “Cultura Humana”. O termo seria mais bem usado se outras formas de vida utilizassem a artificialidade como elemento diferencial entre o Mundo Real e o Ideal. Não existe, contudo, prova científica desse sentimento. É meu desejo o seu deleite da percepção do objeto de arte, em sua concepção ética e estética. A observação criteriosa do mundo natural e do mundo artificial permite constatar que a obra de arte é o principal elemento de diferenciação – marco referencial - que torna o homem elemento único para o desenvolvimento da produção e apreciação estética, suscitando a crítica de caráter subjetivo. Estética e filosia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte 134 De natureza reflexiva, esse caráter permite criar uma ação redundante, que leva o ser humano a questionar a legitimidade de seus próprios atos. Assim, pode-se concluir ser a Arte, o espelho onde se reflete a humanidade. O caráter individual e o caráter coletivo representam um estatus quo, enquanto o caráter individual e o caráter plural representam a forma de conceber e produzir arte. Como as demais ciências derivadas da filosofia, a Estética fornece os elementos de fundamentação conceitual vinculados estruturalmente a um objeto de estudo específico. Neste caso, a obra de arte. Sua existência se justifica por existir o senso crítico. Esse “senso crítico” é desenvolvido no indivíduo ainda criança, ao acumular, de duas maneiras: sinérgica - os conteúdos sobre as relações sociais, seu ambiente; e, dinérgica - ao trabalhar suas sensações e emoções - decifradores de seus códigos e contextos. O objeto de estudo nem sempre é obra ou a Arte em si. É antes, um estudo criterioso do processo e de seu(s) significado(s) – sua produção, sua importância, seu tempo e seu espaço. Esse estudo descreve o “estado da arte”. Por extensão, o código e o contexto determinam a essência da produção artística. 1.1.1.Considerações específicas Como sabemos, a Estética é o ramo da filosofia que se relaciona à crítica de arte. Essa crítica analisa inicialmente o objeto artístico o qual percebemos em três níveis distintos, mas não estanques, dos cinco sentidos ordinários humanos. A condição de cada um dos níveis está relacionada com a natureza das emanações e das percepções chamadas atuação e recepção. Estas “ferramentas” do pensamento lógico constituem as qualidades de julgamento estético originários da análise e da reflexão, características da razão, qualidades tipicamente humanas. O primeiro nível insere-se na exploração sensorial retratando a maior ou a menor liberdade na realização de obras. Assinala o processo evolucionário e revolucionário na expressão da arte. É mais do que simplesmente a leitura quanto à formalidade. É um refletir sobre o caráter impressivo da obra. Procure encontrar referências na história da civilização que possam sustentar esse pensamento. Em seguida, utilize esse material como fonte de discussão no chat. Estética e filosia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte Considerações específicas 135 O segundo observa e estuda o aparecimento de técnicas novas – novas tecnologias – mostrando o grau de dependência, por parte de uma idéia, da “aparelhagem”, da plataforma ou do suporte físico da manifestação artística. Evidencia o caráter técnico que diferencia o autor como personagem mais que o desenvolvimento tecnológico, por imprimir, de si, a identidade própria da obra. Um exemplo: a música concreta e a música eletrônica são dois ícones da arte musical tecnológica do final do segundo milênio. Modos inusitados e personalísticos de produção musical nascidos respectivamente em 1948 e 1950, numa Europa do pós-guerra, representam um período de desenvolvimento de novas ferramentas de criação, sobretudo na área da eletrônica. As duas tentativas de expressão musical estiveram em conflito nos primeiros doze anos de sua breve iniciação, até revelarem aspectos complementares em sua concepção. Embora não tenha havido uma fusão normativa de caráter conceitual da norma funcional ou no caráter institucional, traçaram um paralelo histórico sem precedentes, no uso de uma tecnologia específica. Essas formas avançadas de expressão e comunicação da linguagem musical aglutinaram conceitos estruturais traduzidos em forma de poderosa agente: a síntese sonora, que utiliza gravador de timbres, fita magnética, sintetizador, processadores de efeitos e computadores, como ferramentas mediadoras do discurso sonoro. O terceiro nível está relacionado com a antiguidade ou a modernidade da arte. São registros etnológicos ou psicológicos de determinada forma de ordem social ou civilização. Serve-se da produção cultural, ou melhor; da geografia artística. Considera contexto e a legitimidade icônica da obra referencial. Sua história. Infelizmente, segue padrões intencionais idiossincráticos, ditados por “regras” obsoletas. Para a maioria dos estetas europeus, por exemplo, a etnologia serviu exclusivamente para restringir. Propôs visões reducionistas antropológicas e sociais. Salvo por raras exceções, tais estetas não estão preparados para analisar qualquer conteúdo diferente do conceito, preconceito ou “pré-conceito” de arte vigente na Europa. Propõem/impõem e Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte Considerações específicas 136 Criam em suas “colônias culturais”, limitações características e estilísticas. São, apesar disso, os registros gráficos do imaginário (imagem escrita, imagem pictórica) – e não a oralidade (imagem sonora) – a forma predominante de preservação da cultura. 1.1.2. Considerações gerais A edificação do conhecimento não é apenas o acúmulo de informação nem a criação de um banco de dados memoriais. É a manipulação racional consciente de tais dados. A leitura evidencia na prática coletiva a necessidade do exercício da memória, associada a conteúdos diversos, com ênfase à palavra escrita. A questão específica do desenvolvimento das sinapses e o valor intrínseco, de caráter artístico, associam-se ao entendimento estético do mundo. Cabe ao fruidor interpretar e reinterpretar a obra. Essa prática leva em conta os seguintes aspectos cognitivos: a captura através da visão (leitura) e a interpretação de texto (releitura); a captura através da audição (compreensão da imagem mental formada a partir do material sonoro). O filósofo e compositor, Pierre Schaeffer propõe em seu “Tratado dos Objetos Musicais”, de 1966, a análise semiótica curiosa da música no mundo. Evidencia três fatos que considera inovadores relativos à sua leitura histórica das “novas” linguagens suscitadas musicais, no transcorrer o século XX. Descreve-os segundo sua importância, por um critério analítico que não despreza a questão do etnocentrismo, não nega a visão do homem europeu - dito “civilizado” – mas aponta o caminho a seguirem os estetas atuais, acerca do código e do contexto, pela estruturação dos três níveis da semiótica convencional e introduz um quarto nível de percepção. A leitura obtida por essa ótica começa com a descrição dos três elementos da semiótica aplicada à música, acrescidos de três fatos novos. O primeiro, de natureza ESTÉTICA; o segundo, de caráter PRAGMÁTICO; o terceiro, a FLUIÇÃO. ESTÉTICA: seguindo o caminho da exploração sensorial. Da Pragmática contextual; PRAGMÁTICO: considera o ambiente cultural de Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte Considerações gerais Procure ouvir a diversidade de sons das formações orquestrais e corais de instituições da África do sul, China, Egito e Iugoslávia. Depois, compare-as com a música ocidental. Elabore uma síntese sobre a educação estética e o gosto pela arte no Estado Grego e compare o pensamento de Platão com o dos pensadores e educadores brasileiros, Anísio Teixeira e Heitor Villa-Lobos, no estado novo de Vargas. Platão considerava a Arte um perigo para o Estado. Como a entenderam esses educadores brasileiros? 137 sua produção; Da analítica; FLUIÇÃO, ou REFLEXÃO: empresta ao autor um considerável repertório, surgido de suas experiências imaginárias ou perceptivas de sua idealidade ou realidade. O quarto elemento resulta da análise dos três anteriores. Diz respeito ao observador final. É a FRUIÇÃO que dá ao espectador, unicamente a ele, o poder de decidir sobre o significado final da obra. Considerações sobre o uso da psicanálise, da psicologia da gestalt e dos estudos com o uso de novos materiais, recursos como a geometria e o desenho industrial, representações a partir do expressionismo tornam-se referentes estéticos no cubismo, surrealismo e folvismo. Evidentemente as prerrogativas conceituais sobre a natureza e a finalidade da arte dificultam o aparecimento e desenvolvimento de novas técnicas e ferramentas trazidos pelas descobertas de materiais e recursos até então não disponíveis. É o pensamento de Umberto Eco que em “Obra Aberta” demonstra que a técnica evolui com a comunicação, mas o conteúdo permanece. Tal pensamento já foi encontrado anteriormente em Weimar, quando Gropius defendeu as inovadoras concepções pedagógicas da Bauhaus em monografias de seus professores. Vem daí a necessidade da educação do olhar, da educação de “aprendimento”, a consideração da fenomenologia, defendida por inúmeros filósofos e pedagogos desde a década de 1930. No Brasil, tal idéia chegou por Anísio Teixeira, que difundiu os pressupostos do movimento da “Escola Nova” tendo como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e a capacidade de julgamento, em detrimento da memorização. 1.2 O que é arte? Até o séc. XIX de acordo com o pensamento europeu, a “expressão do belo”. Mas, por que parâmetros? Com o surgimento de novas interpretações de uma estética ampliada e global, surge a dificuldade de entendimento. Uma resposta eficaz requer profunda reflexão e exige um sistema que oriente e sustente a fundamentação disciplinar da Estética O que é arte? O que é arte? Diferentes correntes da filosofia, da ciência e crenças humanas possuem opiniões divergentes. Como você entende isso? Para saber mais pesquise outros pensadores. Traga a sua dúvida para o fórum 138 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte como um ramo da filosofia aplicada, ou seja, a “Ciência Estética”. Para desvendar esse “novo mundo” é necessário nos reportamos aos primórdios da filosofia científica, e em momento específico da história abre-se outra questão: Tem sido sempre esse o objetivo da superação em arte? Traduzir novas linguagens, novas técnicas, novas plataformas? A Teoria que apresenta a arte como auto-expressão carece de fundamentação epistemológica quanto ao termo “auto”, sobretudo dos elementos da produção artística. Não existe resposta simples à pergunta. O Julgamento estético a partir da diversidade cultural é pertinente, embora possa permitir o declínio do Pensamento. Então devemos averiguar as necessidades de sua elaboração. Herbert Read discorre sobre o sensível e defende a formalidade do valor estético. Para ele, o valor de “auto”, relacionado com fantasia, auto-indulgência, sofrimento, fruto do romantismo ou ainda, inconseqüência do surto criativo de um quadro primitivo são de uma pobreza argumental que por si esgotam a discussão. Para o autor, a objetividade da arte está no fato de existir um sentido. A estética enfrenta três grandes impasses para resolver o dilema: noção artística; fonte artística e comentário estético. As prerrogativas conceituais existentes sobre estrutura e finalidade da obra de arte, segundo Jean Lacoste, estariam “atrapalhando” o desenvolvimento de novas técnicas com ferramentas trazidas pelas descobertas de materiais e recursos até então não disponíveis. Fato: Em 2006, um prédio projetado com base na arquitetura da China Comunista pós-vanguarda recria no Central Park uma visão da China revolucionária no coração da metrópole do capitalismo. O que se pretende mostrar com isso? Reflita. Fundidas por mãos de 250 operários em Santa Catarina – Brasil, as peças foram feitas de fibra de carbono e remetidas ao Metropolitan Museum, para a montagem. Sessenta e quatro operários nova-iorquinos participam da operação. De seu escritório, o Arquiteto, usando o GPS e seu palmtop, os orienta. Alguém passa, pára e observa a obra no Central Park. Procure assistir aos filmes “Matrix”, “Corra Lola, Corra” e “Inteligência Artificial”.Assista também “THX1138”, “Formiguinha Z” e “Utopia”. Partindo de Platão e Aristóteles considere o pensamento de Jean Lacoste. 139 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? O meio fenomenológico em questão, a web, permitiu a interatividade entre o artista preceptor e os demais parceiros na cadeia de produção da escultura. É a arte globalizada - filosofia de um mundo sem fronteiras. O aspecto multicultural desta linguagem universal imprime o valor intrínseco e comercial da obra. Nesse momento, cai o valor de culto alicerçado ao longo dos séculos. O produtor busca a funcionalidade da arte que rompe a última fronteira: a de artistas que concebem um esquema de múltipla funcionalidade e objetivos plurais, usando linguagem universal, ainda assim a criação é um esquema de um homem só. Arte e Verdade são elementos da imaginação. Arte como verdade ou como retrato da verdade, supostamente implica em condição consubstanciada. O princípio remonta a Platão e apesar disso, aparece, ainda hoje, na indústria cultural, principal usuária do legado cultural da Arte grega à humanidade. As novelas televisivas, dramatizações populares, são um retrato dessas pseudo-verdades. 1.2.1.Estética, um ramo da Filosofia Para compreender o mundo da representação estética é necessário conhecer as profundas incursões ao universo imaginário, suas finalizações na realidade, suas interpretações na surrealidade e compreender as apropriações do fazer artístico. Lacoste sustenta que tal diversidade sistemática em filosofia não obstaculiza a liberdade da criação. Isso evidencia a expressão – fundamental para a essência da Obra. É esse o objetivo da superação imaginativa e criadora da raça humana? Se antes a criação estava submetida à reflexão filosófica, é agora a questão filosófica da própria verdade. A obra do artista expõe a verdade de cada um e a expõe em cada um. 1.2.2.Utopia principĭa (origem do sonho impossível) Desde sua reinvenção formal e conceitual moderna, por Baumgarten, a Estética pertence ao mundo da história cultural juntamente com a Ética, a Lógica e a Metafísica. A sabedoria encontrada no universo artístico é a prerrogativa imprescindível na Procure no cotidiano referências dobre a problemática de Estética 140 O que é arte? Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte história das civilizações. Observe que não há civilização sem música, e música é a primordial expressão da arte. Muitas vezes tratada como irrelevante, a Estética tem, em verdade, contribuído, significativamente, para o exercício consciente do juízo crítico e para o desenvolvimento do gosto particular e coletivo. Além de sensibilizar o homem à apreciação coesa, precisa, plausível e inteligível, seja do objeto de uso corrente ou do objeto de arte, é nos mostra o sentido da construção histórica. É pela educação estética que se desenha a forma para trabalhar a qualidade que molda tanto o status quo quanto o modus operandi do homem, artista social, permitindo ao indivíduo moderno uma interpretação que vai além do senso comum, o senso crítico. É esse elemento, o juízo crítico, que municia o esteta em sua avaliação. O profundo distanciamento da arte da imitação expõe o criador, original, artificial em sua imagem artística, único na idealização; só, na concepção esquemática; única figura imaginada por Baumgartem e ratificada em Kant como o artista. Hoje, tanto o argumento intelectual quanto o conteúdo emocional são ameaçados pela mídia da cultura de massa e pela lógica retificadora e pragmática do consumismo, ditada pelo mercado comercial da arte, que se consolida pela imagem imediata de apelo puramente emocional como linguagem de arte. A “arte pela grana”, a arte do consumo, o programa de verão. É o sentido “fácil” da arte, presente da indústria da propaganda a indústria cultural capitalista. O imediatismo estético refletindo na produção de arte o imediatismo social e cultural, o “non sence”, a “décadence avec élégance”, o “pop spot stage”, rodeados de elementos da paisagem cultural “underground”; Lendas urbanas retidas no imaginário popular, completadas no sentido mais imediato, populista não popular da arte. Da Pop Art – da segunda metade do século XX, ao Instant Artist – do século XXI, “tudo é divino, tudo é maravilhoso”. Para Helio Oiticica, o aparecimento do supra-sensorial, tal como aconteceu com a pintura, que deixou o cavalete, a moldura e ganhou as paredes, os muros e viadutos, a escultura deixou o pedestal e misturou-se a paisagem transformou-se em um produto híbrido, quebrando a base e saindo para a mobilidade. Observe a diversidade de forma expressiva das muitas mídias, compare páginas da Web e posicione-se, enquanto usuário, em segundo critérios de satisfação visual, pratica ou prazer de exploração de conteúdo e navegabilidade. 141 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? Cabe o questionamento sobre a qualidade o “QUÊ” do objeto artístico. Deve-se procurar também pelo papel do artista, independente da plataforma usada. O que seria então o objeto? Seria a finalização? O que Mário Pedrosa chamou “o exercício experimental da liberdade”? Limite entre expressão e impressão, artista, esteta e obra se encontram, se fundem, inevitavelmente em novo estado da arte. O problema com essa interpretação é o fato de seguir pelo supra-sensorial, perder o vinculo com o raciocínio que leva compreendê-la. 1.2.3.Divortĭum Aquarum (Separação das águas) O suporte é ambíguo na sua concepção, ora presente física ou virtualmente, ora oculto, mas sempre existente. É a zona limítrofe entre os universos que coabitam paralelamente. Este é o divisor de águas das correntes filosofias estéticas. Sendo elementos desse sentido crítico, o código e o contexto, como objetivar uma relação causal entre estes dois elementos? É o artista, senhor de seus códigos? É a obra de arte sua propriedade final? Como contextualizar seus pensamentos díspares, de uma realidade física ou virtual coesa? Como adaptá-los a uma interpretação objetiva no mundo real e referencial. Encontramos exemplos que nos permitem avaliar esses elementos ao tempo em que consignamos a validade de sua referência. O livro “Notredame De Paris” e a peça teatral “O Corcunda De Notredame”, de Victor Hugo, foram escritos com intervalo de quinze anos. Marcam a narrativa de folhetim, tendo por personagem central, um prédio – local das diversas tramas que envolvem os dramas pessoais individuais e cotidianos da comunidade. O livro, escrito em regime de liberdade pós-napoleônica, difere da peça, quando auto-exilado na Inglaterra, havia se indisposto com regime francês. Nele o autor surpreende ao deixar para o leitor a decisão entre cinco possibilidades de desfecho, o final. Nos dá o primeiro exemplo de literatura interativa da modernidade. Nos dois trabalhos, os códigos usados mudam de acordo com o referente cultural. Victor Hugo destila sua intenção ao referir-se à catedral como Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? 142 o “monumento feito de pedra”. A metáfora elege um sentimento que preenche toda a obra. Não é a Catedral secular, mas aos corações humanos, endurecidos pela sombria herança de visão histórica pouco perceptiva, fechada ao novo. Não é ao século XVI, mas ao século XIX que dirige sua mensagem. A filosofia foi, através da história, arena de um confronto permanente das concepções antagônicas do pensamento humano. Conseqüência da impossibilidade de se objetivar inteiramente as múltiplas facetas da realidade. Ao considerar a história do conhecimento procurando entender a si mesmo e ao mundo, o homem inventa e reinventa linguagens, para obter maior compreensão dos limites de sua imaginação, de seu próprio pensamento. O cubismo foi, no século XX, uma das tentativas de abordar simultaneamente as diversas “facetas da realidade fragmentada”. Mesmo sem o desejar, tal idéia nos é apresentada no discurso de Kant, ao propor conceitualmente a necessidade de erudição cognitiva para compreensão universal da arte. Ao impor o direcionamento estético, Kant criou a “camisa de força” que oprimiu o livre exercício da prática criativa e conduziu o artista ao limite de sua possibilidade levando o universo artístico ao nascimento acadêmico da filosofia estética. Havia mais de uma realidade a ser percebida em uma obra. Ao expor tal necessidade Kant cria, concomitantemente, a imediata e indesejável placenta: o Crítico de Arte, que para o olhar erudito, determina a existência de dois rumos. O academicismo histórico e o ecletismo primitivo. Para o leigo, possibilidades. Como conseqüência, toda obra – produto da criação e da elaboração artística – carece de rótulo, desde então. O filósofo abre precedente para a diversidade interpretativa da natureza da arte e da realidade física. O artista tem diante de si a desagradável presença de um observador autor, analisando, relendo, revendo e redefinindo sua obra: o crítico – seja ele erudito ou guiado pelo senso comum. Contudo, aquele sentimento formal é mais perceptível na arquitetura, na escultura e na pintura dos séculos XVIII e XIX, como o retorno ao classicismo, através dos movimentos neoclássicos de engenharia, ou da metalografia, da siderurgia e do cálculo estrutural. A necessidade estrutural em parceria com o novo suporte determinou o caminho do desenho arquitetônico e escultórico do século XIX. O que é arte? Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte 143 Surge E. Rodan, este sim, libertado desse jugo pela força da expressão – um romântico expressionista. Sua obra é antes de tudo um desafio ao senso estético vigente. De um desfigurado Cirano de Bergerac, travestido de Honorè Balzac, com seu disforme nariz, o escultor mostra (quer mostrar) que apesar da deformidade de sua figura a essência do poeta reside na obra. Do drama de Edmond Rostand (1897), na Paris do século XVII, Cirano de Bergerac, poeta e espadachim, é secretamente apaixonado por Roxane, cujo coração palpita pelo belo Christian, seu amigo. Cirano usa de sua eloqüência, de sua veia poética para falar de amor, como compositor oculto o “auter ego” para pronunciar a paixão do amigo pela mulher que em verdade ele ama. Para as mulheres sensíveis, no contexto oculto da peça, auterego de Rostand, assim como de Balzac em Rodin, com seu nariz disforme que ao escultor é belo, formoso, protuberante e sexy. Outro exemplo, do engenheiro Gustave Eiffel, construtor da torre o símbolo de Paris, notabilizado por ser um dos primeiros a utilizar caixões de ar comprimido na construção de pontes. Construiu o pavilhão de Paris para a Exposição Internacional de 1878, e em 1889, para o centenário da revolução francesa, a obra que o imortalizou: a Torre Eiffel. Com seus trezentos metros causou enorme polêmica ao duplicar a altura da Pirâmide de Quéops (154 metros), por milênios a mais importante obra da engenharia e arquitetura humanas, até então a mais alta estrutura do mundo. Além da Torre, imprimiu sua marca, símbolo de uma era, o palácio de vidro e outras inovações associadas ao aço. Precursor da aerodinâmica moderna instituiu à vulgaridade do aço um novo ritmo que mudaria a face do planeta, dando-lhe ar de nobreza em suas construções. Eternizou a sua funcionalidade como o elemento estrutural que revolucionaria a forma de construir prédios elevados, marca da construção civil do século XX. A verticalidade dos “arranha-céus” de concreto e aço. Eifel é o autor da estrutura metálica da Estátua da Liberdade, em Nova York, daí compreender-se a necessidade de liberdade de expressão artística que na música surge com Beethoven, 144 Cyrano de Bergerac: filme de 1950, dirigido por Gordon Michael, é um bom exercício de romantismo expressivo. Sua comparação ao trabalho de Rodin é sem sombra de dúvida pertinente. Compare e analise. Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? precursor do Romantismo e espalha na Europa o impressionismo, o expressionismo, o nacionalismo, o cubismo e todos os “ismos” subseqüentes. Arte na maleabilidade do aço e na frieza do concreto. 1.2.4.Aurea mediocrĭtas Hélio Oiticica, com seus parangolés e bólides, retoma e revoluciona esse conceito de liberdade, em sua obra “tropicália”, sem descartar Kant, do mesmo modo como Beethoven, abre uma porta para outra nova dimensão na arte, campo da exploração sensorial ativa e passiva, das emoções humanas. A supra-realidade. Em Aspiro ao grande Labirinto, Hélio não lida apenas com correspondências culturais, através de correlações acadêmicas, mas por meio de cartas pessoais; sua amoralidade diante da imoralidade social e política, crítica da obra sensível, estética e ética; augúrios, soma de suas experiências em expressões. Do artista à obra. Tratar especificamente de alguns artistas cujas produções escapariam quaisquer determinações estilísticas ou contextuais, mesmo quando tornados ícones do consumismo cultural, seria uma atitude leviana e hipócrita. A Revolução foi também conceitual. Do movimento revolucionário, “sem lenço e sem documento” como descrito na música manifesto de Caetano Veloso, um registro inusitado: a voz do povo; a memória popular. Nomes como Tonzé, Gilberto Gil e Zé Rodrix se tornariam referenciais para novos artistas, “novos baianos” e o fruto de sua produção, clássicos de um tempo irreverente e conturbado. Tempo da contracultura hippie. Diante da negativa de sua própria existência, enquanto um movimento cultural, a Tropicália é o marco que permite adotar medidas de aceitação do fenômeno “reconvexo”; daquele que adota um viés mais aproximado à crítica social do que à critica de arte, que era um terno em desuso naquele meio. É, de forma irônica, importante Inaugurar um monumento e não um movimento. Assim, Helio Oiticica definiu a sua plataforma artística sem identidade, negada por artistas, estetas e críticos brasileiros, mas reconhecida por novos estetas na França, como um legítimo produto cultural, derivado do gosto popular e da indelével meta a ser perseguida “Sem lenço e sem documento” - música manifesto de Caetano Veloso. Em que festival ela foi revelada ao público? O nome do “LP” que apresenta o movimento também é Tropicália. De quem é a capa? Faça uma avaliação de seu significado. Faça um auto- diagnóstico acerca do senso crítico que você desenvolveu ao longo dos anos, tendo como referência sua interpretação da sociedade em que vive, frente à arte. 145 O que é arte? Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte por sua “geração parangolé”. Liberdade de expressão. A denúncia do estado letárgico em que mergulhara culturalmente a sociedade brasileira trouxe um estranhamento à ordem poética de seus trabalhos. Para entender a preocupação desse artista inovador, reinterpretemos um fenômeno de abrangência global da indústria cultural. O cinema. A sétima arte sempre foi uma boa referência cultural desse comportamento. Em 2004, o mundo parou diante das telas de cinema para assistir a mais uma superprodução. Grande em muitos sentidos: No orçamento, na proposta, nos nomes elencados [...] principalmente nos erros cometidos, de narrativa histórica e de posicionamento estético- ético, como obra de arte. “TROIA”, do cineasta Wolfgang Petersen, como a – A Ilíada e a Odisséia, A Eneida – de Homero, conta a história de uma luta de heroísmo fútil e de derrota vergonhosa que se realiza em uma escalada de violência, sangue e poder, motivada pela desonra e alimentada pelo ódio e o desejo de vingança. Para chegar a esse fim, mais de uma década de lutas e uma armada formada por 1.000 navios, exércitos enormes, egos imensos e paixões arrebatadoras, servem de instrumento para aplacar a ira de um homem traído. Ficção ou realidade? Se Homero, como narrador da história, serve-se do poema épico, como o faria Camões, vinte e três séculos depois, para glorificar feitos portugueses em “Os Lusíadas”, a intenção do filme realizado, como épico, pelo diretor Wolfgang Petersen, não foi alcançada. Sem motivação que dê suporte a trama; um código, um sentimento, o “épico” esbarra na dificuldade de encontrar elementos plausíveis para torná-lo interessante. A narrativa não prende o espectador. Seus personagens lutam por questões fora de contexto, tanto à realidade atual quanto ao período histórico. Atropelados por necessidades mercadológicas mais imediatas, considerando a experiência do diretor, sem um motivo aparente, por que isso ocorre? E mais: Como justificar o enorme sucesso de bilheteria alcançado pela veiculação de tal aberração pseudo–histórica dessa produção de 175 milhões de dólares, construída na esperança de 146 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? repetir ou superar o sucesso de “Gladiador”? A resposta vem por etapas: Primeiro, a escolha de Brad Pitt para o papel do campeão Aquiles o tornou atraente como produto de mercado. Segundo, Petersen, por seu histórico em filmes de guerra e dramas psicológicos, o credenciaram como potencial e capaz diretor. Em “A Ilíada”, Homero trata do cerco grego à cidade de Tróia. No filme, os produtores escolheram o título com vernácula atenção para compensar, não apenas o fato de grande parte do roteiro ser de fontes alheias ao poema de Homero, mas também por negar o principal referente contextual: a força mitológica que motivou tais guerreiros. David Benioff e Wolfgang Petersen simplesmente “esqueceram” de Zeus e de todos os deuses do Monte Olimpo. Dificilmente a deidade de imortais egocêntricos e pouco práticos titãs do panteão politeísta grego teria função objetiva na trama da história. Porém, ignorá-los em seu universo mitológico, é cometer um genocídio histórico e cultural. Não podemos dar as costas a dados culturais relevantes, em uma narrativa épica. Os gregos criam piamente em seus deuses. “Ao retirar do roteiro o elemento divino, a história perde seu senso de destino e tragédia” – afirma Kirk Honeycutt. E, na ausência de deuses, um líder guerreiro ou um rei que escuta adivinhos, bruxos e augúrios mais parece tolo do que sábio. Falta ao filme o elemento de coesão entre história grega e a narrativa épica que dê plausibilidade, mesmo quando do ponto de vista meramente físico, improvável ou impossível. Quando um herói combate “como um deus”, sua origem é questionada. Será ele o filho de um deus, e portanto, invulnerável, invencível, um semideus, como Kindah ou Hercules? Os deuses representam, no panteão grego, o elo que une a psicologia dos guerreiros ao espírito da época em questão. Entretanto, tal elemento não aparece em “Tróia”. Em seu lugar, é Brad Pitt que se mostra como um deus da mídia cinematográfica, transferindo para Aquiles sua magnificência, combatendo apenas por si e pela glória futura de seu nome. Personagem travestido de ator: um contra-senso. Peternesen utiliza outra ótica, que não a linha histórica proposta por Homero. Faça uma síntese sobre seu ponto de vista e analise seu efeito na realidade artística cabe-nos um exame. Como podemos entender sua filosofia? Que critérios tem ele em conta? Construir um modelo social em que cada indivíduo (personagem histórica) busque, a partir de um ponto, uma linha de tempo em que eventos isolados, possam alterar o curso da história. 147 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? A cólera de Aquiles, anunciada desde o primeiro verso, é o motivo central da Ilíada, que narra o drama sobre-humano, do herói, filho da deusa Tétis e do mortal Peleu, rei de Ftia, na Tessália, em torno do fim da guerra dos gregos contra Tróia. Lendariamente, a guerra foi motivada pelo rapto de Helena (Diane Kruger), esposa do brutal rei de Esparta, Menelau (Brendan Gleeson), por Páris (Orlando Bloom), filho do rei Príamo, de Tróia. Seu inimigo, o herói e mártir de Tróia, é Heitor (Eric Bana), é retratado como o grande derrotado. Esta versão trata Heitor, homem de família e de honra, com ternura e gentileza. Suas lutas, porém são insípidas, sem veracidade. O roteiro, exclusivamente para Aquiles – que seria melhor título, foi escrito para Brad Pitt e não permite a Eric Bana tomar o destino de seu personagem, tornando-o mera “escada” para a atuação de Pitt. Agamênmnon (Brian Cox), rei de Micenas, irmão de Menelau, chefe dos exércitos gregos, arrebatara a Aquiles, o mais valoroso dos guerreiros gregos, sua cativa Briseide. Une as tribos gregas rivais em prol de um fim comum: atacar e destruir Tróia, justificado pela vingança da honra de um cidadão grego. Em protesto, Aquiles retirou-se para o acampamento com seus guerreiros, e recusou-se a combater. É nesse momento que tem início a Ilíada, com o verso “Canto, ó deusa, a cólera”. Imaginemos o efeito desse fato não contextualizado em uma sociedade aberta. Contudo, o rei Agamênmnon serve-se disso para acrescentar em seu império a cidade dos sete muros, até então intocada. De seu interior, o rei Príamo (Peter O'Toole) tem a proteção das fortes muralhas, de seu filho Heitor e do deus Apolo, para garantir a segurança de seu povo e de seu reino. Alguns dos personagens da Ilíada, em particular Aquiles, encarnam o ideal heróico grego: busca da honra ao preço do sacrifício; valor altruísta; força descomunal, mas não monstruosa; o patriotismo de Heitor; a fiel amizade de Pátroclo; a compaixão de Aquiles por Príamo, que o levou a restituir o cadáver de seu filho Heitor. Nesse sentido, os heróis de Homero constituem um modelo. O poema mostra também suas fraquezas, paixões, egoísmo, o 148 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? orgulho e o ódio desmedido. Toda a mitologia helênica, o Olimpo com seus deuses, semideuses e deidades auxiliares, descritos maravilhosamente, que inexplicavelmente não figuram no filme. Seqüências magnas foram criadas por Petersen: a da armada produzida com efeitos visuais especiais, gerados por computador; as batalhas entre os dois exércitos e o ardil do cavalo de Madeira, são impressionantes como imagens visuais gerais, mas lhes falta algo de “verdade” nos detalhes de composição cênica. Por quê? Entre agosto de 2002 e janeiro de 2004 foi realizado um estudo que permitiu a compreensão técnica dos métodos e do processo de construção daquela peça de guerra. Esse estudo poderia ter servido como referência para a composição da imagem cenográfica do Ardil. Ao invés disso, Petersen resolveu dar asas a imaginação, e com “licença poética”, reinventou o Cavalo de tróia. Entre as cenas mais desconcertantes do filme, está a de apelo puramente comercial: Aquiles (ou Pitt) aparece nu, vestindo-se para a batalha. A cena é triplamente inconsistente. A “performance” de Pitt é boa, mas falta fidelidade histórica. Os campeões, (heróis) não usavam roupas em combate; por suas qualidades deíticas, seguiam nus à frente da batalha e jamais enfrentavam homens ordinários; somente o campeão do exército inimigo o enfrentaria em combate franco. Por isso Aquiles é ferido o calcanhar, e não o coração. A impressão é de que os produtores não perceberam a complexidade histórica dos personagens e da narrativa. A intenção, em Homero, era retirá-lo de combate para dar aos troianos uma vantagem tática e não assassiná-lo. Se um soldado meramente humano matasse, mesmo acidentalmente um semideus, a ira do Olimpo se abateria sobre ele e seu povo. Daí a queda de Tróia. O Aquiles de Brad Pitt é tão egocêntrico que se torna hilário. Isso dá ao filme uma leitura tragicômica, no pior sentido do termo. Não pela falta de critério dos produtores, na escolha dos textos, mas, o julgamento estético que lhes serviu de referencia: a indústria cultural, que não tem paralelo ético com a crítica da arte, mas sim com a “crítica da razão econômica”. Como diria Hélio Oiticica: “Ave aurea mediocrĭtas” – Salve Peternesen utiliza outra ótica, que não a linha histórica proposta por Homero. Faça uma síntese sobre seu ponto de vista e analise seu efeito na realidade artística cabe-nos um exame. Como podemos entender sua filosofia? Que critérios tem ele em conta? http://www.disney.com. br/cinema/ratatouille 149 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? mediocridade dourada, fruto indesejável da arte, mas ainda assim outra placenta. A inefável herança dos mecenas da arte, agora travestidos de produtores, gestores, promotores e divulgadores. Os promotores da arte, comandantes pseudo-intelectuais dotados do controle midiático da Indústria Cultural, disseminam a ignorância programática da sociedade, enquanto recrudescem o conhecimento, frutos absurdos da história, da arte e da filosofia. 1.2.5.Anuk, Inuk, Onuk. (Era do gelo ou desuniverso?) Se Oiticica retoma o conceito surreal atualizando-o com o elemento construtivista, introduz o concreto como diferença. Sua crítica ácida, entretanto é pertinente. O artista é ao mesmo tempo crítico e obra de arte. Outro referente cultural é o desuniverso, o underground do cinematógrafo e artista-plástico Andy Warhol, que baseado na reprodução irônica e crítica dos mais representativos símbolos da sociedade de consumo, reformularam o conceito de arte popular. Como podemos compreender a passagem da realidade para a surrealidade e a supra-realidade? O que é de fato esse sentimento abstrato, que foi o preceptor de tal atitude do artista brasileiro pós- vanguarda? De que forma os afluentes do dadaísmo, ou do pop-art (Andy Warhol é a principal figura da pop art, voltado à produção artística da contracultura) estão vinculados, como Kandinsk, Pollock, Magritte Warhol e Oiticica? O termo surrealismo criado pelo escritor Guillaume Apolinaire, nomeia um dos inumeráveis movimentos artísticos vanguardistas ocorridos entre as duas grandes guerras mundiais, especialmente na França, como uma corrente psicológica da literatura, derivado do dadaísmo: o movimento surrealista. Foi instituído pelo poeta e crítico Breton, formalizado com a publicação do Manifeste du surréalisme (Manifesto surrealista,1924), influenciou todo o século XX e além. Exerceu a mais marcante influência cultural durante o século XX, estendendo a marca expressionista para esse desuniverso, mesmo depois de considerado extinto como movimento artístico ao final da década de 1930, Troque e-mail com os colegas e/ou participe do fórum para discussões. Faça um breve relato sobre a descoberta de novos ícones estéticos. Observe a relevância da linguagem musical e visual – percepção sensorial - em Ratatouille e na arte de Magritt e Hélio Oiticica. 150 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? constituindo a mais importante forma de expressão da metalinguagem, no século XXI e além. O surrealismo, embora breve, reacendeu a expressão do fantástico, elencou as diversas formas expressivas de arte conceitual que se apresentam, ainda agora, com variações estilísticas ou formais, mas cheias de seu conteúdo. Seus postulados, contrários ao pensamento estético, ético e político convencional, permitiram novos símbolos e mitos estranhos ao racionalismo positivista. O artigo “Les Champs magnétiques” de 1920 (“Os campos magnéticos”), de Breton, publicado na revista Littérature, definiu o traço fundamental do surrealismo - a “escrita automática”. Automatismo psíquico significa o não traçado o não arquitetado. Algumas correntes filosóficas admitem o Trance na empatia de ambiente surreal, quer sonoro, visual, palativo, olfativo ou tátil. Trata-se de transmitir diretamente, sem refletir ou concentrar-se no que se queria dizer, as palavras que, sem tema preconcebido, viessem à mente de forma imediata. Essas frases procederiam diretamente do inconsciente e não teriam relação lógica entre si. Da literatura às artes plásticas; do cinema ao teatro; do esoterismo à filosofia; do mundo da moda ao modo de vida, sua comunicação era supra- dimensional. Amparado por esse argumento, Breton se recusava a refazer, apagar ou retificar qualquer composição e não admitia exercício da crítica sobre a escrita automática, por tratar-se de um “texto puro”, poema surgido do inconsciente. É o cogito a priori, alicerçado na lei geral, por Kant. A desconstrução da palavra, fruto da poesia concreta, a seguir os passos do desuniverso, mais tarde consolidaria o universo da pop art, da opical art e do tropicalismo, resultado dessa trama da desarticulação lógica. Para Kant, surrealismo é o puro automatismo psíquico, pelo qual propomos expressar verbalmente, por escrito ou qualquer outro meio, o processo real do pensamento. A ditadura do pensamento, na Para compreender o processo surrealista, um excelente trabalho sobre o sonho e a psicanálise pode ser encontrado em “FREUD A Aventura Psicanalítica” com desenhos de montagens de Michel Seméon e cenários e textos de Robert Ariel. Boa Leitura! 151 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? ausência de todo controle exercido pela razão e na ausência de toda preocupação estética ou moral. Uma gestalt psicanalítica? Freud entende o sonho como o conteúdo inconsciente que assume formas extraídas do mundo real, da experiência sensorial. Para Breton, o sonho é a própria experiência. Possui “realidade” objetiva e influencia a realidade consciente objetiva. Um universo paralelo, onírico e concomitante. Seu interesse pelo onírico levou-o a re-descrever Freud e outros pensadores e escritores interessados no mundo subjetivo, como Gérard de Nerval, Rimbaud e Isidore-Lucien Ducasse naquilo a que chamou, “surrealismo absoluto”. Considerou-se herdeiro de Victor Hugo, Chateaubriand, Edgar Allan Poe e Baudelaire. Elegeu Uccello, Seurat, Gustave Moreau, André Derain, Picasso e Marcel Duchamp pintores de referencia. No ensaio Le Surréalisme et la peinture, (O surrealismo na pintura) Breton anunciou um movimento pictórico paralelo ao literário. Tendo como referencia o objeto perturbador e mágico, imagens procedentes do sonho e semelhante ao automatismo verbal. Baseou-se na filosofia social e na antropologia, tendo como marco as teorias de Hegel e Marx, na busca por nova linguagem. O surrealismo fez os pintores recorrerem à enorme diversidade de técnicas, como a colagem, o frottage, o decalque; e estilos, que variam desde as formas abstratas da pintura de André-Aimé- René Masson aos detalhes meticulosos de efeito nas formas concretas de Salvador Dalí e René Magritte. Os italianos, assim como Oiticica e Wahrol deram um novo elemento. Obcecados pela arte das crianças e dos psicopatas, os pintores surrealistas misturaram diversas tendências como a escola metafísica italiana, de Giorgio de Chirico e Carlo Carrà, imbuída de suas próprias características, constituindo um movimento paralelo. Yves Tanguy criou formas irreais em paisagens ricas pela profusão de detalhes enquanto Salvador Dalí realizou suas primeiras obras surrealistas sob influência dos metafísicos italianos. Com Luis Buñuel realizou as primeiras experiências cinematográficas no estilo, com Un chien andalou (Um cão andaluz), em 1928, e com L'Âge d'or (A Procure informações sobre as técnicas: colagem, frottage e decalque. Procure referências entre os poetas e escritores que aderiram ao “surrealismo absoluto” Louis Aragon, Robert Desnos, Paul Éluard e Philippe Soupault estiveram na vanguarda do movimento. Pesquise no ambiente da Web a importância de Vassili Kandisnski para o movimento Surrealista e sua influência entre outros modos de expressão da imagem visual. 152 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? idade de ouro), em 1931. A eles somam-se os nomes dos escultores Jean Arp e Alberto Giacometti e do fotógrafo americano Man Ray. O Mestre desenvolveu em sua pintura o “método paranóico- crítico”, que propunha uma incursão no mundo alucinatório e paranóico para liberar imagens inconscientes com maior força, transpondo-as com sucesso para as obras e para a própria vida. Sua obra é marcada por imagens múltiplas e distorcidas, mas ainda assim, presumíveis, reconhecíveis. Outra forma de expressão pictórica que transcende é a pintura de Magritte. Nela o observador se encontra com uma aparente realidade, na qual se estabelecem relações absurdas ou ilógicas. Paul Delvaux combinou o padrão clássico de beleza com as imagens oníricas de personagens em estado de transe. Pintura hipnótica. André Masson e Joan Miró realizaram uma pintura surrealista abstrata. A gestalt e a stalk eram a medida de suas realizações. Kandinski transmitiu aos pintores posteriores impressões diversas e até contraditórias, do impressionismo inicial ao expressionismo total, uma evolução consciente e demorada. É tão peculiar que mesmo a classificação de “pintura abstrata” é insuficiente para descrever o fascínio pelo jogo de formas livres, produzindo sensação de dinamismo interno longe dos “ismos”. Diferentes em estilo, as idéias de formas concisas em Kandinsky e Miró são compatíveis. Miró empregou a técnica do desenho automático em suas representações imaginárias de animais ou personagens de formas caligráficas. As poéticas usadas pelas diversas expressões e técnicas que em conceito se chamam surrealismo, não impõem condições formais ou estilísticas, para seus produtores. Por esta razão a única condição existencial para uma obra surreal é a de ser fruto da idealização e materialização conceitual. O desuniverso da expressão estética inicia quando Andy Warhol desenhou cartões de Natal, capas de discos e mapas do tempo para a televisão, em Nova York, em 1949. No início dos anos '50, participou de um grupo teatral que se inspirava nas idéias de Brecht. Sua genialidade foi reconhecida em 1962, quando expôs uma série de obras a partir de embalagens de sopa industrializada e caixas de 153 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? detergente. Para ele as figuras públicas eram ídolos impessoais e vazios, apesar da posição social e da celebridade. Mostrou sua concepção da produção mecânica da imagem em substituição ao trabalho manual em série de retratos de personalidades populares, como Elvis Presley e Marilyn Monroe. Usando principalmente a serigrafia, destacou a impessoalidade do “objeto” produzido em massa para o consumo, como garrafas de Coca-Cola, automóveis, crucifixos e dinheiro. Com Paul Morrissey produziu uma série de filmes underground, em que marginais, travestis e gigolôs, eram o chamou de superstars. As produções caracterizavam-se pelo erotismo homossexual, pela realidade visual e pela forma. Entre 1963 e 1967, registrou em 16 mm filmes insólitos, subversivos, por vezes considerados artísticos, mas sempre curiosos e de caráter documental, capturando imagens de um mundo de intelectuais, músicos, pintores, atrizes, modelos e escritores do underground cultural norte-americano, sobretudo, o nova-iorquino. Na música, produziu discos de um grupo ungerground e incentivou o trabalho de outros artistas que ele reuniu num coletivo chamado The Factory. Nesse período surgiram os seus “ídolos de plástico”, como ele os chamou. Dois filmes impressionaram pela visão impressionante e artisticamente poética deste submundo: Vinyl (1965, 63 min.), é a primeira adaptação para o cinema, radicalmente livre, do romance Laranja Mecânica (A clockwork orange), de Anthony Burgess. O personagem principal, Alex DeLarge (por Gerard Malanga), dança freneticamente ao som de The Kinks e Martha and the Vandellas, passando depois por uma sessão de tortura com verdadeiros peritos em sadomasoquismo. Procure compreender o que encerra o princípio da docência. Como se integram o ato de ensinar e aprender. Procure saber mais sobre a ordem constitutiva de ensino- aprendizagem. (Epistemologia - doscintĭa et discintĭa.) 154 Estética e filosofia da arte Unidade 1 Estética e filosofia da arte O que é arte? Unidade 2 - Arte – objeto do esteta Síntese da unidade Viajaremos pelo mundo da Arte tendo como ponto de partida a possibilidade da existência do objeto - noção existencial da manifestação física da obra ideal de arte. Conheceremos o pensamento criativo, a partir do pensamento humano. A informação; como a processamos; a construção do conhecimento - elementos constitutivos da memória. 2.1.Reflexões sobre estética Sabemos que o estudo sobre questões relativas à possibilidade e à validade do conhecimento é crucial para a filosofia. A dúvida determina sempre o interesse pragmático, cerne da moderna sociedade, voltada para o saber científico e o aparato tecnológico, uma “questão- de-ordem”: quanto maior a relevância científica, maior a necessidade de dotação de sólidos conceitos baseados em fundamentos teóricos e critérios de verdade. No interesse da descrição estética da arte, os valores simbólicos ganharam apoio de uma ciência geral: a Semiótica, neste caso, aplicada a arte, primeiro à literatura e à pintura, depois, aos demais segmentos. Trata da significação dos elementos constitutivos. 2.1.1.Epistemologia - doscintĭa et discintĭa. Epistemologia, gnosiologia ou teoria do conhecimento é a área da filosofia que tem por objeto o estudo reflexivo e crítico da origem, natureza, limite e validade do conhecimento humano. A reflexão epistemológica incide principalmente sobre duas áreas constituintes do conhecimento: 1) a natureza ou essência das coisas; 2) a questão de suas possibilidades ou seu valor. 2.2. Construção do pensamento em arte O problema do conhecimento está relacionado com a sua proto-gênese. A capacidade de ser um elemento de formação do Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte - objeto do esteta 155 Reflexões Epistemologia Construção do pensamento O valor não é um ente, mas sempre algo que adere à coisa e, por conseguinte, uma qualidade. Assim, revelam-se duas categorias dessa esfera ontológica: os valores têm a primeira categoria de valer em lugar de ser, e a segunda categoria da qualidade pura. A terceira categoria da esfera ontológica do valor é a polaridade. Já que a não-indiferença é a essência do valor, ela revela que não ser indiferente implica sempre um ponto de indiferença, e o que não é indiferente afasta-se mais ou menos desse ponto de indiferença. Essa constatação sugere que o valor tem um pólo positivo e um pólo negativo, ou ainda, que todo valor tem seu contravalor, de forma que não há valor que seja só. Dentre os fenômenos psíquicos, o único que como os valores têm a característica da polaridade é o sentimento. Por essa razão, evidenciam-se dois tipos de polaridades: a polaridade dos sentimentos, ou psicológica e a polaridade dos valores, ou axiológica. A polaridade dos sentimentos por força subjetiva é uma polaridade infundada, visto que os sentimentos representam vivências internas da alma; enquanto a polaridade dos valores é uma polaridade fundada porque os valores expressam qualidades objetivas das coisas mesmas. A quarta categoria da esfera ontológica do valor é a hierarquia. Ora, se há uma multiplicidade de valores e, se os modos de valer são modos da não-indiferença, essa não-indiferença dos valores nas suas relações múltiplas, uns com respeito aos outros, é o fundamento de sua hierarquia. A hierarquia permite, pois, uma classificação, uma organização hierárquica dos valores, tendo por base um ponto de indiferença, convencionalmente designado por zero. Os valores, seguindo sua polaridade, agrupar-se-ão à direita ou à esquerda desse ponto, em valores positivos ou valores negativos e, a maior ou menor distância do zero, implicando necessariamente em preferências, distinção entre o importante e o secundário, entre o que tem mais e menos valor. Conhecido o significado dos valores a partir de uma perspectiva filosófica, faz-se necessário conhecer como eles acontecem e se desenvolvem nas organizações formais. 156 Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte - objeto do esteta Construção do pensamento pensamento cognato ou reflexivo, exercício da razão ou seu uso prático entre os fenômenos das ciências estéticas e éticas. Um elemento único, fruto da perceptividade. A questão do aprendizado passa por uma situação que não é impar, nem restrita aos humanos. A Memória. E o que é Memória? Um dispositivo eletrônico dos computadores, destinado ao armazenamento de dados e instruções? Na verdade, memória é SIM um registro, uma gravação de informações, capaz de propiciar aos organismos vivos o amplo aproveitamento de experiências passadas, a partir das quais fundamentem a aprendizagem, sob quaisquer aspectos, sejam eles de ordem motor, emocional, intelectual, automática, oral, escrita, consciente ou inconsciente. Sua plataforma pode ser a pedra, a madeira, o couro, o papel, o disco ótico, o magnético, o chip de silício ou o cartão perfurado, a etiqueta plástica, a impressão com códigos de barra. Há, entretanto, uma plataforma memorial que difere de todas as outras – A Mente, presente apenas em seres vivos – no caso, orgânicos – capaz de interação sinérgica e dinérgica. Há ainda a considerar a mente humana; chamada “Casa da Memória”, que é na verdade um armazém, um banco de dados no qual a informação está organizada por tipo de referência, por período temporal, por assunto, como em uma biblioteca. Há uma importante diferença entre a memória humana e a de outros organismos. Até onde sabemos, somos os únicos seres com capacidade de reordenar: alinhar e associar dados, para criar uma situação inusitada, que chamamos “novo”. É a capacidade da mente humana de fixar, reter, evocar ou reconhecer e processar impressões ou reflexões de fatos passados. O salvo-conduto é o Memorandum – Lembrança – expressão latina para designar “o que deve ser lembrado”, hoje usado para designar impresso comercial, em formato menor que o de uma carta (lembrete), utilizado para comunicações breves e pontuais. Mais tarde, ainda, ao observar que não havia resposta na natureza para grande parte de tudo o que percebia, podia encontrar, Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte 157 olhando, ouvindo, mais não copiando ou imitando, uma compreensão aceitável, mesmo implausível, atribuiu a elas um caráter mágico. Nesse momento, tudo o que não compreendia, mas aceitava passou a outro plano referencial de conhecimento que chamamos Fé. De posse das informações adquiridas ou aceitas, pôde então refletir sobre o que havia aprendido. Esse tipo de reflexão cria uma espécie de aprendizado não experimentado pela ciência ou intuído pela fé. Algo não adquirido por experiência ou aceitação. É discutido, raciocinado. Esse conhecimento é proveniente da indução, da reflexão, da dedução lógica e por isso chamado Razão. 2.2.1 Memória, história da arte e da civilização De todas as formas de arte, a música é a que mais profundamente consegue penetrar nos sentimentos humanos. Sua mensagem é dirigida diretamente ao centro das emoções. Para realizá- la o homem precisou unir os conhecimentos da ciência, da fé e da Razão. Antes precisou dominar a técnica da produção e reprodução o som, aprendeu a usar a voz e o mais com o corpo e com ossos de animais. Acreditou ser capaz de comunicar suas idéias e expressar seus sentimentos através desses instrumentos. Assim, a música evoluiu em forma e conteúdo, mudou o mundo com sua forma e mudou também o próprio homem. De posse das informações adquiridas e daquelas aceitas, pode finalmente refletir sobre o que havia aprendido. Esse caminho, escalada para o desenvolvimento, foi responsável pelo avanço das sociedades e de suas culturas, que permitiram ao homem suporte memorial para o progresso. Assim nasceu a civilização. O registro de fatos, atos ou pensamentos é aquele no qual baseia-se esse conhecimento. A arte, através do gênero literário compreendido como memórias, transporta valiosos depoimentos históricos, registra fatos políticos e sociais, mostra paisagens, costumes, manifestações religiosas e tendências de expressões artísticas, além dos dados pessoais e biográficos. São aquisições, aceitações e deduções que de forma inter- relativa constituem um banco de dados ordenado em níveis de 158 Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte - objeto do esteta Memória, história da arte e da civilização informação ciente, senciente e consciente. O Gosto estético é, portanto uma afinidade surgida dessa inter-relação. 2.2.2 Conhecimento à priori? Aprimoramento da memória ou sociedade da memória mnemônica? A psicologia da memória pode ter aplicações imediatas ou conseqüentes no desenvolvimento e fortalecimento da capacidade individual de memorização. Assim artistas adeptos no instant art, sobretudo os fotógrafos, servem-se do “momento” para registrar impressões. No teatro, os alemães foram os pioneiros. A forma de registro artificial das técnicas mnemônicas fundamenta-se na rápida transferência da informação contida na memória de curto prazo para a de longo prazo, mediante a utilização de códigos de informação que facilitem sua retenção. As mais usadas consistem em agrupar os diferentes elementos da informação; descobrir regras simples por meio das quais ordenar hierarquicamente os elementos; organizar a informação; ordenar seqüencialmente o que será guardado; estabelecer correlação entre os elementos que suscitam aprendizagem e aqueles já conhecidos. Na idade média, os filósofos eram semelhantes aos da antiguidade clássica em alguns aspectos, particularmente na maneira de explorar, nos diversos níveis do conhecimento, por abordagens diferentes, o mesmo problema. A escolástica, em sua abordagem sistêmica estudou a questão do aprendizado. Memória como instrumento do aprendizado é a ferramenta incondicional para aquisição, aceitação ou reflexão do Conhecimento. Este, por sua vez ocorre quando um sujeito (o que conhece) apreende um objeto (o que é conhecido). Esses dois pólos, sujeito e objeto, estão sempre presentes na relação de conhecimento. O significado de cada um varia em função da posição filosófica da qual se analisa a relação. Enquanto os realistas defendem a primazia do objeto – sua existência independente do sujeito, os idealistas acreditam na primazia do sujeito – o objeto só existe enquanto tal, no entendimento do sujeito. Em alguns casos, o subjetivismo transforma-se num solipsismo, 159 Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte - objeto do esteta Aprimoramento da memória Sociedade da memória mnemônica isto é, na afirmação da impossibilidade do sujeito sair de si para poder conhecer o objeto. É o que sugere o Cartunista norte Americano Walt Disney no princípio a “impossibilidade plausível”. A justificar uma ação não formalizada pela inviolabilidade da lei física, resta a virtualidade de sua hipótese. Ele usa o artifício em muitos de seus filmes. O sujeito só pode apreender as propriedades do objeto ao se transcender, ou seja, sair de si mesmo. O objeto, pelo contrário, permanece em sua condição e não se altera, não é modificado pelo sujeito. É o sujeito quem sofre modificação pelo objeto, modificação esta que é o próprio ato do conhecimento. Pitágoras chama a esse princípio de interatividade dual e reversa de “Sinergia versus Dinergia”. Se o sujeito representa para si o objeto tal como é, o conhecimento será verdadeiro. No caso contrário, o sujeito terá um conhecimento falso do objeto (em representação ou cópia). O princípio gnóstico da mimese é platônico em um sentido aristotélico em outro. O que implica na relatividade da verdade consubstancial sujeito versos objeto é o fato de que o objeto será único, em cada aspecto de sua forma, de acordo com o ponto de vista do observador. O que corrobora a opinião contrária é justamente a possibilidade mimética. Está na mimese, como a representação equivocada do Onto, à distorção da realidade das múltiplas possibilidades reais, distorcendo o ideal. Apreender o objeto tal qual lhe parece, somente o deprecia.Como uma delas sugere uma porta para outro caminho do pensamento memorável objetivo, enquanto a outra leva a subjetividade, o ideal interfere no real. 2.2.3.Doutrinas sobre o conhecimento Diante da possibilidade do conhecimento, impõem-se duas hipóteses antagônicas: o ceticismo que defende a impossibilidade de conhecer o real, e o dogmatismo, que sustenta que em todos os casos é possível conhecer as coisas tais como são. Entre essas posições extremas situam-se céticos e dogmáticos “moderados”. Os céticos moderados afirmam a existência de limites ao 160 Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte - objeto do esteta Aprimoramento da memória Sociedade da memória mnemônica Doutrinas sobre o conhecimento conhecimento, impostos pela constituição psicológica do sujeito e pelos condicionamentos de seu meio, enquanto os dogmáticos moderados sustentam a possibilidade do conhecimento, desde que se cumpram algumas condições. Quanto aos fundamentos do saber, confrontam-se empirismo e a racionalismo. Em “O Poder dos Limites”, György Doczi dá um exemplo de como a “inteligência Artificial” (arte humana) imita a “inteligência natural” (manifestações naturais) em situações descritas como harmonias e proporções da Natureza, transferindo-se ao sensível, por meio da mimese. Para os empiristas, a base do conhecimento se encontra na realidade sensível. Na oposição, os racionalistas sustentam o caráter real das entidades conceituais. Os filósofos racionalistas identificam pragmaticamente realidade e racionalidade, o que elimina toda idéia que subordine o saber à experiência sensível. A primeira abordagem do conhecimento de forma sistemática foi de René Descartes. O Filósofo objetivou descobrir um fundamento do conhecimento independente de limites e hipóteses. Para ele, conhecer é partir de uma proposição evidente, que se apóia numa intuição primária: conceito presente na célebre sentença “cogito, ergo sun” "penso, logo existo". Unidade 3 - Crítica da razão pura: estética do ego Síntese da unidade Trabalhar-se-á com a “Estética Cartesiana”: Ética como o instrumento da formação estética. A evolução conceitual de Arte. Kantiano: A criticada Razão. Para Descartes, Spinoza e Kant, existe uma condição metafísica que explica essa variável: a humanidade. Spinoza fala de uma qualidade impar, exclusiva dos seres éticos. Para ser ético é preciso estabelecer critérios que implicam associar equilibradamente conhecimento científico, dogmático e racional. A condição para o reconhecimento humano é sua humanidade. Como reconhecer o traço de humanidade em um indivíduo do 161 Estética e filosofia da arte Unidade - 2 Arte - objeto do esteta Doutrinas sobre o conhecimento Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego gênero homo sapiens-sapiens? Que critérios pode a lógica usar para distinguir um ser senciente de outro considerado irracional? Um robô pianista foi apresentado em 1986 na feira de instrumentos musicais em Tóquio. Diante de uma platéia extasiada o. interpretou o Adagio Sustenuto e Ode à alegria de Beethoven, Sonata n 40, de Mozart. Um exemplo de rigor técnico e virtuose. A exatidão de seus movimentos, a perfeita sincronização dos elementos rítmicos e sua dinâmica impecável, fez daquele momento algo memorável. Entretanto, todas as suas “performances” posteriores, em várias cidades do mundo mostraram-se absolutamente idênticas. Agora analisemos o caso: Para o crítico, o rigor técnico da forma é apenas a demonstração lógica do conhecimento. Não é Arte. Seriam portanto, lógica e arte duas formas distintas de conhecimento? Existem basicamente duas formas de conhecimento: o sensível e o inteligível. O primeiro é o conhecimento adquirido por meio dos sentidos e atinge o objeto em sua materialidade e individualidade. O segundo, o qual se obtém pelos mecanismos da razão, atinge generalidades e leis necessárias, não o individual e concreto. Decidido a demonstrar filosoficamente que o saber racional científico, com base na experiência, poderia ascender à condição de validade universal, Kant formulou a teoria do conhecimento na Crítica da razão pura. Só há Arte no Conhecimento. Tendo como objetivo uma nova filosofia alternativa à metafísica dos pensadores racionalistas, Kant despreza a aceitação dogmática, ao seu pensar, simplista e ao mesmo tempo rejeita a formalidade canônica. Primeiramente propõe: “Todo conhecimento sobre a realidade sensível provém originalmente da experiência, cujos dados se estruturam graças às intuições da sensibilidade: espaço e tempo.” Estes não são “propriedades” das coisas, mas formas mediante as quais o intelecto representa para si as “dimensões aparentes da realidade”, ordenando, assim, os dados da experiência. 162 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Há os que admitem a intuição como forma de apreensão imediata do objeto. Nessa linha, sobretudo a partir da obra Kant, fala-se de “conhecimento a priori”, isto é, o conhecimento que não tem origem na experiência, e de “conhecimento a posteriori”, que procede da experiência. Há no artista uma inefável qualidade que o diferencia do técnico especialista, a imponderabilidade, o imprevisível, a sutileza, aquilo que é uma qualidade que não pode ser adquira. Que é inata do Artista. O verdadeiro Estado da Arte. Mesmo suscitando o sentido crítico da razão, é o sensível a identificar a qualidade impar da criação. Irreprodutível senso de resgate. Num segundo momento, institui que as representações proporcionadas pela sensibilidade se ordenam segundo suas “categorias do entendimento” as formas “a priori” da razão, que funcionam como um quadro de ordenação lógica das experiências singulares das quais se originam os conceitos empíricos. As categorias ou conceitos puros são quatro, e a cada uma correspondem formas secundárias: qualidade, quantidade, relação e modalidade. A noção da “coisa em si” – o objeto tal como é – inexiste, o que há são fenômenos, ou seja, “as coisas da maneira como são percebidas” e elaboradas pelo entendimento humano. O conhecimento é um processo de síntese em que as informações que compõem a memória são ordenadas em três experimentação (científico); aceitação (dogmático) e reflexão (racional); nos quais o intelecto proporciona a forma e a experiência oferece o conteúdo. Immanuel Kant conserva apenas o nexo existente entre intelecto e sensação, pois entre ambos se estabelece como a faculdade criadora, a imaginação e o entendimento. Quando a razão é aplicada a conceitos que não podem provir da experiência (como a existência de Deus, da alma imortal ou do mundo perene, da eternidade), que são incognoscíveis por meio da sensibilidade, produzem-se segundo o filósofo, as “ilusões da razão”, que são figurações de pensamento meramente especulativas. Sempre na condição de hipóteses (para a razão), essas 163 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego conjecturas da “ilusão” jamais terão o valor venal instituído no universo da lógica tendo como premissa o principio da certeza. Para Kant, não há o valor demonstrativo da metafísica tradicional em relação a tais questões: é preciso distinguir absolutamente entre o conhecimento objetivo do que é, e a crença ou certeza subjetiva no que deve ser. Para ele, a metafísica baseia-se no princípio da certeza à priori, enquanto a ciência empírica, no princípio da incerteza. A dúvida estabelece o método da avaliação (análise) das possibilidades e probabilidades, a plausibilidade é fruto dessa relação. 3.1Ética e estética Na Crítica da razão prática, Kant expôs a doutrina ética que lhe serviu de base para a demonstração de uma ordem transcendente, sem que fosse necessário recorrer à metafísica especulativa. Como Spinosa, despreza as variáveis oriundas das idiossincrasias humanas e focaliza a lógica. 3.1.1 Ilusões versus constatações A ética, para Kant, não precisa dos dados da sensibilidade e, portanto, não pode cair em “ilusões”. Em sua ótica, a consciência moral é um dado tão evidente quanto a física, de Newton. É a razão aplicada à ação humana. Não á bondade ou maldade na Natureza. Somente a vontade humana pode ser boa ou má. A moralidade não se confunde com a legalidade. A vontade é pura, moral, quando suas ações são regidas por imperativos categóricos e não por imperativos hipotéticos, como a punição da lei. Nessa utopia principĭa, o pensamento imperativo da moral é um legisígno. A cultura Européia Condenava a nudez dos ameríndios tendo por base a moralidade judaico-cristã incutida na sociedade através do Livro do Gênesis (o mal está no pecado da carne), explicitada na expulsão do paraíso. O imperativo categórico enuncia-se da seguinte forma: age de tal modo que o motivo que te levou a agir possa tornar-se lei universal. Determina a lei que as pessoas devem pautar suas ações de acordo com princípios éticos universalmente aceitos. A aceitação, aqui, perde o 164 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Ética e estética Ilusões x constatações caráter meramente hipotético; é dogmático, determinante e imperativo. Tal aceitação da lei moral pelos homens é a prova de que existe uma ordem que transcende o meramente sensível, cujo único fundamento possível é a existência de Deus. Kant deduz assim a metafísica não da ciência, mas da ética. Em seu último tratado importante, Crítica do juízo, analisa as noções de beleza e finalidade, inerentes ao homem e também não explicáveis pela experiência. A intuição estética realiza a síntese entre os dois termos, a imaginação (sensibilidade) e o entendimento, permitindo que a razão se torne sensível e a sensibilidade, racional . 3.1.2 Ditadura da Razão: o pensamento kantiano. Kant negou que a realidade pudesse ser explicada apenas conceitualmente e se propôs determinar os limites e capacidades da razão. Embora admita a existência efetiva de juízos sintéticos a priori, condição a toda compreensão da natureza – o conhecimento - limita-se, ao reino da experiência. Nos primeiros estudos, Kant mostra a realidade sensível como fundamento para o conhecimento não só de todas as entidades sensíveis, que impressionam nossos sentidos, mas também daquelas não sensíveis, as idéias. Gnosiologicamente é a afirmação de que a validade das proposições depende exclusivamente da experiência sensível. O Ser mais que ciente, o Ser senciente. A metafísica identifica o empirismo com a doutrina que nega qualquer realidade válida, além daquela alcançada pelos sentidos. John Locke oferece tão somente e filosoficamente, uma teoria na qual firma que as impressões da sensibilidade formam apenas a base primária do conhecimento. Apresenta a sua gnosiologia “fenomenista- empirista” apoiada em uma metafísica “mais ou menos” materialista, o empirismo. Por conta deste pensamento, representantes do romantismo chegaram a extremos, caso de Schubert, que se embrenhava nos bosques, em plena tempestade para “sentir” a natureza em suas mais profundas nuances e traduzi-los em música. Edgar Alan Poe experimentava a reclusão e o auto-exílio como método válido para descrever o fenômeno da Solidão e da dor. Sobre Arte e Conhecimento Científicio analise e faça uma síntese do pesamento abaixo: “Parece-me que a chamada neutralidade da ciência não existe. A imparcialidade dos cientistas tampouco.” Paulo Freire 165 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Ilusões x constatações Pensamento Kantiano O empirismo não faz parte da dúvida universal, contudo, é difícil caracterizá-lo por suas ramificações. A possibilidade da idéia inata, a preexistência, meramente virtualizada ou implícita, é prejudicada, por ser contraditória com o conceito da consciência formulada por Descartes: possibilidade versus probabilidade, como a admitiu John Locke. A contradição à validade da teoria da abstração é de Berkeley. David Hume considera-a definitiva e irrespondível. O fenomenismo de Hume e o imaterialismo de Berkeley são duas de suas ramificações mais significativas. Devemos ainda acrescentar o próprio como variante o próprio positivismo. Hume e mais tarde alguns autores neo-positivistas consideraram, ao contrário, que as noções das ciências não são empíricas nem conceituais, mas formais e, portanto, vazias de conhecimento. Na obra CINEMATOGRÁFICA “Jornada nas Estrelas – O filme” o cineasta Robert Wise explora esse tema e textualmente o coloca em cena, quando Spock (L. Nimoy) encontra V'ger e reconhece que apesar de a criatura-máquina deter todo o conhecimento do universo é frio, vazio de propósito por não possuir emoções. O fato é que nem sempre se torna fácil distinguir empirismo e ceticismo. A objetividade dos experimentos nem sempre fica comprovada, e muitas vezes determinam o fim. Para alguns empiristas, existem outras experiências além da sensível. Seja de natureza histórica, intelectual, condicional, evidente ou apreciativa, elas re-significam o conceito, trazem à luz o conhecimento novo. Friedrich Nietzsche e Wilhelm Dilthey, precursores da formulação, dificilmente considerados empiristas, tem no termo “experiência” um sentido mais amplo. Para eles as características expressivas de suas formas mais radicais são: (1) não há idéias inatas, nem conceitos abstratos; (2) o conhecimento se reduz a impressões sensíveis e a idéias definidas, cópias enfraquecidas das impressões sensoriais; (3) as qualidades sensíveis são subjetivas; (4) as relações entre as idéias reduzem-se a associações; (5) os primeiros princípios, e em particular o da causalidade, Sobre o neorealismo assista o filme do diretor francês François Truffaut , “A NOITE AMERICANA”(La Nuit Américaine, França/ Itália, 1973). 166 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Pensamento Kantiano reduzem-se a associações de idéias convertidas e generalizadas sob forma de associações habituais; (6) o conhecimento é limitado aos fenômenos; metafísica, conceituada em seus termos convencionais, é impossível. 3.2Arte e conhecimento científico Nessa linha do empirismo, os mais representativos autores são Heidegger e o Sartre, que defenderam posturas existencialistas. No século XX, esse pensamento associado ao Realismo trouxe grandes produções de conhecimento humano em obras cinematográficas que uniam poéticas ficcionais a partir de significações históricas. Em 1973 o diretor francês Franóis Truffaut trás para a tela o outro lado da produção cinematográfica e realiza em “A Noite Americana” um filme sobre a realização de outro filme, “Je Vous Presente Pamela”. Além de se observar os bastidores, o diretor François Truffaut atua como “o diretor”. Um filme dentro de outro filme.Os problemas das vidas particulares dos envolvidos, problemas de ordem técnica ou orçamentária... O título refere-se à técnica de iluminação para simular a noite na filmagem durante o dia. Com este trabalho Truffau recebeu o Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro” em 1974. Filósofos como Umberto Eco foram diretamente afetados por filmes como Roma Cidade Aberta ou Noite Americana, retratando faces da realidade através das lentes de um cineasta. No primeiro caso, a Roma pós- ditadura e no segundo, os bastidores de uma produção de cinema. O próprio filósofo é autor do Best seller O nome da Rosa, transformado em filme pelas mãos de Jean-Jacques Annaud. 3.2.1 Impossibilidade plausível possibilidade impossível? John Dewey e William James, cuja orientação empírica é o orientação pragmática, corroboram essa percepção. A realidade, fruto da realidade alternativa é plural. Em “O planeta das possibilidades Impossíveis”, obra dos franceses Jacques Bergier e Louis Pauel sugere um estratagema para o futuro Terra. Especulam acerca da possibilidade 167 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Arte e conhecimento científico Impossibilidade plausível possibilidade impossível (próxima) de uma nova idade média. José Ortega y Gasset posicionou-se no que chamou raciovitalismo, na qual vida e razão, dois pólos constituintes da concepção do mundo, para quem o real completa-se na concepção do ideal e não em sua finalização. A epistemologia é conhecida tradicionalmente como teoria do conhecimento em geral. Entretanto no século XX os filósofos decidiram construir uma filosofia científica, na suposição de que, ao formular teorias adequadas ao conhecimento científico, poderiam avançar pela mesma via na solução de problemas gnosiológicos mais gerais. A elaboração dessa epistemologia foi a preocupação principal dos autores do Círculo de Viena, que formularam o germe de todo o movimento do empirismo ou positivismo lógico. Esses pensadores tentaram construir um sistema unitário de saber e conhecimento, para o que seria necessária a unificação da linguagem e da metodologia das diferentes ciências. A linguagem única deveria ser intersubjetiva. Isso exige a utilização de convenções formais e de uma semântica comum (e universal), ou seja, qualquer proposição poderia ser traduzida para ela. Carnap e Neurath, pertencentes ao Círculo, consideraram a física como a linguagem universal, na fundamentação de sua teoria. O fisicalismo foi entendido posteriormente como um sistema de propriedades e relações observáveis das coisas – todos os enunciados sobre quaisquer fatos podem ser traduzidos em enunciados sobre estados ou processos do mundo físico. Evidentemente, aqueles conceitos, como essência ou enteléquia, que não podem ser transpostos para o mundo físico não são admissíveis na ciência. Ser real significa sempre ver-se numa relação direta com a realidade dada. As proposições metafísicas careceriam, assim, de significado. O Materialismo científico unido ao materialismo histórico? É possível, no entanto, formular a hipótese da existência de uma realidade independente de nossa experiência e indicar critérios para sua transposição para a realidade sensível, já que uma afirmação de existência implica enunciados perceptivos. 168 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Impossibilidade plausível possibilidade impossível 3.2.2 Ser ou não ser... Todas as formas epistemológicas da tradição filosófica inspiradas em posições metafísicas estariam fora do âmbito do conhecimento empírico, uma vez que tentam responder a uma pergunta impossível. Concepções como o idealismo e o realismo metafísico, o fenomenalismo, o solipsismo inexistem fisicamente. Assim a arte não tem lugar nem na física nem na metafísica. O que nos remete novamente à pergunta? O que é arte? “A arte não imita o visível: cria o visível.” Paul Klee sintetiza nesta frase uma das principais discussões da história da arte e como conseqüência deixa de um lado os adeptos da imitação enquanto de outro, os da invenção. Assunto provocante da verve desde os estados egeus, quando os gregos monitoravam – em diversos de seus períodos históricos – a produção “artística” em ambos os aspectos. Por conta dessa dicotomia encontra-se até hoje um quadro não perfeitamente desvendado em sua extensão, razão de apaixonados defensores de ambas as correntes de criação da arte determinarem, arbitrariamente, as regras de sua interpretação em parâmetros opostos. De um lado a lógica absoluta e/ou dialética, de outro, a probabilidade estatística, a plausibilidade mesmo quando improvável – a visão típica do artista liberto. Comparando o pensamento do Mestre com o de outro gênio, Pablo Picasso que afirma “a arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade”, compreendemos a dimensão dessa imitação, do seja ou do que venha a ser o ato a criação e do que é histórica e socialmente a necessidade da Arte. 3.2.3 Discurso sobre o método lógico. Outra vez? No discurso do método da lógica cartesiana, percebe-se que o método dialético possui várias definições. Entre as mais aceitas encontram-se a hegeliana e marxista. Para alguns estetas, elas constituem um modo esquemático de explicação da realidade que se baseia em oposições e em choques entre situações diversas ou opostas. É o que chamamos de absolutismo lógico. 169 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Ser ou não ser Discurso sobre o método lógico Exemplo: a água aquecida na chaleira provoca (causa) a formação de nuvens. A nuvem resfriada, por sua vez, provoca (causa) as chuvas. É a causa em um que gera o efeito em outro. Diferente do método causal, no qual se estabelecem relações de causa e efeito entre fatos – diametralmente opositores, – o modo dialético busca elementos conflitantes entre dois ou mais fatos para explicar uma terceira via – nova situação – decorrente desse conflito. Assim, os discursos decorrentes dos elementos do esquema básico do método dialético são três: a tese, a antítese e a síntese. É, portanto, lógico presumir que a água alterna seu estado físico em função das alterações de temperatura (síntese). A filosofia descreve a realidade e a reflete. A dialética busca refletir acerca da realidade. Por isso, seus três momentos (tese, antítese e síntese) não são “método”, mas derivam da natureza das coisas.A Estética, por seu turno, interpreta e reflete não essa realidade, mas, nessa realidade, o pensamento do artista, que aí depositado, será reinterpretado (atualizado) a cada novo “olhar”. O estado da arte é assim, um eterno devir. O pintor russo Wassili Kandinski, a exemplo da corrente semiótica, define três elementos básicos constitutivos de toda obra de arte. Para sustentar a legitimidade da arte, o mestre propõe, em sua monografia para a Bauhaus, uma abordagem psicológica destes níveis perceptivos: o elemento da personalidade, próprio do artista; o elemento do estilo, próprio da época e do ambiente cultural; o elemento do puro e eternamente artístico, próprio da arte, fora de toda limitação espacial ou temporal. Embora essas idéias pareçam oportunamente adequadas, observar isoladamente cada uma de suas características é imprescindível a tal abordagem. Contudo, essa análise padece de insuficiência de dados. Porém é o que alcançaram os estetas no início do século XX e que permitiu levar, por vezes, a desprezarem-se as possibilidades de infinitas variáveis, dentre as quais figuram as de se fazer um simples “ato reflexo” uma obra de arte. Para Tiana Sampaio “a arte é o momento do artista”. Para a mestra, essa definição surgiu a partir de A face oculta, obra de referência Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Discurso sobre o método lógico 170 da escultura constante dos mais importantes circuitos de Roma e Nova Iorque, e é dela a resposta física a esse fenômeno. A partir de uma massa disforme de argila, A “inspiração” levou-a atuar com três cortes em cubo. A busca de um significado oculto. Cada um possui algum segredo. O registro do momento é o “instantâneo”. Naquele momento, nasce a obra e o artista transforma em real o ideal. Presentes, portanto: Personalidade, esilo e o elemento puro e eternamente artístico. Tomemos um “som que aspire a condição de música”, por exemplo, o gorjeio de um pássaro ou o ronco cadenciado de um ventilador do radiador de um automóvel cujo motor esteja bem regulado. Duas “obras-primas” de “rigor técnico, de afinação e precisão da expressão rítmica”. Desse modo, o mecânico é virtualmente transformado em um genial compositor, por haver a intencionalidade de dar ao motor um ritmo “preciso”. Estaremos diante de uma obra de arte? E quanto ao pássaro, será ele um cantor genial?Consciente de suas possibilidades técnicas de afinação e projeção da voz?Essas questões sugerem um estudo mais profundo a cerca de suas implicações históricas. 3.2.4 Evolução do significado da arte Cedo, o homem percebeu que nem tudo o que ele sentia podia transmitir através dos gestos e das “palavras” usadas na comunicação diária. Com o tempo, encontrou novas formas de utilizar o movimento, a forma, a linha, a cor, o cheiro, a textura, o som, a imagem. Assim, surgiu a arte, instrumento da expressão, aumentando enormemente as possibilidades, não só de comunicar-se universalmente, mas, de transmitir o Belo, fruto do despertar: nova percepção da realidade. De um ponto de vista genérico, e com base em qualquer dos teóricos modernos, a arte é todo trabalho criativo, ou seu produto, que se faça consciente ou inconscientemente com intenção estética, isto é, com o fim de alcançar resultados belos. O que é esse estado de beleza que define o produto artístico? É de Picasso a afirmativa a arte é a mentira que torna possível 171 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Discurso sobre o método lógico Evolução do significado da arte conhecer a verdade. Embora o ideal de beleza seja um caráter subjetivo e varie de acordo com o tempo e os costumes de uma sociedade cultural, todo artista - seja ele pintor, escultor, arquiteto, músico, escritor, dramaturgo ou cineasta - certamente investe mais na “possível beleza” de sua obra do que na “verdade”, na elevação ou na utilidade que possa ter. Nas artes visuais, ainda que limitada às chamadas artes plásticas, esse arquétipo esteve sempre presente, assim como todos os outros que eventualmente se lhe acrescentam valor intrínseco, isto é, a originalidade, o aspecto crítico e muitas outras características particulares do objeto artístico. Muitos artistas usam esse expediente em suas obras, sobretudo para dar uma certa ambigüidade de código. Ao ser argüido sobre a desproporcionalidade entre a idade de Jesus e Maria (a mãe parece mais jovem que o filho), sobre a Pietá, Michelangelo respondeu semanticamente: “Aquele que ama a Cristo, não envelhece!” Dessa forma o fez Toulouse- Lautrec, sustentando que a mulher no quadro não era prostituta despindo-se ao amante, mas a esposa vestindo-se diante do marido. Sua linguagem essencialmente expressiva como obra de arte, criou em seu primeiro cartaz de propaganda, Moulin Rouge - La Goulue, um sentido popular que transcende ao “tribal”. Afixados nos muros e nas mentes de Paris, prostitutas, dançarinas de cancã dos cabarés e outros personagens da cidade noturna durante a década de 1890, foram seus modelos prediletos. Por ocupar-se mais da beleza do que da verdade, o artista liberto jamais aceita apenas o real como fonte de inspiração ou matéria- prima. Até mesmo quando historicamente orientado pelo realismo – como atitude e/ou movimento estético – não pode o artista dispensar como fonte de matéria-prima, e de seu trabalho, seu mundo interior (caráter semântico), sua experiência objetiva (interpretação particular do evento), sua experiência subjetiva (atitude filosófica) e, principalmente, sua imaginação. Consideradas as proporções entre o concreto e o abstrato, é possível depreender o credo estético de um artista conforme o maior ou menor peso conferido por ele a essas duas fontes primordiais de “inspiração artística”. O real e o imaginário, ainda presente o dualismo na metáfora Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Evolução do significado da arte 172 Como as formas de representação estão associadas aos suportes? Que papel o suporte desempenha na percepção, pelo fruidor? Disserte. platônica para o divino e o humano em Pitágoras; o celeste e o terreno, em Santo Agostinho; o eterno e o efêmero, em Tomás de Aquino, são o divisor de águas de todas as expressões da arte. Popular e Erudito, Bom e Mau, Bem e Mal, Perene e Efêmero, todos produtos variantes do dualismo. 3.2.5.Imaginação e criação Como o real, em si, pode despertar no homem, além da arte, tanto a razão quanto a fé ou a ciência, aponta-se outra fonte, a IMAGINAÇÃO, como a origem da criação artística. É, em síntese, a capacidade de “projetar imagens” e trazer do campo Ideal para o mundo real Forma, e Conteúdo. A partir do centro da emoção (inicialmente incerto) e da necessidade de expressão, o artista concebe um signo, icto, ícone, uma imagem. Gera do “nada” alguma coisa “viva”; extrai do caos a ordem e harmonicamente relaciona as partes. O aprimoramento de suas habilidades é necessário para que possa comunicar a outras pessoas aquilo que concebe. A arte torna-se uma linguagem composta de imagens e símbolos, pela qual o homem se comunica em termos mais perceptivos do que conceituais. Esse aprimoramento é obtido pelo desenvolvimento técnico. O papel do artista, portanto, é interpretar, dramatizar e explicar o mundo em que vive, em todos os seus aspectos. Enquanto processo criativo, a arte envolve a participação tanto do artista criador quanto de seu público. Dele exige-se o reconhecimento das aptidões, a capacidade técnica de sua manifestação por meio da arte. A produção de obras de arte não é restrita aos artistas. Todos produzem imagens, como o ato de falar ou gesticular, vestir ou decorar um prato, consciente ou inconscientemente, estão envoltos no processo pelo qual projetam sua própria imagem psicológica e social. A produção artística desenvolve-se três tempos: com o próprio artista como força primeira preceptor; com o intérprete ou crítico como intermediário interceptor ou mediador; e com o público ou receptor, como destinatário final. Os três componentes tomam parte no processo e a 173 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Imaginação e criação participação de cada um depende da intensidade de seu empenho. Ao participar de uma obra de arte como observador, o homem não é um receptor passivo de imagens e impressões, mas, um agente do processo criativo. Sua leitura da obra de arte lhe trará uma série de situações que a cada nova impressão, trará interpretantes diferentes. Ao entrar em contato com a obra de arte, precisará resgatar (recuperar) uma série de imagens, percepções e impressões correspondentes, frutos de sua própria imaginação e experiência. A intensidade de sua participação pode ser bem menor do que a do artista criador, mas estará envolto, como espectador, na atividade dinâmica de corresponder à mensagem. A cada percepção está atualizando a obra. Pela educação, poderá ainda disciplinar a imaginação, desenvolvê-la, conferir ao olho e à mente vocabulários perceptivos capazes de lhes possibilitar a recepção e o entendimento de matizes cada vez mais sutis de percepção. Paralelamente, sua acuidade crítica há de ficar cada vez maior. As imagens mentais, produzidas como são por sensações, assumem determinadas formas, perceptivas e simbólicas, associadas à visão (imagens visuais), à audição (sonoras), ao olfato (olfativas), ao paladar (gustativas), ao tato (táteis) e ao movimento muscular (imagens sinestésicas e cinéticas). A expressão artística recorre, sobretudo aos chamados sentidos superiores da visão e da audição mas, embora menos diretamente, também se vale dos demais. 3.2.6 Classificação das artes contidas na arte Elaborar uma classificação de Arte ou “das artes” é tarefa das mais difíceis, devido à necessidade de se adotar um critério objetivo e universal a propósito do próprio conceito de arte, de sua natureza ou ainda de sua aplicação e funcionalidade. Ao restringir o critério às disciplinas tradicionalmente consideradas “artísticas” - as “belas-artes” - aquelas cujo fim é proporcionar uma impressão estética a seu receptor, e nada além da pureza, vê-se claras e fundamentais diferenças entre elas. Por isso, atentos aos meios que cada expressão da arte utiliza, aceitamos diversas classificações, que permitem a delimitação 174 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Imaginação e criação Artes na arte problemática de seus elementos constitutivos. Contudo não encerram a questão, antes, provocam novos e mais profundos estudos. O primeiro a chamar a atenção para o problema da diversidade das artes foi o alemão Gotthold Ephraim Lessing, que em Laokoon: oder über die Grenzen der Malerei und Poesie(1766; Laocoonte ou Sobre os limites da pintura e da poesia) analisou as interferências da linguagem poética na pintura. No século XIX, o tcheco Robert Von Zimmermann organizou uma classificação das artes segundo suas formas de representação: (1) material: arquitetura, escultura; (2) perceptiva: pintura, música; (3) do pensamento: poesia, literatura. Estas distinções, contudo, eram excessivamente vagas, de vez que seu autor reduzia os elementos temporais a espaciais ou “representações” e não hesitava em afirmar que o ritmo era apenas uma forma particular da simetria. Há, por isso, uma necessidade maior nas classificações da arte em função de eixos de condução, ou seja, seus meios expressivos. Os escultores do século XX, por exemplo, passaram a utilizar metais como alumínio, ferro, aço, tratados com métodos e ferramentas como a fundição e o maçarico. Foi o fascínio pelos materiais novos e pelas técnicas inéditas que levou ao aparecimento da escultura abstrata. Sobras das sociedades industriais e de consumo como as engrenagens, os discos de aço, a sucata, o lixo, as carcaças de geladeira ou velhos automóveis são usados como matéria-prima pelos escultores, que realçam desse modo o relacionamento cada vez mais estreito relacionamento entre o homem e a máquina. Entre os escultores que se servem dessa linguagem estão aqueles adeptos do abtracionismo e o conceitualismo. Novos materiais sintéticos, plásticos, como o papel, o papelão, a resina, e o fiberglass integram a criação escultórica permitindo a possibilidade de extrapolar do virtual para a obra escultórica, da tela do computador, para a escultura em cera ou resina, finalizada com o uso do raio laser – cinzel típico do escultor do século XXI. Costuma-se dividir em dois grandes grupos as técnicas 175 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Artes na arte esculturais, a partir da adição ou subtração de matéria. No primeiro caso, o escultor geralmente trabalha com material mole e plasmável como a argila, cera ou gesso, criando a partir de um núcleo central. Dá forma e volume ao trabalho, do centro para a periferia. A finalização pode ser alcançada por endurecimento em forno –terracota ou transferido para metais como prata ou bronze – moldagem. Muitos escultores contemporâneos trabalham com o método aditivo: fazem assemblages de pedaços de madeira, pedra, metal, plástico e até mesmo o isopor, por colagem, fundição, soldagem e outros métodos. A técnica subtrativa leva o escultor a dispor de um bloco de matéria sólida como madeira ou mármore, desbasta-o pouco a pouco, trabalhando do exterior para o interior. O material é gradativamente removido e o que dele resta constitui a escultura propriamente dita. A escultura eletrônica utiliza essa técnica, a partir de blocos de cera ou resina, com um cinzel a laser. Além de ter de ordenar linhas, planos, massas e volumes, o escultor deve levar em consideração a textura e a cor dos materiais que emprega, bem como a função que sobre estes exercerão a luz e o sombreado. Os valores táteis e a iluminação são relevantes devendo, também, preocupar o escultor, que terá o local e modo em que será exposto o trabalho em foco. Aspectos como interior ou exterior – um aposento iluminado artificialmente; ao ar livre e à luz natural; iluminado do alto para baixo ou de baixo para cima. Esculturas que saíram de seu cenário original muitas vezes não impressionam tanto quanto antes. É o caso da Estátua da Liberdade que em sua reprodução menor, no Sena, não consegue o mesmo impacto da sua irmã maior de Nova Iorque. Caso das esculturas do frontifício do Partenon, idealizadas para uma visão acima do plano, a uma altura média de onze metros do chão, expostas no Museu Britânico, hoje vistas ao nível do olho humano, perdem o caráter impactante pretendido. O caráter sinstético compromete o entendimento e a apropriação do objeto. Elabore e apresente de forma expositiva aos seus colegas um conceito experimental de necessidade construída a partir de um elemento inexistente. Mostre a “Real necessidade” de sua participação na sociedade. 176 Estética e filosofia da arte Unidade - 3 Crítica da razão pura: estética do ego Artes na arte Unidade 4 - Filosofia da história da arte Síntese da unidade Trabalhar-se-á com a história da arte como expressão da cultura destinada a funcionar como termômetro dos comportamentos sociais. Artes Menores. Criação da escola filosófica alemã, a filosofia da história da arte situa-se entre a estética, a teoria geral da arte e a história da arte. A Estética investiga as leis do desenvolvimento artístico, levando em conta fatores como código e o contexto, estudando Arte a partir do ângulo historicista, oposto do que faz a história descritiva da arte. É uma ciência-síntese e integra as chamadas ciências do espírito. Com a estética, participa da investigação filosófica da criação artística. Na historiografia formal da arte o objetivo principal é a crítica do estilo. Desse modo estabelece o sentido da história da arte, ao procurar definir o ritmo desse elemento do desenvolvimento. Responsável por importantes contribuições à metodologia das ciências humanas, o filósofo alemão Wilhelm Dilthey propôs uma abordagem relativista da história que reformulou a crítica literária. 4.1 Reflexões sobre o estado da arte A causa do estudo da necessidade da arte é a existência do formalismo. O ser humano não vive sem simbolismo. É se sua natureza a necessidade do conteúdo semântico. Nesse aspecto, quando lhe faltam elementos de caráter estético-ético para a composição artística serve- se da funcionalidade, caráter muitas vezes ambíguo da arte. Necessitamos de algo e a necessidade faz com que criemos um elemento que a preencha. De outro lado, criamos algo que para justiçar sua existência preenchemos-lhe de significação através de necessidades extemporâneas. É o caso das artes menores. O artesanato e a metalurgia culinária ou as ramificações gastronômicas são os exemplos mais célebres. Entretanto, criações atuais como a internet ou o i-pod, o MP-3, são exemplos das necessidades criadas a partir do objeto. Dentre as artes menores de caráter tridimensional, destaca- se a de ourives, que trabalha com metais. Seus materiais, embora às 177 Estética e filosofia da arte Unidade 4 Filosofia da história da arte Reflexões sobre o estado da arte vezes mais preciosos que o metal do escultor, também são maleáveis e podem ser moldados. Fabergé, ourives e joalheiro russo significou como ninguém a arte de joalheiro. À frente da joalheria da família, criou objetos de luxo originais, muito valorizados pela nobreza russa. No Brasil os artesãos, como mestre Vitalino, como trabalhos de artesanato indígena ou alegoristas carnavalescos, presume a existência de um conhecimento empírico – senso comum – porém, investido de valor estético, por usar primordialmente a CRIAÇÃO – Arte Inata. E para concluir, a pergunta: Todo caboclo ou todo índio é escultor, tapeceiro ou artesão? Entenda-se dessa forma o que seja o conhecimento inato, propriedade, o dom, a faculdade que torna um homem em particular, artista, é a necessidade de expressão. 4.2 A necessidade da arte Em obras como Die Kultur der Renaissance in Italien (1860; A cultura do Renascimento na Itália), de Wilhelm Dilthey é um marco literário onde o Renascimento é definido como o berço da civilização moderna. Dilthey, opondo-se à primazia das ciências exatas, dedicou sua primeira obra, Das Leben Schleiermachers (1870; A vida de Schleiermacher), ao fundador da teologia protestante liberal idealista. Em 1883 publicou Einleitung in die Geisteswissenschaften (Introdução às ciências do espírito), trabalho dedicado ao método historicista, propondo a compreensão relativista do passado como meio de compreender o presente e o pensamento humano em geral como prova dessa relação. No volume Weltanschauung und Analyse des Menschen seit Renaissance und Reformation, 1913; (Filosofia e análise do homem desde a Renascença e a Reforma), empregou uma análise psicológica oposta à psicologia experimental que se praticava na época, como método hermenêutico. Em Ds Erlebnis und die Dichtung (1905; A experiência e a poesia), apresentou os critérios gnosiológicos de sua abordagem, que permitiu a moderna interpretação das obras de Goethe, Lessing, Novalis e Hölderin. Investigue sobre “razão instrumental”, em pelo menos mais três fontes filosóficas a partir de Adorno. Estética e filosofia da arte Unidade 4 Filosofia da história da arte Reflexões sobre o estado da arte A necessidade da arte 178 Opôs-se ao determinismo causalístico das ciências exatas. Deu às ciências do espírito a possibilidade de livrarem-se do naturalismo num retorno radical a Hegel: a compreensão psicológica. 4.3Necessidade social da arte Na historiografia das artes, essa mudança de perspectiva se caracterizou na oposição entre os métodos de Schnaase e Burckhardt. O primeiro preocupado com o problema das relações da arte e o conjunto da vida social e espiritual, sobretudo o povo e a raça, enquanto o segundo, voltado para o estudo do objeto artístico, seu valor intrínseco e suas peculiaridades. A forma voltou a ser objeto de atenção na obra de Heinrich Wölfdlin, Kunstgeschichtliche Grundbegriffe (1915; Conceitos fundamentais da história das artes), em especial a descrição fenomenológica da arte clássica e da arte barroca. Aspectos formais que ressaltaram o caráter humano e individual da criação artística, suas implicações na participação dos sentidos de quem cria, e na formação dos estilos, situam-no como mediador entre a obra de arte e o espectador: quer ensinar a ver e educar os olhos para que saibam interpretar a obra de arte. Seu Caminho foi seguido mais tarde por Arnold Hauser, e no Brasil, pela pintora e historiadora Bernadete Andrade. Worringer interpretou a arte como uma espécie de história psicológica do homem. Ampliou a metodologia histórica. Deu-lhe uma plataforma denominada “psicologia do estilo”, como expressão do espírito de uma época e atitude existencial do ser humano diante do mundo. O “estilo”, para ele, não se distingue como forma expressional do artista, mas como signo de um contexto histórico-cultural. O idealismo retornou à cena com os estudos de Max Dvorák sobre os irmãos van Eyck, sua releitura e interpretação da obra de El Greco lançaram nova luz sobre os estudos historiográficos da arte. Mas Frederick Antal tomou o caminho inverso, ao tratar da pintura florentina dos séculos XIV e XV com rigoroso realismo histórico. A valiosa contribuição de Houser, um dos pilares da filosofia da história da arte contemporânea vem de Sozialgeschichte der Kunst Leia atentamente o texto teatral “O Louco” e descreva o possível cenário em que está ambientada a peça. Discutam em fórum as demais possibilidades (todos os alunos devem participar e comparar suas experiências) 179 Estética e filosofia da arte Unidade 4 Filosofia da história da arte A necessidade social da arte (1953; História social da arte) e Philosophie der Kunstgeschichte (1958; Filosofia da história da arte) é sua interpretação do maneirismo que em Der Manierismus; die Krise der Renaissance und der Ursprung der modernen Kunst (1964; O maneirismo; a crise do Renascimento e a origem da arte moderna). Na atualidade, Hauser foi seguido pelos estudos de Moritz Geiger (fenomenologia), do austríaco Hans Sedlmayr e do inglês Herbert Read, que desmistificaram a trajetória docial da arte, como pela participação da psicanálise. Theodor Adorno e Walter Benjamin trouxeram uma nova leitura para a interpretação do fenômeno da criação estética e na visão Européia. Sua contribuição em que demonstra a atualidade da obra em que a situação do espectador-autor é fundamental para significação artística traz uma nova dimensão ao caráter histórico social da Arte. A Filosofia de Adorno, uma das mais complexas do século XX, fundamenta-se na perspectiva da dialética. Sua obra, a Dialética do Esclarecimento, escrita com Max Horkheimer durante a segunda guerra, é uma crítica da razão instrumental, conceito fundamental Horkheimer, ou uma crítica, fundada em uma interpretação negativa do iluminismo, de uma civilização técnica e da lógica cultural do sistema capitalista (que Adorno chama de “industria cultural”). Tendo cedido em sua autonomia, a razão tornou-se um instrumento. No aspecto formalista da razão subjetiva, apoiada pelo positivismo, que na versão comteana associa a interpretação das ciências e a classificação do conhecimento a uma ética humana, enfatiza-se a sua não-referência a um conteúdo objetivo. Em seu aspecto instrumental, adjetivado ao pragmatismo, visa a certeza de que só a ação humana, movida pela inteligência e pela energia, pode alterar os limites da condição humana, enfatiza a sua submissão a conteúdos heterônomos. A razão tornou-se algo inteiramente aproveitado no processo social. Seu valor operacional, seu papel de domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la. Ainda esse livro, uma crítica à sociedade de mercado que não persegue outro fim que não o do progresso técnico. Estética e filosofia da arte Unidade 4 Filosofia da história da arte A necessidade social da arte 180 Nos Estados Unidos, Jameson demonstra como, na visão de Adorno, “a obra de arte reflete a sociedade e é histórica na medida em que recusa o social e representa o último refúgio da subjetividade individual em relação às forças históricas que ameaçam esmagá-la”. Dos estudos do próprio Freud sobre Leonardo da Vinci e Michelangelo - e do marxismo de Ernst Fischer, Georg Lukács, Lucien Goldman, Karel Kosik, Galvano della Volpe a arte é social e popular. 4.4 A arte popular Para o senso comum, é a criação de arte plástica, musical ou literária, por pessoas das camadas sociais mais carentes, de baixa instrução ou afastadas dos centros urbanos. Assim como a arte primitiva, a infantil e a dos doentes mentais, a chamada arte popular nasceu marginal, distante do processo cultural formal, expressa nos costumes da contemporaneidade. É arte popular, aquele objeto com fim utilitário, decorativo, religioso, lúdico ou puramente expressivo, como estatuetas de animais e de figuras humanas ferramentas, utensílios domésticos, a própria casa e seu equipamento, roupa, jarros, toalhas bordadas ou tecidas, rendas, papéis cortados, xilogravura, imagens religiosas, objetos de devoção, brinquedos e bijuterias. Sua produção é artesanal, geralmente destinada a satisfazer necessidades materiais e espirituais inerentes a determinadas faixas da população, em geral, sem recursos econômicos. Os estilos e conteúdos exprimem o gosto, as atividades profissionais e os costumes de seus produtores e consumidores. Estes, como aqueles, em condições normais, não vêem tais produtos como arte e sim como “coisas necessárias à vida diária”, manifestações de seus sentimentos e de suas habilidades. Muitas vezes se confundem produtor e consumidor, pois a expressão tende a ser impessoal e coletiva, e a criação, como a da criança, espontânea e acrítica. 4.5 Arte e loucura Os loucos são como os beija-flores. Estão sempre a dois metros do chão. A afirmativa é de Artur Bispo do Rosário, para quem a 181 Arte e loucura Estética e filosofia da arte Unidade 4 Filosofia da história da arte Arte popular criação espontânea, aquela muitas vezes dita “primitiva”, pode ser encontrada na manifestação esquizóide ou esquizofrênica. Carl Jung buscou na mitologia ameríndia a resposta para o stress urbano. Cada homem tem seu referente animal ou elo com a natureza. Essa consciência do extra-corpóreo permite a cartas e dando ao indivíduo múltiplas referências existenciais. Essa é apenas mais forma usada pelos homens para lidar com poderosas e desconhecidas forças da natureza. A arte proporciona outra maneira de harmonizar suas forças internas sentidas muitas vezes como incontroláveis e ameaçadoras. Em seu artigo “Considerações sobre Loucura e Arte” a psicóloga e psicanalista Ana Maria Grey afirma que somente a partir do século XIX “[...] é que a figura do artista aparece como a daquele indivíduo livre para criar de acordo com sua própria subjetividade, sendo a obra criada vista como mensagem de suas vivências pessoais”. É que até o século XIX, o processo artístico não abrangia o problema da criação como um problema de linguagem subjetiva. Mas Balsac, Vincent van Gogh, Ludwig Von Bethoven e tantos outros gênios levaram a uma nova reflexão: o artista autônomo, independente, que passa a viver de sua arte, o chamado “artista maldito”, são figurações que aparecem com o Romantismo. Norbert Elias, sociólogo, afirma que Mozart era um gênio, um ser humano excepcionalmente dotado. Sua história foi marcada pelo sofrimento causado principalmente pelo caráter ambivalente de seu status quo: de um lado, o artista burguês na sociedade de Corte, identificado com a nobreza; de outro, seu gosto, e ressentimento pela humilhação que aquela lhe impunha. Desde as primeiras referências entre a genialidade e a loucura foram tratadas por Russeau, e ainda hoje, como nas palavras de Philip Yenawine, nós vivemos numa época na qual a arte freqüentemente parece ser uma língua estrangeira. 182 Estética e filosofia da arte Unidade 4 Filosofia da história da arte Arte popular Unidade 5 - Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Resumo da unidade Este capítulo é inteiramente dedicado a análise de um objeto artístico. Obra de arte atual, imagem gráfica de publicidade institucional, produzida por meios que possibilitam uma multiplicidade de aplicativos. Entre tantas possibilidades de analisar uma imagem que pudesse traduzir a evolução da comunicação visual em pleno processo multimidiático vi-me com o óbvio: Mc DONALD'S, COCA-COLA, FUSCA... Mais aprofundadamente há a idéia de que antes destes ícones, outros os precederam, como JESUS CRISTO, MOLIN ROUGE, LONDON BRIDGE, GILLETTE e, porque não, PIRELLI! Dos processos de visuais de propaganda e marketing experimentados com os novos métodos até as atuais mídias eletrônicas, a marca que mais evoluiu em forma e conteúdo, sem perder sua essência, foi a Pirelli. Por que isso ocorreu? Porque durante o século XX a Itália saiu da condição rural para a de país altamente industrializado em nível de artes visuais e comerciais. Tratar dos comerciais da Pirelli significa rever a história da comunicação visual italiana e suas maiores influências através do século XX, seu principal percurso, como enfatizado por Gillo Dorfles. Dorfles, especialista no campo da crítica de Arte, um proeminente estudioso da arquitetura italiana foi o primeiro autor a colocar na Itália o problema cultural e histórico do desenho industrial, aponta para o impacto que uma companhia de liderança industrial pode ter na cultura visual de uma nação. A primeira contribuição de arte na propaganda da Pirelli foi limitada aos processos gráficos do final do século XIX. No século XX novas técnicas e novas tecnologias foram empregadas, quer na forma de produção de seus artigos, quer na forma de apresentá-los. A Pirelli Introduziu seu “grande P”, alongado, que por décadas tem sido sua melhor forma de comunicação visual, um os símbolos mais conhecidos do mundo, um signo (legisígno) de primeira magnitude. Entre as duas grandes guerras, o grupo de comunicação da marca estudou as características do desenho e internacionalizou as 183 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Arte popular operações de propaganda institucional sem abandonar a parte cultural de suas idealizações. Outros artistas e desenhistas europeus foram admitidos e também de todas as partes do mundo. Como resultado, a “explosão” ocorrida nos anos 50 e 60, quando os melhores desenhistas da Europa estavam na Pirelli. O “grande P”, já muito elegante, foi enobrecido por artistas como Max Huber, Pavel Engelmann, Bob Noorda, Albe Steiner, Bruno Munari, Raymond Savignac, Armando Testa, Riccardo Manzi, Pino Tovaglia e Giulio Confalonieri. Foram os anos da Pirelli magazine, desenvolvida por artistas geniais com artigos de Giuseppe Ungaretti, Eugenio Montale, Leonardo Sciascia ou Umberto Eco. Ilustrada com desenhos de Renato Guttuso e fotografias de Ugo Mulas, Federico Patellani e Fulvio Roiter. Sucesso absoluto favoreceu o pretensioso projeto de lançamento mundial; o “Calendário Pirelli”. Inicialmente produzido na Swinging London of the Sixties, nos anos sessenta (do “the Beatles' hits”) durante o movimento cinematográfico europeu nouvelle vague, o Calendário Pirelli foi acompanhando as sutis mudanças comportamentais e acima de tudo – uma nova quebra de regras, que a cada ano, sugeria um estilo único, exclusivo, indiscutível. O objetivo: superar a cada edição, todas as expectativas e a si mesmo. A supremacia desse ato ocorreu em 2004. 5.1. Análise do processo criativo do trabalho Em 12 de novembro de 2003, no prédio da Corte Real de Justiça, em Londres, o lançamento do Calendário Pirelli 2004, marco absoluto na iconografia da estética contemporânea, e verdadeiro ícone de beleza que atinge seu 40º aniversário. Na ocasião, o Calendário Pirelli foi idealmente apresentado à imprensa, a colecionadores e entusiastas de todo o mundo, Marcando os 40 anos de seu lançamento. Como em outros anos, um dos eventos internacionais mais aguardados pelos aficionados da fotografia, da moda e da beleza. Nessa edição, a “Pirelli Calendar” mostrou uma seqüência fotográfica de modelos de maior expressão, algumas, inclusive, presentes em edições anteriores - Maria Carla Boscono, Karolina 184 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho Kurkova, Natalia Vodianova e Jessica Miller, (em 2003); Frankie Ryder, (em 2001); e Alek Wek (em 1999 e 2000), acompanhadas por Liberty Ross, Amanda Moore, Dewi Driegen, Pollyanna McIntosh, e das novatas, Esther De Jong, Ai Tominaga e Adina. O mundialmente famoso fotógrafo britânico que criou não apenas mais uma nova edição/versão do tradicional calendário (que jamais se repete), na verdade, registrou em linguagem inovadora, tanto técnica quanto expressão artística. O Glamour de mulheres que deixaram fotografar suas expressões e impressões pelas por Knight. São 12 fotos que levam o observador a um universo sugestivo de sonho e fantasia, mas que é inequivocamente uma visão da perspectiva da sexualidade feminina retratada por elas e não como tradicionalmente é percebida pelos homens - é uma ótica revertida. Knigth explicou: para este projeto eu perguntei as mulheres o que elas gostariam de ver representado no 'Pirelli', deixando que elas escolhessem o tema. O resultado foi um Calendário Pirelli vibrante em que as imagens são esculturas visuais, nascidas de uma relação simbiôntica entre fotografia tradicional e a arte digital. A arte hoje responde à crítica social, na qual o artista é testado pelo sistema estabelecido que por sua vez seja fruto do emergencialismo na busca das satisfações e necessidades qualificativas diferentes, de objetos neoplásticos. Esta inovação tecnológica criou um dos mais expressivos trabalhos fotográficos da atualidade. Seu extremo bom-gosto, associado a uma típica abordagem de “arte conceitual” trouxe como resultado um Calendário Pirelli único: vibrante nas cores, abstrato no design, e mágico para o olhar. O renomado artista apoiou-se em três ambientações empregadas simultaneamente para criar um intrigante mundo ao observador. O Abstrato, o Conceitual e o Fantástico. Evocando o cânone do estético-ético, desenhando por Umberto Eco advogamos os princípios de abordagem aberta e isenta da obra de Knight. Observemos, pois, os seus princípios: O abstracionismo implícito; O conceitualismo explícito; O surreal, a serviço da imaginação. 185 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho Traçando um paralelo com outros períodos históricos, notamos que em Arte e Belezza nell' Estetica Medievale (1987), Eco nos mostra que mudou o suporte, o objeto em percepção e a qualificação esteta do elemento fruidor, que observa tal princípio, enquanto o objeto permanece (tecnologicamente diferentes embora conceitualmente idênticos). A Marca “PIRELLI” em seu longo “P” é imutável em nosso imaginário é um legissigno efetivamente dramático. No entanto, como o calendário se renova em cada evento.O que Eco evidencia na análise do simbolismo e do alegorismo é o que move a estruturação do ambiente fantástico - surreal proposto na imagem visitada: GENNAIO. Sobre esse tipo comportamento, o esteta propõe outro intérprete do simbolismo metafísico. O Calendário Pirelli de Knight permite/exige constatar que há a pan-semiose metafísica entre a metáfora fotográfica incisa na escritura presencial impedindo que o observador determine o “real” (fundo branco imperativo e pluridirecional da unicidade) e o sentimento visual - o senso de profundidade exige/determina um parâmetro da dimensionalidade (Nodie since perispectru). Daí admitir-se que a imagem “sugerida” é abstrata; a significação atende aos anseios de cada espectador por está associada a um ou mais elementos imediatos de sua constituição. Toda possibilidade estética está presente na imagem de Knigth. É uma obra formalmente aberta. A imagem mostra claros e escuros num contraste de luz e sombra, assim como intensidades de cor e brilho, propositalmente dispostas a não permitir uma contemplação repousante, conclusiva do objeto. De natureza dualista, é inquietante, enquanto relaxante; mística, enquanto profana; erótica, enquanto sublime; aterradora, enquanto tranqüilizante. Com o avanço da infografia, têm-se produzido peças de design cada vez mais idênticas no formato e até no conteúdo. No trabalho Nick Kigth esse problema não aparece. A razão é a forma de utilização. Outro fato é o mote de arte conceitual. O aspecto Modulor, empregado neste sistema de Design que é o Le Corbusier, em que 186 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho sistemas representam o prolongamento natural dos movimentos artísticos contemporâneos, que evoluíram em tecnologia científica. No Pirelli Calendar 2004, se os elementos são os mesmos, a forma de usá-los é única. De dois modos o Modulor tem contribuído para o design gráfico. Em aplicação direta no design da página e a maneira como pode desenvolver designs assimétricos a partir de um meio simétrico, que tem inspirado os desenhistas, fotógrafos, compositores de textos e artes-finalistas, designers gráficos na criação de diagramas e sistemas da página impressa. Quando analisamos a distribuição da imagem no “cromo” do mês de janeiro percebemos nitidamente o conceito modulor de Le Corbusier. Não é por acaso, nem acidente. Faz parte do processo criador de Knight. Portanto, é também objeto de analise do processo das etapas, o COMO elaborou tal arquitetura para essa imagem, que mesmo usando uma fórmula pronta, pudesse ser tão inovadora, ao mesmo tempo em que tão intrigante e tão eloqüente? Os prováveis caminhos traçados por Nick estão legitimados como forma de expressão estética, em estudos sobre os processos de criação artística com os meios eletrônicos. Entendendo que a simbiose analógico-eletrônica, fóton e bitmap, são os elementos em questão, dentro da interatividade proposta pelo artista, na criação, vislumbra as causas da construção (processo criativo). Do processo de 'construção-criação' de imagens, por meio de recursos eletrônicos, resultam as imagens eletrônicas. Daí entendermos que embora a captura das fotos das modelos seja feita com câmaras analógicas, assim como a captura dos demais objetos físicos sejam frutos do mesmo processo, a digitalização de tais imagens e a utilização do photoshop e outros instrumentos de composição arte- multimidiáticas, tornem o trabalho de Nick produto com correlações no campo da infografia ou computer graphics. A doutora firma ainda que na correlação entre o ato criativo - que deriva da produção com os novos meios tecnológicos - e a doutrina aristotélica das quatro causas, existe como causa material não somente os suportes duros sobre os quais as imagens pré-informáticas se inscreviam, mas, a qualidade das imagens fotográficas de serem A análise completa de Gennaio encontra-se no Ambiente para consulta. Partindo da análise apresentada, comente em fórum e deixe sua opinião (releitura) para outras referências. Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho 187 codificadas sob forma numérica. Essa qualidade permite que impressões das imagens circulem através das interfaces, podendo então ser traduzidas para diferentes meios por intermédio de dispositivos transdutores, sem perda nem distorção. Em seu artigo “Do Pensamento Criador” - citando R. Amheim - discorre sobre método – o pensamento criador atua envolvendo dois processos cognitivos: a intuição e o intelecto, nitidamente observados na obra de Knight: Em sua tese, Mônica Tavares se apropria de A. Molles, ao discutir o papel do autor que parte do intuitivo, procedimento usual para aquisição de conhecimento informal: o primeiro processo. O desenvolvimento intelectual da idéia primordial, responde pela percepção de esquemas funcionais vislumbrando o produtor. A produção da obra gerando o resultado final: o segundo processo. Em sua incansável busca por inspiração, Nick Knight entrou em contato com renomadas figuras do mundo da moda, do entretenimento, da literatura e das artes, trocando idéias com todas elas e compilando suas principais confidências. Pediu delas as idéias e ele as ilustrou. As respostas foram tão variadas, quanto as personalidades das mulheres entrevistadas – informou. Santaella afirma que os conceitos unificadores dos dois domínios da imagem são os conceitos de signo e de representação. É na definição desses conceitos que reencontramos os dois domínios da imagem: o perceptível e o mental, unificados em terceiro, que é o signo/representação. Não esqueçamos que os processos: intuitivo e intelectual nos permitem alcançar os objetivos que são a emissão e a recepção da mensagem. Esse código está implícito no contexto. O calendário Pirelli está no imaginário humano, em todo o planeta, que esperam nas garagens de marcas como Ferrari, Maseratt, Bughatti, BMW Chrysler, Ford e GM, um vislumbre da personalidade feminina do mês; a mulher mais bela do mundo, na opinião do fotógrafo que a clicou, e que mexe com o imaginário coletivo. As tentativas da delimitação do conceito não apenas são muito variadas, mas, fundamentalmente imprecisas. A “representação pública” é o signo no sentido com a filosofia do singular, e com base Faça um diagnóstico acerca da evolução do seu senso crítico, tendo como referentes a disciplina Estética e Filosofia da Arte e sua interpretação atualizada da sociedade em que vive, frente à arte. 188 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho provável, desse ponto em particular, acreditamos ter Nick Knight explorado ao máximo, as possibilidades de singularidade. Problemas do conceito de representação, em diferentes línguas, ligam-se à tradução. O termo também serve para a tradução de conceitos tão distintos como sígno ou arquétipo. Nick vence esta barreira usando o terceiro elemento formal de sua obra. O Estruturalismo Conceitual. O “conceito” de representação encontrado no termo inglês “representation(s)” como sinônimo de signo, é percebido já em Locke, e na sua primeira fase Pierce caracteriza a semiótica, em 1865, como “a teoria geral das representações”. Sperber também utiliza representação, o conceito de uma maneira geral, como um sinônimo de signo, quando diferencia o âmbito conceptual em “representação mental” e “representação pública”. No modelo pierceano, ambos os aspectos do signo são modos de representação. Daí o fotógrafo valer-se de uma lista de formadoras de opinião, mantendo, porém a fonte de cada idéia, incógnita. Embora sejam processos já sedimentados no inconsciente popular, sua ação insígnia não interfere na leitura pura, proposta na forma abstrata das imagens. O trabalho seguinte desenvolve-se a partir dai. A lista de personalidades proponentes de Nick Knight é diversificada. O objeto conceitual é antes de tudo uma forma semântica. São elas: cantoras, atrizes, artistas plásticas, designer de moda, atletas e escritoras. Mulheres que influenciam milhões de pessoas em todo o mundo, criando e definindo comportamento. Desse modo, o inconsciente popular coletivo é ao mesmo tempo porta de entrada e transdutor. Assim, cada imagem está associada a uma idéia expressada por uma personagem de grande significação o inconsciente e no imaginário popular. A Gestalt, empregada no elemento abstrato da obra reproduz esse conceito. Knight consultou uma imensa lista de figuras, mas os nomes associados às idéias não foram revelados. Walter Benjamin serve de amparo para a explicação do fator fantástico - o surrealismo presente em Gennaio. Ocorre que, como explica, “o surrealismo, último instantâneo da inteligência européia” como ícone crítico, pode instalar nas estradas intelectuais ou em “correntes espirituais”, como uma espécie de “usina 189 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho geradora quando elas atingem um declive suficientemente íngreme”. No caso do surrealismo, esse declive corresponde à diferença de nível existente entre França e Alemanha. Para Knight é a diferença existente no repertório contextual de cada cultura. Para o filósofo, o observador alemão não está situado na fonte. Ele está situado no vale. É capaz de avaliar as energias do movimento. Para ele, que como alemão está familiarizado com a crise de inteligência – presente em seu quintal, ou melhor, do conceito humanista de liberdade de Brestd – que sabe ter essa crise despertando uma vontade frenética de ultrapassar o estágio das eternas discussões e chegar a todo preço a uma decisão: O autor como produtor; traduz a necessidade da arte, como produto. Em seu estúdio, Knight fez as fotos com um fundo branco e com variados níveis de contraste e saturação. Tons insólitos de luz foram constituídos para cada uma as imagens. Para o processo de adequação dos temas a cada uma das modelos, foi elaborado um programa de entrevista, entre as possíveis beldades (36 no total) e somente depois de várias entrevista foram selecionadas aquelas que “caberiam” no projeto. Carneiro, do departamento de Arte da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, propõe que tenhamos claro o conceito comercial e o objetivo de solidificar a imagem de uma marca - neste caso, a Pirelli. Tenhamos também em mente o desejo do inusitado, do surpreendente, na obra de Knight. A cada novo olhar são descobertos novos elementos. Ao focalizá-los, uma nova torrente de informação micro-processuais forma novas sinapses, como um elemento mutante -algo microssísmico ocorre. Os Fractais, sugeridos por Le Corbusier. A imagem que não é estática em sua ótica. Embora sua perspectiva sugerida nos leve ao formalismo geométrico e simétrico do renascimento (note-se o sol branco ao centro e acima), sua perspectiva deixa-nos ao mesmo tempo próximos do barroco e do medievo, entre FUGA e FANTÁSTICO. Note-se a entrada acima à esquerda, com a grua que sustenta a saboneteira-banheira, e a saída abaixo à direta, no frio corte da profundidade, como a sugerir um limite longitudinal, atrás das duas argolas. Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho 190 Abstrata em sua capacidade gestaltica dos contrastes e indefinições formais de objetos não distintos, mostra o profundo conhecimento da psicologia russa, deste talentoso fotógrafo. A foto, riquíssima em elementos de primeiridade. Trás a utilização de duros e saturados focos de luz em que a ausência da sombra não significa “chapa”, mas “vazio” - constitutivo de elemento psicológico que permite a imaginação não convencional, como criar uma nova dimensão na imagem, para onde segue o pensamento do espectador. Conceitual em sua possibilidade no campo da stalk. Os elementos fixos e frios conservam em si uma fonte própria de energia. Constitui cada um deles, um trabalho individual extremamente rico em detalhes que mostra o quanto foi demorado e elaborado o processo de finalização. No plano bidimensional percebemos a inexorável fragilidade humana (a vida por quatro fios) e a hermenêutica presente na precisão da forma - postura da modelo. Um fruto do processo intelectual aliado à sensibilidade (intuição) do autor. Hardware e software respondem aos comandos de uma ordem intelectual, nos torna senhores o processo cognitivo. Se o computador não trata a significação, o “olhar do espectador” o fará. Assim, as ferramentas encontradas no photoshop são únicas, nas mãos de cada artista. Isso diferencia a técnica da tecnologia. Nos processos de criação-produção das imagens eletrônicas do calendário Pirelli 2004, Nick Knight trouxe do computador os algoritmos, aliado ao raciocínio matemático, cujas elucubrações estéticas povoaram sua mente e que tais estruturas transformam, em última análise no atual, factual. A obra fotográfica. É lógico imaginar-se que para chegar a esse ponto, o autor passou por todas as etapas: apreensão; preparação; incubação; iluminação; verificação. Os processos multimidiáticos empregados na concepção formal e processual da composição gráfica da foto. São eles: semiose, morfologia, sintaxe, semiótica, primeridade, secundidade e terceridade, interatividade, iconografia, sociologia, psicologia, temporalidade, espacialidade, bi-dimensionalidade, tri- 191 Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho dimensionalidade, iluminação, código, contexto e intesionalidade. Fruição da obra escolhida. Tal a premissa seguida, como argumental, em seus níveis causais (das causas), criacionais (das do pensamento criador), operacionais, (das etapas), foram observados pelo autor, como um esquema, lembrando o que nos mencionou em sua classe, que a intuição aliada ao intelecto pode ser um valioso instrumento de caiação. Em seu artigo, a doutora nos deixa claro que “a intuição não é unicamente um atributo do artista”. Espero desse modo ter fornecido informação sobre alguns dos mais significativos aspectos da percepção e interpretação do objeto artístico. Caro leitor, carpe diem. Estética e filosofia da arte Unidade 5 Gennaio: Ensaio fotográfico holístico Análise do processo criativo do trabalho 192 Referências CUPANI, Alberto. A crítica do positivismo e o futuro da filosofia. Editora da UFSC: Santa Catarina, 1982. ECO, Umberto. Arte e Belezza nell' Estetica Medievale Fabbri. Bompiani; Milan 1987. ECO, Umberto. Obra aberta, Perspectiva.São Paulo, [s.d.]. ELIAS, Norbert - Mozart: sociologia de um gênio. Zahar: [s.n.; s.d]. HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Ed. Centauro: [s.n.;s.d.]. HURLBULT, Allen. Layout. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1986. LACOSTE, Jean. A filosofia da Arte. Zahar editor: Rio Janeiro,1986. LIMA, Luis Costa. Teoria da cultura de massa. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 2002. OITICICA, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. Rocco: Rio de Janeiro, 1986. VELHO, Gilberto (Org.) Arte e sociedade. Zahar: Rio de Janeiro, 1977. WICK, Rainier. A pedagogia da Bauhaus. Martins Fontes: Rio de Janeiro, 1989. MARCUSE, Herbert. A arte na sociedade unidimensional. In: Teoria da Cultura de Massa, 2002. SANTAELLA, Lúcia. Imagem como representação visual e mental. (texto) TAVARES, Mônica. Do processo de criação artística com os meios eletrônicos. In: COMUNICARTE, Campinas, v. 2, n. 20,1997. VERA E SILVA, Adriana. Uma vida inteira dedicada à escola Revista Nova Escola, Edição agosto,1998. 193 Estética e filosofia da arte Referências Glossário Anuk, Inuk, Onuk - Era do gelo ou desuniverso. Relativo à cultura das regiões geladas do Alaska ou da Sibéria. Referências culturais polares e nórdicas também foram levadas para a Islanda e para a Escócia, miscigenando-se com a cultura celta. Aparelhagem – Ferramentas para a composição artística ou outra forma de expressão da cultura. Aprendimento – Frocesso de ensino/aprendizagem. Artificialeza – Neologismo para o conceito tipicamente humano da criação, expressão e de sua formação social e cultural. Aurea mediocrĭtas - Mediocridade dourada – exp. latina. Carpe diem – Aproveite bem o seu dia – exp. latina. Catarse – No modelo aristotélico é a purificação das almas pela experiência através da qual uma descarga emocional provocada por um drama. Décadence avec élégance – decadência com elegância – exp. francesa. Divortĭum Aquarum - Separação das águas – exp. latina. Gestalt – A palavra é um termo intraduzível do alemão para o português (plural Gestalten). O Michaelis sugere como possibilidades as palavras figura, forma, feição, aparência, porte; estatura, conformação; vulto. Na esfera da psicologia e da arte se pode acrescentar estrutura e configuração. Genaio – Janeiro - pal. italiana Infografia – para designar processo de informação gráfica por mídia digital. Inteligência Artificial – conceito de desenvolvimento comportamental autônomo e computadores ou robôs capacitados com auto-diagnose. Modulor – Sistema de lay-out para diagramação de página até hoje utilizado em meios de comunicação como revistas, jornais e páginas da Web. Nodie since perispectru – do objeto percebido por de noção de conjunto; por uma ótica específica – exp. latina. Non sence – sem sentido (não percebido por falta de noção ética ou estética) – exp. francesa. Pluridirecional – Radiante de múltiplas direções ou possibilidades. Estética e filosofia da arte Glossário 194 Pop spot stage – em foco, no auge da fama, no centro de observação. – exp. inglesa. Proto-gênese – fato único da criação primordial. Nascedouro e uma única idéia. Stalk - A palavra de origem russa significa: seguir, caçar espreitando, aproximar-se silenciosamente; andar arrogantemente. Caule, talo. Acometer, perseguir, andar altivamente; pedúnculo, talo, haste, suporte, vareta. Percepção extra-sensorial ou fenomenologia da para- normalidade. Underground – cultura marginal, subterrânea, escondida da mídia capitalista ou da indústria cultural. Utopia principĭa - origem do sonho impossível Currículo do Professor-autor Pedro de Queiroz Sampaio Filho é professor graduado em Educação Artística pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM; formado em Piano pelo CMIFI, especializado em Sintetização e Música Eletrônica, Músico Profissional registrado na OMB - Cons. Reg. Amazonas, como Pianista e Organista Erudito e Popular. Pós-graduado em Tecnologia Multimídia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Professor substituto do Departamento de Artes da Universidade Federal do amazonas (2005-2007) e Professor de Arte na Rede Pública de ensino fundamental (SEMED desde 2005), Arte-educador (Núcleo de Arte – SEMED), desde 2007. Membro do NÚCLEO ARTÍSTICO DO AMAZONAS – NUAM desde 1984, onde assume as funções de Diretor Artístico e Produtor Musical desde 1992, a cadeira de número 17, cujo patrono é Arnaldo Rebello.Membro da ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PARANAPUÃ – ALAP, onde ocupa a cadeira de número 17, cujo patrono é Arnaldo Rebello.Produtor e Diretor Musical: · Diretor dos video-clips para o espetáculo “SHYNTESIS” (1992); Diretor de estúdio em gravações de Boi Bumbá (1994-1997) CARLOS · BATATA, SIDNEY REZENDE; Diretor de estúdio em gravações Estética e filosofia da arte Currículo do professor-autor 195 de coral e conjuntos (1982~1998) (DIVERSOS); Diretor de estúdio em gravações de cantores evangélicos (1984~2002) (DIVERSOS); Produtor Musial e Co-apresentador de programas musicais em TV (Rio de Janeiro, TV E (1982- 1985); · Produtor e Diretor da Série Musisical Amazônica do NUAM - CD-0001/98 ~ 0010/98 (LINDALVA CRUZ - editado em1998 e 2000) / CD-0002/98 ~ 0010/98 (PEDRO AMORIM - inédido) / CD-0002/00 ~ 0010/00 (ARNALDO REBELLO - inédito); Diretor e compositor: · Diretor musical e compositor do LP “UM GRITO DE GUERRA” – 1982; do LP “AMANHECE” – 1984; dos LPs “AT CLASSICS” vols. I e II - 1984/85; · Diretor musical e compositor do CD “SYNTHESIS” – 1999 / CD “VIRTUAL” – 2000 / CD “Antes de Tudo, Você” – 2003. CD “BAROCO” – 2004; · Compositor da trilha musical da série de TV australiana BRASIALIAN COUNTRY AND PEAPLE dirigido por Jonh Mabye (1981~1982); Shows, Musicais, Concertos e Óperas: · Pedrinho...uma palavra (Manaus - 1976); Um grito de Guerra (Manaus, Rio de Janeiro, Boa Vista, Brasí1ia, Curitiba e S. Paulo - 1980 ~ 1983); Música nas Escolas (Rio de Janeiro - 1981/83); Canta Brasil (França - 1985); SYNTHESIS Rio de Janeiro - RJ (agosto/setembo - 1992) Buffalo, New York, - NY (setembro- 1992) Manaus - AM (1992, 1994, 1995 e 1997) Roma - Itália (1995); Manaus Poema e Canção [série I, II e III] (Manaus 1994 ~1996); Jazz Bossa & Cia (Manaus - 1996); Pedrinho Sampaio in Concert (Manaus - 1995); Missa de Comemoração da Cidade - Coral da Telamazon (Itacoatiara - AM -1995); Concerto de homenagem a Villa-Lobos (Ponta Negra - Manaus - 1996); Tributo à Villa-Lobos (Manaus - 1997); Recitais de Natal do Coral da Telamazon (Manaus - 1996 -1997) Lindalva Cruz, 90 anos de Música (Manaus - 1998); Concerto de Natal – Estética e filosofia da arte Currículo do Professor 196 CASINHA TORTA- ECAT (Manaus -2001) / NATAL DA CIDADE – Direção Musical, preparação das Orquestras e do Coral da Cidade (350 FIGURAS) e do Coral Infantil da OCEM (120 crianças) Concerto Natalino na praia da Ponta Negra - OCEM/ECAT/PMM (Manaus - 2000, 2001 e 2002); I FESTIVAL DE CINEMA – Festival Lindalva Cruz de Cinema Antigo Composição e execução da trilha Musical pra a Obra cinematografica de Silvino Santos apresentação em (novembro/dezembro de 2004); Natal Visto do Morro – Cantata Natalina(Diretor e Músico) 3 apresentações (dezembro de 2004); Jubileu de Ouro Curso Ivete Freire Ibiapina (Manaus - 2005) Direção Geral e Orquestração da Ópera Infantil “O MILGRE DAS ROSAS” de Mário Mascarenhas apresentação em pauta para 17/12/05 (Studio 5) e 23/12/05 (Teatro Amazonas). 28/07/06 (Auditório da Prefeitura) Artes Plásticas · Metas – Exposição Individual - desenho nanquim - (Manaus - 1977) 21 nanquins (branco e preto); Uni-Verso – Exposição Individual – Óleo sobre tela - (Manaus - 1979) 21 telas (Tons de Cinza / Banco e Preto); IDEÁPOLIS - Maquete (1995- 1999); De Call tec – DEA – Ufam – (Manaus - 2001); Missões ICHL/UFAM – Multimídia (Manaus - 2002); Gennaio (Manaus – 2004 – Multimídia; Figurinos – Exposição SEMED Desenhos (2007) Literatura · HÁ MIL SÉCULOS ATRÁS - Ficção Científica (1976) inédito; Folha Morta – Poesia (coletânea) - 1981); Entrevista com Elie - Romance (1999) inédito; Visitas – (Memórias) – 2006- 2007) inédito; · AUDE MUS OMES – História da evolução Musical (Manaus - 1997); Guia prático de Teoria Musical – monografia (Manaus - 1996); Guia Prático de Técnica Vocal – monografia (Manaus - 1999); Guia Prático de Apreciação Musical – monografia (Manaus - 2000); Suplementos de Arte (SEMED, 197 Estética e filosofia da arte Currículo do professor-autor Manaus 2007) – Organizador; GENNAIO – Semiótica (análise da obra de Nick Nigth) Artigo Científico; (2004/2006); Lindalva Cruz – A pianista que fez da vida uma sinfonia (artigo -VIDA, Manaus, 2005); Estética e Filosofia da Arte (CED – EAD/UFAM 2007); Teatro Trilha sonora (autoria e execução) · Vesti-blefá (1975 dir. Armando Louro Rosas); Drumond rima Bandeira (1976 dir. Sergio Cardoso); Razões ou de Tudo um Pouco (1976 dir. Armando Louro Rosas); Bumba meu boi bumbá (1982 dir. Fernando Estrela); Texto (autoria e direção) · O Louco (em cima do muro) – Teatro expressionista – psicodrama - (Rio de Janeiro – 1981, (Manaus – 2001/2004); O Corcunda de Notredame - Releitura estética e roteiro adaptado (drama) (Manaus – 2001/2005) TV e Cinema Pedrinho, Um Perfil Musical - Biografia - (TV E, Maurício Pollari – 1976); Brasilian Country and Peaple - Documentários (Jonh Mabye – 1981/1982); Inglês com Música / Sinal Aberto - (TV E, Fernando Lobo – 1982-1984); I love You - (Armando Menezes – 1985/1986); Silvino Santos (SEC, Sérgio Cardoso - 2004); Urdirura ( Francisco Carneiro – 2005); As Viagens de Alexandre Rodrigues (SEC, Dorineth Bentes - 2006); Desta vez eu Vou (animação, Francisco Carneiro – 2007). 198 Estética e filosofia da arte Currículo do professor-autor 1: PAGINA impa 2: verso em branco 3: introdução Página 4 Página 5 Página 6 Página 7 Página 8 Página 9 Página 10 Página 11 Página 12 Página 13 Página 14 Página 15 Página 16 Página 17 Página 18 Página 19 Página 20 Página 21 Página 22 Página 23 Página 24 Página 25 Página 26 Página 27 Página 28 Página 29 Página 30 Página 31 Página 32 Página 33 Página 34 Página 35 Página 36 Página 37 Página 38 Página 39 Página 40 Página 41 Página 42 Página 43 Página 44 Página 45 Página 46 Página 47 Página 48 Página 49 Página 50 Página 51 Página 52 Página 53 Página 54 Página 55 Página 56 Página 57 Página 58 Página 59 Página 60 Página 61 Página 62 Página 63 Página 64 Página 65 Página 66 Página 67 Página 68 Página 69 Página 70