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AULA 3: DO REGISTRO DAS PESSOAS NATURAIS 1. DO REGISTRO DAS PESSOAS NATURAIS O registro das pessoas naturais, tendo por conteúdo e substância, os dados a elas relativos integram, sem dúvida, o direito de privacidade, com a premissa de individualidade que acarreta para o seu titular, distinguindo-o dos demais conviventes, sob o ponto de vista de duas vertentes: sob a ótica formal, voltando-se para os dados relativos à pessoa, através dos cadastros de elementos identificadores (nome, filiação, domicílio civil, identidade numérica), mas, também, o relativo à inviolabilidade destes elementos, face á violação da tutela destes elementos, quando terceiros, possam explorar o nome, causando, ao titular, a pessoa natural, danos materiais e/ou morais. Vige, portanto, com relação àqueles elementos identificadores/distintivos, o princípio da exclusividade reconhecida ao titular dos mesmos, que tem tal proteção legal, através do Registro Público, que lhe confere, erga omnes, tal titularidade. Veja-se o consagrado MELO, Legislação Constitucional (CF/88, art. 5° X), a consagração da inviolabilidade conseqüentemente, exclusividade, por meio da titularidade da pessoa – a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem. Portanto, há uma esfera privada da pessoa, inviolável, protegida da interferência não consentida de quem quer que seja, sem o consentimento do titular destes direitos, não há possibilidade, senão, em situações jurídicas excepcionais, intromissão de terceiros – até mesmo agentes públicos – contra a permissão e concordância do próprio titular – a pessoa natural – desta esfera de privacidade, onde, obviamente, o nome e os atos jurídicos de interesse público praticados pelas pessoas naturais, estão inseridos como elementos essenciais. Fica assentado, que é através do Registro Civil das pessoas naturais, de acesso público, que exsurgem os efeitos jurídicos da privacidade e exclusividade, dos atos jurídicos de interesse público – pertencentes à ordem jurídica – de que são titulares as pessoas naturais. Como elemento básico, é exigência imprescindível, proceder-se, ao registro civil das pessoas. Como decorrência deste ato jurídico strictu sensu, fundamental, derivar-se-ão, todos os que, face à sua relevância sócio-jurídica de inegável interesse público, exigem, também, serem objeto de registro, no mesmo notariado: casamentos, óbitos, emancipações, interdições, sentenças declaratórias de ausência, opções de nacionalidade, sentenças de adoção; merecerão, no mesmo cartório, averbações de atos jurídicos da mesma natureza jurídica de interesse público, como as sentenças que declararem nulos ou anularem casamentos; que homologuem separações judiciais consensuais, ou decidam superações judiciais litigiosas; que decidirem ações negatórias de paternidade ou maternidade, com ou não anulação de registro anterior; as que decidirem investigação de paternidade ou maternidade; declarações de reconhecimento de filhos; alterações abreviaturas de nomes. 2.. REGISTRO DO NASCIMENTO a) Quando registrar O momento jurídico da exigência legal do registro do nascimento deve cumular-se com o disposto no artigo 2° do Código Civil, ou seja, a aquisição de personalidade civil, em nosso direito, condiciona-se ao nascimento ao nascimento com vida; mas, o artigo 50 da Lei 6015/73 – Lei de Registro Públicos – fala em “nascimento”, sem estabelecer condição de vitalidade, a exigir “ser dado a registro”. Ora, nascer, é vir à luz, sair do ventre materno, independentemente de por condição natural ou provocada; vivo, ou morto. Assim, dar-se-á, obrigatoriamente o registro de pessoa que nascer, na concepção sócio-jurídica acima, como o declara o artigo 53 da Lei citada. Há duas situações, a se analisar: 1°) A criança nasceu morta (natimorto), e, então, o registro far-se-á no denominado Livro C auxiliar, específico para registro de natimortos; 2°) A criança vem a morrer na ocasião do parto – durante a realização do mesmo – e, portanto, tendo respirado – é nesse caso, obviamente, teve vida autônoma do organismo materno, e, assim, nasceu com vida, aplicando-se o art. 2° do CC, adquiriu personalidade civil. Portanto, nessa hipótese, serão feitos dois assentos: o de Nascimento (livro “A” – Registro de Nascimento) e o de óbito (Livro C – Registro de óbitos), com os elementos cabíveis e com remissões recíprocas aos dois assentamentos. b) Lugar do registro. Quem registra. Quanto ao lugar, deve ser o do (1) lugar em que tiver ocorrido o parto, ou (2) no lugar da residência dos pais, no prazo de 15 dias do nascimento; admite-se amplificação deste prazo, até 3 meses, para locais distantes mais de 30 km da sede cartorária. Se diverso, o lugar da residência dos pais, obrigam-se, ao registro, o pai ou a mãe; faltando, ou estado impedidos de fazê-lo, os pais, o parente mais próximo (obedeça-se e entenda-se os da linha reta ascendente, descendente, colateral, estes até o 6° grau de parentesco. Observar que esta ordem, não é de ordenação sucessiva; é, ao contrário, alternativa, cabendo o dever, a qualquer dos parentes, independente de ordem de sucessividade). As exigências, neste caso (parentes) é que sejam maiores e presentes (o legislador não desenvolve o alcance do termo “presença”; há que se entender, lato sensu, ter conhecimento do parto). Caso ainda não haja, ou estejam de qualquer forma impedidos os parentes, os administradores dos hospitais, médicos, parteiras, que tiverem assistido o parto; ou ainda, pessoa idônea do local em que se deu o parto, fora do domicílio materno, e, finalmente, qualquer pessoa encarregada da guarda do nascido (tutor da mãe, p. ex.). Entende-se que esta ordem, e, portanto, o dever, somente se deslocará de uma pessoa (ou grupo de pessoas) caso não haja, ou estejam impedidas, as previstas antecedentemente (ao contrário, como já vimos, do que ocorre com os parentes, dentro deste grupo, onde é alternativa). c) Dúvidas sobre a declaração de nascimento - Caso o oficial do registro, tenha motivo fundado para duvidar da declaração, poderá dirigir-se ao local do nascimento, ou exigir atestação médica ou de parteira assistentes do parto, ou o testemunho de duas pessoas – não os pais – que tiverem visto o neonato (recém-nascido). - Casos de registro fora do prazo legal, se dúvida houver, o oficial poderá suscitar dúvida por requerimento ao juiz da circunscrição, para que o mesmo ordene e decida o incidente. 3. CASOS INUSITADOS DE REGISTRO DE NASCIMENTO DE INDÍGENAS - Enquanto não integrados, NÃO estão obrigados ao registro do nascimento. - Pode, no entanto, o mesmo ser feito em livros próprios no órgão competente de assistência, para o registro administrativo de nascimento e óbito dos índios, da cessação de sua incapacidade e dos casamentos contraídos segundo os costumes. - Admite-se que tal registro administrativo, constituirá, quando couber, documento hábil para proceder ao registro civil do ato correspondente, admitido, na falta deste, como meio subsidiário de prova (Lei 6001 de 19/12/1973, art. 12/13). 3.1. NASCIMENTOS OCORRIDOS EM ALTO MAR, AERONAVES E NAVIOS ESTRANGEIROS - Devem tais nascimentos ser assentados conforme lavratura prevista na legislação de Marinha – quer Navios de Guerra ou Mercantis, mas com as disposições da Lei de Registros Púbicos. - Ao chegar ao 1° porto, o comandante depositará, de forma imediata, na Capitania do porto, ou na sua falta, na estação fiscal, ou no consulado, se o porto for estrangeiro, 2 cópias autenticadas dos assentos, remetida uma delas, por intermédio do Min.da Justiça, ao oficial do registro, para que se proceda ao mesmo, no lugar da residência dos pais, ou não se tendo notícia do mesmo, ao 1° ofício do D.F. Uma 3ª cópia, entregar-se-á ao interessado, que pela mesma, poderá proceder ao registro no cartório ou consulado do local de desembarque. 3.2. NASCIMENTO DE FILHO DE MILITAR OU ASSEMELHADO - São nascimentos ocorridos quando ocorrem campanhas, para filhos de militares dela participantes, ou, quem, ainda que não sendo militar,esteja envolvido (cinegrafistas, fotógrafos, repórteres, civil contratado) que serão objeto de assentos de nascimento, em livro criado pela administração militar, mediante declaração do interessado ou remetida pela comandante da unidade. - Tal assento será publicado em boleto da unidade, e, logo possível, translado em cópia autêntica, ex officio ou a requerimento do interessado para o cartório de registro civil a que competir, ou para o 1° ofício do DF, quando não puder ser conhecida a residência (o artigo 66 da Lei 6015/73, fala empai, mas, após a igualdade imposta constitucionalmente, através dos artigos, I c/c226§5°, deva-se entender, do pai ou da mãe). 4. CONTEÚDO DO ASSENTO DO NASCIMENTO: ALTERAÇÃO DO NOME - Para atender ao objetivo de individualizar e identificar a pessoa natural, o que se verifica pelo registro do nascimento, o mesmo contém obrigatoriamente, elementos essenciais: Dia, mês, ano, lugar e hora certa do nascimento; Sexo; Se Gêmeo, conter o fato, e, tal situação especial, deve ser declarado no assento especial de cada um, a ordem do nascimento, para prevenir possíveis questões de sucessão hereditária. Caso os gêmeos tenham prenome igual, devem ser inscritos com o duplo prenome ou nome completo diverso, para os irmãos a que se pretenda dar o mesmo prenome. Nome completo, que contém o prenome (que pode ser simples, como p.ex. José, ou composto, José Carlos), e o sobrenome, ou seja, o da família. Ordens de filiação de outros irmãos do mesmo prenome (gêmeos ou não) que existirem ou tiverem existido. Os nomes completos dos pais, naturalidade, profissão dos avós paternos e maternos e das testemunhas do assento. Não há dúvida de que o ELEMENTO PRIMORDIAL DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL, sendo os demais, secundários e derivados, é o nome. Daí analisarmos o mesmo com minúcias é reconhecido como direito da personalidade, como o declara expressamente o CC (art. 16) e previsibilidade constitucional (art. 227§6°). Modernamente, entende-se que o nome completo, envolve 2 elementos: - Prenome (simples ou composto) - Sobrenome (nome da família ou nome patrimônio) - COGNOME: Acréscimos, normalmente para estabelecer distinção com nomes idênticos (filho, neto, sobrinho, Junior, de origem anglo-americana, bisneto, filha etc.). ALTERAÇÃO DO NOME (prenome) - Há previsão legal de 2 modalidades: a) durante o 1° ano, após atingida a maioridade, o interessado poderá alterá-lo, sem prejuízo do sobrenome, por procedimento administrativo sem oitiva do MP, nem decisão judicial, por via de requerimento ao oficial do registro onde consta o assento, e publicação no Diário Oficial. b) Após o prazo decadencial acima previsto, apenas através de procedimento judicial ordinário, motivadamente, com oitiva do MP e decisão judicial, mandado arquivado no cartório do assento de nascimento e publicação do Diário Oficial. c) Admite-se ainda, através de sentença e oitiva do MP, alteração do nome completo, da pessoa e até de filhos menores, através de decisão judicial e oitiva do MP, no caso de proteção de vítimas ou testemunhas ameaçadas que voluntariamente tenham prestado colaboração à investigação policial e ao processo criminal (Lei n° 9807 de 13/07/199, art. 9°, §§1° ao 5°). EXERCÍCIO 3 Verificando o Oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas que os atos constitutivos de pessoa jurídica, apresentados a registro, indicam destino ou atividade ilícitos, contrariando a moral e os bons costumes, o Oficial: R: Sobrestará o registro e, mesmo de ofício, suscitará dúvida ao Juiz da Vara de Registros Públicos, obedecendo às normas de procedimento previstas para as dúvidas do Registro de Imóveis. >> Decreto-Lei n° 9.085/1946 (dispõe sobre o registro civil das pessoas jurídicas) Art. 2º Não poderão ser registrados os atos constitutivos de pessoas jurídicas, quando seu objeto ou circunstância relevante indique destino ou atividade ilícitos ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral e aos bons costumes (Constituição, artigo 122, IX) . Art. 3º Ocorrendo qualquer dos motivos previstos no artigo anterior, o Oficial do Registro, ex-officio, ou por provocação de qualquer autoridade, sobrestará no processo de inscrição e suscitará dúvida, na forma dos artigos 215 a 219 do Decreto nº 4.857, de 9 de Novembro de 1939, no que forem aplicáveis, competindo ao juiz, sob cuja jurisdição estiver o oficial, decidir a dúvida, concedendo ou negando o registro.