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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO - PUC-Rio CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 2012.2 SOC 1375 Turma: 2HB SEMINÁRIO ESPECIAL EM ANTROPOLOGIA Professor (a): Patricia Coralis Leiam com atenção as instruções: Em grupos de até três pessoas, respondam duas das quatro questões abaixo, à sua escolha. Cada questão vale 5,0 (cinco) pontos. Eventuais citações devem ser devidamente destacadas (trechos entre aspas, com identificação do texto/autor e o número da página), servindo como exemplo ou ponto de partida para a construção do argumento, jamais como única resposta à pergunta. É importante lembrar a cópia sem referência de textos/trechos da Internet invalidará a questão. A data de entrega é 05/12/12. Não será necessário entregar o trabalho impresso; podem enviar para o e-mail pcoralis@puc-rio.br, em formato Word. Ao fazê-lo, receberão uma mensagem de confirmação de recebimento. A G2 foi elaborada com base nos textos que seguem abaixo (apresentados após a G1): LARAIA, Roque de Barros. “A cultura condiciona a visão de mundo do homem”; “A cultura interfere no plano biológico”; “Os indivíduos participam diferentemente da sua cultura”; “A cultura tem uma lógica própria”; “A cultura é dinâmica”. In: ____. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986, p. 59-101. VELHO, Gilberto. “Observando o familiar”. In: ____. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 123-132. FRY, Peter. “Diferenças, desigualdade e discriminação” e RIOS, Roger Kaupp. “Comentário jurídico: direito à diferença ou direito geral de igualdade?”. In: LIMA, Antonio Carlos de Souza. Antropologia & Direito: temas antropológicos para estudos jurídicos. Rio de Janeiro/Brasília: ContraCapa/LACED, 2012, p. 227- 233 e 247-257. Bom trabalho a todos! 1) Explique, citando exemplos práticos, três das cinco formas de atuação da cultura na vida dos seres humanos, de acordo com Roque Laraia (“a cultura condiciona a visão de mundo do homem”; “a cultura interfere no plano biológico”; “os indivíduos participam diferentemente de sua cultura”; “a cultura tem uma lógica própria” e “a cultura é dinâmica”). Os exemplos devem ser distintos daqueles eventualmente citados no texto. Vocês podem se basear em noticiários, casos jurídicos, etc. 2) Em “Observando o familiar”, o antropólogo Gilberto Velho discute os limites e possibilidades da análise antropológica realizada na própria sociedade da qual o pesquisador faz parte. Nesse processo, torna-se fundamental a construção do conhecimento baseada na “transformação do familiar em exótico”. Explique em que consiste essa elaboração e como ela pode auxiliar na análise e aprofundamento de questões relativas ao Direito. 3) Explique, em termos gerais, como é possível pensar o Direito a partir de uma perspectiva antropológica. Cite exemplos. 4) “As coisas, contudo, não se distinguem entre elas por si só. São distinguidas por meio de complexos sistemas cognitivos desenvolvidos socialmente. É no processo social que se definem os critérios de distinção, tornados de tal modo corriqueiros que parecem naturais” (Peter Fry, “Diferenças, desigualdade e discriminação”, p. 228). Explique a citação acima, tomando como base o texto que segue. Sábado, 20 de outubro de 2012 Guest Post: A sorte do mendigo branco no país que vira a cara para negros Como não tenho Facebook, nem fiquei sabendo. Mas o Robson me contou que um grande assunto nas redes sociais desta semana foi um mendigo de olhos azuis em Curitiba que, hoje, foi internado em um centro de recuperação. Esperamos que outros mendigos, com olhos de outras cores, também tenham a mesma sorte. Robson, que sempre contribui com ótimos guest posts, tem um blog. E enviou este texto sobre o mendigo curitibano. Uma história em que pobreza, padrão eurocêntrico de beleza e cultura racista se chocam vem movimentando a internet. Um mendigo fotografado em Curitiba está sendo assunto em todo o Brasil, por ser um branco de olhos azuis “mas” ter sido castigado pela pobreza mendicante. Quando sabemos dessa novidade e a comparamos com a vida de milhares de outros mendigos pelo Brasil, percebemos o quanto a cultura brasileira ainda é muito impregnada de racismo. O mendigo branco, cujo nome, Rafael Nunes, já foi revelado, vive nas ruas de Curitiba e posou para a foto desejando “ser colocado no rádio” para ficar famoso. A fotografia foi postada no Facebook e agora campeia pelo Brasil inteiro, chamando atenção de mulheres e homens. Ora é considerado “lindo de morrer”, com muitas mulheres querendo namorá-lo e abrigá-lo, encantadas com a beleza dele; ora vem sendo candidato às passarelas da moda, como o modelo “dos sonhos” das grifes; ora tem sua mendicância posta em dúvida principalmente por ser um branco de olhos azuis, parecido demais com um europeu para ter sua pobreza reconhecida. As opiniões convergem em sua maioria a um ponto: ele é lindo demais para continuar mendigo. E enquanto isso, no mesmo Brasil, inclusive na mesma Curitiba, milhares de negros e pardos padecem de miséria igual ou pior, mas por sua vez permanecem tratados como rejeitos da sociedade, como seres dignos de nada mais do que pena ou virada de rostos. Muitos ainda clamam pela mídia, por um pouco de atenção e humanitarismo, e tudo o que conseguem são poucos minutos na TV ou no rádio, algumas doações e, com sorte, uma assistência de alguma ONG ou do órgão oficial de serviço social da prefeitura. Mas praticamente nunca são abraçados pelo padrão cultural de beleza dominante no país, tornados celebridades instantâneas em função de sua aparência física e alçados a modelos “sarados” e adorados. É aí que começamos a pensar: se fosse um negro de fortes traços africanos ou um mulato, seria prontamente rejeitado em sua demanda de “ser colocado no rádio” ou receber ajuda humanitária, empregatícia e/ou habitacional de algum político ou empresa. Não chamaria a atenção de virtualmente ninguém na internet, fora algumas meias-dúzias de moças ou rapazes que gostam da beleza negra. Seria apenas mais um entre milhares de mendigos que vagam pelos centros das cidades do Brasil; sua foto seria vista com desdém pela sociedade, e ele voltaria, logo após a fotografia, às ruas para ali viver por tempo indeterminado, senão para sempre. Em outras palavras, para nossa sociedade, não é normal ver em mendicância e miséria um branco de aparência europeia. Para ela, brancos merecem muito mais do que isso. Mas, por outro lado, ter negros nas ruas pedindo esmolas e implorando por dignidade é considerado algo mais que normal. É tradição já. Por que eles merecem ser alçados a modelos a serviço da alta costura? Que se virem, vão trabalhar, procurar um emprego, correr atrás da escola aonde não foram na infância – assim pensa grande parte da sociedade que está agora se compadecendo com o pedinte eurodescendente. Se fosse negro, sendo ou não um imigrante, seria considerado “feio”, rebaixado a apenas “mais um” e continuaria visto como um mero rejeito a ser tratado como lixo pela sociedade, pelo Estado e por seu braço violento, a polícia. Se os brasileiros parassem de achar normal haver negros em miséria nas ruas e começassem a apreciar o padrão de beleza deles, será que passaríamos a ver as passarelas lotadas de ex-mendigos, fazendo companhia profissionalmente com o curitibano? Não, porque o racismo, destacadamente em suas vertentes social e estética, continua imperando forte e fazendo os brasileiros de todas as cores acharem brancos melhores que negros apenas por terem pele, cabelo e olhos claros. Original em: escrevalolaescreva.blogspot.com.br/search?updated-max=2012-10-24T12:07:00- 03:00&max-results=20&start=23&by-date=false