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A. J. Renner, 231 – Farrapos – Fone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567 – Porto Alegre SÃO PAULO Av. Antártica, 92 – Barra Funda – Fone: PABX (11) 3616-3666 – São Paulo ISBN 978-85-02-14787-4 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bermudes, Sergio A reforma do código de processo civil / Bermudes. – 3. ed. – São Paulo : Saraiva, 2010. 1. Processo civil 2. Processo civil - Legislação - Brasil I. Título. 08-01408 CDU-347:9(81)(094.4) Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil: código de processo civil 347:9(81)(094.4) Diretor editorial Antonio Luiz de Toledo Pinto Diretor de produção editorial Luiz Roberto Curia Editor Jônatas Junqueira de Mello Assistente editorial Thiago Marcon de Souza Produção editorial Ligia Alves / Clarissa Boraschi Maria Coura Preparação de originais Maria Lúcia de Oliveira Godoy / Maria de Lourdes Appas Arte, diagramação e revisão Cristina Aparecida Agudo de Freitas / Sônia de Paiva Lima Revisão de provas Rita de Cássia Queiroz Gorgati / Célia Regina Souza de Araújo / Denise Pisaneschi Serviços editoriais Ana Paula Mazzoco / Elaine Cristina da Silva Capa IDÉE Arte e Comunicação Data de fechamento da edição: 11-12-2009 Dúvidas? Acesse www.saraivajur.com.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. A Luís Antônio de Andrade (in memoriam), José Joaquim Calmon de Passos (in memoriam), Kazuo Watanabe e Joaquim Correia de Carvalho Júnior, meus companheiros na Comissão Revisora do CPC, nomeada pelo Governo da República em 1985, cujo Anteprojeto contribuiu, expressivamente, para a reforma do Código, dedico este trabalho com admiração e afeto. Nota à 3ª edição As reformas do Código de Processo Civil continuam ocorrendo pelo empenho no aperfeiçoamento das normas que o integram. Depois da 2ª edição deste livro, muitos artigos foram alterados, instituiu-se o cumprimento da sentença no lugar da execução de título judicial, reformulando-se, ademais, significativamente, a execução dos títulos extrajudiciais. Esses exemplos de quanto se vem modificando o Código de Processo Civil justificaram a edição que agora se apresenta, na esperança de que ela obtenha o êxito das anteriores. Agradeço aos meus estagiários Lívia Ikeda, Luiza Lourenço Bianchini e Thiago Gonzalez Queiroz a colaboração que viabilizou esta edição, cujo aparecimento, sem a ajuda deles, seria retardado pelas intransponíveis tarefas do autor. Nota à 2ª edição Rapidamente esgotada a 1ª edição deste livro, feita em duas tiragens, a imensa procura dele e a acolhida que mereceu dos profissionais do direito, juízes e tribunais do país estimularam-me a escrever esta 2ª edição, corrigida aqui e ali e acrescida de vários capítulos, contendo observações às supervenientes Leis n. 9.079, de 14-7-1995, que instituiu a ação monitória, 9.139, de 30-11-1995, que reformulou o agravo, e 9.245, de 26-12-1995, todas para vigorar sessenta dias após a respectiva publicação. Vários livros, como os dos eminentes processualistas Cândido Rangel Dinamarco, que se distinguiu pelo pioneirismo e por suas admiráveis qualidades intrínsecas, J. J. Calmon de Passos, C. E. Carreira Alvim, José Carlos Barbosa Moreira, que atualizou sua mais divulgada obra de acordo com a reforma do CPC, João Carlos Pestana de Aguiar, Luiz Fux, e trabalhos, como os de Sálvio de Figueiredo Teixeira, Celso Agrícola Barbi e Humberto Theodoro Júnior, contribuíram, expressivamente, inclusive pela diversidade de opiniões, para a divulgação e aplicação das novas leis. Outras produções de semelhante envergadura se devem esperar para breve, diante dos desafios apresentados pelo que apareceu de novo ou de diferente no Código de Processo Civil. Empenhado também em apresentar aos leitores as ideias que, de pronto, me acorreram, não alterei o plano da obra, nem me afastei do propósito de fazê-la concisa. Por isso, limitei-me a tratar das inovações. Manifesto à Editora Saraiva, que me distingue sobremaneira, publicando meus estudos e pareceres, já no segundo volume, o meu reconhecimento pelo zelo e presteza postos nesta edição. Esclarecimentos preliminares (à 1ª edição) 1. Justificação – Escrevi estas páginas em pouco tempo, na tentativa de contribuir até pelas inevitáveis deficiências, que outros repararão, superiormente no esforço de aplicar, do melhor modo possível, as novas leis, que introduziram várias e relevantes alterações no Código de Processo Civil. De tal modo as Leis de n. 8.950, 8.951, 8.952 e 8.953 transformaram o Código, que não será exagero falar na reforma dele. A leitura dessas leis, elaboradas com apuro técnico, revela o cuidado do legislador com a efetividade do processo. Buscaram todas elas tornar o processo judicial, que o CPC regula, ágil e seguro instrumento de administração da justiça civil no país. Oxalá, ao propósito das leis corresponda o dos seus aplicadores, porque só deles dependerá a realização dos objetivos das normas. Nenhuma lei resiste ao misoneísmo, que teme o novo e, às vezes, termina em desastrosa deturpação, quando pretende tratá-lo como coisa antiga, sem perceber as mudanças que ele traz. Nenhuma lei sobrevive ao descaso, à indolência, ou ao propósito daninho de impedir sua adequada atuação. A cegueira para o sistema no qual a lei se insere, para os princípios, que a norteiam, para os institutos, que ela regula, é a mais ferrenha adversária do seu êxito. Ninguém faz bom uso da norma processual sem conhecer a ciência do direito e, especificamente, a processualística, nos seus institutos essenciais. Aplique-se a lei com o ânimo de alcançar o resultado a que ela visa. Mude-se a lei quando a experiência mostrar que ela não atende às finalidades determinantes da sua edição. A minha contribuição para o sucesso das novas leis aqui está. Se as páginas seguintes traduzem algo do que os anos de magistério e advocacia acumularam, elas devem ser lidas como a primeira impressão de alguém que teve, ao menos, a coragem de sair na dianteira, mesmo com o risco de cometer mais erros. 2. Vigência das leis – As quatro leis de que se ocupa este trabalho foram todas publicadas no Diário Oficial da União, de 14-12-1994 (n. 236, seção 1, p. 19389-93), para viger, as de n. 8.950, 8.952 e 8.953, sessenta dias após sua publicação, e a de n. 8.951, na data em que publicada. Elas fazem parte de um conjunto de projetos de lei de reforma do Código de Processo Civil, alguns dos quais ainda não se aprovaram, como assinalo em observações ao novo texto do art. 272 e do parágrafo único do art. 506. A doutrina e a jurisprudência já estabeleceram, convenientemente, os princípios relativos à vigência da lei processual. Dessa matéria não cuida este opúsculo, que apenas enfeixa breves observações sobre o conteúdo das novas leis, sem outra pretensão. É sempre recomendável, entretanto, que se rememorem, nos manuais e nos repertórios, as regras atinentes à incidência da norma processual sobre os processos em curso no momento da sua vigência. 3. Elaboração das leis – As quatro leis, sancionadas em 13 de dezembro de 1994, resultaram do empenho dos insignes processualistas, professores e magistrados, ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Athos Gusmão Carneiro, que, sem prejuízo das suas funções no Superior Tribunal de Justiça, souberam elaborar projetos destinados a atender à necessidade de aperfeiçoar a jurisdição civil, decorridos vinte anos da vigência do CPC. No desempenho da sua tarefa, eles contaram com a operosidade da eminente professora e desembargadora Fátima Nancy Andrighi, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, e se serviram da prestimosa colaboração de especialistas, como o ilustre professor e desembargador Kazuo Watanabe, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que, anteriormente, já deram importante contribuição aos trabalhos de reforma do Código. Se essas leis espelham a sabedoria e a experiência dos autores dos seus projetos, não se pode negar que elas resultaram, igualmente, das lições da doutrina e da atividade dos tribunais do país e dos outros operadores do aparelho judiciário. Em 1985, o Governo da República nomeou uma comissão, formada pelo saudoso desembargador Luís Antônio de Andrade, pelos eminentes professores Calmon de Passos e Kazuo Watanabe, pelo notável advogado Joaquim Correia de Carvalho Junior, e também por mim, incumbindo-a da atualização do Código. Dos nossos sucessivos estudos, debates e trabalhos surgiu o Anteprojeto de Modificação do Código de Processo Civil, publicado, junto com sua exposição de motivos, no suplemento ao n. 246 do Diário Oficial da União, de 24-12-1985 (seção I). O cotejo entre nosso anteprojeto e as leis agora editadas mostra que muitos dispositivos sugeridos naquele foram fielmente adotados nestas, enquanto outros inspiraram várias das normas, finalmente integradas ao direito positivo brasileiro. 4. O plano deste livro – Estas páginas reúnem observações, e não comentários amplos, a cada um dos artigos, e seus desdobramentos, das novas leis. Alinhei os artigos na sua ordem cronológica, indicando, entre parênteses, após a transcrição dos textos alterados, ou revogados, o número do artigo da lei modificadora, porque os novos diplomas não seguiram a sequência do Código. A Lei n. 8.950, por exemplo, embora de numeração mais baixa, alterou dispositivos pertinentes aos recursos, a partir do art. 496, enquanto a Lei n. 8.952 principiou pela reforma do art. 10. Portanto, obedecer à ordem das leis dificultaria a tarefa do leitor. Depois da transcrição de cada artigo, somente na parte alterada, tal como se publicou, ou após a indicação da norma revogada, desdobrei em itens, de numeração arábica, as observações que me pareceram oportunas, começando sempre por ressaltar a diferença entre a regra jurídica anterior e a que lhe tomou o lugar. Algumas vezes, reuni, num só capítulo, dois ou mais artigos do mesmo tema. Ocasionalmente, separei, em capítulos diferentes, artigos entre si relacionados, porque, por sua relevância, me pareceram merecedores de destaque. Não tencionei escrever obra de fôlego, tanto que me abstive de dissertar sobre os institutos a que correspondem os dispositivos alterados. Limitei-me a fazer observações acerca do que as recentes leis trouxeram de novo, ou de diferente. Agradeço à Livraria Freitas Bastos a deliberação de editar este livro com a maior presteza, movida pelo interesse de colaborar para a compreensão da reforma do Código de Processo Civil, o único que animou seu autor. Índice Nota à 3ª edição Nota à 2ª edição Esclarecimentos preliminares (à 1ª edição) 1. Justificação 2. Vigência das leis 3. Elaboração das leis 4. O plano deste livro Art. 10, caput, § 1º, I, e § 2º Art. 14, caput, V, e parágrafo único Art. 17, VII Arts. 18, caput, § 2º; 20, § 4º; e 33, parágrafo único Arts. 38, caput, e parágrafo único; e 45 Art. 40, § 2º Art. 46, parágrafo único Art. 82, III Arts. 112, parágrafo único; e 114 Art. 120, parágrafo único Art. 125, IV Art. 143, V Art. 154, parágrafo único, e § 2º Art. 162, §§ 1º e 4º Art. 164, parágrafo único Art. 169, §§ 1º a 3º Art. 170 Art. 172, caput, e §§ 1º a 3º Art. 202, § 3º Art. 219, §§ 1º a 3º, e 5º Art. 221, IV Art. 237, parágrafo único Art. 238, parágrafo único Art. 239, parágrafo único, III Art. 242, § 2º Art. 253, caput, I a III Arts. 267, caput, VII; e 269 Art. 272, caput, e parágrafo único Art. 273, I e II, §§ 1º a 7º Art. 275, I e II, a a g Arts. 276 e 277, caput, e §§ 1º a 5º Arts. 278, caput, §§ 1º e 2º; e 279, caput, e parágrafo único Arts. 280 e 281 Art. 285-A, §§ 1º e 2º Art. 287 Art. 296, caput, e parágrafo único Art. 301, IX Art. 305, parágrafo único Art. 322, caput, e parágrafo único Título VIII, Capítulo V, Seção III – Da audiência preliminar Art. 331, caput, e §§ 1º a 3º Art. 338 Art. 365, IV a VI, §§ 1º e 2º Art. 399, §§ 1º e 2º Art. 407 Art. 411, IV Art. 417, caput, e §§ 1º e 2º Arts. 431-A e 431-B Art. 433, parágrafo único Art. 434 Art. 457, § 4º Art. 460, parágrafo único Art. 461, caput, e §§ 1º a 6º Art. 461-A e §§ 1º a 3º Art. 463 Arts. 464 e 465 Arts. 466-A, 466-B e 466-C Art. 475, caput, I e II, §§ 1º a 3º Livro I, Título VIII, Capítulo IX – Da liquidação de sentença Art. 475-A e §§ 1º a 3º Art. 475-B e §§ 1º a 4º Arts. 475-C, I e II; e 475-D, parágrafo único Arts. 475-E e 475-F Arts. 475-G e 475-H Livro I, Título VIII, Capítulo X – Do cumprimento da sentença Art. 475-I e §§ 1º e 2º Art. 475-J e §§ 1º a 5º Art. 475-L, I a VI, e §§ 1º e 2º Art. 475-M e §§ 1º a 3º Art. 475-N, I a VII, e parágrafo único Art. 475-O, I a III, §§ 1º e 2º, I e II, e 3º, I a V Art. 475-P, I a III, e parágrafo único Art. 475-Q e §§ 1º a 5º Art. 475-R Art. 481, parágrafo único Art. 482, §§ 1º a 3º Art. 489 Art. 493, I Art. 496, II e VIII Art. 498, caput, e parágrafo único Art. 500, I Art. 504 Art. 506, III e parágrafo único Art. 508 Art. 511, caput, e §§ 1º e 2º Arts. 514, parágrafo único; 515, §§ 3º e 4º; e 516 Art. 518, caput, e §§ 1º e 2º Art. 519, caput, e parágrafo único Art. 520, III e V a VII Capítulo III – Do agravo: art. 522, caput, e parágrafo único Art. 523, caput, e §§ 1º a 4º Arts. 524, caput, I a III; 525, caput, I e II, e §§ 1º e 2º; e 526, caput, e parágrafo único Arts. 527, caput, I a VI, e parágrafo único; 528 e 529 Arts. 530; 531, caput, e parágrafo único; e 532 a 534 Arts. 535, caput, I e II; 536 a 538 e parágrafo único Capítulo VI – Dos recursos para o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Seção I – Dos recursos ordinários: arts. 539, caput, I e II, a e b, e parágrafo único; e 540 Seção II – Do recurso extraordinário e do recurso especial: arts. 541, caput, I a III, e parágrafo único; 542, caput, e §§ 1º a 3º; 543,caput, e §§ 1º a 3º Repercussão Geral: arts. 543-A, caput, e §§ 1º a 7º Art. 543-B, caput, e §§ 1º a 5º; e Emenda Regimental n. 21, 30-4-2007 Recursos Repetitivos: art. 543-C, caput, e §§ 1º a 9º Arts. 544, caput, e §§ 1º a 4º; 545 Art. 546, caput, I e II, e parágrafo único Art. 547, parágrafo único Art. 551, § 3º Art. 555, caput, e §§ 1º a 3º Art. 556, parágrafo único Art. 557, caput, e §§ 1º-A, 1º e 2º Art. 558, caput, e parágrafo único Art. 563 Art. 569, parágrafo único, a e b Art. 575, III e IV Arts. 580, caput, e parágrafo único; e 583 Art. 584 Art. 585, I a VIII, e §§ 1º e 2º Art. 586, caput, e §§ 1º e 2º Art. 587 Art. 592, I Art. 600, caput, IV Art. 601 Livro II, Título I, Capítulo VI – Da liquidação da sentença: arts. 603 a 611 Art. 614, I a III Art. 615-A e §§ 1º a 5º Art. 618, I Arts. 621, caput, e parágrafo único; 623; 624; e 627, §§ 1º e 2º Art. 632 Art. 634, caput, e parágrafo único Art. 637, parágrafo único Art. 644 Art. 645, caput, e parágrafo único Seção I – Da penhora, da avaliação e da expropriação de bens Art. 647, I a IV Art. 649, II a XI, e §§ 1º a 3º Art. 650, caput, e parágrafo único Art. 651 Subseção II – Da citação do devedor e da indicação de bens Art. 652, caput, e §§ 1º a 5º Art. 655, caput, I a XI, e §§ 1º e 2º Art. 655-A e §§ 1º a 4º Art. 655-B Art. 656, caput, I a VII, e §§ 1º a 3º Art. 657, caput, e parágrafo único Art. 659, caput, §§ 1º e 4º a 6º Art. 666, caput, III, e §§ 1º a 3º Art. 668, caput, e parágrafo único, I a V Art. 680 Art. 681, caput, e parágrafo único Art. 683, caput, I a III Art. 684, I e III Art. 685, parágrafo único Subseção VI-A – Da adjudicação: art. 685-A, §§ 1º a 5º Art. 685-B, caput e parágrafo único Subseção VI-B – Da alienação por iniciativa particular: art. 685-C e §§ 1º a 3º Subseção VII – Da alienação em hasta pública: art. 686, caput, I, IV a VI, e § 3º Art. 687, caput, e §§ 1º a 5º Art. 689-A, caput e parágrafo único Art. 690, caput, e §§ 1º a 4º Arts. 690-A, I a III, e parágrafo único; e 692, caput, e parágrafo único Art. 693, caput, e parágrafo único Art. 694, caput, §§ 1º, I a VI, e 2º Art. 695, caput, e §§ 1º a 3º Arts. 697 e 698 Arts. 699 e 700 Art. 703, I a IV Art. 704 Art. 706 Art. 707 Art. 713 Subseção III e arts. 714 e 715 Subseção IV – Do usufruto de móvel ou imóvel Art. 716 Art. 717 Art. 718 Art. 720 Art. 722, caput, I e II, e §§ 1º a 3º Art. 724, caput, e parágrafo único Arts. 725 a 729 Art. 736, caput, e parágrafo único Art. 737 Art. 738, caput, I a IV, e §§ 1º a 3º Art. 739, I a III, e §§ 1º a 3º Art. 739-A e §§ 1º a 6º Art. 739-B Art. 740, caput, e parágrafo único Título III, Capítulo II – Dos embargos à execução contra a Fazenda Pública Art. 741, caput, I, V e VI, e parágrafo único Livro II, Título III, Capítulo III – Dos embargos à execução Art. 744 Art. 745, I a V, e §§ 1º e 2º Art. 745-A, caput e §§ 1º e 2º Art. 746, caput, e §§ 1º a 3º Art. 747 Art. 786-A Título V, arts. 787 a 790 Arts. 791, I; e 792, parágrafo único Arts. 800, parágrafo único; e 805 Art. 814, parágrafo único Art. 890, §§ 1º a 4º Art. 893, caput, I e II Arts. 896, caput, e parágrafo único; e 897 Art. 899, §§ 1º e 2º Arts. 942 e 943 Art. 982, caput, §§ 1º e 2º Art. 983, caput, e parágrafo único Art. 1.031, caput, e §§ 1º e 2º Livro IV – Dos procedimentos especiais, Título I, Capítulo XIV Capítulo XV – Da ação monitória: arts. 1.102a e 1.102b Art. 1.102-C, §§ 1º a 3º Art. 1.121, II, e §§ 1º e 2º Art. 1.124-A, §§ 1º a 3º Arts. 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C Súmula Vinculante Código de Processo Civil “Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários. § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações: I – que versem sobre direitos reais imobiliários: ............................................................................ § 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticado.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. A lterou-se o caput do art. 10, substituindo-se “ações que versem sobre bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis alheios” por “ações que versem sobre direitos reais imobiliários”. Transformou-se o parágrafo único em § 1º, reformulando-se apenas a redação do seu inciso I, mantendo-se a dos demais. 2. O caput do art. 10 adotou fórmula mais técnica e precisa, exigindo o consentimento conjugal para a propositura de todas as ações que versem sobre direitos reais imobiliários, próprios ou alheios. O Anteprojeto da Comissão Revisora de 1985 falou em ações reais imobiliárias, acolhendo ponderações da doutrina. Não importa, pois, que a ação tenha por objeto direitos reais imobiliários do autor, ou de outrem; o consentimento conjugal é sempre indispensável. Não se trata, porém, de litisconsórcio necessário ativo (como acontece, v.g., nas hipóteses do § 1º do art. 12, se o espólio, representado por inventariante dativo, for autor, ou do art. 952), porque o cônjuge anuente não se torna parte do processo. Apenas concorda com a propositura da ação, mediante qualquer instrumento idôneo a formalizar a manifestação da sua aquiescência. No particular, suscetível de controvérsia a figura, há uma espécie de representação processual, onde o autor, mais que representar apenas seu cônjuge, representa os interesses da família por ambos formada. 3. No caso do § 1º, ocorre, efetivamente, um litisconsórcio necessário, porque ambos os cônjuges se tornam partes do processo, mediante a citação (ou o comparecimento espontâneo), que é ato de integração de pessoa na relação processual. Insuficiente, além de desnecessária, a definição do art. 213. Alterou-se a redação do inciso I do anterior parágrafo único, transformado em § 1º, para torná-la coincidente com a do caput. 4. Acrescentou-se ao artigo o § 2º. A regra do § 2º, que se extrai da interpretação a contrario sensu, é a de que, nas ações possessórias, não há necessidade nem de consentimento do cônjuge do autor, nem de citação do cônjuge do réu. Se, entretanto, há composse (art. 1.199 do CC) de ambos os cônjuges, exige-se a anuência do cônjuge do autor e a citação da mulher do réu, ou do marido da ré. O parágrafo usou o substantivo participação, parece-me que atentando para a inexistência de litisconsórcio ativo e para a existência de litisconsórcio passivo, como explicado nos itens precedentes. Exige-se também a anuência ou a citação, quando a ação possessória tiver por objeto ato possessório praticado por ambos os cônjuges. A última parte do § 2º pode criar dificuldades de ordem prática, porque muitas vezes não é possível distinguir se o ato foi praticado só por um cônjuge, ou se por ambos. Para se evitarem riscos, nos casos em que a situação não se apresentar nítida, terminarão citados ambos os cônjuges, mas o juiz excluirá do processo aquele que não praticou o ato. “Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final. Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado.” (Lei n. 10.358, art. 1º) 1. Partes são autor e réu, ou autores ou réus, se houver litisconsórcio. O caput do artigo não fala somente em partes, porém em “todos aqueles que de qualquer forma participam do processo”. O legislador usou uma fórmula abrangente, que apanha todos quantos integrem a relação processual, terceiros intervenientes, inclusive os opoentes, advogados, Ministério Público, defensores, procuradores, testemunhas, perito e assistentes, administradores, serventuários, os avaliadores e partidores, enfim, todos os sujeitos principais ou secundários, bem como os oficiais de justiça, como os órgãos jurisdicionais auxiliares, permanentes ou eventuais. Óbvio que todos os participantes dos processos acessórios são alcançados pelo dispositivo, que se aplica em todas as instâncias, como ainda nas cartas precatórias, de ordem, ou rogatórias vindas do estrangeiro ou ao estrangeiro destinadas, enquanto se processarem no Brasil. A norma não se estende aos juízes, cuja atividade é regulada por normas específicas, da Constituição Federal para baixo, como demonstram, v.g., os pertinentes artigos da Carta Política, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional e do Código de Processo Civil. A inda quando a atividade seja regida por estatuto próprio, como no caso dos advogados (ressalvado o parágrafo único) e do Ministério Público, dentro do processo eles se submetem ao art. 14 e seus incisos. 2. O inciso V, acrescentado ao caput do art. 14 pela Lei n. 10.358, condensou normas que, explícita ou implicitamente, já constavam do Código e das leis tutelares da jurisdição, função constitucional. Também enumerou os casos de incidência da sanção estabelec ida no parágrafo único: o descumprimento dos provimentos mandamentais, nos seus exatos termos, isto é, na inteireza das suas determinações, ou a criação de óbices à efetivação dos provimentos judiciais de natureza antecipatória ou final. Provimento, no campo do processo, é determinação, decisão, ordem emanada da autoridade judiciária competente. Para a adequada aplicação do inciso V do art. 14 e do seu parágrafo único, entrelaçados, cumpre distinguir provimento mandamental de provimento judicial. Esclareça-se logo que o primeiro constitui espécie do segundo, porque quem baixa o provimento mandamental é o juiz de qualquer instância. Ao longo do processo, o juiz (ou o tribunal, que juiz é, mas coletivo, crescente, aliás, a competência individual dos seus membros) profere decisões ou pratica atos destinados a surtir determinada eficácia, não importa se mero despacho de juntada, não praticada conforme o § 4º do art. 162, ou sentença, ou acórdão. Esses atos não obrigam nem as partes, nem terceiros, ou quaisquer outras a um cometimento ou uma abstenção; seus destinatários têm o direito de não praticar o ato, então uma faculdade. Ordena-se a citação do réu para “contestar querendo”, segundo a fórmula forense. Ele contestará, ou não. Intima-se o reconvindo para contestar, o que ele fará, ou não. Determina-se a manifestação de uma parte sobre documento junto pela autora e ela trará aos autos o seu pronunciamento, ou quedará silente, como do seu direito. É claro que se se abstiver, a parte sujeita-se às consequências da sua contumácia, como ocorre, sempre exemplificando, na hipótese do art. 319. Não existe, porém, meios de obrigá-la à prática do ato, como contestar, replicar, falar sobre a penhora e avaliação, falar sobre o pedido de substituição da medida cautelar por caução. Acontece, por vezes, que o juiz pode determinar à parte, ou a outros participantes do processo, uma determinada conduta, consubstanciada numa prática ou numa abstenção. O desrespeito à ordem terá por consequência uma medida destinada a obter-lhe o cumprimento específico, como, para ficar no âmbito do Código de Processo Civil, no art. 362 (recusa do terceiro a exibir documento ou coisa e o consequente mandado de apreensão), no art. 412 (condução da testemunha recalcitrante), no art. 904 (ordem de entrega ao depositário do aviso ou do equivalente em dinheiro, sob pena de prisão). Esses provimentos que consubstanciam ordem judicial com sanção destinada a produzir o ato determinado são provimentos mandamentais, assim como as sentenças e acórdãos concessivos de mandado de segurança, que ordenam à autoridade a proteção do direito líquido e certo do impetrante. Ajunte-se que a categoria de sentenças mandamentais, anunciada particularmente por Pontes de Miranda, não conta com apoio generalizado da doutrina – aspecto que foge, todavia, a um trabalho da natureza deste. Os provimentos mandamentais também constituem provimentos judiciais, já que partem de um órgão jurisdicional. Porém, o inciso V aludiu a uma categoria específica desses provimentos judiciais: os de natureza antecipatória e final. Somente estes e os provimentos mandamentais cabem no inciso V e somente o descumprimento deles torna incidente o parágrafo único do art. 14. Num sentido amplo, provimentos judiciais são todos os atos decisórios do juiz ou do tribunal. O inciso fala, todavia, apenas em provimentos de natureza antecipatória ou final. Antecipatórias são as decisões que adiantam, provisoriamente, a tutela pretendida, como no caso do art. 273, no qual se concede a providência, mas o processo segue até o julgamento final (art. 273, § 5º). O processo cautelar não outorga, necessariamente, nem na liminar nem na sentença final, uma medida antecipatória do pedido: sua finalidade consiste em assegurar a eficácia da sentença final, mediante alguma forma de proteção do bem da vida que estiver em causa. Quando a liminar ou a sentença final da ação cautelar preparatória ou incidental implicar o adiantamento, transitório embora (art. 807), do que se vai pedir, ou já se pediu no processo principal, incide o inciso V do art. 14. Há certas cautelares que se inserem no âmbito das providências mandamentais (CPC, art. 799). Devem-se entender os provimentos judiciais de natureza final de que fala o inciso como os que coincidem com a decisão sub-rogatória concedendo o que ela já concedera. Não fosse assim, a sanção do parágrafo único incidiria toda vez que não se cumprisse qualquer sentença final, como a de condenação por quantia certa, cujo descumprimento acarreta a multa do art. 475-J, decorrente da Lei n. 11.232, de 22-12- 2005, não se admitindo duplicidade de sanções, o que atentaria contra os princípios constitucionais da responsabilidade e da proporcionalidade. O embaraço, referido no inciso V, é qualquer atitude que impeça o cumprimento da decisão antecipatória ou final, obstando, sem justa causa, a que se alcance o resultado prático do ato decisório, atos temerários, dolosos, como o retardamento da marcha processual, a elaboração do cálculo propositadamente errônea. A violação da norma do inciso V do art. 14 permite ao juiz aplicar ao responsável multa, variável conforme a gravidade da conduta, de descumprimento do provimento mandamental, ou de natureza antecipatória ou final. Essa multa, de até 20% do valor da causa, pode atingir somas altíssimas e a faculdade de impô-la pode ensejar decisões teratológicas, como testemunha a prática profissional. A multa pode o juiz de qualquer grau fixá-la em qualquer percentagem acima de zero. Da decisão que impõe a multa cabe agravo (art. 522), a menos que a imposição dessa penalidade venha na própria sentença, caso em que o recurso é de apelação, ainda que só contra a multa se insurja, sem impugnação dos demais capítulos do ato. A multa, contudo, só se torna exigível no trânsito em julgado da decisão final da causa, sentença, acórdão, decisão singular de relator. Portanto, a eficácia do ato que estipula a pena é contida até o evento apontado. Transitada em julgado a decisão final do processo, a multa deve ser paga no prazo assinado na decisão que a impôs. Se omissa, no prazo do art. 475-J. Não paga a multa, sobre ela não incide a multa do art. 475-J, pela falta da previsão da lei, que só fala na sanção desse dispositivo na falta de pagamento de quantia certa. Não paga a multa, não se procede à execução dela, mediante o mandado de penhora e avaliação do art. 475-J. A multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado, conforme a competência para o processo seja da Justiça Federal ou Estadual. Aplicada a multa no Supremo Tribunal Federal, ou no Superior Tribunal de Justiça em grau de recurso, a inscrição se faz conforme a competência. Aplicada em processo de competência originária daquelas Cortes, a multa será federal. Inscrita, executa-se como título extrajudicial a certidão da dívida correspondente. O parágrafo exclui da possibilidade de imposição da multa o advogado (lato sensu, inclusive defensor, procurador, Ministério Público, se atua como representante da parte, ou intervém no processo para assisti-la). Nunca se pode esquecer, quando existir, o estatuto regente da função do postulante. Para finalizar, convém lembrar que o descumprimento do inciso V do art. 14 constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição. É o contempt of court do sistema do direito comum. A multa, entretanto, não exclui outras sanções criminais (v.g., crime de desobediência a cujo tipo o Judiciário, hoje, tem dado interpretação elástica, como dirão os penalistas), civis, como a prisão do depositário infiel ou do alimentante inadimplente, ou processuais, como no caso do art. 16. É o que dispõe o parágrafo único. “Art. 17............................................................................ VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.” (Lei n. 9.668, art. 1º) 1. Consulte-se o art. 496: é grande o número de recursos admitidos no processo civil brasileiro. Se a maioria deles não produz efeito suspensivo, que, entretanto, se obtém pelos modos de que se servem as partes, a interposição tempestiva de qualquer deles impede a formação da coisa julgada. Para evitar o fenômeno, para jogar no imponderável processual, para a satisfação ou interesse da parte sempre empenhada em que se busque melhor sorte, interpõem--se recursos manifestamente infundados, em prejuízo para a efetividade do processo e aumento de custo da função jurisdicional, para não falar da sobrecarga espantosa dos órgãos recursais. 2. Para considerar-se a interposição de recurso ato de má-fé, é preciso que se interponha o recurso com intuito manifestamente protelatório, conforme o inciso VII, inserido no art. 17 pela Lei n. 9.668. O advérbio manifestamente exige circunstâncias convincentes da certeza do ânimo protelatório do recorrente, que se podem colher do seu comportamento, ao longo do processo, como ainda do conteúdo do próprio recurso. Para a aplicação desse inciso VII não basta que o recorrente desafie a jurisprudência assentada e consolidada, pretendendo a revisão dela. Isto, contudo, deve exsurgir claro das razões do recurso. A lei pune com a sanção do art. 18 o recurso a que falta seriedade, interposto com desleixo ou sem substância. O próprio art. 557 do CPC deve ser interpretado criteriosamente, no tocante aos recursos contrários à jurisprudência, sumulada ou não. A atenta análise da realidade do processo e do recurso auxilia sobremaneira a investigação do ânimo protelatório do recorrente. Na dúvida, presume-se que o recurso não está na moldura do inciso VII. “Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. ............................................................................................. § 2º O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a vinte por cento sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento.” “Art. 20.............................................................................................. § 4º Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior.” “Art. 33.............................................................................................. Parágrafo único. O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente a essa remuneração. O numerário, recolhido em depósito bancário à ordem do juízo e com correção monetária, será entregue ao perito após a apresentação do laudo, facultada a sua liberação parcial, quando necessária.” (Leis n. 9.668, art. 2º, e 8.952, art. 1º) 1. A atual redação do caput do art. 18 foi dada pela Lei n. 9.668, de 23-6-1998, e a do seu § 2º, pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994, conservando-se o § 1º. 2. Na vigente redação, o caput do art. 18 explicita que também o tribunal pode impor as sanções ali previstas, de ofício ou a requerimento. Dirigindo o processo, o órgão jurisdicional de qualquer instância zelará pelo seu regular desenvolvimento (art. 262), o que compreende a repressão a qualquer ato irregular, contrário ao adequado andamento do feito, particularmente a má-fé (arts. 17, 125, III, 129 , por exemplo). Obviamente, a aplicação das sanções pode e deve ser feita de ofício, independentemente do requerimento da parte, conquanto ela também possa pedir punição. 3. A lei não estipula a multa em 1% do valor da causa, porém estabelece que a pena não poderá exceder desse percentual que, em certos processos, pode alcançar valor incompatível com o delito praticado. Insista-se em que a multa, não excedente de 1% do valor da causa (valor atualizado, para ficar contemporâneo da data da sanção), não se confunde com o valor da indenização, embora aquela também seja devida à parte. A multa, naturalmente, não obsta nem à indenização, nem à condenação em honorários e despesas. Não se presumem os prejuízos. Mister será que a parte lesada os demonstre completamente, a fim de que o juiz estabeleça a indenização em quantia líquida, ou ordene o arbitramento. Como a má-fé da parte pode também causar à outra danos morais, o juiz, ocorrendo isto, os arbitrará criteriosamente, como permite a jurisprudência. O valor da indenização ficará em quantia não superior a 20% do valor da causa, se o juiz tiver elementos para estipulá-lo. Pode, entretanto, exceder esse valor, se o arbitramento mantê-lo insuficiente para compor os prejuízos. Não se omite a nota de que dispositivos como o caput do art. 18 e seu § 2º têm dado margem a condenações imorais que, felizmente, não escapam da vigilância do Superior Tribunal de Justiça e dos tribunais de segunda instância. A expressão “desde logo” indica que o juiz não precisa aguardar a sentença. Pode aplicar a sanção tão logo ocorra, mediante decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento (art. 522), porque a condenação é título executivo judicial e a sua execução se faz pelas regras do cumprimento da sentença (arts. 475-I e s.). Se a condenação constar somente da sentença, o recurso será, evidentemente, o de apelação, que, se recebido no efeito suspensivo (art. 520), sustará também a exigibilidade da multa. 4. Os honorários referidos no caput do art. 18 são os do art. 20. Devem ser fixados na sentença em benefício do vencedor, mesmo quando ele possa ter sofrido a multa e a indenização do art. 18. É o fato objetivo do êxito no processo e, correspectivamente, a derrota do adversário que fazem incidir o art. 20. Não se poderia negar à parte que agiu de má-fé esses honorários pela falta de previsão legal. 5. A lém da substituição do substantivo letras por alíneas e da menção expressa à alínea b, na oração final, ambas as alterações irrelevantes, a novidade, introduzida no § 4º do art. 20 pela Lei n. 8.952, está na inclusão da frase “e nas execuções, embargadas ou não”. Visou o novo texto a afastar dúvidas quanto ao cabimento de honorários na execução e também no cumprimento de sentença, especialmente aludido no art. 475-I. 6. A substituição da execução de sentença pelo instituto do cumprimento da sentença leva a algumas considerações sobre a incidência do art. 20, nos casos do art. 475-I. Observações agora apresentadas fazem-se com a ressalva de que refletem as primeiras impressões do autor sobre as inovações da Lei n. 11.232, de 22-12-2005. O § 4º do art. 20 dispõe, no ponto agora tratado, que “nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior”. Dir-se-á que, para a incidência da norma, no ponto destacado, será necessário que haja execução, com a possibilidade de oposição de embargos de devedor. O art. 475-I determina que o cumprimento da sentença, que impõe obrigação de fazer ou não fazer, ou obrigação de dar, se realize dentro do prazo cognitivo, conforme os arts. 461 e 461-A. Dispõe, igualmente, que o cumprimento de sentença condenatória de quantia certa também se faça no âmbito do processo de conhecimento, como fase dele. Nessas situações, não se instaura, formalmente, um processo de execução, e não se opõem embargos do devedor, substituídos pela impugnação do art. 475-L, incidente do processo de conhecimento. Se não há execução nem embargos, não haveria como aplicar o § 4º do art. 20. O juiz, então, na sistemática do Código, só condenaria em honorários e despesas na execução contra a Fazenda Pública, na execução de prestação alimentícia, cujo começo depende da ação de execução, semelhante à actio judicati romana, que o legislador da Lei n. 11.232 quis evitar, e na execução de título extrajudicial. Atenta-se, no entanto, em que, tanto no art. 461 quanto no art. 461-A, e bem assim no art. 475-J, existem atos que, se na existência (dir- se-ia quase na topologia) constituem atos do processo cognitivo, na essência são atos de execução. A etapa do processo dedicada ao cumprimento da sentença é, na substância, outra relação processual, esta de execução. O art. 475-I preceitua, nitidamente, que o cumprimento da sentença que impôs obrigação por quantia certa se alcança por meio de execução. Não se consegue mudar a substância das coisas: há execução onde houver título (pressuposto jurídico) e inadimplemento do devedor (pressuposto fático) onde houver atos processuais destinados à satisfação do credor, independentemente da vontade do devedor. Por isso, a condenação em honorários também cabe. O § 4º do art. 20 incide. No tocante às obrigações de fazer (art. 461), o juiz estipula os honorários quando, vencido o prazo dado ao devedor para o cumprimento da sentença, o credor requerer a execução, nos termos do art. 633. Deferido o pedido, o juiz fixa os honorários. Tratando-se de obrigação de não fazer, os honorários são estipulados pela decisão que definir o requerimento de que trata o art. 643, ou ordenar a liquidação das perdas e danos estabelecida no parágrafo único desse artigo. No caso da sentença condenatória de obrigação por quantia certa, os honorários são determinados pelo juiz ao ordenar a expedição do mandado de penhora e avaliação (art. 475-J, última parte). 7. Importante notar que, em todas as hipóteses contempladas no § 4º, os honorários são fixados na conformidade dos critérios das alíneas a, b e c do § 3º, e só dessas alíneas, não do caput do parágrafo, pois não há sentença condenatória, nem na execução nem nos embargos do devedor. Se, estipulados de acordo com as três letras, os honorários alcançarem de 10 a 20% do valor da execução, presume-se mera coincidência entre o resultado da aplicação daquelas alíneas e o percentual indicado no caput do dispositivo, este de nenhum modo incidente nas situações do § 4º. 8. Quanto ao pagamento dos honorários do perito, nomeado pelo juiz (cada parte remunera o respectivo assistente técnico), incidem o art. 19 e seu § 2º. O parágrafo único do art. 33 permite ao juiz ordenar que, antes da produção da prova pericial, o responsável pelos honorários efetue o respectivo depósito. Trata-se de ato discricionário do juiz, a quem a lei deixa a faculdade de determinar esse depósito somente depois de concluída a perícia. O parágrafo também autoriza o juiz a ordenar a entrega ao perito de parte dos seus honorários, quando isso se tornar necessário (v.g., alegando o perito necessidade de imediata compensação do tempo despendido com seu trabalho, em detrimento de outra atividade), atendendo requerimento do louvado, ou mesmo de ofício, mas sempre por despacho fundamentado, ainda que concisamente (art. 165, segunda parte). Pode também o juiz, como a correta interpretação do dispositivo permite concluir, ordenar o depósito parcelado dos honorários do perito, na medida da necessidade do levantamento antecipado. O texto do parágrafo fala em depósito com correção monetária, devendo entender-se a expressão, se a lei não admitir a correção, como ordem de depósito na conta que melhor proteja a quantia da depreciação inflacionária. “Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso. Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica.” “Art. 45. O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os dez dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar prejuízo.” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 11.419, art. 20) 1. A Lei n. 8.952 suprimiu do art. 38 a oração “estando com a firma reconhecida”, mantendo-se o quanto mais já constava do texto. O art. 45 teve a sua redação alterada, dele desaparecendo a exigência da notificação do mandante pelo advogado desejoso de renunciar ao mandato. A Lei n. 11.419, de 19-12-2006, acrescentou ao art. 38 o parágrafo único, que aparece como novidade. 2. Com a supressão da reduzida gerundial “estando com a firma reconhecida”, o novo texto dispensa o reconhecimento de firma na procuração e, a fortiori, no substabelecimento. Desapareceu, assim, a formalidade burocrática e inútil. O § 2º do art. 5º do Estatuto da OAB (Lei n. 8.906, de 4-7-1994), conforme o qual “a procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais”, conquanto não aluda à necessidade do reconhecimento, não chegou a derrogar, por seu conteúdo genérico, a norma especial do art. 38, na sua redação anterior, só alterada com o advento da Lei n. 8.952/94. 3. Deve-se consultar a Lei n. 11.419, de 19-12-2006, para a adequada compreensão do parágrafo único, por ela acrescentado ao art. 38. O art. 8º dessa lei permite aos órgãos do Poder Judiciário “desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais”. O parágrafo único desse art. 8º dispõe que “todos os atos processuais do processo eletrônico serão assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei”. Por seu turno, o § 2 º, III, a, do art. 1º, considera assinatura eletrônica a forma de identificação inequívoca do signatário, atestada pelo órgão credenciado do Poder Judiciário, isto é, o órgão a que se der a atribuição de confirmar a autenticidade da assinatura. Noutras palavras, o signatário envia o processo, por meio eletrônico, com a sua assinatura, cuja autenticidade será declarada pela repartição judiciária competente. Por óbvio, é preciso que ele disponha de elementos de verificação da autenticidade, como, v.g., o padrão, ou a matriz da assinatura. A Lei n. 11.419 não precisava ter acrescentado ao art. 38 um parágrafo único, quando os dispositivos dela bastam para permitir a assinatura digital. Curioso que o dispositivo se tenha demorado em permitir a assinatura digital na procuração de quem, autor, réu ou terceiro, estará vindo a juízo pela primeira vez, sem que, naturalmente, haja tido tempo para proceder ao depósito de sua firma, de modo a tornar possível a declaração de autenticidade pela autoridade certificadora. É claro que a assinatura pode ter sido armazenada anteriormente, por qualquer outro motivo, como a presença do interessado noutro processo. Neste caso, admite-se a incidência do parágrafo único. 4. A nova redação do art. 45, decorrente da Lei n. 8.952, dispensa a notificação a que aludia o texto anterior, para, sem obstar a que o advogado também se sirva dela, admitir qualquer outro tipo de comunicação (v.g., carta, telegrama, telefax, ou mesmo notícia oral), desde que haja inequívoco recebimento, pelo mandante, da manifestação da vontade do advogado, que deve providenciar para que o ato alcance sua finalidade, disso fazendo prova, quando necessário. Na dúvida, os princípios e normas recomendam que se presuma que comunicação não houve, continuando o advogado responsável pela representação. O § 3º do art. 5º do atual Estatuto da OAB (Lei n. 8.906, de 4-7-1994), que fala em “notificação da renúncia”, é norma geral, que não incide onde aplicável a regra especial do art. 45 do CPC. “Art. 40.............................................................................................. § 2º Sendo comum às partes o prazo, só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos autos, poderão os seus procuradores retirar os autos, ressalvada a obtenção de cópias para a qual cada procurador poderá retirá-los pelo prazo de 1 (uma) hora independentemente de ajuste.” (Lei n. 11.969, art. 2º) 1. A Lei n. 11.969, de 6-7-2009, derrogou o § 2º do art. 40, modificando--lhe a redação, mediante a ressalva de que os procuradores das partes poderão obter cópias dos autos, autorizados, com isto, a retirá-los pelo prazo de uma hora, independentemente de ajuste. O parágrafo ficou pessimamente redigido. Repetem-se nele os substantivos ajuste e autos, usados duas vezes num texto de apenas três linhas. 2. Não se sabe se a norma acrescentada ao § 2º é, realmente, necessária. A experiência forense mostra que os procuradores das partes sempre conseguiram retirar os autos para tirar cópia deles, no todo ou em parte, por algum tempo. Entenda-se por procuradores os advogados das partes, como mostra o verbo procurar, empregado na primeira proposição do art. 37, e o cognato dele, usado no art. 191. Na acepção do § 2º, o substantivo abrange quaisquer pessoas que postulem no processo, advogados do autor, do réu, dos litisconsortes, os defensores, Ministério Público e as próprias partes, nos casos do art. 36. 3. Havendo mais de um pretendente à retirada dos autos, dar-se-á prioridade, na ordem dos requerimentos, salvo nos casos de fundada urgência, quando caberá ao serventuário decidir, podendo o requerente inconformado levar eventual divergência ao juiz, ou ao relator, se os autos já estiveram no tribunal. 4. Não haverá necessidade de ajuste entre procuradores, na hipótese de retirada dos autos para cópia. Existirão casos em que essa retirada poderá prejudicar o direito da parte, obrigada a praticar ato num prazo exíguo. Aqui, o tempo em que os autos estiverem fora da serventia, para a retirada das cópias, acresce-se ao prazo contado em horas ou minutos. Neste caso, o art. 180 incide. 5. O prazo de uma hora, concedido no § 2º, conta-se de minuto a minuto (veja-se o § 4º do art. 132 do CC) e será controlado pelo serventuário, que, sem necessidade da intervenção do juiz, o prorrogará, se esse tempo não for suficiente para a obtenção das cópias, como ocorrerá, por exemplo, nos casos de autos volumosos, de tardança no atendimento pelo setor encarregado das cópias, ou defeito nos aparelhos copiadores. A pequena transgressão da norma não gerará qualquer sanção pela insignificância da violação. A retenção imotivada dos autos por longo tempo sem justa causa (art. 183 e seu § 1º) poderá determinar a incidência dos incisos IV e V do art. 17, com a multa do art. 18. 6. Se o procurador representar mais de um litisconsorte, o prazo será o mesmo. Não se aplica o art. 191 porque a retirada dos autos não se insere entre os atos nele previstos. Aliás, a retirada é ato individual do procurador. 7. A nova redação do § 2º do art. 40 exclui a necessidade de ajuste, no caso de retirada dos autos para cópias. Autos anexos aos principais autos são, e a permissão para cópia se estende a eles. “Art. 46.............................................................................................. Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da intimação da decisão.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. A norma aparece no Código pela primeira vez com a Lei n. 8.952, de 13-12-1994. Anteriormente, o artigo não continha parágrafo único. 2. O dispositivo ora comentado dá ao juiz poderes para limitar, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (ocupante, ou não, do polo do processo no qual se verificou a cumulação subjetiva, do Ministério Público, ou de terceiro interveniente), o número de litisconsortes, desde que o caso seja de litisconsórcio facultativo, não importando se unitário, se comum. Não assim no litisconsórcio necessário, pois aí a eficácia do processo depende, inevitavelmente, da presença de mais de uma pessoa, na posição de autor, ou na de réu. A inovação merece aplauso. Muitas vezes, a quantidade de autores, ou de réus, entrava o andamento do processo, diante do princípio da autonomia dos litisconsortes (arts. 48 e 49). Imagine-se a situação do art. 46, II, na qual as muitas vítimas de um mesmo acidente decidissem pedir a reparação dos respectivos danos, associando-se numa mesma ação. A prova dos prejuízos de cada uma retardaria a marcha do feito, comprometendo a desejável celeridade (art. 125, II, do CPC, e art. 5º, LXXVIII, da CF). Noutras ocasiões, a multiplicidade de partes dificulta a defesa, tanto dos litigantes quanto do adversário. O vocábulo defesa, no texto, não se empregou no sentido de resposta, mas significando o direito de cada parte postular, adequadamente, a tutela de sua pretensão. Figure-se o caso em que um número muito grande de funcionários públicos, pertencentes a quadros distintos da administração, mas atingidos por certo ato, demandasse a proteção jurisdicional, em litisconsórcio, autorizado pelo art. 46, IV. A simples verificação da situação funcional de cada um pela administração, a fim de verificar a legitimidade, dificultaria a defesa dela, como tem ocorrido com frequência. Quando, diante de uma situação específica, o juiz concluir que o litisconsórcio facultativo retardará o desfecho do processo, ou dificultará a defesa da parte, o parágrafo lhe permite limitar, quantitativamente, o litisconsórcio facultativo. A norma não estabelece o número, máximo ou mínimo, de litigantes, deixando a questão ao arbítrio do juiz, que, prudentemente, haverá de fixá--lo, sem adotar um critério rígido, adrede estabelecido. Deve aplicar a norma casuisticamente. Erraria o juiz que, em todos os casos, restringisse o litisconsórcio, por exemplo, aos dez primeiros autores, ou aos dez primeiros réus. Pode o magistrado, perfeitamente, excluir do processo determinados litisconsortes, nele deixando outros, pela maior parecença de situações, ou, ainda quando não ocorra semelhança, pela facilidade da prova. 3. Ao ato de exclusão de litisconsorte a doutrina e a jurisprudência atribuirão, como se pode afirmar diante de manifestações dos autores e dos tribunais, a natureza de decisão interlocutória (o próprio texto fala em decisão) e, por isso, sujeita a agravo. Obviamente, excluído do processo o litisconsorte ativo, nada impedirá que ele proponha a ação sozinho, ou mesmo juntamente com outras pessoas, também excluídas, ou demandantes da jurisdição pela primeira vez. Igualmente, pode-se acionar o réu que saiu do processo em virtude da aplicação do parágrafo. Cabe notar que a incidência da regra não afeta o regime de conexão de causas. Se, v.g., excluídos do litisconsórcio alguns autores, eles ajuizarem outra ação com o mesmo objeto, ou a mesma causa de pedir da anterior, será esta conexa com aquela, e deverão ser reunidas (arts. 103 e 105). 4. “O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da intimação da decisão”, diz a segunda parte do parágrafo. Não se pense, entretanto, que, aludindo a pedido de limitação do número de litisconsortes, o dispositivo proíba que o juiz proceda, de ofício, à restrição. Negar-lhe esse poder será despojá-lo da função de dirigente do processo (art. 125, I). A decisão não provocada do juiz de afastar algum autor, ou de eliminar algum réu, não interrompe nem suspende qualquer prazo, como, por exemplo, o que estivesse em curso para que outro demandante regularizasse a sua representação, ou para que os demandados remanescentes respondessem. Determina, entretanto, o parágrafo a interrupção do prazo para a resposta em qualquer das suas modalidades (art. 297), se houver requerimento de limitação. Isso porque o requerimento cria um incidente, cujo procedimento pode dificultar o acesso aos autos, ou influir na atitude de um corréu, cuja resposta variaria, conforme a presença ou a ausência de outro litigante. A interrupção, ao contrário da suspensão, significa recomeço do prazo por inteiro (o parágrafo usa o verbo recomeçar), que correrá desde o início, a partir da intimação da decisão, que a determinar. O momento natural para a limitação pelo juiz será o do deferimento da inicial. Qualquer autor, ou réu, assim como o Ministério Público ou o terceiro interveniente, pode, entretanto, requerê-la, ou ordená-la de ofício o juiz, antes de decorrido o prazo da resposta, como demonstra o parágrafo, aludindo à interrupção desse prazo. A limitação implica exclusão, só por razão de ordem numérica, quando fundada no parágrafo que agora se examina, sem que isso afaste, evidentemente, a possibilidade de exclusão por outros motivos, como, por exemplo, a ilegitimidade, ou o descabimento do litisconsórcio pela falta de pressuposto da sua formação. “Art. 82.............................................................................................. III – nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.” (Lei n. 9.415, art. 1º) 1. A Lei n. 9.415, de 23-12-1996, manteve o primitivo texto do inciso III, acrescentando-lhe todavia o dever do Ministério Público intervir nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural. 2. Se se permite o truísmo, excluem-se da intervenção obrigatória do Ministério Público os litígios individuais pela posse das terras rurais, ainda quando ocorra litisconsórcio ativo ou passivo. No caso do inciso, o litígio será caracterizado pelo movimento coletivo de assentamento, ou de pretensão de assentar-se, mediante a invocação de leis ou de situações sociais. São casos em que não incidem normas tutelares das relações comuns de ordem privada. Não se discute posse entre particular, mas, sim, posse decorrente de um movimento de reivindicação social. A intervenção do Ministério Público dá-se na ação possessória e em todas as ações que lhe são assemelhadas, mesmo as reivindicatórias, e, a fortiori, as incidentes, não importando em que polo da relação processual se concentram os pretendentes à terra. Na intervenção de que se trata, o Ministério Público atua como custos legis. Fiscal da lei, o Ministério Público age imparcialmente, pelo cumprimento dela, não importa se os autores, ou réus, estejam sendo representados ou substituídos, mesmo que por outro órgão da instituição. “Art. 112.............................................................................................. Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.” “Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais.” (Lei n. 11.280, art. 1º) 1. O parágrafo único, acrescentado ao art. 112 pela Lei n. 11.280, de 16-2-2006, constitui exceção à regra do caput. Preceitua o artigo que se argui a incompetência relativa por meio de exceção, óbvio que da iniciativa da parte (art. 304), o que afasta a possibilidade de declaração dela pelo juiz. A incompetência decorrente da violação do critério territorial é relativa. No juízo da lei, refletindo, aliás, princípio da processualística, a inobservância do critério territorial, só por si, não constitui vício capaz de comprometer a validade do processo. 2. O art. 111 estatui que é inderrogável por convenção das partes a competência em razão da matéria e da hierarquia. Dispõe, contudo, que as partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, “elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações” – foro, então, que as partes escolhem; foro de eleição. 3. Relativa, embora, a incompetência resultante da violação do critério territorial de determinação da competência, por isso insuscetível de declaração de ofício, o parágrafo único permite que o juiz, de ofício, declare a nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, não noutra modalidade contratual. Visivelmente, o parágrafo buscou afinar a lei processual pelos princípios e normas de tutela do consumidor. Não se saiu bem o legislador na redação do parágrafo. A nulidade de todo o contrato, ou de cláusula dele, pode e deve ser declarada pelo juiz, independentemente de provocação, se absoluta essa nulidade. Acontecendo isso, desfaz--se a cláusula de eleição do foro e a competência territorial passa a determinar--se pelas regras gerais (arts. 94 e s.). Distribui-se a ação de acordo com essas regras. Distribuída, entretanto, a ação, em consonância com cláusula de eleição cuja nulidade se decretou, a incompetência daí decorrente, conquanto territorial, pode ser decretada pelo próprio juiz, que, então, ordena a remessa do processo “para o juízo de domicílio do réu”, como dispõe o parágrafo do art. 112, atento à regra geral do art. 94. Se o réu não tiver domicílio no Brasil, ou os tiver abundantes, o juiz agirá em consonância com as normas pertinentes (v.g., os parágrafos do art. 94). Acrescente-se que a nulidade não precisa ser decretada pelo próprio juiz da causa. Ele também agirá como determinado no parágrafo, se se houver decretado a nulidade por decisão eficaz de outro juízo. 4. Coerente com o parágrafo único, acrescido ao art. 112, a Lei n. 11.280 alterou a redação do art. 114. Decretada a nulidade da cláusula de eleição do foro, o juiz deve declinar da sua competência. Se não o fizer, a competência dele se prorroga, permanecendo, sem que ocorra a remessa do processo a outro órgão jurisdicional. Assim também se qualquer das partes não suscitar a exceção, no prazo de quinze dias, contados da decretação da nulidade, ou da ciência da juntada aos autos da decisão que, noutro processo, a decretou. Obscuro o artigo, quando fala em oposição de exceção declinatória, nos casos e prazos legais. Os casos serão o de decretação de nulidade da cláusula de eleição, no próprio processo, ou noutro. Os prazos serão o de quinze dias, do art. 305, ou outro, como no caso do art. 191. “Art. 120.............................................................................................. Parágrafo único. Havendo jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada, o relator poderá decidir de plano o conflito de competência, cabendo agravo, no prazo de cinco dias, contado da intimação da decisão às partes, para o órgão recursal competente.” (Lei n. 9.756, art. 1º) 1. A Lei n. 9.756, de 17-12-1998, acrescentou o parágrafo único ao art. 120. Esse parágrafo é gêmeo de outros dispositivos que dão ao relator competência para decidir monocraticamente o processo, como acontece, por exemplo, nos casos do art. 557 e seu § 1º-A. Visível o propósito de desafogar o número de feitos nos tribunais. 2. O parágrafo único só incide nos conflitos de competência. Não se estende a outros casos. O dispositivo não fala em súmula, mas somente em jurisprudência dominante do tribunal que processará e julgará o conflito. A expressão jurisprudência dominante não compreende apenas a pluralidade de julgados idênticos na solução de mesma questão de direito. Pode estender-se a um único julgado, proferido pelo órgão superior do tribunal, em julgamento de uniformização de jurisprudência, ou não. 3. Conquanto não constitua um recurso, admite-se a aplicação ao conflito do art. 557 e seu § 1º-A. A situação é semelhante. Aqui, entretanto, e em qualquer outro caso em que exista julgamento vinculante, a situação já exorbitará do parágrafo. 4. Da decisão do relator, aplicando o parágrafo, caberá o agravo referido no texto; agravo interno, agravinho, ou outro nome que se lhe dê. O prazo é de cinco dias. Choveu no molhado o legislador ao determinar que o prazo se conte da intimação da decisão às partes (aqui se incluem os terceiros intervenientes). “Para o órgão recursal competente” não significa, necessariamente, o órgão competente para que julgue eventuais recursos nos processos onde se deu o conflito. O agravo será dirigido ao órgão competente para julgar o conflito. Competente para o conflito, o órgão será, a fortiori, competente para o recurso da decisão do relator, que o decide. É irrecorrível a decisão do relator que indefere eventual requerimento de aplicação do parágrafo único não apenas porque a aplicação é faculdade do relator (“poderá decidir de plano ...”) como ainda porque, se desse provimento ao recurso, o próprio órgão o julgaria, sem sentido a devolução ao relator para fazê-lo singularmente. “Art. 125.............................................................................................. IV – tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. O inciso IV foi acrescentado ao art. 125, para tornar explícito o que, virtualmente, já estava no inciso II e, quanto à execução, no inciso I do art. 599, e se insere entre os poderes do juiz, a quem a lei, como revela a atenta análise do seu sistema, não entrega apenas a função de decidir, como ainda a de conciliar. Por sua natureza, o processo judicial não propicia a composição ou a prevenção da lide com a presteza desejável. A sua morosidade, agravada pela notória precariedade das condições de administração da justiça nos países mais pobres, constitui fenômeno encontradiço em todo o mundo e desafia, permanentemente, a facúndia dos processualistas e operadores da máquina judiciária. Por isso, cabe ao juiz valer-se de todas as possibilidades para atentar a composição dos litigantes, sem aguardar o momento procedimental especialmente reservado a esse fim. Com razão, a doutrina contemporânea do advento do Código de Processo Civil criticou a opção do legislador de colocar a conciliação no pórtico da audiência de instrução e julgamento (art. 447), quando as partes já se encontrarão naturalmente exasperadas pela dialética processual e menos propensas à ideia de composição. O art. 331, tanto na redação dada pela Lei n. 8.952/94 quanto naquela dada pela Lei n. 10.444/2002, não remediou as coisas. Conquanto nada impedisse que o juiz chamasse as partes à sua presença para tentar conciliá-las – e assim muitas vezes se praticou –, o inciso acrescentado, além de afastar dúvidas quanto a essa possibilidade, pela explicitude, enfatiza o papel conciliador do magistrado de qualquer instância, e não apenas do de primeiro grau. No momento em que se vislumbra a conveniência de uma conciliação, impõe-se ao juiz tentá-la, sem delongas, em vez de aguardar a oportunidade especificamente reservada para esse fim pelo Código (art. 331). 2. A tentativa de conciliação pode ser feita de mais de uma maneira. A menos propícia seria a simples conclamação escrita do juiz a que as partes buscassem um entendimento. A de maior eficácia é a presença das partes diante do magistrado, que respeitam e cuja exortação será fator positivo no sentido do acordo. Nada impede que o juiz se valha de conciliadores, selecionados entre pessoas de envergadura moral, qualificação específica e larga experiência (v.g., ex-magistrados, advogados, especialistas na questão objeto do litígio), assim transformadas em órgãos jurisdicionais auxiliares. A figura do conciliador já existe no direito processual positivo (cf. o art. 7º e parágrafo único da Lei n. 9.099, de 26-9-1995, que regula os juizados especiais cíveis e criminais) e a do mediador vai ganhando espaço, quando se acentua a compreensão de que o processo não é o mais adequado meio de rápida tutela de pretensões. Atualmente, vários estados da Federação norte-americana já regularam a atividade do mediador, pessoa qualificada que, examinando o litígio atual ou iminente, sem se pronunciar sobre o direito das partes, tenta descobrir meios e modos de evitar a disputa judicial, mostrando-lhes as inconveniências do litígio e os proveitos da composição amigável. 3. A lcançada a conciliação, o juiz, diante do instrumento de transação, preparado pelas partes, ou constante de termo assinado na sua presença, homologa o acordo, proferindo sentença de extinção do processo com julgamento do mérito (art. 269, III), a menos que a conciliação haja levado apenas à desistência da ação, consentida, se for o caso (art. 267, § 4º). Nesta hipótese, a homologação se faz por meio de sentença terminativa (arts. 158, parágrafo único, e 267, VIII). A conciliação pode também resultar na instituição de juízo arbitral, no reconhecimento do pedido pelo réu, ou na renúncia do autor ao direito sobre que se funda a ação (arts. 267, VII, e 269, II e V). “Art. 143.............................................................................................. V – efetuar avaliações.” (Lei n. 11.382, art. 2º) 1. O inciso V foi acrescentado ao art. 143 pela Lei n. 11.382, de 6-12-2006. 2. O novo item, inalterados o caput e os incisos anteriores, inclui entre os deveres do oficial de justiça fazer avaliações, como determinam os arts. 475-J e seu § 2º, no tocante à execução dos títulos judiciais (art. 475-N), e 652, § 1º, e 680, relativamente à execução de títulos extrajudiciais (art. 585). Vejam-se, então, as observações àqueles dispositivos, anotando-se, todavia, também aqui, que o cumprimento da sentença condenatória de quantia certa faz-se por execução, consoante o art. 475-I. 3. Há o problema de existir, no foro da causa, o avaliador judicial. Neste caso, é ele que procede à avaliação, na hipótese do art. 680 , segunda parte, presumindo-se, relativamente embora, que esteja qualificado a fazer a avaliação ali prevista. Se não estiver, e isto ficar claro por declaração do avaliador, de ofício, ou decorrer de impugnação dos interessados ou da própria avaliação, objetivamente considerada, o juiz, então, nomeia outra pessoa habilitada a avaliar. “Art. 154.............................................................................................. Parágrafo único. (Vetado.) (VETADO). § 2º Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na forma da lei.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. A Lei n. 11.419, de 19-12-2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial, publicou o art. 154 com a informação de que o seu parágrafo único fora vetado. Encontra-se, pois, desintegrado da ordem jurídica o aludido parágrafo, que já não vigora (aliter, José Roberto Gouvêa, em nota 3 ao art. 154 do Código de Processo Civil, de Theotonio Negrão, e dele, 39ª ed., Saraiva, São Paulo, 2007). Por evidente falha técnica, aparece como § 2º o texto que deveria ter substituído o revogado parágrafo único. 2. O § 2º permite a proteção, a transmissão, o armazenamento e a assinatura por meio eletrônico – “na forma da lei”, remetendo às leis vigentes sobre a matéria, em particular à Lei n. 11.419, que dispõe sobre a informatização do processo judicial. Impõe-se conhecer essa lei porque os seus vinte e dois artigos se voltam para a inovação, a partir de definições essenciais. Na palestra “O Processo Civil no terceiro milênio”, publicada no meu livro Direito processual civil: estudos e pareceres (3ª série, Saraiva, São Paulo, 2002) assinalei já se poder afirmar com toda a segurança “que, muito cedo, no próximo milênio, os autos tradicionais, ainda hoje costurados com agulha e linha, desaparecerão e a expressão material do processo constará de programas de computação, admitindo-se que tudo ou quase tudo se faça por meio da informática, que tornará obsoletas as resmas de papel que atualmente se consomem, no exercício da função jurisdicional”. O § 2º e a lei que o instituiu antecipam essa realidade. 3. Atos e termos processuais não dependem de forma determinada, começa o art. 154, senão quando a lei expressamente o exige (v.g., o art. 458, que traça a estrutura da sentença, determinando as suas partes essenciais). O § 2º do art. 154 permite a produção desses atos e termos, isto é, a realização deles, por meios eletrônicos, ou seja, mediante digitação, armazenamento e transmissão por e-mail, dispensando-se os atos tradicionais. Ficam os atos registrados, em todo o seu teor, em sistemas, postos em CDs, ou não. A assinatura eletrônica depende da possibilidade de identificação inequívoca do signatário, como exige o § 2º. 4. Torna-se indispensável a consulta à Lei n. 11.419, de 19-12-2006, para compreender-se a informatização do processo judicial. Distribuíram-se em quatro capítulos os vintes e dois artigos da lei. Dedica-se o Capítulo I à informatização do processo judicial (arts. 1º a 3º); o Capítulo II, à comunicação eletrônica dos atos processuais (arts. 4º a 7º); o Capítulo III, ao processo eletrônico (arts. 8º a 13); e o Capítulo IV, às disposições gerais e finais (arts. 14 a 22). Fundamental, neste livro, o art. 20 , que modificou doze artigos do Código de Processo Civil. Da nova redação destes se ocuparão as notas, postas sob o texto dos dispositivos, na ordem cronológica da apresentação dos artigos. A lei introduz o processo eletrônico, estipulando o modo pelo qual se exprimem os atos processuais das partes, dos terceiros intervenientes, do juiz, dos órgãos auxiliares da Justiça. Assim, sempre para exemplificar, a petição inicial, a contestação, o requerimento de assistência, os despachos, decisões interlocutórias, sentença e acórdãos, laudos e depoimentos, tudo pode ser feito sob o signo da informática, quando possível. A apresentação de documentos, transmitida por e-mail, pode tornar-se insuficiente à instrução. Neste caso, afasta-se a possibilidade da informatização. Nada obsta a que só alguns atos, mas não todos, se pratiquem eletronicamente. Nestas hipóteses, os autos são necessários e para eles se trasladarão cópias dos atos praticados, ou, ao menos, a notícia deles, mediante termo, que é a documentação de um ato processual. 5. A lei a que alude o parágrafo único do art. 38 é a Lei n. 11.419, de 19-12-2006, como serão quaisquer outros dispositivos que tratarem da matéria, inclusive atos administrativos, como instruções, resoluções, provimentos das autoridades, contanto que competentes. “Art. 162.............................................................................................. § 1º Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. ............................................................................................. § 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários.” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 11.232, art. 1º) 1. O texto revogado do § 1º do art. 162 continha, insuficiente embora, uma definição de sentença. Na redação do art. 1º da Lei n. 11.232, o atual § 1º encerra, menos que uma definição, ou um conceito, uma remissão, ainda assim incompleta, porquanto não são sentenças apenas os atos decisórios dos arts. 267 e 269. O inciso XI do art. 267 dá amplitude à lista das sentenças nele previstas, aludindo “nos demais casos previstos neste Código”, incluindo, portanto, todas as sentenças terminativas não mencionadas neste dispositivo (por exemplo, as dos arts. 13, III, e 129). No tocante ao art. 269, observe-se que há sentenças de mérito não incluídas nele, como, v.g., no âmbito do processo cognitivo, as sentenças dos arts. 966, 980, 1.026, 1.124; no processo de execução, as do art. 761 e as do art. 795 (ainda quando possam referir-se apenas à execução de títulos extrajudiciais) e, no processo cautelar, as do art. 866. Era defeituosa a anterior redação do § 1º (“Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”). Bem pode haver sentença sem termo do processo, como, v.g., as dos arts. 915, § 2º, e 761. Imagine-se, ainda, a sentença de procedência ou improcedência do pedido (art. 269, I), logo seguida pela homologatória da transação (art. 269, III), feita pelas partes no curso do prazo para apelar. Neste caso, a primeira sentença não terá extinguido o feito. O juiz não esgota a sua prestação com a sentença. Mantém-na para julgar ato da sua competência, abrangente de todos os atos não deferidos a outro órgão jurisdicional. A inda mais agora, que o cumprimento da sentença, substituto do processo de execução, é ato da competência do mesmo juízo perante o qual se desenrolou o processo. Não se omita a nota de que o legislador reformulou o conceito de sentença do § 1º do art. 162, e bem assim o art. 269, para evitar a alusão à extinção do processo com o julgamento do mérito. Proferido esse julgamento, o processo não se extingue, mas continua para o cumprimento da sentença. Meticuloso nesses pontos, o legislador deixou, contudo, ficar o art. 269 sob a epígrafe “Da extinção do processo”, que intitula o Capítulo III do Título VI do Livro I, no qual o dispositivo se encontra. 2. O § 4º, acrescentado ao art. 162 do Código pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994, veio coonestar procedimento adotado por inúmeros juízes, que determinavam aos serventuários a imediata juntada de petições, para serem depois desentranhadas se não devessem ter sido juntas, assim como a abertura de vista do processo. Houve descuido do legislador no emprego do adjetivo necessário no plural, porque o sujeito elíptico da oração temporal é singular: o juiz procede à revisão do ato, para corrigir-lhes o erro, quando isso se fizer necessário. Andou bem o legislador ao valer-se da conjunção conformativa como, para exemplificar apenas, porque a juntada e a vista não são os únicos atos ordinatórios. 3. Manda o parágrafo que todos os atos simplesmente ordinatórios se pratiquem de ofício, independentemente de despacho irrecorrível, conforme o art. 504. A juntada de petições, o desentranhamento de peças juntas por equívoco, a abertura de vista, a intimação ao perito para ciência de sua nomeação, a retificação de erros de escrita, o recapeamento dos autos, a comunicação à Corregedoria da distribuição de ação conexa, a nova publicação por defeito da anterior, tudo são atos que ao serventuário incumbe praticar sem a interferência do juiz que, ciente deles, corrigirá os erros. O servidor, vocábulo que a Lei n. 8.952 preferiu ao substantivo serventuário, usado na rubrica da Seção I do Capítulo V do Título IV do Livro I, só não pode praticar de ofício os atos que envolvam deliberação superior à necessária para que o processo tenha curso de acordo com a ordem já estabelecida na lei. A norma alivia o juiz de uma atividade burocrática dispensável, traduzida em precioso número de horas que podem ser empregadas no exercício da sua função. A inovação dispensou o juiz do encargo de tornar-se serventuário de si mesmo. 4. Não cabe recurso do ato do serventuário, praticado com fundamento no § 4º, mas requerimento ao juiz, cujo pronunciamento será recorrível, se dele advier sucumbência, porque já aí não terá proferido despacho, mas resolvido questão incidente. “Art. 164.............................................................................................. Parágrafo único. A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. Subsiste a redação do caput, conforme a qual os despachos, decisões, sentenças e acórdãos serão assinados pelos juízes. A Lei n. 11.419 apenas acrescentou o parágrafo único ao artigo. 2. A lei a que alude o parágrafo é a Lei n. 11.419, de 19-12-2006. No art. 1º, § 2º, III, a e b, ela considera assinatura eletrônica a assinatura digital, baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica. Essa lei, ainda não editada, definirá o que possa ser essa autoridade certificadora e o modo como ela se credencia. Existe ainda (alínea b) a assinatura feita mediante um cadastro do usuário, no Poder Judiciário. Esse cadastro, reza a alínea, funcionará conforme as regras dos órgãos do Judiciário a que o juiz se encontra vinculado. Deve-se lembrar sempre que o inciso III fala, no seu caput, em identificação inequívoca do signatário. Eis um ponto essencial: é preciso que os tribunais estabeleçam normas que garantam a “identificação inequívoca do signatário”, de sorte a determinar que se trata, acima de qualquer dúvida, da firma do juiz. A impossibilidade de identificação torna nulo o ato, a menos que o signatário informe a sua assinatura. Os métodos de garantir identificação inequívoca precisam ser meticulosos, inclusive para resolver o problema da homonímia. “Art. 169.............................................................................................. § 1º É vedado usar abreviaturas. § 2º Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico, os atos processuais praticados na presença do juiz poderão ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na forma da lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes. § 3º No caso do § 2º deste artigo, eventuais contradições na transcrição deverão ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato, sob pena de preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a alegação e a decisão no termo.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. O parágrafo único do art. 169 foi transformado em § 1º pela Lei n. 11.419, que contudo lhe manteve a redação. Os §§ 2º e 3º a mesma lei os acrescentou, relativos ambos à informatização do processo. 2. Já se sabe que o processo eletrônico é o processo digitalizado e arquivado. Admite-se o processo parcialmente eletrônico, como já se assinalou na nota ao § 2º do art. 154. Não importa que o processo seja eletrônico no todo, ou em parte. Pode--se aplicar o § 2º em qualquer das hipóteses. Cuida o parágrafo dos atos praticados diante do juiz. Numerosos atos podem ser produzidos, isto é, praticados na presença do juiz, atos de qualquer dos integrantes de relação processual, partes, terceiros, peritos, testemunhas, Ministério Público, advogados etc. Praticado o ato, o juiz manda arquivá-lo em arquivo eletrônico inviolável (de novo, é preciso ler a Lei n. 11.419). Registra-se a prática do ato em um termo, assinado digitalmente (veja-se o art. 1º, § 2º, I e III, a e b, da Lei n. 11.419). A inviolabilidade do arquivo consiste em admitir o seu acesso somente a pessoas legalmente capacitadas. A violação gera responsabilidade, inclusive criminal, contra o violador e seus coadjuvantes, porém não anulará ato, como elemento do processo, embora possa torná-lo inútil e ineficaz. O parágrafo alude à assinatura do juiz, escrivão, chefe da secretaria, advogados, mas a enumeração não é exaustiva, porque assinarão o termo todas as pessoas participantes do ato, cuja forma pode ser colhida digitalmente. Impossível a assinatura, lavrar-se-á um termo que, então, será assinado e junto aos autos, ou armazenado eletronicamente, ou guardado em cartório. 3. O § 3º, deficientemente redigido – e não só ele... –, trata da hipótese de contradição entre o ato e o registro dele. Essa contradição e, de resto, qualquer outro vício de forma, como obscuridade ou omissão, deve-se alegar no momento em que se reduz o ato a termo para ser armazenado. A preclusão é do direito de impugnar a contradição; não do direito de alegá-la. O juiz decide a arguição, assim que formulada. Em seguida registra a alegação, na sua essência, dispensada a repetição dela, e a sua decisão, que, assim tomadas por termo, serão digitalizadas e arquivadas. “Art. 170. É lícito o uso da taquigrafia, da estenotipia, ou de outro método idôneo, em qualquer juízo ou tribunal.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. O art. 170, que, na redação anterior, só mencionava a taquigrafia, foi alterado para tornar explícita a possibilidade do uso não apenas da estenotipia, já adotada em vários órgãos judiciários, como de qualquer outro método idôneo ao registro dos atos processuais. 2. Num tempo em que a técnica evolui com extrema velocidade, não havia motivos para que, no processo, só se adotasse a escrita, ou a datilografia. Qualquer meio idôneo de documentação pode ser empregado, como armazenamento de dados em computador, a gravação, a filmagem. Parece que a idoneidade, exigida no artigo, pode ser medida por meio de três critérios: conservação, acesso, autenticidade. Urge que o meio empregado possa oferecer segurança de conservação, em ordem a manter o ato documentado no processo. É preciso também que ele seja acessível, no sentido de que o ato fique ao alcance das partes e de terceiros, que tiverem necessidade de examiná-lo (a gravação, a taquigrafia, a estenotipia, o texto posto em discos de computador podem, a qualquer tempo, ser transcritos; o filme pode ser projetado). Por derradeiro, só se deve admitir o emprego de meios resistentes à fraude, ou cuja adulteração a técnica disponível possa detectar, como acontece, hoje, com a inserção de outro som na gravação original. A lógica recomenda que não se utilizem meios cuja sofisticação onere em demasia os responsáveis pelas despesas processuais. A ludindo, sabiamente, a “outro método idôneo”, o legislador fez a norma antecipadamente contemporânea dos processos de documentação que se forem desenvolvendo no setor, que avança e se aperfeiçoa com surpreendente rapidez. “Art. 172. Os atos processuais realizar-se-ão em dias úteis, das seis às vinte horas. § 1º Serão, todavia, concluídos depois das vinte horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano. § 2º A citação e a penhora poderão, em casos excepcionais, e mediante autorização expressa do juiz, realizar-se em domingos e feriados, ou nos dias úteis, fora do horário estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal. § 3º Quando o ato tiver que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição, esta deverá ser apresentada no protocolo, dentro do horário de expediente, nos termos da lei de organização judiciária local.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. A lteraram-se o caput e o § 1º apenas para se estender o período regular de prática dos atos processuais até as vinte horas: das seis (mudou-se a preposição de para das) às vinte horas. Nesse horário se deverão efetivar os atos do processo, realizados na sede do juízo ou fora dela, só se admitindo a conclusão do ato depois do horário final quando a sua interrupção prejudicar-lhe a inteireza (v.g., não será necessário sobrestar a audiência em curso, nem, a fortiori, o depoimento), ou causar grave dano, como ocorreria, por exemplo, se se suspendesse a diligência de busca e apreensão, com risco de desaparecimento de um menor, ou de perecimento ou mutilação da coisa. 2. Os atos processuais realizam-se nos dias úteis e, salvo no caso do § 2º (adaptada essa norma à Constituição de 1988), não podem principiar depois das vinte horas. Muitas vezes, o ato é composto de uma série de outros atos. Notório exemplo disso é a audiência de instrução e julgamento. Nesse caso, presentes os requisitos do § 1º, o ato composto pode ultrapassar o horário do caput, ainda que depois dele comece o ato componente. Aludindo ao período das seis às vinte horas, a lei, obviamente, não está estabelecendo o horário de funcionamento dos órgãos jurisdicionais, que será aquele previsto nas normas de organização judiciária, como deixa claro o § 3º, referindo-se ao horário do expediente. O art. 172 apenas determina o período para a prática dos atos processuais, que, realizados fora dele, serão nulos, à vista da rigidez do comando expresso no caput e nos parágrafos. 3. Referindo-se, expressamente, à citação e à penhora, o § 2º permite que esses atos, e só eles, se realizem nos domingos, nos feriados e também nos dias úteis, fora do horário estabelecido. Podem, consequentemente, começar após o horário normal, não apenas nos dias úteis, como também nos domingos e feriados, quando se admite a sua prática. Se não ociosa, é expletiva a referência ao inciso XI do art. 5º da Constituição, que se sobrepõe à norma ordinária. 4. A imensa maioria dos atos processuais das partes se pratica por meio de petição, no processo judicial, onde a escrita avantaja a oralidade. Tratando--se de ato que por meio de petição se realiza (v.g., a resposta do réu, nas suas três modalidades, as diferentes manifestações das partes, os recursos), reputa-se tempestivamente praticado o ato mediante a entrega da petição no protocolo (geral do foro, se houver; não havendo, na própria repartição cartorária), dentro do expediente estabelecido na norma de organização judiciária aplicável. Entenda-se que a apresentação da petição depois de findo o expediente se reputará intempestiva, ainda que anterior às vinte horas. “Art. 202.............................................................................................. § 3º A carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória pode ser expedida por meio eletrônico, situação em que a assinatura do juiz deverá ser eletrônica, na forma da lei.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. A reforma não apanhou nem o caput nem os dois primeiros parágrafos do art. 202, que continuam em vigor. Apenas acrescentou ao dispositivo o § 3º. 2. Num mundo estreitado pela facilidade das comunicações feitas em segundos entre quaisquer partes do planeta, já não fazem sentido as cartas – precatórias, de ordem ou rogatórias, não importa – materializadas em autos e fórmulas praxistas, como a clássica “assim procedendo fará V. Exa. justiça às partes e a mim especial mercê, que outro tanto farei como deprecado”. O § 3º permite que se solicitem providências por via eletrônica, contanto que haja meios de garantir-se a autenticidade do órgão expedido e se encaminhe a carta ao órgão destinatário competente. Aqui, incidem não apenas as normas reguladoras do cumprimento das cartas, como também os princípios respectivos. Impossível, por qualquer motivo, fazer-se a remessa eletrônica, como na hipótese do § 2º do art. 202, expede-se a carta. Quanto às cartas rogatórias, expedidas e recebidas, será necessária a elaboração legislativa pertinente. O art. 7º da Lei n. 11.419 dispõe que “as cartas precatórias, rogatórias, de ordem e, de um modo geral, todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder Judiciário, bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feitas preferencialmente por meio eletrônico”. Esse dispositivo, entretanto, não exaure as questões relativas às cartas informatizadas. Necessidade há de legislação regulamentar. No tocante às rogatórias, vindas do estrangeiro, não há como desconhecer nem desobedecer a alínea i do inciso I do art. 105 da Constituição Federal, que condiciona o cumprimento de tais cartas ao exequatur do Superior Tribunal de Justiça. A este deverão as rogatórias ser remetidas (não mais ao STF, como estava no ab-rogado art. 211 do CPC), ainda quando mandadas a outro órgão jurisdicional, como, por exemplo, o juízo da causa. O Superior Tribunal de Justiça deverá tomar providências para o célere cumprimento da carta. No tocante às rogatórias remetidas ao exterior, deve-se proceder na forma de tratados ou convenções. Não havendo, aplicam-se as regras e princípios de direito. Desnecessário lembrar que o cumprimento da carta noutro país se fará conforme a legislação nele vigente. “Art. 219.............................................................................................. § 1º A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação. § 2º Incumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias subsequentes ao despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário. § 3º Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo de 90 (noventa) dias. ............................................................................................. § 5º O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição. .............................................................................................” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 11.280, art. 3º) 1. A Lei n. 8.952, de 13-12-1994, manteve incólumes o caput do art. 219 e os seus §§ 4º, 5º e 6º. Modificou, entretanto, o § 1º, para fazer com que a interrupção da prescrição retroaja não ao despacho de deferimento da inicial, mas à propositura da ação. No § 2º, explicitou a isenção de responsabilidade da parte por demora para a qual não houver concorrido e, no § 3º, inovou o modo de prorrogação do prazo de citação. A redação do § 5º foi substancialmente alterada pela Lei n. 11.280, de 16-2-2006. 2. Conforme a redação do § 1º do art. 219, a prescrição se considera interrompida, não mais na data do despacho que ordena a citação, mas na data da propositura da ação, definida no art. 263. Assim, a simples distribuição da inicial (rectius, a entrega da petição ao distribuidor, para ser distribuída, não se podendo imputar ao autor algum retardamento nesse ato, no qual ele não interfere), ou a apresentação dela ao juiz, nas condições do art. 263, ainda que ele se limite a ordenar-lhe a autuação e o registro, ou a determinar sua emenda, já interrompe a prescrição, desde que (a) a parte promova a citação nos dez dias seguintes ao despacho que a ordenar, (b) seja o prazo prorrogado até noventa dias e a citação se faça dentro dessa prorrogação. Ocorrendo a citação, nessas condições, a prescrição retroage à data da propositura da ação, não mais apenas à data do despacho que ordena aquele ato, como dispunha a anterior redação do § 1º. 3. Doutrina e jurisprudência já interpretaram a frase promover a citação, sobre a qual não cabem digressões num opúsculo que contém ligeiras observações sobre as leis que alteraram o Código. A redação do § 2º do art. 219 apenas adotou como norma o que os autores e a jurisprudência já haviam assentado: da demora da citação, por fato exclusivo do serviço judiciário (v.g., escassez de serventuários, número reduzido ou conduta desidiosa de oficiais de justiça, lentidão dos serviços postais, quando pelo correio se procede ao ato), não decorre prejuízo para a parte a quem incumbe providenciá-la, pagando as despesas respectivas e fornecendo elementos corretos para a localização do citando. Em outras palavras, a citação realizada fora do decêndio legal, ou fora do prazo de prorrogação, só prejudica a parte se ela concorrer para a tardança. 4. A redação do § 3º do art. 219 simplificou o modo de prorrogação. O juiz prorroga o prazo da citação até noventa dias, de ofício, ou por solicitação do serventuário ou do oficial de justiça, ou mediante requerimento da parte, que pode ser formulado no dia seguinte ao termo final do decêndio. Não se afasta a hipótese de o juiz, atendendo a circunstâncias da causa ou do serviço judiciário, autorizar a prorrogação do prazo, já no despacho que ordenar a citação. O § 3º fala apenas em citação do réu porque, ao redigi-lo, o legislador voltou os olhos para o fato de que a prescrição é da pretensão contra ele deduzida. Entretanto, como ato de integração de pessoa no processo, a citação não se dirige apenas ao réu. O parágrafo único do art. 47 deixa inequívoco este ponto: cita-se também o litisconsorte necessário ativo que não propôs a ação. 5. Na sua nova redação, o § 5º avançou em relação à norma anterior, derrogada pela Lei n. 11.280, de 16-2-2006, que só permitia a declaração, de ofício, da prescrição de direitos não patrimoniais. O § 5º permite que, de ofício, o juiz pronuncie a prescrição, independentemente de iniciativa da parte a quem ela aproveita. Pronunciada a prescrição, há julgamento do mérito e o consequente prosseguimento do processo, para cumprimento de eventual condenação (v.g., custas e honorários). 6. A Lei n. 11.280 é de 16-2-2006. Só por isso, o seu art. 3º teria ab-rogado o art. 194 da Lei n. 10.406, de 10-1-2002, instituidora do Código Civil, mas essa revogação está expressa no art. 11 daquela lei. Diz tal norma que “o juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz”. O § 5 º do art. 219 do CPC permite agora ao juiz suprir, de ofício, a alegação de prescrição de incapazes ou capazes, indistintamente. A prescrição extingue a pretensão (CC, art. 189), não o direito. Satisfeito este, não há como desmanchar-se a situação jurídica daí decorrente. 7. É definitiva a sentença do § 5º, como está no art. 269, IV, logo suscetível de fazer coisa julgada material (art. 467). Há que se distinguir duas situações. Na primeira, o réu ainda não está integrado no processo, nem por citação nem pelo comparecimento espontâneo (art. 214). Na segunda, a relação processual já se singularizou pela integração do réu. Nesta hipótese, o § 6º não incide. O réu será regularmente intimado da sentença. Na primeira hipótese, o § 6º deve ser aplicado, tal como ocorre no caso do art. 285-A, introduzido no Código pelo art. 2º da Lei n. 11.277, de 7-2-2006. Ainda fora do processo, é impositivo que o réu tome ciência da sentença favorável. O parágrafo, demasiadamente cauteloso, fala em comunicação ao réu. Esta comunicação, entretanto, é citação, ato de integração do réu no processo, insuficiente a definição do art. 213, onde se fala apenas em chamamento do réu ou do interessado (jurisdição voluntária) para defender-se. Pode haver citação da sentença. Veja--se o caso do § 1º do art. 12. Se um dos herdeiros ou sucessores se recusa a litigar, será citado para ficar num processo. Outro exemplo está no art. 952. Tratando-se de citação, ela se fará pelos modos regulares, inclusive por rogatória. As despesas serão do autor que, se não paga honorários, arca com as despesas, conforme o art. 20. “Art. 221.............................................................................................. IV – por meio eletrônico, conforme regulado em lei própria.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. Incólumes o caput e os três incisos do art. 221, a Lei n. 11.419, de 19-12-2006, acrescentou-lhe o item IV, para admitir a citação por meio eletrônico. 2. O inciso IV acrescenta a citação eletrônica, mas conforme o procedimento regulado em lei própria. Essa lei é a Lei n. 11.419, de 12-12- 2006 (art. 9º), diploma regulador da informatização do processo judicial. Conforme o art. 9º, inserto no Capítulo III da lei especial, referente ao processo eletrônico, as citações – e bem assim as intimações e notificações – também serão feitas por meio eletrônico. Pode-se citar, por esse meio, a Fazenda Pública e, a fortiori, qualquer pessoa jurídica ou física da Administração direta ou indireta. Pressuposto de validade da citação do inciso IV do art. 221 é a possibilidade de acesso à íntegra do processo. Sem isso, a citação será nula. O acesso à íntegra do processo faz-se eletronicamente, ou pela consulta aos autos, se existirem. O prazo para a resposta começará a correr da citação pelo processo eletrônico, tal como acontece quando o citando comparece espontaneamente. As regras gerais sobre a contagem do prazo incidem. O § 2º do art. 9º da Lei n. 11.419 resolve o problema decorrente da impossibilidade da citação, intimação ou notificação por meio eletrônico. Efetiva--se a comunicação conforme o diploma processual (CPC, art. 221), mas digitaliza-se, armazenando o documento físico comprobatório da citação, como, v.g., o mandado. Posteriormente, em prazo ou data designada pelo juiz, o documento será destruído, permanecendo, todavia, o texto transposto para o arquivo eletrônico. “Art. 237.............................................................................................. Parágrafo único. As intimações podem ser feitas de forma eletrônica, conforme regulado em lei própria.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. A Lei n. 11.419 acrescentou o parágrafo único do art. 237 para permitir a intimação eletrônica, mas sem alterar o caput ou os dois itens do dispositivo. 2. Semelhante a norma do parágrafo único do art. 237 à do inciso IV do art. 221, remeto o leitor às considerações feitas sobre este dispositivo. “Art. 238.............................................................................................. Parágrafo único. Presumem-se válidas as comunicações e intimações dirigidas ao endereço residencial ou profissional declinado na inicial, contestação ou embargos, cumprindo às partes atualizar o respectivo endereço sempre que houver modificação temporária ou definitiva.” (Lei n. 11.382, art. 2º) 1. O caput do artigo estabelece que, salvo se a lei dispuser em contrário (v.g., art. 267, § 1º), ou se a intimação se efetuar em cartório, ela se realizará pelo correio. O parágrafo único veio complementar a norma. 2. O parágrafo que agora aparece cria uma presunção de que, dirigida ao endereço residencial ou profissional indicado na inicial, na contestação ou nos embargos, as comunicações e intimações reputam-se válidas. Obviamente, se o advogado exercer a profissão na sua própria residência, reputar-se-á feita a intimação para ali dirigida. O endereço indicado no timbre será considerado o profissional, superando a declaração exigida no inciso I do art. 39, cujos incisos I e II foram complementados pelo parágrafo único. Continua em vigor o art. 237, II. A presunção criada pelo parágrafo único é relativa. Pode acontecer, por exemplo, que, notoriamente na comarca (art. 334, I), o escritório do advogado, ou a residência dele ou da parte, se tenha tornado inacessível (art. 231, II). Nesta hipótese, não vale a intimação, salvo se voltar o aviso de recebimento devidamente cumprido. A ida notoriamente esporádica do advogado ao seu escritório, como acontecia com Rui Barbosa, no depoimento de Rodrigo Octávio, não obsta à incidência do parágrafo. É preciso atentar ao fato de que o superveniente parágrafo único insere--se na seção relativa às intimações, aplicando-se subsidiariamente os dispositivos a ela referentes. Não se pode esquecer que o art. 244 também incide relativamente a ela. “Art. 239.............................................................................................. Parágrafo único.............................................................................................. III – a nota de ciente ou certidão de que o interessado não a apôs no mandado.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. Mantendo intocados o caput e os demais incisos do art. 239, a lei alterou o de n. III, que dispunha, insensatamente, que a certidão da intimação devia conter os nomes das testemunhas que assistiram ao ato, se a pessoa intimada se recusasse a apor a nota de ciente. A exigência de que fosse testemunhada a intimação da pessoa recalcitrante em exarar ciência dela não chegou a ser obedecida, ao menos nos foros onde atuo profissionalmente, numa clara demonstração de repúdio à norma que consagra o absurdo. A lei nunca exigiu testemunhas no caso de recusa do citando a assinar o mandado. Tal como redigido agora, o inciso III, lido, como deve ser, junto com o caput do parágrafo, apresenta esta impropriedade formal, felizmente de nenhuma repercussão prática: “a certidão deve conter ... certidão de que o interessado não a apôs no mandado”. 2. Na conformidade da redação do inciso III, a certidão de intimação declarará que o intimado exarou ciente, ou que deixou de fazê-lo, militando em favor do que nela se afirmar uma presunção relativa, iuris tantum, de veracidade, que o interessado poderá ilidir mediante qualquer meio de prova. “Art. 242.............................................................................................. § 2º (Revogado.)” (Lei n. 8.952, arts. 1º e 2º) 1. Com a revogação do § 2º, foi renumerado o § 3º do art. 242, que se transformou no § 2º. O parágrafo ab-rogado dispunha que, “não tendo havido prévia intimação do dia e hora designados para a audiência, observar-se-á o disposto nos arts. 236 e 237”. Dispositivo mal redigido e ocioso, cuja eliminação deve ser aprovada. 2. Não se pense que, ao revogar o § 2º, a lei dispensou a intimação para a audiência. Ato processual, deve haver intimação dela, sob pena de nulidade, quanto às partes, Ministério Público e terceiros, dispensadas de comparecer, se não convocadas, as outras pessoas que deverão estar presentes. As regras e princípios são os da intimação, que se extraem dos dispositivos que a regulam. Se não se chegar a acordo na audiência de conciliação de que trata o art. 331, nada impede que a audiência de instrução e julgamento, prevista no § 2º da mesma regra, seja designada naquele próprio ato, intimando-se, desde logo, os que a ele comparecerem, só restando intimarem-se os ausentes. Anote-se, entretanto, que, como a designação da audiência de instrução não se faz, necessariamente, ao fim da audiência de conciliação, precisam ser intimadas para aquela todas as pessoas que devam comparecer ao ato. “Art. 253. Distribuir-se-ão por dependência as causas de qualquer natureza: I – quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada; II – quando, tendo sido extinto o processo, sem julgamento de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda; III – quando houver ajuizamento de ações idênticas, ao juízo prevento.” Parágrafo único.............................................................................................” (Leis n. 10.358, art. 1º, e 11.280, art. 4º) 1. O caput deste artigo e o seu inciso I resultaram da Lei n. 10.358, de 27-12-2001. O inciso II teve a sua redação modificada pela Lei n. 11.280, de 16-2-2006, que também acrescentou ao artigo o seu inciso III. 2. O caput do art. 253 fala em distribuição por dependência, obrigatória conforme o art. 251, onde houver mais de um juiz ou de um escrivão. Da distribuição decorrem efeitos processualmente relevantes, haja vista que ela consubstancia a propositura da ação num dos casos do art. 263. Registro é a anotação, nos assentamentos cartorários, da instauração do processo. Obedece a uma numeração. Pode ocorrer antes da distribuição, como habitualmente ocorre, ou depois dela. A distribuição é a atribuição do processo a um juiz, entre dois ou mais competentes, ainda que atuando num mesmo juízo (v.g., titular e auxiliar), ou a um juízo, onde dois ou mais órgãos competentes existirem. A distribuição a um escrivão dependerá, obviamente, da organização judiciária. A distribuição faz-se por sorteio, atualmente por meios eletrônicos, inacessíveis a manipulações. Os incisos II e III coíbem procedimentos de má-fé. De qualquer modo, a distribuição será alternada, de modo que um juízo não se sobrecarregue em alívio do outro. Deve existir um sistema de compensação. 3. Os conceitos de conexão e de continência encontram-se no Código de Processo Civil desde as suas origens. O art. 103, adotante da teoria de Matteo Pescatore, oferece um conceito de conexão. O art. 104 define continência. Sobre as duas figuras já se pronunciaram doutrina e tribunais. Talvez não seja exagerado lembrar, mesmo num livro voltado para as reformas do Código de Processo Civil, que o conceito de conexão do art. 103 não abrange todos os casos em que ela se verifica. Tomem-se, por exemplo, a ação de despejo por falta de pagamento do aluguel e a ação de consignação do mesmo aluguel. No tocante à continência, é, por igual, insuficiente o art. 104. As partes podem não ser as mesmas e, ainda assim, ocorrer a continência. Imaginem-se diferentes devedores solidários, pedindo um a nulidade da cláusula de contrato e outro, a nulidade de todo esse contrato. A jurisprudência tem sido sábia na aplicação das normas pertinentes, quando, demais dos critérios científicos, descobre esses vínculos, ainda que não se ajustem à letra das normas. A interpretação literal, não há quem o negue, necessária embora, é perigosa. 4. As normas dos incisos II e III são ambas moralizadoras. No caso do inciso II, impede-se a distribuição a outro juízo de processo idêntico ao que foi extinto sem julgamento do mérito. Admitida embora a repropositura da ação (art. 268), nas condições ali estabelecidas (veja-se também a jurisprudência sobre o dispositivo), o inciso impede que o autor vá tentar melhor sorte noutro juízo, se distribuir a ação no mesmo foro. Não importa se a reiteração do pedido for formulada pelo autor sozinho, ou em litisconsórcio, ou apenas contra o réu do processo anterior, ou em litisconsórcio passivo. A distribuição será sempre feita por dependência. A norma deve estender-se também ao caso em que o pedido for cumulado com outros, porque a cumulação não deixa de ser repropositura, já que nela está o pedido formulado no processo extinto sem julgamento do mérito. Se houver nova ação e um dos pedidos cumulados, ou um dos litisconsortes, deslocar a competência para outro juízo (v.g., pôs-se como litisconsorte uma das pessoas do art. 109 da Constituição, o que gera a competência da Justiça Federal), o inciso II não incide. Por isso, não se poderá aplicá-lo. Alteração parcial dos réus haverá quando se suprimirem certos réus da ação anterior, juntando-se a eles outro ou outros, ou apenas reduzindo-se o número deles. Toda vez que houver coincidência parcial entre os réus da ação antecedente e os da subsequente, o inciso incidirá. Se a ação é proposta pelo mesmo autor, ou autores, formulando pedido somente contra réus que não figuraram no polo passivo do processo anterior (imagine-se a hipótese de solidariedade, na qual se pede agora de um devedor solidário o que só de outro se pediu no processo extinto), aí o inciso II não se aplicará. Idem, se o pedido da ação anterior for feito por outro autor, ou autores. O inciso II fala em reiteração do pedido, então pelo mesmo autor, que o estará reiterando, ou em alteração parcial dos réus, o que implica a permanência de algum dos réus da demanda anterior. O elemento subjetivo é determinante da aplicação do inciso II. 5. O Código de Processo Civil define, no § 2º do art. 301, o que sejam ações idênticas. No inciso III, já não se trata da repropositura de ação extinta (art. 268), porém da propositura de duas ou mais ações idênticas, como acontece quando o autor, de má-fé, ajuíza várias iniciais e depois desiste de todas, deixando apenas uma, distribuída ao juízo que sabe ou supõe lhe será o mais propício. Evita-se o jogo (forum shopping, na doutrina do direito comum), fazendo com que todas as ações se concentrem no juízo prevento. Determina-se a prevenção conforme o art. 106, ou o art. 219, no caso deste apenas se as causas idênticas não houverem sido ajuizadas perante juízes com a mesma competência territorial. “Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: ............................................................................................. VII – pela convenção de arbitragem; .............................................................................................” “Art. 269. Haverá resolução de mérito: .............................................................................................” (Leis n. 11.232, art. 1º, e 9.307, art. 41) 1. Para compreender-se a nova redação do caput do art. 267, é mister atentar ao fato de que, na nova sistemática do Código, o processo não se extingue pela sentença de mérito porque a esta se segue, na mesma relação processual, o “cumprimento da sentença”, substituto da execução, regulado nos arts. 475-I a 475-R, a cujas notas se remete o leitor. Se na nova redação do art. 269 fica dito que “haverá resolução de mérito”, é lógico que a lei haja reescrito o art. 267 para falar que, nas hipóteses ali contempladas, nas quais não há julgamento do mérito, o processo se extingue sem resolução dele. 2. O art. 269 já não fala em extinção do processo com julgamento do mérito. Diz que haverá resolução do mérito – não extinção do processo – porque, como já explicado no item anterior, o processo não se extingue, porém continua por meio do cumprimento da sentença (arts. 475-I a 475-R). 3. A nova redação dos cabeços dos arts. 267 e 269 (e tampouco a do § 1º do art. 162) não mudou, absolutamente, a natureza da sentença a que aludem. São terminativas as sentenças do art. 267 e outras que não julgam o mérito. Elas não fazem coisa julgada material. São definitivas as sentenças do art. 269, bem como quaisquer outras que julguem o mérito, isto é, o pedido feito pelo autor da ação. A distinção é essencial. Veja-se, por exemplo, que só as sentenças de mérito fazem coisa julgada material (art. 467) e se submetem ao regime dela. Só estas podem ser desconstituídas por ação rescisória. É criticável a escolha do substantivo resolução, feita pelo legislador, particularmente porque esse nome tem amplo uso no direito civil, onde não se emprega na acepção com que agora aparece. O vocábulo, entretanto, a partir da sua etimologia, é suficiente para designar o fenômeno que o legislador processual teve em mente: julgamento do mérito; solução do conflito submetido à composição do Estado. Na nota ao § 1º do art. 162 já deixei a observação de que o legislador alterou a redação do art. 269 para não falar em extinção do processo, mantendo, entretanto, essa expressão como epígrafe do capítulo do Código de Processo Civil onde ele se encontra (Capítulo III do Título VI do Livro I). 4. A nova redação do inciso VII fala em convenção de arbitragem, consoante a redação que lhe deu o art. 41 da Lei n. 9.307, de 23-9- 1996. Nos termos do art. 3º desta lei, a convenção de arbitragem é o ato pelo qual as partes interessadas ajustam submeter a solução dos seus litígios ao juízo arbitral. A convenção arbitral abrange tanto a cláusula compromissória quanto o compromisso arbitral. O art. 4º da lei específica define a primeira como a convenção pela qual as partes, em um contrato, comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios relativos ao pacto. O compromisso – di-lo o art. 9º da mesma lei – é a convenção de submissão de um litígio à arbitragem. Genérica a cláusula compromissória, o compromisso arbitral tem por objeto um litígio determinado, que ele identifica. Os §§ 1º e 2º do art. 9º da Lei n. 9.307 distinguiram o compromisso arbitral judicial e o compromisso arbitral extrajudicial. Celebra-se aquele por termo nos autos do processo. Realiza-se este por escrito particular, ou instrumento público. O compromisso judicial, referido no § 1º, pressupõe a existência de um processo. O compromisso extrajudicial assina-se fora dos autos, por escrito particular ou público, que, já existindo o processo, pode vir aos autos. Judicial ou extrajudicial, o compromisso consubstanciador da convenção de arbitragem extingue o processo. 5. Para que o juiz, ou o tribunal, que juiz é (veja-se, por exemplo, o § 3º do art. 267, onde se alude ao juiz de qualquer grau de jurisdição), extinga o processo com fundamento no art. 267, VII, é preciso que exista a convenção arbitral, anterior ou posterior à formação do processo. Não se pode, todavia, esquecer do inciso IX do art. 301 e do seu § 4º. Vejam-se, pois, as observações feitas adiante a essas normas. “Art. 272. O procedimento comum é ordinário ou sumário. Parágrafo único. O procedimento especial e o procedimento sumário regem-se pelas disposições que lhes são próprias, aplicando-se-lhes, subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. A redação do caput do artigo apenas substituiu o superlativo sumaríssimo pelo adjetivo sumário. O art. 273 foi transformado no parágrafo único do art. 272, operando-se nele a mesma substituição. Manteve-se a impropriedade de se usar, desnecessariamente, o substantivo disposições, duas vezes, no mesmo texto. 2. O legislador da Lei n. 8.952 incidiu no erro do autor do Código de Processo Civil, que, sem nenhuma finalidade prática, procedeu a uma classificação que cabia à doutrina, atenuada, entretanto, a falta daquele pelo empenho de preservar, tanto quanto possível, a redação primitiva. Transposto para o parágrafo único do art. 272 o que estava no art. 273, abriu-se espaço, neste último, para a disciplina da tutela antecipada, da qual tratarei em seguida. 3. A Lei n. 8.952, de 13-12-1994, antecipou-se à Lei n. 9.245, de 26-12-1995, e dividiu o procedimento comum em ordinário e sumário, gerando certa perplexidade, porque, quando aquele diploma entrou em vigor, ainda não vigia o mais recente, que substituiu o procedimento sumaríssimo pelo procedimento sumário. A alteração da nomenclatura foi explicada no item 4 da Exposição de Motivos do Ministro da Justiça, acompanhante da mensagem presidencial n. 238, de 7-5-1993, que remeteu ao Congresso o projeto afinal convertido na Lei n. 9.245, de 26-12-1995: sumaríssimo é o procedimento instituído para as causas da competência dos juizados especiais, a que alude o art. 98, I, da Constituição, atualmente disciplinadas pela Lei n. 9.099, de 26-9-1995. De fato, esse procedimento constitui espécie ainda mais abreviada, simples e célere do que a prevista nos arts. 275 a 281 do CPC. Pode-se, então, dizer que, no direito processual positivo brasileiro, o procedimento é comum ou especial, subdividindo-se aquele em ordinário, sumário e sumaríssimo, reguladas as duas primeiras categorias no Código e a última em lei extravagante. 4. O parágrafo único do art. 272, anterior art. 273, continua repetindo, na essência, o mesmo preceito: os procedimentos especificamente disciplinados no Código, ou em leis extravagantes, assim como o procedimento sumário, regem-se pelas normas que os regulam, mas as omissões dessas regras se suprem pela aplicação das disposições do procedimento ordinário, o qual, como procedimento padrão, é subsidiário dos demais, só deixando de contribuir para a mecânica deles nas suas próprias particularidades, ou no que aqueles tiverem de peculiar. “Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1º Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento. § 2º Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. § 3º A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4º e 5º, e 461-A. § 4º A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5º Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento. § 6º A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. § 7º Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 10.444, art. 1º) 1. A Lei n. 8.952, de 13-12-1994, criou o parágrafo único do art. 272 e para ele transferiu com alteração terminológica a norma do art. 273, como se assinalou, na nota àquele artigo. Assim procedendo, o legislador criou espaço para regular, no art. 273, a antecipação de tutela. A Lei n. 10.444, de 7-5-2002, modificou a redação do § 3º e acrescentou ao dispositivo os §§ 6º e 7º. O Anteprojeto de Reforma do Código de Processo Civil da Comissão Revisora de 1985, referida nos esclarecimentos preliminares à 1ª edição, regulou a antecipação da tutela no Título IV do seu Livro III, nos arts. 889-E a 889-G. O trabalho da nossa Comissão inspirou, visivelmente, o legislador da Lei n. 8.952. 2. O instituto da antecipação da tutela não constitui nenhum bicho de sete cabeças. Trata-se de inovação salutar, que haverá de ser recebida com ânimo favorável porque torna possível a rápida prevenção ou composição da lide, sem sujeitar a prestação jurisdicional às prejudiciais delongas impostas pela natureza do processo e pelas notórias deficiências da administração da justiça. Não há razões para receber a novidade, nem com desconfiança, nem com espírito misoneísta, nocivo ao aperfeiçoamento da prestação jurisdicional. 3. Conquanto este trabalho se componha de ligeiras observações às leis de reforma do Código de Processo Civil, sem a preocupação com análises de profundidade, cabe uma palavra sobre a natureza do instituto. Não se trata de medida cautelar, concedida diante das regras e princípios que disciplinam essa espécie do processo civil contencioso. Cuida-se de prestação jurisdicional cognitiva, consistente na outorga adiantada da proteção que se busca no processo de conhecimento, a qual, verificados os pressupostos da lei, é anteposta ao momento procedimental próprio. Configurados os respectivos requisitos, que se descobrem no caput do artigo, nos seus dois incisos e no seu § 2º, o juiz, por razões de economia, celeridade, efetividade, concede, desde logo, e provisoriamente, a proteção jurídica, que só a sentença transitada em julgado assegura em termos definitivos. Assim me manifestei na 2ª edição deste livro. A prática do instituto tem mostrado as suas vantagens. Claro que se encontram deturpações da norma do art. 273 e dos seus parágrafos, o que, contudo, não desmerece o instituto nem o despe da sua utilidade, mormente se se considerarem as delongas do processo judicial que ele remedeia. A contínua outorga da tutela antecipada tem estimulado fértil produção doutrinária e repetida aplicação das normas seguintes pelos juízos e tribunais, que vão acomodando as suas divergências, em prol de uma tentativa de aplicação uniforme da lei. Do quanto rendeu a antecipação, na doutrina e na jurisprudência, dão mostras as sete páginas e meia de referências doutrinárias e jurisprudenciais da 38ª edição do insuperável Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, de Theotonio Negrão, obra mantida nas alturas, em que a coloca o saudoso autor pela competência e devotamento de José Roberto F. Gouvêa. Não há espaço, num pequeno livro da natureza deste, para tratar demoradamente do instituto porque esta não é a sua finalidade. Registrou- se, entretanto, a valiosa produção dos autores e tribunais para proveito do leitor. 4. Colhem-se os pressupostos de concessão da tutela, integrados no próprio art. 273: a) Sua outorga depende de requerimento, não podendo a antecipação ser concedida de ofício (“o juiz poderá, a requerimento da parte ...”). A parte a que se refere a primeira proposição do caput do artigo é não apenas o autor, como também o Ministério Público, ou o terceiro interveniente. Aludindo à antecipação dos efeitos da tutela “pretendida no pedido inicial” e à “verossimilhança da alegação”, obviamente a que fundamenta o pedido, o artigo excluiu a possibilidade de requerimento pelo réu. Não sei, contudo, se, diante do princípio da igualdade, não haverá espaço para a construção de que o pedido possa também ser feito pelo réu, salvo na hipótese do inciso II. Sem me pronunciar sobre ela, apenas suscito a questão, incompatível com a índole deste trabalho, para estimular a facúndia dos processualistas. O requerimento de tutela antecipada é feito por petição nos próprios autos do processo, sem a abertura de apenso. Nada obsta a que, na própria inicial, demonstrando os pressupostos do caput, do inciso I (não do inciso II que, evidentemente, só se verificam diante da resposta ou da conduta protelatória do réu) e do § 2º do art. 273, o autor requeira, desde logo, a antecipação. O juiz, todavia, em nenhuma hipótese a concederá liminarmente, ou sem audiência do réu, que terá oportunidade de manifestar-se sobre o pedido, na contestação, caso ele tenha sido formulado na inicial, ou no prazo de cinco dias (art. 185), se feito em petição avulsa (este ponto, que exprime a minha convicção doutrinária, é controvertido). b) É indispensável a prova inequívoca, evidente, manifesta da alegação do autor, com intensidade para convencer o juiz de que a alegação ou alegações são verossímeis, isto é, que pareçam verdadeiras. Acentuando a necessidade de prova inequívoca, suscetível de convencer da verossimilhança, a lei limita o arbítrio do juiz, que se haverá de guiar pela realidade objetivamente demonstrada no processo, tanto assim que o § 1º exige que, na decisão, o juiz indique as razões do seu convencimento, “de modo claro e preciso”. c) Urge que a providência antecipada não produza resultados irreversíveis, isto é, resultados de tal ordem que tornem impossível a devolução da situação ao seu estado anterior. Assim dispõe o § 2 º, que restringiu o âmbito da tutela antecipada, só a admitindo sem risco de irreversibilidade. Diante desse dispositivo, assaz limitador, não se admite a antecipação quando a irreversibilidade só puder ser reparada em dinheiro. É preciso que o quadro fático, alterado pela tutela, possa ser recomposto. d) Concomitantemente com os requisitos extraídos do caput e do § 2º, que sempre devem ser atendidos, é preciso que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, aplicando-se, na verificação desse pressuposto, os mesmos princípios, abundantemente versados pela doutrina e aplicados pela jurisprudência, relativos ao periculum in mora. e) Ainda que não verificada a situação do inciso I, é preciso que, simultaneamente com os pressupostos do caput e do § 2º, haja ocorrido ou abuso de direito de defesa, como nos casos do art. 17, I e II, ou quando o réu se limita a alegações de todo inverossímeis, ou desgarradas de qualquer prova, ou, então, que o réu se comporte com manifesto propósito protelatório, buscando fazer arrastado o processo para aproveitar-se da tardança, tal como previsto no art. 17, IV, V e VI. Podem concorrer, a um só tempo, as situações dos incisos I e II, mas para a antecipação da tutela não é mister que elas se configurem conjuntamente. Basta a ocorrência da hipótese prevista no inciso I, ou no inciso II, como deixou claro o legislador, servindo-se da conjunção coordenativa alternativa ou, que une pensamentos que se excluem. 5. A tutela antecipada não precisa coincidir, na extensão, com a tutela pretendida no pedido inicial. Pode ficar aquém desta, como permite o caput do artigo, sem, contudo, ir além, nem se transformar em prestação diversa da demanda. Também quanto a ela se aplicam os arts. 459 e 460. É decisão interlocutória, e por isso agravável, o ato judicial que se pronuncia sobre o pedido de tutela antecipada, quando o concede, o nega, ou deixa de apreciá-lo no seu fundo, porque formulado fora dos casos da lei. O § 1º exige que o juiz indique, com clareza e precisão, as razões do seu convencimento, porém não determina a observância do art. 458. O § 4º permite a revogação ou modificação da medida, em qualquer tempo e, por isso, em qualquer instância, mas mediante decisão fundamentada, de natureza interlocutória e impugnável por agravo. O § 5º deixa muito claro que a antecipação da tutela não extingue o processo. Ele continua, observando-se o procedimento da lei, até o julgamento final, configurado na sentença, que atenderá o art. 458, e que redundará na prestação jurisdicional coincidente com a tutela, se esta houver sido antecipada por inteiro, exorbitante dela, se apenas parcial, revocatória, quando terminativa, de extinção do processo sem julgamento do mérito, ou definitiva, de improcedência. Se a apelação só produzir o efeito devolutivo, a sentença prevalece sobre a tutela, substituindo-a. Se a apelação produzir o duplo efeito, a sentença, só por si, não revoga a tutela antecipada, a menos que o juiz assim decida, na própria sentença ou em separado. Como lhe permite o § 4º. 6. A Lei n. 10.444, de 7-5-2002, deu nova redação ao § 3º. Preceituava a norma anterior que “a execução da tutela antecipada observará, no que couber, o disposto nos incisos II e III do art. 588”. Na atual redação, o parágrafo dispõe que “a efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4º e 5º, e 461-A”. Substituindo o vocábulo execução por efetivação, o legislador, compreensivelmente embora, trocou seis por meia dúzia. Efetivar, no § 3 º, tanto quanto executar, significa dar cumprimento ao que na antecipação de tutela se dispôs, sob as cautelas próprias de um instituto que não implica sentença final, muito menos sentença de mérito transitada em julgado. A lei de alteração do § 3º é de 2002, muito anterior, portanto, à Lei n. 11.232, de 22-12-2005. O legislador não teve em mente o cumprimento da sentença, tal como criado por este diploma. Apenas tomou a cautela de afastar a ideia de que a outorga da antecipação pudesse significar a execução aludida no art. 475-I, mesmo porque, na antecipação, a decisão judicial tem eficácia limitada, marcada inclusive pela reversibilidade. O § 3º alude ao art. 588, revogado pelo art. 9º da Lei n. 11.232, de 22-12-2005. Dispunha ele sobre a execução provisória com as medidas de resguardo, concernentes à sua natureza. Ab-rogado o artigo, incide hoje o art. 475-O, objeto de notas mais adiante. A incidência não se dá porque haja simplesmente acontecido um deslocamento das regras de um artigo para outro, como não ocorreu por causa de redação diferente. Dá-se a incidência porque provisória é a execução, ou efetivação, como quer a letra do § 3º, e por isso se aplicam as normas regentes dela. O § 3º remete ainda aos arts. 461, §§ 4º e 5º, e 461-A. Os artigos tratam, aquele, do cumprimento das obrigações de fazer e não fazer; este, da obrigação de entrega de coisa. As sanções previstas nos dois dispositivos só se impõem nas obrigações por eles tuteladas, não, como é muito óbvio, na de pagar quantia certa. 7. Os §§ 6º e 7º resultam do art. 1º da Lei n. 10.444, de 7-5-2002. Essa regra explicita a possibilidade de antecipação parcial da tutela, quanto a um pedido entre dois ou mais dos pedidos cumulados, porém não de todos. Assim, se o autor pediu “a”, “b” e “c” e a possibilidade de antecipação da tutela só ocorre quanto a “b”, ou “b” e “c”, ela pode ser requerida e concedida. Pediu-se, por exemplo, a decretação da nulidade de certa assembleia e, em cumulação eventual, a decretação da nulidade da eleição de um membro da diretoria e de todo o conselho fiscal. Atendidos os respectivos pressupostos, caberá a antecipação da tutela quanto à nulidade da eleição do diretor. Cuida ainda o § 6º da antecipação da tutela relativamente a uma parcela dos pedidos. Evidentemente, a situação não é igual ao adiantamento da tutela quanto a um dos pedidos. Disto trata o parágrafo quando menciona um ou mais dos pedidos cumulados. Aludindo a parcela deles, o dispositivo permite que se antecipe a tutela relativamente à parte de um só pedido, cumulado com outros ou não, ou à parte de um, ou alguns, ou mesmo de todos os cumulados. Volvendo-se ao exemplo do parágrafo anterior, cabe a antecipação da tutela quanto a um dos membros do conselho cuja escolha se pretende nula. 8. O § 7º consagra a fungibilidade do requerimento (que Pontes de Miranda chamaria ação) de antecipação da tutela, mediante a transformação da procedência pedida (antecipação da tutela) em medida cautelar incidental. A fungibilidade está presente no Código de Processo Civil (v.g., arts. 527, II, 805, 920). No caso do parágrafo em causa, não haverá violação do princípio dispositivo (art. 2º) porque houve pedido. Discordando da concessão da medida cautelar, pode o autor agravar de instrumento (art. 522 ) da transformação do seu pedido, como desistir de providência cautelar outorgada. “Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário: I – nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo; II – nas causas, qualquer que seja o valor: a) de arrendamento rural e de parceria agrícola; b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio; c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução; f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial; g) nos demais casos previstos em lei. Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao estado e à capacidade das pessoas.” (Leis n. 9.245, art. 1º, e 10.444, art. 1º) 1. A Lei n. 9.245, de 26-10-1995, trocou a rubrica do Capítulo III do Título VII do Livro I do Código de Processo Civil – do procedimento sumaríssimo – pela expressão do procedimento sumário. O art. 3º da mesma lei mandou fazer idêntica substituição em qualquer dispositivo do Código (v.g., arts. 550 e 551, § 3º). Não se operou a mudança relativamente ao § 2º do art. 315 porque essa norma foi ab-rogada pelo art. 2º deste diploma, o qual também converteu o § 1º daquele dispositivo em parágrafo único. O procedimento sumaríssimo desapareceu da sistemática do Código, como já antecipara o art. 1º da Lei n. 8.952, de 13-12-1994, alterando a redação do art. 272, que passou a dividir o procedimento comum em ordinário e sumário, antes mesmo da superveniente derrogação dos arts. 275 e seguintes e da epígrafe do capítulo que os reúne. A Exposição de Motivos do Ministro da Justiça, anexa à Mensagem n. 238, de 7-5-1993, pela qual o Presidente da República enviou ao Congresso o projeto convertido em lei, indicou, no item 4, a causa da mudança na denominação do procedimento, de sumaríssimo para sumário: deve-se considerar sumaríssimo o procedimento, previsto no art. 98, I, da CF, dos feitos da competência dos juizados especiais, regidos pela Lei n. 9.099, de 26-9-1995, realmente ainda mais breves do que o mais célere dos modos de desenvolvimento da relação processual disciplinados pelo Código de Processo Civil. Então, ordinário e sumário constituem, no sistema do Código, subdivisões do procedimento comum, ao passo que, como sumaríssimo, conquanto espécie da qual o comum é gênero, se classifica o procedimento objeto da aludida lei. Daí, surge um problema: há leis especiais (v.g., Decreto-Lei n. 58, de 10-12-1937, das vendas de imóveis loteados, art. 16, caput; Lei n. 6.015, de 31-12-1973, dos registros públicos, art. 110, § 4º; Lei n. 6.969, de 10-12-1981, da usucapião especial, art. 5º) não abrangidas pelo art. 3º da Lei n. 9.245, de 26-12-1995, que só restringiu ao Código de Processo Civil a troca da expressão procedimento sumaríssimo por procedimento sumário, as quais continuam aludindo ao primeiro. Nesses casos, deve-se aplicar o procedimento dos arts. 275 a 281, ou o da Lei n. 9.099? As normas das leis especiais subsistiram, já que não revogadas, enquanto desapareceu do Código o rito ou procedimento sumaríssimo, a que elas se referem. Disciplinado este pela Lei n. 9.099, é ele o procedimento que prevalecerá, quando incidirem as regras apontadas. Não instalado na comarca o juizado especial, ou limitada por norma de organização judiciária a competência desse órgão, como permite o art. 93 da Lei n. 9.099, então caberá seguir o procedimento sumário, mediante aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, quando a lei especial remeter a ele, ou aplicação analógica, na conformidade do art. 4º da LICC e do princípio ali consagrado. Outro problema relativo à incidência do procedimento sumário do Código de Processo Civil e do procedimento sumaríssimo da Lei n. 9.099, dos juizados especiais: o art. 3º, I e II, desta última submete ao processo e procedimento nela disciplinados tanto as causas cujo valor não exceda quarenta vezes o salário mínimo, quanto as enumeradas no art. 275, II. Portanto, resta saber quando a causa seguirá o singelo rito da lei especial e quando obedecerá às normas dos arts. 275 e seguintes do Código. Se o valor da causa não exceder quarenta vezes o salário mínimo, ou se se tratar de causa enumerada no art. 275, II, do CPC, incide a Lei n. 9.099, cujo processo e procedimento se adotarão, a menos que, (a) obviamente, ainda não esteja funcionando o juizado especial, ou (b) a norma estadual, dispondo sobre esse órgão, como permite o art. 93 da lei específica, haja limitado a sua competência a determinadas causas, nestas não compreendida a ação que se vai ajuizar, ou (c) se trate de causa excluída da competência do juizado especial ( v.g., as referidas no § 2º do art. 3º da Lei n. 9.099, ou as referidas no art. 8º e no seu § 1º, interpretado a contrario sensu), ou, finalmente, (d) se busque na causa crédito excedente de quarenta salários mínimos (v.g., cobram-se danos em prédio urbano ou rústico, ou honorários profissionais superiores àquele montante – art. 275, II, d e m, respectivamente). Nessas hipóteses, o procedimento será o sumário, regulado agora pelo Código de Processo Civil, salvo se norma dele próprio (v.g., parágrafo único do art. 275, ou qualquer outra, que adote procedimento especial), ou de lei extravagante, excluir aquele rito, casos em que o procedimento será o ordinário, se não existir outro, ou o específico, se previsto em lei. Consequentemente, funcionando, na comarca, juizado especial competente, será ele o competente para as causas de valor não excedente de quarenta salários mínimos, ou enumeradas no inciso II do art. 275. Excedente de quarenta salários, as causas seguirão o procedimento sumário entre esse teto e sessenta salários mínimos. Não tendo sido implantado juizado especial, ou excluída da competência dele a causa que se quer ajuizar, o procedimento sumário aplica-se à ação de qualquer valor, até o limite estipulado no inciso I, na sua vigente redação. 2. O art. 1º da Lei n. 9.245, de 26-12-1995, não ab-rogou o art. 275 do CPC. Apenas o derrogou, revogando-o parcialmente. Subsistem o inciso I daquele dispositivo e o caput do seu inciso II, desdobrado agora em sete alíneas. As causas referidas nas alíneas a a n da anterior redação do inciso II, porém não contempladas nas alíneas a a g do novo texto, ou assumirão o procedimento sumaríssimo da Lei n. 9.099, se, abrangidas por um dos incisos do seu art. 3º, não forem excluídas da competência dos juizados especiais, como indiquei no último parágrafo do item precedente, ou obedecerão ao procedimento sumário, se, pelo valor, couberem no inciso I do art. 275, ou seguirão algum procedimento especial, se a lei o previr. Fora desses casos, ordinário será o procedimento delas. Não me demorarei na análise do atual inciso I. Aumentado embora para sessenta salários mínimos o valor indicado no inciso I, esse item já foi objeto de extensas considerações da doutrina e dos tribunais. Dissertar sobre esses dispositivos não é atribuição desta pequena obra, voltada para inovações. Pela mesma razão, deixo de lado, ao considerar o novo texto, as alíneas a (repetição literal da anterior), c (repetição da alínea d anterior), f (repetição da alínea m anterior, com irrelevante substituição de para a cobrança dos honorários por de cobrança de honorários), assim como o parágrafo único do dispositivo, que reproduziu intacta a norma precedente. Doutrina e jurisprudência já fixaram, abundantemente, a exegese dessas regras. A alínea b do texto atual, aludindo à ação de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio, é, a um tempo, mais sintética e abrangente que a revogada alínea c, onde se falava de ação de responsabilidade pelo pagamento de impostos, taxas, contribuições, despesas e administração de prédio em condomínio. A nova norma engloba qualquer ação pela qual se exijam do condômino quaisquer quantias devidas ao condomínio. Mesmo a ação regressiva de cobrança de que cuidava a segunda parte do art. 625 do Código Civil de 1916 se processa pelo procedimento sumário, como qualquer outra, relativa a débito do comunheiro para com a comunhão, ainda que pago por um dos seus consortes. A atual alínea d repetiu, quase integralmente, o texto da anterior letra e, trocando, entretanto, o substantivo reparação por ressarcimento e restringindo a incidência a acidentes de veículo de via terrestre, assim excluídos os eventos causados por veículos aéreos e marítimos, fluviais e lacustres de qualquer porte. A alínea e inovou, incluindo, entre as causas regidas pelo procedimento sumário, as de cobrança de seguro por danos causados em acidente de veículo. Ressalvou casos em que a lei deu ao credor ação executiva (v.g., os referidos no inciso III do art. 585), como se a norma especial, que concede a execução, pudesse ser implicitamente revogada pela geral. Cabe a ação sumária ainda que se trate da cobrança de indenização, coberta por seguro, por dano causado em acidente de veículo aéreo ou aquático, pois não se vê, na alínea e, a restrição da alínea d, onde se mencionou apenas veículo de via terrestre. A ação sumária de que aqui se trata é a do segurado ou sub-rogatório dele para pedir a indenização, e não a da seguradora para haver o prêmio, pois a norma alude a danos, indicando sinistro já ocorrido. “Art. 276. Na petição inicial, o autor apresentará o rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará quesitos, podendo indicar assistente técnico. Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias, citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob a advertência prevista no § 2º deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os prazos contar-se-ão em dobro. § 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser auxiliado por conciliador. § 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença. § 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por preposto com poderes para transigir. § 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do procedimento sumário em ordinário. § 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior complexidade.” (Lei n. 9.245, art. 1º) 1. Os novos textos dos arts. 276 e 277 tratam de matérias versadas nos primitivos arts. 276, 277 e 278, ab-rogados pela Lei n. 9.245. Assemelham-se algumas das regras daqueles dois dispositivos a preceitos constantes dos três anteriores, mas outras aparecem só agora. Por isso, convém fazer observações às normas supervenientes, ponderando-se, todavia, que muito há de proveitoso na doutrina e na jurisprudência até hoje acumuladas. Também não se desconsidere o fato de que o procedimento sumário, na disciplina que lhe dão os arts. 275 a 281, integra o Código de Processo Civil, à luz de cujo sistema se devem interpretar seus dispositivos. O procedimento ordinário aplica- se subsidiariamente, consoante o parágrafo único do art. 272. 2. A ação sumária (expressão elíptica que, na verdade, indica a ação cujo processo se desenvolve pelo procedimento sumário) começa por petição inicial escrita, que deve preencher os requisitos dos arts. 282, 283 e 39, I. Evidentemente, pode ser indeferida como qualquer outra, cumprindo também ao juiz determinar-lhe a emenda ou a complementação, no caso do art. 284. Se o juiz verificar, de plano, o u depois de corrigir a inicial, que o procedimento sumário é impróprio, ainda assim deverá recebê-la e ordenar-lhe o processamento pelo rito cabível, a menos que ele seja absolutamente incompetente, caso em que ordenará a remessa dela ao órgão que tiver competência, não afastada a hipótese de que, mesmo aí, ordene a citação para evitar a consumação de prazo extintivo (art. 219). Na própria inicial, o autor oferecerá o rol de testemunhas, limitado ao máximo de dez pessoas (art. 407, parágrafo único). Se requerer perícia, incumbe ao demandante formular seus quesitos, na própria petição, ou em folha anexa. Diz o art. 276 que ele poderá também indicar seu assistente técnico, cuja nomeação, contudo, não se torna indispensável. Omissa a inicial quanto ao ponto, subentende-se que o autor confia no perito designado pelo juízo. A falta de formulação de quesitos e de indicação do assistente por parte do autor, que requereu prova pericial, gera preclusão (art. 183). Se o juiz deferir a perícia de ofício, ou a requerimento do réu, o autor, que não houver postulado essa prova na inicial, ainda poderá formular quesitos e indicar assistente na própria audiência, tal como o demandado (art. 278). 3. Deferindo a petição inicial, o juiz designa a audiência de conciliação, a se realizar no prazo de trinta dias, como determina o art. 277. O descumprimento desse prazo não acarreta qualquer nulidade, mas submete a sanções disciplinares o juiz que o violar sem motivo justificado. Cita-se o réu pelos meios admitidos (art. 221). A citação deve efetivar-se com antecedência mínima de dez dias da audiência sob pena de nulidade dessa audiência. O decêndio é dilatório, sem que o réu tenha de praticar qualquer ato dentro desse período, concedido a ele para aprestar sua defesa. Do instrumento de citação constará, por inteiro, a advertência do § 2º do próprio artigo, conforme o qual se reputarão verdadeiros os fatos alegados na inicial, salvo se o contrário resultar da prova dos autos. A falta desse aviso não anula a citação, mas impede a incidência da sanção prevista no § 2º, caso o réu não compareça. Quando ré a Fazenda Pública, os prazos se contarão em dobro, segundo a última proposição do caput do art. 277. Por isso, ré a Fazenda, a audiência ocorrerá no prazo máximo de sessenta dias e ela será citada com antecedência de vinte. O art. 277 estatui que o juiz determinará o comparecimento das partes, que o § 3º diz pessoal. Sobre o particular, veja-se o item 5, infra. 4. No procedimento sumário, não há duas audiências, uma de conciliação e outra de instrução e julgamento, como ocorre nos domínios do art. 331 e seu § 2º. A menos que incida o § 2º do art. 278 (veja-se nos comentários a esse artigo o item 4), a audiência deve ser uma só, como resulta da interpretação, a contrario sensu, do § 2º do art. 278, destinando-se ela à conciliação, ao oferecimento da resposta do réu, à instrução e, se possível, ao julgamento, por meio de sentença que, no entanto, o juiz pode proferir em dez dias (art. 281). Sobre a conciliação e suas consequências, leia-se o que escrevi, neste livro, nas observações ao inciso IV do art. 125 e ao art. 331 e seus parágrafos, resultantes do art. 1º da Lei n. 8.952, de 13-12-1994, e do art. 1º da Lei n. 10.444, de 7-5-2002. O § 1º do art. 277 permite ao juiz fazer-se assistir por um conciliador, que não precisa ser recrutado, preferencialmente, entre bacharéis em direito, como exige o art. 7 º da Lei n. 9.099, de 26-9-1995, dos juizados especiais. Deve o juiz escolher o conciliador entre pessoas idôneas, experientes, respeitáveis. Sua função assemelha-se à do mediador, figura que vai tomando dimensões relevantes no direito contemporâneo e cujas atividades já se encontram reguladas em leis estrangeiras: ele nada decide, mas pondera, aconselha e exorta, concitando as partes, sem as constranger, a findarem o conflito por acordo amigável, cujas vantagens deve assinalar. Obtida a conciliação, que pode levar à desistência, à transação, à renúncia ao direito sobre que se funda a ação, ao reconhecimento do pedido, cumpre ao juiz homologá-la por sentença, que, nas três últimas hipóteses, constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 475- N, III, acrescentado pelo art. 4º da Lei n. 11.232. A simples desistência não impede a repropositura da ação (art. 268). 5. Enquanto o caput do art. 277 prescreve que, ao deferir a inicial, o juiz deve ordenar o comparecimento das partes, o seu § 2º comina sanção ao réu ausente da audiência e o § 3º dispõe que as partes comparecerão pessoalmente ao ato, facultando-lhes a representação por preposto, munido de poderes para transigir. Essas normas não dispensam, de nenhum modo, a representação das partes por advogado, como exige o art. 36 do CPC, ressalvadas as exceções nele previstas. Constituindo a capacidade postulatória, que se consubstancia no binômio parte-advogado, um pressuposto processual, cujo atendimento o art. 36 torna indispensável, só se admitiria a postulação pela própria parte se ela estivesse expressamente prevista na lei, como ocorre no art. 9º da Lei n. 9.099, que faz a assistência do advogado opcional, nas causas da competência dos juizados especiais, se o valor delas não ultrapassar vinte salários mínimos, tornando obrigatória a representação, se o valor exceder desse limite. Seguramente, consoante o princípio de que a lei não usa palavras inúteis, tem que se descobrir o significado da regra do § 3º do art. 277, que ordena o comparecimento pessoal das partes à audiência. Esse sentido se colhe na própria norma, quando ela permite a representação das partes por preposto (que pode ser o advogado delas) com poderes para transigir: quer a lei a presença dos contendores para possibilitar a conciliação, na qual tanto ela se empenha que permite a substituição dos litigantes por quem possa transigir em nome deles. Se uma das partes ou ambas não comparecerem, ou não enviarem preposto, só se fazendo representar por advogados sem poder de transação, há de se presumir inviável a composição e o processo segue adiante, como disposto no caput do art. 278. Contudo, o comparecimento das partes não dispensa o do advogado, já que as normas concernentes ao procedimento sumário não oferecem margem para afastar a incidência do art. 36. Se o demandado não comparece, mas se faz representar por advogado, o § 2º do art. 277 não se aplica, porque só tem cabimento se o réu ficar revel, isto é, se não for à audiência, junto com seu advogado, ou representado por ele, e se nela deixar de oferecer sua resposta. Nesse caso, presumem-se verdadeiros os fatos alegados na inicial, tal como previsto no art. 319. Se a prova dos autos, juntada pelo autor ou produzida por determinação do juiz, desconvencer da veracidade das alegações da inicial, a ausência da resposta do réu o torna revel, mas a revelia não produz o efeito do art. 319. Nesse caso, revelia ocorre e também se opera a sanção do art. 322, facultado ao réu intervir no processo, como assegura esse dispositivo. Se a revelia ocorrer e produzir seu efeito, o juiz sentencia desde logo, conforme o art. 277, § 2º, última parte, norma que, por certo, não impede o juiz de decidir no prazo do art. 281. 6. Cuide-se, agora, dos §§ 4º e 5º do art. 277, os quais, embora antepostos ao art. 278, pressupõem fase da audiência de conciliação subsequente ao malogro da tentativa de acordo, ou a impossibilidade dela por falta do comparecimento das partes ou de preposto (advogado ou terceiro) habilitado a transigir. Na audiência de conciliação, o réu, por seu advogado, oferece resposta escrita ou oral. Essa resposta pode conter impugnação ao valor da causa, a qual, pela estrutura do procedimento sumário, não obedece à segunda parte do art. 261, mas se formaliza nos próprios autos, verbalmente, ou por pedido escrito, formulado na própria contestação ou em petição separada. Pode também a resposta alegar o descabimento do procedimento sumário, porfiando a adoção de outro rito, ordinário, sumaríssimo, ou especial. Pode ainda ocorrer que a justa composição da lide imponha a realização de perícia complexa. Verificadas essas hipóteses, o juiz, ouvidas as partes porque o contraditório é indispensável, profere, na audiência de conciliação, uma decisão interlocutória, que outra coisa não é que o velho despacho saneador, regulado, hoje, tanto no § 4º do art. 277, concernente ao procedimento sumário, quanto no § 2º do art. 331, relativo ao procedimento ordinário. Se a decisão sobre o valor da causa a puser fora da incidência do art. 275, I; se a deliberação sobre a sua natureza a excluir do rol do inciso II desse dispositivo; se decidir pela complexidade da perícia ordenada, o juiz, como determinam os §§ 4º e 5º, converterá o procedimento de sumário em ordinário. Se a natureza da causa impuser procedimento especial, este, e não o ordinário, deverá ser obedecido. Nesses casos, encerra-se a audiência, passando o réu a dispor do prazo de quinze dias para responder (art. 297), ou do prazo de resposta no procedimento especial, contado esse prazo da intimação da decisão de conversão, sem necessidade de outra citação, porque o demandado já se encontrará integrado na relação processual. A realização da perícia reputada complexa ficará sobrestada até o momento próprio para a sua produção no procedimento a ser seguido. Aliás, o § 4º disse pouco quando falou em conversão do procedimento sumário em ordinário, porque bem pode acontecer que ele se transforme em especial (v.g., por equívoco, e ainda afeito ao texto anterior do art. 275, II, h, o autor propôs ação sumária de recuperação de posse de imóvel dado em comodato, quando cabível é a ação do art. 926). “Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico. § 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. § 2º Havendo necessidade de produção de prova oral e não ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 329 e 330, I e II, será designada audiência de instrução e julgamento para data próxima, não excedente de trinta dias, salvo se houver determinação de perícia. Art. 279. Os atos probatórios realizados em audiência poderão ser documentados mediante taquigrafia, estenotipia ou outro método hábil de documentação, fazendo-se a respectiva transcrição se a determinar o juiz. Parágrafo único. Nas comarcas ou varas em que não for possível a taquigrafia, a esteonotipia ou outro método de documentação, os depoimentos serão reduzidos a termo, do qual constará apenas o essencial.” (Lei n. 9.245, art. 1º) 1. Os atuais arts. 278 e 279 disciplinam o contraditório e a instrução no procedimento sumário, abrindo lugar para uma segunda audiência, se não houver possibilidade de julgamento na segunda fase da audiência de conciliação. A regra do primitivo art. 279 subsistiu, na redação do parágrafo único, pois nele também se ordena que o termo dos depoimentos se reduza ao essencial. Cumpre notar que os dois artigos agora examinados não resolvem todos os problemas concernentes à audiência, o que determina a aplicação subsidiária, prevista no parágrafo único do art. 272, do que está nos arts. 450 a 457. Observei, na edição anterior, que, na prática, as feições emprestadas pela lei ao procedimento sumário terminariam, por múltiplas circunstâncias, não trazendo as vantagens imaginadas pelo legislador. Dito e feito. 2. Na ação sumária, cita-se o réu para a audiência de conciliação (art. 277), que principia pela tentativa de composição amigável do conflito, feita pelo juiz, ou pelo conciliador que o assessora. Não alcançada a conciliação, o réu, na própria audiência, agindo por seu advogado, sem o qual, salvo nas exceções do art. 36, não pode postular, dá a sua resposta escrita ou o ral e oferece os documentos cuja apresentação entender adequada. Se pretender produzir prova testemunhal, ele deve apresentar, no mesmo ato, o rol das suas testemunhas. A lei não é explícita, mas pode o réu pedir também o depoimento pessoal do autor, e este o daquele, caso não o tenha requerido na inicial. Se o juiz determinar perícia, de ofício, ou atendendo pedido do autor, ou do próprio réu, caberá também ao demandado, ainda na mesma audiência, formular quesitos e, se quiser, indicar assistente técnico. Assim procederá também o autor, na hipótese de perícia ordenada de ofício, ou só a requerimento do seu adversário. Se o réu, mesmo formulando o pedido previsto no § 1º, só apresentar documentos, ou se o juiz não deferir prova oral, ou se puder colhê- la desde logo (v.g., pediram-se só os depoimentos pessoais das partes que, estando presentes, podem prestá-los desde logo; as partes trouxeram suas testemunhas à audiência de conciliação e há tempo para ouvi-las), o princípio da celeridade (art. 125, II, do CPC, e art. 5º, LXXVIII, da CF) impõe que o juiz, completado o contraditório (ouvindo o autor, no ato, se ocorrer uma das situações previstas nos arts. 326, 327 ou 398) e terminada a instrução, profira seu julgamento, que poderá ainda vir no prazo do art. 281. Esse ato decisório não será, necessariamente, sentença, bastando imaginar-se a acolhida de arguição de incompetência e a consequente determinação de remessa do processo ao órgão competente, por meio de decisão interlocutória. Cabe também ao juiz sentenciar na própria audiência de conciliação, se ocorrer uma das situações previstas no art. 329, ou art. 330, I e II, como se colhe no art. 278, § 2º. Anote-se, quanto ao inciso II do art. 330, que ele só incide se a revelia produzir o efeito do § 2º do art. 277, sem que ocorra a exceção prevista nessa norma. 3. Acertadamente, o art. 278 estatui que o réu apresentará, na própria audiência de conciliação, a sua resposta, evitando a palavra contestação. Com efeito, o réu pode responder por meio das três modalidades referidas no art. 297, com as adaptações indispensáveis ao procedimento sumário, que a lei quer, tanto quanto possível, singelo e expedito. O réu apresentará sua contestação, escrita ou oral, obediente aos arts. 300 e 301 do CPC. Juntará documentos aos autos. Pedirá o depoimento pessoal do autor, se o desejar. Querendo depoimento de testemunhas, fornecerá, no ato da contestação, o respectivo rol. Se requerer perícia, já formulará seus quesitos e indicará assistente técnico, a menos que se satisfaça com o laudo do perito que o juiz vier a nomear. Pode o réu também arguir a incompetência relativa do juiz. A exceção de incompetência não seguirá o rito dos arts. 307 a 311, incompatível com o procedimento sumário e com a possibilidade da sua formulação verbal. Deduzir-se-á a exceção, oralmente, ou por escrito, na própria contestação, ou em peça autônoma. Sobre ela o juiz ouvirá, no próprio ato, o excepto, que será o autor, cuja manifestação se dispensará se, intimado regularmente, ele não comparecer à audiência. Em seguida, o juiz decidirá. As exceções de impedimento e suspeição também podem ser deduzidas da mesma forma. Rejeitando a imputação de impedido ou suspeito, o juiz deverá ordenar o desentranhamento da petição respectiva, ou do termo que documentar a exceção oral, a fim de que eles formem autos apartados, para remessa ao tribunal, na conformidade da segunda parte do art. 313. Nesse caso, o processo e os prazos eventualmente em curso ficarão suspensos (arts. 265, III, e 180). O § 1º do art. 278 admite que o réu, na contestação, formule pedido, em favor dele próprio, desde que tal pedido se funde nos mesmos fatos referidos na inicial. A lterado na forma pela qual se deduz e restringido no objeto, esse pedido tem um nome, do qual se esgueirou, timidamente, o legislador: reconvenção! Aliás, ele próprio reconheceu que, no parágrafo sob exame, estava admitir a ação do art. 315, quando, por intermédio do art. 2º da Lei n. 9.245, de 26-12-1995, ab-rogou o § 2º daquele dispositivo, que não admitia a reconvenção nas causas de procedimento sumaríssimo, hoje sumário. A reconvenção do § 1º do art. 278 se faz oralmente ou por escrito, como capítulo da própria contestação, sem necessidade da peça autônoma referida no art. 299. Indispensável é que ela se funde nos mesmos fatos alegados na inicial, e não noutros, afastada, portanto, a incidência do art. 315. Cumpre, então, que nos mesmos fatos, ou nalguns deles, que o autor houver alinhado na inicial, o réu fundamente a sua pretensão e faça o seu pedido (p. ex.: o réu alega que sofreu danos em virtude de acidente de veículo terrestre, descrito na inicial, e pede a condenação do autor ao ressarcimento deles; ou se diz credor de parte do produto da colheita resultante da parceria agrícola, que levou o autor a juízo, e pede a condenação do demandante; ou afirma falso o documento que o autor quer ver declarado autêntico, na causa de valor não excedente de vinte salários mínimos, e postula a declaração da falsidade). O autor, reconvindo, se manifesta sobre o pedido reconvencional do réu, reconvinte, na própria audiência, dando-se por atendida a garantia do contraditório, se deixou de comparecer a ela. Os pedidos do autor e do réu (que o parágrafo único do art. 17 da Lei n. 9.099 chamou pedidos contrapostos) julgar-se-ão na mesma sentença, consoante o art. 318. 4. Se necessária produção de prova oral (depoimentos pessoais, prova testemunhal), não houver possibilidade de colhê-la na segunda fase da própria audiência de conciliação (haverá, se presentes as partes ou testemunhas, caso em que, bastando o tempo, deverão ser ouvidas sem delongas), o juiz designará uma segunda audiência, esta de instrução e julgamento, a realizar-se em data próxima, não excedente de trinta dias, conforme o § 2º do art. 278. Se o juiz deferir, além da prova oral, prova pericial, também designará, desde logo, a audiência de instrução, a fim de que nela se colham os depoimentos das partes e das testemunhas e, se isso for preciso, os esclarecimentos verbais do perito e assistentes. O deferimento da perícia permite que se ultrapasse o prazo de trinta dias, estabelecido no parágrafo que agora se examina, como nele próprio se dispôs, considerando-se a possibilidade de funcionarem assistentes técnicos (art. 433, parágrafo único). Se o juiz deferir somente a prova pericial, seja porque indeferiu as orais, seja porque não as determinou de ofício, não haverá motivo para que marque a audiência. Há muito tempo defendo o entendimento – reforçado pela redação do § 2º acrescido ao art. 331 pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994 (“designando audiência de instrução e julgamento, se necessário”) – de que o simples deferimento da perícia não impõe, só por si, a realização da audiência. Apresentados o laudo e os pareceres, bastará que o juiz ordene a manifestação das partes sobre eles e julgue em seguida. A audiência, nesse caso, só será designada se o juiz deferir esclarecimentos verbais do perito e assistentes, ou na rara hipótese de que a prova técnica torne conveniente a colheita de prova oral esclarecedora dela. 5. O art. 279 e seu parágrafo único dispõem sobre a documentação dos atos probatórios, realizados em audiência. O parágrafo único repetiu a regra que constava da anterior redação do artigo, objeto de considerações da doutrina e de decisões dos tribunais, o que dispensa minhas observações. Sobre a regra do caput, vejam-se os comentários feitos, neste opúsculo, ao art. 417, na redação dada pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994. “Art. 280. No procedimento sumário não são admissíveis a ação declaratória incidental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada em contrato de seguro. Art. 281. Findos a instrução e os debates orais, o juiz proferirá sentença na própria audiência ou no prazo de dez dias.” (Leis n. 9.245, art. 1º, e 10.444, art. 1º) 1. A Lei n. 9.245, de 26-12-1995, substituiu a anterior redação dos arts. 280 e 281. Ela não repetiu a norma do primeiro, relativa aos debates, porque, quanto à audiência, incidem, subsidiariamente (art. 272, parágrafo único), os arts. 450 a 457, se nos arts. 276 a 281 não se encontrar norma específica. No art. 281, o prazo para a sentença foi aumentado de cinco para dez dias. Pareceu o comando, anteriormente contido nesse dispositivo, de que todos os atos, da propositura da ação à sentença, deveriam realizar-se em noventa dias, mas os prazos estipulados nos atuais arts. 277 e 278, § 2º, espelham a vontade da lei, no sentido da rápida conclusão do procedimento sumário, concebido e instituído para permitir a célere administração da justiça. O art. 280 traduz, eloquentemente, esse empenho. A Lei n. 10.444 derrogou o art. 280. Declarou a inadmissibilidade da ação declaratória incidental e da intervenção de terceiro, com a ressalva de que cabem a assistência e o recurso de terceiro prejudicado. Aparece como novidade da mesma lei a admissibilidade da intervenção fundada em contrato de seguro. Desapareceram os três incisos do art. 280. 2. As diferentes normas do art. 280 refletem o propósito de tornar descomplicado e breve o procedimento sumário, a fim de que se possa prestar a jurisdicação exercida por meio dele com desafogo e rapidez. Obviamente, nem sempre será possível atingir-se o ideal do legislador, porque, no curso do processo de rito sumário, podem, inevitavelmente, surgir questões que lhe travem a marcha. Pense-se, por exemplo, na citação por edital; nas arguições de impedimento ou de suspeição rejeitadas pelo juiz e remetidas ao tribunal com suspensão do feito; nos incidentes de falsidade, ou de exibição de documento ou de coisa; na inspeção judicial e noutros episódios processuais de idêntico jaez. A ocorrência desses irremediáveis percalços mostra que, apesar dos esforços dos processualistas e dos operadores da máquina judiciária, o processo judicial anda longe de atingir a sua efetividade, a sua finalidade de instrumento de atuação da vontade da lei na adaptação do homem na sociedade. Permite o artigo a intervenção de terceiro fundada em contrato de seguro. Essa intervenção pode ocorrer na forma de simples ou qualificada assistência da seguradora sobre a qual repercutirá a sentença. O artigo já se refere à assistência, que é forma de intervenção de terceiro. Consentindo ou determinando a lei, a seguradora pode ingressar como terceiro legitimado pela parte final do art. 280. Intervindo, o terceiro fica sujeito às limitações do artigo. À prova pericial, admissível no procedimento sumário (arts. 276 e 278), aplicam-se, subsidiariamente, as normas relativas à perícia. O regime dos recursos no procedimento sumário é o do art. 522, anotado adiante. 3. O art. 281 dispõe que, findos a instrução e os debates orais, o juiz proferirá sentença na própria audiência ou no prazo de dez dias. A instrução e debates a que alude o artigo podem ocorrer na própria audiência de conciliação, como antes explicado, ou na subsequente audiência de instrução, que será também de julgamento, se nela o juiz proferir sua sentença. Dada na audiência, dela correrá o prazo recursal (art. 506, I). Proferida depois da audiência, esse prazo se contará da intimação (art. 506, II), não havendo lugar para a audiência de leitura e publicação da sentença. Como qualquer sentença, a que conclui o procedimento sumário comporta embargos de declaração (art. 535, I e II, com a redação do art. 1º da Lei n. 8.950, de 13-12-1994) e é apelável (art. 513), mas não há revisor na apelação, conforme o § 3º do art. 551, resultante do mesmo artigo daquele diploma. 4. Resta dizer uma linha sobre o cabimento da antecipação da tutela (art. 273) no procedimento sumário. Porque esse procedimento é exclusivo do processo cognitivo, nada impede a tutela antecipada, obviamente desde que se configurem os respectivos pressupostos, assentados no dispositivo que a regula. Note-se, em primeiro lugar, que o instituto encontra sua disciplina no art. 273, integrante do Capítulo I do Título VIII do Livro I, que contém disposições gerais sobre o procedimento comum. Só esse argumento seria insuficiente, porque bem poderia suceder que, entre as normas gerais, alguma existisse aplicável apenas a um tipo de procedimento. Cumpre, entretanto, considerar que, embora concebido e regulado de modo a permitir um rápido julgamento, o rito sumário pode alongar-se no tempo, o que justifica a outorga precoce da tutela buscada na inicial, satisfeitos os requisitos do art. 273. O cumprimento da sentença proferida no procedimento sumário faz-se conforme as regras dos arts. 475-I e seguintes. Condenatória a sentença nesse procedimento, o Código não disciplina a sua execução (ou o seu cumprimento, para adotar a nova terminologia) de modo diferente. Vejam-se as notas aos arts. 475-I e seguintes. “Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. § 1º Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação. § 2º Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso.” (Lei n. 11.277, art. 2º) 1. Cheguei a criticar o art. 1º da Lei n. 11.277, de 7-2-2006, e semelhante dispositivo, encontrado noutras, que se limitam a declarar o objeto do diploma. Fui, entretanto, oportunamente alertado para o estatuto no art. 7º da Lei Complementar n. 95, de 26-2-1998, que “dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a condição dos atos normativos que menciona”. O art. 7 º dessa Lei Complementar determina, muito claramente: “O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo âmbito de aplicação ...” (seguem-se os princípios a se observar, postos nos incisos I a IV). Norma de organização da simples estrutura da lei, a inobservância do art. 7º não compromete a validade e eficácia da lei, muito menos a sua constitucionalidade. A sanção, se existisse, seria do responsável pelo descumprimento do art. 7º da Lei Complementar. 2. Foi o art. 2º da Lei n. 11.277 que acrescentou ao art. 285 do Código de Processo Civil, concernente ao despacho de deferimento da inicial e de ordem de citação do réu, o art. 285-A. O legislador colocou no Capítulo I, dedicado à petição inicial, o dispositivo regente da prolação de uma sentença. Assim procedeu porque tal sentença se profere antes mesmo do deferimento da inicial e da citação do demandado, quando a relação processual é apenas linear. 3. O art. 285-A e seus parágrafos documentam, de modo eloquente, o compromisso do legislador com a efetividade do processo, empenho magno da processualística contemporânea. Se o órgão jurisdicional tem posição formada sobre a questão jurídica em debate, favorável ao réu, a lei não vê razão para sequer integrá- lo no processo. Permite, desde logo, sem mais delongas, a composição da lide, mediante sentença de mérito. Não cabe o entendimento de que o novo artigo fere a garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5 º, LV). No caso específico, a lei respeita essa garantia, proferindo, em favor do réu, a sentença que ele teria porfiado, se tivesse vindo aos autos. Transitada em julgado a sentença de que ora se cuida, o art. 474 incide, presumindo-se deduzidas todas as defesas que o réu poderia deduzir em seu favor. 4. Dir-se-á que a aplicação do art. 285-A priva o demandado do direito à reconvenção (arts. 315 e s.). Atente-se, no entanto, em que tudo o que o réu possa pleitear em reconvenção, também poderá pedir em ação autônoma. 5. Parece demasia pretender que a sentença transite em julgado, antes que dela o réu seja intimado (citação, no conteúdo e na forma). Pode ele arguir o impedimento do juiz, a incompetência absoluta do juízo, a existência de nulidade insanável, ou qualquer outra matéria suscetível de comprometer a eficácia da sentença. Isto ele fará mediante requerimento, no prazo de cinco dias da sua intimação (art. 185), não descartada a hipótese de embargos declaratórios. Não se ignorem hipóteses que dariam outro desfecho à ação, houvesse o réu comparecido. Por exemplo, se ele pretendesse reconhecer a procedência do pedido (v.g., se o julgamento da questão de direito implicar o desfazimento do negócio jurídico em decorrência de nulidade relativa), ou celebrar transação com o seu adversário. Nada obsta a que assim proceda, no quinquídio seguinte à sua intimação. Neste caso, o juiz proferirá uma segunda sentença, compatível com a vontade superveniente do réu ou das partes, validamente manifestada. O juiz pode proferir mais de uma sentença de mérito no processo. Imagine-se, para ilustrar, a situação em que o juiz acolhe o pedido do autor, proferindo a sentença do art. 269, I, e que as partes transijam ainda no prazo da apelação. É o próprio juiz quem dará a sentença do inciso III do art. 269. 6. A sentença do art. 285-A é pronunciamento de mérito, tanto que o dispositivo fala em “improcedência total”. Transitada em julgado, pode ser desconstituída por ação rescisória, nos casos do art. 485. 7. Na sentença de que ora se trata não cabe a condenação do autor em honorários. O art. 20 não pode ser aplicado porque o réu, vencedor, não terá antecipado qualquer despesa, nem remunerado advogado. Não é só o fato objetivo da derrota, na expressão chiovendiana, que torna o vencedor devedor de custas e honorários, mas também a presença do vencedor no processo com desembolso real ou presumido de custas e honorários. Se o autor apela (art. 285-A, § 1º) e o réu for citado para responder ao recurso, o art. 20 incide, devendo o tribunal aplicá-lo, tal como nele se dispõe. 8. “Quando a matéria controvertida ...”, principia o art. 285-A. Por óbvio, o legislador não usou a expressão matéria controvertida no sentido de matéria sobre a qual se debate no processo porque, no momento da prolação da sentença, ainda não se instaurou nem se fez possível o contraditório, pela ausência do réu. A matéria controvertida é a que se faz suscetível de controvérsia pela integração do réu no processo, por meio de citação, ou pelo comparecimento espontâneo. Melhor, a matéria controvertida é a causa de pedir, referida no inciso III do art. 282 como o fato e os fundamentos jurídicos do pedido. O pedido pode ter mais de um fundamento, mas o juiz pode aplicar o artigo em causa se um dos fundamentos for suficiente para determinar a improcedência do pedido. Entenda-se, então, que o art. 285-A incide quando a improcedência do pedido do autor depender, só e só, de aplicar a lei. 9. A referência a questão de mérito “unicamente de direito” não aparece no Código pela primeira vez. Está no inciso I do art. 330, ao qual se remete o leitor, neste trabalho, que, como tantas vezes assinalado, visa tão somente a explicar as inovações. 10. Fala o artigo em sentença anterior proferida “no juízo”. Não se requer, portanto, que a sentença anterior seja da autoria do mesmo juiz. Basta que, no órgão jurisdicional, se haja proferido sentença em casos idênticos, não importa há quanto tempo. Se o órgão jurisdicional resultou da cisão de outro, a existência de sentenças anteriores naquele também chega para permitir a aplicação do dispositivo agora examinado. O art. 285-A não tem aplicação nos tribunais. A lei mostra isso, não só por aludir a sentença e a juízo, não a tribunal, como, principalmente, por falar, no § 1 º, em apelação, recurso exclusivo de primeira instância. Desnecessário dizer que o procedimento dos recursos e processos da competência originária dos tribunais é de todo incompatível com a aplicação do artigo de que ora se cuida. Conforme o art. 512 do CPC, “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto do recurso”. O julgamento do tribunal que reformou sentenças proferidas no mesmo juízo, para julgar improcedente a ação, não se considera para os fins do art. 285-A. Faz-se mister a existência de sentenças de improcedência, proferidas no mesmo juízo, ainda que confirmadas, ou reformadas e, por isso, substituídas por acórdão. A sentença exprime a vontade do juízo, razão suficiente para a incidência da norma, irrelevante a manifestação do tribunal. A norma agora analisada, que exige interpretação restritiva por sua excepcionalidade, torna necessário que o juízo haja proferido ao menos duas sentenças de improcedência. Por isso a alusão a “outros casos idênticos”. 11. “... sentença de total improcedência em outros casos idênticos ...”, diz a lei, usando plural. Outros casos idênticos serão aqueles nos quais se versou a mesma hipótese jurídica, como, por exemplo, a decadência de um direito, reclamado por pessoas que se encontrem em idêntica situação jurídica; a incidência de um tributo sobre certa operação mercantil; o conceito de controlada de uma companhia. Em termos práticos, a identidade de casos ocorre quando, num feito posterior, o juízo houver de aplicar uma lei tal como se estivesse decidindo os casos anteriores. O adjetivo total – “total improcedência” – fortalece a interpretação de que o art. 285-A só pode ser aplicado se a sentença por ele autorizada levou ao exaurimento de tudo o quanto compreende o mérito, sem que nada fique para trás. Para ilustrar, imagine-se o processo em que o autor cumulou três pedidos desconexos contra o réu (art. 292) e que um desses pedidos, porém não todos, coubesse no modelo do art. 285-A, pois envolvente de questão só de direito e antecedido por duas sentenças do mesmo juízo, que hajam julgado improcedentes pedidos idênticos, formulados de modo autônomo. Neste caso, não se poderia aplicar o artigo ora examinado, porquanto o processo, como realidade formal, teria que prosseguir quanto aos demais pedidos. Não haveria o benefício visado pelo artigo, cuja finalidade é a celeridade: extinguir o litígio (na verdade, promover a composição dele antes mesmo da angularização do processo pela integração do réu, decorrente da citação, ou do comparecimento espontâneo – art. 214 e § 1º). Se se admitisse a aplicação do artigo aos casos de pedidos cumulados, como não se deve fazer, necessário seria que a improcedência abrangesse todo o pedido e não parte dele (v.g., pediu-se um expurgo de cem, quando só vinte se podem conceder). Aqui, a decisão seria formalmente interlocutória e, por isso, agravável, como tem decidido a jurisprudência em hipóteses análogas. No caso de ocorrência improvável, mas não impossível, em que todos os pedidos cumulados no processo encontrem, cada um deles, sentenças de improcedência anteriores do mesmo juízo, o art. 285-A poderá ser aplicado. 12. O art. 285-A dispõe que, ocorrendo os pressupostos nele exigidos, “poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada”. A norma, como se vê pelo uso do verbo poderá, é dispositiva. Não está o juiz obrigado a aplicá-la, nem quando as sentenças anteriores forem da própria lavra dele. Compreenda-se que o fundamento jurídico do pedido possa constituir matéria que se tornou controvertida na doutrina, ou nos tribunais, depois de decidida no juízo. Pode ser que as sentenças anteriores semeiem perplexidade na alma do julgador quanto ao acerto do seu julgamento. Bem pode acontecer que outros elementos do caso (partes, valor, repercussão) recomendem o contraditório. Nesses e em quaisquer outros casos o juiz pode afastar o artigo em causa e ordenar a integração do réu ao processo. Discricionária a decisão do juiz quanto à aplicação do art. 285-A, dela não cabe recurso de qualquer das partes. Não está o juiz obrigado a dar as razões pelas quais deixa de aplicar o art. 285-A, nem mesmo se houver pedido de que o faça (v.g., manifestação do Ministério Público, ou do réu que intervier espontaneamente no processo). Quando aplicar o art. 285-A, cumprirá ao juiz, ao proferir a sentença, obedecer ao art. 458. Ele fará primeiro o relatório. Na fundamentação, dará os motivos da aplicação do art. 285-A e, quanto às razões de improcedência do pedido, ele se reportará aos fundamentos das sentenças anteriores, dispensado de repeti-los. Nada obsta à aplicação do artigo em causa depois da citação, ou intervenção espontânea, do réu, contanto que ela ocorra antes de findo o prazo da contestação. Depois dele, mesmo na hipótese de revelia, o juiz aplicará o art. 329, ou o art. 330. Quando o artigo fala em reprodução, ele não exige transcrição. Chegará a anexação de cópias das sentenças anteriores. Aliás, o dispositivo manda reproduzir o teor “da [sentença] anteriormente prolatada”. Isto nada tem que ver com a necessidade da reprodução de mais de uma sentença de improcedência “em outros casos idênticos”. Impõe-se a existência de mais de uma sentença. A lei, contudo, fala em reprodução do teor “da anteriormente prolatada”, só no singular. Por isso, é suficiente a juntada de uma sentença com a alusão a outra, ou outras. 13. O § 1º fala em apelação do autor. Entenda-se, todavia, que a apelação pode ser não apenas do autor, como ainda de outro legitimado, na forma do art. 499. O réu, por exemplo, pode apelar, sustentando a falta de um dos pressupostos do art. 285 -A, porque tem direito a uma sentença, proferida conforme a lei. O § 1º institui um juízo de retratação da sentença de mérito, ao permitir que o juiz a reveja ele próprio, no prazo de cinco dias e a mantenha, caso em que incidirá o § 2º. A situação não é igual à do art. 296 porque nele se cuida de revisão de sentença terminativa e o art. 285-A não cabe no caso de extinção do processo sem julgamento do mérito. Fala a norma em sentença de improcedência, que é de mérito. O § 1º permite ao juiz reformar sua sentença, anulá-la e determinar o prosseguimento do processo (fala o parágrafo em prosseguimento da ação, tomado, contudo, este substantivo, na acepção de processo). Parece que, em vez de mencionar reforma, ou anulação, o legislador preferiu a perífrase “não manter a sentença”, talvez para afastar a ideia de que, ao fim do regular desenvolvimento do processo, ele não possa proferir de novo outra sentença de improcedência, como a anteriormente proferida. Trata-se, entretanto, de reforma, ou anulação da sentença, que não é substituída por outra sentença de mérito, mas apagada. A sentença prevista no art. 285-A é apelável, como está no § 1º. A decisão que a reforma e determina o prosseguimento do processo não é suscetível de agravo. O réu, ingressando na relação processual, não pode pretender uma sentença a que não tem direito, porquanto proferi- la é prerrogativa do juiz. 14. Se não houver apelação da sentença do art. 285-A, ela fará coisa julgada material (art. 467) com todas as consequências desse fenômeno. Se o autor apelar, o juiz, provendo a apelação, ordenará o prosseguimento do processo. Se mantiver a sentença de improcedência, determinará a citação do réu, na forma da lei. 15. Finalizam-se estas considerações, que relatam – convém advertir – as minhas primeiras impressões sobre a inovação da Lei n. 11.277, com a observação de que sentença sobre direitos de qualquer natureza pode ser dada com fundamento no art. 285-A. A lei não exclui nem mesmo os pedidos relativos a direitos indisponíveis. Tenha-se sempre em mente que, tal como o julgamento proferido com base no dispositivo aqui examinado, a sentença de improcedência é sempre declaratória negativa. “Art. 287. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da prática de algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá requerer cominação de pena pecuniária para o caso de descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4º, e 461-A).” (Lei n. 10.444, art. 1º) 1. A Lei n. 10.444, de 7-5-2002, alterou, consideravelmente, o texto do artigo. A primeira oração permanece a mesma, no conteúdo. Onde se dizia “condenação do réu a abster-se da prática de algum ato”, diz-se “que seja imposta ao réu a abstenção da prática de algum ato”. Continua a frase “tolerar alguma atividade”, mas a oração “prestar fato que não possa ser realizado por terceiro” foi substituída. Lê-se agora: “prestar ato ou entregar coisa”. Onde falava o artigo “constará da petição inicial a cominação da pena pecuniária”, lê-se agora “poderá requerer cominação de pena pecuniária”. Finalmente, mantida embora a oração “para o caso de descumprimento da sentença”, acrescentou-se “ou da decisão antecipatória da tutela (arts. 461 e 461-A)”, mudando-se a remissão, feita, no texto alterado, aos arts. 644 e 645. 2. A imposição ao réu da abstenção da prática de algum ato é idêntica à condenação do réu, aludida no texto derrogado. A frase “prestar ato ou entregar coisa” sem dúvida é mais abrangente do que a frase “prestação de fato que não possa ser realizado por terceiro”. A fórmula da nova redação abrange a da anterior e estende-se a qualquer obrigação de fazer ou dar. Enquanto a norma parcialmente revogada fazia obrigatório o requerimento de cominação de multa na própria inicial, o novo texto transformou o requerimento em facultativo porque a fixação da multa já não depende de pedido do autor, como se vê no § 4 º do art. 461, ao qual remete também o § 3º do art. 461-A, o primeiro resultante do art. 1º da Lei n. 8.952 e o segundo, do art. 1º da Lei n. 10.444, de 7-5-2002. A referência à decisão antecipatória da tutela decorreu da redação do art. 273, introduzida no Código de Processo Civil pelo art. 1º da Lei n. 8.952, de 13-12-1994. O texto atual do art. 287 encontra-se, pelo tempo de vigência, suficientemente explicado pela doutrina e aplicado pelos tribunais. “Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de quarenta e oito horas, reformar sua decisão. Parágrafo único. Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. O art. 296 foi alterado, na substância e na forma, pela Lei n. 8.952, que mudou o procedimento do recurso do ato de indeferimento da petição inicial. Como se recorda, a primitiva redação do artigo previa, no seu caput, a hipótese de apelação do autor (não excluída a do terceiro prejudicado – art. 499 e § 1º) da sentença de indeferimento da inicial, caso em que se citava o réu para acompanhar o recurso e permanecer no processo, se a inicial fosse deferida no tribunal. Já plenamente integrado ao processo pela citação (§ 1º), o réu seria apenas intimado dos atos subsequentes, na pessoa do seu procurador (§ 2º), cuja falta determinava a revelia (§ 3º), salvo se nomeado a tempo. 2. A primeira observação cabível diz respeito à terminologia do art. 296, acrescido de um parágrafo único, ab-rogados os três parágrafos da redação anterior. Fala o dispositivo, agora, tanto no caput quanto no parágrafo, em decisão, tomando esse vocábulo não na acepção restrita do § 2º do art. 162, mas como sinônimo de ato decisório genérico, ou pronunciamento judicial. Trata-se, na verdade, de sentença terminativa, extintiva do processo sem julgamento do mérito, conforme os arts. 267, I, e 162, § 1º. Aliás, o artigo, corretamente, continua admitindo a impugnação do ato de indeferimento por apelação, que é o recurso cabível na sentença (art. 513). Antes que nela se integre o réu, por meio da citação válida, ou mediante seu comparecimento espontâneo, a relação processual é linear. Pode ser figurada como uma linha, vinculando o autor, que invoca a jurisdição, ao Estado de quem o juiz é agente, devedor da prestação jurisdicional. Por isso, tecnicamente, a ação se propõe contra o Estado e não contra o juiz. A consciência disso tem levado certos espíritos exacerbadamente preciosistas ao exagero de romper, inutilmente, com a tradição secular, afirmando que a ação se ajuíza em face do réu, e não contra ele. A relação processual só se angulariza quando o réu nela ingressa. Indeferida, liminarmente, a inicial, antes da integração do réu ao processo e da sua consequente angularização, pode o autor apelar da sentença de indeferimento. Nesse caso, não se cita o réu, como determinava a anterior redação do art. 296. A citação só ocorrerá se a decisão vier a ser reformada, pelo próprio juiz, ou pelas instâncias superiores, no sentido de que se defira a inicial (art. 285). Antes do julgamento da apelação, ou de outro recurso subsequente (embargos infringentes, recurso especial, recurso extraordinário, embargos de divergência), o processo continua linear, sem que se chame o réu a juízo. Por isso, o parágrafo único usou o advérbio imediatamente, significando, pelo emprego dele, que, até que se venha a deferir a petição inicial, a relação processual permanece linear. A reforma da sentença de indeferimento não gera preclusão para o réu ausente do processo. Ingressando nele, o réu pode arguir qualquer das matérias do art. 295, mesmo que já tenha ocorrido anterior pronunciamento judicial sobre ela, evidentemente não vinculante dele porque não era parte. O art. 301, III, permite ao réu alegar, como preliminar da contestação, a inépcia da inicial, determinante do seu indeferimento (art. 295, I), e o juiz ficará obrigado a se pronunciar sobre a questão, ainda quando anteriormente já o tenha feito. 3. Quid iuris, se o indeferimento da inicial ocorrer somente depois da integração do réu ao processo? Acabei de mostrar com o art. 301, III, que o indeferimento da inicial não ocorre, necessariamente, antes da citação do réu, ou do seu comparecimento espontâneo. Pode dar-se posteriormente. Nesse caso, não incide a segunda parte do parágrafo único do art. 296: antes mesmo de o juiz reapreciar a decisão, o réu deverá ser intimado a responder a apelação do autor. Em outras palavras, a retratação e a remessa imediata, referidas no artigo e no parágrafo, somente se verificam se o réu ainda não estiver no processo. Diante da possibilidade do comparecimento espontâneo do réu, consagrada no § 1º do art. 214, nada obsta a que ele, de qualquer modo ciente da propositura da ação, intervenha por sua própria iniciativa. Se essa intervenção se der antes da retratação, o juiz admitirá que ele responda à apelação do autor, ficando vinculado à eficácia do julgamento proferido, no mesmo ou em outro grau de jurisdição, proibido de suscitar, de novo, as questões decididas (art. 473), porém não outras, conducentes também ao indeferimento. Assim, indeferida, por exemplo, a inicial por inépcia, decorrente do entendimento de impossibilidade jurídica do pedido (art. 295, I, e parágrafo único, III), mas provido o recurso com a declaração de possibilidade jurídica do pedido, não poderá o réu, que respondeu à apelação, rediscutir esse ponto, sendo-lhe facultado, todavia, arguir, na preliminar da contestação, a inépcia fundada, v.g., no descompasso entre a narração dos fatos e a conclusão (art. 295, I, e parágrafo único, II). Se o réu ingressar no processo depois do juízo de retratação, primeira etapa do procedimento da apelação, ele permanecerá inerte no feito, à espera do julgamento do recurso, sem legitimidade para intervir como parte nos recursos cabíveis do acórdão dado na apelação. Reformada a sentença de indeferimento, não se renovará a citação dele, que responderá no prazo da lei, o qual ocorrerá (a) se a reforma se der no próprio juízo de origem, da intimação da decisão interlocutória reformadora, ou (b) se a reforma decorrer de julgamento de qualquer das instâncias superiores, a partir da abertura de vista, subsequente à baixa dos autos. 4. A Lei n. 8.952 inovou o sistema do Código, admitindo, no art. 296, que o próprio juiz reexamine a sentença de indeferimento, se o autor dela apelar (ele não pode proceder à retratação de ofício). Introduziu-se, pois, na apelação da sentença de indeferimento da petição inicial, o juízo de retratação típico do agravo. Interposta a apelação, o juiz poderá, portanto, retratar-se. Se mantiver sua sentença, remeterá os autos ao tribunal. O texto do parágrafo pecou pela minúcia ao falar na imediata remessa dos autos ao tribunal competente, desnecessário o adjetivo. Uma vez interposta a apelação da sentença de indeferimento da inicial, o juiz fica obrigado a reexaminar o recurso, para confirmar ou reformar o seu ato, a menos que indefira a apelação pela falta de um dos seus pressupostos (v.g., legitimidade do recorrente, tempestividade). Do despacho de indeferimento da apelação cabe agravo, obviamente só de instrumento (art. 522, na redação da Lei n. 11.187, de 19-10- 2005). “Art. 301.............................................................................................. IX – convenção de arbitragem; .............................................................................................” (Lei n. 9.307, art. 41) 1. O art. 301 enumera as questões prévias, preliminares ou prejudiciais, que compete ao réu alegar antes de contestar o mérito. A falta de qualquer dessas alegações não gera preclusão, tanto que o § 4º do art. 301, com a exceção a que já aludirei, permite ao juiz conhecer de ofício daquelas matérias. 2. O § 4º abre uma exceção à regra geral nele enumerada, ao proibir o juiz, ou o tribunal de extinguir o processo diante de convenção arbitral, sem que o réu haja arguido a preliminar respectiva, suscitando assim uma exceção peremptória. Sem que se faça essa arguição, entende-se que se rescindiu a convenção arbitral, tanto assim que, apesar dela, o autor foi a juízo, sem que a isso se opusesse o réu. A expressão “compromisso arbitral”, usada no § 4 º do art. 301, há que ser lida como “convenção de arbitragem”. A extinção do processo não fica condicionada apenas à existência do compromisso, como o define o art. 9º da Lei n. 9.307. Basta a existência da convenção, referida no art. 3º dessa lei. Seria inaceitável se o juiz ficasse impedido de declarar de ofício a existência de compromisso arbitral, mas pudesse fazê-lo no tocante à convenção arbitral, de que o compromisso é espécie. Noutras palavras, há que se interpretar o § 4º do art. 301 juntamente com o seu inciso IX. Havendo cláusula compromissória, ou compromisso, extingue-se o processo, porém sempre mediante arguição. Celebrado no curso do processo, o compromisso o extingue. Se, feito o compromisso extrajudicial, por instrumento particular ou público (§ 2º do art. 9º da Lei n. 9.307), um dos convenentes continua litigando, sem que o outro argua a existência do compromisso, o § 4º do art. 301 também incide (ubi eadem ratio ibi eadem dispositio). “Art. 305.............................................................................................. Parágrafo único. Na exceção de incompetência (art. 112 desta Lei), a petição pode ser protocolizada no juízo de domicílio do réu, com requerimento de sua imediata remessa ao juízo que determinou a citação.” (Lei n. 11.280, art. 5º) 1. A Lei n. 11.280 acrescentou este parágrafo único ao art. 305, que contém regra acerca da admissibilidade e do prazo da exceção de incompetência. Como repetidamente anotado, este livro não se ocupa de dispositivos já versados na doutrina e nos julgamentos. Por isso, nada se diz aqui sobre o caput do artigo. 2. O parágrafo único do art. 305 enuncia regra que facilita o excipiente, na exceção de incompetência (incompetência relativa, conforme o art. 112, porque a incompetência absoluta se argui como preliminar da contestação, conforme o art. 301, II, ou a qualquer tempo, consoante o art. 113). Como, de regra, o réu argui a incompetência relativa, sustentando a competência do foro do seu domicílio (art. 94), a lei lhe dá a faculdade (“pode ser protocolizada ...”) de protocolar ali a petição da exceção. O benefício pode ser exercido mesmo quando o excipiente indicar outro juízo (art. 307) que não o do seu domicílio. Não se pode não estranhar a remissão, feita entre parênteses, ao art. 112 “desta Lei”, quando a só referência ao artigo deixa implícito, mas inequívoco, que se trata da lei na qual se insere o dispositivo, e não da outra (v.g., arts. 57, 73, 174, II, 396). 3. O excipiente protocola a petição de exceção no juízo do seu domicílio. A administração do tribunal, ou a diretoria do foro, indicará onde a petição deve ser apresentada. Feita a apresentação dela, o juiz designado para recebê-la pelo ato administrativo, ou o serventuário (art. 162, § 4º), determinará a sua imediata remessa ao juízo no qual a exceção deverá ser processada. Havendo mais de uma exceção, o parágrafo único também incide. Neste caso, todas as exceções se encaminharão ao juízo onde corre o processo porque ali se julga o incidente. Procede- se à remessa pelos meios determinados pelas regras de organização judiciária. “Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos independentemente de intimação, a partir da publicação de cada ato decisório. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.” (Lei n. 11.280, art. 6º) 1. A nova redação do art. 322 restringiu a sanção nele anteriormente estabelecida. Os prazos só correm a partir da publicação de cada ato decisório, independentemente de intimação, quando o revel não tiver advogado no processo. Publica-se o ato decisório, atendendo-se apenas parcialmente o § 1º do art. 236, já que o revel não tem advogado. Se o revel tiver advogado nos autos (v.g., juntou-se a procuração, mas não se contestou; depois da revelia, juntou-se procuração), a intimação do patrono é necessária, pois o artigo só a dispensa se não houver advogado constituído. 2. O parágrafo único repete a norma da parte final do art. 322, na sua anterior redação. A norma continua íntegra e já foi objeto de considerações da doutrina e aplicação pela jurisprudência. “Título VIII ............................................................................................. Capítulo V ............................................................................................. Seção III Da Audiência Preliminar.” (Lei n. 10.444, art. 3º) 1. A Lei n. 10.444, de 7-5-2002, mudou a epígrafe da Seção III do Capítulo V do Título VIII, de “Do saneamento do processo” para “Da Audiência Preliminar”. 2. A substituição da epígrafe faz sentido, pois o art. 331 cuida da audiência de conciliação. Certo que os §§ 2º e 3º desse artigo tratam de uma atividade saneadora que, contudo, o juiz não exerce só ali, porém ao longo do desenvolvimento de todo o processo. “Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir. § 1º Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença. § 2º Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário. § 3º Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o processo e ordenar a produção da prova, nos termos do § 2º.” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 10.444, art. 1º) 1. A lei reformadora alterou a redação do artigo e substituiu a expressão “direitos disponíveis” por “direitos que admitam transação”. A expressão “audiência de conciliação” foi substituída por “audiência preliminar”. Vai adiante a lei modificadora: fala em intimação das partes a comparecer, admitindo-se a representação delas por procurador ou preposto. Incólumes os §§ 1 º e 2º, a Lei n. 10.444 acrescentou ao dispositivo o § 3º. 2. A expressão “direitos que admitam transação” corrige a expressão “direitos disponíveis”. Bem pode haver direito indisponível suscetível de transação (v.g., irrenunciáveis embora, podem as partes transacionar quanto ao valor dos alimentos; o investigado pode reconhecer a paternidade, no curso da ação de investigação). As partes são intimadas da audiência nas pessoas dos seus advogados (arts. 238 e 242). A representação do advogado ou preposto com poderes para transigir não é absolutamente indispensável. Imagine-se a situação em que, estando próxima ao lugar da audiência, a parte venha assinar o termo, tão logo informada do êxito da transação. Pode também o procurador, ou o preposto, comparecer sem poderes, apenas para declarar inviável a transação, a qual, no entanto, caberá em qualquer outro momento do processo (o inciso IV do art. 125 admite a conciliação, “a qualquer tempo”). 3. Na audiência de conciliação, o juiz buscará levar as partes a um acordo, de que pode resultar a transação, como também desistência consentida da ação ou, até mesmo, a confissão, a renúncia ao direito sobre que se funda a ação, ou ao reconhecimento da procedência do pedido. Nada impede que juiz se faça auxiliar de conciliadores, que atuarão como órgãos jurisdicionais auxiliares, sob a orientação dele. A profícua experiência dos juizados especiais (Lei n. 9.099, de 26-9-1995) e a prática de outros países devem estimular o juiz a se servir de conciliadores, que disporão de tempo e paciência para levar os contendores à composição. Obtida a conciliação, e reduzidas a termo suas condições, o juiz a homologará por sentença, como dispõe o § 1º. Se a conciliação for parcial, o processo segue o seu curso, extinguindo-se, se total. 4. Não obtida a conciliação, o juiz decidirá as questões processuais pendentes (esse, o primeiro ponto da sua atividade que, ilogicamente, o § 2º enumerou em segundo lugar), fixará os pontos controvertidos, sobre os quais deve recair a prova, determinará as provas a serem produzidas e designará a audiência de instrução e julgamento, se necessário. Tudo isso o juiz fará na própria audiência de conciliação, e não em momento posterior (o que pressupõe o conhecimento do processo pelo magistrado, utilíssimo também para conduzir ou orientar a composição amigável). Para afastar quaisquer dúvidas quanto ao momento dessas providências, impedindo que magistrados indolentes mandem os autos à conclusão, retardando a marcha do processo, os membros da Comissão Revisora do Código de Processo Civil de 1985 cuidamos de escrever, no § 3 º do art. 331 do nosso Anteprojeto: “não obtida a conciliação, na mesma sessão o juiz fixará o objeto da demanda, etc.”. Melhor se teria saído a Lei n. 8.952/94, se nos tivesse acompanhado também nesse particular. Ao adotar as medidas previstas no § 2º do art. 331, o juiz proferirá uma decisão interlocutória, que, por força da tradição, continuará chamando-se despacho saneador, tal como ocorreu até agora, conquanto o art. 331 não usasse, explicitamente, esse nomen iuris. No despacho saneador, a se proferir na própria audiência de conciliação, a menos que haja fundado motivo para sua prolação em dia futuro, o juiz decide as questões processuais ainda pendentes de deliberação, fixa os pontos controvertidos, sobre os quais incidirá a prova, excluindo os incontroversos ou irrelevantes (silenciando o juiz, presume-se que a prova é abrangente de todos os pontos suscetíveis de comprovação), defere as provas, determinando, de ofício, as que reputar necessárias, ou acolhendo o pertinente requerimento das partes, do Ministério Público, dos terceiros intervenientes. O juiz só designa a audiência de instrução e julgamento “se necessário”, como esclarece a oportuna condicional com que se conclui o § 2º. Assim, o juiz só marca a audiência se houver prova oral a se produzir. Não havendo, deixa de designá-la, ainda quando defira a perícia, sobre a qual, uma vez produzida, ordenará a manifestação das partes, julgando em seguida, salvo se a perícia revelar necessária prova oral, consistente em depoimentos, pessoais ou de testemunhas, ou em esclarecimentos verbais do perito e assistentes. Em outras palavras, o juiz só deve realizar a audiência de instrução e julgamento se houver prova oral a ser colhida nela. Não havendo, dispensa-se a audiência, como deixa induvidoso o § 2º. A Lei n. 8.952 não revogou nem alterou o art. 448. Assim, antes de iniciar a instrução, como atividade preambular dela, o juiz, mesmo frustrada a anterior tentativa de conciliação na audiência específica, buscará, uma vez ainda, levar as partes a uma composição amigável, o que poderá fazer mesmo se inexistente a regra do art. 448, diante da norma do art. 125, IV. 5. O § 3º é norma excludente da realização da audiência do art. 331. Não há razão para designá-la se, sendo a transação a sua meta, o direito não a admitir. Há, no parágrafo, um juízo de probabilidade que o juiz exercerá à vista do processo, objetivamente analisado, e das circunstâncias que o cercam. A decisão é agravável (art. 522). “Art. 338. A carta precatória e a carta rogatória suspenderão o processo, no caso previsto na alínea b do inciso IV do art. 265 desta Lei, quando, tendo sido requeridas antes da decisão de saneamento, a prova nelas solicitada apresentar-se imprescindível.” (Lei n. 11.280, art. 7º) 1. O legislador da Lei n. 11.280 principiou a nova redação do art. 338 tornando mais elegante a enunciação da regra ali contida. Não era adequado começar pela negativa e afirmar por meio de uma exceção: “As cartas não suspendem o processo, salvo quando suspenderem ...”. Diz-se agora que a carta precatória e a carta rogatória suspenderão o processo, no caso do art. 265, IV, b, se requerida a sua expedição antes da decisão de saneamento (art. 331, § 3º) e a prova a produzir-se por meio dessas cartas for imprescindível. Estenda--se o dispositivo também às cartas de ordem, na substância iguais às precatórias (art. 201). 2. A suspensão do processo por motivo da expedição da carta precatória e da rogatória só ocorre no caso do inciso IV, b, do art. 265. Esta matéria não é nova porque, constante da redação anterior, tem sido amplamente comentada. A expedição das cartas deve ser requerida antes do momento em que o juiz saneia o processo (§ 3º do art. 331), não importa com que antecedência. O parágrafo único do art. 338 continua em vigor. 3. A decisão sobre a imprescindibilidade da prova é do juízo onde correr o processo. Do pronunciamento dele caberá agravo para o tribunal (art. 522). No caso, o agravo será de instrumento, diante da natureza da questão. “Art. 365.............................................................................................. IV – as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas autênticas pelo próprio advogado sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade; V – os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem com o que consta na origem; VI – as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização. § 1º Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no inciso VI do caput deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o final do prazo para interposição de ação rescisória. § 2º Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o seu depósito em cartório ou secretaria.” (Leis n. 11.382, art. 2º, e 11.419, art. 20) 1. A Lei n. 11.382 acrescentou o inciso IV ao art. 365. Os incisos V e VI, bem como os §§ 1º e 2º, foram acrescidos ao dispositivo pela Lei n. 11.419. 2. Conforme o inciso IV, fazem a mesma prova que os originais as cópias de peças do próprio pro cesso judicial declaradas autênticas pelo próprio advogado sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade. Começando pelo fim do dispositivo, uma vez impugnada a autenticidade da cópia reprográfica, ela deixa de equivaler aos originais, para fins de prova. Valerá, ou não, conforme o juiz acolha ou rejeite a impugnação da autenticidade. Entenda-se, então, que a incidência do inciso é condicionada à falta de impugnação. Somente depois de decorrido o prazo da impugnação (de cinco dias, conforme o art. 185), a presunção torna-se eficaz. O inciso IV só se aplica em se tratando de cópias reprográficas do que estiver nos autos do processo; autos principais ou qualquer de seus apensos; não alhures. A declaração do advogado não obedece à forma determinada. É suficiente que ele a faça, de modo específico, na própria cópia, ou em instrumento separado. A responsabilidade do advogado será penal e civil, nesta compreendida a profissional. 3. Quanto ao inciso V, adicionado ao art. 365 pela Lei n. 11.419, há de entender-se por extrato de bancos de dados a reprodução de quaisquer informações armazenadas eletronicamente, seja para fins de consulta, de documentação, de estatística, de conservação, ou quaisquer outras finalidades. A informática dirá o que seja um banco de dados, que não se confunde, se se permite o truísmo, com instituições bancárias que, no entanto, têm todas elas os repositórios de que trata o inciso. Os extratos dos bancos públicos ou privados, isto é, pertencentes à administração ou a particulares, farão a mesma prova que os originais, preceituam o caput e o inciso V, desde que atestada a coincidência entre o extrato e o que consta da matriz da qual ele foi retirado. “Desde que seja atestado pelo seu emitente”, diz o inciso. Necessário, entretanto, que o emitente tenha legitimidade para declarar a autenticidade do extrato, isto é, que exerça função que o ponha em condições de atestar. Só se admite a declaração do emitente, não de terceiro, não importa a qualificação deste último (v.g., vem a extração pelo emitente que, contudo, se absteve da declaração). Não é necessário que, ao atestar a fidelidade do extrato, o emitente declare que o faz sob as penas da lei, punitiva da adulteração, que incidirá independentemente da declaração. 4. A norma do inciso VI, também acrescentada ao art. 365 pela Lei n. 11.419, é muito semelhante à do § 1º do art. 11 deste mesmo diploma. O inciso equipara aos originais as “reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou particular”. Qualquer reprodução, não importa o conteúdo, nem a forma, esteja ela contida em algarismos, letras, palavras, desenhos, mapas, plantas, símbolos, equipara-se a reprodução ao original, desde que a juntada dessa reprodução se faça por qualquer dos entes referidos no inciso. O inciso só incide quando se tratar de reprodução digitalizada e a juntada se der por quem esteja nele aludido, não por outrem, como, por exemplo, a própria parte, salvo quando puder postular em causa própria. A presunção criada pelo inciso é relativa. Não opera havendo alegação de que o dado foi adulterado, antes do processo de armazenamento, ou durante ele. Neste caso, o juiz decide a alegação e a reprodução valerá se reputada autêntica. “Alegação motivada e fundamentada”, determina a norma, exigindo que se aponte o motivo ( v.g., a planta armazenada não é a do imóvel que nela se aponta) e que se apresente o respectivo fundamento (o imóvel supostamente mostrado não tem as configurações indicadas). 5. A contrario sensu, o § 1º admite a destruição dos documentos digitalizados. Não obriga a isso, devendo-se entender que, muitas vezes, a preservação do documento, para fins diversos, é aconselhável ou impositiva. Preservam-se os documentos até o fim do prazo para a interposição (rectius, para a propositura) da ação rescisória (CPC, art. 495). Conta- se o biênio do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão de mérito, que julgar a ação nos autos de cujo processo se procedeu à juntada. Evidentemente, se junto o documento em mais de um processo, do trânsito em julgado da sentença no último deles. A ação rescisória pressupõe sentença de mérito. Se a sentença for terminativa, de extinção do feito sem julgamento do mérito (art. 267 do CPC e outros, do mesmo conteúdo), o § 1º não incide. Os documentos devem ser preservados. Nem no caso do art. 267, V, cabe a destruição porque isso escapa do âmbito do dispositivo que agora se examina. 6. O § 2º trata de uma hipótese de insuficiência da cópia digital. Executivo o título, ou relevante o documento, a critério do juízo, ele vem aos autos por cópia digitalizada. O original, entretanto, permanece depositado em cartório, por determinação do juiz, de ofício ou a requerimento da parte ou de terceiro, como o Ministério Público. “Art. 399.............................................................................................. § 1º Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máximo e improrrogável de 30 (trinta) dias, certidões ou reproduções fotográficas das peças indicadas pelas partes ou de ofício; findo o prazo, devolverá os autos à repartição de origem. § 2º As repartições públicas poderão fornecer todos os documentos em meio eletrônico conforme o disposto em lei, certificando, pelo mesmo meio, que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento digitalizado.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. O § 1º do art. 399 do CPC outra coisa não é que o anterior parágrafo único do dispositivo. A Lei n. 11.419, de 19-12-2006, apenas transformou o parágrafo único no § 1º porque acrescentou ao artigo outra norma, numerada como § 2º. 2. O § 2º, que agora aparece, foi posto no art. 399 do CPC pela Lei n. 11.419, que dispõe sobre a informatização do processo judicial. O caput desse artigo e os seus dois incisos autorizam o juiz a requisitar às repartições públicas, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, as certidões necessárias à prova das alegações das partes, ou os procedimentos administrativos, nas causas em que forem interessados a União, o Estado, o Município, ou as respectivas entidades da administração indireta. O § 2º, acrescentado ao artigo, permite às repartições públicas fornecerem todos os documentos por meio eletrônico e a certificarem, também por meio eletrônico, a autenticidade do documento fornecido. Certificará, então, o responsável pela remessa, investido na função por ato regular da autoridade competente, que o documento fornecido é reprodução fiel do constante do banco de dados, ou é reprodução fiel do documento existente na repartição. O fornecedor será servidor de repartição pública, que desempenhará a função só por si, sem que haja necessidade, ou se admita, a prática de ato notarial de ratificação. O certificante tem fé pública e a certidão cria presunção relativa de veracidade que pode, entretanto, ser ilidida, inclusive mediante incidente de falsidade. Conforme o art. 20 da lei reformadora, os documentos produzidos eletronicamente serão considerados originais para todos os efeitos. De novo, a presunção é relativa. Fala o parágrafo, algo superfluamente, que os documentos serão fornecidos “conforme disposto em lei”. Não incidem apenas as normas do Código de Processo Civil, como também as previstas em leis extravagantes, como é o caso da própria Lei n. 11.419. O § 2º não encerra norma heterotópica, para usar o adjetivo criado pelo incomparável Pontes de Miranda – aplicável fora do âmbito do processo judicial. Ela é norma processual, reguladora do fornecimento de documentos requisitados pelo juiz, ou tribunal, às repartições públicas, conforme o art. 399, caput e incisos I e II. O fornecimento de documentos para fins extraprocessuais será regulado por outras normas. A de que aqui se trata tem natureza exclusivamente processual. “Art. 407. Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da audiência, depositar em cartório o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, profissão, residência e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será apresentado até 10 (dez) dias antes da audiência.” (Lei n. 10.358, art. 1º) 1. A Lei n. 10.358, de 27-12-2001, alterou a redação do caput do artigo, preservando contudo o seu parágrafo único. 2. Apareceu como novidade o prazo para apresentar o rol de testemunhas, fixado pelo juiz ao designar a data da audiência. Isto ele fará atento às circunstâncias do processo, mas sem criar para as partes o ônus de apresentar a lista das pessoas cujo depoimento pretendem ouvir num prazo exíguo. Silente o juiz, o prazo será de dez dias antes da audiência, duplicado o quinquídio da redação anterior. A nova redação exige que o nomeante indique também o local de trabalho da testemunha, por certo para facilitar a intimação e a identificação dela, mormente nos casos de homonímia. Entenda-se, todavia, que os requisitos do art. 407 a parte atenderá, ou não, informando ao juiz o motivo da impossibilidade de atendê-lo. “Art. 411.............................................................................................. IV – os ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de Contas da União; .............................................................................................” (Lei n. 11.382, art. 2º) 1. No art. 2º, a Lei n. 11.382, de 6-12-2006, limitou-se a derrogar o inciso IV do art. 411 do CPC, para se referir ao Superior Tribunal de Justiça em lugar do Tribunal Federal de Recursos, este extinto, aquele criado pela Constituição Federal de 5-10-1988. 2. A doutrina e a jurisprudência explicam, abundantemente, as razões do privilégio concedido pelo art. 411. Num pequeno livro como este, voltado apenas para as inovações da reforma processual, descabem considerações sobre a norma que, na essência, permanece a mesma. “Art. 417. O depoimento, datilografado ou registrado por taquigrafia, estenotipia ou outro método idôneo de documentação, será assinado pelo juiz, pelo depoente e pelos procuradores, facultando-se às partes a sua gravação. § 1º O depoimento será passado para a versão datilográfica quando houver recurso da sentença ou noutros casos, quando o juiz o determinar, de ofício ou a requerimento da parte. § 2º Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 169 desta Lei.” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 11.419, art. 20) 1. A Lei n. 8.952, de 13-12-1994, alterou o art. 417. O parágrafo único, acrescentado ao artigo pela mesma lei, foi transformado, com idêntica redação, no § 1º pela Lei n. 11.419, de 19-12-2006, que também lhe acrescentou o § 2º. Na edição anterior, apresentei, conjuntamente, os arts. 417 e 434. Agora, tratarei aqui somente do art. 417 e dos seus parágrafos. Cuido, em seguida, dos arts. 431-A e 431-B, introduzidos ambos pela Lei n. 10.358, de 27-12-2001. Adiante, cuido do art. 434, cujo caput tem a redação dada pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994. 2. A Lei n. 8.952 alterou o art. 417, para nele introduzir, como meio de registro do depoimento, não apenas a datilografia, como ainda a taquigrafia, a estenotipia, ou qualquer outro método idôneo de documentação. Porque do mesmo jaez a alteração do art. 170, faço remissão a quanto ficou dito sobre aquele dispositivo. Facultou-se às partes a gravação do depoimento. 3. O § 1º foi introduzido pela Lei n. 11.419, que nele transformou o parágrafo único, sem contudo alterá-lo. Esse parágrafo ordena a versão datilográfica do depoimento quando houver recurso da sentença, ou noutros casos, determinados pelo juiz, de ofício, conforme seu prudente arbítrio, ou a requerimento da parte. 4. A gravação dos depoimentos, feita pelas partes, nunca a proibiu a lei, que preferiu, agora, admiti-la expressamente, para não deixar a matéria ao arbítrio do juiz. Continua proibida quando o processo correr em segredo de justiça, porque admitir a gravação do depoimento seria condescender com a sua exibição fora do processo. Se a audiência não for una e contínua, devendo prosseguir em outro dia (art. 455), a gravação, ainda assim, é consentida, mas ficará em poder do juízo, para se assegurar o cumprimento da norma da última proposição do art. 413. Por partes se haverão de entender não apenas o autor e o réu, como ainda o Ministério Público e terceiros intervenientes. O próprio depoente tem direito de gravar seu depoimento para assegurar-se da fidelidade da eventual transcrição, impondo-se, por isso, uma interpretação ampliadora do artigo. Não havendo a norma restringido o vocábulo gravação, deve-se entender que ela é admissível por qualquer meio eletrônico, desde que a captação não perturbe as condições do local do depoimento. Justifica a admissibilidade explícita da gravação o fato de que o depoimento não é necessariamente vertido em texto datilografado, como se vê no parágrafo. 5. O depoimento será datilografado, ou registrado por taquigrafia, estenotipia ou outro método idôneo. Nas três últimas hipóteses, como se extrai do § 1º, o juiz só determina a versão datilográfica do depoimento, antes ou depois da sentença, se a entender conveniente, ou se deferir pedido da parte. Se, entretanto, houver recurso da sentença, a transcrição do depoimento se torna obrigatória, a fim de que ele se faça conhecido do órgão recursal. Pode-se julgar sem a prévia transcrição do depoimento, como deixa claro a norma. Tanto é assim, que o parágrafo ordena a versão datilográfica, quando houver recurso, deixando implícita, mas inequívoca, a dispensa dela, antes disso. 6. Se o recorrente entender que a sentença distorceu o depoimento, e quiser demonstrar a deturpação dele nas razões do seu recurso, poderá pedir ao juiz que ordene a transcrição, antes de impugnar a sentença. Formula-se esse pedido no prazo de cinco dias da intimação da sentença (art. 185). Ele constitui justa causa (art. 183, § 1º), que faz correr o prazo somente depois de decidido. O prazo começa a correr da intimação do recorrente do indeferimento do pedido, ou, na hipótese de deferimento, da intimação de que a transcrição está nos autos. Cumpre ao juiz devolver ao recorrente o prazo recursal da lei (e não dar a ele um prazo menor, pretextando aplicar o § 2 º do art. 183), sob pena de não lhe garantir a ampla defesa, constitucionalmente assegurada (CF, art. 5º, LV). Se a versão datilografada for infiel ao depoimento colhido por taquigrafia, estenotipia ou outro meio, poderá o interessado pedir ao juiz que o corrija, inclusive oferecendo, para confronto, a gravação que houver colhido, ou suscitar incidente de falsidade (art. 390). 7. O § 2º do art. 417 nasceu do art. 20 da Lei n. 11.419, de 19-12-2006. Limita-se a determinar que se observem, no processo eletrônico, normas dos §§ 2º e 3º do art. 169 do CPC. Reporto-me, então, às notas aos dois dispositivos. “Art. 431-A. As partes terão ciência da data e local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova. Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito e a parte indicar mais de um assistente técnico.” (Lei n. 10.358, art. 2º) 1. A Lei n. 10.358, de 27-12-2001, acrescentou ao Código de Processo Civil os arts. 431-A e 431-B, que passaram a integrar, no Capítulo VI (pertinente às provas) do Título VIII do Livro I, a Seção VII, cujos artigos disciplinam a prova pericial. 2. O art. 431-A torna obrigatória a ciência às partes da data do início da diligência, que se constitui dos atos necessários à elaboração do laudo, como os referidos no art. 429. A ciência obtém-se por intimação, desnecessária se a parte atende espontaneamente, ou se há prova inequívoca de comunicação. Não basta que a intimação indique a data, dia, mês, ano. É necessário também que se indique o local do início da diligência e, evidentemente, a hora em que ela terá início. A intimação faz-se ao advogado (art. 238), salvo se desassistida a parte. Neste caso, ela será intimada pessoalmente, ou por seu representante, se pessoa física incapaz, ou pessoa jurídica, ou formal. A liás, as regras e princípios da intimação determinada no art. 431-A são todos aqueles que se descobrem a partir do art. 234 do Código. Só se exige a intimação do art. 431-A se houver diligência, ou melhor, se a diligência consistir em verificação externa, não importa a natureza. A perícia que se faz sem verificação externa, como, por exemplo, no caso do laudo consistente em determinar a correção de algum cálculo, não exige a intimação prevista nesse dispositivo. Intimam-se as partes, o Ministério Público, se funcionar no processo, terceiros, a fim de que presenciem a diligência. Não se descarta a possibilidade de quesitos suplementares durante a diligência de que trata o artigo. Leiam-se, a propósito, a doutrina e a jurisprudência do art. 425. A falta da intimação acarreta a nulidade da perícia, mas o art. 244 incide. 3. O art. 431-B explicita norma que se continha, virtualmente, no sistema da prova pericial. O pressuposto da perícia é a necessidade de conhecimento técnico (art. 420, I, a contrario sensu). Bem pode acontecer que a perícia dependa do conhecimento de mais de um especialista (v.g., determinar a autenticidade da assinatura lançada num documento e explicar fórmulas com dados dele constantes; estabelecer se a certa pessoa lhe faltava, no momento de um ato, higidez mental e higidez física). Pode o juiz designar, de ofício ou a requerimento, mais de um perito. Mutatis mutandis, também as partes podem indicar mais de um assistente técnico. Não se pense que a nomeação de dois ou mais assistentes técnicos pressuponha a nomeação de peritos do mesmo número pelo juiz. Imagine-se o caso em que o perito tenha capacitação para versar todas as matérias objeto da prova técnica, enquanto isso não se passa com assistentes ao alcance das partes. Nesta hipótese, caberia a perícia com perito único e assistência técnica múltipla, desde que autorizada pelo juiz. “Art. 433.............................................................................................. Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo.” (Lei n. 10.358, art. 1º) 1. A Lei n. 10.358, de 27-12-2001, acrescentou o parágrafo único ao art. 433, para regular a apresentação dos pareceres dos assistentes técnicos. O parágrafo único do art. 433, na sua nova redação, atendeu exigência dos advogados. O prazo para apresentação dos pareceres dos assistentes técnicos, de dez dias, já não corre a partir da apresentação do laudo, independentemente de intimação. Começa a correr o decêndio para a apresentação do parecer do assistente técnico da intimação das partes de entrega do laudo do perito. Presume-se que a parte que o nomeou tenha mais facilidade em comunicar-se com o assistente técnico. “Art. 434. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade de documento, ou for de natureza médico-legal, o perito será escolhido, de preferência, entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados. O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do material sujeito a exame, ao diretor do estabelecimento.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. A Lei n. 8.455, de 24-8-1992, derrogou o art. 422 do CPC, para dispensar o compromisso do perito e dos assistentes técnicos, formalidade absolutamente inútil, que só fazia retardar a produção de uma prova, muitas vezes demorada por sua natureza e também pela desvigilância de juízes e partes quanto ao rigoroso cumprimento de prazos. Por um cochilo do legislador da lei aludida, não se revogou, de modo expresso, o art. 434, regra especial que a geral não modificara, e que, vigente, continuava a exigir um compromisso do perito, quando técnico de estabelecimento oficial especializado, perante o diretor do órgão. O parágrafo único do art. 434 continua em vigor. 2. A Lei n. 8.952/94 ajustou o art. 434 à alteração da Lei n. 8.455/92 ao art. 422, sem inovar, esclarecendo, contudo, que a remessa do processo se faz, não diretamente ao perito, mas ao diretor do estabelecimento oficial, que, obviamente, se torna responsável por eles e por sua devolução, no prazo fixado (art. 433). “Art. 457.............................................................................................. § 4º Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 169 desta Lei.” (Lei n. 11.419, art. 20) 1. A Lei n. 11.419 acrescentou ao art. 457 este § 4º, para afeiçoar o Código às alterações nele introduzidas, mediante a alteração de outros artigos, relativamente ao processo eletrônico. 2. Remetendo o § 4º ao disposto nos §§ 2º e 3º do art. 169, também se remete o leitor às observações feitas aos dois dispositivos. Não será demasiado acrescentar que o § 4º, agora considerado, e os dispositivos do Código de Processo Civil de conteúdo idêntico apontam para o destino inelutável do processo, fadado a ser todo ele eletrônico, desde que se garanta a permanência dos atos processuais documentados por esse meio. “Art. 460.............................................................................................. Parágrafo único. A sentença deve ser certa, ainda quando decida relação jurídica condicional.” (Lei n. 8.952, art. 1º) 1. Não houve qualquer inovação. A lei apenas acrescentou um parágrafo único ao art. 460, transferindo para esse parágrafo, mas sem alterá-la, a redação do art. 461, abrindo espaço para a tutela específica, que ele passou a regular. 2. Observe-se que, no tocante ao art. 461, ocorreu o fenômeno da ab--rogação do dispositivo, porquanto ele foi revogado, tanto que passou a disciplinar outro instituto. Trata-se, porém, de revogação formal, só abrangente do dispositivo, o continente, e não da norma, seu conteúdo, que continua vigendo, agora como parágrafo único do art. 460. Que se busque na doutrina e na jurisprudência o sentido dela, pois, conforme advertência com que se abriu este livro, o propósito dele se esgota em observações às leis de alteração do Código de Processo Civil, apenas nas inovações por elas introduzidas. “Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1º A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. § 2º A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287). § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito. § 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. § 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.” (Leis n. 8.952, art. 1º, e 10.444, art. 1º) 1. A Lei n. 8.952 revogou, integralmente, o primitivo art. 461 do Código, transformando sua norma no parágrafo único do art. 460. Da tutela específica da obrigação de fazer ou não fazer cuidava o Anteprojeto de Modificação do Código de Processo Civil (DOU, 24 dez. 1985, suplemento ao n. 246), elaborado pela Comissão Revisora, constituída pelo Governo da República e composta pelos juristas nomeados na dedicatória deste trabalho e por mim. Conforta verificar que, nove anos depois, o legislador transformou em direito positivo o instituto cuja implantação sugerimos, inspirando-se, em boa parte, nas nossas ideias. A Lei n. 10.444, de 7-5-2002, no art. 1º, alterou a redação do § 5º do art. 461, acrescentando-lhe o § 6º. 2. A jurisdição alcança o melhor resultado prático possível quando restaura a situação jurídica, desintegrada pela violação do direito, ou quando assegura a plena eficácia da vontade da lei, na qual se subsume a vontade das pessoas, manifestada em consonância com a norma. Se a obrigação é de fazer, ou de não fazer, ideal é que se faça o que ainda não se fez, ou se fez imperfeita ou incompletamente, ou que se desfaça o que se fez indevidamente. A substituição da prestação pelo pagamento em dinheiro consiste num sucedâneo da prestação, sem que constitua a prestação em si mesma. Por isso, na sua nova redação, o art. 461 consagra a tutela específica da obrigação, autorizando o juiz a ordenar-lhe o cumprimento, de modo que ele ocorra tal como aconteceria mediante o seu implemento voluntário e perfeito. O artigo deixa ainda ao juiz a alternativa de, diante do caso concreto, determinar a providência que, não constituindo a prestação, a ela equivalha, em termos objetivos. O art. 461 transforma a tutela específica em regra e a outorga de providência de resultado prático correspondente em alternativa mais próxima. O § 1º determina que a prestação se converta em indenização de perdas e danos, estipulada em dinheiro, apenas se impossível conceder a medida de tutela direta, ou a de idêntico resultado prático, ou, então, se o autor assim requerer. Existe, portanto, um concurso de ações, cabendo ao autor optar entre a própria prestação, ou outra de efeito equivalente, ou pedir perdas e danos em dinheiro. Disso resulta a necessidade da formulação de um pedido expresso, sem que o juiz possa dar uma coisa em vez da outra (arts. 2º, 459 e 460, caput). 3. O § 2º, remetendo ao art. 287, dissocia a indenização da multa, embora seja esta, tanto quanto aquela, devida ao autor, e não ao Estado. Por conseguinte, ordenado mediante a cominação de multa o cumprimento de obrigação, dessas que só o devedor poderá prestar, o autor, uma vez verificado o descumprimento, recebe a multa cominada e também a indenização correspondente ao seu prejuízo. 4. Os §§ 3º e 4º regulam providência de natureza inquestionavelmente cautelar, cuja outorga, entretanto, não depende de ação autônoma. Trata-se de tutela cautelar embutida no próprio processo cognitivo, como são, v.g., as liminares nas ações possessórias, no mandado de segurança, na ação popular, na ação civil pública. A providência de cautela pode ser concedida liminarmente, inclusive sem a audiência da parte contrária. Se, entretanto, o juiz decidir que sua outorga depende de prévia justificação, fará a designação dela e ordenará a citação do réu, que é ambivalente, pois, a um só tempo, o integra ao processo, dispensando outra, e o intima a comparecer ao ato. A reduzida oração “citado o réu”, no § 3 º, se vincula só à justificação prévia, e não ao deferimento liminar da tutela. Pela natureza cautelar, essa antecipação da tutela, que não se confunde com a do art. 273, pode ser revogada ou m odificada, a qualquer tempo (cf. o art. 807, segunda parte), sempre em decisão fundamentada, tal como prescrito na última oração do § 3º. Pressuposto da incidência do § 3º é, como se extrai da sua primeira parte, a existência de fumus boni iuris e de periculum in mora. A redação do § 4º do artigo objeto destas observações avantaja a do art. 799, porquanto neste se dão poderes ao juiz para autorizar a prática de atos e, naquele, para determinar-lhes a prática, inclusive mediante a imposição de multa, cominada de ofício. O § 4º permite ao juiz impor a multa, não só quando concede a liminar, mas também na sentença, que outorga a tutela específica ou concede medida equivalente. Os dois parágrafos admitem ao autor requerer a liminar, ou a antecipação da medida após justificação prévia. Porém, não o inibem de optar pela formulação do pedido do mesmo conteúdo em ação cautelar autônoma, preparatória, ou incidental, aplicando-se a ela, se ajuizada, as normas que lhe são próprias. 5. No § 5º do art. 461, o legislador entendeu oportuno fazer enumeração, evidentemente exemplificativa, das medidas que o juiz poderá conceder para efetivar a tutela específica, ou para assegurar o resultado prático equivalente. Essas medidas não dependem de requerimento do autor, autorizado a formulá-lo, podendo o juiz concedê-las de ofício. Há uma diferença entre a tutela específica, cuja concessão depende de pedido, e o modo de sua efetivação, que o juiz pode estabelecer conforme o seu prudente arbítrio. A Lei n. 10.444, de 7-5-2002, alterou o § 5º para permitir, entre as medidas necessárias à efetivação da tutela específica, a imposição de multa por tempo de atraso. Essa multa, sempre fixada em dinheiro, pode ser fixada não necessariamente por dia de atraso no cumprimento da obrigação, porém “por tempo de atraso”. Esse período temporal pode corresponder a qualquer fixação de tempo: minutos, horas, dias, semanas. O valor da multa pertence ao requerente da tutela específica. 6. O § 6º, acrescentado ao artigo pela Lei n. 10.444, diz respeito à multa do § 5º. Imposta de ofício, ou a requerimento da parte, o juiz pode modificar, para mais ou para menos, o valor da multa, ou o tempo da inadimplência após o qual a sanção será devida, aliás sempre em benefício do autor. Reputada insuficiente, o juiz poderá aumentar o valor da multa, assim como reduzi-la, se excessiva. A multa não é penalidade, mas sanção civil, imposta com o propósito de obter o cumprimento da obrigação. Autores e juízes têm procedido ao adequado trabalho de fixação da exegese dos §§ 3º e 6º, incompatível com o propósito deste pequeno livro. Acrescente-se a nota de que, conforme o art. 475-I, acrescentado ao Código de Processo Civil pela Lei n. 11.232, de 22-12-2005, o cumprimento da sentença que imponha obrigação de fazer ou não fazer se efetiva conforme o art. 461. “Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. § 1º Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e quantidade, o credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao devedor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz. § 2º Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. § 3º Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1º a 6º do art. 461.” (Lei n. 10.444, art. 2º) 1. O art. 461-A e seus três parágrafos foram introduzidos no Código de Processo Civil pela Lei n. 10.444, de 7-5-2002, para tratar da tutela da obrigação de entrega de coisa, certa ou incerta (o dispositivo não distingue). Por força do art. 475-I, resultante da Lei n. 11.232, de 22-12-2005, o cumprimento da sentença (execução) impositiva de tal obrigação faz-se na conformidade do artigo de que ora se trata. 2. O juiz pode conceder a tutela específica, liminarmente (art. 461-A, § 3º, c/c o art. 461, § 3º), ou na sentença. Condenação haverá se a sentença passar em julgado (art. 467), admitindo-se, contudo, a execução provisória (art. 475-O), a partir do momento em que da sentença (ou do acórdão) se interponha recurso sem efeito suspensivo. Aliás, com perdão pelo truísmo, se se der liminar para suspender a eficácia do julgamento impugnado por recurso sem efeito suspensivo, a execução provisória é inadmissível. 3. O § 1º tem norma semelhante à do art. 629. Reporto-me, então, à doutrina e à jurisprudência deste artigo, tanto quanto à do próprio parágrafo, já que este livro ocupa-se do que, neste momento, constitui novidade. 4. Cuidando da tutela específica, nada mais lógico do que a norma do § 2º. Ela estabelece que, constituída a mora do devedor pelo descumprimento do prazo estabelecido no caput, expede-se em favor do demandante (ou do exequente, no caso do art. 475-I) mandado de busca e apreensão da coisa móvel, ou de imissão na posse do imóvel. 5. O § 3º aproveita todas as normas dos parágrafos do art. 461, do primeiro ao sexto. As normas nestes instituídas passam a reger também a obrigação de entrega de coisa, imposta liminarmente, ou na sentença. Por isso, remete-se às notas a esses parágrafos, bem como à doutrina e jurisprudência sobre elas. “Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: .............................................................................................” (Lei n. 11.232, art. 1º) 1. A redação anterior dizia que “ao publicar a sentença de mérito, o juiz cumpre e acaba o ofício jurisdicional, só podendo alterá-la:”. O novo texto suprimiu o qualificativo “de mérito” e a oração “cumpre e acaba o ofício jurisdicional”. 2. Teve razão o legislador, quando suprimiu a alusão do artigo apenas às sentenças de mérito. Com efeito, as sentenças terminativas, de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), também podem conter inexatidões materiais e erros de cálculo (errou o nome da parte, ou a ortografia dele; trocou o nome do autor pelo do réu; ao relatar, equivocou-se na soma de valores). Por igual, podem elas conter alguma obscuridade, contradição, ou omissão. Por isso, todas as sentenças (na realidade, todos os pronunciamentos judiciais) podem incidir nas situações do art. 463, não havendo razão para a restrição da norma derrogada. 3. A lei não mais alude a esgotamento do ofício jurisdicional, especialmente porque a sentença de mérito condenatória não extingue o processo, que prossegue para o cumprimento dela. Vejam-se as notas à nova redação do § 1º do art. 162 e do caput dos arts. 267 e 269. “Art. 464. (Revogado.) Art. 465. (Revogado).” (Lei n. 8.950, art. 3º) 1. Esses dois dispositivos foram inteiramente revogados. A ab-rogação deles se deveu ao fato de que, na redação dada aos arts. 535 a 538, a Lei n. 8.950 considerou recurso tanto os embargos de declaração opostos na primeira instância quanto nos tribunais, dando-lhes tratamento uniforme, alvitrado na redação proposta para os arts. 464 e 465, no anteprojeto da Comissão Revisora, instituída pelo Governo Federal, em 1985. Naquela Comissão, optamos por não disciplinar os embargos declaratórios entre os recursos (por isso, aliás, suprimimos do elenco do art. 496 a referência a eles), já que recurso eles não são, mas mero incidente, destinado a esclarecer o pronunciamento judicial. 2. Sobre os embargos de declaração em geral, vejam-se as observações às alterações dos arts. 535 a 538. “Art. 466-A. Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. Art. 466-B. Se aquele que se comprometeu a concluir um contrato não cumprir a obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído pelo título, poderá obter uma sentença que produza o mesmo efeito do contrato a ser firmado. Art. 466-C. Tratando-se de contrato que tenha por objeto a transferência da propriedade de coisa determinada, ou de outro direito, a ação não será acolhida se a parte que a intentou não cumprir a sua prestação, nem a oferecer, nos casos e formas legais, salvo se ainda não exigível.” (Lei n. 11.232, art. 2º) 1. A Lei n. 11.232, de 22-12-2005, acrescentou esses três artigos ao Código de Processo Civil. Por meio desses novos dispositivos, transpôs as normas do art. 641 para o art. 466-A, a do art. 639, para o art. 466-B e a do art. 640 para o art. 466-C. O legislador manteve a mesmíssima redação dos três dispositivos, agora tacitamente ab-rogados. Não será necessário trazer à baila nem o § 3º do art. 2º da LICC, nem o interessante debate doutrinário acerca da repristinação porque, no caso, não ocorreu essa figura. A repristinação é a revigoração da norma revogada. Aqui, entretanto, não chegou a ocorrer revogação das normas dos arts. 639, 640 e 641, que nunca perderam a sua vigência porque vigoraram até o último minuto da vigência dos textos revogados e desde o primeiro da vigência dos novos textos. O fenômeno é de mero deslocamento das normas, de nenhum modo derrogadas, ou ab- rogadas, numa curiosa situação de extinção da existência dos artigos, como ponto de enunciação das normas, em decorrência do transplante. 2. Com a transposição das normas para a seção que trata dos requisitos e efeitos da sentença, a Lei n. 11.232 corrigiu imperfeição do Código. Os arts. 639 e 640 são pertinentes ao pedido e o art. 641 regula a eficácia de uma sentença. No que têm de exigíveis, as sentenças das três normas se efetivam pelo cumprimento da sentença (arts. 475-I a 475-R), que veio substituir a execução. 3. Sobre as normas em si nada se diz nestas notas porque, como reiteradamente anunciado ao longo destas páginas, este livro só se ocupa das inovações. Tudo o quanto permanece incólume já foi explicado pela doutrina e aplicado pelos tribunais. “Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI). § 1º Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avocá-los. § 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor. § 3º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.” (Lei n. 10.352, art. 1º) 1. A atual redação do art. 475 resulta da Lei n. 10.352, de 26-12-2001. Mantendo embora o caput do artigo na sua redação primitiva, ela eliminou o inciso I, que sujeitava ao duplo grau a sentença de anulação do casamento e deu nova redação a esse item. Também deu nova redação ao inciso III, agora II. Eliminou o inciso III e acrescentou três parágrafos ao artigo. 2. Ab-rogada a norma do primitivo inciso I, e por isso não mais sujeita ao duplo grau, a sentença anulatória (lato sensu, também a de nulidade) do casamento, a lei reformadora deslocou para esse inciso a norma do inciso II, mas acrescida. Sujeita-se ao reexame necessário não apenas a sentença proferida sobre a União, o Estado, o Município, como estava na redação primitiva, como ainda às contrárias ao Distrito Federal, e às autarquias e fundações de direito público desses entes. Não é o Código de Processo Civil que os definirá, porém o Direito Constitucional e o Direito Administrativo. O inciso II tem conteúdo semelhante ao inciso III anterior, este também revogado. Com mais técnica fala em procedência, total ou parcial (desnecessária meticulosidade), dos embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública. A rigor, não há improcedência da execução, fundada em título extrajudicial, tanto assim que se fez remessa ao art. 585, VI. A procedência é dos embargos. Não cuida o inciso de indeferimento da inicial da execução ou da extinção do processo, nem das hipóteses dos três incisos do art. 794. Necessariamente restritiva a interpretação da norma, não há reexame necessário nesses casos, declarados na sentença do art. 795. O reexame é da sentença de procedência dos embargos, e só, não se podendo esquecer de que esses embargos podem ter fundamento nas situações do art. 745. 3. O § 1º é, basicamente, o parágrafo único agora revogado. O novo texto suprimiu o adjetivo voluntária e também o adjunto da parte vencida, pois a apelação, que pode haver, será sempre voluntária e da parte vencida, já que a sucumbência é pressuposto subjetivo da apelação (art. 499). Trocou-se o verbo poderá, que confere faculdade, pelo verbo deverá, porque a avocação é dever do tribunal, eis que a sentença não transita em julgado sem a confirmação, como está no caput. Essa confirmação, na verdade, é a substituição de que trata o art. 512. 4. Os §§ 2º e 3º tratam de casos excludentes do reexame necessário. Já examinados os dois dispositivos, na doutrina e na jurisprudência, será desnecessário cuidar deles aqui, considerando-se o feitio deste livro. “Livro I ............................................................................................. Título VIII ............................................................................................. Capítulo IX DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA.” (Lei n. 11.232, art. 3º) 1. A Lei n. 11.232, de 22-12-2005, ab-rogou o Capítulo VI do Título I do Livro II do Código de Processo Civil, que regulava a liquidação da sentença (arts. 603 a 611). Também revogou por completo os arts. 603 a 611. Por força do art. 3 º da mesma lei, a matéria passou a ser regida pelos arts. 475-A a 475-H do Capítulo IX, para esse fim acrescentados ao Título VIII do Livro I, sob a epígrafe “Da liquidação de sentença”. Assim procedendo, a Lei n. 11.232 acolheu as opiniões de que a liquidação não integra o processo de execução, constituindo fase complementar do processo de conhecimento, por isso posta agora no Livro I a ele dedicado. 2. Na reforma feita pela Lei n. 11.232, o art. 475-C e o art. 475-D repetiram, literalmente, salvo no parágrafo único deste último, os revogados arts. 606 e 607. O art. 475-E é idêntico ao art. 608 e o art. 475-G, ao art. 610. Como sempre, não se comentarão os textos literalmente repetidos porque, além de abundantemente explicados pela doutrina e pela jurisprudência, este opúsculo só se ocupa dos dispositivos novos, na redação ou no conteúdo. “Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação. § 1º Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado. § 2º A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em autos apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes. § 3º Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso II, alíneas d e e desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.” (Lei n. 11.232, art. 3º) 1. O caput do art. 475-A difere do caput do art. 603, ab-rogado, porque (a) suprimiu a referência à individuação do objeto da condenação e (b) acrescentou o adjetivo devido ao substantivo valor. São raros os casos em que a sentença não individua o objeto da condenação, mas isto pode ocorrer quando o juiz não dispuser de meios para determinar o que a parte condenada deve pagar, entregar, fazer, não fazer ( v.g., condeno o réu a entregar ao autor mil sacas do café do tipo de maior valor no porto tal, no dia tal, vindouro). Óbvio que a determinação desse objeto dependerá de uma atividade processual posterior a essa sentença. O caso será, então, de arbitrar, consoante o inciso II do art. 475-C. O legislador, entretanto, suprimiu a referência ao objeto, deixando que os problemas daí decorrentes se solucionem no campo do cumprimento da sentença. Na liquidação, apura-se o valor, assim entendida a soma de dinheiro a ser paga. O acréscimo do adjetivo devido ao substantivo valor é anódino porque a liquidação visa a apurar, exatamente, o quanto deve o sujeito passivo da execução (art. 475-I). 2. O credor, ou outro legitimado (arts. 566 e 567), requer a liquidação, na hipótese do art. 475-A, caput. Pretendeu o legislador da Lei n. 11.232 abolir a ação incidental de liquidação do sistema anterior, transpondo a liquidação para o Livro I, fazendo dela um incidente do processo cognitivo. Na essência, a liquidação continua a ser uma ação, porém na existência é um incidente do processo de conhecimento. Inclusive por razões práticas, o art. 475-H concede agravo de instrumento da decisão que julga a liquidação. A liquidação instaura-se mediante requerimento do legitimado, claro que sujeito à apreciação do juiz, que poderá indeferi-lo, ordenar a sua correção ou modificação, ou deferi-lo, no todo ou em parte. Note-se que o § 1º manda intimar a parte para ciência do requerimento de liquidação. É o que se lê no referido parágrafo: “Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado”. Norma correta porque atende o princípio do contraditório (CF, art. 5 º, LV). O juiz manda intimar o devedor, ou outro legitimado passivo, na pessoa do seu advogado. Não havendo advogado, a intimação se faz ao devedor, tal como ao advogado se faria. As normas e princípios relativos à intimação (arts. 234 e s.) incidem e devem ser aplicados. 3. O § 2º deste art. 475-A permite que se instaure a liquidação na pendência de recurso. Deve-se ler esse parágrafo em conjunto com o art. 475-I. Dispõe tal artigo, no § 2º, que, se a sentença contiver parte líquida e parte ilíquida, ao credor é lícito promover, simultaneamente, a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta. Não se trata de execução, nem definitiva nem provisória, de que trata o § 1º, porém só de liquidação, que execução não é. Numa opção axiológica, o legislador decidiu permitir a liquidação “na pendência de recurso”, sem distinguir entre recurso de efeito só devolutivo, ou de efeitos devolutivo e suspensivo. Não se trata só de aplicar a velha parêmia ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus, mas, principalmente, de fazer uma interpretação que una o § 2º do art. 475-A ao § 2º do art. 475-J. Aliás, falando em “autos apartados”, ambos os dispositivos contemplam a hipótese de subida dos autos da ação, nos quais se proferiu a sentença ou acórdão liquidandos. A liquidação instaura-se em autos apartados e no juízo de origem, isto é, no juízo perante o qual foi proposta a ação, juízo da primeira instância, ou órgão do tribunal onde se moveu a ação, nos casos dos processos da competência originária da corte superior. O § 2º também impõe ao liquidante (entenda-se: ao requerente da liquidação, cuja legitimidade é estabelecida nos art. 566 e 567; não ao liquidante judicial ou outro liquidante, que atue numa liquidação) o encargo de instruir o requerimento de liquidação com cópias das peças processuais pertinentes. Estas cópias serão de todas as peças do processo necessárias à compreensão da decisão liquidanda. Nada têm a ver com as peças que devem ser juntas a agravos ou apresentadas na execução provisória. Evidentemente, pode o juiz determinar a complementação dela, de ofício ou a requerimento. 4. O § 3º do art. 475-A só permite sentença líquida nas causas das alíneas d e e do art. 275, II, isto é, nas ações “de ressarcimento por danos causados em acidente de veículos de via terrestre”, ou “de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução”. Coerente com a proibição, o parágrafo permite ao juiz, “se for o caso”, isto é, se necessário para corrigir a prolação de sentença ilíquida, estipular, de plano, o valor devido, a seu prudente critério. A oração “fixar de plano” não permite ao juiz fixar liminarmente, ao deferir a inicial, a soma correspondente ao pleito do autor. Significa que o juiz estabelecerá o valor da condenação com os elementos disponíveis nos autos, sem qualquer atividade de liquidação. O magistrado age “a seu prudente critério”, num juízo de equidade, só admissível “nos casos previstos em lei”, conforme o art. 127. O caso do § 3 º é um deles. Comete erro de procedimento o juiz que descumprir a norma de que agora se trata. Omissa a sentença quanto à estipulação do valor, podem-se opor a ela embargos de declaração (art. 535, II). Cabe apelação de sentença descumpridora do parágrafo. Nesse caso, deve-se entender que a sentença se absteve de julgar uma das questões inerentes ao mérito (art. 515, § 1º). “Art. 475-B. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo. § 1º Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los, fixando prazo de até trinta dias para o cumprimento da diligência. § 2º Se os dados não forem, injustificadamente, apresentados pelo devedor, reputar-se--ão corretos os cálculos apresentados pelo credor, e, se não o forem pelo terceiro, configurar-se-á a situação prevista no art. 362. § 3º Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exequenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária. § 4º Se o credor não concordar com os cálculos feitos nos termos do § 3º deste artigo, far-se-á a execução pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador.” (Lei n. 11.232, art. 3º) 1. O caput do art. 475-B praticamente repete o agora revogado art. 604, alterada a sua redação apenas para harmonizá-la com o novel instituto do cumprimento da sentença, pelo qual se alcança a satisfação do direito consubstanciado no título judicial exequendo. Assim, onde estava “o credor procederá à sua execução na forma dos arts. 652 e seguintes”, está agora “o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei” (não se sabe bem por que com impropriedade se escreve lei com maiúscula). Remete-se, então, o leitor às observações àquele dispositivo. Não é intenção deste pequeno trabalho comentar, extensamente, as novas normas, senão fazer observações auxiliares da interpretação e aplicação delas. Quanto às partes que a lei reformadora deixou subsistirem, consultem-se a doutrina e a jurisprudência, nada escassas. Faça-se, entretanto, exceção ao propósito indicado, para registrar que, da deturpada aplicação do art. 604, na redação do art. 1º da Lei n. 8.898, de 29-6-1994, resultaram situações teratológicas. Teme-se que a situação persista na vigência deste art. 475-B. A pretexto de fazer apenas cálculos aritméticos, exequentes vorazes procedem a operações escancaradamente errôneas, nas quais, forçando a barra, capitalizam juros, levando a liquidação a montantes estratosféricos. Para aludir-se a um caso atual, corre, no foro do Rio de Janeiro, uma liquidação de sentença, feita por cálculo do prévio credor, que pôs a condenação pela perda de R$ 4.505,30, em 1998, no valor astronômico de quase R$ 13 bilhões, na data em que escrevo. O que fazer, quando tais situações ocorrerem? Os §§ 3º e 4º, em seguida anotados, por muito frouxos, não bastam para solucionar o problema. Permite-se ao devedor impugnar o cálculo manifestamente errôneo e exorbitante, para não se sujeitar à sanção do art. 475-J e à penhora ali prevista, com as graves consequências que podem ser catastróficas. A impugnação será julgada por pronunciamento que, formalmente, é decisão interlocutória, por isso agravável (art. 475-H), mas com o conteúdo de sentença de mérito, consequentemente sujeita a ação rescisória (art. 485). Constitui erro afirmar que a liquidação por cálculo desapareceu do Código de Processo Civil. Nada disso. Ela existe e faz-se pelo credor quando depender apenas de cálculo aritmético, consistente nas quatro operações. Complexo o cálculo, dependente, por exemplo, da colheita de números e índices, já não o poderá fazer o credor. Transfere-se o encargo ao contador, ou a outra pessoa, serventuário ou não, que o juiz designar. Haverá contraditório quanto ao cálculo apurado, e mesmo quanto à forma da sua apuração. O juiz resolverá o incidente por decisão agravável. Nos casos de que se trata, não cabe falar em liquidação por arbitramento, como talvez se faça para solucionar o problema da suposta inexistência da liquidação por cálculo. Ela existe e deve ser usada em toda a extensão. Essa liquidação remanesce para atender necessidade da fixação do montante exequendo. O sábado foi feito para o homem. 2. O § 1º repete, literalmente, o § 1º, primeira parte, do revogado art. 604, salvo na indicação do prazo de até trinta dias. Por isso, os comentários e aplicação desse dispositivo devem-se buscar nos comentaristas e julgados. 3. O § 2º praticamente repete a segunda parte do ab-rogado § 1º do art. 604. Vejam-se, pois, a doutrina e a jurisprudência sobre a norma repetida. Mudou-se a oração “e a resistência do terceiro será considerada desobediência”, por este período, mais direto e claro: “e, se não o forem pelo terceiro, configurar--se-á a situação prevista no art. 362”. Este artigo não é objeto destas anotações porque não integra a chamada “reforma do CPC”. Também aqui se remete ao já escrito e decidido acerca dele. Bem poderia o legislador ter aproveitado a oportunidade para reescrever a oração condicional “se os dados não forem, injustificadamente, apresentados pelo devedor ...”. Por que não dizer, com menos mau gosto, “se o devedor não apresentar os dados sem justificar a omissão ...”? Deve-se dar uma interpretação razoável à cláusula “reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo credor”. Ela não abrange os cálculos visivelmente deturpados, incompatíveis com o título. Pode o juiz, de ofício (e, por isso, pode requerer a parte ou o terceiro interveniente), pedir a verificação da verossimilhança do pedido do credor, em contraste com o título. Não se está, aqui, advogando a desobediência à norma. Busca-se, contudo, dar a ela uma interpretação adequada, parecida, mutatis mutandis, com a que se faz ao art. 319 do CPC. Verificada a revelia, a norma da presunção de verdade não alcança os fatos inverossímeis, ou incompatíveis com a própria inicial. É claro que os incidentes da liquidação se solucionam por interlocutórias impugnáveis por agravo de instrumento (art. 522), já que, no caso, a decisão interlocutória é suscetível de causar lesão grave e de difícil reparação. Basta dizer que o quantum debeatur, para cuja fixação a norma do § 2º deste art. 475-B concorre, será o valor exequendo. 4. O § 3º reproduz, quase literalmente, o revogado § 2º do art. 604, o que, considerada a finalidade desta obra, leva a encaminhar o leitor para o que se construiu sobre o dispositivo, e para as rápidas considerações feitas no segundo parágrafo deste item 4. Suprimiu-se a oração “antes de determinar a citação” – e nesta supressão consiste a reforma do parágrafo – porque, incidente do processo cognitivo, como determina a Lei n. 11.132 (infra, notas ao art. 475-I), não há razão para que se integre a parte a uma relação processual que ela já integra. O § 2º do art. 604, do qual o § 3º do art. 475-B é cópia fiel, resultou da Lei n. 10.444, de 8-5-2002, posterior, portanto, à 2 ª edição deste livro e, por isso, merecedor de atenção. Este dispositivo não dá ao juiz o que é inerente à sua função de condutor do processo (art. 125). Apenas explicita o que essa função abrange. Pode o juiz valer-se do contador, se, ele próprio, ou alertado pela parte ou terceiro, verificar que a memória apresentada pelo credor não se põe dentro dos limites traçados pela sentença, ou acórdão exequendo. Pode ainda o juiz recorrer ao seu contador, nos casos de assistência judiciária, em que, não apenas sem recursos, como deficiente por outros motivos, a parte não tiver meios de fazer o cálculo. Mas não é só do contador que se pode valer o juiz, porém de qualquer outra pessoa, física, jurídica, formal, que lhe possa dissipar as dúvidas sobre a extensão do título liquidando. 5. Elaborado o cálculo, nos termos do § 3º, o juiz intimará o credor para manifestar-se sobre ele, no prazo de cinco dias, se outro não se assinar (art. 185). Essa intimação é necessária para que o credor concorde com o cálculo, ou discorde dele, como previsto no § 4º. Se o credor concordar com o cálculo, inclusive pelo silêncio, realiza-se a execução pelo valor nele encontrado, desprezando-se a quantia indicada no requerimento a que alude o art. 475-B. Pode o credor divergir do cálculo. Em certas circunstâncias, pode o juiz determinar que se refaça o cálculo do qual diverge o credor, se a manifestação deste demonstrar ostensivo erro grosseiro na operação elaborada pelo contador, ou por quem a tenha realizado. Pode ainda o credor agravar da decisão que mandar proceder à penhora com base no cálculo, para que essa constrição incida sobre o valor do requerimento aludido no art. 475-B. O recurso será, pela natureza da questão, necessariamente o agravo de instrumento (art. 522) e o devedor será o recorrido. No agravo, entretanto, só se discutirá e decidirá qual o valor da penhora, apreciando-se inclusive a conveniência de novo cálculo, sem qualquer julgamento sobre o valor do crédito, matéria objeto não do incidente de liquidação, mas sim do cumprimento da sentença (arts. 475-I e s.). A discordância, pelo credor, do cálculo feito na forma do § 3 º do art. 475-B causa a incidência do § 4º desse artigo, no qual a lei acende uma vela a Deus e outra ao diabo. Conforme o § 4º, essa discordância faz com que se proceda à execução pelo valor originariamente pretendido, que será o valor indicado no requerimento de cumprimento da sentença, de que trata o caput do art. 475-B. A penhora, todavia, só poderá alcançar bens no valor indicado no cálculo feito conforme o § 3º. Em outras palavras, para que o devedor formule a impugnação do art. 475-L, não será necessária a penhora de bens no valor indicado pelo credor, no requerimento refeito no caput do art. 475-B. Como a execução estará sendo feita pelo valor pretendido pelo exequente, a impugnação poderá opor-se a todo o crédito, inclusive na parte excedente do valor da penhora. Executa-se (ou melhor, processa-se o cumprimento da sentença) para a cobrança do crédito pretendido pelo exequente, mas a penhora não se faz sobre bens no valor pretendido, mas sobre bens que cheguem até o valor encontrado pelo cálculo do § 3º. Se, em decorrência do julgamento dos embargos (rectius, da impugnação do art. 475-L), ficou determinado que o crédito exequendo é, efetivamente, maior do que o calculado na forma do § 3º, então se complementará a penhora, para que ela alcance o valor excedente. A falta da impugnação não faz com que, só por isso, prevaleça o valor pretendido pelo credor. Mes mo sem a oposição do devedor, o juiz pode fixar o montante do crédito, considerando o cálculo feito na conformidade do § 3º. A execução (melhor, o cumprimento da sentença) destina-se à satisfação do direito do credor constante do título. Por isso, o órgão jurisdicional pode conter o pedido do credor exorbitante do que lhe deu o título exequendo. O processo judicial não é um negócio comum de ordem privada. Muito menos o processo de execução, não importa a forma com que se apresente, que visa a assegurar o cumprimento da sentença, sem redução nem ampliação do que nela se contém, para repetir a consagrada fórmula. Atento aos abusos cometidos sob a égide do art. 604 do CPC, cuja norma aparece agora no art. 475-B, a lei, com o § 4º deste último, quis evitar que se onere o devedor com a penhora, tantas vezes fatal, de bens no valor afirmado pelo credor, algu mas vezes mediante a apresentação de cálculo elaborado com toda a má-fé. “Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando: I — determinado pela sentença ou convencionado pelas partes; II — o exigir a natureza do objeto da liquidação. Art. 475-D. Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz nomeará o perito e fixará o prazo para a entrega do laudo. Parágrafo único. Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-se no prazo de dez dias, o juiz proferirá decisão ou designará, se necessário, audiência.” (Lei n. 11.232, art. 3º) 1. O art. 475-C repete, palavra por palavra, o inteiramente revogado art. 606. O art. 475-D, salvo no parágrafo único, também é cópia do desaparecido art. 607. Não constituindo objeto deste livro senão as alterações trazidas pelas novas leis, remete-se à doutrina e à jurisprudência dos dispositivos repetidos. Vale, entretanto, a lembrança de que, na liquidação por arbitramento, não cabe a liquidação por cálculo complexo, que não dependa apenas de cálculo aritmético. Só por construção artificiosa se colocaria essa liquidação no campo da liquidação por arbitramento. Calcular e arbitrar constituem ações diferentes. O cálculo, como está nos léxicos, é a realização de uma operação sobre números. A arbitragem foge da exatidão numérica e inclui a estimativa, resultante do juízo de quem arbitra. Não se pode fazer o jogo do avestruz. A liquidação por cálculo existe e continuará existindo enquanto a determinação do valor da condenação depender dessa operação. 2. O parágrafo único deste art. 475-D difere do parágrafo único do revogado art. 607. Eliminou a indicação numérica do prazo de dez dias, feita na norma revogada. Substituiu a palavra sentença por decisão, coerentemente com a transferência da liquidação para o livro dedicado ao processo de conhecimento, do qual ela passa a ser incidente. Essa decisão é impugnável por agravo de instrumento, como se vê no art. 475-H. A lei já não fala de audiência de instrução e julgamento. Alude, simplesmente, à audiência que, se se destina a instruir o juízo acerca do arbitramento, quanto aos seus elementos e métodos, é de instrução. A decisão, entretanto, não é de julgamento (art. 456), conquanto possa o juiz julgar a liquidação ao fim dela, ou tentar a conciliação das partes (art. 125, IV). “Art. 475-E. Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo. Art. 475-F. Na liquidação por artigos, observar-se-á, no que couber, o procedimento comum (art. 272).” (Lei n. 11.232, art. 3º) 1. O art. 475-E é cópia do ab-rogado art. 608. Foge, então, ao propósito deste pequeno livro, que só se ocupa das inovações, sem tratar das normas repetidas, de que já cuidaram os tribunais e os doutrinadores. 2. O art. 475-F apenas deu redação mais técnica à norma do finado art. 609. Antepôs ao verbo “observar-se-á” o adjunto adverbial “na liquidação por artigos”. Fez remissão ao art. 272, onde se classifica o procedimento comum em ordinário e sumário, porque a liquidação por artigos é uma extensão do processo cognitivo, diante da necessidade de alegar e provar fato novo. Esse processo, suplementar, por assim dizer, adotará o procedimento ordinário, se não se enquadrar nas hipóteses do art. 275, que estabelece os casos de procedimento sumário. O procedimento observado até a sentença liquidanda não é, necessariamente, o da liquidação. Por exemplo: segue o procedimento ordinário o processo da ação na qual se fizeram vários pedidos, inclusive o de ressarcimento de danos presentes e futuros, estes decorrentes da mesma causa, em prédio urbano ou rústico. A liquidação por artigos dos danos supervenientes obedecerá ao processo sumário conforme o inciso II, c, do art. 275. É expletiva a ressalva da oração “no que couber”. Ela indica o que, ocultamente, já está na natureza da liquidação por artigos. “Art. 475-G. É defeso, na liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou. Art. 475-H. Da decisão de liquidação caberá agravo de instrumento.” (Lei n. 11.232, art. 3º) 1. Tirante a eliminação da vírgula após as palavras lide e sentença, o art. 475-G simplesmente repete o art. 610, expressamente revogado pela Lei n. 11.232. Veja-se, então, a abundante doutrina e a jurisprudência sobre o dispositivo que, não constituindo inovação, aqui não se comenta. 2. A norma do art. 475-H constitui inovação da Lei n. 11.232. Ela elege o agravo de instrumento como recurso da sentença que julga a liquidação, encerrando-a. As decisões sobre incidentes surgidos no curso da liquidação são também agraváveis. Só caberá destas o agravo de instrumento? Parece que não. Se não se tratar de hipótese a exigir o agravo de instrumento pelos motivos estabelecidos no art. 522, o agravo ficará retido, para ser julgado como preliminar do agravo de instrumento da decisão de encerramento da liquidação. Esta decisão, a menos que terminativa (art. 267), encerra a almejada prestação jurisdicional. Tem a natureza de pronunciamento de mérito, o qual, no processo, pode ser veiculado por decisões diferentes. Transitada em julgado, comporta ação rescisória (art. 485 ). O legislador elegeu o agravo de instrumento apenas porque a liquidação não encerra o processo. 3. Coerentemente com a reforma empreendida, a Lei n. 11.232 ab-rogou o art. 611, segundo o qual, julgada a liquidação, a parte recorreria à execução, citando pessoalmente o devedor. “Livro I ............................................................................................. Título VIII ............................................................................................. Capítulo X DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. Antes do advento da Lei n. 11.232, de 22-12-2005, o Título VIII (“Do Procedimento Ordinário”) do Livro I (“Do Processo de Conhecimento”) do Código de Processo Civil compunha-se de oito capítulos. O art. 3º daquela lei acrescentou ao título aludido o Capítulo IX (“Da liquidação de sentença”). O art. 4º adicionou ao mesmo título o Capítulo X, com a epígrafe “Do cumprimento da sentença”. Desdobrado em nove artigos, esse décimo capítulo contém a grande inovação da reforma processual em matéria de execução. 2. Essa inovação em que consiste? O processo civil contencioso divide--se em três espécies: processo de conhecimento, processo de execução, processo cautelar, os três consubstanciando diferentes aspectos da existência de uma essência só: o processo judicial. O processo civil brasileiro tradicional manteve a actio judicati romana. Julgada a causa, por sentença condenatória transitada em julgado (ou por sentença a esta equiparada, por determinação da lei, pendente de recurso), cabe ao credor pedir-lhe a execução, mediante outra ação, dita ação executiva, ou de execução, cuja propositura desencadeia uma segunda relação processual, que é o processo de execução. No sistema tradicional, este processo, regido também pelo princípio dispositivo (CPC, art. 2º), só se instauraria mediante provocação (art. 614). A reforma da Lei n. 11.232 rompeu com esse sistema, no tocante à sentença condenatória. Dando eficácia executiva a essa sentença, torna o cumprimento dela uma fase do procedimento ordinário, e também do sumário (cf. a segunda parte do parágrafo único do art. 272). Essa etapa do procedimento ordinário instaura-se pela vontade da própria lei, como atividade final do processo cognitivo, independentemente da ação do credor, e de citação do devedor, prevista, anteriormente, nos arts. 611 e 614, caput, do CPC. Paradoxalmente, a Lei n. 11.232 deixou reguladas pelo sistema anterior a execução contra a Fazenda Pública e a execução de sentença ou de decisão que fixou os alimentos provisionais. Cita-se a Fazenda para opor embargos (art. 730). Cita-se o alimentante para efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo (art. 733). Tem-se, portanto, um sistema dualista, porque, nestes casos, a citação é necessária e instaura um processo. Conquanto o instituto cumprimento da sentença se localize no Livro I do Código de Processo Civil e, formalmente, constitua um incidente do processo cognitivo, ele, na substância, é uma nova relação processual: processo de execução, instaurado ex lege, para a satisfação do direito do credor, reconhecido na sentença condenatória. Repita-se que o processo civil contencioso se divide em três espécies: processo de conhecimento, processo de execução, processo cautelar. O cumprimento da sentença não cria uma quarta espécie. Foi colocado no Livro I (onde, aliás, não se encontram institutos somente do processo cognitivo) por uma questão de ordem prática. Mas não é a topologia que qualifica a figura jurídica. Cumprimento da sentença e execução se equiparam (vejam-se as observações ao art. 475-I) nessa barafunda, criada pela Lei n. 11.232. Enquanto viger, ela deve ser aplicada do melhor modo possível. Reconheçam-se os bons propósitos do legislador. Está saliente na lei o compromisso da processualística contemporânea com a efetividade do processo. Falta-lhe, contudo, uma visão geral da realidade da postulação e da jurisdição no país. Tudo isso são tópicos de que, doravante, se ocuparão a doutrina e os tribunais, encarregados de destrinchar certos enigmas, de esclarecer e harmonizar textos conflitantes, de suprir deficiências. “Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo. § 1º É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo. § 2º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. O cumprimento da sentença é execução da sentença (vejam-se as anotações feitas à Lei n. 11.232, que acrescentou o Capítulo X ao Título VIII do Livro I do Código de Processo Civil – arts. 475-I a 475-R). Procedeu-se ao acréscimo de dispositivos com designação alfanumérica, para evitar o problema da renumeração dos artigos subsequentes. Somente a sentença condenatória se executa, ou só dela se pede o cumprimento, que constitui execução. A execução das sentenças meramente declaratórias, ou constitutivas, faz-se mediante os atos que lhes dão ou complementam a efetividade (v.g., a anotação, no respectivo registro, da sentença declaratória de nulidade de um ato, ou da falsidade de uma obra de arte). Condenatória é a sentença que impõe a obrigação de dar, de pagar, de fazer ou de não fazer. O art. 461 do CPC, na redação dada pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994, trata do cumprimento de liminar ou de sentença que haja imposto obrigação de fazer ou não fazer. Cuida o art. 461-A, acrescentado pela Lei n. 10.444, de 7-5-2002, da execução de sentença, ou liminar, condenatória da entrega de coisa. Processam-se agora essas execuções pelo disposto nesses artigos e nos seus parágrafos e pelos arts. 475-I a 475-R, no que neles houver de incidente na espécie. Não se pode olvidar do art. 598, determinante da aplicação subsidiária de disposições que regem o processo cognitivo à execução. A Lei n. 11.232 não revogou o Capítulo II do Título II do Livro II do Código de Processo Civil (arts. 621 a 631), dedicado à execução para a entrega da coisa, nem o Capítulo III (arts. 632 a 645), regente da execução das obrigações de fazer e de não fazer. Por isso, dever-se-ão buscar nesses artigos as normas aplicáveis às execuções aludidas. Vejam-se, antes, as observações aos arts. 461 e 461-A e seus respectivos parágrafos. Esses dois dispositivos enfeixam regras relativas à execução das sentenças de que tratam, juntamente com os artigos do Código a elas pertinentes. Não basta a lei dispor, como faz o art. 475-I, que “o cumprimento da sentença [impositiva de obrigação de entrega de coisa certa, ou incerta, ou de obrigação de fazer ou não fazer] far-se- á conforme os arts. 461 e 461-A ...” do Código de Processo Civil. Seria necessário que esses dispositivos bastassem para resolver todos os problemas do cumprimento da sentença. Afugentem-se preocupações descabidas, explicando-se que o medonho art. 475-J não se aplica às execuções de obrigações de dar e de fazer ou não fazer. A norma incide apenas no cumprimento de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa, ou tornada certa pela liquidação. 2. O § 1º do art. 475-I quase não difere do art. 587. Por essa razão, e como ressalvado ao longo destas páginas, remete-se o eventual leitor à doutrina e jurisprudência deste último dispositivo. A Lei n. 11.232 nada dispôs quanto à natureza da execução fundada em título extrajudicial. O § 1º do art. 475-I derrogou o art. 587, no tocante à execução da sentença transitada em julgado, considerada definitiva, e da sentença impugnada por recurso sem efeito suspensivo. Deixou, todavia, subsistente a norma do art. 587, no ponto onde ele declara definitiva a execução fundada em título extrajudicial. Assim procedeu a nova lei porque ela não regula a execução de título extrajudicial. Sobre a execução provisória, vejam-se as anotações ao art. 475-O. 3. É significativo o alcance do § 2º do art. 475-I porque ele cria exceção à incidência do temível art. 475-J. Aparentemente, salvo quanto à determinação, de útil alcance prático, de que a liquidação do capítulo ilíquido da sentença se faça em autos apartados, o § 2º do art. 475-I é igual, no conteúdo, ao § 2º do art. 586, este agora implicitamente revogado por aquele, que assim dispunha: “Quando na sentença há uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e a liquidação desta”. Importante assinalar que o § 2º deste art. 475-I deixa à iniciativa do credor a execução da parte líquida da sentença, que, consoante o seu exclusivo critério, ele promoverá, ou não, incidente aqui o princípio dispositivo. Bem pode o credor preferir deixar que o seu direito de crédito se satisfaça de uma só vez, após liquidada a parte ilíquida e somado o produto da liquidação ao montante já líquido da sentença. Como “ao credor é lícito promover” a execução da parte líquida, porém não obrigatório, a lei exclui essa parte líquida do quadro do art. 475-J, no sentido de que o devedor tenha de efetuar o pagamento da parte líquida. Exercendo a faculdade, o credor intimará o devedor para pagar no prazo de quinze dias. A partir do termo final desse prazo é que incidirá a multa draconiana do art. 475-J. Essa intimação faz-se à parte sem advogado, ao representante dela, ou ao advogado, pelo correio ou, se presentes em cartório, diretamente pelo escrivão ou chefe da secretaria, como disposto no art. 238 do CPC, na redação dada pela Lei n. 8.710, de 24-9-1993. Frustrada a intimação postal ou cartorária, proceder-se-á conforme o art. 239, com a redação dada ao seu caput pela mesma lei. Não se pode esquecer que o cumprimento da sentença é ato do processo de conhecimento. Por isso, dispensa-se a citação do devedor, no caso do § 2º, bastando a sua intimação. A liquidação de que trata o § 2º do art. 475-I processa-se em autos apartados, obedecendo-se às normas dos arts. 475-A e 475-H, a cujas observações se remete o leitor. “Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. § 1º Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias. § 2º Caso o oficial de justiça não possa proceder à avaliação, por depender de conhecimentos especializados, o juiz, de imediato, nomeará avaliador, assinando-lhe breve prazo para a entrega do laudo. § 3º O exequente poderá, em seu requerimento, indicar desde logo os bens a serem penhorados. § 4º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput deste artigo, a multa de dez por cento incidirá sobre o restante. § 5º Não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. Mais que os outros, este artigo demandará dos postuladores da jurisdição e, principalmente, do Poder Judiciário um trabalho cuidadoso de interpretação e de construção. A interpretação, obviamente, não poderá – nem a desta norma nem das outras – ser apenas literal. Precisará compatibilizar-se com o sistema do Código de Processo Civil, observados os princípios gerais e os específicos, como o de que a execução se efetiva não para punir o devedor, senão para, independentemente da vontade deste, satisfazer o direito do credor. Esse princípio o Código adotou, por exemplo, no art. 620: “Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”. Nem sempre o devedor é culpado pelo seu inadimplemento. Se se permite a reminiscência, lembro um fato que se engastou na minha memória de adolescente, ainda não contado em letra de forma: chegou ao escritório de advocacia do meu pai, em Cachoeiro de Itapemirim, no fim da década de 50, o seu João de tal, agricultor, com um aviso do banco de que o seu mútuo estava vencido e não pago: “Doutor, eu fiz por onde pagar essa dívida, mas o tempo não ajudou. Plantei milho, o sol secou o meu milho; plantei feijão, a enchente do rio afogou meu feijão”. Cena que não se esquece. No caso da obrigação de quantia certa, cujo montante líquido a sentença já fixou, ou se apurou em liquidação, o inadimplemento do devedor, pressuposto fático da execução (art. 580) – agora, do cumprimento da sentença –, ocorrerá findo o prazo de quinze dias, estipulado no art. 475-J. O art. 475-J nada dispôs sobre o termo inicial do prazo de quinze dias, nele estabelecido. Evidentemente, só se reputa condenado o devedor no trânsito em julgado da sentença, ou do acórdão. A doutrina e a jurisprudência do art. 467 do CPC já cuidaram do momento em que produz coisa julgada material a sentença (ou o acórdão, substituto dela, conforme o art. 512, ou proferido em ação da competência originária de um tribunal). Mas quando começa a correr o prazo de quinze dias, do art. 475-J? Em termos práticos, o dispositivo seria cruel, se quisesse que o devedor vigiasse o processo, para determinar a data do trânsito em julgado. Imagine-se o absurdo da pretensão de que o devedor determine a data do trânsito em julgado do acórdão dos embargos de declaração opostos, no Supremo Tribunal Federal, ao aresto que negou provimento ao recurso extraordinário (CF, art. 102, III, a, b e c) interposto do acórdão que, em embargos infringentes, restaurou a sentença reformada em grau de apelação. Neste caso, o devedor sequer dispõe dos autos onde pudesse verificar o montante a ser pago. E se se verificar erro material na sentença, que se equivocou em certa soma, onde o devedor requererá a retificação dele (art. 463, I)? Se o cumprimento da sentença integra o processo de conhecimento, é natural que se dispense a citação do devedor. Entretanto, a intimação do devedor, na pessoa do seu advogado, para que pague, ou, ao menos, para que tome ciência do trânsito em julgado, é necessária, pelo princípio geral (não excluído pelo art. 475-J) de que se intimem as partes, na conformidade dos arts. 234 e seguintes, dos atos e termos do processo, para que façam ou deixem de fazer alguma coisa. Frequentemente, o devedor não tem meios de saber do trânsito em julgado da sentença condenatória ou do acórdão confirmatório (rectius, substituto) dela. A intimação da ocorrência desse fenômeno, com a indicação da data em que ele se deu, torna-se indispensável, não só para a ciência do devedor, mas também para que ele possa negar que a coisa julgada já se haja operado. Na aplicação do art. 475-J, deve-se ter presente o art. 475-P do CPC. Consoante nele disposto, o cumprimento da sentença faz-se perante (I) os tribunais, nas causas de sua competência originária; (II) o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição; (III) o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira. Se a execução (agora, cumprimento da sentença) se faz no juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição, como se haverá de pretender que o devedor a cumpra, em quinze dias do trânsito em julgado, ocorrido num tribunal, inclusive o Superior Tribunal de Justiça e/ou o Supremo Tribunal Federal? E se o tribunal de segunda instância, ou um dos tribunais acima dele, decidir pela inadmissibilidade da apelação, dos embargos infringentes, do recurso especial, do recurso extraordinário, e respectivos embargos de divergência porque intempestivos – logo, declarando o trânsito em julgado anterior ao recurso, cabe pretender a incidência da multa de 10%, cominada pelo art. 475-J, a partir do efetivo trânsito em julgado, só descoberto pelo devedor com o julgamento de intempestividade? E como procederá o devedor, no caso do trânsito em julgado do acórdão de processo da competência originária de um tribunal? E se houve suspensão do cumprimento da sentença (art. 558 e parágrafo único), que afinal se declarou transitada em julgado, quando o tribunal deu pela intempestividade da apelação? Parece que, legislando também para tapar buracos no confuso sistema da sua invenção, o legislador tentou resolver o problema da sentença penal condenatória, da sentença arbitral e da sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, ordenando a citação do réu, como está no confuso parágrafo único do art. 475-N. As questões aqui suscitadas e a exegese do art. 475-J, à luz do princípio de que não se pode dar interpretação absurda à norma jurídica, tudo aponta no sentido de que é indispensável a intimação do devedor para ciência do trânsito em julgado. Essa intimação se fará no juízo competente para a execução, conforme o art. 475-P, e será requerida ou determinada nos autos nos quais se proferiu a sentença a ser cumprida, depois da sua baixa ao juízo de origem. A intimação do despacho “cumpra-se”, mantido pela praxe forense, será suficiente para ciência do início do prazo de quinze dias do art. 475-J. Intimado, cumpre ao devedor verificar a efetiva ocorrência da coisa julgada. Só incide a multa de 10% deste art. 475-J se a sentença condenatória, ou o acórdão da mesma natureza, houver transitado em julgado. Apenas nessa hipótese estará o devedor obrigado a pagar a quantia, estipulada na sentença ou determinada na liquidação. Não assim se se tratar de execução provisória (art. 475-I, § 1º, segunda proposição). A execução provisória depende de requerimento expresso do credor, na forma do § 3º do art. 475-O: “Ao requerer a execução provisória ...”. Vejam-se, adiante, as anotações ao art. 475-O. A multa do art. 475-J pode representar quantia gigantesca, o que não parece haver passado pela cabeça do legislador que só considerou, segundo se percebe, as sentenças condenatórias de valor pequeno ou médio. Excessiva a multa, poderá o juiz reduzi-la? O Código admite a redução de multa. No direito processual positivo, poderá o juiz reduzi-la, se ela se apresentar excessiva, o que atenderá o princípio constitucional da razoabilidade e o da proporcionalidade. A multa acresce ao montante da condenação. Tal como este, ela pertence ao credor. Na hipótese, não impossível, embora infrequente, de pagamento parcial da dívida, em quinze dias, a multa – sempre incidente só após o prazo do art. 475-J – será proporcionalmente diminuída. 2. “A requerimento do credor”, como está na última proposição do caput do art. 475-J, agora anotado, expede-se o mandado de penhora e avaliação. Sem esse requerimento, não se expede o mandado. Aqui, o princípio dispositivo (art. 2º) incide. Não cabe a expedição de ofício. O caput do art. 475-J manda ainda observar o art. 614, II, do CPC (“desta Lei” – não há razão para a maiúscula). Dispõe, literalmente, esse inciso, sob o caput “cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição inicial”, que o requerimento deve ser instruído com “o demonstrativo do débito, atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa”. No caso do art. 475-J, não há, ao menos formalmente, a propositura de ação, porém o início de uma derradeira etapa do processo cognitivo, o cumprimento da sentença. O requerimento de penhora e avaliação equivale à propositura da ação de que fala o caput do art. 614. No inciso II, haverá que se tomar a frase “até a propositura da ação” como até o requerimento referido no caput do art. 475-J. Aliás, não é de exigir-se do credor a atualização da soma do caput até o dia do requerimento, sobretudo se complexo o cálculo. O credor atualiza a quantia dada na sentença líquida, o valor apurado na liquidação, judicialmente, ou por ele próprio, na hipótese do art. 475-B. Se o cálculo apresentado pelo credor, na forma do inciso II do art. 614, for manifestamente errôneo, o devedor não precisa esperar a penhora, de consequências tão onerosas, particularmente para os empresários. O quotidiano forense mostra cálculos feitos atrevida e cupidamente por credores, sem escrúpulo de converter o processo judicial em instrumento de ganho, até pela capitulação do devedor, temeroso do imponderável processual, num acordo propício. A impugnação, que constitui uma espécie de exceção de pré-executividade, é admissível e deve ser feita, à falta de outro prazo, no quinquídio do art. 185 do CPC. A decisão interlocutória que resolver o incidente é impugnável por agravo de instrumento, pelo credor ou devedor, numa situação que, pela sua natureza, atenderá o art. 522 do CPC. 3. Far-se-á a penhora, na ordem do art. 655, não revogado. O devedor precisa aguardar a efetivação da penhora e da avaliação, com a intimação do respectivo auto (§ 1º – veja-se o item seguinte) para questionar a penhora, tantas vezes suscetível de causar-lhe danos de difícil ou impossível reparação (v.g., penhora on line, com bloqueio total de contas essenciais à empresa onde se encontra o dinheiro destinado ao pagamento da folha), inválida noutros casos (penhora de bem impenhorável, ou não pertencente ao devedor). A penhora e a avaliação fazem-se conforme as regras dos arts. 659 a 685 do CPC, abundantemente consideradas pela doutrina e jurisprudência, assim postas fora do objeto deste livro, que só se ocupa das inovações. 4. O art. 665 trata do auto de penhora; o art. 681, do laudo do avaliador. O caput do art. 475-J, bem como o seu § 1º, transforma os dois laudos num só, o que não constitui novidade no direito processual positivo brasileiro, como demonstra o art. 13 da Lei n. 6.830, de 22-9- 1980, que regula os executivos fiscais. Lavrado o auto, intima-se o executado, na pessoa do seu advogado. Se o devedor estiver desassistido, então se intima o seu representante legal (óbvio que nos casos em que haja representação) ou, então, pessoalmente, por mandado, ou pelo correio. As regras são as do Código de Processo Civil, regentes das intimações. Quem lavra o auto é o oficial de justiça mencionado no § 1º, ou o avaliador judicial, designado pelas normas da organização judiciária, ou o avaliador mencionado no § 2º (ver item seguinte). Sobre a impugnação referida no § 1º, vejam-se, adiante, as observações ao art. 475-L. 5. O § 2º lida com a possível falta de conhecimento do avaliador para avaliar o bem, ou bens penhorados. Conhecimentos especializados são todos aqueles faltantes ao avaliador, ainda que não se trate de matéria técnica. Pode ele não saber avaliar um quadro, uma casa, um objeto de arte (conta-se, expressivamente, da penhora de um “Crucifixo marca INRI”...). Deve o avaliador comunicar a sua falta de conhecimento ao juiz, que, muitas vezes, sabendo das limitações desse auxiliar, já nomeia o avaliador qualificado no próprio mandado de penhora e avaliação. Nada obsta a que aquela se faça pelo oficial de justiça, ou outro serventuário designado pelo juiz, e esta pelo avaliador dativo. A vontade inequívoca da lei é de que se chegue à mais precisa avaliação possível. Por isso mesmo, o juiz pode determinar a avaliação por pessoa jurídica, sob a responsabilidade dos representantes dela, e chamar técnicos de fora da comarca. A avaliação não é prova, no sentido de meio de convencer da verdade de alegações. Por isso, não cabe a nomeação de assistentes técnicos, mas as partes, evidentemente, podem apresentar pareceres para questioná-la. O “breve prazo” para a entrega do laudo deve ser entendido como prazo suficiente à avaliação, que o juiz, diante das circunstâncias, pode aumentar ou diminuir. Certo que o inciso III do art. 475-L permite a impugnação fundada na “penhora incorreta ou avaliação errônea” (por que não falar em penhora ou avaliação errôneas, evitando-se os sinônimos, que se equivalem?). O devedor (e quiçá o credor) não precisa, entretanto, aguardar esse momento, quando o erro da penhora ou da avaliação for evidente, demonstrado isto inclusive mediante parecer técnico. Aí, o requerimento da correção do erro faz-se por petição, que o juiz deferirá, em decisão agravável (art. 522). Não se pode esquecer, no tocante à penhora, norma do § 4 º do art. 475-B, já anotada neste pequeno livro. O § 3º permite ao exequente, ao requerer a penhora e avaliação, como lhe determina o caput, indicar “desde logo”, isto é, no próprio requerimento, os bens a serem penhorados. Vê-se, então, que o § 3º do art. 475-J derrogou o art. 652, vigente apenas para a execução de título extrajudicial, que obedece a regime diferente do cumprimento da sentença. Não revogado o art. 655, a indicação de bens à penhora, feita pelo credor, deve observar a ordem estabelecida nesse dispositivo. O devedor pode insurgir--se contra o desatendimento dessa ordem por petição, que indicará o bem a ser penhorado. Ouvido o credor, o juiz decidirá o incidente, mediante decisão interlocutória agravável. A Lei n. 11.232 não disciplinou as diversas situações que podem ocorrer no tocante à penhora e à avaliação. Prevalecem, por isso, os artigos pertinentes dos quais já se ocuparam os tribunais e a doutrina. O art. 732 determina que a execução de sentença condenatória de prestação de alimentos se faça conforme o disposto no Capítulo IV do Título II do Livro II. Entretanto, por serem especiais, não foram revogadas as normas do art. 733 e seus parágrafos. A citação do devedor determinada neste artigo, para, em três dias, pagar o débito, provar que já o efetuou, ou justificar a impossibilidade de fazê-lo, continua pressuposto da incidência dos três parágrafos. Desatendida a ordem, caberá a prisão, de um a três meses (§ 1º), a qual, por ser medida administrativa, não eximirá o devedor da obrigação (§ 2º), mas será suspensa se se fizer o pagamento (§ 3º). Essa citação é termo inicial do prazo, encurtado na espécie, de cumprimento da sentença ou decisão. Desatendido, desencadeia também os atos da execução, previstos nos arts. 475-J e seguintes. 6. Cabe fazer agora algumas considerações sobre a exceção de pré--executividade. Ressalve-se, no entanto, que não se cuidará aqui do conceito do instituto, dos seus pressupostos, dos seus efeitos, tudo isto largamente tratado na doutrina e na jurisprudência e, por essa razão, exorbitante do propósito deste pequeno livro, que é apenas focalizar as leis de reforma do Código de Processo Civil. Ocorrendo os respectivos pressupostos (resumidamente, a execução em manifesta, acentuada e lesiva distonia do título exequendo), pode o sujeito passivo da execução (art. 568) suscitar a exceção de pré-executividade, assim que intimado do trânsito em julgado da sentença, se, desde logo, o credor houver manifestado a pretensão de recebimento de quantia incompatível com o título. Isto ocorrerá principalmente quando, nos termos do art. 475-B, o credor requerer o cumprimento da sentença, apresentando cálculo contrário ao nela disposto. Magistrados de todas as instâncias, Ministério Público e advogados não raro assistem à apresentação de cálculos escabrosos, que não podem, absolutamente, servir de base a uma penhora deletéria (vejam-se as considerações em torno do § 4º do art. 475-B). E se a liquidação, encerrada por decisão preclusa pela falta do agravo do art. 475-H, houver chegado a soma incompatível com o título? A sentença (formalmente, decisão interlocutória) de liquidação será nula e, por isso, de nenhum efeito, porque contrária à coisa julgada, que a própria lei deve respeitar (CF, art. 5º, XXXVI). A preclusão da decisão de liquidação não desconstitui a coisa julgada. Pode o devedor proceder à arguição somente quando o credor requerer a expedição do mandado de penhora e avaliação (art. 475-J), desde que ocorram os pressupostos da exceção de pré-executividade, que não é simples impugnação à execução. Esta haverá de ser feita nos termos do § 1º do art. 475-J e do art. 475-L. A exceção é – se se permite a redundância – excepcionalíssima, destinada a excluir pretensão incompatível com o título e com o processo executivo (pouco importa se regulado com vestes de incidente de cumprimento da sentença), destinado à satisfação do crédito nele realmente estipulado. 7. O § 4º contém norma desnecessária porque, efetuado o pagamento parcial da dívida, nos quinze dias do art. 475-J, a base da multa passa, ligeiramente, a ser a parte não paga. De melhor técnica teria sido dizer que, por qualquer modo extinta parcialmente a dívida, a multa incide sobre a parte subsistente. Isto não acontece só na hipótese de pagamento, porém em qualquer outra, extintiva da obrigação (v.g., o credor legou uma porção do crédito ao próprio devedor, ocorrendo a confusão; o credor vem aos autos e, com o consentimento do devedor, desiste do cumprimento de parte da sentença, desistência essa feita nos quinze dias do art. 475-J; o devedor obtém a remissão parcial da dívida, ou o credor renuncia à parte do seu crédito – art. 794, II e III). 8. Quanto ao § 5º, deve-se interpretar a oração gerundiva “não sendo requerida a execução no prazo de seis meses” como significativa da falta do requerimento de expedição do mandado de penhora e avaliação referido no caput do artigo. Feita a intimação do devedor, para ciência do trânsito em julgado (no meu juízo, indispensável, como exposto no item 1, supra), o que pode ser determinado de ofício (e, por isso, também a requerimento do credor) começa o prazo de quinze dias para o pagamento. Findo esse prazo, torna-se necessário o requerimento de expedição de mandado de penhora e avaliação. Abstendo-se o legitimado (art. 566) de formular esse requerimento, no prazo de seis meses, que se conta a partir do termo final do prazo de quinze dias, o juiz manda arquivar os autos. A norma desobstrui a serventia, não havendo razão para que os autos ali permaneçam indefinidamente. Na razão de ser, esse § 5 º não cai longe do art. 257. O arquivamento não descarrega o título da sua eficácia executiva; não o desconstitui. O dispositivo mostra isso, dispondo que a qualquer momento se pode pedir o desarquivamento dos autos. A norma fala em requerimento da parte (não só do credor) porque o próprio devedor pode fazer a solicitação, interessado, por exemplo, em depositar o valor da dívida, ou em obter elementos para alguma ação, como a rescisória do título judicial. “Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença. § 1º Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. § 2º Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir- lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. Havendo transformado a execução de sentença numa fase do processo cognitivo, intitulada cumprimento da sentença, a Lei n. 11.232 criou a impugnação como meio de defesa do devedor. Assim, parafraseando o art. 736, derrogado no tocante à execução de título judicial, “o devedor poderá opor-se ao cumprimento da sentença por meio de impugnação”. Subsistem os embargos do devedor como meio de defesa da execução de título extrajudicial, ou da execução por quantia certa contra a Fazenda Pública (arts. 730 e 736). Tanto quanto os embargos do devedor, a impugnação, na forma de um incidente do processo de conhecimento, constitui uma ação declaratória de ineficácia do título, do processo, ou de atos processuais. Considerada a nova sistemática da execução, o art. 475-L desafiará seus intérpretes. Vejam-se, mais adiante, as notas à modificação da epígrafe do Capítulo II do Título III do Livro II do Código de Processo Civil e ao novo caput do art. 741. Deve-se notar que a impugnação do art. 475-L não constitui somente meio de defesa de obrigação por quantia certa, como faria crer uma interpretação literal do caput do art. 475-I, onde se diz que, “tratando-se de obrigação por quantia certa, [o cumprimento da sentença faz-se] por execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo”. O art. 475-L, um dos “demais artigos”, regula a impugnação. Nem por isso ela é exclusiva daquela espécie da execução. Não se pode esquecer de que a impugnação, a Lei n. 11.232 a colocou no Capítulo X, acrescido ao Título VIII do Livro I do Código de Processo Civil, no qual se disciplina o cumprimento da sentença impositiva de obrigação por quantia certa, bem como de sentença condenatória a obrigação de fazer ou não fazer, ou de entrega de coisa, todas referidas no art. 475-I. O § 1º do art. 475-J apenas remete o devedor de quantia certa ao art. 475-L, onde se trata da impugnação. Ela, todavia, não é exclusiva daquela espécie de execução, porém meio de defesa das modalidades indicadas no art. 475-I. A própria Lei n. 11.232 mostra isso, quando o seu art. 5º mudou a epígrafe do Capítulo II do Título III do Livro II do Código de Processo Civil, que antes era “Dos embargos à execução fundada em sentença”, e agora é “Dos embargos à execução contra a Fazenda Pública”. Tem-se, então, que o devedor se defende do cumprimento da sentença de obrigação por quantia certa, de obrigação de fazer ou não fazer, de obrigação de dar (art. 475-I), por meio da impugnação do art. 475-L. Na execução de título extrajudicial, o devedor defende-se por meio de embargos da maior amplitude, como determina o art. 745, mesmo no caso do art. 621. Na execução contra a Fazenda Pública, defende-se ela através de embargos (art. 741). Acrescente-se ainda que, no cumprimento da sentença condenatória à entrega de coisa, o devedor defende-se por meio da impugnação do art. 475-L, mas pode, simultaneamente a ela, deduzir embargos de retenção por benfeitorias, consoante o art. 744. 2. Formula-se a impugnação, no prazo de quinze dias, contado da intimação do auto de penhora e de avaliação. Se, incorretamente, houver primeiro a intimação da penhora e só depois a intimação do auto de avaliação, o prazo da impugnação corre da intimação deste e não daquela. Deve-se interpretar o § 1º do art. 475-J, no sentido de que ele, aludindo embora a atos exclusivos do cumprimento de obrigação por quantia certa, explicitou o prazo para o devedor fazer qualquer impugnação (o gerúndio “querendo” constitui demasia): quinze dias. Conta-se esse prazo da intimação do auto de penhora e avaliação, se a execução for por quantia certa. Se de obrigação de fazer ou não fazer, ou de dar, o prazo corre a partir da intimação do trânsito em julgado da sentença. No caso do § 1 º do art. 461, que se estende à hipótese do art. 461-A, por força do seu § 3º, conta-se o prazo a partir da decisão que julgar a liquidação. Não se pode esquecer de que as normas reguladoras da execução de título extrajudicial aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, como dispõe o art. 475-R. 3. Quanto ao efeito suspensivo da impugnação, vejam-se as anotações ao art. 475-M. 4. O art. 736 dispõe que o devedor pode se opor à execução por meio de embargos. Subsistem os embargos relativamente aos títulos extrajudiciais. Não, entretanto, no tocante aos títulos executivos judiciais (art. 475-N), contra cujo cumprimento o devedor se insurge por meio de impugnação (arts. 475-J, § 1º, e 475-L, derrogado, conseguintemente, o art. 736, cujo âmbito de incidência foi restringido). Continuam a viger os arts. 741 e 745, incidente este na execução de títulos extrajudiciais, assim como as demais regras que regem os embargos. 5. No art. 475-L, os incisos I, II, IV, V e VI repetem, respectivamente, os incisos I, II, III, V e VI do art. 741. O § 1 º reproduz o parágrafo único do art. 741. Farta a doutrina e a jurisprudência sobre esses dispositivos, não existe razão para tratar deles aqui. O art. 475-L excluiu dos seus itens a matéria do inciso IV do art. 741 (cumulação indevida de execuções). Compreende-se o legislador porque, sendo a execução de sentença uma fase do processo de cognição, não cabe cogitar de cumulação indevida de execuções. Óbvio que se o credor quisesse, por absurdo, juntar ao cumprimento da sentença o cumprimento de outra sentença, proferida noutro processo, ou cumular o cumprimento de uma sentença com a execução de um título extrajudicial, o juiz deve cortar essa pretensão, de ofício ou a requerimento de uma parte. A cumulação de pedidos no processo de conhecimento (art. 292), a toda vista, não constitui matéria a ser tratada no momento de pedir-se a efetivação do comando da sentença. Aparece, no inciso III do art. 475-L, a impugnação do cumprimento de sentença, na hipótese de “penhora incorreta ou avaliação errônea”. Qualquer vício da penhora a tornará incorreta, seja pela inobservância do respectivo procedimento (ressalve-se, contudo, a hipótese do art. 244), como acontece se não se leva a penhora a termo, ou dela não se intima o devedor, seja pela transgressão de qualquer norma relativa à penhora em si, como ocorre quando se penhoram bens impenhoráveis, bens de terceiro estranho à execução, ou não se obedece à ordem do art. 655. A avaliação será errônea se, por qualquer motivo, não importa qual, for defeituosa, desde que esse defeito possa comprometer-lhe a finalidade. Avaliação por quem não é ou não pode ser avaliador; avaliação parcial; avaliação indireta substituta da direta e possível; avaliação que não traduz o real valor da coisa; tudo são motivos determinantes da erronia que sustenta a impugnação fundada no inciso III, segunda parte. 6. Compreende-se que o art. 475-L já não alude à incompetência do juízo da execução, bem como à suspeição ou impedimento do juiz como outros fundamentos da impugnação, como, no inciso VII, faz o art. 741, hoje regulador dos embargos à execução contra a Fazenda Pública, como disposto no art. 5º da Lei n. 11.232. A execução, na forma de cumprimento da sentença, passou a ser fase do processo de conhecimento (Lei n. 11.232, art. 4º). Consequentemente, a incompetência (superveniente) do juízo e a suspeição ou impedimento do juiz serão suscitados como incidentes do processo cognitivo (arts. 113, 112 e 304). 7. O § 1º deste art. 475-L repete, literalmente, o parágrafo único do art. 741. Por isso, já existentes doutrina e jurisprudência sobre ele, nada se anota aqui em relação ao dispositivo, introduzido no Código de Processo Civil pelo art. 4º da Lei n. 11.232, de 22-12-2005. 8. O § 2º do art. 475-L obriga o executado a declarar o valor que entende devido, quando alegar que o exequente pretende, com excesso de execução, quantia superior à concedida na sentença. A sanção para a falta de indicação da quantia será a rejeição liminar da impugnação fundada no item V do artigo. Interprete-se adequadamente o dispositivo, no ponto em que comina essa sanção. Se os cálculos necessários à determinação do valor concedido na sentença forem complexos, o executado, expondo a dificuldade de apuração dessa quantia, poderá pedir ao juiz que nomeie perito para apurá-la. A petição do executado poderá conter apenas explanação dos problemas do cálculo ou trazer quaisquer documentos (v.g., opinião de técnico) comprobatórios disso. Se o juiz, perplexo, pode valer-se do contador judicial para a verificação do cálculo aparentemente exagerado (art. 475-B), também pode a parte requerer essa verificação. 9. O art. 741, V, dispunha que, além do excesso de execução, o devedor podia oferecer embargos no caso de nulidade da execução até a penhora. Fase do processo de conhecimento, já não cabe falar de nulidade da execução, mas de nulidade do processo cognitivo. Aliás, a declaração da nulidade do processo pode ser requerida a qualquer tempo, independentemente de embargos. Por essa razão, a Lei n. 11.232 também retirou do inciso V do art. 741, regulador dos embargos à execução contra a Fazenda Pública, a nulidade da execução até a penhora. Ainda sobre excesso de execução: a Lei n. 11.232 não ab-rogou o art. 743 do CPC, que arrola os casos de excesso de execução. Conquanto esse artigo se enquadre agora, por força do art. 5º daquele diploma, no capítulo reservado aos embargos contra a Fazenda Pública, ele também incide na hipótese do art. 475-L, cujo inciso V autoriza a impugnação por excesso de execução. Seria ilógico que o art. 743 só coubesse no excesso de execução contra a Fazenda Pública, mas não no excesso de execução no cumprimento da sentença. A figura processual é a mesma. “Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. § 1º Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 2º Deferido efeito suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios autos e, caso contrário, em autos apartados. § 3º A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. O que seja grave dano de difícil ou incerta reparação, ou fundamentação relevante, já foi suficientemente explicado pela doutrina e pelos tribunais, tratando de dispositivos como o art. 558, ou o art. 273, I, do CPC. A regra é a de que a impugnação não produz efeito suspensivo. Permite, contudo, o art. 475-M, que o juiz dê esse efeito à impugnação. Isto ocorrerá se, além de relevantes os fundamentos da impugnação, o prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao executado dano grave e de difícil reparação. Dano grave: prejuízo material ou moral capaz de diminuir, significativamente, o patrimônio do devedor, não em comparação com a sua totalidade, mas em vista do valor objetivo do prejuízo em si mesmo. Reparação difícil: recuperação que demandará atos processuais complexos, como perícia a cargo de pessoa ou entidade qualificada. Reparação incerta: ressarcimento que não se pode assegurar, tendo em vista as oscilações do patrimônio do devedor e as atividades de risco por ele exercidas. Não se confunde verossimilhança (art. 273) com relevância. Bem pode haver verossimilhança (aparência de verdade) sem que exista relevância (importância). Por exemplo, impugnando com fundamento no inciso I do art. 475-L, o devedor alega que foi intimado, e não citado, para o processo cognitivo e junta documento indicativo disso. Se, entretanto, intimado, ele compareceu e contestou, o erro do meio de comunicação processual deixa de ser relevante. O risco de dano grave e de difícil reparação (mister se reúnam esses dois elementos, insuficiente apenas um deles) deve ser manifesto, no sentido de ser perceptível pelos elementos dos autos, pelas próprias circunstâncias, ou por dedução lógica. A suspensão da execução implica a proibição da prática de qualquer ato, salvo os de conservação de coisa ou providências relativas a assegurar o êxito do cumprimento da sentença. É medida de contenção da eficácia executiva do título. Já assisti, chocado, ao caso em que, suspensa a execução por quantia certa, o juiz mandou intimar o executado, que lutava contra a pretensão executória escabrosa, para ciência do seu inadimplemento (sic). Não se culpa a lei por semelhante atitude... 2. O § 1º contém inovação, no campo do processo executivo, agora com a fantasia de cumprimento da sentença. Suspensa embora a execução por força da impugnação, como permite a segunda parte do caput, a lei dá ao exequente o direito de requerer o prosseguimento dela, prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos. O deferimento de tal pedido suspende o efeito suspensivo, que pode ser restabelecido em qualquer tempo, quando, mesmo prestada a caução, ela se mostrar insuficiente. E pode acontecer que se verifique que o caso não comporta qualquer caução. Advirta-se que a revogação do efeito suspensivo está condicionada ao oferecimento de caução idônea, isto é, suficiente ao ressarcimento dos prejuízos que da execução resultarem para o devedor. A idoneidade compreende a facilidade processual de conversão da garantia em dinheiro. Convindo ao credor e ao devedor, pode aquele ficar com o bem objeto da garantia. Não cabe cogitar neste caso, penso eu, de pacto comissório, porque não se está no campo de uma relação comum de ordem privada, porém no do direito processual, que é público. Num trabalho voltado apenas para as inovações trazidas pelas leis de reforma do Código de Processo Civil, não é necessário discorrer sobre a fungibilidade da decisão concessiva de efeito suspensivo à impugnação, quando essa matéria encontra-se detidamente examinada, como acontece na jurisprudência e doutrina da última parte do art. 804 e do art. 805. Assinale-se, contudo, que a caução do § 1º do art. 475- M é, consoante determina esse dispositivo, prestada nos próprios autos, nada obstando, todavia, a que, complexa a prestação da caução, o juiz determine se processe ela em autos apartados. Não se obedece ao procedimento dos arts. 826 e seguintes. Enquanto o juiz não declarar prestada a caução por decisão interlocutória, suscetível de agravo (art. 522), subsiste o efeito suspensivo a cuja substituição ela visa. A norma do § 1º não impede o juiz de suspender de ofício o efeito suspensivo, nem o credor de simplesmente formular pedido de tal providência. Imagine-se um caso qualquer em que o juiz, havendo concedido o efeito suspensivo, mas sem a configuração dos pressupostos do art. 475-M, se adverte disso e apaga o seu error in procedendo. 3. A norma do § 2º é meramente ordinatória. Se a execução não vai prosseguir porque suspensa, usam-se os autos para processar a impugnação. Se não há suspensão, processa-se em apartado a impugnação para que ela não se misture com os atos executórios. A regra, no entanto, não priva o juiz da direção do processo. Pode ele, mesmo não havendo efeito suspensivo, determinar o processamento apartado da impugnação. Revogado ou suspenso o efeito suspensivo, a impugnação é melhor que se transfira para o apenso e aí continue, ainda que o efeito suspensivo se restaure. O juiz decidirá essas questões casuisticamente. Não é de bom gosto a aditiva e, antes da expressão caso contrário. 4. A regra do § 3º é dispensável porque o seu comando já se colhe noutros dispositivos do próprio Código. Coerente com a taxonomia dada ao cumprimento da sentença, a lei fez da impugnação um incidente do processo cognitivo, muito embora, na substância, ela continue sendo ação de ineficácia do título ou de ato da execução. Como a impugnação não é extintiva do processo executivo, assume a forma de incidente o pronunciamento que a decide. Por isso, a lei a torna recorrível por agravo de instrumento. Neste caso, o agravante não necessita demonstrar a ocorrência dos pressupostos do art. 522. O agravo de instrumento é o recurso instituído por determinação da lei. A decisão que julga o mérito da impugnação, para acolhê-la ou rejeitá-la, é decisão de mérito. Ela julga a lide decorrente da pretensão do credor de executar e da resistência do devedor. Consubstancia um daqueles casos em que se entrega a jurisdição em porções. De mérito, pode-se desconstituir por ação rescisória tanto a própria decisão quanto o acórdão que, em qualquer recurso, se pronunciar sobre o mérito, substituindo-a (art. 512). A sentença extintiva da execução é a referida no art. 795 do CPC e a apelação, admissível no caso dessa extinção (art. 794), ou em qualquer outro (v.g., art. 267 c/c o art. 598). “Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV – a sentença arbitral; V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal. Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. Tal como fazia o art. 584 do CPC, ab-rogado pela Lei n. 11.232, o art. 475-N enumera os títulos executivos judiciais, assim qualificados porque emanam da função jurisdicional do Estado. Nesse novo artigo, o inciso II repete igual inciso do art. 584; o inciso III é cópia de igual item do art. 584, salvo quanto a um verbo; o inciso IV é idêntico ao VI anterior; o inciso VI, igual ao IV, salvo quanto ao tribunal competente; o inciso VII assemelha-se ao inciso V, anterior, com a incorporação do que estava no parágrafo único, hoje substituído por outra norma, complementar do atual art. 584. Não há necessidade de fazer qualquer anotação aos textos repetidos, ainda quando deslocados para outros itens, num pequeno livro como este, voltado apenas para as inovações, consideradas neste item. O novo inciso I merece maior atenção. 2. O inciso I do art. 584 falava apenas na “sentença condenatória proferida no processo civil”. O atual inciso I do art. 475-N usou linguagem mais abrangente, ao indicar, como título executivo judicial, a sentença civil “que reconheça a existência da obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia”, que são as espécies de sentença condenatória. O legislador falou em sentença “que reconheça”, o que ocorre não só com as sentenças condenatórias, mas também com a sentença declaratória, e mesmo com a constitutiva. A execução das sentenças meramente declaratórias (CPC, art. 4º) existe, mas de tal modo diferente da execução das sentenças condenatórias, que deve ser chamada de execução imprópria. Com efeito, se se declara a falsidade de um documento (CPC, art. 4º, II), encontrando-se ele registrado, determina-se o desfazimento do registro ou, ao menos, a anotação de que foi declarado falso por sentença judicial. Se se anula um negócio jurídico, celebrado por escritura pública, também faz-se uma anotação nas notas e no registro competentes. A separação judicial desencadeia alguns atos, como alteração de nomes e a anotação do desfazimento da sociedade conjugal. Como se vê, existe um tipo de execução, imprópria, se confrontada com a execução das sentenças condenatórias. Como estas sentenças envolvem a declaração de relações jurídicas, a apreciação de negócios ou situações jurídicas, devem elas enfrentar questões prejudiciais. Se, entretanto, tais questões já houverem sido objeto de sentença meramente declaratória, ou de sentença constitutiva transitada em julgado, elas se imporão ao juiz da ação condenatória. Com a redação do inciso I do art. 475-N, que alude, de modo amplo, à sentença, proferida no processo civil, que reconhece a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa, ou pagar quantia, é preciso distinguir se tal sentença limitou-se à declaração (sentença declaratória), ou à modificação de uma situação jurídica, ou se mandou fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia. Não se pode esquecer que o autor, mesmo tendo pretensão condenatória, pode ficar a meio caminho, na só declaração. O parágrafo único do art. 4 º do CPC mostra exatamente isto, quando estabelece que “é admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito”. Cumpre-se toda e qualquer sentença, na extensão em que esse cumprimento é possível. Entretanto, só se executam as sentenças condenatórias. O art. 586 do CPC não foi revogado, nem revogada a execução para cobrança de crédito nele contemplado. Em suma e em síntese, se se permite a insistência, cumpre-se toda e qualquer sentença, inclusive as proferidas na jurisdição voluntária, mas só se executam as sentenças condenatórias. 3. Como dito, o inciso III deste art. 475-N repete o inciso III do art. 584, salvo quanto à substituição do verbo verse pelo verbo inclua. Não importa a vontade do legislador, fica tudo como dantes. Versar e incluir, no caso do inciso III do artigo vigente e do revogado, se assemelham. A lei indica que, no momento da conciliação e da transação, feitas no processo, podem as partes incluir a composição de lides não objeto da relação processual. Não se trata, aqui, da homologação de acordo extrajudicial, este objeto do inciso V. O inciso V do art. 475-N é originário da reforma processual. Permite a homologação de acordo feito fora do processo, por instrumento público ou particular, conforme a regra jurídica material incidente, nos casos em que, segundo essa norma, se permita acordo fora do processo. Essa sentença profere-se num processo, emergente do requerimento (na verdade, uma ação), feito pelas partes do acordo, ou por uma delas. Neste último caso, necessária se fará a citação das outras. Se a sentença de que se trata for meramente homologatória, isto é, se se limitar apenas à verificação do preenchimento dos requisitos, o art. 486 incidirá. Se, porém, a sentença compuser uma lide em torno do acordo (v.g., citada, uma das partes questiona a nulidade, logo há impossibilidade de homologação de certa cláusula), será decisão de mérito, exposta ao art. 485. No inciso VI, estatui-se que competente para a homologação da sentença estrangeira é o Superior Tribunal de Justiça, não mais o Supremo Tribunal Federal. O art. 9 º da Emenda Constitucional n. 45, de 8-12-2004, revogou a alínea h do inciso I do art. 102 da Constituição, que atribuía essa competência à Suprema Corte. O art. 1º da Emenda n. 45 acrescentou a alínea i ao art. 105 da Constituição, transferindo ao Superior Tribunal de Justiça a competência para a homologação. O inciso VII do art. 475-N enumera entre os títulos executivos judiciais o formal e a certidão de partilha, tal como estava no item V do art. 584. O inciso VII incorporou a norma do parágrafo único do artigo revogado, antepondo o adjetivo universal ao singular. 4. O parágrafo único do art. 475-N é novidade. Como a sentença penal condenatória (inciso II), a sentença arbitral (inciso IV) e a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (inciso VI) claramente não se inserem no modelo do art. 475-J, no sentido de permitirem o início do prazo de quinze dias para o pagamento de quantia certa, não basta a intimação do devedor. A execução do devedor começa com a citação dele, pelos meios admissíveis, já que não se cuida de cumprimento da sentença, na acepção do art. 475-I, inserido no próprio processo cognitivo, inexistente no caso. Nas hipóteses do parágrafo, o título vem de outros processos. Por isso, a actio judicati é necessária, engrossando a salada posta no Código de Processo Civil. “Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 1º No caso do inciso II do caput deste artigo, se a sentença provisória for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução. § 2º A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada: I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o limite de sessenta vezes o valor do salário mínimo, o exequente demonstrar situação de necessidade; II – nos casos de execução provisória em que penda agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. § 3º Ao requerer a execução provisória, o exequente instruirá a petição com cópias autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado valer-se do disposto na parte final do art. 544, § 1º: I – sentença ou acórdão exequendo; II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; III – procurações outorgadas pelas partes; IV – decisão de habilitação, se for o caso; V – facultativamente, outras peças processuais que o exequente considere necessárias.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. O caput do art. 475-O repete o agora ab-rogado art. 588 do CPC, com o acréscimo do adjunto no que couber, algo expletivo. Substituiu-se, no caput, a palavra princípios pelo substantivo normas, porque os incisos encerram comandos coativamente impostos, e não apenas preceitos da ciência jurídica. As regras e princípios são os da execução definitiva, salvo naquilo que for incompatível com a execução que se faz, não após o trânsito em julgado da sentença (art. 467), mas ainda na pendência de recurso, que produz apenas o efeito devolutivo, exatamente para permitir, desde logo, o cumprimento da sentença. Executa-se provisoriamente a sentença (ou o acórdão substituto dela, nos termos do art. 512, ou proferido originariamente), não em virtude de um juízo de probabilidade do provimento do recurso interposto, mas pela vontade estatal que, numa opção axiológica, admite a execução a partir de certo ponto, com as cautelas inerentes à natureza reversível dela. No caput, usa-se a palavra sentença no sentido amplo, abrangente de acórdão, tal como ocorre no art. 485. 2. O inciso I aperfeiçoou a regra do inciso I do art. 588. Estatui que a execução provisória corre por iniciativa do exequente, indicando, então, que, dominada pelo princípio dispositivo, a instauração dela depende de requerimento do credor. O inciso I aparece agora sem a referência do inciso I do art. 588 à caução. Afasta-se, assim, a ideia de que o início da execução provisória sujeitava-se a uma caução. A nova redação do inciso I reflete o entendimento de que a caução só é necessária nos casos do inciso III. 3. O inciso II do art. 475-O é o inciso III do art. 588 com o acréscimo de que os prejuízos do executado, decorrentes da execução provisória, são liquidados nos mesmos autos, por arbitramento. Pode, todavia, ocorrer que a liquidação dos danos, diante da natureza deles, deva fazer-se por simples operação aritmética, ou por artigos. O dispositivo não exclui essas duas modalidades, quando se mostrarem o meio adequado de determinar o conteúdo da decisão exequenda. O inciso II fala em eventuais prejuízos. O inciso I alude a danos. Dir-se--á que, no inciso II, a lei trocou seis por meia dúzia. Se, conforme o inciso I, o exequente se obriga a reparar os danos que o executado haja sofrido, deve-se entender que, no inciso II, o legislador usou o substantivo prejuízos como sinônimo daquele, mormente quando o nome dano tem significado abrangente. O dispositivo alude à superveniência de acórdão. Não se pode, contudo, esquecer de que, admitida a execução provisória da sentença impugnada por apelação sem efeito suspensivo (art. 521), ela pode ser reformada por ato individual do relator (§ 1º-A do art. 557), o qual, transitado em julgado, desmanchará a execução provisória, tal como o acórdão mencionado no inciso. Aliás, fala o inciso em acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução. O fenômeno, entretanto, pode pousar no domínio de acórdãos, como no caso da execução de custas e honorários dados por acórdão de procedência da ação rescisória, reformado, entretanto, por acórdão de embargos infringentes. Absolva-se, contudo, o legislador que preferiu cuidar da situação costumeira em que um acórdão desfaça a sentença exequenda. Óbvio que, substituída a sentença por acórdão proferido em apelação (art. 512), é este que se executa, servindo de título à execução provisória. A confirmação dele por outro acórdão permite o prosseguimento da execução, conquanto, tecnicamente, é o acórdão confirmador que se executa. 4. O inciso III é quase cópia do inciso II do revogado art. 588. Na esteira do novo Código Civil, o legislador substitui domínio por propriedade. Domínio, na distinção clássica, limita-se às coisas corpóreas, enquanto a propriedade engloba todos os direitos integrantes do patrimônio, inclusive os incorpóreos, como, v.g., os direitos autorais. No caso do inciso III, não se poderia transferir a titularidade deles sem caução suficiente e idônea. O inciso II do art. 588 falava em alienação do domínio e levantamento de depósito em dinheiro. O inciso III acrescenta agora a exigência da caução também quando da execução provisória possa resultar grave dano ao executado. Esta alusão a grave dano permite construir no sentido de que a execução provisória não se admite se o dano for irreparável. Não se deve conceber uma execução de que possa resultar um dano irreversível. O dano grave é a situação de maior perigo contemplada na lei; não o irremediável. O juiz apreciará, casuisticamente. A caução, diz o inciso, deverá ser suficiente e idônea. Suficiente, no sentido de bastar para a integral reparação do executado. Idônea, no sentido de apta a converter-se, sem delongas, na soma necessária à compensação do prejuízo, como não acontece, v.g., com o bem situado em lugar remoto, onde a jurisdição é precária, ou o bem do caucionante pendurado em dívidas, com o bem hipotecado por quase todo o seu valor. A caução é arbitrada pelo juiz, “de plano”, diz o inciso, o que lhe permite fixar a caução antes do contraditório. É certo, porém, que o devedor pode impugnar a caução, demonstrando-lhe a insuficiência ou inidoneidade. A caução de que agora se trata é medida cautelar embutida na própria execução provisória. Não obedece ao procedimento dos arts. 826 e seguintes. Arbitrada a caução por decisão interlocutória, suscetível de agravo, ela pode ser real ou fidejussória, o que nos leva à doutrina e à jurisprudência do art. 826. 5. O § 1º do art. 475-O repete, literalmente, salvo quanto à indicação do inciso, o parágrafo único do ab-rogado art. 588, razão por que se remete ao quanto se escreveu e julgou sobre ele. 6. O § 2º enumera, nos seus dois incisos, os casos em que a caução poderá ser dispensada. Nessas hipóteses, a execução provisória se fará sem a prestação da garantia, se assim decidir o juiz, não de ofício, mas a requerimento do exequente, como indica a oração temporal, “quando (...) o exequente demonstrar situação de necessidade”. A lei não dispensa a caução, mas autoriza o juiz a fazê-lo. No caso do inciso I, a caução pode ser dispensada “até o limite de sessenta vezes o salário mínimo”. Só se requererá a caução no que exceder desse limite. Concebe-se, pois, a execução sem caução até esse patamar, mas, no que exceder dele, a caução será dada pelo valor do excesso. O item II permite a dispensa da caução, pelo juiz, na pendência do agravo de instrumento interposto da decisão de indeferimento do recurso extraordinário, ou especial. Aqui, o legislador adotou um juízo de probabilidade. Não se permite a dispensa da caução, quando a falta dessa garantia puder acarretar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. Tanto o inciso I quanto o inciso II do § 2 º incidem a partir da interposição do agravo de instrumento. O inciso II emprega o advérbio “manifestamente”, para indicar que o dano grave, de difícil ou incerta reparação, deve apresentar-se do simples exame da situação, sem maiores indagações. Note-se que a lei, mais uma vez, não fala em dano irreversível, a indicar a impossibilidade da execução provisória, neste caso. 7. O art. 589 preceituava que a execução provisória se faria em autos suplementares. O § 3º reza a mesma coisa, quando determina a apresentação de cópias de peças do processo, o que não faria sentido, se a execução ocorresse nos próprios autos. Os incisos do § 3º confirmam isto. No caso do § 2º do art. 475-I, a execução provisória se fará nos autos apartados ali referidos, sem necessidade de abertura de outros. As peças devem ser autenticadas em cartório, uma a uma, folha a folha, ou juntas a certidão em que se declare a autenticidade de todas elas. O advogado, entretanto, pode juntá-las, declarando-lhes a autenticidade, como está no § 1º do art. 544. Não é esta norma que incide, porém a do próprio § 3º, que a ela se refere. A execução provisória, na forma de um incidente, constitui, na substância, uma ação. Por isso, o princípio dispositivo a dominar. A instauração dela depende de requerimento do executado. O parágrafo explicita este ponto. Acrescente-se que o art. 475-J não incide, de nenhum modo, se a execução é provisória. Nem mesmo após a intimação do devedor, na pessoa do seu advogado. A execução provisória é incidente de cumprimento da sentença. Não se pode esquecer que o art. 475-I determina que se faça por execução o cumprimento da sentença condenatória em quantia certa. Já não fala o § 3º em carta de sentença, como o art. 589, expressamente revogado pela Lei n. 11.232. Havendo autos suplementares (que eu nunca vi, em quase cinquenta anos de experiência forense), não é neles que se processa a execução provisória, pois eles existem para ficar no cartório ou secretaria, como providência de cautela contra o extravio dos autos principais (art. 159 e §§ 1º e 2º). Os cinco incisos do § 3º não mais falam em autuação; petição inicial e procuração das partes; e contestação, como estava no expressamente revogado art. 590. Exige o parágrafo cópias da sentença, ou do acórdão exequendo; de certidão da interposição do recurso não dotado de (que não produzir) efeito suspensivo. O ato judicial do relator que suspende o cumprimento da sentença até o pronunciamento do tribunal (parágrafo único do art. 558), ou qualquer medida semelhante, outorgada por tribunal, impede a execução provisória, ou suspende o seu curso. O exequente deve instruir a petição de execução provisória com cópias autenticadas das peças referidas nos incisos. Pode acrescentar-lhe cópias de outras peças processuais, também autenticadas porque o inciso V se submete ao § 3º. Faculta-se, igualmente, ao executado, a juntada de peças, assim como a impugnação das apresentadas pelo exequente. O juiz, claro está, pode ordenar, de ofício, a apresenta ção de quaisquer outras peças. “Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I – os tribunais, nas causas de sua competência originária; II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição; III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira. Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exequente poderá optar pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. A matéria deste art. 475-P estava regulada no art. 575, agora revogado. A Lei n. 11.232 fez o caput do novo artigo diferente do caput do anterior. Fa lava-se neste que “a execução fundada em título judicial processar-se-á perante: ...”. Mudou-se agora o sujeito da primeira oração, de “a execução” para “o cumprimento da sentença”. A execução por título extrajudicial é regulada pelo art. 576, que continua em vigor. Esta ação deve ser proposta no juízo competente, conforme as normas que regem a competência e as da organização judiciária. 2. Difere o inciso I deste novo artigo do item I do art. 575, pela eliminação do adjetivo superiores. Competente para a execução é o tribunal onde a causa foi ajuizada, se da sua competência originária, seja ele tribunal superior, ou não. 3. O inciso II fala na competência do juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição e não no juízo que decidiu a causa, como estava no item II do art. 575. Considerando a substituição do art. 512, incidindo ele, não será mais o juízo da primeira instância o órgão que decidiu a causa, julgada no tribunal cujo acórdão prevalecer. Cabe observar que, se o cumprimento da sentença é uma etapa do processo de conhecimento (art. 4º da Lei n. 11.232), a competência, logicamente, caberá ao juízo processante do feito no primeiro grau. O parágrafo único (q.v.) abriu exceção a essa norma. 4. O inciso III reuniu os incisos III e IV do art. 575. Determina a competência do juízo cível, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira. Da competência do Superior Tribunal de Justiça a homologação da sentença estrangeira (CF, art. 105, I, i), o inciso ora sob exame define a competência para a execução dela no juízo cível competente, afastando, então, a incidência do inciso I do art. 475-P do CPC. 5. O parágrafo único abre exceção à regra do inciso II. Dá a possibilidade de proceder-se ao cumprimento da sentença da competência do juízo processante da causa em primeiro grau (inciso II), pelo juízo do local onde se encontrarem os bens sujeitos à expropriação, ou pelo do atual domicílio do executado. Cria-se exceção à norma do art. 87, que consagra o princípio da perpetuatio jurisdictionis. A ação começa num juízo, mas a sentença dele cumpre-se noutro. Se o cumprimento da sentença se transfere ao juízo do local onde se encontrarem os bens do devedor, torna-se este competente para a direção do processo (art. 125, caput), cabendo-lhe decidir todos os incidentes, inclusive a impugnação (art. 475-L), como se a ele a causa houvesse sido originariamente distribuída. A perda da competência do juízo originário é completa. Se o executado possui bens sujeitos à penhora, avaliação e alienação em mais de um lugar, o exequente pode optar por qualquer deles. Considerando a finalidade da norma, destinada à melhor efetivação da sentença exequenda, afasta-se a incidência dela se o exequente optar por juízo de local onde os bens do devedor forem de valor irrelevante em contraste com o da execução. Não pode o devedor onerar o exequente, optando por comarca remota, onde a execução se fizer difícil e onerosa. Na execução, não é só o devedor que deve ser aliviado de ônus desnecessário, mas também o credor. Por domicílio atual do executado, deve-se entender o domicílio do devedor, no momento em que se requer a expedição do mandado de penhora e avaliação. Se o devedor tiver mais de um domicílio, a opção pode ser por qualquer deles. O local dos bens e o local do domicílio são proposições distintas, que não se somam. No texto, a conjunção alternativa ou é significativa, como não é, por exemplo, no art. 286. Ainda que os bens expropriáveis se encontrem em lugar diferente do domicílio, pode o legitimado à execução optar por este, pressupondo-se que mais rapidamente caminhará o processo. Mais de um devedor, pode o exequente optar pelo lugar dos bens mais úteis à expropriação, ou pelo lugar do domicílio de qualquer deles. Mais de um credor, prevalece, quanto à opção do parágrafo único, a vontade da maioria. No caso de empate, o processo permanece no juízo originário. A remessa do processo a um dos juízos indicados (rectius, a declinação da competência do juízo originário) é requerida ao órgão processante (inciso II), como está na última oração do parágrafo único. A petição, acompanhada dos documentos pertinentes, é junta aos autos. Instaura-se o contraditório. O juízo profere decisão interlocutória, suscetível de agravo. O juízo em favor do qual se declina da competência pode, por certo, suscitar conflito (art. 115, II). Não se pode formular o requerimento de que trata o parágrafo ao juízo para o qual se requer a remessa dos autos, porque a competência dele só se efetiva quando recebe o processo e nele pratica ato afirmativo dela. O parágrafo único do art. 475-P só incide se o credor requerer a remessa, subordinada, portanto, ao princípio dispositivo. O parágrafo não ab-rogou o art. 747. A impugnação, ou os embargos, sendo por carta a execução, serão oferecidos conforme nele disposto. “Art. 475-Q. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. § 1º Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do devedor. § 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de direito público ou de empresa de direito privado de notória capacidade econômica, ou, a requerimento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz. § 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação. § 4º Os alimentos podem ser fixados tomando por base o salário mínimo. § 5º Cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. A matéria objeto deste artigo encontrava-se regulada no art. 602, expressamente revogado pela Lei n. 11.232. 2. Este art. 475-Q principia o caput pela substituição do toda vez do artigo revogado pela temporal quando, sem que a troca repercuta na exegese do dispositivo. “O juiz condenará o devedor a constituir um capital”, dispunha o art. 602. “O juiz ... poderá ordenar ao devedor constituição de capital ...”, diz agora o art. 475-Q, aperfeiçoando a fórmula do revogado art. 602, à qual se dava interpretação restritiva, no entendimento de que nele a lei dissera magis quam voluit. A nova lei transformou em norma o que já se praticava sob o art. 602. Não há qualquer razão para que se condene pessoa jurídica pública ou privada, notoriamente solvente, à constituição de capital, sempre onerosa. O juiz também pode dispensar a pessoa física de evidente e sólida capacidade financeira da constituição do capital. A locução verbal poderá ordenar autoriza essa interpretação (o § 2º não cuida deste ponto). Se morrer a pessoa física, constituir-se-á o capital com os recursos do espólio. Pertencente ao acervo hereditário, também esse capital deverá ser partilhado e entregue a um ou mais herdeiros que, no entanto, não poderão usufruir dele até o evento do § 5º, salvo no que exceder da soma necessária ao pagamento da pensão. O art. 475-Q, caput, fala em renda que assegure o pagamento do valor mensal da pensão, não mais em renda que assegure o cabal cumprimento da obrigação, como mencionado no art. 602. Conquanto a lei se refira a pagamento do valor mensal da pensão, nada obsta a que se convencione outra forma de recebimento (v.g., bimestral), em todo caso garantido pelo capital, feitos os devidos ajustes. Os demais termos do caput deste art. 475-Q já constavam do art. 602, a cuja doutrina e jurisprudência se remete, neste livro que só se ocupa das inovações. 3. O § 1º acrescenta aos bens que podem integrar o capital referido no caput as “aplicações financeiras em banco oficial”. O devedor poderá aplicar certo capital, que gerará rendimentos necessários a cumprir a obrigação. Este capital pertence ao devedor. Por isso, pode ser diminuído ou aumentado, conforme faltem ou sobejem frutos necessários ao pagamento do valor da pensão mensal (não se trata aqui da hipótese do § 3º). O banco deve ser oficial, entendendo-se dessa natureza o que pertencer ao Poder Público, não importa se na forma de sociedade de economia mista, como o Banco do Brasil, se de empresa pública, como a Caixa Econômica Federal. Não havendo banco oficial na comarca, pode o juiz designar o banco oficial mais próximo. Estipula ainda o § 1º que o capital, não importa se constituído por imóveis, por títulos da dívida pública ou por aplicações financeiras, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação de pagamento. Essa inalienabilidade impede que o devedor movimente o capital, ou disponha dele. Ele permanece intocável, mas, por sua destinação, pode ser substituído, no todo ou em parte, por ordem judicial. Suponha-se a existência de outro imóvel, título da dívida pública, ou aplicação mais apta a garantir o credor, e mais cômoda para o devedor. O conceito de inalienabilidade e impenhorabilidade são os tradicionais da doutrina e da jurisprudência. Esses vínculos, contudo, são temporários e limitam-se ao tempo da obrigação do devedor. “Enquanto durar a obrigação” engloba com mais técnica os dois incisos do revogado art. 602 (durante a vida da vítima ou se ela falecer em consequência de ilícito, mas a obrigação for transmissível). Nada obsta a que o capital se constitua em parte de imóveis, em parte de títulos, em parte de aplicações. Importante é que cumpra a sua finalidade. Existe a possibilidade do devedor (“de o devedor” é tétrico e não encontrado nos clássicos) só ter bens móveis, como aluguéis ou “recebíveis”, isto é, prestações que lhe são regularmente pagas, em virtude das suas atividades, ou renda gerada com constância e estabilidade por certos bens, como ingresso para visitação de certos acidentes geográficos nas suas terras, museus, coleções. Prestando-se ao fim de assegurar o recebimento da prestação, também esses bens se prestam a constituir o capital. No particular, o art. 17 da Lei n. 5.478, de 25-7- 1968, que dispõe sobre a ação de alimentos, permite aplicação analógica. 4. O § 2º tem redação diferente do § 2º do art. 602, que substitui, mas, até certo ponto, é idêntico no conteúdo. O juiz pode substituir a constituição do capital (não só a constituição, mas também o capital já constituído) pela inclusão do beneficiário da pensão em folha de pagamento da entidade de direito público, ou da empresa privada de notória idoneidade. A norma pode estender-se a pessoas físicas em condições idênticas. Trata-se do desconto em folha a que se refere o art. 17 da Lei de Alimentos. Pode ainda o devedor apresentar fiança pela qual um banco se obriga a garantir a prestação, na hipótese de inadimplemento do devedor. A garantia real é a de que trata a lei civil. O juiz arbitrará o valor da fiança ou da garantia real, “de imediato”, diz o parágrafo, determinando, então, que se faça isto na decisão de deferimento da fiança ou da garantia real. 5. A regra do § 3º é a tradicional, do art. 401 do Código Civil de 1916 e do art. 1.699 do diploma de 2002. Veja-se, por isso, o que se construiu em torno dela, na doutrina e nos tribunais. Acrescenta-se apenas que o requerimento não se faz por meio de ação, como previsto no art. 13 da Lei de Alimentos, porém mediante petição que abrirá um incidente que melhor se processará em apartado, como no caso do § 1º do art. 13 daquela lei especial. 6. “Os alimentos podem ser fixados tomando por base o salário mínimo”, como dispõe, concisamente, o § 4 º. Não se trata de correção monetária, porém de fixação em salários mínimos, tanto mais compreensível quanto predominam, entre as pessoas que prestam alimentos, os assalariados, cuja remuneração se faz em salários mínimos. A atualização das prestações alimentícias de qualquer natureza é regida pelo art. 1.710 do CC. 7. A inda que não existisse a regra do § 5º, cessada, por qualquer motivo, a obrigação de prestar alimentos, o juiz teria que liberar o capital, constituído para o pagamento deles, sustar o desconto na folha de pagamento do alimentante, ou liberar as garantias prestadas. Trata- se de um imperativo lógico porque não se concebe a subsistência da garantia depois de extinta a obrigação garantida. As providências explicitadas no § 5º pode o juiz tomá-las de ofício, como pode qualquer interessado requerê-las, inclusive o detentor do capital, o empregador do alimentante, o garantidor. A determinação de que ora se trata encerra o cumprimento da sentença, relativamente ao modo de se prestarem alimentos. Decisão interlocutória, ela não encerra o processo. Como, tratando-se de obrigação por quantia certa, o cumprimento da sentença se faz por execução (art. 475-I), a extinção desta depende da sentença do art. 795 do CPC. “Art. 475-R. Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial.” (Lei n. 11.232, art. 4º) 1. Os arts. 475-I a 475-R tratam do cumprimento da sentença, sem contudo exaurir a regulamentação dos atos destinados à satisfação do direito do credor, independentemente da vontade do devedor. Na execução por quantia certa, por exemplo, se o art. 475-J fala em mandado de avaliação e penhora, pouco dispõe quanto aos atos subsequentes. A Lei n. 11.232 não revogou os arts. 642 e seguintes, cuja preservação faz-se necessária para a execução de títulos extrajudiciais. 2. Insuficientes os artigos da Lei n. 11.232 para efetuar o cumprimento da sentença, este art. 475-R manda aplicar subsidiariamente ao cumprimento as normas relativas à execução de título extrajudicial. A rigor, não se trata de aplicação subsidiária, supletiva, auxiliar. Cuida-se de incidência obrigatória das normas indispensáveis a alcançar o fim da sentença condenatória, se o devedor não satisfizer espontaneamente o seu comando. Por consequência, o cumprimento da sentença faz-se conforme as normas acrescidas ao art. 475 pela Lei n. 11.232 e de acordo com os demais dispositivos subsistentes no Código de Processo Civil. “Art. 481.............................................................................................. Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.” (Lei n. 9.756, art. 1º) 1. A Lei n. 9.756, de 17-12-1998, acrescentou o parágrafo único ao art. 481. 2. Como se sabe, a Constituição Federal, no art. 97, permite aos tribunais, ou ao seu órgão especial, pelo voto da maioria absoluta dos respectivos membros, declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. Salvo quanto ao julgamento de que trata o § 2º do art. 125 da CF, essa declaração não se equipara ao julgamento da ação direta de inconstitucionalidade, da ação declaratória de constitucionalidade ou da arguição de descumprimento de preceito fundamental, da competência do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, a, e § 1º). É uma declaração incidental, suscitada na conformidade dos arts. 480 a 482 do CPC, no tocante à jurisdição civil. Se o tribunal já houver julgado a arguição de inconstitucionalidade, já não cabe aos diferentes órgãos julgadores dos tribunais suscitar a arguição. Idêntica proibição ocorre se já houver pronunciamento do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão constitucional. O parágrafo não exige que o pronunciamento do Supremo se tenha dado no julgamento de ação direta. Existindo ele, mesmo em controle difuso, a norma do parágrafo único do art. 481 incide. Não há dúvida de que o princípio da economia processual presidiu a edição da norma agora examinada. 3. A proibição do parágrafo único do art. 481 é relativa, salvo no caso do julgamento do Supremo Tribunal Federal, em ação direta de inconstitucionalidade, declaratória da constitucionalidade, ou arguição de descumprimento de preceito fundamental. Mesmo havendo julgamento declaratório da inconstitucionalidade, o órgão fracionário pode insistir na reapreciação da matéria, existindo circunstâncias que a justifiquem, como, v.g., julgamentos diferentes de outros tribunais, inclusive do Supremo Tribunal Federal em controle difuso, ou crítica da doutrina. “Art. 482.............................................................................................. § 1º O Ministério Público e as pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado, se assim o requererem, poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade, observados os prazos e condições fixados no Regimento Interno do Tribunal. § 2º Os titulares do direito de propositura referidos no art. 103 da Constituição poderão manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de apreciação pelo órgão especial ou pelo Pleno do Tribunal, no prazo fixado em Regimento, sendo-lhes assegurado o direito de apresentar memoriais ou de pedir a juntada de documentos. § 3º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.” (Lei n. 9.868, art. 29) 1. Os três parágrafos foram acrescentados ao artigo pela Lei n. 9.868, de 10-11-1999, que dispôs sobre a ação direta de inconstitucionalidade e sobre a ação declaratória de constitucionalidade. 2. O § 1º permite a manifestação, no incidente, do Ministério Público e das pessoas jurídicas de direito público “responsáveis pela edição do ato questionado” (não apenas as pessoas que o editaram, diretamente, mas também aquelas que houverem participado do processo de edição com responsabilidade por ele). Trata-se, sem dúvida, de modalidade inominada e limitada da intervenção voluntária (“se assim o requererem”) de terceiros no processo, pois o incidente integra a relação processual. O § 1º entregou ao regimento interno do tribunal as disposições concernentes ao prazo e condições da intervenção. O substantivo condições é vazio. Deve ser entendido como abrangente apenas de atos procedimentais, como modo de protocolar, autuação, convite para esclarecimentos escritos e orais. 3. O § 2º assegura às pessoas referidas no art. 103 da Constituição, legitimadas à propositura da ação direta, o direito de intervir no incidente, ainda quando não responsáveis pela lei ou ato em discussão. Se elas têm legitimidade para a ação direta quanto à lei ou ao ato, é natural que se lhes seja aberta a possibilidade de intervir. Intervêm, manifestando-se por escrito, inclusive juntando documentos, e apresentando memorial aos julgadores. A norma regimental pode assegurar-lhes a tribuna. A afirmação de constitucionalidade, ou inconstitucionalidade, pelo tribunal não obsta a propositura da ação direta, mesmo pelas pessoas que hajam intervindo no incidente. Para a intervenção de que trata o parágrafo, não se requer a pertinência temática exigida do Supremo Tribunal Federal relativamente às pessoas do art. 103 da Constituição. 4. A norma do § 3º revela a importância do julgamento da questão constitucional. O relator do incidente “poderá admitir”, conforme o parágrafo. Entende-se, porém, pela finalidade da norma, que ele não precisa aguardar pedido de manifestação. Pode convocar manifestantes – órgãos, entidades, ou mesmo pessoas – que não serão terceiros intervenientes, mas meros ministradores de elementos de convicção. Diz o parágrafo que a decisão do relator que determina as providências nele referidas é despacho irrecorrível. Enquanto despacho, assim será. Se questionado esse despacho, a decisão que decidir o incidente resultante do questionamento é interlocutória. Por isso, suscetível de recurso para o órgão julgador do incidente. “Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou antecipatória de tutela.” (Lei n. 11.280, art. 8º) 1. Na redação anterior, o art. 489 dispunha que “a ação rescisória não suspende a execução da sentença rescindenda”. A Lei n. 11.280 fala em ajuizamento da ação rescisória; em cumprimento da sentença ou acórdão; em medidas de natureza cautelar ou antecipatória da tutela. 2. Por ajuizamento da ação rescisória deve-se entender a sua propositura, como definida no art. 263. No caso da rescisória, basta a distribuição porque, originariamente competente para a ação, o tribunal dispõe de mais de um órgão competente e, mesmo que não dispusesse, de mais de um juiz. 3. A lei modificadora substituiu a palavra “execução” por “cumprimento da sentença ou do acórdão”, para harmonizar o texto com as inovações dos arts. 475-I e seguintes. Ademais, alude a sentença ou acórdão rescindendo, para explicitar o cabimento da rescisória contra qualquer desses pronunciamentos. O caput do art. 485 fala em sentença, num sentido amplo, abrangente também de acórdão. 4. O art. 489, agora refeito, põe fim ao debate sobre o cabimento de medida cautelar (incidente ou preparatória), ou de antecipação da tutela. Ambas são cabíveis, tanto a ação cautelar preparatória ou incidental (art. 796), visando a conter a eficácia do julgamento rescindendo, quanto a antecipação de tutela (art. 273), que antecipará o pedido de desconstituição no seu efeito de obstar à execução do julgado rescindendo. 5. Foi desnecessariamente cauteloso o legislador, falando em imprescindibilidade e atendimento a requisitos da cautelar, ou do pedido de antecipação. O pressuposto da outorga dessas medidas – particularmente na ação rescisória que visa à desconstituição de sentença ou acórdão transitado em julgado – é a sua necessidade e o preenchimento das condições da outorga. “Art. 493.............................................................................................. I – no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, na forma dos seus regimentos internos; .............................................................................................” (Lei n. 11.382, art. 2º) 1. Tal qual ocorreu em relação ao inciso IV do art. 411, a Lei n. 11.382 alterou a redação do inciso I do art. 493 do CPC, para trocar por Superior Tribunal de Justiça a referência ao extinto Tribunal Federal de Recursos. 2. Pela identidade de razões, veja-se a nota 2 ao art. 411. “Art. 496.............................................................................................. II – agravo; ............................................................................................. VIII – embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.” (Lei n. 8.950, art. 1º) 1. Sem alterar o caput do art. 496, a lei modificou seu inciso II e o acresceu do inciso VIII. 2. No inciso II do art. 496, a lei fez a correta opção de aludir não a agravo de instrumento, mas, genericamente, ao agravo. Esse recurso se admite em mais de uma modalidade. O agravo é de instrumento, ou é retido, não passando este do seiscentista agravo no auto do processo, ou admitido na lei, ou é regimental, cada um obedecendo a procedimento próprio. Coerente com a redação dada ao art. 546, a lei reformadora acrescentou ao rol dos recursos os embargos de divergência em recurso especial e extraordinário. “Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos embargos. Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos.” (Lei n. 10.352, art. 1º) 1. A Lei n. 10.352, de 26-12-2001, não só alterou a redação do caput, como acrescentou-lhe o parágrafo único. 2. O dispositivo dispensa a interposição de recurso especial ou recurso extraordinário (CF, arts. 105, III, a, b, c e d, e 102, III, a e b), da parte unânime do acórdão, quando se opuserem embargos infringentes à parte não unânime do julgado. Opõem-se (mais correto do que o interpuser do texto) embargos infringentes, sem necessidade de recorrer-se desde logo, mesmo porque pode haver pretensão recursal do acórdão que julgar os embargos. Fala-se em sobrestamento do prazo, quando, na verdade, o prazo não se inicia. No caso, condição do começo do prazo é o julgamento dos embargos infringentes, por acórdão que lhe aprecie o mérito, ou o extinga sem chegar a tal ponto. O prazo dos dois recursos começa a fluir da intimação da decisão dos embargos, termo inicial dele, ainda que se recorra da decisão do relator ou do colegiado. 3. O parágrafo único do artigo enuncia regra inútil. Se não corre o prazo para os dois recursos constitucionais, mas não se opõem embargos à parte não unânime do acórdão, é natural que o prazo para os recursos destinados ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça corra só da preclusão do direito de embargar pelo esgotamento do prazo respectivo. “Art. 500.............................................................................................. I – será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder; ..............................................................................................” (Lei n. 8.950, art. 1º) 1. A Lei n. 8.950 não mexeu no caput do art. 500, mas só no inciso I, mantidos os dois outros e o parágrafo único. 2. Ao emendar o inciso I do art. 500, a lei introduziu duas inovações. Igualou os prazos para resposta ao recurso principal e para a interposição do recurso adesivo. Foi além, estabelecendo o mesmo termo inicial para a interposição do recurso adesivo, que já não se conta da publicação do despacho de admissão do principal, mas, sim, da mesma data da qual corre o prazo para responder ao principal. Tratando-se de prazos idênticos (melhor, coincidentes na extensão e no termo inicial) para atos diferentes, a resposta ao recurso principal e o recurso adesivo não precisam ser apresentados no mesmo momento, podendo ser oferecidos em horas distintas ou dias distintos, desde que dentro do prazo. Teria o legislador evitado essa possibilidade pelo emprego do advérbio simultaneamente, usado no art. 299 para significar que a contestação e a reconvenção se fazem ao mesmo tempo. Distintos a resposta e o recurso adesivo, formulam-se aquela e este em peças autônomas. “Art. 504. Dos despachos não cabe recurso.” (Lei n. 11.276, art. 2º) 1. Remeto o leitor às anotações ao art. 522 do CPC, na redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.187, de 19-10-2005. Expus ali o meu entendimento de que, na sistemática recursal do Código, o conceito de decisão interlocutória estende-se a todos os atos decisórios do juiz, suscetíveis de causar sucumbência, obviamente excluídas sentenças e acórdãos. Por isso, despachos são apenas aqueles atos de impulso processual que não contrariarem pedido ou pretensão da parte. Esta a interpretação do art. 504, que antes aludia aos despachos de mero expediente e só fala agora de despachos. 2. Poder-se-ia dizer que a lei, deliberadamente, quis excluir não só os despachos de mero expediente, como todos os demais atos dessa categoria, do âmbito da recorribilidade. Afinal, um dos esteios do sistema de oralidade é a irrecorribilidade dos atos interlocutórios, que a norma viria consagrar, ao menos no tocante aos despachos. Assim não é, porém, no direito processual civil brasileiro, como expliquei ao anotar o art. 522. “Art. 506.............................................................................................. III – da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial. Parágrafo único. No prazo para a interposição do recurso, a petição será protocolada em cartório ou segundo a norma de organização judiciária, ressalvado o disposto no § 2º do art. 525 desta Lei.” (Lei n. 11.276, art. 2º) 1. A Lei n. 11.276, de 7-2-2006, alterou o inciso III do art. 506, apenas para trocar a palavra súmula pelo vocábulo dispositivo. O substantivo súmula é equívoco, podendo desorientar, especialmente quando súmula é palavra que o direito processual e o constitucional prestigiam, como mostram o art. 557 e o seu § 1º-A, e o § 1º do art. 515 do CPC, e ainda o art. 103-A, acrescentado à Constituição da República pela Emenda Constitucional n. 45, de 8-12-2004. 2. Já se interpretou a palavra súmula como um resumo do acórdão, ou como a sua ementa, obrigatória como está no art. 563. O emprego do vocábulo afasta perplexidades. O dispositivo é a parte do acórdão que encerra a deliberação do colegiado. Há um conceito de dispositivo no inciso II do art. 458 que bem explica o alcance dessa palavra. Publica-se o dispositivo do acórdão e não a sua ementa, que dispositivo não é. A publicação defeituosa do dispositivo torna nula a intimação. Se apesar de errônea a publicação o legitimado interpuser recurso o ato terá atingido a sua finalidade para o recorrente, mas não para outros legitimados. 3. O parágrafo único do art. 506 é repetição literal do texto anterior, salvo quanto à ressalva. O texto derrogado ressalvava o disposto no art. 524. Agora, faz-se a ressalva ao “§ 2º do art. 525 desta Lei”, conclui a nova redação do parágrafo, onde se escreve com letra maiúscula, erroneamente, o substantivo lei. O § 2º do art. 525 estabelece que, no prazo para a interposição do agravo de instrumento, a petição desse agravo será protocolada no tribunal, ou enviada pelo correio, ou interposta por outra forma prevista em lei. Com a ressalva, o parágrafo único explicita que não cabe protocolar o agravo de instrumento no cartório, ou secretaria, ou que outro nome se lhe dê, onde corre o processo. Interpõe-se o agravo, nos termos do § 2º do art. 525, onde se fala, acertadamente, em outra forma prevista na lei local. A interposição tempestiva, porém errônea, do agravo de instrumento, noutro lugar ou de modo outro, não o torna nulo. O art. 244 incide. “Art. 508. Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso especial, no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para interpor e para responder é de 15 (quinze) dias.” (Lei n. 8.950, art. 1º) 1. A redação do art. 508, dada pela Lei n. 8.950, de 13-12-1994, nomeia os recursos cujo prazo de interposição e de resposta é de quinze dias. Quanto aos prazos para interpor e responder os demais, será necessário se consultarem os dispositivos que, especificamente, os regulam. Se omissos, não se aplica o art. 508, mas a regra genérica do art. 185. “Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 1º São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. § 2º A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.” (Lei n. 9.756, art. 1º) 1. A Lei n. 9.756, de 17-12-1998, derrogou o art. 511, na redação dada pela Lei n. 8.950, de 13-12-1994, somente para incluir a referência ao porte de remessa, já que a redação alterada falava apenas no porte de retorno. A Lei n. 9.756 transformou no § 1º, mas sem alterá-la, a norma do parágrafo único do artigo, na redação do art. 1º da Lei n. 8.950. Assim procedeu porque acrescentou ao dispositivo o seu atual § 2º. 2. A redação do caput do art. 511, agora ligeiramente alterada, inspirou--se na redação proposta no Anteprojeto da Comissão Revisora de 1985, porém a aperfeiçoou. Nos casos em que o preparo for exigido por qualquer lei, editada pelo poder competente, incumbe ao recorrente efetuá-lo, juntando prova dele à petição do recurso. O preparo inclui as despesas com a remessa dos autos do recurso ao tribunal, e também com o retorno dos autos ao juízo recorrido. Ocioso dizer que o recorrente só está compelido a provar o preparo do recurso se souber qual o seu montante, tornado conhecido por norma que o regule. Ninguém pode ser obrigado ao impossível. Desconhecendo o montante do preparo, o recorrente se abstém dele e aguarda, independentemente de requerimento seu, a intimação para efetuá-lo (imagine-se, por exemplo, o caso em que o porte de remessa e de retorno é estipulado por lei, em consonância com o peso dos autos), não podendo sofrer a pena de deserção por não ter pago despesa cujo valor ignora. O art. 519 admite ao juiz relevar a pena de deserção, se o apelante não preparou a apelação por comprovado justo impedimento. Nos termos do parágrafo único desse artigo, a decisão que alivia o recorrente da pena de deserção é irrecorrível, cabendo, entretanto, ao tribunal apreciar-lhe a legitimidade. Conquanto o artigo se insira nas normas relativas à apelação, deve-se estender a aplicação dele a quaisquer outros recursos, não havendo razão, nem lógica nem jurídica, para restringi-la. 3. O § 1º do art. 511 substituiu a norma que constava do seu caput antes da Lei n. 8.950, alterando-a. Esse dispositivo dispensa do preparo o Ministério Público, a União, os Estados, os Municípios e apenas suas autarquias, não os demais órgãos da administração indireta, como constava do texto anterior à lei de 1994. Estes últimos só ficarão dispensados do preparo se houver norma que os libere, como no caso da Lei n. 9.028, de 24-4-1995, que beneficiou também as fundações da União. A isenção, sempre expressa, poderá beneficiar também outras pessoas. 4. A primeira parte do § 2º do art. 511 equipara a insuficiência do preparo à falta de preparo, para fins da deserção. Deserto será, então, tanto o recurso não preparado quanto o recurso preparado com quantia menor do que a estabelecida em lei. 5. A segunda parte do § 2º permite, no entanto, a complementação do preparo insuficiente. O recorrente, que não pagou o valor total do preparo, pode vir a supri-lo, no prazo de cinco dias, contado do despacho que o intima à complementação. O ato de intimação não precisa indicar o valor a ser recolhido. Intimado para a complementação do preparo, incumbe ao intimado verificar, na lei ou na repartição forense, o valor faltante e recolhê-lo do mesmo modo estabelecido para o preparo, salvo determinação legal diferente. 6. O § 2º do art. 511 trata da insuficiência do preparo, que pressupõe que algum preparo haja sido feito, posto que por valor não bastante. O parágrafo não incide na falta de preparo. Não cabe a intimação sugerir a falta de preparo. Ou há relevância da deserção (art. 519), ou o recurso ficará deserto. “Art. 514.............................................................................................. Parágrafo único. (Revogado.) Art. 515.............................................................................................. § 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. § 4º Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação. Art. 516. Ficam também submetidas ao tribunal as questões anteriores à sentença, ainda não decididas.” (Leis n. 8.950, arts. 1º e 3º, 10.352,art. 1º, e 11.276, art. 2º) 1. A Lei n. 8.950, de 13-12-1994, revogou completamente o parágrafo único do art. 514, cujo caput permanece inalterado. A Lei n. 10.352, de 26-12-2001, acrescentou ao art. 515 o seu § 3º. A Lei n. 11.276, de 7-2-2006, adicionou--lhe o § 4º. Ambos os dispositivos emanam do princípio da celeridade. 2. O § 3º fala em casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, remetendo ao art. 267. Essa remissão é abrangente porque, embora esse artigo não indique todas as hipóteses de extinção do processo por sentença terminativa, o seu inciso XI fala “nos demais casos prescritos por este Código”. Na verdade, quando houver extinção do processo, por força de dispositivo do Código de Processo Civil, ou de qualquer outra lei, o § 3º do art. 515 incide. Julgamento da lide significa, no § 3º, julgamento do mérito, consubstanciado no pedido, ou pedidos formulados pelo autor, que podem não abranger toda a lide. O tribunal pode julgar a lide, independentemente de pedido do apelante, que poderá limitar-se a requerer o provimento da apelação com a devolução do processo à primeira instância, a fim de que ali se decida o mérito. No particular, o § 3 º constitui uma exceção ao princípio dispositivo, enunciado no caput do artigo. No julgamento do mérito, contudo, o tribunal tem que observar os arts. 459 e 460. Não trata o parágrafo da hipótese de substituição dos fundamentos da sentença terminativa por um acórdão também terminativo, porém com outros fundamentos. Cuida-se da substituição da sentença terminativa por acórdão definitivo. A aplicação do § 3º tem por primeiro pressuposto a existência de questão exclusivamente de direito, situação sobejamente versada na doutrina e na jurisprudência, que, por isso, dispensa explicação num livro desta natureza. A causa, isto é, o mérito dela, estará em condições de julgamento se, além de versar questão exclusivamente de direito, não depender de qualquer atividade instrutória, como a colheita de provas, ou de qualquer outra providência de índole processual. 3. O julgamento previsto no § 3º do art. 515, conquanto atribua ao tribunal da apelação competência para julgar originariamente o mérito, como não fez o primeiro grau, não contraria a Constituição Federal. Note-se que o duplo grau de jurisdição não é imposição constitucional. A Carta Política admite processos instaurados nos tribunais superiores. Quando o inciso LV do art. 5º da Constituição assegura a ampla defesa com os recursos a ela inerentes, apenas garante a interposição de recursos que a lei infraconstitucional instituiu, de cuja interposição não pode ser privado o sucumbente. 4. O § 4º foi acrescentado aos três outros do art. 515, com a preocupação de tornar mais célere o procedimento recursal. A última oração mostra isto, quando determina o prosseguimento da apelação. 5. “... sempre que possível ...”, diz o § 4 º, porque muitas vezes a nulidade é insanável (v.g., incompetência absoluta do juízo da primeira instância; ação proposta por autor morto). Sanável, entretanto, a nulidade (e aqui se deve recorrer ao regime das nulidades dos arts. 243 a 250 e aos respectivos princípios), no próprio tribunal, o recurso prossegue. Seria, por exemplo, o caso em que o advogado deixou de juntar a sua procuração, o que pode ser feito no juízo de apelação com a retificação, pelo outorgante, dos atos anteriormente praticados (art. 13). Sei de casos em que, dispensado embora o reconhecimento da firma na procuração do cliente ao advogado (art. 38), decretou-se a nulidade pela falta de reconhecimento da firma do advogado no substabelecimento a colega de escritório. Sinistro! É necessária a intimação de todas as partes da decisão que ordena a realização com renovação de ato, e não só daquela que deve proceder à sanação. Cumprida a diligência, julga-se a apelação, ou se prossegue no seu julgamento. Impossível o prosseguimento (v.g., não se citou litisconsorte necessário), o processo retornará ao juízo de origem. 6. A sanação da nulidade pode ser ordenada pelo relator, com agravo para o colegiad o, se se entender indevida a determinação, ou pelo órgão julgador do recurso. Renova-se o ato processual destinado a apagar a nulidade, pela forma estabelecida para a sua prática, se alguma. Não sanada a nulidade, o relator pode negar seguimento à apelação (art. 557), ainda que a regularização haja sido ordenada pelo colegiado. Admite-se, neste caso, o agravo do § 1º do art. 557. 7. O art. 1º da Lei n. 8.950 apenas corrigiu a defeituosa redação do art. 516, atendendo aos reclamos da doutrina, que lhe criticava o texto por falar em questões impugnáveis por agravo de instrumento, quando não se impugnam questões e sim os atos que as decidem. No conteúdo, o artigo permanece o mesmo. Por força dele, o efeito devolutivo da apelação transfere ao tribunal competência para apreciar as questões que surgiram na primeira instância e todavia não chegaram a ser decididas (v.g., se, como permite o art. 15, o ofendido requereu ao juiz fossem riscadas as expressões injuriosas, usadas contra ele numa petição, e o juiz deixou de apreciar o requerimento, o efeito devolutivo da apelação interposta da sentença transfere ao tribunal competência para decidir o pedido). “Art. 518. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder. § 1º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. § 2º Apresentada a resposta, é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame dos pressupostos de admissibilidade do recurso.” (Leis n. 8.950, art. 1º, e 11.276, art. 2º) 1. A Lei n. 8.950 suprimiu do caput do art. 518 a sua segunda parte, onde se previa a remessa dos autos ao contador para cálculo do preparo da apelação. O caput do art. 511 dispensou a norma (vejam-se, porém, as observações feitas, neste livro, a esse dispositivo). 2. A norma do § 1º do art. 518, acrescentada pela Lei n. 11.276, de 7-2-2006, prestigia a jurisprudência, como fizeram as do art. 557 e de seu § 1º-A. O juiz não receberá o recurso, isto é, o indeferirá pela falta de pressuposto recursal objetivo do § 1º do art. 518. Consiste esse pressuposto na falta de conformidade da sentença com súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça. Nestes casos, o indeferimento não é faculdade, porém dever do juiz, que comete error in procedendo ao descumprir a norma de que é destinatário. 3. A interpretação, necessariamente restritiva, do § 1º do art. 518 leva à conclusão de que essa norma só se aplica havendo súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. A jurisprudência abundante dessas Cortes sobre certa questão não basta para o indeferimento. É indispensável a súmula, que, como se vê e se sabe, é uma proposição numerada que condensa a jurisprudência do tribunal sobre hipóteses jurídicas. 4. O juiz não indefere a apelação somente no caso do § 1º do art. 518. Deve negar-lhe seguimento pela falta de qualquer pressuposto recursal objetivo (v.g., tempestividade e recorribilidade) ou subjetivo (v.g., legitimidade e interesse). 5. Indeferida a apelação, não importa qual o motivo, o recurso cabível é o do agravo de instrumento, como explicita a segunda parte do art. 522. O agravo, no caso de indeferimento da apelação, segue o procedimento ditado pela lei para esse recurso. Por isso, não cabe a sua interposição no juízo recorrido. Deve-se interpor o recurso no tribunal. A retratação do juiz pode ser feita no momento em que tiver ciência da interposição do agravo (art. 526). Havendo retratação dele, o agravo ficará extinto pela superveniente falta de interesse (prejudicado, na linguagem forense). 6. A Lei n. 11.276 transformou em § 2º o anterior parágrafo único do art. 518. Só o alterou para assinalar ao juiz o prazo de cinco dias para o reexame dos pressupostos. O § 2º faculta ao juiz reexaminar os pressupostos de admissibilidade da apelação, depois de que o apelado oferecer a sua resposta (regra que, por sinal, se estende aos demais recursos, porquanto o juízo de admissibilidade é do órgão recorrido). Entenda-se: ao receber a apelação, o juiz deve, desde logo, verificar se concorrem os pressupostos da sua admissibilidade (v.g., tempestividade, legitimidade do recorrente, preparo). Se constatar a falta de um pressuposto, indefere a apelação, proferindo o que se denomina juízo negativo de admissibilidade, sempre explícito. Se entender presentes os pressupostos, declara os efeitos que, conforme a lei, a apelação produz e manda dar vista ao apelado, com isso proferindo um juízo positivo de admissibilidade, que pode ser implícito, como normalmente ocorre. Ao responder o recurso, pode o apelado arguir a falta de um dos pressupostos, com cuja ausência o juiz não atinou, suscitando preliminar de inadmissibilidade. O parágrafo faculta ao juiz, depois da resposta (ou ainda que ela não seja oferecida), reexaminar os pressupostos a requerimento do recorrido, ou mesmo de ofício, nada obstando a que volte atrás e indefira o recurso que, inicialmente, deferira. O descumprimento imotivado do prazo de cinco dias, estipulado no § 2º, sujeita o juiz à sanção disciplinar, salvo se houver motivo justo para o atraso. 7. “Apresentada a resposta ...”, começa o § 2 º. Se o juiz procede no reexame depois de apresentada a resposta do apelado, quer isto dizer que ele pode aplicar o § 1º, ou indeferir a apelação por qualquer outro motivo, antes da resposta do recorrido. Nada obsta, entretanto, a que, consideradas as circunstâncias, o juiz determine primeiro a resposta para, só depois dela, exercer o juízo de admissibilidade. O reexame do § 2º, este sim, precisa ser posterior à resposta, ou, é claro, ao decurso do respectivo prazo. “Art. 519. Provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de deserção, fixando-lhe prazo para efetuar o preparo. Parágrafo único. A decisão referida neste artigo será irrecorrível, cabendo ao tribunal apreciar-lhe a legitimidade.” (Lei n. 8.950, art. 1º) 1. O caput e o parágrafo único resultaram ambos do art. 1º da Lei n. 8.950, de 13-12-1994. A norma agora anotada é exclusiva da apelação, criando uma exceção relativamente aos outros recursos, os quais, sem preparo, estão fadados à deserção, conforme o art. 511, ressalvada a complementação do preparo insuficiente, outorgada pelo § 2º deste último. Veja-se, porém, o item 3, infra, onde se examina o problema da falta de preparo dos demais recursos por justa causa. 2. Não há ilegalidade na norma excepcional do art. 519, muito menos inconstitucionalidade. Considerando a importância do recurso da apelação (art. 513), a lei permite ao juiz relevar a pena de deserção, aplicada em consonância com o art. 511 e seu § 2º. O pedido de que se releve a pena será formulado em cinco dias da aplicação da deserção (art. 185, admissível, é claro, a incidência do art. 191). 3. O justo impedimento do art. 519 é semelhante à justa causa do art. 183, definida no seu § 1º como o evento imprevisto, alheio à vontade da parte, e que a impediu de praticar o ato, por si ou por mandatário. Não preparado o recurso, cujo preparo é exigido, por justa causa, o recorrente pode requerer e o juiz conceder a devolução do prazo, ainda que haja sido declarada a deserção. Em suma, admite-se a relevação da pena de deserção, pela incidência do art. 519, no caso da apelação, ou pela incidência do art. 183, quanto aos demais recursos. 4. O preparo, originário ou complementado, é pressuposto objetivo da admissibilidade do recurso, como se colhe no art. 511. Se o juízo recorrido, perante o qual se faz a prova do preparo, não atenta na falta dele, ou releva a pena de deserção, profere juízo positivo de admissibilidade. Ponto pacífico que o juízo de admissibilidade pode ser feito, de novo, pelo órgão recursal. Por isso, o parágrafo único do art. 519, um tanto quanto ocioso. O exame do justo impedimento, ou de justa causa, o órgão julgador do recurso o faz em toda a sua extensão, como se fosse o juízo originário. “Art. 520.............................................................................................. III – (revogado); ............................................................................................. V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI – julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela.” (Leis n. 8.950, art. 1º, 9.307, art. 42, 10.352, art. 1º, e 11.232, art. 9º) 1. No art. 1º, a Lei n. 8.950, de 13-12-1994, reformulou apenas o inciso V do art. 520, sem modificar nem os demais incisos nem o caput. A Lei n. 9.307, de 23-9-1996, acrescentou o inciso VI ao art. 520, enquanto a Lei n. 10.352, de 26-12-2001, adicionou ao dispositivo o inciso VII. Depois de estatuir a regra geral de que a apelação produz efeitos devolutivo e suspensivo, o caput do artigo enuncia casos em que a apelação só produz o efeito devolutivo, de modo que, com as cautelas inerentes à execução provisória, pode-se efetivar o cumprimento da sentença. 2. Não se alterou o caput do art. 520, consoante o qual a apelação será recebida no efeito devolutivo e suspensivo. Este último, como se sabe, obsta à execução da sentença, no todo ou em parte, conforme a apelação a impugne por inteiro, ou parcialmente. O efeito devolutivo transfere ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada (art. 515). Pode o tribunal, inclusive, manter ou reformar a sentença por fundamento que o juiz examinou e repeliu (art. 515, § 2º). Também pode o tribunal apreciar questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro (art. 515, § 1º – v.g.: a alegação de adultério como motivo desonroso, suscetível de determinar a separação do casal, se fundava (a) na ida do cônjuge com outrem a um motel e (b) na sua exposição com outrem, em atitudes de extrema intimidade, num lugar público. O juiz, examinando a primeira questão, decidiu que ela, só por si, configurava a quebra do dever de fidelidade e nem sequer apreciou a segunda, podendo esta ser objeto de deliberação do tribunal, no julgamento da apelação). A regra é a de que a apelação produz ambos os dois efeitos, devolutivo e suspensivo, não podendo o juiz privá-la deste, sem que, expressamente, o faça a lei. O inciso V, na redação dada pela Lei n. 8.950, que afastou dúvidas suscitadas pela anterior, esclarece que só produz o efeito devolutivo tanto a apelação da sentença de rejeição liminar dos embargos quanto a da sentença de improcedência deles, nada obstando ao prosseguimento da execução, embora como provisória. 3. O pedido de instituição da arbitragem é o tratado no caput do art. 7º da Lei n. 9.307, de 23-9-1996, que dispõe sobre a arbitragem. Conforme esse artigo, se existir cláusula compromissória, definida no art. 4º do mesmo diploma, havendo resistência de uma das partes à instituição de arbitragem, pode a outra propor contra a recalcitrante uma ação de instituição de arbitragem, cujo procedimento está nos seis primeiros parágrafos do citado art. 7º. Reza o § 7º desse artigo que a sentença que julgar procedente o pedido de instituição da arbitragem valerá como compromisso arbitral. 4. Não cabem no escopo deste trabalho os comentários à Lei de Arbitragem. Anote-se apenas que não tem efeito suspensivo a apelação interposta da sentença do § 7º do seu art. 7º, porque a vontade da lei é permitir a instituição de arbitragem, determinada por essa decisão, que encerra, na primeira instância, o processo da ação de instituição da arbitragem. 5. Por seu turno, o inciso VII do art. 520 do CPC priva do efeito suspensivo a sentença confirmatória dos efeitos da tutela, o que leva o intérprete, necessariamente, ao art. 273 e ao seu § 5º, a cujas doutrina e jurisprudência se remete. Diga-se apenas que a vontade do inciso VII, adicionado ao art. 520, é dar eficácia imediata, conquanto com as reservas inerentes ao cumprimento provisório da deliberação, à sentença que, confirmando a antecipação dos efeitos da tutela, julga procedente, no todo ou em parte (art. 273, § 6º), o pedido, reconhecendo a ocorrência dos pressupostos do art. 273, caput, incisos I e II e § 2º. Não seria lógico que a sentença, confirmando a antecipação da tutela, tivesse a eficácia contida pelo efeito suspensivo, como não ocorre com a decisão interlocutória antecipadora. Observe-se que o inciso VII alude, inequivocamente, a sentença confirmatória dos efeitos da tutela. Admitida a possibilidade de sentença que julgue procedente o pedido, sem confirmar a tutela, deve-se reconhecer a não incidência do aludido inciso. Neste caso, a apelação produzirá o duplo efeito, a menos que outra norma a prive do efeito suspensivo. Tenha-se em mente que o relator da apelação pode suspender o cumprimento da sentença, presentes os pressupostos do art. 558 e seu parágrafo único. Entendo artificiosa a construção que, para alcançar a decisão suspensiva do relator, recomenda interpor-se agravo de instrumento do despacho que recebe a apelação só no efeito devolutivo. Assim, entretanto, se tem procedido. Agrava--se, então, da decisão que, recebendo a apelação no efeito apenas devolutivo, cumpre a lei. Com êxito reduzidíssimo, sugeri a formulação do requerimento de efeito suspensivo diretamente ao tribunal. A petição seria acompanhada das peças necessárias. O art. 557 e seus parágrafos também incidem no caso da apelação de que aqui se trata. “Capítulo III DO AGRAVO Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo.” (Leis n. 9.139, art. 1º, e 11.187, art. 1º) 1. A Lei 11.187, de 19-10-2005, publicada no Diário Oficial de 20-10-2005, derrogou o caput do art. 522. Ficou, entretanto, mantido o parágrafo único, introduzido pela Lei n. 9.139, de 30-11-1995. 2. Na redação anterior, dada ao art. 522 pela Lei n. 9.139, de 30-11-1995, admitia-se, indistintamente, a impugnação das decisões interlocutórias (art. 162, § 2º) por agravo retido ou por agravo de instrumento. O § 3º do art. 523, com a redação dada pela mesma lei, estatuía que das decisões interlocutórias, proferidas em audiência, caberia agravo retido, oralmente interposto. O § 4º só permitia esta última espécie de agravo das decisões posteriores à sentença, salvo nos casos de indeferimento da apelação. Nesta última hipótese, indeferida a apelação pela falta de algum, ou alguns, dos respectivos pressupostos (v.g., intempestividade; ilegitimidade do recorrente), só caberia o recurso de agravo de instrumento pela necessidade de pronunciamento do tribunal sobre a admissibilidade da apelação que, por óbvio, permaneceria para sempre nos autos, se não se pudesse levar a questão à instância superior. Outro é o sistema que a Lei n. 11.187 imprimiu ao agravo. Das decisões interlocutórias, o recurso será, em regra, o agravo retido. Só ele. Não se pode interpretar a oração “caberá agravo ... na forma retida” como simples faculdade dada pela lei à parte, que, então, poderia valer- se de uma modalidade de agravo ou de outra. Fosse assim, a norma da primeira parte do art. 522 seria inútil. E a ressalva, feita no próprio artigo, sobre os casos de agravo de instrumento, como exceção, leva à certeza da obrigatoriedade do agravo retido como o recurso normalmente cabível das interlocutórias. O § 2º do art. 162 define decisão interlocutória: “é o ato