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CIÊNCIAS JURÍDICAS PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO (CCJ 0004) PROFESSOR: ADELMO SENRA GOMES (adelmooprofessor20132@bol.com.br) TÓPICOS A SEREM ABORDADOS EM SALA DE AULA (Obs.: A leitura e os estudos dos textos a seguir deverão ser feitos conjuntamente aos textos das três Apostilas disponibilizadas pela Universidade!) 2013.2 Temas a serem abordados Aula 1 – Introdução do Estudo da Psicologia História da psicologia e sua importância para o direito; Psicologia científica X Psicologia do senso comum; Objeto de estudo da psicologia; Fenômenos psicológicos e sua importância. Aula 2 – Desenvolvimento humano: aspectos psicossociais Conceito de desenvolvimento humano; Hereditariedade e meio ambiente; Teoria do desenvolvimento psicossocial. Aula 3 – Personalidade: definições, determinantes e formação Personalidade: definição; Formação e determinantes da personalidade; Estruturas clínicas da personalidade. Aula 4 – Gênero: representações sociais Conceito de gênero; Sexualidade e gênero; Identidade de gênero e orientação sexual; Violência de gênero. Aula 5 – A família: relações afetivas e tipos de famílias na contemporaneidade A formação das relações afetivas; Formação da família; Funções da família; Tipos de família. Aula 6 – Influências sociais, preconceitos, estereótipos e discriminação Construção de estigmas; A Lei Federal nº 10.216 (Lei Paulo Delgado). Aula 7 – Aspectos psicológicos das relações humanas. Comportamento antissocial e violência Lei simbólica e Lei Jurídica; Definição de violência e agressividade; Formas de violência; Comportamentos antissociais; Transtorno de personalidade antissocial: características e consequências. Aula 8 – A psicologia, o judiciário e a busca pelo ideal de Justiça – Justiça Restaurativa. Métodos autocompositivos de resolução de conflitos. Direito e Justiça; Justiça Restaurativa X Justiça Tradicional Mecanismos autocompositivos de resolução de conflitos. Aula 9 – As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área de família O trabalho do psicólogo nas varas de família; A guarda de crianças e adolescentes; O processo de alienação parental e suas consequências legais e psicológicas. Aula 10 - As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área da infância, juventude e idoso A importância do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); Tipos de violência contra criança e adolescentes; O processo de adoção e suas etapas; O Estatuto do Idoso e a violência contra o idoso; O trabalho do psicólogo no Juizado da Infância, Juventude e do Idoso. Aula 11 - As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área da infância e juventude O Código de Menores e o ECA quanto aos adolescentes em conflito com a lei; Medidas socioeducativas; O processo de inclusão social dos adolescentes em conflito com a lei; O trabalho do psicólogo no Juizado da Infância e Juventude. Aula 12 - As práticas “psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área criminal e sistema penitenciário O trabalho do psicólogo na área criminal; O Sistema Penitenciário Brasileiro – aspectos sociais; O trabalho do psicólogo no Sistema Penitenciário. Aula 13 – Avaliação psicológica no Judiciário. Documentos elaborados pelo psicólogo. Alguns itens do Código de Ética dos psicólogos. O processo de avaliação psicológica no judiciário: questões fundamentais; Perito psicológico X Assistente técnico; Breve apresentação sobre os documentos elaborados pelo psicólogo no judiciário; Algumas questões éticas ligadas ao psicólogo que presta serviço ou trabalha no judiciário. Aula 14 – Revisão da matéria até a aula 6. Aula 15 – Revisão da matéria da aula 7 em diante. CALENDÁRIO ACADÊMICO 2013.2 (1º PERÍODO) DIAS DA SEMANA 2ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA AGO 12 (Início) 13 14 15 16 19 20 21 22 23 26 27 28 29 30 SET 02 03 04 05 06 09 10 11 12 13 16 17 18 19 20 23 24 25 26 27 30 OUT 01 02 03 (AV1) 04 (AV1) 07 (AV1) 08 (AV1) 09 (AV1) 10 11 14 15 (Feriado) 16 17 18 21 22 23 24 25 28 29 30 31 NOV 01 04 05 06 07 08 11 12 13 14 15 (Feriado) 18 19 20 (Feriado) 21 (AV2) 22 (AV2) 25 (AV2) 26 (AV2) 27 (AV2) 28 29 DEZ 02 03 04 05 (AV3) 06 (AV3) 09 (AV3) 10 (AV3) 11(AV3) 12 13 16 (Fim) OBS:. O prazo para postagem dos trabalhos relativos às aulas de 1 a 6 esgota-se às 24 horas do dia 25 de Setembro; o prazo para postagem dos trabalhos relativos às aulas de 7 a 13 esgota-se às 24 horas do dia 07 de Novembro. Tais prazos não serão prorrogados em hipótese alguma! Humor... AULA 1 História da psicologia “O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha do final do século 19 [1879]. Wundt, Weber e Fechner trabalharam juntos na Universidade de Leipzig. Seguiram para aquele país muitos estudiosos dessa nova ciência, como o inglês Edward B. Titchner e o americano William James. Seu status de ciência é obtido à medida que se "liberta" da Filosofia, que marcou sua história até aqui, e atrai novos estudiosos e pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção do conhecimento, passam a: definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a consciência); delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia; formular métodos de estudo desse objeto; formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na área. Essas teorias devem obedecer aos critérios básicos da metodologia científica, isto é, deve-se buscar a neutralidade do conhecimento científico, os dados devem ser passíveis de comprovação, e o conhecimento deve ser cumulativo e servir de ponto de partida para outros experimentos e pesquisas na área. Embora a Psicologia científica tenha nascido na Alemanha, é nos Estados Unidos que ela encontra campo para um rápido crescimento, resultado do grande avanço econômico que colocou aquele país na vanguarda do sistema capitalista. Nos Estados Unidos surgem as primeiras abordagens ou escolas da Psicologia, as quais deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente.” (BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.41 – as chaves e os negritos são meus) A importância da Psicologia para o Direito Na busca pelo ideal de justiça e por uma melhor compreensão do que é o justo”, por vezes, tanto o Direito quanto as Ciências Jurídicas socorrem-se de várias outras disciplinas científicas. O Direito e as Ciências Jurídicas necessitam, por exemplo, de informações a respeito do comportamento e dos processos mentais (suas causas, consequências para o sujeito e para a sociedade, seus transtornos psíquicos etc). A ciência, portanto, que poderá fornecer tais informações é a Psicologia. Analise os quadros a seguir: Wundt, W. (1832-1920) Fechner, G.T (1801-1887) Weber, E.H. (1795-1878) Titchner, E.B. (1867-1920) James, W. (1842-1910) RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES (ÂMBITO EPISTEMOLÓGICO - PESQUISA) RELAÇÕES MULTIDISCIPLINARES (ÂMBITO DO JUDICIÁRIO - PROCESSO) CIÊNCIAS JURÍDICAS MEDICINA SOCIOLOGIA PSICOLOGIAFILOSOFIA ETC. JUSTIÇA OPERADORES DO DIREITO PSICÓLOGOS JURÍDICOS MÉDICOS Etc. ASSISTENTES SOCIAIS ENGENHEIROS CONTABILISTAS São contribuições da Psicologia na sua relação com o Direito: “[...] avaliar aspectos emocionais e intelectuais de adultos, adolescentes e crianças relacionados com processos jurídicos desde sanidade, eficiência mental, contestações de testamentos, adoções, posse e guarda de menores, tutelados ou curatelados, através de metodologia psicológica ou psicométrica; possibilitar a avaliação de características de personalidade, bem como fornecer subsídios ao processo judicial com atenção aos dados psicológicos; atuar como perito judicial ou formalizando pareceres e laudos nas varas cíveis, criminais, Justiça do Trabalho, da família, da criança e do adolescente, com a finalidade de realizar orientação, tanto aos Juízes para fundamentarem suas decisões, quanto para orientarem as partes; prestar esclarecimentos informativos técnicos em audiências, quando necessário; dar encaminhamentos judiciais através de petições de documentos necessários a execuções e juntada aos autos de perícias; [...]” (ZOLET, 2009, p. 296) “[...] Seu trabalho tem sido também o de informar, apoiar, acompanhar e dar orientação pertinente a cada caso atendido nos diversos âmbitos do sistema judiciário. Há uma preocupação praticamente inexistente antes com a promoção de saúde mental dos que estão envolvidos em causas junto à Justiça, como também de criar condições que visem a eliminar a opressão e a marginalização. [...]” (ALTOÉ, (s.d.)) Psicologia científica X Psicologia do senso comum O QUE É CIÊNCIA? “A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. Essa característica da produção científica possibilita sua continuidade: um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido. Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e assim a ciência avança. Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um processo. [...]” (BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.20 – os negritos são meus) A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA? 1ª RESPOSTA: SIM, pois os conhecimentos construídos pela pesquisa psicológica possuem todas as características do conhecimento científico. Os conhecimentos da psicologia, p.ex., baseiam-se em FATOS! Mas, que fatos seriam esses? 1º FATO: O comportamento dos seres vivos. Definição de comportamento: O comportamento é um fenômeno objetivo e pode ser definido como sendo “toda forma de “[...] resposta ou atividade observável realizada por um ser vivo.” (WEITEN, 2002, p. 520) TIPOS DE COMPORTAMENTOS 1º) Motores (movimentos e expressões); 2º) Sonoros (ruídos ou discursos – este último, somente nos seres humanos). 2º FATO: Os processos mentais dos seres vivos. Definição de processo mental: São todas as nossas experiências mentais subjetivas. Por exemplo, sensações, percepções, sonhos, memórias, pensamentos, sentimentos, inteligência etc. A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA? RESPOSTA: SIM, pois seus instrumentos de pesquisa são rigorosamente científicos. Por exemplo, a experimentação, as pesquisas de campo, os levantamentos etc. Objeto de estudo da psicologia Psicologia do senso comum Usamos o termo psicologia no nosso cotidiano com vários sentidos. Por exemplo, quando falamos do poder de persuasão do vendedor, dizemos que ele usa de “psicologia” para vender seu produto; quando nos referimos à jovem estudante que usa seu poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de “psicologia”; e quando procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a ouvir nossos problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as pessoas. Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia. O que estamos querendo dizer é que as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela Psicologia científica, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico.” [...] (BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.16) *** FIXAÇÃO - Texto de Apoio – Caderno de Introdução à Psicologia – p. 7, 23 a 29 AULA 2 Conceito de desenvolvimento humano “O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de organização da atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando até o momento em que todas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e das relações sociais. Algumas dessas estruturas mentais permanecem ao longo de toda a vida. Por exemplo, a motivação está sempre presente como desencadeadora da ação, seja por necessidades fisiológicas, seja por necessidades afetivas ou intelectuais. Essas estruturas mentais que permanecem garantem a continuidade do desenvolvimento. Outras estruturas são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. Por exemplo, a moral da obediência da criança pequena é substituída pela autonomia moral do adolescente. Outro exemplo: a noção de que um objeto só existe quando a criança o vê (antes dos 2 anos idade) é substituída, posteriormente, pela capacidade de atribuir ao objeto sua conservação, mesmo quando ele não está presente no seu campo visual. [...]”(BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.116 – 7 os negritos são meus) OS FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO Vários fatores indissociáveis e em permanente interação afetam todos os aspectos do desenvolvimento. São eles: * Hereditariedade — a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio. * Crescimento orgânico — refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a quando estava no berço com alguns dias de vida. * Maturação neurofisiológica — é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. * Meio — o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida.” (BOCK; FURTADO, TEIXEIRA, 2008, p.117 – 8 os negritos são meus) A teoria do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson (1902-1994) – Teoria Epigenética 1 Para Erikson, a personalidade é um conceito dinâmico que vai se modificando ao longo de toda a vida. Personalidade, segundo Erikson, é o resultado da interação contínua de três grandes sistemas: CONCEITO A formação da identidade psicossocial 2 - “[...] em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele.[...]” (ERIKSON, E.H. Identidade: juventude e crise. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976, p.21.) Erikson identificou oito etapas do desenvolvimento psicossocial que vão desde o nascimento até à morte. Cada uma delas se define mediante uma tarefa de desenvolvimento em que o indivíduo deve enfrentar crises e conflitos específicos. O indivíduo deve chegar a uma solução entre duas demandas opostas, equilibrando-as ou integrando-as. “Cada etapa e crise sucessivas têm uma relação especial com um dos elementos básicos da sociedade, e isso pela simples razão de que o ciclo da vida 1 Epigenesia: Teoria segundo a qual a constituição dos seres se inicia a partir de célula sem estrutura e se faz mediante sucessiva formação e adição de novas partes que, previamente, não existem no ovo fecundado; epigênese. (AURÉLIO) 2 Identidade Psicossocial – corresponde a ideia de singularidade, de papel na sociedade. humana e as instituições do homem têm evoluído juntos.” (ERIKSON, 1976, p.230) Analise o esquema a seguir: DUAS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL IDADE DEMANDAS OPOSTAS DESCRIÇÃO 1ª FASE Do nascimento até 1 anos. CONFIANÇA X DESCONFIANÇA Durante o primeiro ano de vida a criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela requerendo cuidados quanto a alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo. 5ª FASE Dos 12 aos 18 anos. IDENTIDADE X CONFUSÃO DE PAPÉIS O jovem experimenta uma série de desafios que envolvem suas atitudes para consigo, com seus amigos, com pessoas do sexo oposto, amores e a busca de uma carreira e de profissionalização. Na medida em que as pessoas à sua volta ajudam na resolução dessas questões desenvolverá o sentimento de identidade pessoal, caso não encontre respostas para suas questões pode se desorganizar, perdendo a referência. Esta é fase mais importante do desenvolvimento psicossocial, segundo Erikson. *** AULA 3 Personalidade O vocábulo personalidade tem como principal afixo a expressão “persona”. “Persona, no uso coloquial, é um papel social ou personagem vivido por um ator. É uma palavra italiana derivada do latim para um tipo de máscara feita para ressoar com a voz do ator (per sonare significa "soar através de"), permitindo que fosse bem ouvida pelos espectadores, bem como para dar ao ator a aparência que o papel exigia (Wikipedia). Em psicologia, no entanto, personalidade é definida como uma “[...] totalidade relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais.” (KAPLAN; SADOCK, 1993). Principais características da personalidade CONCEITOS 1º) Estados - “[...] característica momentânea, episódica na personalidade. Um estado está diretamente relacionado com fatores circunstanciais.” O luto e o estresse são exemplos de estados. 2º) Traços - “Os traços de personalidade são padrões persistentes no modo de perceber a realidade, relacionar-se consigo próprio e com os outros e, sobretudo, de pensar.” 3º) Temperamento – (do latim temperare que significa “equilíbrio”) – corresponde aos aspectos (traços) geralmente inconscientes da personalidade relacionados às reações emocionais bem como de sua rapidez e intensidade. O temperamento poderá ser alterado, até certos limites, por influências médicas (medicações, tratamentos etc) bem como no decurso da aprendizagem e das experiências de vida. A impulsividade, a sensibilidade, a intempestividade etc. são características de temperamento. FIXAÇÃO Texto de Apoio – Caderno de Psicologia – Personalidade – p.432 a 435. 4º) Caráter – Conjunto de traços de personalidade e valores éticos, aprendidos e/ou desenvolvidos a partir das experiências e/ou estimulações recebidas ao longo da vida, conscientes, que irão determinar a conduta e a moral de um determinado indivíduo. A empatia, a responsabilidade, o egoísmo, a honestidade etc. são características de caráter. Personalidade e Genética “Até bem pouco tempo, a genética do comportamento se preocupava em compreender até que ponto o material genético, transmitido hereditariamente, poderia explicar suficientemente a enorme diversidade do comportamento humano. Em outras palavras, na tentativa de atribuir valor explicativo ao comportamento, os pesquisadores se perguntavam até que momento poderiam utilizar a informação genética, considerando sua base molecular e bioquímica, sem cair em modelos simplistas ou meramente organicistas de explicação do comportamento humano. Atualmente, reconhece-se que o papel da experiência e da aprendizagem é exatamente o de propiciar a leitura de informações já impressas nos genes, fazendo com que o comportamento seja compreendido como uma atividade codificada a partir de uma sequência de nucleotídios 3 , cuja tradução pode ser deflagrada por diferentes e determinadas condições do ambiente (Lima, 1997; Plomin, 1989; Vogel & Motulsky, 1996).” (apud COSTA Jr., UnB, 2000) REFLEXÃO Pr(XP) = PG + EA Ou seja, a probabilidade (Pr) de uma característica de personalidade qualquer (Xp), corresponderia às possíveis predisposições genéticas (PG) associadas (+) aos estímulos do ambiente (EA). CURIOSIDADE O CASO DAS MENINAS LOBO DA ÍNDIA 3 Nucleotídeo: Unidade constituinte dos ácidos ribonucleicos (RNA) e desoxirribonucleicos (DNA). Leitura Complementar O CRIME SEGUNDO LOMBROSO (MAURICIO JORGE PEREIRA DA MOTA – UERJ 2007) Cesare Lombroso (1835-1909) foi um homem polifacético; médico, psiquiatra, antropólogo e político, sua extensa obra abarca temas médicos ("Medicina Legal"), psiquiátricos ("Os avanços da Psiquiatria"), psicológicos ("O gênio e a loucura"), demográficos ("Geografia Médica"), criminológicos ("L’Uomo delincuente). Lombroso entende o crime como um fato real, que perpassa todas as épocas históricas, natural e não como uma fictícia abstração jurídica. Como fenômeno natural que é, o crime tem que ser estudado primacialmente em sua etiologia, isto é, a identificação das suas causas como fenômeno, de modo a se poder combatê-lo em sua própria raiz, com eficácia, com programas de prevenção realistas e científicos. Para Lombroso a etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser buscada no estudo do delinquente. É dentro da própria natureza humana que se pode descobrir a causa dos delitos. Lombroso parte da ideia da ideia da completa desigualdade fundamental dos homens honestos e criminosos. Preocupado em encontrar no organismo humano traços diferenciais que separassem e singularizassem o criminoso, Lombroso vai extrair da autópsia de delinquentes uma "grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis) análoga a que se encontra nos seres inferiores". Assim, surgiu a hipótese, sujeita a investigações posteriores, de que haveria certas afinidades entre o criminoso, os animais e principalmente o homem primitivo, que ele considerava diferente, psicológica e fisicamente, do homem dos nossos tempos. Lombroso empreende um longo estudo antropológico no seu livro "L’Uomo delincuente" acerca da origem da criminalidade. Professando um particular evolucionismo, Lombroso procura demonstrar que o crime, como realidade ontológica, pode ser considerado uma característica que é comum a todos os degraus da escala da evolução, das plantas aos animais e aos homens; dos povos primitivos aos povos civilizados; da criança ao homem desenvolvido. O "crime" teria como característica ser extremamente frequente, brutal, violento e passional nos níveis inferiores dessas escalas. Assim Lombroso vai teorizar acerca dos equivalentes do crime nas plantas e nos animais ("L’Homme Criminel, chapitre premier), a morte de insetos pelas plantas carnívoras ("homicídio"), a morte para ter o comando da tribo entre os cavalos, cervos e touros ("homicídio por ambição"), a fêmea do crocodilo que mata seus filhotes que ainda não sabem nadar ("infanticídio"), as raposas que se devoram entre si e algumas vezes mesmo devoram suas progenitoras ("canibalismo e parricídio"). Entre os chamados "selvagens" ou "povos primitivos" Lombroso também encontra a incidência generalizada do crime. O incremento excessivo da população, comparativamente aos meios naturais de subsistência explicaria os abortos e os infanticídios. São também comuns e frequentes segundo Lombroso o homicídio dos velhos, das mulheres, dos doentes, os homicídios por cólera, por capricho, de parentes por ocasião do funeral de morto importante, por sacrifícios religiosos, os cometidos por brutalidade ou por motivo fútil, os causados por desejo de glória etc.. São ainda comuns entre os selvagens o canibalismo, o roubo, o rapto, o adultério e os crimes contra a autoridade (chefes, deuses ou a própria tribo). Dentro da ideia evolucionista lombosiana (de passagem [física ou psíquica] do organismo mais simples para o mais complexo) os germes da loucura moral e do crime se encontram de maneira normal na infância. Lombroso advogava a existência na infância de uma predisposição natural para o crime. As analogias entre o imaturo e o criminoso se dariam na fase da vida instintiva, através da qual se observa a precocidade da cólera, que faz com que a criança bata nos circunstantes e tudo quebre, em atitudes comparáveis ao comportamento violento criminoso. O ciúme, a vingança, a mentira, o desejo de destruição, a maldade para com os animais e os seres fracos, a predisposição para a obscenidade, a preguiça completa, exceto para as atividades que produzem prazer, são, entre outros, índices que Lombroso apontou, das tendências criminais na infância. A educação conduziria, porém, a criança para o período de "puberdade ética", submetendo-a a profunda metamorfose. Identificando pois a origem da criminalidade, como ontologia, nessas "fases primitivas" da humanidade, Lombroso entende que o criminoso é uma subespécie ou um subtipo humano (entre os seres vivos superiores, porém sem alcançar o nível superior do homo sapiens) que, por uma regressão atávica a essas fases primitivas, nasceria criminoso, como outros nascem loucos ou doentios. A herança atávica explicaria, a seu ver, a causa dos delitos. O criminoso seria então um delinquente nato (nascido para o crime), um ser degenerado, atávico, marcado pela transmissão hereditária do mal. O atavismo (produto da regressão, não da evolução das espécies) do criminoso seria demonstrado por uma série de "estigmas". De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece de uma série de estigmas degenerativos, comportamentais, psicológicos e sociais. O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça sui generis, com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugidia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto pálido. O homem criminoso estaria assinalado por uma particular insensibilidade, não só física como psíquica, com profundo embotamento da receptividade dolorífica (analgesia) e do senso moral. Como anomalias fisiológicas, ainda, o mancinismo (uso preferente da mão esquerda) ou a ambidextria (uso indiferente das duas mãos), além da disvulnerabilidade, ou seja uma extraordinária resistência aos golpes e ferimentos graves ou mortais, de que os delinquentes típicos pronta e facilmente se restabeleceriam. Seriam ainda comuns, entre eles, certos distúrbios dos sentidos e o mau funcionamento dos reflexos vasomotores, acarretando a ausência de enrubescimento da face. Consequência do enfraquecimento da sensibilidade dolorífica no criminoso por herança seria a sua inclinação à tatuagem, acerca da qual Lombroso realizou detidos estudos. Os estigmas psicológicos seriam a atrofia do senso moral, a imprevidência e a vaidade dos grandes criminosos. Assim, os desvios da contextura psíquica e sentimental explicariam no criminoso a ausência do temor da pena, do remorso e mesmo da emoção do homicida perante os despojos da vítima. Absorvidos pelas paixões inferiores, nenhuma relutância eles sentem perante a ideia dominante do crime. As conclusões de Lombroso (L’Homme Criminel) foram construções eminentemente empíricas baseadas em resultados de 386 autópsias de delinquentes e nos estudos feitos em 3939 criminosos vivos por Ferri, Bischoff, Bonn, Corre, Biliakow, Troyski, Lacassagne e pelo próprio Lombroso. Lombroso porém não esgota na teoria da criminalidade nata a sua explicação para a etiologia do delito. A criminalidade nata não dá conta de todas as categorias antropológicas de delinquentes, nem mesmo, numa mesma categoria, de todos os casos habituais. Ele antevê na loucura moral e na epilepsia mais dois fatores capazes de fornecer uma elucidação biológica para o fenômeno delito. O louco moral é aquele indivíduo que tem, aparentemente, íntegra a sua inteligência, mas sofre de profunda falta de senso moral. É um homem perigoso pelo seu terrível egoísmo. É capaz de praticar um morticínio pelo mais ínfimo dos motivos. Lombroso o diferenciava do alienado definindo-o como um "cretino do senso moral" ou seja, uma pessoa desprovida absolutamente de senso moral. A explicação da criminalidade do louco moral também é dada pela biologia, é congênita, mas pode, de acordo com o meio na qual o indivíduo se desenvolve, aflorar ou não. A epilepsia foi outra explicação aventada por Lombroso como causa da criminalidade. A epilepsia ataca os centros nervosos em que se elaboram os sentimentos e as emoções. Objetaram-lhe porém que se a epilepsia, bem conhecida e perceptível, explica em certos casos o delito, em outros não se observa haver sinal objetivo da doença em face do delito praticado. A essa objeção Lombroso opôs a sua teoria da epilepsia larvada, sem manifestações facilmente visíveis, que poderia explicar a etiologia do delito. Ao passo que a epilepsia declarada se exterioriza em meio a contrações musculares violentíssimas, a epilepsia larvada se denuncia por fugazes estados de inconsciência que nem todos percebem. Lombroso não abandonou uma das explicações da etiologia do delito pelas outras. Procurou coordená-las. Assim, por exemplo, acentuou que a teoria do atavismo se completava e se corrigia com os estudos referentes ao estado epilético. A etiologia do crime para Lombroso inter-relaciona portanto o atavismo, a loucura moral e a epilepsia: o criminoso nato é um ser inferior, atávico, que não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores; é um indivíduo que, ademais, sofre alguma forma de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais. Lombroso, baseado em suas observações, encarava o seu tipo primordial de criminoso, o criminoso nato, como compondo 40 % do total da população criminosa, restando as demais àquelas outras formas de crime que tinham por fontes a loucura, a ocasião, o alcoolismo e a paixão. Para Lombroso essas formas eram ligadas mais estreitamente a suas causas ocasionais e portanto, não forneceriam uma base possível para uma etiologia desses delitos. *** AULA 4 Gênero: representações sociais CONCEITOS 1º) SEXO - refere-se às características biológicas de homens e mulheres, ou seja, às características específicas dos aparelhos reprodutores femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos caracteres sexuais secundários decorrentes dos hormônios. 2º) GÊNERO - refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. 3º) IDENTIFICAÇÃO SEXUAL – a partir do referencial psicanalítico tal conceito se referiria à constituição do desejo sexual de um indivíduo. Ou seja, ao gênero sexual objeto do gozo sexual. Neste sentido, um indivíduo pode desejar o seu mesmo gênero (homo), o gênero oposto (hetero) ou ambos os gêneros (bi). REFLEXÃO O papel do homem e da mulher é constituído histórica e culturalmente; portanto, muda conforme a sociedade e o tempo. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS PAPÉIS DE GÊNERO Mulheres Desde meninas as mulheres são incentivadas a serem passivas, sensíveis, frágeis, dependentes e todos os brinquedos e jogos infantis reforçam o seu papel de mãe, dona de casa, e consequentemente responsável por todas as tarefas relacionadas ao cuidado dos filhos e da casa. Ou seja, as meninas brincam de boneca, de casinha, de fazer comida, de limpar a casa, tudo isto dentro do lar. Homens Os meninos brincam em espaços abertos, na rua. Eles jogam bola, brincam de carrinho, de guerra etc. Ou seja, desde pequenos eles se dão conta que pertencem ao grupo que tem poder. Até nos jogos os meninos comandam. Ninguém os manda arrumar a cama, ou lavar a louça, eles são incentivados a serem fortes, independentes, valentes. INFORMAÇÃO As relações de gênero são, portanto, produto de um processo pedagógico que se inicia no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e mulheres, principalmente em torno de quatro eixos: 1º) Sexualidade Mulheres A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a reprodução, ou seja, para a mulher o centro da sexualidade é a reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à genitalidade se apresenta para as mulheres como algo vergonhoso, proibido. De um modo geral podemos dizer que as mulheres desde que nascem são educadas para serem mães, para cuidar dos outros, para “dar prazer ao outro”. A sua sexualidade é negada, reprimida e temida. VOCÊ SABIA? A mutilação sexual consiste na extração do clitóris. É uma prática comum em certas comunidades, geralmente para inibir o prazer sexual. A mutilação pode ser permanente ou temporária. Homens Os homens, ao contrário das mulheres, recebem mensagens e são preparados para viver o prazer da sexualidade através do seu corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem é sinal de masculinidade. 2º) Reprodução A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de poder tem sido controlado e tem determinado outros papéis diminuindo as possibilidades e limitando a vida das mulheres em outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho. 3º) Divisão sexual do trabalho Provavelmente pelo fato biológico que a mulher é quem engravida e dá de mamar, tem sido atribuído a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às mulheres, portanto, se atribui o ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico, desvalorizado pela sociedade e que deixava as mulheres “donas de casas” limitadas ao mundo do lar; com menos possibilidade de educação, menos acesso à informação, menos acesso à formação profissional etc. 4º) Espaço público e reconhecimento da cidadania Embora nos dias de hoje, uma grande proporção de mulheres trabalhe e muitas delas sejam a principal fonte para o sustento da família, isto não tem significado um maior desenvolvimento e reconhecimento de sua cidadania. Em todos os países da América Latina, incluindo o Brasil, os dados mostram que existe uma grande diferença entre homens e mulheres e que a falta de equidade prejudica as mulheres. É muito difícil ter mulheres em altos cargos, como diretoras de empresas, de hospitais, reitoras de universidades etc. Em geral, é muito difícil ter mulheres nos lugares de tomada de decisões. Isto se explica pelo processo de socialização que ao determinar o trabalho reprodutivo (casa e filhos) para a mulher, cria condições que a marginalizam do espaço público, e pelo contrário, o homem é quem assume o trabalho produtivo e as decisões da sociedade. REFLEXÃO As várias jornadas de trabalho da mulher OS “NOVOS” MALES DAS MULHERES O tabagismo e drogas O estresse O infarto FATOS E FOTOS “Em muitas regiões muçulmanas, onde prevalece a Sharia (lei islâmica), as mulheres acusadas de adúlteras são apedrejadas até a morte. Um dos exemplos mais comentados em 2002, e que foi motivo de campanhas internacionais, é o caso de Amina Lawal (foto), de 31 anos, que no norte da Nigéria foi condenada à pena máxima porque engravidou de outro homem, após a separação do marido. Em 2003, um tribunal de apelações na mesma região considerou procedente a apelação, considerando que o outro tribunal havia se equivocado. Na realidade, a pressão internacional, que transformou Amina Lawal em um símbolo da luta pelos direitos humanos, com diversos governos se manifestando contra a sua condenação e intercedendo junto ao presidente nigeriano, é que fizeram com que houvesse mudança na sua situação.” (DIAS, 2005, p. 192) Violência contra mulher como uma questão de gênero A Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm Sra. Maria da Penha Maia Ficou paraplégica por causa de um tiro dado pelo seu ex- companheiro, que não satisfeito, ainda tentou matá-la, posteriormente, eletrocutando-a. CRIMES DE ESTUPRO – ESTADO DO RJ De 2007 até abril de 2013 Fonte: ISP/SESP/RJ 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Até 03/2013 1376 1461 2338 4529 4871 6029 1503 *Lei nº 12.015 de 07/08/09 REFLEXÃO Em Dubai, mulher é condenada à prisão após ter ter sido estuprada Quatro meses após ter feito a denúncia de que havia sido estuprada em Dubai, nos Emirados Árabes, a norueguesa Marte Deborah Dalelv foi condenada a 16 meses de prisão pelo fato. De acordo com as leis locais, um estuprador só pode ser condenado se confessar o crime ou se for visto praticando o estupro por quatro testemunhas homens. Como denunciou o abuso, Marte foi condenada por fazer sexo fora do casamento e perjúrio. Ela ainda foi considerada culpada por ter ingerido bebida alcoólica na noite em que sofreu o estupro. Nos Emirados Árabes também é proibido beber. "A sentença em Dubai a uma norueguesa que denunciou um estupro é contrária ao nosso sentido da justiça. Daremos a ela apoio no processo de apelação", disse Espen Barth Eide, o ministro das Relações Exteriores norueguês, em sua conta no Twitter. Segundo informações do site norueguês VG. no, no dia em que fez a denúncia, Marte ainda foi alvo de gozações das autoridades, que teriam perguntado a ela se"estava fazendo a denúncia por não ter gostado do sexo". (http://br.noticias.yahoo.com/em-dubai--mulher-%C3%A9-condenada-%C3%A0-pris%C3%A3o-ap%C3%B3s-ter-ter- sido-estuprada-163822387.html) REFLEXÕES O homossexual como um possível “terceiro gênero” em nossa sociedade! Projeto de Lei Complementar nº 122/2006 – “Altera a Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, dá nova redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2,848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e ao art. 5º da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e dá outras providências.” Para conhecer esse PLC acesse: (http://www.naohomofobia.com.br/lei/PROJETO%20DE%20LEI%20plc122-06.pdf) A lei e a questão de gênero Código Civil de 1916, revogado em 2002 Art. 36. Os incapazes têm por domicílio o dos seus representantes. Parágrafo único. A mulher casada tem por domicílio o do marido, salvo se estiver desquitada (art. 315), ou lhe competir a administração do casal (art. 251). Art. 178. Prescreve: § 1º Em 10 (dez) dias, contados do casamento, a ação do marido para anular o matrimônio contraído com a mulher já deflorada (arts. 218, 219, IV, e 220). (Parágrafo alterado pela Lei nº 13, de 29.1.1935 e restabelecido pelo Decreto-lei nº 5.059, de 8.12.1942) Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts. 240, 247 e 251). (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962) Art. 240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977) Art. 1.299. A mulher casada não pode aceitar mandato sem autorização do marido. *** AULA 5 A família: relações afetivas e tipos de família na contemporaneidade Família – do latim “famulus”, que significa um conjunto de servos e dependentes de um chefe ou senhor. Família = Instituição Social = Funções: 1. proteger as novas gerações; 2. reproduzir os “status quo4” social a partir dos processos de socialização. DÚVIDA! As mudanças internas na constituição das famílias promoveriam mudanças sociais posteriores, ou são as mudanças sociais (valores, costumes etc) que promoveriam mudanças nas famílias? Justifique. e FAMÍLIA “A literatura especializada é clara ao mostrar a importância do apego, da formação do vínculo no início da vida da criança como elemento essencial no desenvolvimento psíquico. Convém ressaltar que, independentemente da forma como tem se organizado em diferentes épocas, a família tem como função básica a proteção e o cuidado dos filhos. Soifer (1986), a esse respeito, discute a proteção e o cuidado como preparo 4 Status quo – Expressão latina. Significa o estado em que se achava anteriormente certa questão. (AURÉLIO) Família e Sociedade imprescindível para a vida, entendendo que o amor, a solidariedade e a justiça praticados na família são as pedras angulares da convivência humana. Seixas (2002) assinala que a família desenvolve a capacidade de criar novos significados, novas formas de ação social, novas ideias. Esta capacidade de mudar, tanto quanto a de conservar, e a dialética entre esses elementos é que vai possibilitar a sua adaptabilidade às novas situações e fenômenos sociais. Nesse contexto, outro aspecto a ser considerado é a importância da família no desenvolvimento da personalidade da criança. Sisto (2004) define a personalidade em termos de uma síntese da atividade biopsíquica humana, que inclui além de tendências individuais, aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais, constituindo uma unidade. Dessa forma, além dos elementos orgânicos e herdados, envolveria também elementos socioculturais que seriam produtos de aprendizagem. Já os teóricos psicanalíticos acreditam que a interação entre o ambiente e as características inatas da criança desempenha um papel central na formação das diferenças de personalidade (Bee, 2003). Para estes, o desenvolvimento da personalidade se dá fundamentalmente em estágios e, em cada estágio, a criança requer um tipo específico de ambiente apoiador para suas necessidades. Considerando esses aspectos, o ambiente no qual a criança se desenvolve poderá potencializar suas tendências individuais ou, ao contrário, poderá enfraquecê-las. Assim, uma criança que não encontre o ambiente necessário para seu desenvolvimento terá uma personalidade muito diferente daquela cujo ambiente foi parcial ou inteiramente adequado.” (DOS SANTOS, et al., 2010) Tipos de família na contemporaneidade AS FAMÍLIAS PÓS-MODERNAS As famílias monoparentais. As famílias homoafetivas (ou, homossexuais 5 ) OUTRAS FORMAS DE FAMÍLIA JURIDICAMENTE ACEITAS Famílias Anaparentais: é a relação que possui vínculo de parentesco, mas não possui vínculo de ascendência e descendência. É a hipótese de dois irmãos que vivam juntos. Tal família vem disciplinada no artigo 69, caput, do Projeto do Estatuto das Famílias. Famílias Pluriparentais: é a entidade familiar que surge com o desfazimento de anteriores vínculos familiares e criação de novos vínculos. Como exemplo, destacamos a família formada por João, Gabriel e Rafael (filhos oriundos de anterior relacionamento de João), por sua esposa Penélope, Ana Carolina (filha de relacionamento anterior de Penélope), e Victor, filho de João e Penélope). Família Unipessoal: Família unipessoal é a composta por apenas uma pessoa. Recentemente, o STJ lhe conferiu à proteção do bem de família, como se infere da Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. (03/11/2008) 5 Para um maior aprofundamento sobre este tema, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações edípicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível em < http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>. INFORMAÇÕES Quinta-feira, 05 de maio de 2011 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Supremo reconhece união homoafetiva. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. As ações foram ajuizadas na Corte, respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das ações, ministro Ayres Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV 6 , da CF veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, para concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF. [...] Ações A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo. Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da vontade) e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto no artigo 1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do Rio de Janeiro. (Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931) Terça-feira, 25 de outubor de 2011 – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DECISÃO Quarta Turma admite casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em decisão inédita, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, proveu recurso de duas mulheres que pediam para ser habilitadas ao casamento civil. Seguindo o voto do relator, ministro Luis Felipe Salomão, a Turma concluiu que a dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituição, não é aumentada nem diminuída em razão do uso da sexualidade, e que a orientação sexual não pode servir de pretexto para excluir famílias da proteção jurídica representada pelo casamento. [...] “Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado, tanto pelo STJ quanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da união estável, deve ser utilizado para lhes franquear a via do casamento civil, mesmo porque 6 Art. 3º (Objetivos fundamentais da República), inciso IV da CF – “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” é a própria Constituição Federal que determina a facilitação da conversão da união estável em casamento”, concluiu Salomão. Em seu voto-vista, o ministro Marco Buzzi destacou que a união homoafetiva é reconhecida como família. Se o fundamento de existência das normas de família consiste precisamente em gerar proteção jurídica ao núcleo familiar, e se o casamento é o principal instrumento para essa opção, seria despropositado concluir que esse elemento não pode alcançar os casais homoafetivos. Segundo ele, tolerância e preconceito não se mostram admissíveis no atual estágio do desenvolvimento humano. [...] O recurso foi interposto por duas cidadãs residentes no Rio Grande do Sul, que já vivem em união estável e tiveram o pedido de habilitação para o casamento negado em primeira e segunda instância. A decisão do tribunal gaúcho afirmou não haver possibilidade jurídica para o pedido, pois só o Poder Legislativo teria competência para insituir o casamento homoafetivo. No recurso especial dirigido ao STJ, elas sustentaram não existir impedimento no ordenamento jurídico para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afirmaram, também, que deveria ser aplicada ao caso a regra de direito privado segundo a qual é permitido o que não é expressamente proibido. (Fonte: STJ, 25/10/2011) *** AULA 6 Influências sociais: preconceito, estereótipos e discriminação O QUE SÃO ATITUDES? Uma atitude é “uma organização duradoura de crenças e cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um objeto social definido, que predispõe a uma ação coerente com as cognições e afetos relativos a este objeto. Uma distinção importante é a de que “todas as atitudes incorporam crenças, mas que nem todas as crenças fazem parte, necessariamente, das atitudes.” [...] “as crenças têm apenas um componente cognitivo enquanto as atitudes têm tanto o componente cognitivo quanto o afetivo.”. Em termos mais simples, podemos então dizer que quando uma crença polariza sobre si componentes afetivos e ambos, crença e afeto, agem no sentido de influenciar o comportamento, aí, então, temos uma atitude. Analise a figura abaixo: Característica de uma atitude Mudança de atitude Apesar de serem relativamente estáveis, as atitudes são passíveis de mudança. [...] Como vimos anteriormente, os componentes cognitivo, afetivo e comportamental que integram as atitudes sociais influenciam-se mutuamente em direção a um estado de harmonia. Qualquer mudança num destes três componentes é capaz de modificar os outros, de vez que todo o sistema é acionado quando um de seus componentes é alterado, tal como num campo de forças eletromagnético. Consequentemente, uma informação nova, uma nova experiência ou um novo comportamento emitido em cumprimento as normas sociais, ou outro tipo de agente capaz de prescrever comportamento, pode criar um estado de inconsistência entre os três componentes atitudinais de forma a resultar numa mudança de atitude. Atitude negativa: o preconceito Teoricamente, os preconceitos podem ficar incluídos na classe das atitudes, exibindo, em consequência dessa inserção, os três elementos acima descritos (quais sejam, cognições, afetos e tendências comportamentais); apresentam, porém, em adição e em contraste com elas, duas características que lhes são específicas: a de que se formam sempre em torno de um núcleo afetivamente negativo e a de que são dirigidos contra grupos de pessoas. Discriminação Uma ação qualquer ensejada por algum preconceito caracterizaria o que se chama discriminação. Porém, “preconceito e discriminação nem sempre ocorrem juntos. É possível ter preconceito contra um determinado grupo sem se portar abertamente de maneira hostil ou discriminatória em relação a ele. Por exemplo: um lojista racista pode sorrir para um cliente negro para disfarçar opiniões que poderiam prejudicar seu negócio. Do mesmo modo, muitas práticas institucionais podem ser discriminatórias, embora não se baseiem no preconceito. Por exemplo: as normas que estabelecem uma altura mínima para policiais podem discriminar mulheres e determinados grupos étnicos – cuja altura é inferior ao padrão arbitrário -, embora essas normas não se originem em atitudes sexistas ou racistas. INFORMAÇÃO: LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. (Alterada pelas Leis nº 8.081/90 e 9.459 / 97 já incluídas no texto) (http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/LEIS/L7716.htm) Estereótipos De fato, um estereótipo não é uma crença mas um tipo de associação mental simplista que fazemos entre duas coisas que visa facilitar a nossa vida cotidiana. Tais associações podem ser conscientes (explícitas) ou inconscientes (implícitas). “Muitas pessoas vinculam, involuntariamente, deficiência com fraqueza, árabe com terrorismo ou pobre com inferioridade, mesmo que tais estereótipos contrariem a racionalidade e até mesmo valores que lhes são caros, como o de justiça ou igualdade. Estereótipos podem gerar uma percepção seletiva dos outros: “Por exemplo: uma vez que você classificou alguém como homem ou mulher, talvez conte mais com seu estereótipo daquele gênero que com suas próprias observações sobre as atitudes da pessoa. Pelo fato de as mulheres serem estereotipadas tradicionalmente como mais emotivas e submissas, e os homens como mais racionais e assertivos [...] talvez você veja mais esses traços em homens e mulheres do que eles realmente existem.” Leitura Complementar “Pessoas invisíveis” “Em novembro de 1994, o então estudante do 2º ano de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Braga tornou-se invisível. 'Fiquei atordoado, não conseguia sentir o gosto da comida, perdi meu centro', lembra. Nem loucura nem ficção científica. Braga atingiu a invisibilidade ao vestir um uniforme de gari. Como parte de um estágio solicitado por uma das disciplinas que cursava, ele resolveu acompanhar, de duas a três vezes por semana, a rotina dos garis da Cidade Universitária - pegando no pesado junto com eles. Ao vestir calça, camisa e boné como seus colegas de 'varreção', esperava causar espanto, curiosidade ou até mesmo indignação em seus amigos, professores, companheiros de futebol e conhecidos da USP. No entanto, não conseguiu nem mesmo receber um bom-dia. 'Atravessei o andar térreo da Psicologia de ponta a ponta. Estava atento, buscava a expressão de surpresa em alguém. Mas nada acontecia', conta. 'Deixei de esperar perguntas intrigadas, mas ainda seria capaz de responder a algum cumprimento. Nada.' Os professores com quem havia conversado pela manhã passaram por ele e nem perceberam sua presença. Não é que tenha sido ignorado, menosprezado, rejeitado. Pior: nem foi visto. Era como não estar lá; como 'não ser'. O mal-estar experimentado por Braga jamais o abandonou. Ele passou os nove anos seguintes trabalhando com os garis da USP e transformou em tese de mestrado o indigesto tema da 'invisibilidade pública' - o desaparecimento de um homem no meio de outros homens. Concluída em 2002, a tese agora vira livro lançado pela editora Globo. Vide texto “Estereótipos de gênero” –Caderno Introdução à psicologia, p. 19.) Ironicamente, o psicólogo ganhou visibilidade falando da invisibilidade, que, segundo ele, está relacionada à divisão social do trabalho e afeta até mesmo quem não é totalmente excluído economicamente. Ela seria uma espécie de cegueira psicossocial, que elimina do campo de visão da maioria da população aqueles que são condenados a exercer uma atividade subalterna, desqualificada, desumanizante e degradante o dia inteiro, às vezes uma vida inteira. É uma situação diferente da contada pelo escritor americano Ralph Ellison, que nos anos 50 lançou seu romance O Homem Invisível. Ellison, negro, contava a história de um descendente de escravos que ao percorrer os Estados Unidos descobriu apenas que, por ser negro, era ignorado - segundo ele, algo muito pior que ser confrontado ou desprezado. Braga mostra que, independentemente do preconceito racial, o preconceito social também é tão incrível que leva a simplesmente apagar pessoas do campo de visão. 'Nem na Suécia uma criança é incentivada pelos pais a ser gari, faxineiro ou coveiro', provoca. 'Não tem a ver com salário, mas com a simbologia.' Todo mundo se sente invisível em algum momento da vida - numa festa de gente de outra tribo, no emprego novo em que não se conhece ninguém. Mas essas são outras invisibilidades, circunstanciais, e portanto passageiras, reversíveis. O estudo de Braga é sobre uma invisibilidade tão automatizada na sociedade que muitas vezes nem mesmo o ser invisível se dá conta de sua degradante situação. 'Se ele percebe, carece de armas para o combate. Depois de ser ignorado a vida inteira ou, no máximo, maltratado, ninguém anda de cabeça erguida.' De fato, na maioria das vezes, o gari que limpa nossa cidade só é notado quando falta ao serviço. O ascensorista é tratado como uma máquina que funciona por comando de voz, sem direito a 'por favor' nem 'obrigado'. A empregada doméstica põe o avental, alimenta a família e deixa a casa organizada anos a fio, mas os patrões mal sabem seu sobrenome, se tem filhos, se está com algum problema. Os únicos cidadãos que vestem uniforme para servir aos outros e ganham visibilidade e reconhecimento são os que estão em situação de poder sobre o interlocutor - médicos, enfermeiros, policiais. 'Algumas profissões estão num nível de rebaixamento absoluto', reforça Braga. 'As pessoas estão habituadas a passar pelos garis como quem passa por objetos', assinala. Nilce de Paula, mineiro de 61 anos, confirma. Desde que chegou a São Paulo, aos 18 anos, trabalhou em bar, restaurante, fez salgadinhos para vender, foi ascensorista - de terno e gravata, orgulha-se - e carregou contêineres de veneno. Já tinha experimentado o preconceito racial, mas a indiferença mesmo só conheceu quando virou gari. 'Às vezes estou trabalhando na avenida e passa uma pessoa. Mesmo que ela não me cumprimente, eu cumprimento, porque um bom-dia não custa nada', afirma. 'O pior é quando os carros quase passam por cima da gente, sem nem tentar desviar. A gente tem de trabalhar de frente para a avenida e se cuidar.' A invisibilidade pública vem sempre na companhia da humilhação social, o sofrimento pelo rebaixamento político, social e psicológico experimentado continuamente por cidadãos de classes D e E. O conceito é recente e foi cunhado por José Moura Gonçalves Filho, orientador de Braga. Afeta o raciocínio, a visão e o afeto de quem é discriminado. 'O invisível não tem voz, seu discurso não é levado em conta, sua opinião sobre o mundo não importa. Ele aparece apenas como ferramenta', diz o psicólogo. Funcionária de uma empresa terceirizada de limpeza, a baiana Sônia Aragão, de 34 anos, veio para São Paulo em 1996, depois de ter passado pela lavoura, por restaurantes e casas de família. Ter de usar uniforme foi um choque: 'Tem gente que passa reto e faz de conta que não me vê. Eu mesma me sinto estranha com esta roupa, porque parece que não sou eu. Quando não estou de uniforme, pelo menos as pessoas me olham, mesmo que não falem comigo', diz.”7 LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Art. 3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. Art. 4º A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. 7 Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT764232-1664,00.html. Acesso em 03/07/12. § 1º O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. § 2º O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. § 3º É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o. Art. 5º O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário. Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento. Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente. Art. 8º A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento. § 1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. § 2º O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento. Art. 9º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência. Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde. Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei. Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. AULA 7 Aspectos psicológicos das relações humanas: comportamento antissocial e violência LEI JURÍDICA & LEI SIMBÓLICA “As pessoas estão confundindo desejo com direito!” (M.S.Cortella) Existem regras que servem para regular as relações dos homens entre si. Essas são chamadas de normas sociais ou leis jurídicas. Porém, poderá haver, ou não, no indivíduo uma lei estruturante que funcionará para lhe dar limites ao gozo. De forma simplificada, essa será chamada de Lei simbólica. “A Constituição, carta magna de um Estado, as leis, os estatutos e os regimentos institucionais são modalidades de expressão da Lei simbólica na cultura e visam ao enquadramento e a limitação do gozo de uma relação aos demais.” (QUINET, 2008) Freud (1856-1939), por exemplo, escreve que cada nova criança que chega ao mundo dos humanos está diante do dever de ter que dar conta do Complexo de Édipo 8 . Isso faz com que o complexo de Édipo, com a questão da barreira contra o incesto, se torne, de uma maneira simples, mas na verdade muito complexa, o que a psicanálise chama de Lei. Lei, portanto, que proíbe o incesto e que proíbe o parricídio, ou seja, o assassinato do pai. Assim, porque o ser humano é um ser que se organiza e se desenvolve intelectual e emocionalmente a partir do simbólico 9 , é pelo simbólico que a Lei será transmitida, via cultura. Estruturar emocionalmente o sentido fundamental da Lei (ou seja, o da interdição aos impulsos básicos), ocorrerá, principalmente, na infância mais tenra e dependerá das primeiras relações sociais da criança (ou seja, com a mãe e com o pai). O registro estruturante da Lei é o que possibilitará, futuramente, à adaptação e o desenvolvimento sadio às posteriores relações civilizadas (escola, grupos, sociedade etc.). A AUTORIDADE DOS PAIS “A autoridade não é um atributo individual das figuras paternas. A autoridade dos pais - e da escola, que também anda em apuros [...] - deriva de uma lei simbólica que interdita os excessos de gozo. Uma lei que deve valer para todos. O pai que “tem moral” com seus 8 Para um maior aprofundamento sobre o complexo de Édipo, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações edípicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível em < http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>. 9 Simbólico, neste contexto, significa a capacidade humana de representar a realidade por signos linguísticos. filhos é aquele que também se submete à mesma lei, traduzida em regras de civilidade, de respeito e da chamada boa educação.” (KEHL, M.R.) O GOZO PELA VIOLAÇÃO DA LEI: O TRAÇO PERVERSO Para o pensamento psicanalítico, o que se chama “perverso” é, no âmbito dos impulsos sexuais e de suas consequentes fantasias, a tendência a buscar a permanência de um gozo absoluto e ilimitado. De um gozo (primitivo, incestuoso e, portanto, infantil) que irá negar quaisquer restrições ou limites (ou seja, que irá negar a Lei). “O desafio e a transgressão são o exercício de buscar, incessantemente, garantir e esticar o usufruto do gozo, além de todos os limites que a cultura e o pacto civilizatório impõem ao Outro.” Perverso em psicanálise toma o sentido de desvio ou perturbação das formas consideradas “normais” (maduras, adultas, satisfatórias para o sujeito etc.) do gozo sexual. O sentido da negação, neste contexto, significa que o sujeito perverso reconhece a existência da lei, porém, a nega, ou seja, não a aceita, não a estrutura em sua personalidade. Analise a classificação a seguir: REFLEXÕES “O apelo capitalista ao consumo que sugere, pela mídia, valores e atitudes de não limite ao gozo e ao prazer imediato.” “A lei da palmada, atualmente em tramitação no Congresso Nacional.” TEXTO COMPLEMENTAR Cariocas gostam de bandalha (ZUENIR VENTURA (O GLOBO, 26/11/08) A pesquisa publicada domingo pelo GLOBO, mostrando que só 9% dos motoristas respeitam sinal de trânsito, confirma o que já se sabia observando o nosso dia a dia e o que Adriana Calcanhotto cantou na sua canção de amor ao Rio e ao seu povo: "Cariocas não gostam de sinal fechado." Gaúcha, ela foi generosa. Ao defeito apontado, contrapôs 15 qualidades positivas que enumera em graciosos versos: "Cariocas são bonitos/Cariocas são bacanas/Cariocas são sacanas/Cariocas são dourados" e por aí vai. Ela os chama ainda de modernos, espertos, diretos, alegres, sexy, que não gostam de dias nublados etc. Talvez por delicadeza de forasteira, ela não quis apontar uma verdade incômoda que explica todo o comportamento transgressor dos cariocas. Eles gostam de bandalha. E não apenas no trânsito, embora nesse quesito eles sejam imbatíveis. Gostam de fechar os cruzamentos, de debruçar sobre a buzina sem necessidade, de estacionar nas calçadas, de parar em lugar proibido, de excesso de velocidade, de falar ao celular enquanto dirigem, de andar na contramão e de xingar quem insiste em se manter dentro da lei (me lembro da senhora ao volante esperando a luz verde, e um sujeito histérico gritando atrás: "Pensa que tá na Suécia, perua?") Assim, além de responsáveis por um dos mais caóticos trânsitos do planeta, os cariocas também são especialistas em delitos menores, para não falar nos grandes, como assaltos e homicídios. Costumam urinar em lugares públicos, desrespeitar filas ("quem gosta de fila é paulista", já ouvi um furão dizer, sem esperar a vez), levar o cachorro para fazer cocô no calçadão, e gostam de falar alto e atender o celular no cinema, enquanto comentam o filme com o vizinho. Outro dia uma leitora mandou carta ao jornal relatando a cena que presenciou: um garoto estava chutando a cadeira da frente, quando a senhora virou-se e pediu que ele parasse. Sabe o que fez o acompanhante, provavelmente pai ou avô do menino? Passou, ele mesmo, a repetir o que o neto ou filho fazia antes. Não sem chamar a queixosa de maluca. Há pouco tempo assisti a coisa parecida numa sessão à tarde. Quando alguém fez psiu para um grupo de cafajestes que discutiam aos gritos, um deles revidou: "Psiu é a p..., os incomodados que se mudem." Essa é a nossa realidade: há cada vez menos lugares para os incomodados. Em matéria de civilidade, os sinais foram trocados. O desvio virou norma e a exceção, regra. O DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL O comportamento antissocial pode ser definido como um padrão de resposta cuja consequência é maximizar gratificações imediatas e evitar ou neutralizar as exigências do ambiente social. PRÓ-SOCIAIS (Competência Social) ANTISSOCIAIS (Incompetência Social) Solidariedade Altruísmo Cooperação Empatia Compaixão Respeito às normas sociais Individualismo/Egoísmo paroxísticos Competitividade destrutiva Insensibilidade/Frieza Crueldade Violação das normas sociais Fingir/Mentir/Trapacear/Explorar Fuga da escola e de casa Debochar/Humilhar/Implicar/Ofender “Bullying” Vandalismo Comportamento Violento/Ameaçar Roubar/Furtar Usar drogas Destruir/Matar Um aspecto importante para a definição de comportamento antissocial é que este exerce uma função na relação do indivíduo com o ambiente social (PATTERSON & cols., 1992). Embora seja uma forma primitiva de enfrentamento, este comportamento é efetivo para modificar o ambiente. Indivíduos antissociais utilizam comportamentos aversivos para modelar e manipular as pessoas à sua volta e, devido a sua efetividade, esse padrão pode se tornar a principal forma desses indivíduos interagirem e lidarem com as outras pessoas (PATTERSON & cols., 1992). A efetividade do comportamento antissocial está relacionada principalmente às características da interação familiar, à medida que os membros da família treinam diretamente esse padrão comportamental na criança. Os pais, em geral, não são contingentes no uso de reforçadores positivos para iniciativas pró-sociais e fracassam no uso efetivo de técnicas disciplinares para enfraquecer os comportamentos desviantes. Além disso, essas famílias se caracterizam pelo uso de uma disciplina severa e inconsistente com pouco envolvimento parental e pouco monitoramento e supervisão do comportamento da criança. Patterson e colaboradores (1989) afirmam que em algumas ocasiões o comportamento é reforçado positivamente, através de atenção ou aprovação, mas a principal forma de manutenção deste padrão ocorre por meio de reforçamento negativo, ou condicionamento de esquiva. Em geral, a criança utiliza-se de comportamentos aversivos para interromper a solicitação ou a exigência de um outro membro da família. Ainda segundo os autores, a aprendizagem do comportamento antissocial ocorreria paralelamente a um déficit na aquisição de habilidades pró- sociais. Desta forma, essas famílias parecem desenvolver crianças com dois problemas: alta frequência de comportamentos antissociais e pouca habilidade social (BOLSONI-SILVA & MARTURANO, 2002; PATTERSON & cols., 2000). Dessa forma, os comportamentos antissociais que ocorrem na infância são protótipos de comportamentos delinquentes que poderão acontecer mais tarde. A delinquência, então, representa um agravamento de um padrão antissocial que inicia na infância e, normalmente, persiste na adolescência e na vida adulta (FARRINGTON, 1995; VEIRMEIREN, 2003). REFLEXÃO O ATO INFRACIONAL E AS DEPENDÊNCIAS RELACIONAIS AFETIVAS “[...] Podemos continuar nossa reflexão, abordando uma outra dimensão traçada neste estudo, que se refere às dependências de contexto. Os adolescentes apontam uma estreita relação entre o contexto e as práticas infracionais. Quanto às dependências relacionais afetivas, existe um potencial afetivo importante na família. Os adolescentes entrevistados descrevem um forte vínculo com a mãe, revelando o seu papel protetivo, acolhedor e de defesa, valorizando seu vínculo emocional com ela. Este é, muitas das vezes, o vínculo mais forte apresentado pelo adolescente em conflito com a lei em relação à sua rede social. Ao passo que a mãe protege o adolescente, este também age no mesmo sentido, procurando mostrar sua admiração, confiança, lealdade e proteção em relação a ela. Por isso, a atuação da mãe neste contexto infracional pode trazer grandes contribuições para as possíveis mudanças de comportamento e desenvolvimento emocional adequado do filho. No entanto, existe o duplo vínculo aditivo (Colle, 1996) que se estabelece na relação mãe-filho. As mães são permissivas ao comportamento transgressor do filho, chegando a negar a situação ou a guardar segredo do problema, fingindo não ver o que está acontecendo, com a intenção de minimizar os riscos e resolver o problema sozinhas. Esta já não é somente uma proteção, mas uma superproteção. Os filhos acabam por não se responsabilizarem por seus atos, pois contam com o apoio delas. Podemos ainda inferir a ausência de autoridade parental na vida destes jovens, quando falam sobre a atitude dos pais diante de seus comportamentos transgressores. A presença parental deixa de existir quando os pais perdem sua voz ativa perante o adolescente (Omer, 2002). Muitas vezes a permissividade e a superproteção da mãe podem levar a esta falta de autoridade perante seus filhos. Os adolescentes também falam sobre a falta do pai. Em 20 entrevistas surgiram relatos acerca da perda (falecimento), desconhecimento (mora longe, não tem contato, o abandonou na infância) ou desqualificação do pai (característica esta representada pelo alcoolismo, violência, ausência de autoridade e não ser o provedor da família). A desestruturação de uma família, seja através do divórcio, da morte de algum membro, seja por razões socioeconômicas, pela ação direta da pobreza ou pela falta de cultura, não são fenômenos que, por si sós, levam à droga dição. Mas a ausência de afetividade dentro de um sistema familiar, esta sim, é a grande responsável pelo fenômeno da droga dição, pois, como afirma Kalina e cols.(1999), "a única coisa impossível de ser substituída é o amor" (p.182). Neste sentido, um outro aspecto que chama a atenção presente nas falas dos adolescentes, refere-se ao alcoolismo do pai, seguido de atos violentos. O adolescente sente a frustração pela falta de atenção, rejeição ou abandono deste pai; sente a falta de uma qualidade no vínculo pai-filho: o pai sempre distante: a falta de intimidade e de disponibilidade dele em estar com o filho. Esta conduta do pai pode estar relacionada ao alcoolismo do mesmo, o que não elimina o sofrimento, a mágoa, a decepção do adolescente, que ainda não tem uma compreensão clara da influência do consumo de álcool do pai sobre a dinâmica familiar. O filho sente-se vitimado pelo pai e identificado com a mãe, como quando um adolescente coloca: "Estragou minha vida, estragou a vida da minha mãe..." Caberia melhor investigar como se explica esta situação do pai alcoolista na visão destes adolescentes. A figura paterna pode estar aparecendo como co-geradora do fenômeno aditivo e delituoso (Kalina & Cols., 1999). A função paterna fica comprometida, fazendo com que o jovem permaneça no vazio e procure "fora" a autoridade que não encontra "dentro" de casa (Omer, 2002). O ato infracional surge, então, como a busca deste pai, de uma autoridade, de uma lei que seja capaz de colocar limites, que "proíba" o adolescente de agir, mas que favoreça, em contrapartida, algum tipo de aproximação pai-filho. Do mesmo modo, há nas falas destes adolescentes a denúncia de usuários de drogas e antecedentes criminais na família como mediadores do vínculo. É interessante observar que 13 adolescentes entrevistados falaram sobre o alcoolismo do pai e/ou a presença de antecedentes criminais ou outros usuários de drogas na família. Esta questão nos leva a pensar no significado simbólico para o adolescente do comprometimento de algum membro da família com o álcool, as drogas ou os atos infracionais. Aparecem contradições nos relatos dos adolescentes, mostrando novamente aqui a questão do duplo vínculo aditivo que se estabelece na dinâmica familiar. Por um lado, veem as condutas "alcoolistas", aditivas, delituosas no sistema familiar como modelo (não há críticas em relação ao pai) e é o próprio sistema que os introduz na criminalidade e na adição (aprendem com o pai a beber, a traficar). Por outro lado, os adolescentes denunciam os membros do sistema, que se tornam inconvenientes quando perdem o controle. A falta de coerência no contexto familiar torna a relação ambivalente: abandono e regresso, aproximação e distanciamento, provocando nestes adolescentes sentimentos, por sua vez, também bastante contraditórios. Se em determinados momentos odeiam, rejeitam, estigmatizam seus familiares, em outros, amam, são cúmplices e os têm como exemplo. Podemos pensar que toda esta situação é conflituosa e pode estar deixando o adolescente mais vulnerável para ficar fora de casa.” (PEREIRA; SUDBRACK, 2005) Qual a diferença entre violência e agressividade? Jurandir Freire Costa (1986) estabelece a diferença entre agressividade e violência, pontuando que na primeira existe o fator necessidade, enquanto que a segunda é permeada pela gratuidade de sua expressão, isto é, não está vinculada à defesa do agressor nem à manutenção de seu bem-estar ou desenvolvimento, como ocorre na agressividade. A violência gera em sua vítima um desprazer desnecessário, violando o direito da mesma de ocupar um lugar no meio social, ferindo sua identidade, bem como as regras estabelecidas (leis). A violência é fruto de um desejo de destruir ou, como afirma Costa, é o emprego desejado da agressividade. Sendo uma manifestação da vontade, a violência é exclusivamente humana, porque só os homens desejam. Os animais não desejam; eles somente necessitam, ou seja, seu caminho tem uma determinação exclusivamente biológica. Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como “[...] o uso intencional da força física ou o poder, real ou por ameaça, contra a pessoa mesma, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que possa resultar em ou tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação.” (Relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde – OMS/2002). TIPOS DE VIOLÊNCIA 10 FÍSICA PSICOLÓGICA ou MORAL SEXUAL PRIVAÇÃO ou NEGLIGÊNCIA ESTRUTURAL “[...] significa o uso da força física para produzir lesões, traumas, feridas, dores ou incapacidades em outra pessoa.” “[...] diz respeito a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar a vítima, restringir a liberdade ou ainda isolá-la do convívio social.” “Stalking”(seguindo, perseguindo) refere à ideia de perseguição persistente e implacável de sua vítima. Em geral o sexo feminino é o mais acometido. Refere-se geralmente à intrusão persistente na vida de uma pessoa, contatos indesejados, ameaças e invasão de sua privacidade. A grande dificuldade de caracterizar esta conduta é que nem sempre o perseguidor comete algum ato ilegal. Todo esse conjunto de ações pode culminar em ameaças de morte, sequestro e até homicídio. Nesse particular, a Lei Maria da Penha sinaliza para a possibilidade de caracterizar o stalking, ao incluir entre as formas de violência a modalidade psicológica. “[...] diz respeito ao ato ou jogo sexual que ocorre nas relações hetero ou homossexuais e visa estimular a vítima ou a utilizá-la para obter excitação sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais, impostas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças. O abuso sexual é a utilização da violência, do poder, da autoridade ou da diferença de idade para obtenção de prazer sexual. Esse prazer não é obtido apenas por meio de relações sexuais propriamente ditas; pode ocorrer em forma de carícias, de manipulação dos órgãos genitais, voyeurismo, ou atividade sexual com ou sem penetração vaginal, anal ou oral.” “[...] ato de omissão em prover as necessidades básicas para desenvolvimento de uma pessoa, incluindo comida, casa, segurança e educação.” “[...] se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de determinadas pessoas a quem se negam vantagens da sociedade, tornando- as mais vulneráveis ao sofrimento e à morte. Essas estruturas determinam igualmente as práticas de socialização que levam os indivíduos a aceitar ou a infligir sofrimentos, de acordo com o papel que desempenham.11” 10 MINAYO, apud Governo do Estado de São Paulo, 2009. Manual de Proteção Escolar e Promoção da Cidadania. 11 BOULDING (1981) COMPORTAMENTO AGRESSIVO E A LEI Estado de necessidade Art. 24 do CP - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. Legítima defesa Art. 25 do CP - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. *** AULA 8 A Psicologia, o Judiciário e a busca pelo ideal de Justiça: justiça restaurativa. Métodos autocompositivos de resolução de conflitos. A Justiça Restaurativa é um "processo colaborativo que envolve aqueles afetados mais diretamente por um crime, chamados de ‘partes interessadas principais’, para determinar qual a melhor forma de reparar o dano causado pela transgressão". [...] "a essência da justiça restaurativa é a resolução de problemas de forma colaborativa. Práticas restaurativas proporcionam, àqueles que foram prejudicados por um incidente, a oportunidade de reunião para expressar seus sentimentos, descrever como foram afetados e desenvolver um plano para reparar os danos ou evitar que aconteça de novo. A abordagem restaurativa é reintegradora e permite que o transgressor repare danos e não seja mais visto como tal. [...] O engajamento cooperativo é elemento essencial da justiça restaurativa". Trata-se, enfim, de suprir as necessidades emocionais e materiais das vítimas e, ao mesmo tempo, fazer com que o infrator assuma responsabilidade por seus atos, mediante compromissos concretos. (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7359) O conceito de Justiça Restaurativa coloca a sua ênfase no dano causado à vitima assim como à própria comunidade onde esta se encontra inserida. Procura estabelecer um reconhecimento geral de que o crime é tanto uma violação das relações entre um conjunto específico de pessoas; como uma violação contra todos – e logo contra o Estado. Sempre que seja considerado apropriado, a vitima e o arguido tem a hipótese de se confrontar num ambiente controlado, dando desta forma a oportunidade a ambos de explicar as causas e as consequências pessoais do crime. O objetivo central passa pela revalorização do papel da desculpa e da tentativa real da reparação do dano causado. De forma simplificada, o conceito de Justiça Restaurativa baseia-se na teoria dos três R: a) Atuar para que o arguido assuma a sua Responsabilidade; b) Permitir uma melhor Reintegração do arguido na Comunidade; c) Estimular a Reparação do dano causado; (http://justicarestaurativa.wordpress.com/2007/05/01/definicao-de-justica- restaurativa/) Benefícios da Justiça Restaurativa Celeridade e economia de recursos na resolução das lides judiciais; “Compensações psicológicas” às vítimas; Possibilidade de os autores reconhecerem os danos causados por suas ações e de agirem no sentido da restauração ou reparação do dano causado (ressocialização); Participação da comunidade no Judiciário. Justiça Restaurativa e Legislação Brasileira Deve-se assinalar, de início, que não há na legislação brasileira dispositivos com práticas totalmente restaurativas. Existem, contudo, determinados diplomas legais os quais podem ser utilizados para sua implementação, ainda que parcial. De acordo com Pedro Scuro Neto, um programa efetivo de Justiça Restaurativa requer que sejam estabelecidos, "por via legislativa, padrões e diretrizes legais para a implementação dos programas restaurativos, bem como para a qualificação, treinamento, avaliação e credenciamento de mediadores, administração dos programas, níveis de competência e padrões éticos, salvaguardas e garantias individuais. CONFLITO O QUE É UM CONFLITO? 1. “Simplificadamente, as diferenças não compreendidas, em muitos casos, geram conflitos.” 2. “[...] é resultado de um conjunto de condições psicossocioculturais que determinam colisão de interesses.” REFLEXÃO “[...] o conflito não é destrutivo em si, nem bom em si, e pode ser entendido como um dos elementos da própria vida, portanto, parte integral do meio no qual nascemos, vivemos e morremos, fazendo parte de nossas interações; por isso não pode se extirpado. A questão é saber como manejá-lo de forma que ambas as partes saiam ganhando, ou seja, eficaz e produtivamente.” Para alguns autores, um conflito é uma excelente oportunidade de crescimento e desenvolvimento. Métodos tradicionais e alternativos de solução de conflitos 1º) JULGAMENTO (Método Tradicional) – De competência do poder Judiciário que, inicialmente, aprecia os fatos (processo) e, posteriormente, impõe sentença em harmonia com a ordem jurídica vigente. Neste método, tipicamente adversarial, uma das partes perde e a outra ganha. Às vezes, ambas perdem. 2º) ARBITRAGEM (Método Extrajudicial) – Neste método a decisão será tomada por um terceiro neutro, o árbitro, escolhido pelas partes. Caracteriza-se por ser adversarial. A Lei n. 9.307, de 1996, retirou a obrigatoriedade de homologação do Laudo Arbitral pelo Poder Judiciário. 3º) CONCILIAÇÃO – “O objetivo da conciliação é colocar fim ao conflito manifesto, isto é, a questão trazida pelas partes. O conciliador envolve-se segundo sua visão do que é justo ou não; na busca de soluções, interfere e questiona os litigantes. O conciliador, entretanto, não tem poder de decisão, que deve ser tomada, cooperativamente, pelas partes. Na conciliação, não há interesse em buscar ou identificar razões ocultas que levaram ao conflito e outras questões pessoais dos envolvidos.” (FIORELLI; MANGINI, 2010). É prevista pelo Código de Processo Civil a prática da conciliação, como forma de resolução de conflitos em processos de separação. Essa prática é bastante prestigiada pelo magistrado brasileiro, podendo ocorrer em qualquer tempo durante o processo, quando se oferece às partes uma oportunidade de conciliação sobre o assunto em pauta, extinguindo total ou parcialmente o litígio.” Principais áreas: criminal, família e trabalho.” 4º) MEDIAÇÃO - Segundo Grunspun (2000), a mediação pode ser compreendida como um processo no qual uma terceira pessoa, neutra, o mediador, facilita a resolução de uma controvérsia ou disputa entre duas partes. “Na mediação, (o mediador), atua para promover a solução do conflito por meio do realinhamento das divergências entre as partes, os mediandos. Para isso, o mediador explora o conflito para identificar os interesses que se encontram além ou ocultos pelas queixas manifestas (as posições). O mediador não decide, não sugere soluções, mas trabalha para que os mediandos as encontre e se comprometam com eles. Reconhecer o ponto de vista do outro é fundamental e o mediador empenha-se para que isso aconteça. A pedra de toque é a cooperação e são diversas as técnicas empregadas. (FIORELLI; MANGINI, 2010). O MÉTODO DA NEGOCIAÇÃO (Método Extrajudicial) Nesta modalidade a resolução do conflito caberá as partes. Não se caracteriza como adversarial pois os envolvidos deverão se dispor a buscar uma solução que contemple, na medida do possível, a maior parte dos seus interesses. “A negociação, por outro lado, está presente nos métodos (da conciliação e da mediação), como parte integrante da condução dos trabalhos. Ela também pode acontecer no transcorrer da arbitragem ou do julgamento, com a participação promotores, advogados e árbitros.” (FIORELLI; MANGINI, 2010). *** AULA 9 As práticas “Psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área de família. Principais atividades do Psicólogo Jurídico nas Varas de Família Intervenção em casos de separação, divórcio, regulamentação de visitas, pensão alimentícia, destituição do poder, disputa de guarda, assessoria em relação aos tipos de guarda (unilateral ou compartilhada) não obstante os interesses dos filhos, acompanhamento de visitas, síndrome de alienação parental. CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DA PATERNIDADE NO DIREITO BRASILEIRO CONCEITO PATERNIDADE – “Condição do pai em relação aos filhos, quanto aos direitos e obrigações. Obs.: O vocábulo é comum tanto ao pai como à mãe, dado que o feminino etimológico maternidade tem outro sentido.” (DICIONÁRIO JURÍDICO) CRITÉRIOS 1º) Presunção legal – Somente para os filhos havidos no casamento. Por esse critério excluíam-se os chamados “filhos bastardos”, ou seja, os havidos fora do casamento. 2º) Biológico – Critério que estabelece a paternidade a partir da constatação científica (via exames de DNA, p.ex.) da descendência biológica, ou, laço consanguíneo. 3º) Socioafetivo – Critério que poderá estabelecer a paternidade a partir dos vínculos de afinidade e afetividade, independentemente de qualquer laço consanguíneo. Obs.: No direito brasileiro estão positivados somente os dois primeiros critérios (quais sejam, o legal e o biológico). Porém, em processos de adoção, por exemplo, o critério afetivo é largamente aceito. DÚVIDA Os vínculos de paternidade, uma vez estabelecidos legalmente, são inextinguíveis. Porém, discute-se atualmente no direito a seguinte questão: Caso o vínculo legal de paternidade tenha sido estabelecido a partir do critério afetivo (p. ex., numa adoção), extinta essa afetividade e afinidade entre “pais” e “filhos”, pelo motivo que for, deve também o vínculo legal de paternidade ser extinto? JUSTIFIQUE: ALIENAÇÃO PARENTAL e SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio psicológico de crianças e adolescentes que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia quando em processos de separação (importante não confundir com Alienação Parental, pura e simplesmente, que caracteriza as ações caluniadoras e difamatórias do genitor alienador em relação ao genitor alienado). Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pelo próprio filho e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições do próprio filho para caluniar o genitor- alvo. Importante: quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de SAP para a hostilidade do filho não é aplicável SAP – PRINCIPAIS SINTOMAS Sintomas Característica Campanha de descrédito Esta campanha se manifesta verbalmente e nas atitudes. Justificativas fúteis O filho dá pretextos fúteis, com pouca credibilidade ou absurdos, para justificar a atitude. Situações fingidas O filho conta casos que manifestadamente não viveu, ou que ouviu contar (“memória implantada”). Ausência de ambivalência O filho está absolutamente seguro de si, e seu sentimento exprimido pelo genitor alienado é maquinal e sem equívoco: é o ódio. Ausência de culpa O filho não sente nenhuma culpa por denegrir ou explorar o genitor alienado. Fenômeno de independência O filho afirma que ninguém o influenciou e que chegou sozinho a esta conclusão. Sustentação deliberada. O filho adota, de uma forma racional, a defesa do genitor alienador no conflito. Generalização a outros membros da família do alienado. O filho estende sua animosidade para a família e amigos do genitor alienado. SAP - CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS PARA OS FILHOS Os efeitos nos jovens vítimas da SAP podem ser uma depressão crônica, incapacidade de adaptação em ambiente psicossocial normal, desespero, sentimento incontrolável de culpa, sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla personalidade e às vezes suicídio. Esses jovens podem tornar-se mentirosos e manipuladores, como os genitores de que foram vítimas. Isto porque desde muito cedo são treinados para falar apenas uma parte da verdade. Estudos têm mostrado que, quando adultas, as vítimas da Alienação Parental têm inclinação ao álcool e às drogas, e apresentam outros sintomas de profundo mal-estar. DICA CINEMATOGRÁFICA Assista o documentário “A morte inventada: alienação parental”, direção de Alan Minas. (www.amorteinventada.com.br) DICA DE PESQUISA 1. Para maiores informações sobre Alienação Parental visite o site www.alienacaoparental.com.br; 2. Faça uma leitura da LEI Nº 12.318, de 26/08/2010 que dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. GUARDA COMPARTILHADA LEI Nº 11.698, de 13/06/08 Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e disciplinar a guarda compartilhada. Art. 1 o Os arts. 1.583 e 1.584 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, passam a vigorar com a seguinte redação: Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. § 1 o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5 o ) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. § 2 o A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores: I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar; II – saúde e segurança; III – educação. § 3 o A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos. Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: § 2 o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada. § 3 o Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar. DISCUSSÃO O instituto da Guarda Compartilhada poderá ser um instrumento contra potenciais processos de alienação parental, quando das dissoluções conjugais? Justifique: FIXAÇÃO - Caderno de Psicologia – Introdução à Psicologia – p. 19 a 20 e, Psicologia Social – p. 200, 205, 281 e 282) AULAS 10 e 11 As práticas “Psi” e suas aplicações no contexto jurídico: área da infância, juventude e do idoso Infância e Juventude Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências): Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando- se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio. Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder- lhe ao falecimento, se deixar descendentes. Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. § 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. § 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência. § 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. § 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. § 5º A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado. Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais, sem autorização judicial. Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção. Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos. Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários. Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei. § 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. § 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. § 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. § 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando. § 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar. § 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento. Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso. § 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais de um ano de idade ou se, qualquer que seja a sua idade, já estiver na companhia do adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar a conveniência da constituição do vínculo. § 2º Em caso de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo quinze dias para crianças de até dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias quando se tratar de adotando acima de dois anos de idade. § 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo. § 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência. § 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias. § 4º O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida. Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais. Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta. Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade; VIII - colocação em família substituta. Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. § 1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. § 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa. Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato. Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101. Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos. Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada. Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri- la, as circunstâncias e a gravidade da infração. § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100. Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127. Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. § 7º A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a três meses. § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal. § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes: I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público; II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; III - avistar-se reservadamente com seu defensor; IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada; V - ser tratado com respeito e dignidade; VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal; X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; XI - receber escolarização e profissionalização; XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje; XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá- los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade; XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. § 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança. Lei nº 6.697 de 10 de outubro de 1979 (Institui o Código de Menores) Art. 1º Este Código dispõe sobre assistência, proteção e vigilância a menores: I - até dezoito anos de idade, que se encontrem em situação irregular; II - entre dezoito e vinte e um anos, nos casos expressos em lei. Parágrafo único - As medidas de caráter preventivo aplicam-se a todo menor de dezoito anos, independentemente de sua situação. Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal. Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial. Art. 9º As entidades de assistência e proteção ao menor serão criadas pelo Poder Público, segundo as diretrizes da Política Nacional do Bem-Estar do Menor, e terão centros especializados destinados à recepção, triagem e observação, e à permanência de menores. § 1º O estudo do caso do menor no centro de recepção, triagem e observação considerará os aspectos social, médico e psicopedagógico, e será feito no prazo médio de três meses. § 2º A escolarização e a profissionalização do menor serão obrigatórias nos centros de permanência. § 3º Das anotações sobre os menores assistidos ou acolhidos constarão data e circunstâncias do atendimento, nome do menor e de seus pais ou responsável, sexo, idade, ficha de controle de sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização de seu tratamento. Art. 10. As entidades particulares de assistência e proteção ao menor somente poderão funcionar depois de registradas no órgão estadual responsável pelos programas de bem-estar do menor, o qual comunicará o registro à autoridade judiciária local e à Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor. Parágrafo único. Será negado registro à entidade que não se adequar às diretrizes da Política Nacional do Bem-Estar do menor e ao disposto nesta Lei. Art. 11. Toda entidade manterá arquivo das anotações a que se refere o § 3º do art. 9º desta Lei, e promoverá a escolarização e a profissionalização de seus assistidos, preferentemente em estabelecimentos abertos. Art. 12. É vedado à entidade particular entregar menor sub-judice a qualquer pessoa, ou transferi-lo a outra entidade, sem autorização judicial. Art. 13. Toda medida aplicável ao menor visará, fundamentalmente, à sua integração sócio-familiar. Art. 14. São medidas aplicáveis ao menor pela autoridade judiciária: I - advertência; II - entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade; III - colocação em lar substituto; IV - imposição do regime de liberdade assistida; V - colocação em casa de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico, hospitalar, psiquiátrico ou outro adequado. Art. 15. A autoridade judiciária poderá, a qualquer tempo e no que couber, de ofício ou mediante provocação fundamentada dos pais ou responsável, da autoridade administrativa competente ou do Ministério Público, cumular ou substituir as medidas de que trata este Capítulo. Art. 16. Para a execução de qualquer das medidas previstas neste Capítulo, a autoridade judiciária poderá, ciente o Ministério Público, determinar a apreensão do menor. Parágrafo único. Em caso de apreensão para recambiamento, este será precedido de verificação do domicílio do menor, por intermédio do Juizado do domicílio indicado. Art. 17. A colocação em lar substituto será feita mediante: I - delegação do pátrio poder; II - guarda; III - tutela; IV - adoção simples; V - adoção plena. Parágrafo único. A guarda de fato, se decorrente de anterior situação irregular, não impedirá a aplicação das medidas previstas neste artigo. Art. 18. São requisitos para a concessão de qualquer das formas de colocação em lar substituto: I - qualificação completa do candidato a responsável e de seu cônjuge, se casado, com expressa anuência deste; II - indicação de eventual relação de parentesco do candidato ou de seu cônjuge com o menor, especificando se este tem ou não parente vivo; III - comprovação de idoneidade moral do candidato; IV - atestado de sanidade física e mental do candidato; V - qualificação completa do menor e de seus pais, se conhecidos; VI - indicação do cartório onde foi inscrito o nascimento do menor. Parágrafo único. Não se deferirá colocação em lar substituto a pessoa que: I - revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida; II - não ofereça ambiente familiar adequado. Art. 19. A colocação em lar substituto não admitirá transferência do menor a terceiros ou sua internação em estabelecimentos de assistência a menores, sem autorização judicial. Art. 20. O estrangeiro residente ou domiciliado fora do País poderá pleitear colocação familiar somente para fins de adoção simples e se o adotando brasileiro estiver na situação irregular, não eventual, descrita na alínea a, inciso I, do art. 2º desta Lei. Art. 21. Admitir-se-á delegação do pátrio poder, desejada pelos pais ou responsável, para prevenir a ocorrência de situação irregular do menor. Art. 24. A guarda obriga à prestação de assistência material, moral e educacional ao menor, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive pais. § 1º Dar-se-á guarda provisória de ofício ou a requerimento do interessado, como medida cautelar, preparatória ou incidente, para regularizar a detenção de fato ou atender a casos urgentes. § 2º A guarda confere ao menor a condição de dependente, para fins previdenciários. Art. 25. Ao assumir a guarda, o responsável prestará compromisso em procedimento regular. Art. 27. A adoção simples de menor em situação irregular reger-se-á pela lei civil, observado o disposto neste Código. Art. 28. A adoção simples dependerá de autorização judicial, devendo o interessado indicar, no requerimento, os apelidos de família que usará o adotado, os quais, se deferido o pedido, constarão do alvará e da escritura, para averbação no registro de nascimento do menor. § 1º A adoção será precedida de estágio de convivência com o menor, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas a idade do adotando e outras peculiaridades do caso. § 2º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais de um ano de idade. Art. 29. A adoção plena atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Art. 30. Caberá adoção plena de menor, de até sete anos de idade, que se encontre na situação irregular definida no inciso I, art. 2º desta Lei, de natureza não eventual. Parágrafo único. A adoção plena caberá em favor de menor com mais de sete anos se, à época em que completou essa idade, já estivesse sob a guarda dos adotantes. Art. 31. A adoção plena será deferida após período mínimo de um ano de estágio de convivência do menor com os requerentes, computando-se, para esse efeito, qualquer período de tempo, desde que a guarda se tenha iniciado antes de o menor completar sete anos e comprovada a conveniência da medida. Art. 32. Somente poderão requerer adoção plena casais cujo matrimônio tenha mais de cinco anos e dos quais pelo menos um dos cônjuges tenha mais de trinta anos. Parágrafo único. Provadas a esterilidade de um dos cônjuges e a estabilidade conjugal, será dispensado o prazo. Art. 33. Autorizar-se-á a adoção plena ao viúvo ou à viúva, provado que o menor está integrado em seu lar, onde tenha iniciado estágio de convivência de três anos ainda em vida do outro cônjuge. Art. 34. Aos cônjuges separados judicialmente, havendo começado o estágio de convivência de três anos na constância da sociedade conjugal, é lícito requererem adoção plena, se acordarem sobre a guarda do menor após a separação judicial. Art. 37. A adoção plena é irrevogável, ainda que aos adotantes venham a nascer filhos, as quais estão equiparados os adotados, com os mesmos direitos e deveres. Art. 38. Aplicar-se-á o regime de liberdade assistida nas hipóteses previstas nos inciso V e VI do art. 2º desta Lei, para o fim de vigiar, auxiliar, tratar e orientar o menor. Parágrafo único. A autoridade judiciária fixará as regras de conduta do menor e designará pessoa capacitada ou serviço especializado para acompanhar o caso. Art. 39. A colocação em casa de semiliberdade será determinada como forma de transição para o meio aberto, devendo, sempre que possível, utilizar os recursos da comunidade, visando à escolarização e profissionalização do menor. Art. 40. A internação somente será determinada se for inviável ou malograr a aplicação das demais medidas. Art. 41. O menor com desvio de conduta ou autor de infração penal poderá ser internado em estabelecimento adequado, até que a autoridade judiciária, em despacho fundamentado, determine o desligamento, podendo, conforme a natureza do caso, requisitar parecer técnico do serviço competente e ouvir o Ministério Público. § 1º O menor sujeito à medida referida neste artigo será reexaminado periodicamente, com o intervalo máximo de dois anos, para verificação da necessidade de manutenção de medida. § 2º Na falta de estabelecimento adequado, a internação do menor poderá ser feita, excepcionalmente, em seção de estabelecimento destinado a maiores, desde que isolada destes e com instalações apropriadas, de modo a garantir absoluta incomunicabilidade. § 3º Se o menor completar vinte e um anos sem que tenha sido declarada a cessação da medida, passará à jurisdição do Juízo incumbido das Execuções Penais. § 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o menor será removido para estabelecimento adequado, até que o Juízo incumbido das Execuções Penais julgue extinto o motivo em que se fundamentara a medida, na forma estabelecida na legislação penal. Art. 42. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - advertência; II - obrigação de submeter o menor a tratamento em clínica, centro de orientação infanto-juvenil, ou outro estabelecimento especializado determinado pela autoridade judiciária, quando verificada a necessidade e houver recusa injustificável; III - perda ou suspensão do pátrio poder; IV - destituição da tutela; V - perda da guarda. Art. 43. Os pais ou responsável firmarão termo de compromisso, no qual a autoridade judiciária fixará o tratamento a ser ministrado ao menor. Parágrafo único. A autoridade verificará, periodicamente, o cumprimento das obrigações previstas no termo. Art. 44. A perda ou suspensão do pátrio poder e a destituição da tutela regem-se pelo Código Civil e pelo disposto nesta Lei. Art. 45. A autoridade judiciária poderá decretar a perda ou suspensão do pátrio poder e a destituição da tutela dos pais ou tutor que: I - derem causa a situação irregular do menor; II - descumprirem, sem justa causa, as obrigações previstas no art. 43 desta Lei. Parágrafo único - A perda ou a suspensão do pátrio poder não exonera os pais do dever de sustentar os filhos. Art. 46. A autoridade judiciária decretará a perda da guarda nos casos que aplicaria a perda ou a suspensão do pátrio poder ou a destituição da tutela. Art. 94. Qualquer pessoa poderá e as autoridades administrativas deverão encaminhar à autoridade judiciária competente o menor que se encontre em situação irregular, nos termos dos incisos I, II, III e IV do art. 2º desta Lei. § 1º Registrada e relatada a ocorrência, pelos órgãos auxiliares do Juízo, com ou sem apresentação do menor a autoridade judiciária, mediante portaria, termo ou despacho, adotará de plano as medidas adequadas. § 2º Se as medidas a que se refere o parágrafo anterior tiverem caráter meramente cautelar, prosseguir-se-á no procedimento verificatório, no qual, após o estudo social do caso ou seu aprofundamento e realizadas as diligências que se fizerem necessárias, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decidirá, em cinco dias, definindo a situação do menor e aplicando a medida adequada. Art. 95. Instaurar-se-á procedimento contraditório: I - discordando os pais ou responsável das medidas aplicadas em procedimento verificatório simples previsto nos §§ 1º e 2º do art. 94 desta Lei; II - nas hipóteses das alíneas a e b do inciso I do art. 2º desta Lei, quando a perda do pátrio poder constituir pressuposto lógico da medida principal; Ill - para a perda da guarda ou quando sobre esta houver controvérsia; IV - para o decreto de suspensão do pátrio poder. Art. 96. Será observado o procedimento verificatório simples, previsto no § 2º do art. 94 desta Lei, quando: I - na hipótese da alínea b do inciso I do art. 2º desta Lei, os pais concordarem, mediante declaração escrita ou termo nos autos, em que o menor seja posto sob tutela ou adotado; II - recolhido a entidade pública, provisoriamente, há mais de quatro anos, ou amparado por entidade particular, por igual lapso de tempo, o menor na situação irregular prevista nas alíneas a e b, inciso I do art. 2º desta Lei, não tiver sido reclamado pelos pais ou parentes próximos; III - já integrado em família substituta, ainda que mediante guarda de fato, há mais de três anos, não tiver sido reclamado pelos pais ou parentes próximos; IV - já integrado em família substituta, ainda que mediante guarda de fato, há mais de um ano, não tiver sido o menor, em orfandade total ou o menor não reconhecido pelos pais, reclamado pelos parentes próximos, ou na segunda hipótese, pelos genitores. Art. 97. O procedimento contraditório terá início por provocação do interessado ou do Ministério Público, cabendo-lhes formular petição devidamente instruída com os documentos necessários e com a indicação da providência pretendida. § 1º Serão citados os pais, o responsável ou qualquer outro interessado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta, instruída com os documentos necessários, requerendo, desde logo, a produção de outras provas que houver. § 2º Apresentada, ou não, a resposta, a autoridade judiciária mandará proceder ao estudo social do caso ou à perícia por equipe interprofissional, se possível. Art. 98. Como medida cautelar, em qualquer dos procedimentos, demonstrada a gravidade do fato, poderá ser, liminar ou incidentemente, decretada a suspensão provisória do pátrio poder, da função de tutor ou da de guardador, ficando o menor confiado à autoridade administrativa competente ou a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade, até a decisão final. Art. 99. O menor de dezoito anos, a que se atribua autoria de infração penal, será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. § 1º Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do menor à data do fato. § 2º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial responsável encaminhará o menor a repartição policial especializada ou a estabelecimento de assistência, que apresentará o menor à autoridade judiciária no prazo de vinte e quatro horas. § 3º Na falta de repartição policial especializada, o menor aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores de dezoito anos. Art. 100. O procedimento de apuração de infração cometida por menor de dezoito e maior de quatorze anos compreenderá os seguintes atos: I - recebidas e autuadas as investigações, a autoridade judiciária determinará a realização da audiência de apresentação do menor; II - na audiência de apresentação, presentes o Ministério Público e o procurador serão ouvidos o menor, seus pais ou responsável, a vítima e testemunhas, podendo a autoridade judiciária determinar a retirada do menor do recinto; III - após a audiência, a autoridade judiciária poderá determinar a realização de diligências, ouvindo técnicos; IV - a autoridade judiciária poderá, considerando a personalidade do menor, seus antecedentes e as condições em que se encontre, bem como os motivos e as circunstâncias da ação, proferir decisão de plano, entregando-o aos pais ou responsável, ouvido o Ministério Público; V - se ficar evidente que o fato é grave, a autoridade judiciária fixará prazo, nunca superior a trinta dias, para diligências e para que a equipe interprofissional apresente relatório do estudo do caso; VI - durante o prazo a que se refere o inciso V, o menor ficará em observação, permanecendo ou não internado; Art. 101. O menor com mais de dez e menos de quatorze anos será encaminhado, desde logo, por ofício, à autoridade judiciária, com relato circunstanciado de sua conduta, aplicando-se-lhe, no que couber, o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 99 desta Lei. Parágrafo único. A autoridade judiciária poderá, considerando a personalidade do menor, seus antecedentes e as condições em que se encontre, bem como os motivos e as circunstâncias da ação, proferir, motivadamente, decisão de plano, definindo a situação irregular do menor, ouvido o Ministério Público. Art. 102. Apresentado o menor de até dez anos, a autoridade judiciária poderá dispensá-lo da audiência de apresentação, ou determinar que venha à sua presença para entrevista, ou que seja ouvido e orientado por técnico. Art. 103. Sempre que possível e se for o caso, a autoridade judiciária tentará, em audiência com a presença do menor, a composição do dano por este causado. Art. 104. A perda do pátrio poder, nas hipóteses dos incisos lI, III, IV, V e VI do art. 2º desta Lei, terá o procedimento ordinário previsto na lei processual civil, e poderá ser proposta pelo Ministério Público, por ascendente, colateral ou afim do menor até o quarto grau. Art. 106. A autoridade judiciária poderá, em qualquer dos procedimentos deste Capítulo, determinar o sobrestamento do processo por até seis meses, se o pai, a mãe ou o responsável comprometer-se a adotar as medidas adequadas à proteção do menor. Parágrafo único. A ação prosseguirá em caso de inobservância das medidas impostas. Art. 107. Na petição inicial, os requerentes atenderão aos requisitos gerais para colocação do menor em lar substituto e aos específicos para a adoção pretendida, juntando os documentos probatórios, inclusive certidões do registro civil. Art. 108. Estando devidamente instruída a petição, será determinada a realização sobre os resultados do estágio de convivência e a conveniência da adoção. Parágrafo único. Cumprindo-se o estágio de convivência no exterior, a sindicância poderá ser substituída por informação prestada por agência especializada, de idoneidade reconhecida por organismo internacional. *** Atividades do Psicólogo Jurídico Avaliação psicológica nos casos de violência contra criança e adolescente; trabalhos com os Conselhos Tutelares (p.ex., treinamento de conselheiros); adoção, destituição do poder familiar, estágio de convivência; intervenção junto a crianças abrigadas e seus pais; estudos, pesquisas e intervenções junto a adolescentes com práticas infratoras, medidas socioeducativas, prevenção. Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências) Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008). Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei. § 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. § 2º As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 5º A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei. Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento. Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei. Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente. Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. § 1º O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos: I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – prática de esportes e de diversões; V – participação na vida familiar e comunitária; VI – participação na vida política, na forma da lei; VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação. § 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. § 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil. Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores. Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social. Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. § 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de: I – cadastramento da população idosa em base territorial; II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios; III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social; IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural; V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das sequelas decorrentes do agravo da saúde. § 2º Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. § 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. § 4º Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento especializado, nos termos da lei. Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico. Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por escrito. Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável. Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita: I – pelo curador, quando o idoso for interditado; II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil; III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público. Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda. Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos serão objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: I – autoridade policial; II – Ministério Público; III – Conselho Municipal do Idoso; IV – Conselho Estadual do Idoso; V – Conselho Nacional do Idoso. § 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico. Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade. Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados. § 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna. § 2º Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade culturais. Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais. Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento. Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual. Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas. Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir. Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada. Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de: I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas; II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania; III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho. Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada. § 1º No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança de participação do idoso no custeio da entidade. § 3º Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o contrato a que se refere o caput deste artigo. Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a dependência econômica, para os efeitos legais. Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada. § 1º A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será prestada quando verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros próprios ou da família. § 2º Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter identificação externa visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação pertinente. § 3º As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei. Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte: I – reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para atendimento aos idosos; I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades habitacionais residenciais para atendimento aos idosos; II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso; III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso; IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão. Parágrafo único - As unidades residenciais reservadas para atendimento a idosos devem situar-se, preferencialmente, no pavimento térreo. Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares. § 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça prova de sua idade. § 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para idosos. § 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo. Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação específica: I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos; II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos. Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade ao idoso. Art. 42. É assegurada a prioridade do idoso no embarque no sistema de transporte coletivo. Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; III – em razão de sua condição pessoal. Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade; II – orientação, apoio e acompanhamento temporários; III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação; V – abrigo em entidade; VI – abrigo temporário. Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento: I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994; II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem; III – serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus- tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; IV – serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência; V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos; VI – mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso. Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, observadas as normas de planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política Nacional do Idoso, conforme a Lei no 8.842, de 1994. Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais de assistência ao idoso ficam sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa, especificando os regimes de atendimento, observados os seguintes requisitos: I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os princípios desta Lei; III – estar regularmente constituída; IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes. Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência adotarão os seguintes princípios: I – preservação dos vínculos familiares; II – atendimento personalizado e em pequenos grupos; III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior; IV – participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo; V – observância dos direitos e garantias dos idosos; VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e dignidade. Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso responderá civil e criminalmente pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem prejuízo das sanções administrativas. Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento: I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o caso; II – observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos; III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente; IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade; V – oferecer atendimento personalizado; VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares; VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas; VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso; IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer; X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças infecto-contagiosas; XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei; XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos idosos; XV – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento; XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos familiares; XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica. Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao idoso terão direito à assistência judiciária gratuita. Art. 52. As entidades governamentais e não-governamentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros previstos em lei. Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos, às seguintes penalidades, observado o devido processo legal: I – as entidades governamentais: a) advertência; b) afastamento provisório de seus dirigentes; c) afastamento definitivo de seus dirigentes; d) fechamento de unidade ou interdição de programa; II – as entidades não-governamentais: a) advertência; b) multa; c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas; d) interdição de unidade ou suspensão de programa; e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público. § 1º Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao programa, caberá o afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspensão do programa. § 2º A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá quando verificada a má aplicação ou desvio de finalidade dos recursos. § 3º Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque em risco os direitos assegurados nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as providências cabíveis, inclusive para promover a suspensão das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público, sem prejuízo das providências a serem tomadas pela Vigilância Sanitária. § 4º Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes da entidade. Das Infrações Administrativas Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50 desta Lei: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracterizado como crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até que sejam cumpridas as exigências legais. Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência, os idosos abrigados serão transferidos para outra instituição, a expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a interdição. Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa permanência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de reincidência. Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento ao idoso: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso. Do Acesso à Justiça Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o procedimento sumário previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos nesta Lei. Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso. Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância. § 1º O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo. § 2º A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos. § 3º A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defensoria Publica da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência Judiciária. § 4º Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis. Art. 74. Compete ao Ministério Público: I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso; II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco; III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei; IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar; V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo: a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar; b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias; c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas; VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso; VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas; IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições; X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei. § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei. § 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade e atribuições do Ministério Público. § 3º O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a toda entidade de atendimento ao idoso. Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando os recursos cabíveis. Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. Art. 78. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser fundamentadas. Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de: I – acesso às ações e serviços de saúde; II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação incapacitante; III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-contagiosa; IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso. Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso, protegidos em lei. Dos Crimes Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo. § 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente. Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa. Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado: Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 2º Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa: I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade; II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho; III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa; IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público. Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso: Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração: Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida representação legal: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos AULA 12 As práticas “Psi” e suas aplicações no contexto jurídico: Área Criminal e Sistema Penitenciário Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Institui a Lei de Execução Penal) Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política. Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança. Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da Execução e será integrada por fiscais do serviço social. Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto. Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou informações do processo, poderá: I - entrevistar pessoas; II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito do condenado; III - realizar outras diligências e exames necessários. Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde; III -jurídica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa. Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas. Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração. Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. § 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. § 3º Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido. Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para constituir advogado. Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos estabelecimentos penais. Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa. Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua condição. Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados. Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos. Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade. Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social: I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames; II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias; IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação; V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho; VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima. Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa. § 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos. § 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa. Art. 25. A assistência ao egresso consiste: I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade; II - na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses. Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma única vez, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na obtenção de emprego. Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta Lei: I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento; II - o liberado condicional, durante o período de prova. Art. 27.O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho AS PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA NO CAMPO JURÍDICO Direito Penal: avaliações psicológicas no que pese a sanidade mental das partes envolvidas com fatos criminosos (a questão da imputabilidade); avaliação da personalidade quando da fixação da pena (art. 59 do CP); violência doméstica contra a mulher (Lei Maria da Penha), intervenções junto às famílias vitimadas por crimes etc. Imputabilidade, Inimputabilidade e Semi-imputabilidade no Direito Penal Brasileiro e o Trabalho do Psicólogo Segundo o dicionário Aurélio, imputar significa atribuir a alguém responsabilidade por alguma ação ou omissão. À luz do direito penal brasileiro, “há imputabilidade quando o sujeito é capaz de compreender [dado cognitivo] a ilicitude de sua conduta e de agir [dado volitivo] de acordo com esse entendimento. Só é reprovável a conduta se o sujeito tem certo grau de capacidade psíquica que lhe permita compreender a antijuridicidade do fato e também a de adequar essa conduta a sua consciência. Quem não tem essa capacidade de entendimento e de determinação é inimputável, eliminando-se a culpabilidadade 12.” (Mirabete e Fabbrini, 2013, p. 196 – os negritos e itálicos, as chaves e a nota de rodapé são meus) 12 Culpabilidade - é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica, é o juízo de censura a respeito da conduta do autor de um fato típico e antijurídico. A lei penal brasileira, em seu artigo 26, adota o critério biopsicológico em relação à imputabilidade penal. “Por ele, deve verificar-se, em primeiro lugar, se o agente é doente mental ou tem desenvolvimento mental incompleto ou retardado [dado biológico]. Em caso negativo, não é inimputável. Em caso positivo, averigua-se se era ele capaz de entender o caráter ilícito do fato [dado psicológico]; será inimputável se não tiver essa capacidade. Tendo a capacidade de entendimento, apura-se se o agente era capaz de determinar-se de acordo com essa consciência [dado volitivo]. Inexistente a capacidade de determinação, o agente é também inimputável. Nos termos do CP, excluem a imputabilidade e, em consequência, a culpabilidade: a doença mental e o desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26); a menoridade, caso de desenvolvimento mental incompleto presumido (art. 27); e a embriaguez fortuita completa 13 (art. 28, § 1º). Analise o esquema a seguir: 13 Ou seja, embriaguez imprevisível para o homem. O indivíduo, p.ex., supõe tomar bebida não alcoólica. Ressalte-se, a propósito, outros tipos: (1) a embriaguez patológica, quando pequenas doses de álcool fazem com que uma pessoa perca totalmente o controle de si; (2) o alcoolismo crônico, caracterizada como deformação persistente do psiquismo, assimilável a verdadeira psicose, e como psicose, ou doença mental, deve ser juridicamente tratado" (BRUNO, 1967, p. 158); (3) a dependência química – “mesmo que exista a comprovação da dependência de drogas esta não é por si só excludente de imputabilidade. Para que o sujeito seja culpado é preciso que as funções psíquicas cognitivas e volitivas não estejam comprometidas no momento da ação ou omissão em avaliação. Ainda, deverá existir o nexo causal com o ato delitivo em questão [ou seja, o fato ocorreu em função do estado alterado do indivíduo, estado esse proveniente dos efeitos de certa substância química]. Caso haja comprometimento da capacidade de entendimento ou de determinação no momento do ato em julgamento, e que haja claro nexo com a infração penal e a aceitação pelo Juízo, caberá a medida de segurança. De acordo com a penalidade a medida pode ser de internação em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial. [...] A intoxicação patológica, a intoxicação aguda com delirium [estado de confusão mental] e a abstinência com distorções da percepção se enquadram [aos casos de inimputabiliade]. No caso específico da dependência de drogas o entendimento seria distorcido por psicose induzida por drogas, por exemplo. Já no caso da autodeterminação o prejuízo seria uma incapacidade de autocontrole [dado volitivo] em razão de abstinência, fissura ou grave impulsividade. (http://consultor- juridico.jusbrasil.com.br/noticias/100011775/psiquiatria-forense-ajuda-a-justica-decidir-mas-ainda-e-subaproveitada. Os negritos e as chaves são meus) O agente é portador de Doença Mental ou Desenvolvimento Mental Incompleto ou Retardado? (Dado Biológico - Sistema Nervoso) O agente era capaz de determinar-se espontaneamente? Ex. Coação. (Dado Psicológico - Volitivo) NÃO SIM Esta sua condição o incapacitava de entender o caráter ilícito do fato? (Dado Psicológico Cognitivo) SIM INIMPUTABILIDADE Art. 26 do CP MEDIDA DE SEGURANÇA (Finalidade Não-Punitiva) Tratamento (Máximo de 30 anos – STF) Art. 96, incisos I e II, do CP – Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento; sujeição a tratamento ambulatorial. “É possível que se constate por alguns doutrinadores a comparação entre medida de segurança e a pena de prisão perpétua, uma vez o legislador penal não haver, previamente determinado, o seu término, apenas dando-se ênfase à cessação de periculosidade, ao passo que a nossa Lei Maior veda a pena de caráter perpétuo, [...]. Artigo 5º inciso XLVII alínea b da Constituição Federal, qual seja, princípio da humanidade.” (GOUVEIA, C.R. ,2012) IMPUTABILIDADE PRISÃO (Finalidade Punitiva) Ressocialização SEMI-IMPUTABILIDADE Art. 26, § Único do CP. (A pena pode ser reduzida de um a dois terços [...].) NÃO O agente era capaz de determinar-se de acordo com esse entendimento? (Dado Psicológico - Volitivo) NÃO NÃO TOTALMENTE (Ex.: Sociopatas (não há consenso entre os doutrinadores); graus ate- nuados, incipientes e residuais de psicoses; certos graus de oligofrenias.) INIMPUTABILIDADE MENORIDADE DOENÇA MENTAL DESENVOLVIMENTO MENTAL (Incompleto ou Retardado) EMBRIAGUEZ COMPLETA (Acidente: Fortuita ou Força Maior) Lei Nº 8.069/1990 Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA Medidas de Proteção junto aos Conselhos Tutelares, se Criança (até 12 anos incompletos) – Art. 101 do ECA; Medida Sócioeducativa, se Adolescente (de 12 a 18 anos) – Art. 112 do ECA. (Ex.: Nas chamadas fissuras ou nas compulsões em graus paroxísticos. Porém, não é consenso entre os teóricos.) PERÍCIA PSIQUIÁTRICA ou PSICOLÓGICA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL SIM (Ex.: Indivíduos diagnosticados com o Transtorno Bipolar de Humor que, no entanto, quando da ação ou omissão criminosa, não se encontravam surtados. Avaliação e Decisão Judicial. AULA 13 Avaliação Psicológica no Judiciário. Documentos elaborados pelo psicólogo. Alguns itens do Código de Ética dos psicólogos. O PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Os psicólogos, ao realizarem avaliações psicológicas, devem se basear exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem a investigar. A avaliação psicológica no judiciário “Ao psicólogo perito cabe fornecer um laudo psicológico com informações pertinentes ao processo judicial e à problemática diagnosticada, visando auxiliar o magistrado na formação de seu convencimento sobre a decisão judicial a ser tomada, como forma de realização do direito objetivo das partes em oposição. [...] Para tanto, o psicólogo estabelece um planejamento de avaliação dos aspectos psicológicos implicados no caso atendido, com base no estudo dos autos, isto é, de todos os documentos e provas que compõem o processo judicial. Os instrumentos utilizados para fins de diagnósticos são escolhidos com base no conhecimento técnico sobre técnicas de exame psicológico, na formação teórica, nas condições institucionais para a realização do trabalho e na situação emocional dos implicados no processo judicial. Considera-se a especificidade da situação judicial, em que as pessoas não escolheram a intervenção do psicólogo e estão numa posição defensiva, procurando fazer prevalecer seus interesses sobre terceiros, com quem, em geral, mantém vínculos afetivos conflituosos. [...] Na atuação judiciária, a adequação dos instrumentos está relacionada à natureza do processo judicial (verificatório, contencioso), da natureza e gravidade das questões tratadas no processo (criança e adolescentes em situação de risco), do tempo institucional (urgência, data de audiência já fixada, número de casos agendados) e da livre escolha do profissional, conforme seu referencial técnico, filosófico e científico. [...] (BERNARDES In: CRUZ, MACIEL, RAMIREZ, 2005, p.71-80) Perícia psicológica O exame pericial psicológico é uma espécie de avaliação psicológica “com a finalidade de elucidar fatos do interesse de autoridade judiciária, policial, administrativa ou, eventualmente, particular. Constitui-se, pois, em meio de prova, devendo o examinador proceder com permanente cautela devido a essa singularíssima condição.” (TABORDA, 2004, p.43). “Conceitua-se perícia, pois, como o conjunto de procedimentos técnicos que tenha como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça; e, perito, o técnico incumbido pela autoridade de esclarecer fato da causa, auxiliando, assim, na formação de convencimento do juiz. Cabe ao psicólogo, portanto, enquanto perito, elaborar relatórios (Res. CFP nº 08/10) sobre os aspectos psicológicos dos jurisdicionados, os quais deverão ser apresentados à autoridade judicial. Perícia e dinâmica psicológica DOCUMENTOS EXARADOS PELOS JURÍDICOS (De acordo com a Res. CFP nº 07/03) a) Atestado É um documento expedido pelo psicólogo que certifica uma determinada situação ou estado psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem, por requerimento, o solicita, com fins de: a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante; b) Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de um processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscreve esta Resolução; c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº 015/96. (Res. que regulamenta a concessão de Atestado Psicológico para tratamento de saúde por problemas psicológicos). b) Relatório (ou, Laudo Psicológico) O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo documento, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo. A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição. c) Parecer psicológico Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo. O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão- problema”, visando a dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no assunto. O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamento em referencial teórico-científico. Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados para a resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão “sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar “prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”. d) Declarações É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas relacionados ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar: a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário; b) Acompanhamento psicológico do atendido; c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias ou horários). Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados psicológicos. Obs.: Os Atestados e os Laudos são documentos exarados a partir de Avaliações Psicológicas. Já os Pareceres e as Declarações, não. Um Parecer, p.ex., pode ser exarado a partir de uma consulta sobre alguma questão pontual, o que não implica, necessariamente, a realização de uma Avaliação Psicológica. ÉTICA e MORAL 14 Professor e Filósofo Mario Sérgio Cortella Ética - Conjunto de valores e princípios que as pessoas utilizam para decidir três questões básicas da vida: quero, devo, posso. Ora, tem coisa que quero mas não devo, que devo mas não posso ou que posso mas não devo. Não existe ninguém sem uma ética própria. O que existe são pessoas com valores e princípios contrários à ética vigente. Essas são chamadas de antiéticas. A ética não é relativa. Ela busca a universalidade, o que não significa que ela não possa mudar com o tempo. Moral – É a prática de uma ética. É a ação de decidir, escolher e julgar segundos valores e princípios éticos vigentes. Neste sentido, portanto, imoral é todo aquele que decide, escolhe e julga contrariamente aos valores e princípios vigentes (ou seja, à ética vigente). Amoral, por sua vez, são todas aquelas pessoas que não podem decidir, escolher e julgar. Por exemplo, as crianças e os loucos (no direito chamados de incapazes). A moral, esta sim, é relativa, pois enquanto exteriorização de uma ética, depende de uma série de injunções e circunstâncias reais. A ÉTICA PROFISSIONAL DO PROFISSIONAL DE A Resolução nº 010/05, de 21/07/05, do Conselho Federal de Psicologia, instituiu no Brasil o Código de Ética Profissional do Psicólogo. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos: 14 Texto elaborado a partir da entrevista concedida pelo prof. Sergio Cortella ao programa do Jô em 14/06/2010. b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente; c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional; f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional; g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário; h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho; Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais; c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência; g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica; k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação; l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, pessoas ou organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional; n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais; q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações. Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo. Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional. Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo. Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias. Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações, considerando o previsto neste Código. Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos objetivos do trabalho. Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão. Exercício de Fixação 1. Pode um psicólogo atender pacientes nalgum espaço cedido por alguma igreja? Sim, não e porquê. 2. Pode um psicólogo, especializado somente no atendimento a adolescentes e adultos, atender uma criança? Sim, não e porquê. 3. Pode um psicólogo denunciar seu paciente, caso esse mesmo paciente, durante as sessões terapêuticas, revelar que é um “serial killer”? Sim, não e porquê. 4. Pode um psicólogo diante de um juiz, numa audiência no judiciário, negar-se a prestar quaisquer informações a respeito de seu paciente, mesmo sabendo que ele é culpado do que lhe é imputado? Sim, não e porquê. 5. Pode um professor de psicologia, durante uma aula, referir-se a um de seus casos atendidos, à guisa de exemplo e estudo acadêmico? Sim, não e porquê. *** "Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar!" (Gonçalves Dias)