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Cálculo de Raízes de Funções 3-1 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue Cálculo de Raízes de Funções Introdução O cálculo de raízes de funções encontra uso na obtenção da solução de uma ampla gama de problemas de engenharia. Usualmente, a forma analítica de problemas matemáticos y = f(x) requer o conhecimento dos valores da variável independente x para os quais f(x) = 0. Por exemplo, considere a função f(x) = ax2 + bx + c, que é um polinômio de 2o grau com coeficientes a, b, e c e que possui duas raízes. Essas raízes podem ser determinadas pela conhecida fórmula de Baskhara: a acbb x 2 42 1 −+− = e a acbb x 2 42 2 −−− = Para uma equação particular f(x) = x2 - 5x + 6, temos que a = 1, b = -5 e c = 6, resultando na solução: 2 2 15 )1).(2( )6).(1).(4()5()5( 3 2 15 )1).(2( )6).(1).(4()5()5( 2 2 2 1 = − = −−−−− = = + = −−+−− = x x Substituindo-se o valor das raízes na expressão de f(x) = x2 - 5x + 6, veremos que tanto x1, quanto x2 fazem com que esta função se anule, ou seja, que f(x1) = 0 e f(x2) = 0. As equações polinomiais também conduzem a soluções cujo domínio seja o dos números complexos. Por exemplo, a equação de 2o grau f(x) = x2 - 2x + 2 apresenta as seguintes raízes: i2 2 124 2 44 )1).(2( )2).(1).(4()2()2( x i2 2 124 2 44 )1).(2( )2).(1).(4()2()2( x 2 2 2 1 −= −− = −− = −−−−− = += −+ = −+ = −−+−− = sendo que 1i −= . Na prática, nem sempre um problema pode ser equacionado na forma de uma função que possui uma solução analítica como a função de 2o grau. As funções transcendentes, por exemplo, não possuem fórmula analítica para o cálculo das raízes. Nesses casos, pode-se calcular as raízes através de dois métodos: Cálculo de Raízes de Funções 3-2 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue • Método gráfico • Métodos numéricos Nesta nota de aula, trataremos apenas dos métodos para o cálculo de raízes reais, embora os métodos numéricos possam calcular raízes complexas também. Método Gráfico As funções transcendentes podem ter raízes reais e complexas. Entretanto, diferentemente das funções polinomiais, não se pode determinar nem se a função possui raiz real e nem a sua quantidade. O método gráfico é o procedimento inicial adotado para estimar as raízes e como a determinação da raiz com precisão não pode ser feita com este método, deve-se utilizar um método numérico para "refinar" a solução, isto é, melhorar a precisão do valor calculado da raiz. Vamos mostrar a avaliação da raiz de uma função pelo método gráfico através do exemplo de uma função transcendente do tipo: f(x) = ex - 3x, cujo gráfico está mostrado na Fig. 3.1. -1 0 1 2 3 -1 0 1 2 3 4 5 xR2xR1 f(x ) = e x - 3x x Fig. 3.1 - Gráfico da função f(x) = ex - 3x. No gráfico observa-se duas raízes indicadas como xR1 e xR2 e localizadas, respectivamente, nos intervalos [0,5;1] e [1,5;2]. Uma estimativa grosseira das raízes seria xR1 ≅ 0,6 e xR2 ≅ 1,5. O valor com maior precisão será calculado pelos métodos numéricos. Cálculo de Raízes de Funções 3-3 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue Método da Bisseção O método da bisseção é um método conceitualmente simples e baseia-se na idéia de "cercar" a raiz xR por dois valores: um à esquerda da raiz (xE) e outro à direita (xD), formando um intervalo que vai ser continuamente reduzido até que a largura final do intervalo seja tão pequena quanto o erro absoluto da raiz. A redução contínua da largura do intervalo é feita dividindo-se o intervalo em dois e definindo um valor médio xM.pela fórmula: 2 )( DE M xx x + = (3.1) O valor médio xM estabelece dois sub-intervalos: um, entre xE e xM, outro entre xM e xD. A raiz xR estará em um dos dois sub-intervalos. Para determinar em qual dos dois sub-intervalos está localizada a raiz, calculamos f(xE), f(xD) e f(xM) e realizamos a seguinte comparação: Se sinal[f(xM)] = sinal[f(xE)], então xR está no intervalo [xE; xM] senão xR está no intervalo [xM; xD] Este procedimento está ilustrado para os dois casos nos gráficos da Fig. 3.2 e 3.3. Na Fig. 3.2 estão mostrados os valores [xE, f(xE)] e [xD, f(xD)], respectivamente à esquerda e à direita da raiz xR. Utilizando a equação (3.1) obtém-se o valor xM, que para este caso está localizado à esquerda da raiz. A verificação algébrica deste fato é feita comparando-se o sinal de f(xM), que é positivo assim como é positivo o sinal de f(xE). O gráfico da Fig. 3.3 ilustra o caso em que o valor calculado de xM está localizado à direita da raiz xR, porque, algebricamente, o sinal de f(xM) é igual ao sinal de f(xD). f(xM) f(xD) f(xE) x 0 y = f(x) xM xDxRxE Fig. 3.2 - Método da bisseção para o caso do valor xM estar localizado à esquerda da raiz xR Cálculo de Raízes de Funções 3-4 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue f(xM) f(x D ) f(x E ) x 0 y = f(x) x M xD xRxE Fig. 3.3 - Método da bisseção para o caso do valor xM estar localizado à direita da raiz xR Uma vez determinado em qual dos dois sub-intervalos está localizada a raiz, atribui-se o valor de xM ao valor de xE ou xD, conforme o resultado do teste algébrico descrito anteriormente e re-escrito na forma: Se sinal[f(xM)] = sinal[f(xE)], então xE ← xM senão xD ← xM Em linguagem C, o código para este teste é descrito por: if (signbit(f(xm) == signbit(f(xe))) { xe = xm; } else { xd = xm } Uma vez estabelecido o novo intervalo [xE; xD], repete-se o cálculo do valor de xM e aplica-se novamente o teste para verificação do sub-intervalo em que está localizado a raiz. Atribui-se o valor de xM a xE ou xD , conforme o resultado do teste e redefine-se o novo intervalo, conforme ilustra a Fig. 3.4. Os cálculos e testes se repetem até uma determinada variável alcançar um critério de convergência. A este procedimento de cálculo automático denomina-se ITERAÇÃO (não confundir com interação, que tem outro significado) ou cálculo iterativo, que se baseia na repetição de cálculos à partir de valores iniciais arbitrariamente estabelecidos. Do dicionário Michaelis: i.te.ra.ção sf (lat iteratione) Ato de iterar ou repetir. in.te.ra.ção sf ( inter+ação) 1 > Ação recíproca de dois ou mais corpos uns nos outros. 2 Atualização da influência recíproca de organismos inter-relacionados. 3 Ação recíproca entre o usuário e um equipamento (computador, televisor etc.). Cálculo de Raízes de Funções 3-5 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue xE (3) x D (2) x 0 y = f(x) xD (1)xRxE (1) Fig. 3.4 - Determinação de intervalos sucessivos em torno da raiz xR pelo método da bisseção. Os expoentes numéricos indicam a seqüência de iteração. O cálculo iterativo continua até que o seguinte critério de convergência seja satisfeito: ε<− DE xx (3.2) no qual ε é o erro absoluto especificado. Quando o critério for satisfeito, a raiz xR será dada por: ε±= MR xx (3.3) Observar que o erro ε estabelece o número de casas decimais de precisão. Assim, se quisermos calcular a raiz de uma função com precisão de sete casas decimais, estabelece-se que ε = 10-7. Exemplo Vamos ilustrar a aplicação do método da bisseção no cálculo da raiz da função f(x) = ex - 3x localizada no intervalo [0; 1], com erro de 10-5. Solução A função f(x) = ex - 3x, como visto anteriormente, possui duas raízes, sendo que será calculada a raiz localizada no intervalo [0; 1]. Assim, esses valores serão os valores iniciais de xE e xD. Como o erro é 10-5, vamos apresentar os resultados do cálculo com cinco casas decimais na tabela 3.1. A 1a coluna contém o contador do número de iterações, denotado pela letra i. O conteúdo das outras colunas estão identificadas pelo nome das variáveis na 1a linha. Cálculo de Raízes de Funções 3-6 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue Tabela 3.1 - Resultado do cálculo da raiz da função f(x) = ex - 3x no intervalo [0;1] pelo método da bisseção i xE xD xM f(xE) f(xD) f(xM) erro 0 0,00000 1,00000 0,50000 1,00000 -0,28172 0,14872 1,00000 1 0,50000 1,00000 0,75000 0,14872 -0,28172 -0,13300 0,50000 2 0,50000 0,75000 0,62500 0,14872 -0,13300 -0,00675 0,25000 3 0,50000 0,62500 0,56250 0,14872 -0,00675 0,06755 0,12500 4 0,56250 0,62500 0,59375 0,06755 -0,00675 0,02952 0,06250 5 0,59375 0,62500 0,60938 0,02952 -0,00675 0,01116 0,03125 6 0,60938 0,62500 0,61719 0,01116 -0,00675 0,00214 0,01563 7 0,61719 0,62500 0,62109 0,00214 -0,00675 -0,00232 0,00781 8 0,61719 0,62109 0,61914 0,00214 -0,00232 -0,00009 0,00391 9 0,61719 0,61914 0,61816 0,00214 -0,00009 0,00103 0,00195 10 0,61816 0,61914 0,61865 0,00103 -0,00009 0,00047 0,00098 11 0,61865 0,61914 0,61890 0,00047 -0,00009 0,00019 0,00049 12 0,61890 0,61914 0,61902 0,00019 -0,00009 0,00005 0,00024 13 0,61902 0,61914 0,61908 0,00005 -0,00009 -0,00002 0,00012 14 0,61902 0,61908 0,61905 0,00005 -0,00002 0,00001 0,00006 15 0,61905 0,61908 0,61906 0,00001 -0,00002 0,00000 0,00003 16 0,61905 0,61906 0,61906 0,00001 0,00000 0,00001 0,00002 17 0,61906 0,61906 0,61906 0,00001 0,00000 0,00000 0,00001 18 0,61906 0,61906 0,61906 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 A raiz calculada após 18 iterações com ε < 10-5 é igual a 0,61906. Este resultado é exato com cinco casas decimais. Observar que quando o critério de convergência é atingido, os valores de xE, xD e xM são iguais com cinco casas decimais. Método Iterativo de Newton-Raphson O método de Newton-Raphson é um método numérico iterativo para o cálculo de raiz de uma função f(x). A fórmula para o cálculo iterativo pode ser obtida através da aproximação de uma função f(x1) em torno de um ponto x0 por uma série de Taylor de 1o grau: ))(()()( 01001 xxxfxfxf −′+≈ (3.4) Se considerarmos que o valor de x = x1, está próximo à raiz, então podemos considerar que f(x1) ≅ 0, de modo que podemos escrever a equação na forma: )( )( 0 0 01 xf xf xx ′ −≈ (3.5) À partir de x1 podemos calcular um novo valor x2 mais próximo ainda da raiz através da mesma aproximação anterior: ))(()()( 12112 xxxfxfxf −′+≈ (3.6) Cálculo de Raízes de Funções 3-7 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue Neste caso, vamos considerar que f(x2) ≅ 0 e que f(x1) é pequeno porém diferente de zero. Assim, podemos re-escrever a equação como: )( )( 1 1 12 xf xf xx ′ −≈ (3.7) Se prosseguirmos, podemos escrever uma equação geral para o cálculo de x na iteração i+1 à partir do valor de x, f(x) e f’(x) em x = x0: )( )( 1 i i ii xf xf xx ′ −=+ (3.8) Este cálculo, denominado de cálculo iterativo, é realizado até que o critério de convergência seja satisfeito: ε≤−+ ii xx 1 (3.9) Exemplo Vamos calcular novamente a raiz da função f(x) = ex - 3x localizada próxima ao valor x = 0 pelo método iterativo de Newton-Raphson. A Tabela 3.2 apresenta os valores calculados. Tabela 3.2 - Resultado do cálculo da raiz localizada próxima a x = 0 da função f(x) = ex - 3x pelo método iterativo de Newton-Raphson i xi f(xi) f'(xi) xi+1 erro 0 0,00000 1,00000 -2,00000 0,50000 0,50000 1 0,50000 0,14872 -1,35128 0,61006 0,11006 2 0,61006 0,01036 -1,15946 0,61900 0,00894 3 0,61900 0,00007 -1,14294 0,61906 0,00006 4 0,61906 0,00000 -1,14282 0,61906 0,00000 A raiz calculada após 4 iterações é igual a 0,61906 com erro menor do que 10-5. Comparando-se este resultado com o obtido pelo método da bisseção, observa-se que a convergência do método da bisseção foi muito mais lenta do que a do método de Newton- Raphson. Isto deve-se ao fato que o método da bisseção apresenta erro proporcional ao intervalo |xE – xD|, isto é, de primeira ordem na variável x, ao passo que o método de Newton- Raphson apresenta erro de segunda ordem sobre a variável x. Dificuldades no Cálculo de Raízes pelo Método de Newton-Raphson O método de Newton-Raphson apresenta dificuldades no cálculo de raízes de funções polinomiais que apresentam pontos de mínimos e/ou máximos na vizinhança da raiz, como mostrado na Fig. 3.5. Cálculo de Raízes de Funções 3-8 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 -10 -5 0 5 10 f(x) = 3x3 - x2 - 4x + 5 y x Fig. 3.5 - Gráfico da função f(x) = 3x3 – x2 – 4x + 5 exibindo pontos de máximo e mínimo locais na proximidade da raiz. No exemplo, a função f(x) = 3x3 – x2 – 4x + 5 é uma função polinomial de 3o grau que possui apenas uma raiz real ( x = -1) e duas raízes complexas. O gráfico cartesiano x-y mostra somente a raiz real e mostra também que a função possui um ponto de máximo local em x ≅ -0,57 e um ponto de mínimo local em x ≅ 0,79. Para exemplificar o problema da convergência do método de Newton-Raphson, vamos calcular a raiz real empregando o método de Newton-Raphson com x0 = 5. Tabela 3.3 - Resultado do cálculo da raiz da função polinomial cúbica pelo método de Newton-Raphson. i xi f(xi) f'(xi) xi+1 erro 0 5,00000 335,00000 211,00000 3,41232 1,58768 1 3,41232 98,90543 93,97085 2,35981 1,05251 2 2,35981 29,41532 41,39873 1,64927 0,71054 3 1,64927 9,14139 17,18238 1,11725 0,53202 4 1,11725 3,46658 4,99978 0,42391 0,69335 5 0,42391 3,35320 -3,23055 1,46187 1,03797 6 1,46187 6,38783 12,30993 0,94296 0,51892 7 0,94296 2,85435 2,11659 -0,40560 1,34856 8 -0,40560 6,25771 -1,70821 3,25771 3,66331 9 3,25771 85,07572 84,99877 2,25681 1,00091 10 2,25681 25,36255 37,32498 1,57730 0,67951 11 1,57730 7,97532 15,23630 1,05386 0,52344 12 1,05386 3,18525 3,88786 0,23458 0,81928 Cálculo de Raízes de Funções 3-9 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue 13 0,23458 4,04539 -3,97392 1,25256 1,01799 14 1,25256 4,31632 7,61508 0,68575 0,56681 15 0,68575 2,75417 -1,13922 3,10335 2,41760 16 3,10335 72,61888 76,47034 2,15372 0,94963 17 2,15372 21,71661 33,43898 1,50428 0,64944 18 1,50428 6,93188 13,35705 0,98531 0,51897 19 0,98531 2,95764 2,76687 -0,08364 1,06895 20 -0,08364 5,32582 -3,76975 1,32913 1,41278 21 1,32913 4,96100 9,24111 0,79229 0,53684 22 0,79229 2,69513 0,06498 -40,68675 41,47904 23 -40,68675 -203547,62007 14976,07806 -27,09523 13,59152 24 -27,09523 -60296,80000 6657,55526 -18,03833 9,05690 25 -18,03833 -17856,25044 2960,51034 -12,00686 6,03148 26 -12,00686 -5284,02970 1317,49538 -7,99619 4,01066 27 -7,99619 -1560,76358 587,44457 -5,33933 2,65687 28 -5,33933 -458,79785 263,25419 -3,59653 1,74279 29 -3,59653 -133,11269 119,60839 -2,48363 1,11290 30 -2,48363 -37,19392 56,48287 -1,82513 0,65850 31 -1,82513 -9,26958 29,63008 -1,51228 0,31284 32 -1,51228 -1,61366 19,60760 -1,42999 0,08230 33 -1,42999 -0,09728 17,26372 -1,42435 0,00564 34 -1,42435 -0,00044 17,10769 -1,42433 0,00003 35 -1,42433 0,00000 17,10698 -1,42433 0,00000 Por causa da presença de pontos de mínimo e máximo na vizinhança da raiz observa-se que o método de Newton-Raphson apresenta uma convergência lenta, principalmente quando o valor calculado de xi+1 cai na região compreendida pelos pontos de mínimo e máximo (iteração 22) para a qual f’(x) ≈ 0. Método da Secante Apesar da convergência do método de Newton-Raphson ser rápida, ele apresenta uma dificuldade prática na implementação de um algoritmo para o cálculo de raízes de uma função genérica pelo fato de requerer o cálculo algébrico da derivada da função f(x). Este problema pode ser contornado através da aproximação da derivada exata (que requer um procedimento algébrico) pela diferença finita da função f(x), que é um procedimento numérico. Este método recebe o nome de método da secante, mas também é conhecido, com algumas variações, com o nome de método da falsa posição ou método regula falsi. O procedimento para dedução do método da secante pode ser explicado através do gráfico da Fig. 3.6. Nele vamos definir dois valores de x localizados à esquerda (xE) e à direita (xD) da raiz xR, tal como no método da bisseção. No entanto, diferentemente deste, o valor que irá dividir o intervalo |xE – xD| em dois é estabelecido através de um cálculo que utiliza a uma reta secante (ou corda) que une os valores de f(xE) e f(xD). Cálculo de Raízes de Funções 3-10 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue x x xE N D xEf( ) f( )xD x y y = f(x) xR Reta secante Fig. 3.6 – Gráfico esquemático para dedução do método da secante. Por identidade entre os dois triângulos da figura, podemos escrever: ED EN D E xx xx )x(f )x(f − − = − (3.10) Rearranjando a expressão e isolando o termo para xN, obtém-se a equação: )x(f)x(f )x(fx)x(fx x ED EDDE N − ⋅−⋅ = (3.11) Escrevendo-a na forma mais conveniente como: )x(f)x(f )x(f)xx( xx )i( E )i( D )i( E )i( E )i( D)i( E )i( N − ⋅− −= (3.12) obtém-se uma expressão equivalente à expressão (3.8) do método de Newton-Raphson, na qual a derivada da função f(x) do denominador é substituída pela diferença finita [f(xD)-f(xE)]/(xD-xE) na fórmula do método da secante. O critério de convergência é semelhante ao do método de Newton-Raphson (equação 3.9), porém aplicado sobre os valores de xN. Cálculo de Raízes de Funções 3-11 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue Exemplo O cálculo da raiz da função f(x) = ex – 3x é apresentado na tabela seguinte empregando o método da secante. Tabela 3.4 - Resultado do cálculo da raiz da função f(x) = ex – 3x pelo método da secante. i xE xD f(xE) f(xD) xN erro 0 0,00000 1,00000 1,00000 -0,28172 0,78020 1 0,00000 0,78020 1,00000 -0,15869 0,67335 0,10686 2 0,00000 0,67335 1,00000 -0,05925 0,63568 0,03767 3 0,00000 0,63568 1,00000 -0,01874 0,62399 0,01169 4 0,00000 0,62399 1,00000 -0,00561 0,62051 0,00348 5 0,00000 0,62051 1,00000 -0,00165 0,61949 0,00102 6 0,00000 0,61949 1,00000 -0,00048 0,61919 0,00030 7 0,00000 0,61919 1,00000 -0,00014 0,61910 0,00009 8 0,00000 0,61910 1,00000 -0,00004 0,61907 0,00003 9 0,00000 0,61907 1,00000 -0,00001 0,61906 0,00001 10 0,00000 0,61906 1,00000 0,00000 0,61906 0,00000 Observa-se que após 10 iterações o método convergiu para a raiz 0,61906 com ε < 10-5. A convergência deste método é semelhante à do método de Newton-Raphson, porém, com a simplicidade conceitual do método da bisseção. Exercícios propostos 1. Para cada uma das equações abaixo, encontre pelo menos uma das raízes para que f(x) = 0, empregando o método da bisseção e o método de Newton-Raphson: (a) ex/2 - x2 = y (b) x2 - 5x + 6 = 0 (c) ln x - x + 2 (d) x2 - senh x (e) x4 – 14x2 + 24x - 10 2. Um outro método para encontrar as raízes de f(x) = 0 é o chamado método iterativo linear, no qual a raiz é calculada re-escrevendo a função f(x) = g(x) - x, de maneira que o problema agora é encontrar o valor de x tal que g(x) = x por iteração. Encontre a função g(x) e resolva o problema do cálculo da raiz de x localizada no intervalo [0; 0,5] da função f(x) = ex – 3x empregando o método iterativo linear. 3. Escreva uma equação de iteração pelo método de Newton-Raphson para o cálculo da raiz quadrada e raiz cúbica de um número real x. Faça x = 2 e aplique a equação de iteração obtida para calcular a sua raiz quadrada e a sua raiz cúbica. 4. Duas escadas, uma de 20 m e outra de 30 m, apoiam-se em edifícios frontais a uma avenida, conforme ilustrado na Fig. P1. Se o ponto no qual as escadas se cruzam está a 8 m de altura do solo, determinar a largura da avenida. Gruenberger e Jeffrey, em Problems for Computer Solution (New York: Wiley, 1964), mostram que este problema pode ser formulado para pedir a solução da seguinte equação: y y y y4 3 216 500 8000 32 000 0− + − + =. Cálculo de Raízes de Funções 3-12 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue para o qual x y= −400 2 . 30 20 8 y x Fig. P1 5. Analisando-se o comportamento de compressores de ar a pistão, frequentemente é necessário obter-se gráficos de pressão versus rotação angular da árvore de manivelas do compressor durante o tempo de compressão. Esses dados podem ser aproximados analiticamente primeiro definindo-se um modelo para o compressor e, em seguida, aplicando-se fundamentos de mecanismos e termodinâmica ao modelo. Os componentes básicos do compressor a pistão são mostrados na Fig. P2, juntamente com os parâmetros geométricos usados na determinação do volume limitado entre o pistão e o cilindro. Pela aplicação dos fundamentos de mecanismos, este volume pode ser expresso como: V V D r r c= + − + − − pi θ θ 2 2 4 1 1 1( cos ) sen� � (P5.1) no qual: Vc - volume morto no ponto morto alto r - raio da árvore de manivelas D - diâmetro do cilindro � - comprimento da biela θ - ângulo de rotação da árvore de manivelas a partir do ponto morto alto Consideremos que o tempo de compressão ao se mover o pistão a partir do ponto morto baixo (θ = 180o) até o ponto morto alto (θ = 360o). Um modelo freqüentemente usado para este processo supõe que as válvulas de admissão e escape conservam-se fechadas e que não há transferência de calor de ou para o ar durante o tempo de compressão. A aplicação da termodinâmica a este modelo fornece as seguintes relações entre pressão, volume e temperatura: Cálculo de Raízes de Funções 3-13 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue A n T T B T T C T T D n V Vi i i i � � + − + − + =( ) ( ) 1 2 02 2 (P5.2) p p V V T Ti i i = ⋅ (P5.3) nas quais: p - pressão V - volume T - temperatura absoluta A = 0,15787 B = 0,51001.10-4 C = 0,74171.10-8 D = 0,6855 e o índice i denota a condição inicial no início do tempo de compressão, que se supõe conhecido. As equações (P5.1), (P5.2) e (P5.3) podem ser usadas para determinar p versus θ. O procedimento para obter esses valores é selecionar um valor de θ entre 180o e 360o em (P5.1). O valor resultante para V pode ser usado em (P5.2), que pode ser resolvido pelo método de Newton-Raphson para se obter T. Os valores de T e V são, então, usados em (P5.3) para determinar o valor de p correspondente. Calcular uma tabela de θ versus p, V e T, para θ entre 180o e 360o com incremento de 10o. Com estes resultados, traçar o gráfico de p em função de θ. Considere para o problema que, para pi = 14,7 psi, Ti = 530oR, θ = 240o, Vc = 6,3 ft3, r = 2,0 in, D = 3,5 in e � = 7,0 in, os resultados aproximados poderiam ser p = 18,7 psi, V = 37,3 ft3 e T = 568oR. � r θ Válvulas de admissão e escape Cilindro Pistão Biela Virabrequim Ponto morto alto (extremidade do pistão quando = 0 ) Ponto morto baixo (extremidade do pistão quando = 180 ) θ θ o o d Fig. P2 Cálculo de Raízes de Funções 3-14 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue 6. Deseja-se determinar o efeito da pressão sobre a temperatura do ponto de condensação do produto da combustão completa de hidrocarbonetos parafínicos com ar teórico. A temperatura de condensação, também chamada de ponto de orvalho, é definida como a temperatura na qual o vapor d’água começa a condensar-se à medida que o produto da combustão seja resfriado à pressão constante. Quando é alcançado o ponto de orvalho, a pressão parcial do vapor d’água no produto da combustão vai igualar a pressão do vapor de água pura na temperatura de condensação e esta relação pode ser usada para determinar o ponto de orvalho. Um hidrocarboneto parafínico tem fórmula química CnH2n+2 e a equação para combustão completa com ar teórico pode ser expressa como: C H n O n N n CO n H O n Nn n2 2 2 2 2 2 22 1 2 1 79 21 1 2 1 79 21+ + + + + → + + + +( ) ( ) ( ) ( ) (P6.1) da qual a fração molar do vapor d’água nos produtos é calculada por: x n n n n n nH O2 1 1 2 1 79 21 1 9 52 4= + + + + + = + +( ) ( ) ( / ) , ,76 (P6.2) A pressão parcial do vapor d’água no produto da combustão é igual ao produto da fração molar do vapor d’água pela pressão do produto da combustão. Assim, p x p n p nH O H O2 2 1 9 52 4= ⋅ = + + ( ) , ,76 (P6.3) A relação entre a pressão do vapor de água pura e a temperatura é dada por: � n p x T a bx cx dxv = − + + + 8 2 1 3 ,07284 ,3026 (P6.4) no qual: pv - pressão de vapor (psi) T - temperatura absoluta (oR) x = 1165,09 - T a = 3,2437814 b = 3,2601444.10-3 c = 2,0065808.10-9 d = 1,2154701.10-3 Como a pressão parcial e a pressão do vapor d’água devem ser iguais no ponto de condensação, (P6.2), (P6.3) e (P6.4) podem ser combinados para se obter: � n n p m x T a bx cx dx ( ) , ,76 ,07284 ,3026 + + = − + + + 1 9 52 4 8 2 1 3 (P6.5) Cálculo de Raízes de Funções 3-15 Cálculo Numérico e Computacional C.Y. Shigue que pode ser solucionado em T para valores dados de p e n. Como (P6.5) é uma equação não-linear, um método numérico como o Newton-Raphson deve ser usado. Com este objetivo, é conveniente reescrever (P6.5) como: f T x T a bx cx dx n n p m ( ) , ( ) , , ,= + + + − + + − =2 3026 1 1 9 52 4 76 8 07284 0 3 � (P6.6) Para usar o método de Newton-Raphson é necessário diferenciar-se (P6.6) com relação a T, para se obter: df dT a bx cx dx xd T dx T x b cx T dx = + + + ⋅ + − − + + 2 3026 1 1 1165 09 3 1 3 2 2 , ( ) , ( ) ( ) (P6.7) Para o etano (n = 2) sob 1 atm (p = 14,7 psi), o resultado é T = 582,97oR = 323,87 K. Verificar este resultado e calcular o ponto de orvalho para o produto da combustão do metano (n = 1), do propano (n = 3), do butano (n = 4) e do pentano (n = 5). 7. O pH de soluções diluídas de ácidos fracos pode ser calculado pela fórmula: [ ] [ ] ( )[ ]H K H K C K H K Ka a a w w a+ + ++ − + − =3 2 0 (P7.1) na qual: pH = - log [H+] Ka - constante de dissociação do ácido Ca - concentração molar do ácido Kw - produto iônico da água Calcular o pH de uma solução de ácido bórico a 24oC sabendo-se que: Ka = 6,5.10-10 (moles/l)2, Ca = 1,0.10-5 moles/l Kw = 1,0.10-14 (moles/l)2