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Direito Civil
Aula 3
No texto, se critica a falta de cuidado com modificações sociais do código civil em face de várias mudanças advindas da nova
constituição, criando certa disparidade entre os textos, que são fundamentais estarem em acordo.
Vendo o código civil, vemos a passagem do mesmo a um aspecto socializado, publicizado, constitucionalizado e despatrimoniali
zado, se afastando do empiricismo do direito constitucional.
O código de 1916 é de autoria de Clóvis Bevilaqua, tendo como grande fonte de inspiração dois códigos anteriores: o código
civil francês (napoleônico) editado em 1804, e ainda hoje em vigor, com suas devidas alterações para a atualidade. Além dele,
temos o código alemão (BGB), entrando em vigor em 1900. Segundo Bevilaqua, foram dois códigos que trataram com sucesso as
relações sociais e contratuais presentes na época.
Foi fruto das doutrinas individualistas e voluntaristas do Código de Napoleão, transcrito o espírito libertário do antigo
regime da revolução francesa para a constituição do nosso código civil de 1916. O código civil francês é a consolidação
das conquistas da revolução. Também há presença de doutrinas voluntaristas, a ideia de que agora somos todos iguais, logo,
os contratos também são vistos em bases igualitárias, apoiadas pela lei.
O código de 1916 vai dar muita importância a vontade individual, pois finalmente o burguês é livre para tratar com quem
quiser e quando quiser. A autonomia privada torna-se o cerne do comportamento civil. Começamos a tratar então com o principal
instituto do direito civil, a premazia da vontade individual, sendo traduzida como a idéia de autonomia privada.
Isso quebra o conceito do antigo regime de pactos comerciais exclusivos e mandatórios, afirmando valores que têm como cerne
sua liberdade de empreender, de discurso, a vitória de individuais contra o estado.
O século passado tratou de erodir a autonomia privada, com as duas grandes guerras, pois mostraram que se deixarmos que a
autonomia privada seja plena, ocorrerá exploração e injustiça. Mostrando que, no século XX, é necessária a reinserção do
estado na economia.
Logo, o código de 1916 tem ideia principal de cristalizar essas vitórias individuais, e reger todas as relações jurídicas dos
indivíduos, é a disciplina das relações patrimoniais. O Direito Civil surge como regulador de todas as relações fora da
alçada do Estado.
O Código é a expressão do "mundo da segurança" (Zewig, Stefan), com a idéia que oferece para todas as pessoas um ponto de
partida que é o igual, que é o mesmo de todos, onde você pode recorrer às regras que regem todas as relações particulares.
A idéia de código significar segurança chegou ao extremo, onde até napoleão consta que o juíz é a boca da lei, a forma de
expressar o que a lei já dizia. Segurança essa significando segurança em desenvolver suas relações econômicas, a partir de
uma visão de mundo pós-revolução francesa em um ideal em que todos são iguais, sem se preocupar que uma parte possa ter
mais força que outra.
No século XX, temos uma mudança no mundo, tornando-o cada vez mais complexo, com desigualdades nítidas entre as pessoas. A
primeira guerra mundial, revolução industrial e surgimento dos movimentos sociais indica que essa autonomia desrregulada
deve ser revista.
Porém, temos um código civil que foi feito para durar, por mais que possuisse apenas a visão do século 19.
O código de 16, promulgado, também não leva em consideração esses fatores e leva o país a rever os contextos desse código
ultrapassado, sendo necessário após a constituição de 1988 medir as mudanças sociais ocorridas no séc. XX.
Começam, então, a serem redigidas leis em caráter excepcional, pois dissentiam do código civil, mas não o anulava, completan
do-o. Mas a partir dos anos 30, começam a surgir leis que vão começar a tratar de verdadeiras situações externas ao código
civil, sendo leis especiais para alguns setores. Começa então uma explosão de leis redigidas para fora do código civil que
vão tratar de diversas outras situações. Isso cria uma mudança bastante expressiva no código civil.
Por exemplo, temos o caso apreciado no começo do século XX, do Conde Alvares Penteado, cujo patrimônio gerou a faculdade pau
lista. Nos anos 10, ele tinha um empreendimento empresarial no bairro da Mooca. Ele vende essa fábrica que ele possuía para
uma companhia têxtil, celebrando um contrato. Logo depois de vendida, o Conde, no mesmo bairro, compra outro terreno e cons
troi o mesmo negócio que ele desenvolvia. Ele não fez nada errado, porém ele não comunicou o fato posterior, deixando de
colocar em questão o fator da clientela.
A companhia então, entrou na justiça pela expectativa de explorar a clientela, e, com essa ação, o Conde foi contra as
expectativas do contrato. Esse caso chega ao STF. Defendendo a companhia, temos Carvalho de Mendonça e o Conde, Ruy Barbosa.
Quem julgava o caso era Pedro Lessa. A tese de Barbosa era que o conde não fez nada de errado, pois no contrato está a única
forma de controle sobre o negócio, e nada impedia nem no contrato nem na lei do Conde agir assim.
Se o código civil de 2002 estivesse em vigor, diria que todas as partes contratantes, independente de estar descrito no
contrato, devem cumprir sobre o dever de boa fé. Em todo contrato, se tem o dever de se prezar a boa fé, e o direito e a
doutrina criaram todo o conceito de boa fé objetiva, logo, se o Conde tivesse a intenção de se reestabelecer, não poderia se
não estivesse descrito no contrato.
Entendemos então, que o direito civil mudou, pois no início do século, prevaleceu a tese de Ruy Barbosa. Essa mudança traduz
na perda do aspecto centralizador do Estado, trazendo para discussão temas atuais do direito civil, como o direito de
família. 
Logo, vemos duas transformações marcantes, a passagem do individualismo para o coletivismo e o abandono de concepções subje
tivas para a ascenção de concepções objetivas.
A responsabilidade subjetiva é a ideia de que alguém só pode ser sancionado por um ato se agir com culpa. Por exemplo, em um
acidente de carro, pela responsabilidade subjetiva, teriamos que provar que aquele motorista agiu com culpa, tentando culpar
uma conduta individual para responsabilizar o resultado. Já na objetiva, podemos responsabilizar o agente pelo risco ou
pela relação de consumo, não só baseado pela intenção.
Outro exemplo é a boa fé subjetiva e objetiva. A subjetiva é a traduzivel pelo desconhecimento de algo que vicia a sua rela
ção, de um fato que a prejudica, como o exemplo do possuidor de boa fé, a pessoa que ocupa um terreno achando que é dele,
mas na verdade não é. Esse sujeito agiu de boa fé subjetiva, já que não é intenção dele estar em um lugar que não deveria.
O século 20 coloca ao lado disso a boa fé objetiva, o dever de informar. Não é necessário mais julgar isso, mas é de obriga
toriedade informar sobre o ato.
Vemos que o século 20 traz uma mudança no que se colocava o sujeito analizado pela intenção ou responsabilidade subjetiva 
que ele poderia ter, objetivando a relação de responsabilidade e deveres da parte.

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