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AULA_6_adapta_es_curriculares_2012.1_ok

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Enviado por Renata Viana em

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
Disciplina 
Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar
AULA 6 - Adaptações curriculares�
Rosana Glat
GLAT, R. Adaptações Curriculares. Disciplina Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar. Curso de Pedagogia. Modalidade à Distância, UERJ, Consórcio CEDERJ, 2012.
Como viemos discutindo no decorrer do curso, a política de Educação Inclusiva garante a todas as crianças e jovens, sem distinção, o direito de acesso à escola comum. Torna-se responsabilidade dos sistemas escolares, portanto, oferecer-lhes condições adequadas de aprendizagem. 
Este paradigma educacional, também conhecido como “Educação para Todos” ou “Educação para Diversidade”, tem como pressuposto o reconhecimento das diferenças individuais de qualquer origem. De acordo com a conhecida Declaração de Salamanca, cujos preceitos foram acatados e transformados em legislação nacional, todos os alunos, independente de suas condições socioeconômicas, raciais, culturais e/ou de desenvolvimento, devem ser acolhidos nas escolas regulares, as quais devem se adaptar para atender às suas necessidades (UNESCO, 1994). 
Isto significa que a escola não pode mais ser seletiva. Em outras palavras, os educadores não podem mais “escolher” com que alunos irão trabalhar, nem determinar de antemão que alunos estão “preparados” ou “tem condições” de ingressar em uma turma comum. Agora é sua tarefa promover a aprendizagem de todos os alunos, inclusive os que apresentam deficiências ou outras condições atípicas de desenvolvimento. 
Mas, certamente, a escola tradicional, pautada em um modelo meritocrático e excludente, não se transformará em uma escola inclusiva “por decreto”. Esta nova proposta demanda uma transformação radical na organização e cultura escolar. Para cumprir esta meta, a escola precisa possibilitar aos seus professores e gestores capacitação e formação continuada. Precisa rever sua estrutura e seu projeto político-pedagógico; atualizar seus recursos didáticos, metodologias, estratégias de ensino e práticas avaliativas; e, sobretudo, repensar as suas escolhas curriculares – como esse currículo será desenhado e desenvolvido no cotidiano escolar (GLAT & BLANCO, 2011�).
A inclusão escolar para se efetivar pressupõe três condições básicas: (AINSCOW, 2004; GLAT & BLANCO, 2011):	 
a) a presença do aluno - o que significa acolher o aluno na escola, superando a exclusão e o isolamento e o inserindo num espaço público de socialização e aprendizagem; 
	b) sua participação - que depende, no entanto, do oferecimento das condições necessárias para que o aluno possa interagir plenamente nas atividades escolares; 	
c) e a construção de conhecimentos, sem a qual pouca relevância tem os outros dois aspectos anteriores. 
De fato, embora a lei garanta a matrícula de todos os alunos, para que haja inclusão escolar não basta ele estar frequentando a sala de aula comum. É preciso que sejam desenvolvidas ações que garantam a participação de todos os alunos nos espaços escolares e atividades cotidianas. Este é o sentido do conceito de adaptações de acessibilidade ao currículo, que discutimos na aula passada. 
As adaptações de acessibilidade, como vimos, são muito importantes, sobretudo no caso dos alunos com deficiências físicas e /ou sensoriais. Recordando, elas dizem respeito às ações empreendidas pela escola para a eliminação de barreiras arquitetônicas, materiais e de comunicação, garantindo que o aluno possa freqüentar a escola com autonomia, participando das atividades acadêmicas e extracurriculares propostas para os demais, bem como no projeto político pedagógico e na temporalidade (isto é, o tempo que o aluno tem para dar conta de uma determinada tarefa ou aprender um determinado conteúdo).
Mas, isto também não é suficiente. Ir para a escola só faz sentido se o aluno desenvolver aprendizados significativos, compatíveis com o nível de escolarização em que está inserido. Para proporcionar a alunos com necessidades educacionais especiais melhores condições de aprendizagem na turma comum, a escola precisa desenvolver o que chamamos de adaptações curriculares. Este é o tema central desta aula.
Em termos gerais, pode-se dizer que adaptações curriculares referem-se às modificações realizadas no planejamento, nos objetivos, nos conteúdos, nas atividades, nas estratégias de aplicação desse conteúdo, na temporalidade e na forma da avaliação, para facilitar o aprendizado de alunos que tenham dificuldades de acompanhar o ritmo geral da turma. Em outras palavras, são transformações feitas no currículo como um todo, ou em aspectos dele, para atender às necessidades especiais de cada aluno (OLIVEIRA & MACHADO, 2011). 
É importante ressaltar que quando o professor realiza adaptações curriculares ele está construindo metodologias que podem beneficiar todos os alunos, não apenas aqueles com necessidades educacionais especiais. 
A palavra chave para se pensar um currículo inclusivo é flexibilidade. Esta flexibilização curricular envolve diferente ações, dependendo da necessidade do alunos. Pode significar, por exemplo, priorizar ou eliminar conteúdos, desenvolver atividades alternativas e/ou complementares. Também envolve oferecer avaliações diferenciadas, aumentando ou diminuindo a complexidade das questões ou permitir uso de recursos que auxiliem os alunos com deficiências. A maioria desses alunos necessita de maior flexibilidade no tempo de ensino dos conteúdos. 
Todas essas ações devem ser feitas pelo professor, mas preferencialmente, com a ajuda da equipe pedagógica da escola. 
As adaptações curriculares podem inicialmente envolver estratégias mais simples, mas de acordo com o aprendizado do aluno e seu desenvolvimento, é provavelmente será necessária mudança da metodologia, bem como da complexidade das atividades, para que o aluno possa alcançar níveis mais elevados de construção de conhecimento.
Para melhor eficácia, o ideal é adaptações curriculares realizadas especificamente para determinados alunos sejam integradas em um Plano Educacional Individualizado (PEI), estratégia muito utilizada em países da Europa e nos Estados Unidos. Segundo Glat, Vianna & Redig (2012, no prelo) esse tipo de planejamento é montado em equipe, envolvendo professores e demais profissionais que atuam com o aluno e também seus responsáveis. Dependendo da faixa estaria do aluno, ele também é chamado para colocabora com a elaboração dessa proposta. O PEI deve atender às necessidades e expectativas do sujeito no âmbito da construção do conhecimento acadêmico, inclusão social e, no caso de alunos mais velhos, inserção no mundo do trabalho. Embora possa haver diferentes formas, concepções e denominações para planos de ensino individualizados, 
(...) sua característica comum é que se constituem de um registro avaliativo escrito, formulado em equipe, que busca as respostas educativas mais adequadas para as necessidades específicas apresentadas em processos de escolarização de estudantes que exigem caminhos alternativos para sua aprendizagem (GLAT et all, 2012, p.6, no prelo).
É importante, também, ressaltar que individualização do ensino e flexibilização curricular não deve ser consideradas apenas como recursos para a inclusão escolar. Ao contrário, são essenciais para qualquer situação de aprendizagem de alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mesmo em espaços especializados como classes ou escolas especiais. 
O currículo é o centro nevrálgico, por assim dizer, da escola e associa-se à própria identidade da instituição escolar, à sua proposta acadêmica, organização e funcionamento. Uma escola inclusiva tem que ter um currículo inclusivo! Não há outro caminho. Pois, como discutimos acima, inclusão escolar não se resume à matrícula do aluno dito “especial” em uma classe comum ou à sua mera presença na escola. Dizer que um aluno com necessidades especiais está “incluído” porque ele tem um bom relacionamento com seus colegas, ou, está “desenvolvendo
sua socialização” não constitui uma Educação Inclusiva. 
	Uma escola ou classe para ser considerada inclusiva precisa ser mais do que um espaço para a convivência; precisa ser um ambiente onde o aluno aprenda os conteúdos acadêmicos socialmente valorizados para a sua faixa etária. A função básica e constituinte da escola é oferecer aprendizagem formal. A socialização, embora fundamental para o desenvolvimento da criança, é, de certa forma, um ganho secundário. Há outros espaços onde este tipo de aprendizagem informal, pode acontecer: na rua, na pracinha, na Igreja, no clube, etc... 
Assim, para acolher no ensino regular alunos com diversidade de ritmos e formas de aprendizagem, é preciso que se façam modificações, “ajustes” ou adaptações no currículo. E repetimos: sem um currículo aberto e flexível, que permita e incentive práticas pedagógicas alternativas, não é possível se pensar uma Educação Inclusiva! 
	Como lembram Glat e Blanco (2011) o cerne da proposta de Educação Inclusiva é a possibilidade de ingresso e permanência do aluno na escola com sucesso acadêmico. E isso só poderá acontecer se a escola tiver atenção às suas peculiaridades de aprendizagem e desenvolvimento, e oferecer um ensino voltado para atendê-las. 
	Não adianta colocar em uma turma comum, por exemplo, um aluno que não tenha condições de se comunicar, compreender e /ou executar as atividades propostas, pois ele sofrerá muito e pouco desenvolvimento acadêmico apresentará. Será, como se diz, “um jogo de cartas marcadas para perder”, que só levará ao insucesso escolar e exclusão na escola. Infelizmente, esta é a situação que até hoje encontramos em grande parte das nossas escolas, mesmo as que se dizem inclusivas.
	O ponto que estamos querendo enfatizar é que a inclusão em classes regulares de alunos com deficiências ou outras condições que afetam a aprendizagem não se constitui em um processo “espontâneo”. Ao contrário, exige observação, reflexão e planejamento para que sejam identificadas as necessidades de aprendizagem específicas que ele apresenta em sua interação com o contexto educacional, que as formas tradicionais de ensino não podem contemplar. 
Conforme já apontado diversas vezes, não é o aluno que tem que se adaptar ao contexto educacional, mas sim, o ensino que deverá ser adequado ao aluno. Este é o pressuposto básico da Educação Inclusiva sob o aspecto pedagógico, e o sentido dos conceitos interelacionados de necessidades educacionais especiais e de adaptações curriculares. A compreensão destes dois conceitos é fundamental para atender às demandas postas pela escola contemporânea referentes à diversidade presente em sala de aula. 
Recapitulando, necessidades educacionais especiais são as demandas especificas de sujeitos que, para aprender o que é esperado para o seu grupo referência, precisam de diferentes formas de interação pedagógica e/ou suportes adicionais especializados: recursos didáticos, materiais, metodologias e currículos adaptados, bem como tempos diferenciados, durante todo ou parte do seu percurso escolar (GLAT & BLANCO, 2011).
E para garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, sobretudo aqueles que vêm de um contexto educacional especializado (classe ou escola especial) ou que tem defasagem em sua experiência de aprendizagem formal, a escola regular precisa urgentemente repensar e redimensionar sua concepção e prática curricular. 
Pois, como pontuado em aula anterior, independente da causa, se a escola se organizar e desenvolver adaptações curriculares adequadas, as necessidades educacionais especiais do aluno podem ser transitórias e ele obter sucesso escolar. Isso não significa que a deficiência esteja “curada”, ou que as condições emocionais, sócio-familiares ou culturais do aluno tenham se modificado. Porém, a transformação na prática pedagógica possibilitará que ele tenha um bom desempenho e integração escolar. 
As ações empreendidas para garantir uma efetiva inclusão escolar, como lembram Oliveira & Machado (2011), para terem impacto significativo devem ocorrer em três níveis do planejamento educacional: 
Nas políticas públicas de Educação e no projeto político-pedagógico de cada unidade escolar; que devem propiciar condições estruturais com foco na acessibilidade, organização escolar e os serviços de suporte disponíveis. 
No currículo ou plano de ensino, elaborado pela equipe técnica e o professor para a turma; ou seja, a programação dos conteúdos e atividades elaboradas para classe como um todo. 
Na programação individual de ensino, também elaborada pelo professor, com suporte ou não da equipe, para cada aluno; são as adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento aos lados que necessitam um trabalho mais diferenciado.
Embora não possamos falar de adaptações curriculares isoladamente, não cabe no escopo desta aula entrar em uma discussão aprofundada sobre currículo, que é matéria de outras disciplinas. Queríamos apenas pontuar que o conceito de currículo é variado, e depende da concepção ou modelo de ensino e escola a ele adjacente. 
De fato, existem múltiplas conceituações e definições de currículo, de acordo com referencial teórico adotado. Embora muitas escolas brasileiras ainda pautem sua organização pedagógica em uma concepção curricular mais tradicional, priorizando conjuntos de conteúdos a serem “transmitidos” aos alunos, de modo geral, o currículo vem sendo concebido atualmente como uma construção sociocultural abrangente, envolvendo as práticas e saberes construídos nos processos e interações do cotidiano escolar. Neste sentido, currículo não é um conceito abstrato que existe fora e independente da experiência humana, e sim um modo, historicamente construído, de organizar um conjunto de práticas educativas. 
Sob essa perspectiva, o currículo expresso nas práticas pedagógicas pode ser interpretado como possuindo um duplo sentido -- explícito e implícito. O primeiro aspecto se refere ao planejamento pedagógico e ao conjunto de conteúdos programáticos que devem ser ensinados aos alunos, bem como a definição de currículo adotado pela instituição escolar. Já o segundo, diz respeito ao “currículo oculto”, que se manifesta nas expectativas, representações, atitudes, valores e comportamentos dos alunos, bem como nas experiências concretas das práticas pedagógicas realizadas pelos professores (GLAT, FERNANDES & PLETSCH, 2008). 
Para Pacheco (1996 apud OLIVEIRA & MACHADO, 2011, p. 37), “currículo corresponde a um conjunto de intenções, situadas no continuum que vai da máxima generalidade à máxima concretização”. Isto quer dizer que se examinarmos diferentes currículos escolares, encontraremos propostas variando desde indicações genéricas até instruções para o professor sobre o conteúdo específico e atividades correspondentes a serem trabalhadas em cada aula. Ainda de acordo com o citado autor, “os conteúdos são traduzidos por uma relação de comunicação” (ele se refere à forma como os conteúdos são apresentados) “que veicula significados sociais e historicamente válidos”.
Também é importante ressaltar, que o currículo de uma escola, como lembra Mc Laren (1997), tem uma função ideológica e normativa, por assim dizer, pois favorece certas formas de conhecimento sobre outras, e com frequência discrimina os valores e formas de ser no mundo de certos grupos sociais. Logo, pode-se dizer que o currículo tem como uma de suas atribuições, embora, nem sempre explícita, selecionar os alunos que terão melhores condições de ser bem sucedidos na escola. 
 O currículo representa muito mais do que um programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de um curso. Mais do que isso, ele representa a introdução de uma forma particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente (MC LAREN, 1997, pg. 216). 
Em 1998, a Secretaria de Educação Especial do MEC (SEESP) lançou um documento
denominado Parâmetros curriculares: adaptações curriculares – estratégias para educação de alunos com necessidades educacionais especiais, que até hoje é uma boa referência sobre o tema. Entre outros aspectos, o documento ressalta que o currículo deve ser construído a partir do projeto-político-pedagógico da escola, envolvendo a identidade da instituição, sua organização e funcionamento, e o papel que exerce, a partir das aspirações e expectativas da sociedade e da cultura. O currículo inclui as experiências postas à disposição dos alunos, planificadas no âmbito da escola, com o objetivo de propiciar o desenvolvimento pleno dos educandos (BRASIL, 1998). 
Mas, vamos retomar o conceito de adaptações curriculares. Para Oliveira & Machado (2011),
As adaptações curriculares, de modo geral, envolvem modificações organizativas, nos objetivos e conteúdos, nas metodologias e na organização didática, na organização do tempo e na filosofia e estratégias de avaliação, permitindo o atendimento às necessidades educacionais de todos os alunos, em relação à construção do conhecimento ( p. 36).
 
O MEC, por sua vez, define adaptações curriculares como: 
(…) estratégias e critérios de atuação docente, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola (BRASIL, 1998, p. 15).
Independente de como se conceitue adaptações curriculares, é preciso ter em mente que a principal característica de um currículo inclusivo é sua flexibilidade. O currículo deve ser concebido e desenhado de forma que permita abertura para realização de adaptações para que se torne apropriado aos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. 
	Neste sentido, a construção de um currículo inclusivo requer, quando necessário, eliminar, introduzir ou modificar temporariamente algum objetivo, conteúdo ou atividade. De acordo com o processo de aprendizagem do aluno, pode ser necessário priorizar alguns conteúdos, bem como modificar o tempo previsto para atingir os objetivos propostos. 
	No entanto, é importante enfatizar que adaptar um currículo não significa empobrecê-lo, mas sim, levar em consideração de que existe uma diversidade entre os alunos da turma, e as atividades propostas pelos professores em sala de aula precisam ter em conta esta condição de forma que possam propiciar o desenvolvimento de todos. Ou seja, entendemos que adaptar um currículo envolve rever as estratégias e recursos usados para que o aluno com necessidades educacionais especiais possa participar de todas as atividades da escola. 
Em síntese, a Educação Inclusiva, demanda que a escola transforme sua cultura e prática tradicionais, pautadas no déficit do aluno, para uma concepção curricular flexível e adaptada às suas necessidades educacionais específicas, propiciando, assim, aprendizagem e construção de conhecimentos. A constituição de ambientes de aprendizagem inclusivos, entretanto, demanda – além de condições de trabalho adequadas para os educadores – programas de formação inicial e continuada, voltados para as especificidades do desenvolvimento humano. 
	Para que uma escola se torne, de fato, inclusiva e se evite o fracasso escolar, deverá haver o reconhecimento de que alguns alunos (independente de terem ou não uma deficiência) necessitarão mais que outros de ajudas e apoios diversos ou de mais tempo para aprender. Cabe, então, à escola proporcionar essa situação adequada que possibilite a presença, participação e aprendizagem de todos os alunos.
Este não é um processo fácil de ser concretizado, pois vai à contramão tanto da organização escolar como da concepção tradicional do processo ensino aprendizagem. Diríamos mais, vai à contramão das nossas representações sociais sobre o que seja um aluno “normal” e um “aluno especial”, da nossa visão subjetiva do que é o papel e a função docente. 
Para nos tornarmos educadores inclusivos temos que, antes de mais nada, rever e transformar, nossa própria atitude. Educação Inclusiva mais do que uma política ou uma proposta pedagógica representa uma nova cultura escolar.
	Estamos chegando ao final da primeira parte do curso, em que apresentamos um panorama dos modelos de atendimento a alunos com necessidades especiais, e discutimos as políticas, conceitos e princípios básicos da Educação Inclusiva. Antes de encerrar esta aula e partir para os próximos temas, gostaríamos de tecer algumas reflexões.
	Embora haja uma corrente de educadores que minimiza a relevância de se ter currículo, materiais e atividades pedagógicas adaptadas, nossa experiência tem mostrado que alunos com deficiências ou outras condições que afetem diretamente o processo ensino-aprendizagem, dificilmente conseguirão se desenvolver academicamente no contexto de uma turma comum, se não receberem uma atenção diferenciada, que nem sempre o professor regente, sozinho, tem condições de lhe prestar. 
	Para que a inclusão se efetive verdadeiramente, toda unidade escolar precisa dispor de um sistema de suporte especializado, com profissionais capacitados, que possam executar tanto ações de apoio ao professor da turma comum, quanto o trabalho direto com o aluno, quando pertinente. 
	Com isso queremos firmar nossa posição que, ao contrário do que vem acontecendo em algumas redes escolares, a Educação Inclusiva não pode significar a descontinuidade dos serviços da Educação Especial. Muito pelo contrário, esses devem ser até intensificados na forma de atendimento educacional especializado, no sentido amplo do termo. Com o advento da Educação Inclusiva, como já tivemos oportunidade de sinalizar, a Educação Especial deixa de ser uma modalidade paralela, tornando-se um elemento integrante e integrador, presente no cotidiano de todas as escolas. Por isso comentamos em uma aula anterior que com a adoção desta nova proposta educacional rompe-se a dicotomia entre ensino “especial” e ensino “regular”. 
 	Queremos reiterar nossa posição de que dadas condições adequadas, a grande maioria dos alunos, com necessidades educacionais especiais ou não, se beneficiará muito mais de um ensino inclusivo do que segregado. A criação de novas estratégias pedagógicas, de adaptações curriculares e de recursos didáticos, sem dúvida contribuirá para tornar mais viável o processo ensino-aprendizagem de todos os alunos que, independente de qualquer patologia, apresentem dificuldades de aquisição de determinados conteúdos. Ao mesmo tempo, tais adaptações tornam possível que alunos com e sem deficiência aprendam juntos. 
Isso não significa, porém, que a inserção em uma classe regular seja sempre a melhor opção educacional para todos. Há alunos com comprometimento graves que, para se desenvolver, necessitam de ambientes mais estruturados, turmas menores e, muitas vezes, atendimento individualizado.
O ponto que queremos destacar é que inclusão se dá, legitimamente, em diferentes condições e em tempos diferenciados, dependendo da necessidade específica de cada indivíduo. Se um aluno precisa de um suporte especializado para se alfabetizar, por exemplo, que ele possa ter acesso a este numa sala de recursos, ou até mesmo numa classe ou escola especial. No entanto, não se pode perder de foco que a inclusão na classe regular é sempre o parâmetro a ser buscado.
	Embora no âmbito desta disciplina, estaremos focalizando a inclusão escolar em classes comuns, nossa perspectiva de Educação Inclusiva não se contrapõe à existência dos serviços especializados, nem mesmo das escolas ou instituições especiais, ditas segregadas. O que se pressupõe é a incorporação desses serviços sob uma nova concepção de trabalho colaborativo. 
No restante do curso, estaremos aprofundando a discussão e apresentando propostas de trabalho e estratégias pedagógicas de acessibilidade e adaptação curricular para atender alunos com diferentes tipos de necessidades educacionais especiais.
Referências Bibliográficas 	
AINSCOW, M. O que significa inclusão? Entrevista disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br.> Acesso em: 24 jul. 2004. 
BRASIL. Parâmetros Curriculares: adaptações curriculares – estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: MEC/SEESP, 1998. 
GLAT, R.; VIANNA, M. M. & REDIG, A. G. Plano Educacional Individualizado: uma estratégia a ser construída no processo de formação docente. In: Ciências Humanas e Sociais em Revista. 2012, no prelo.
____ & BLANCO, L. de M. V. Educação Especial no contexto de uma Educação Inclusiva. In: GLAT, R. (Org.). Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 15-35, 2011 (2ª Ed.).
__________; FERNANDES, E. M.; PLETSCH, M. D . Políticas de Educação Inclusiva e seus desdobramentos na rede pública de Educação do Estado do Rio de Janeiro. In: Alice Casimiro Lopes & Elizabeth Macedo. (Org.). Políticas de currículo no Brasil e em Portugal. p. 133-153. 1 ed. Porto/Portugal: Profedições, 2008.
MCLAREN, P. A vida nas escolas – uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da Educação. Artes Médicas, Porto Alegre, 1997.
OLIVEIRA, E. da S. G. & MACHADO, K. Adaptações curriculares: caminho para uma educação inclusiva. In: GLAT, R. (Org.). Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 36-51, 2011(2ª Ed.)..
UNESCO, Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994.
� Esta aula foi criada com a colaboração da Prof. Annie Redig, tutora da disciplina.
� Nesta aula continuaremos utilizando o texto complementar de Glat e Blanco (2011).
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