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Introdução ao Estudo do Direito INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Ø Zetético = investigar Ø Dogmático = doutrinar ZETÉTICO: 2 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Ø Enfoque ligado ao conhecimento. Ø Investiga um problema tendo em vista uma preocupação cognitiva e especulativa visando à ampliação dos conhecimentos humanos. Ø Acentua o aspecto PERGUNTA, problematizando, de uma forma aberta, todos os conceitos analisados, tendo em vista o problema da verdade ou daquilo que as coisas são (SER). EM QUE TIPO DE ANÁLISE TEÓRICA O ENFOQUE ZETÉTICO SERIA PREDOMINANTE? Ä Em todas as ciências em geral (humanas, exatas e biológicas) e no próprio raciocínio filosófico, que, desde a antiguidade greco-romana, vem constituindo um pensamento especulativo questionador. DOGMÁTICO: Ø Enfoque informativo. Ø Tem alcance mais preciso – equaciona um problema com uma preocupação imediata de criar condições assertivas para a solução do conflito em questão. Ø Acentua o aspecto RESPOSTA, estabelecendo de forma arbitrária (através de uma decisão humana) certas premissas (normas), mesmo que temporariamente, como sendo inatacáveis e indiscutíveis, a fim de que estas possam criar condições para a decisão dos conflitos e direcionar a ação (DEVER SER). Ø Estas premissas não são em si mesmas verdadeiras (a aceitação resulta de uma imposição). Elas não podem ser postas em dúvida, apenas podem ser interpretadas; têm caráter normativo e constituem os chamados DOGMAS NORMATIVOS, que impõem certeza sobre algo que continua duvidoso. Ø Não se admite a existência de questões sem resposta (jurídica). Ø A presença desse tipo de enfoque é mais restrita, pois pertence às teorias religioso-normativas, éticas e jurídicas. Ø O fenômeno jurídico tem forte ligação com o estudo dogmático, pois desde os primórdios esteve ligado a problemas práticos. TERCIO-> o raciocínio dogmático esconde certa complexidade, pois não apenas tem de aceitar a sua vinculação obrigatória aos dogmas, mas também interpretá-los. ZETÉTICA JURÍDICA Evidências Demonstráveis Especulação Fenômeno Jurídico VERDADE INFINITA SER DOGMÁTICA JURÍDICA Dogmas não demonstráveis Decisão Controle normativo INTERPRETAÇÃO FINITA DEVER SER O QUE É DIREITO? Ä Teorias essencialistas e teorias convencionalistas da língua : TEORIAS ESSENCIALISTAS Ø Juristas buscam compreender a língua como um fenômeno universal. Ø Língua representa a realidade -> conceitos linguísticos refletem uma presumida essência das coisas. Ø Haveria uma só definição válida para cada palavra, um núcleo invariável, que tornaria possível 3 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira conhecê-lo verdadeiramente. TEORIAS CONVENCIONALISTAS Ø Língua = sistemas de signos, cuja relação é estabelecida de forma arbitrária pelos homens. Ø Importam os usos sociais ou técnicos das palavras, que variam de comunidade para comunidade. Ø A descrição da realidade depende de como construímos o conceito e não ao contrário. A descrição da realidade varia de acordo com os usos conceituais. O problema da essência não faz sentido. QUAIS SÃO OS TIPOS DE USOS? Ø USO LEXICAL: diz respeito ao uso tradicional e implica na ideia de falso e verdadeiro. Ø USO ESTIPULATIVO: diz respeito à possibilidade de se propor um uso novo para o vocábulo Ø REDEFINIÇÃO: em vez de inovar, escolhe um dos usos possíveis e o aperfeiçoa. QUAIS SÃO OS DIFERENTES ÂNGULOS DE UMA ANÁLISE LINGUÍSTICA? Ø ÂNGULO SINTÁTICO: palavra/palavra Ø ÂNGULO SEMÂNTICO: palavra /objeto (problema: VAGUEZA-> é vago quando seu campo de referência é indefinido; ambiguidade) Ø ÂNGULO PRAGMÁTICO: palavra/usuário EM TERMOS PRAGMÁTICOS... Direito possui carga emotiva, no uso comunicacional as palavras manifestam emoções (justiça/injustiça). Aqui aparece o problema da persuasão e das relações de poder. Ø DIREITO-CIÊNCIA = doutrinas, teorias (o que já se conhece). Ø DIREITO-OBJETO = leis, normas (o que se procura entender). Origem do direito no Brasil: romano – germânico (pensamento jurídico continental europeu) EM QUE CONSISTIA O DIREITO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA? Ä Na PRUDÊNCIA (virtude moral do equilíbrio da ponderação nos atos de julgar) QUAL A NATUREZA DO PENSAMENTO PRUDENCIAL? POR QUÊ? Ä Natureza PRÁTICA, em razão do uso da técnica da dialética. OBS¹: Influência dos jurisconsultos manifestou-se sob a forma de ‘responsa’ (pareceres sob a forma escrita). OBS²: Partiu da prática e caminha para a teoria. POSITIVAÇÃO DO DIREITO Ä Mutabilidade = todo direito muda Posto por um ato de vontade Quais são seus dois sentidos? Ø Sentido filosófico: posto por um ato de vontade Ø Sentido sociológico: crescente importância da lei votada pelos parlamentos. Fonte do direito. PROBLEMA DO EXCESSO DE RACIONALIDADE E POSITIVAÇÃO: Afasta-se do caso prático e fica mais nas normas. O DIREITO ARCAICO É QUERIDO PELA AUTORIDADE Ä Há uma visão maniqueísta, o direito é um bem e o ato antijurídico é um mal, que está fora do direito e da comunidade. Ele é uma forma rígida de distribuição social. Por exemplo, o pai tem direito de vida e morte sobre o filho. Se há violação de uma regra, como resposta, há a reação de vingança. NA GRÉCIA, O JUS NÃO ERA REDUZIDO A LEX. Ä Na Grécia, o direito como jus (justiça) surgia da ação política democrática daqueles que detinham cidadania, cabendo ao legislador o fazer (trabalho) da redação da lex (lei). JURISPRUDÊNCIA ROMANA 4 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Ä A visão dogmática – jurídica, tal como conhecemos hoje, não existia.Ligava-se ao que a filosofia grega chamava de “fronesis”, capacidade de sopesar (ponderar) soluções. Ä O jurista coloca um problema e trata de encontrar argumentos, através da arte das contradições e do exercício do confronto de opiniões. Ä O direito é algo que o jurista não se limita a aceitar, pois o constrói de forma responsável, partindo do problema e organizando as possibilidades de solução alternativas. Ä Estabelece-se um nexo entre os casos, mas eles não são ordenados em um sistema pré- estabelecido e logicamente organizado. Este pensamento também esteve ligado à confirmação da noção de autoridade e respeito pelos antepassados. O jurista era respeitado por estar mais perto de seus antepassados. Ä O poder, entendido como agir em conjunto, estava com o povo e a autoridade estava no Senado, dotado de sabedoria. Ä O pensamento prudencial dos romanos, embora se ligasse de alguma forma à prudência e à retórica gregas, tem um sentido próprio. Ele deixa de ser uma promessa de orientação para a ação, no sentido de descobrir o certo e o justo, para tornar-se uma confirmação do que era justo. IDADE MÉDIA Ä A religiosidade é retratada de forma bidimensional e simbólica. Ä A pintura representa um processo de purificação da alma. Ä A ciência europeia do direito nasce na Universidade de Bolonha. Ä Os juristas passaram a dar um tratamento metódico e explicativo aos textos pré-fabricados e aceitos pela sua autoridade. Aqui surge o caráter dogmático do direito. Ä Os casos problemáticos do pensamento prudencial romano foram transformados em paradigmáticos, na medida em que deveriam traduzir uma harmonia. Ä Há uma combinação entre prudência e dogmática, em que a autoridade de cristo é transcendente, seu nascimento, morte e ressurreição. FILÓSOFOS: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino: iniciam o jusnaturalismo teológico, baseados em dogmas da fé. Ä A teoria do direito natural medieval tenta conciliar o espírito grego da fronesis, como orientação da ação, ao espírito grego da prudência no sentido de confirmar o certo e o justo. Ä É evidente a correlação entre dogmatização do direito e racionalização do poder. Na Idade Média, no continente europeu, a recuperação do direito romano organizou o poder real soberano, a partir de um princípio centralizador baseado na relação mando/obediência, soberano/súdito e no apossamento físico da terra. Ä O Renascimento conquista o espaço cênico-tridimensional e, também, a racionalidade técnico- científica-matemática. Ä O pensamento sistemático, no século XVII foi transposto da teoria da música e da astronomia para a teologia, para a filosofia e para a jurisprudência. Ä Inicialmente, ele dizia respeito à correção e a perfeição formal da dedução. Ä A teoria jurídica europeia – vista como teoria de interpretação de textos singulares - passa a receber um caráter lógico-demonstrativo de um sistema fechado, cuja estrutura permanece até hoje nos códigos jurídicos. A redução das proposições a relações lógicas é pressuposto da formulação de leis naturais, universalmente válidas. Ä O humanismo renascentista modifica a legitimidade do direito, tornando a interpretação dos textos mais abstrata. As sociedades modernas são mais complexas e passam a exigir soluções técnicas. Ä A teoria jurídica deveria legitimar-se perante a razão, mediante exatidão matemática. SÉCULO XIX Ä Fenômeno da POSITIVAÇÃO DO DIREITO que, num sentido filosófico, significa estabelecer um direito não através da razão, mas da força de um complexo ato de vontade decisório – levando em conta as valorações e expectativas de comportamento da sociedade. Ä O sistema jurídico era tido como fechado, sem a presença de lacunas. Ä Aceitação do chamado dogma da subsunção. SÉCULO XX 5 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Ä Mescla constitucional de 2 modelos de Estado: liberal clássico e social. Ä O papel do jurista não é mais o de apenas intérprete dos dogmas jurídicos, passando a atuar na área consultiva. SEMINÁRIO 3 – CONHECIMENTO JURIDICO: MERA TECNOLOGIA? Perguntas: SOB QUAL FORMA O FENÔMENO JURÍDICO ERA DISCIPLINADO NO SEC XIX? O QUE ISSO REPRODUZIA? Ä Forma punitiva, repressiva. Ä Reproduz a distinção entre sociedade civil e Estado. Ä Direitos de Primeira Geração (cidadão queria se defender do Estado). COM O AUMENTO DA COMPLEXIDADE DA SOCIEDADE INDUSTRIAL, O QUE MUDOU? Ä Estado não tinha apenas a função garantidora e repressiva, mas também era produtor de serviços e regulador da economia. COMO O JURISTA ERA VISTO NO SÉC XIX? E COMO É VISTO HOJE? Ä Século XIX: sistematizador e intérprete Ä Hoje: teórico do aconselhamento. COMO PODEMOS IDENTIFICAR O SABER JURÍDICO ROMANO E O ATUAL? Ä De um saber ético (prudência), o saber jurídico se transformou em um saber tecnológico. QUAL A FUNÇÃO PRINCIPAL DO SABER JURÍDICO ATUAL? QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DISSO? Ä A ciência dogmática cumpre as funções de uma tecnologia, instrumentaliza-se a serviço da ação sobre a sociedade. Ä Consequência: o jurista vira um operador do direito. É POSSÍVEL FALAR EM NEUTRALIDADE CIENTÍFICA DA CIÊNCIA JURÍDICA? Ä A ciência jurídica vista como tecnologia não é neutra, sendo a influência da visão econômica (capitalista) bastante visível. Ou seja, a tecnologia jurídica atual força a vida social, ocultando-a, ao manipulá-la, ao contrário da Antiguidade. COMO RELACIONAR A CIÊNCIA DOGMÁTICA NA ATUALIDADE E SUA EVENTUAL MANIPULAÇÃO OU NEUTRALIDADE COM O TEMA CENTRAL DE “O QUARTO PODER”? Ä O filme trata da manipulação na mídia, mostrando como se pode inverter a verdade dos fatos por razões pessoais. Do mesmo modo, a ciência dogmática pode também ser manipulada por interesses de grupos fortes, como por exemplo, a indústria alcooleira e a insuficiente legislação ambiental em relação às queimadas da cana-de-açúcar. O ENUNCIADO CIENTÍFICO POSSUI QUAL SENTIDO DE COMUNICAÇÃO? ESSE SENTIDO ESTÁ RELACIONADO COM QUAL PROBLEMA? Ä Sentido informativo (descreve a realidade) Ä Problema: o problema da verdade. COM O FENÔMENO DA POSITIVAÇÃO, O QUE MODIFICOU NO STATUS CIENTÍFICO DA CIÊNCIA DO DIREITO? Ä Antes a ciência do direito ocupava-se daquilo que PODIA SER (relação causal). Ä Kelsen: relação CAUSALIDADE X IMPUTAÇÃO. O QUE SIGNIFICA ESTUDAR A CIÊNCIA JURÍDICA? QUAL DEVE SER A ESTRATÉGIA DO JURISTA PARA SER BEM SUCEDIDO NA TAREFA DA DECIDIBILIDADE DOS CONFLITOS? Ä Aprender a elaborar esses sistemas, dominar seus princípios de construção, saber distinguir e 6 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira integrar. Operar os conceitos tendo em vista a decidibilidade dos conflitos. Ä As questões jurídicas não se reduzem às dogmáticas. O jurista revela-se assim não só como especialista em questões dogmáticas, mas também em questões zetéticas. TEORIA PURA DO DIREITO – Hans Kelsen POR QUE ESTUDAR KELSEN HOJE? (Resposta da Prof Mara Regina de Oliveira) Ä O detalhado modelo lógico – estrutural, em torno da tradicional ideia de Estado de Direito, por ele desenvolvido, sobrevive e tornou-se uma espécie de tipo lógico, ideal, presente mesmo no pensamento daqueles autores que se propõem a criticá-lo, no campo da significação semântica e da interação pragmática. Ä O intento de purificar a ciência jurídica e negar a sua interdisciplinaridade epistemológica tem uma data histórica precisa, não mais sobrevivendo no atual mundo pós moderno global, que necessita da interdisciplinaridade científico-jurídica de forma pertinente, dada a enorme complexidade as relações sociais e conflitos emergentes, gerados pela nova fase do capitalismo. POR QUE A REFLEXÃO DE KELSEN ESTÁ NO CAMPO DO SABER ZETÉTICO? Ä Definição de um método e de um objeto a serem trabalhados pelo cientista do direito, que garantam autonomia, objetividade e neutralidade para a ciência jurídica. Ä Situa-se no campo da zetética analítica pura. OBS: Na época, o pensamento de Kelsen era extremamente crítico. QUAL É O MÉTODO E O OBJETO DA CIÊNCIA PURA? Ä Objeto: as normas jurídicas positivadas pelo Estado Ä Método: É um conjunto de princípios de seleção de hipóteses que viabilizam o conhecimento científico, que visa fornecer informações verdadeiras e sistematizadas sobre a realidade. OBS: Kelsen critica o JUSNATURALISMO – para ele, os valores são relativos e não universais como diz o jusnaturalismo NO QUE CONSISTE O PRINCÍPIO DA PUREZA METÓDICA? Ä O cientista do direito deve limitar seu estudo à descrição da estrutura lógico-formal das normas jurídicas, sem relacioná-las com o problema dos valores, das ideologias e com a própria realidade social que permeia o fenômeno jurídico. QUAL SERIA A ESTRUTURA FORMAL DAS NORMAS? Ä Para Kelsen, as normas são comandos que têm estrutura lógica universal, na forma de um juízo hipotético (antecedente + consequente) do tipo: Se A é, deve ser B. KELSEN DEFENDE A EXISTÊNCIA DE UM DIREITO PURO? Ä Kelsen não nega a relação destes elementos com o universo jurídico, mas entende que caberia às demais ciências humanas, e não especificamente do cientista do direito, estudar essa correlação. O QUE É O SER E O DEVER SER? Ä Separação nítida entre ordem do SER e ordem do DEVER SER, como dados imediatos da nossa consciência. Vemos a realidade tal como ela é - a corrupção cresce na política brasileira - ou como ela deveria ser - por lei, a corrupção deve ser combatida. . COMO SE CONSTITUI A NORMA JURÍDICA? Ä Norma jurídica – ato de vontade (sentido subjetivo), dotado de significação jurídica, também chamada de validade jurídica(sentido objetivo). Ä A validade jurídica não é uma qualidade da norma jurídica em si mesma, pois é sempre conferida por uma norma considerada superior. OBS: Kelsen quer DESCREVER as normas postas. Ä A norma fundamental confere validade para a primeira Constituição histórica de um determinado Estado. Ela não é uma norma positivada, mas pressuposta (hipotética) pelo raciocínio lógico- transcendental do jurista. Ela afirma que devemos reconhecer como válidos e obedecer aos 7 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira mandamentos constitucionais. Ä Ciência - sentido informativo - descreve o SER Ä Direito objeto - DEVE SER (normas) É CORRETO AFIRMAR QUE A CIÊNCIA JURÍDICA TEM COMO OBJETIVO DIZER COMO É (SER) O DEVER SER? Ä Sim, a ciência jurídica descreve o objeto (Direito) COMO DIFERENCIAR AS NORMAS JURÍDICAS EM RELAÇÃO À TEORIA ESTÁTICA E A DINÂMICA? DINÂMICA: preocupa-se com a forma da norma. ESTÁTICA: preocupa-se com o conteúdo da norma. Obs: Kelsen adota a teoria DINÂMICA A teoria estática se preocupa com as normas materiais, ou seja, o Direto como normas em vigor em relação ao seu conteúdo, já a teoria dinâmica se preocupa com normas formais, o Direito em movimento, já que trata do processo como este é produzido. Obs:para Kelsen, o DEVER SER não muda(não importa se o SER - realidade - mudar, pois a norma continuará lá). Segundo Tercio, o Direito tem inúmeros significados. Isso impulsiona Hart à investigação sobre o que é o Direito. Ele reconhece a existência de casos padrão e casos de desvios. CASO DA MEDULA ÓSSEA: caso de desvio - houve um choque entre as normas para a resolução do caso, o que dificultou a decisão do juiz. AS 3 REGRAS DE HART: 1. Diferenciar a obrigação jurídica das ordens apoiadas por ameaça; 2. Diferenciar obrigações jurídicas da moral; 3. Definir o que são regras. A dogmática jurídica como saber tecnológico Da Roma Antiga aos dias atuais TERCIO Ambiguidade do fenômeno jurídico: liberdade e expressão; justiça e revolta. questão do controle e dominação ganham destaque. século XX: direito como elemento de controle. Ä No século XX, constituiu-se o fenômeno da positivação do Direito, que, num sentido filosófico, significa estabelecer um Direito não através da razão, mas força de um complexo ato de vontade decisório que deve levar em conta as valorações e expectativas de comportamento da sociedade. Ä Segundo Tercio, com a Revolução Industrial, a velocidade das transformações tecnológicas aumenta, reclamando respostas mais prontas do Direito Ä O Direito reduzido ao legal fazia crescer a disponibilidade temporal sobre o Direito, cuja validade foi sendo percebida como algo maleável e, ao fim, manipulável podendo ser tecnicamente limitada e controlada no tempo, adaptada a prováveis necessidades futuras de revisão. QUAL É O PAPEL DESEMPENHADO PELO JURISTA NO SÉCULO XX? Ä Chegamos ao século XX com a mescla constitucional de dois modelos de Estado, o liberal clássico e o social. Ä Nesse mesmo contexto de complexidade, o papel do jurista não é mais o de apenas intérprete dos dogmas jurídicos, passando a atuar na área consultiva, como uma espécie de teórico do aconselhamento. 8 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira O QUE SERIA ESTE SABER TECNOLÓGICO? Ä O profissional tem em suas mãos uma forma de pensamento esvaziado de seu sentido ético ao longo da história, que assume características de um saber tecnológico, ou seja, como um conhecimento teórico que não tem o mesmo aprofundamento crítico das ciências, pois visa orientar, diretamente, as intervenções práticas. (Marilena Chauí). DO QUE É COMPOSTO ESTE SABER TECNOLÓGICO? Ä Tercio destaca que este pensamento tecnológico jurídico é constituído por uma junção da junção de complexos argumentativos, onde a persuasão, que busca conquistar a adesão do interlocutor e influenciá-lo na decisão de conflitos, desempenha um papel fundamental. COMO ESTA TECNOLOGIA DOGMÁTICAS VÊ A REALIDADE? Ä Para ela, não importa a descrição dos fenômenos, mas sim fazer um corte na realidade, isolando os problemas e a atenção dos que são relevantes dos demais. Ä Este corte é estratégico e nunca pode ser real na mente do profissional que dele se utiliza, pois a realidade zetética jamais deixa de permear o Direito positivo, na realidade. Ä Desde a Antiguidade, o Direito era visto como um saber prático, mas não estava apartado da noção da verdade, no campo do justo. Já a partir da modernidade, a tecnologia não nasce para contemplar, mas para modificar a noção de verdade em termos racionais. COMO A TECNOLOGIA JURÍDICA LIGA-SE À IDEIA DE CONTROLE? Ä A ideia de controle permeia a caracterização da tecnologia jurídica, pois ela está ligada à ideia de cálculo da relação custo-benefício e eficiente dos resultados, que está permeada por um grande conteúdo político. COMO SE DÁ ESTE CÁLCULO? Ä Ele deve levar em conta aspectos mais técnicos limitados ao Direito vigente, ou seja, os limites dogmáticos em face das exigências sociais dinâmicas, e, também, aspectos de efeitos políticos e pragmáticos da decisão, ao nível social, onde se destaca o papel da mídia na atual sociedade do espetáculo. A QUESTÃO DA VERDADE AINDA É UM PROBLEMA CENTRAL? Ä A análise filosófica de Tercio oferece uma conclusão contundente geral, ao expor que a decidibilidade de conflitos e não a questão da verdade constitui o problema central do pensamento jurídico-dogmático, que possui em sua base enunciados de natureza CRIPTONOMATIVA (que tem um DEVER SER diretivo explícito) O QUE EXPLICA A MUDANÇA CONSTANTE NA POSITIVAÇÃO DO DIREITO? Ä Na positivação, a decisão do legislador escolhe uma possibilidade de regulação em detrimento de outras, que, apesar disso, não desaparecem do horizonte da experiência jurídica, mas ficam presente e à disposição, toda vez que uma mudança social se faça oportuna. O Direito pode se transformar em um objeto de consumo. Obs.: Tercio antecipou toda a recente discussão em torno da sobrevivência desta tecnologia jurídica no mundo globalizado. Seminário 4 COMO A NORMA É VISTA PELOS JURISTAS? Ø NORMA PROPOSIÇÃO: não quer saber quem a fez ou para quem é; Ø NORMA PRESCRIÇÃO: ato de vontade impositiva que estabelece um comportamento; Ø NORMA COMUNICAÇÃO - visão do Tercio: fenômeno complexo que envolve as partes que se comunicam. 9 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira QUAL É O OBJETIVO DA PRAGMÁTICA JURÍDICA? Estudar a interação pragmática em toda relação autoridade/sujeito, imposta pelo Estado. Estado ------------------------------- Normas Jurídicas -------------------------- Sociedade AUTORIDADE SUJEITO Comportamento = estar em comunicação QUAIS SÃO OS 2 NÍVEIS EM QUE OCORRE A COMUNICAÇÃO? O QUE SIGNIFICAM? Ø RELATO: conteúdo Ø COMETIMENTO: autoridade A comunicação humana é complexa, seletiva, e contingente. Complexidade: há mais possibilidades de ação do que se pode realizar. A troca de mensagens é orientada por expectativas dos comportamentos dos outros; Seletividade: temos que selecionar um opção em detrimento das demais; Contingência: a seletividade não impede que as expectativas selecionadas não sejam confirmadas pelo outro. Aí ocorre a desilusão de expectativas. QUAL A CONSEQUÊNCIA DE DESILUSÕES FÁTICAS PARA A LEI CIENTÍFICA E A LEI JURÍDICA? EXEMPLIFIQUE UTILIZANDO O FILME "A RAINHA". Ä A lei científica descreve o seu objeto de estudo, descreve a normalidade. Já a lei jurídica prescreve um comportamento, ou seja, enquanto a lei científica diz como é (SER), a lei jurídica diz como deve ser (DEVER SER). Lei científica : causalidade - se não acontece o que estava previsto, a lei muda, adaptando-se aos novos fatos. Lei jurídica : imputação, descreve um comportamento - se não houver esse comportamento esperado, não significa que vai mudar. A Rainha não deixa de ser Rainha mesmo tendo frustrado seus súditos. COMO A NORMA COM COMUNICAÇÃO ADQUIRE O CARÁTER DE JURIDICIDADE SEGUNDO TERCIO? O FUNDAMENTO DO DIREITO ESTARIA NA FORÇA? Ä Com a institucionalização da relação entre o emissor e o receptor da mensagem normativa, isto é, pela garantia do consenso geral presumido de terceiros que a elas confere prevalência. Para Tercio, o fundamento do Direito está no grau de institucionalização em relação à autoridade - o que importa é o cometimento. NO ÂMBITO DO COMETIMENTO, A MENSAGEM EMITIDA PODE TER QUAIS POSSÍVEIS REAÇÕES PELOS SUJEITOS? Ø CONFIRMAR A MENSAGEM: obedecer o relato e o cometimento - conduta lícita. Ø REJEITAR A MENSAGEM: desobedecer o conteúdo mas reconhecer o cometimento - conduta ilícita. Ø DESCONFIRMAR A MENSAGEM: não reconhece o relato nem o cometimento - não é conduta lícita nem ilícita; foge desse binômio. QUAL DELAS COLOCA EM RISCO A RELAÇÃO AUTORIDADE-SUJEITO? Ä Na desconfirmação, pois a confirmação e a rejeição sempre reforçam a autoridade. COMO O FILME "A RAINHA" COLOCA O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE JURÍDICO-POLÍTICA? Ä Desobediência civil, terrorismo, crime organizado, revolução. Exemplo de reação desconfimadora (que já são sintomas da existência de uma crise de legitimidade geral do sistema jurídico-político) 10 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira podem ser violentas ou não. COMO DEVE A AUTORIDADE CONTRARREAGIR PARA EVITAR A CRISE DE LEGITIMIDADE? Ä Tercio: "A desconfirmação da desconfirmação", transformando-a em rejeição - conduta ilícita. Ou pode confirmar a desconfirmação - a própria autoridade reconhece que o povo está certo, reconhece que tem que mudar, se adequar, para retomar sua autoridade (Mara Regina). TERCIO É JUSPOSITIVISTA OU JUSNATURALISTA? Juspositivista - estuda o direito posto. Norma como meio de comunicação (pragmática) - Tercio Sampaio Ferraz Jr. Ø Modelo analítico: norma; Ø Modelo hermenêutico: interpretação; Ø Modelo decisório: decisão. Kelsen - norma como proposição. SE A É, B DEVE SER | A = comportamento ilícito e B = sanção Ø SENTIDO SUBJETIVO: ato de vontade; Ø SENTIDO OBJETIVO: significação jurídica dada pela norma superior; A validade traduz-se na existência jurídica da norma em termos sintáticos, primordialmente. Diferentes ângulos linguísticos Ø Sintático - estrutura (Kelsen): relação símbolo/símbolo; Ø Semântico - significado : relação símbolo/objeto; Ø Pragmático - interação (Tercio): relação símbolo / usuário (norma e comunicação). QUAIS SÃO AS PROPRIEDADES BÁSICAS DA COMUNICAÇÃO? Não existe a possibilidade de não-comunicação; A comunicação se desenvolve de forma verbal e não verbal; toda mensagem implica na comunicação de um relato (conteúdo) e de um cometimento (relação complementar ou simétrica entre os comunicadores); A comunicação é reflexiva - o receptor pode confirmar, rejeitar ou desconfirmar a mensagem normativa. A comunicação humana é Complexa, Seletiva, e Contingente. Ø Complexidade: existem mais possibilidades de ação do que se pode realizar. A troca de mensagem é orientada pelas expectativas que temos do comportamento dos outros. Ø Seletividade: como não podemos atualizar todas as possibilidades, sempre teremos que selecionar, que escolher algumas em detrimento das demais. Ø Contingência: a seletividade não impede que as expectativas selecionadas não sejam confirmadas pelo outros. Aqui aparece o problema da desilusão das expectativas. A DESILUSÃO LEVA O HOMEM A QUAIS ATITUDES BÁSICAS? ATITUDES COGNITAS: as que se adaptam à realidade decepcionante - SER ATITUDES NORMATIVAS: as que não se adaptam à realidade decepcionante - DEVER SER QUANDO SURGE A SITUAÇÃO COMUNICATIVA NORMATIVA? Ä Quando temos duas ou mais expectativas normativas em conflito, estamos diante de um conflito social que precisa ser controlado através da identificação de um terceiro comunicador, que identificará qual destas “normas” deve prevalecer e se institucionalizada juridicamente. 11 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira QUEM É O TERCEIRO COMUNICADOR? Ä O terceiro comunicador que nas sociedades ocidentais pode ser representado pelo Estado, irá emitir mensagens normativas (normas jurídicas) que irão institucionalizar o conflito social existente entre os receptores sociais. COMO SE DÁ ESSA INSTITUCIONALIZAÇÃO? Ä A supremacia do editor normativo é garantida pela institucionalização do controle da seletividade dos endereçados sociais, que passam a identificar as normas estatais como sendo juridicamente válidas em detrimento das demais. Neste sentido, a relação torna-se “meta complementar”. Cometimento : monológico; Relato : dialógico. COMO SE SUSTENTA A META-COMPLEMENTARIDADE? Ä A autoridade precisa da colaboração do sujeito. Torna-se necessário controlar as possíveis reações dos sujeitos em face da comunicação de uma mensagem normativa. *****QUAIS AS POSSÍVEIS REAÇÕES DOS SUJEITOS?***** Ø CONFIRMAR A MENSAGEM: obedecer o relato e o cometimento da norma - conduta lícita Ø REJEITAR A MENSAGEM: desobedecer o conteúdo, mas reconhecer o cometimento da norma - conduta ilícita. Ø DESCONFIRMAR A MENSAGEM: não reconhecer o relato e nem o cometimento da norma - conduta lícita ou ilícita? QUAL DELAS COLOCA EM RISCO A RELAÇÃO AUTORIDADE-SUJEITO: Ä As reações de confirmação e rejeição reforçam a relação de autoridade, mas a reação de desconfirmação é altamente incômoda, pois a autoridade, mostrando que o consenso em torno de sua aceitação é altamente fictício. Ä Normalmente, a reação desconfimadora é um sintoma da existência de uma crise de legitimidade geral do sistema jurídico-político . Ela pode ser violenta ou não violenta, e se manifesta de forma variada ao longo da história. Temos a desobediência civil, terrorismo, crime organizado, revolução, etc. Ä Nesta perspectiva, elas comprometem a própria constituição do caráter jurídico das normas, pois este é identificado como sendo aquele em que se observa o maior grau de institucionalização, baseada no consenso presumido e global dos terceiros. Ä O fundamento do direito não está na força (violência), embora ela faça parte do direito, mas no grau de institucionalização que dá relação de sujeição que a ordem manifesta. Por exemplo, o grau de institucionalização da autoridade da norma que proíbe o roubo é maior do da norma do assaltante que exige a entrega do dinheiro O COMETIMENTO INSTITUCIONALIZADO SUPORTA QUALQUER CONTEÚDO? Ä Para os jusnaturalistas: O direito é dado pela natureza e reconhecido pela razão. Há conteúdos religiosos e éticos universais. Ä Para os positivistas: Os conteúdos em si não são nem jurídicos nem antijurídicos; são neutros. Tudo depende do exame lógico específico de cada ordem jurídica em particular. OS CONTEÚDOS (RELATOS) NORMATIVOS APRESENTAM VARIAÇÃO DE SENTIDO Núcleos significativos: os sistemas sociais desenvolvem mecanismos de estabilização de sentido, que oferecem à variedade certa unidade aceitável para as interações sociais. Temos a PESSOA (feixe de papéis sociais), os VALORES (símbolos de preferência ou conteúdo) e as IDEOLOGIAS (avaliam os valores). não é qualquer conteúdo que pode ser conteúdo das normas jurídicas, mas apenas os que puderem ser generalizados socialmente, ou seja, que manifestarem núcleos significativos vigentes numa sociedade. DEFINIÇÃO PRAGMÁTICA DE NORMA JURÍDICA 12 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Ä São expectativas contra fáticas, que se expressam por meio de proposições de DEVER SER, estabelecendo entre os comunicadores sociais relações complementares de institucionalizadas em alto grau (relação meta-complementar ou autoridade/sujeito, cujo conteúdo tem sentido generalizável, conforme núcleos significativos positivos ou negativos abstratos). O PROBLEMA DAS INCONGRUÊNCIAS - PODEM GERAR REAÇÕES DESCONFIRMADORAS Ä Podem haver incongruências entre as expectativas contra fáticas, as institucionalizações e os núcleos significativos. Eles podem se contradizer mutuamente. As normas jurídicas são fenômenos complexos e a dogmática tenta reduzir esta complexidade. COMO DEVE A AUTORIDADE CONTRA-REAGIR DIANTE DA DESCONFIRMAÇÃO? Ä A autoridade, a fim de manter a sua meta-complementaridade, deve DESCONFIMAR A DESCONFIRMAÇÃO, transformando-a em rejeição ilícita punível nos termos da lei estatal. Trata-se da afirmação da prevalência das expectativas contra fáticas em detrimento do consenso suposto e das ideologias. Ä Entretanto, se a incongruência foi grande há risco de ruptura da relação autoridade/sujeito ou formação de uma cadeia normativa informal. Seminário 4 - parte II POR QUE PODEMOS VER O TRÁFICO DE DROGAS COMO ILÍCITO NA PERSPECTIVA DE HANS KELSEN? Ä A Constituição Federal de 1988 determinou em seu art.5º, inciso XLIII, que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. O FATO DE EXISTIR A VENDA DE DROGAS NO BRASIL TORNA A CONDUTA PERMITIDA? POR QUÊ? Ä Não, a venda de drogas é uma conduta proibida. Da circunstância de algo SER (existir a venda de drogas) não se segue que algo DEVIA SER (deva ser permitida a venda de drogas). PARA EXISTIR A NORMA, BASTA UM ATO DE VONTADE DE UM INDIVÍDUO QUE INTENCIONALMENTE VISA À CONDUTA DE OUTRO? Ä Não. O sentido subjetivo, ou seja, todo ato de vontade (SER) de um indivíduo que intencionalmente visa à conduta de outro, não basta. Para designarmos o dever ser como norma, o ato em seu sentido subjetivo precisa também ter objetivamente o sentido de DEVER SER. Ato de vontade - SER Ä sentido subjetivo de norma (DEVER SER), mas para esse ato de vontade virar norma ele precisa de outra norma que lhe atribua sentido de OBJETIVO. Ex: decreto < lei <constituição estadual<constituição federal<norma fundamental Ä A norma superior dá legitimidade à inferior. O ato de vontade cujo sentido subjetivo é um dever ser que precisa ter objetivamente o sentido de DEVER SER, o que é dado por outra norma superior que atribui competência para esse ato de vontade, ou seja, atribui validade à norma. A norma só se tornaria válida se reconhecida por uma outra norma; o conceito de norma é o sentido objetivo (DEVER SER) de um ato de vontade (SER). OS ATOS DE COSTUMES SÃO "SER" OU "DEVER SER"? AS NORMAS, ATRAVÉS DAS QUAIS UMA CONDUTA É DETERMINADA COMO OBRIGATÓRIA (COMO DEVENDO SER) PODEM SER ESTABELECIDAS POR ATOS QUE CONSTITUEM O FATO DO COSTUME? Atos de costume = SER Ä As normas podem ser estabelecidas como um ato de costume, mas depois de certo tempo de repetição de atos, surge a ideia de que é um DEVER SER. Nesse caso, a vontade coletiva passa a 13 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira ser o DEVER SER, não porque é, mas porque adquire um sentido de DEVER SER objetivo. UMA NORMA É VALIDA POR SER EFICAZ? Ä Não. A validade (vigência) é diferente da eficácia. Para a norma continuar a ser válida/vigente ela deve ter um mínimo de eficácia (condição), o que, no entanto, não significa que a norma existe porque é eficaz. Existe porque é validade por outra norma, ainda no campo do DEVER SER (validade) e não do SER (eficácia), porém, para ela continuar validada - continuar existindo - ela tem que ter um mínimo de eficácia. COMO A EFICÁCIA É VERIFICADA? Norma aplicada pelos tribunais Norma observada/respeitada pelos indivíduos subordinados à ordem jurídica - isto é, o fato de ser adotada a conduta pela qual se evita a sanção. DIFERENCIE PROPOSIÇÃO JURÍDICA DE NORMA JURÍDICA. QUAL SE RELACIONA COM A CATEGORIA VERDADEIRO/FALSO? Ø Proposição jurídica: descreve a norma - DEVER SER. É a doutrina. Direito ciência. SER. Enunciados sobre um objeto dado ao conhecimento Ø Norma jurídica: mandamentos, comandos, imperativos de DEVER SER. Direito objetivo. DEVER SER. obs.: proposição - ligado a verdadeiro e falso. SEGUNDO A IDEIA DE NORMA - COMUNICAÇÃO, COMO FICA A QUESTÃO DO TRÁFICO DE DROGAS NA FAVELA? É POSSÍVEL FALAR EM CRISE DE LEGITIMIDADE DO ESTADO? Ä Trata-se de uma desconfirmação da autoridade que proíbe o tráfico de drogas. Todavia, como o próprio Estado, por vezes, colabora com esta subversão da ordem, ele consegue desconfirmar a desconfirmação de forma eficiente. Ocorre a formação de redes normativas informais, que disputam poder de império com o próprio Estado. SANÇÃO, DELITO E DEVER JURÍDICO - MARA REGINA Ø Proposição Jurídica - possibilita a descrição lógico-formal das normas-positivas válidas de acordo com seguinte estrutura: Se A, deve ser B. obs: A proposição jurídica, para Kelsen, é formada pela lógica. Ø Norma Jurídica - estando na ordem lógica do dever-ser PRESCRITIVO, apenas pode ser válida ou inválida. Código Penal art. 121 - Matar alguém: Pena: reclusão de 6 a 20 anos. Ø Proposição Jurídica - estando na ordem do DEVER SER DESCRITIVO, apenas pode ser verdadeira ou falsa. Se um indivíduo matar alguém, DEVE SER punido com pena de reclusão de 6 a 20 anos. REGULAÇÃO POSITIVA E NEGATIVA Ø Regulação positiva - feita diretamente pelas normas jurídicas, na medida em que proíbe uma conduta, prescreve a conduta oposta, ou permite uma situação de execução. Ø Regulação negativa - feita pela ORDEM JURÍDICA como um todo. Toda conduta não regulada positivamente, deve ser considerada como sendo "permitida em sentido negativo pela ordem jurídica". KELSEN ADMITE A EXISTÊNCIA DE DEVERES NATURAIS? Ä Não. Ele é um crítico do jusnaturalismo. A sua caracterização depende do exame de cada ordem jurídica positiva em particular (é variável de uma ordem para outra) e da incidência da sanção sobre certos comportamentos; ou seja, não existe conteúdos universais. 14 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira QUANDO UM COMPORTAMENTO É CONSIDERADO ILÍCITO PARA KELSEN? Ä Quando existir uma norma que impute uma sanção como consequência a determinados comportamentos. Se A, deve ser B | A = ato ilícito, B = sanção O ILÍCITO TAMBÉM SERIA UMA CONDUTA JURÍDICA? Ä Sim, para Kelsen o ilícito é um pressuposto lógico do direito. Só podemos saber quais seriam as condutas ilícitas. QUAL SERIA A CONDUTA DE VIDA? Ä Seria a conduta contrária, em termos lógicos, à conduta proibida. Se A, deve ser B. POR QUE NO BRASIL TERÍAMOS O DEVER JURÍDICO DE "NÃO MATAR ALGUÉM"? Código Penal art.121: Matar alguém: Pena: reclusão de 6 a 20 anos. EXISTIRIA O DEVER JURÍDICO DE NÃO MATAR ALGUÉM, NA MEDIDA EM QUE SERIA UMA CONDUTA CONTRÁRIA À CONDUTA PROIBIDA? Ä A conduta devida é a conduta que evita a sanção. Todas as normas jurídicas seriam sanção para Kelsen. ESTA NORMA SERIA SANÇÃO? Código Penal art.123: Não há crime quando o agente pratica o fato (matar alguém). II - Legítima defesa Ä Para Kelsen, estaríamos diante de uma norma não autônoma (pedaço de outra norma), cuja validade depende de uma outra norma jurídica. COMO FICARIA A PROPOSIÇÃO NORMATIVA? Se A, salvo C, deve ser B Ä Se um indivíduo mata alguém, salvo se o fizer em legítima defesa, deve ser punido com pena de reclusão de 6 a 20 anos. C = conduta permitida (limite da validade da norma proibitiva - norma não autônoma). Seminário 5 - Sanção: dever jurídico e responsabilidade como imposição KELSEN ADMITE A EXISTÊNCIA DE DEVERES NATURAIS?NO FILME, COMO PODEMOS VER A QUESTÃO DA MORAL X DIREITO? Ä Kelsen não admite a existência de deveres naturais, é um crítico do jusnaturalismo. A sua caracterização depende do exame de cada ordem jurídica positiva em particular (é variável de uma ordem para outra) e da incidência da sanção sobre certos comportamentos. NA VISÃO DE KELSEN, QUAIS SÃO OS ATOS ILÍCITOS DEBATIDOS NO FILME "O SEGREDO DE VERA DRAKE"? Ä São os crimes de abortamento, pois Vera é presa. Desse modo, para Kelsen, se é a sanção ( no caso, pena privativa de liberdade), a consequência do ilícito, então o aborto é ilícito. QUANDO O COMPORTAMENTO É CONSIDERADO ILÍCITO, PARA KELSEN? Ä Quando houver uma norma que impute uma sanção como consequência a determinados comportamentos. Se A, deve ser B. 15 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira O ILÍCITO TAMBÉM SERIA UMA CONDUTA JURÍDICA? Ä Sim, o ilícito é um pressuposto lógico do direito. Só podemos saber quais seriam as condutas lícitas, a partir do momento que sabemos quais são as ilícitas. COMO TERCIO DISTINGUE COAÇÃO E COERÇÃO?(Para Kelsen são iguais) Ä Tercio afirma que coação equivale à sanção - mal imputado a um indivíduo como consequência a determinada conduta tida como indesejável, do ponto de vista social. Já a coerção equivale à relação de autoridade institucionalizada. Relação meta-complementar. POR QUE NO BRASIL TERÍAMOS O DEVER JURÍDICO DE "NÃO PROVOCAR O ABORTO"?Código Penal art.126: provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão de 1 a 4 anos. Ä Existiria o dever jurídico de não provocar o aborto. PARA KELSEN, TODAS AS NORMAS JURÍDICAS TÊM SANÇÃO? COMO FICA O ABORTO NECESSÁRIO? Ä Para Kelsen, estaríamos diante de uma norma não autônoma - dependente ou secundária -, cuja validade seria dependente de outra norma jurídica. QUAL A DIFERENÇA ENTRE DEVER E RESPONSABILIDADE? Ä Responsável é aquele que é o objeto da sanção. Nem sempre o sujeito obrigado e o sujeito responsável coincidem. Um indivíduo pode ser responsável, sem ser obrigado juridicamente (ele não pode evitar sanção). RESPONSABILIDADE COLETIVA PELO RESULTADO Ä Tem o caráter de responsabilidade coletiva pelo RESULTADO e não pela CULPA. Com efeito, não existe qualquer relação interna entre o indivíduo que responde pelo ilícito e o evento. SANÇÃO E RESPONSABILIDADE Ä Sanção - ato coercitivo que uma norma liga a uma determinada conduta oposta é, desse modo, juridicamente prescrita, constituindo conteúdo de um dever jurídico. Também pode exprimir-se isto dizendo: a sanção é o ato coercitivo que constitui o dever jurídico. Ä Responsabilidade - não é um dever, mas a relação do indivíduo contra o qual o ato coercitivo é dirigido com o delito por ele ou por outrem cometido. O dever é a omissão do delito por parte do indivíduo cuja conduta forma o delito. DEVER SUBSIDIÁRIO DE INDENIZAÇÃO Ä O fato de que a ordem jurídica obriga à indenização de um prejuízo é corretamente descrito na seguinte proposição jurídica: se um indivíduo causa a outrem um prejuízo e este prejuízo não é indenizado, deve ser dirigido contra o seu patrimônio ou de outro indivíduo responsável. PARA HART, TODAS AS NORMAS JURÍDICAS TÊM SANÇÃO? Ä Não. As normas de competência não teriam o elemento sancionador, já que a nulidade não pode ser considerada como uma sanção, entendida como sendo a imputação de um mal ao indivíduo que pratica o ato. Haveria uma diferença entre "estar obrigado a" (vínculo psicológico) e "ter a obrigação de" (vínculo objetivo) praticar um determinado ato. Seminário 5 - Parte II QUAIS SÃO OS 3 PROBLEMAS RECORRENTES PARA A DEFINIÇÃO DO DIREITO DE ACORDO COM HART? Ä Busca definir o conteúdo da norma - seu conceito - e saber se a sanção é ou não é o seu elemento 16 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira essencial. PARA HART, TODAS AS NORMAS JURÍDICAS TÊM SANÇÃO? E PARA KELSEN? Ä Não. As normas de competência não teriam o elemento sancionador, já que a nulidade não pode ser considerada como uma sanção, entendida como sendo a imputação de um mal ao indivíduo que pratica o ato. Já para Kelsen, todas as normas têm sanção (nulidade, inclusive). Ä Hart - nulidade não é sanção; Kelsen - nulidade é sanção ESSA NORMA TEM SANÇÃO? EXPLIQUE SEGUNDO KELSEN E HART. Art.102 da Constituição Federal: Compete ao STF, principalmente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originalmente a) a ação direta da inconstitucionalidade de lei ou do ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou do ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios ministros e Procurador-Geral da República; Ä Kelsen - sim, pois todas as normas (inclusive as de competência), têm sanção Ä Hart - não, pois é uma norma de competência (não tem elemento sancionador); nulidade. DE QUE MANEIRA ESSA NORMA SE RELACIONA COM A ANTERIOR? Art.1887: não se admitem outros testamentos especiais além dos contemplados neste código (civil) Ä Ambas outorgam competência Normas de Direito Público e Direito Privado Normas primárias x Normas secundárias Segundo a visão de Hart: Primárias - contêm o DEVER SER Secundárias - normas de competência DIFERENCIE "REFORMA" DE "ANULAÇÃO" DE UMA DECISÃO PELO TRIBUNAL. Ø Reforma = erro da decisão (CONTEÚDO) Ø Anulação = incompetência do órgão que emanou a decisão (FORMA) PARA HART, A "OBEDIÊNCIA" ESTÁ RELACIONADA A QUAIS TIPOS DE NORMAS? POR QUE AS NORMAS COM SANÇÃO SEMPRE ESTÃO RELACIONADAS COM AS NORMAS QUE OUTORGAM COMPETÊNCIA? Ä Normas que impõem deveres - ordens apoiadas em ameaça. Se relacionam porque os poderes por elas concedidos se destinam a criar normas que impõem deveres. QUAL A DIFERENÇA ENTRE "SER OBRIGADO" E "ESTAR SOB A OBRIGAÇÃO DE"? EXEMPLIFIQUE COM O FILME. Ø SER OBRIGADO A: depende de fatores subjetivos. Crenças e motivos que levaram uma pessoa a cumprir a obrigação imposta. Ex: cuidar da amada - Benigno. Ø TER A OBRIGAÇÃO DE: aspecto objetivo. Dever jurídico. Ex: não constranger a pessoa vulnerável a praticar conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso - Benigno. DIREITO SUBJETIVO - TERCIO, KELSEN E ROSS COMO APARECE ESSA DICOTOMIA? Ø DIREITO OBJETIVO: nesta perspectiva, o direito seria um fenômeno objetivo que não pertence a ninguém, comporto de normas e instituições (direitos das sucessões). Ø DIREITO SUBJETIVO: seria um fenômeno subjetivo ao fazer dos sujeitos titulares de poderes, obrigações e faculdades estabelecendo relações entre eles (direito à sucessão). 17 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira DO PONTO DE VISTA HISTÓRICO... Ä A origem da dicotomia é moderna, pois está ligada à ideia cristã de liberdade e vontade. Na Antiguidade havia o ius civile - ligado ao status de cidadão romano - e o ius gentium - próprio das situações em que envolviam litígios estrangeiros. Ä Na Era Moderna, surge uma nova concepção de liberdade cristão, que supera a liberdade ligada ao status da Antiguidade, entendida como uma qualidade da ação política conjunta. A liberdade vista como livre arbítrio passa a ser uma qualidade da vontade interna que afeta todos os homens universalmente, generalizando o conceito de pessoa como ser humano livre. Trata-se de uma liberdade interior, que mantém mesmo que seu exercício externo seja impossível. LIBERDADE E CAPITALISMO Ä É possível querer e não poder. A liberdade de um encontra limites na liberdade do outro; o lado público do livre arbítrio permite ver a liberdade como não impedimento, como ser livre de alguma coisa. è uma noção crucial para o capitalismo nascente, calcado na liberdade de mercado, que se opões, claramente, aos privilégios feudais e ao status libertatis dos antigos. CONCEITO NEGATIVO E POSITIVO DE LIBERDADE Ä Com base na liberdade negativa, constrói-se o conceito positivo de liberdade, vista como autonomia da vontade para se auto governar. Trata-se da liberdade do contrato social de Rousseau. Ä A confluência desses dois conceitos configura a liberdade moderna, intimista e pública ao mesmo tempo. Ele serve como defesa da propriedade privada, da economia de mercado libre e das liberdades fundamentais garantidas pela constituição. LIBERDADE E JUSNATURALISMO MODERNO Ä É com base na suposição dessa liberdade natural que funciona como limite à atividade legiferante do Estado é que irá se configurar a noção de direito subjetivo em oposição ao objetivo. Ä O direito subjetivo constitui um dado por si ou ele é dado pelo próprio direito objetivo? Ä A ideia de liberdade passa a ser importante para a concepção jusnaturalista de que o direito subjetivo constitui uma realidade por si, cabendo ao direito objetivo apensas reconhecê-lo. ALGUMAS CONCEPÇÕES DOGMÁTICAS Ø TEORIA DA VONTADE: O direito subjetivo é o poder ou domínio da vontade livre do homem cujo ordenamento protege. Criticável pelo fato de loucos terem direitos subjetivos. Ø TEORIA DO INTERESSE: O interesse juridicamente protegido constitui o direito subjetivo. Criticável por ser uma concepção demasiadamente privatista, falhando nas demais esferas. O CARÁTER TÓPICO DA DICOTOMIA - um lugar comum retórico Ä A expressão "direito subjetivo" cobriria diversas situações difíceis de serem trazidas a um dominador comum. A própria liberdade, vista como autonomia e não impedimento seria um lugar comum , que se organiza com o raciocínio, mas não lhe confere um caráter lógico rigoroso. Sua aceitação é uma herança de ideias aceitas, sem maiores reflexões críticas. POSIÇÃO DE ROSS - direito subjetivo como ferramenta técnica Ä O direito subjetivo não antecede o direito objetivo. Sua função primeira seria a de apresentar situações reguladas por normas de forma operacional. Não há uma relação concreta do indivíduo com a propriedade do imóvel. Ter a propriedade significa ver que há um fato condicionante de uma série de consequências reguladas por normas. Possuir uma casa significa que a situação está regulada por normas que protegem o uso e o gozo do imóvel. SITUAÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS Ø TÍPICAS: correspondem ao uso padrão da ideia de direito subjetivo, onde se encontra um sujeito de interesse favorecido que emerge de uma regulação que restringe a liberdade de outrem. Presença de autonomia da vontade. 18 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Ø ATÍPICAS: a correlação com o dever não aparece, como no caso do direito de voto, que envolve uma competência (no Brasil é um dever). Ausência da autonomia da vontade. A POSIÇÃO DE KELSEN Ä O direito subjetivo como reflexo de um dever jurídico (p.88); união entre DEVER e DIREITO (p.100); dever de prestação (p.99); dever de tolerância (p.90); o indivíduo obrigado como sujeito da relação. O direito de propriedade (p.93) ANALISE O ART. 188 DO CC/02 À LUZ DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN. ESSAS DISPOSIÇÕES NORMATIVAS FORMAM UMA NORMA AUTÔNOMA? "Art. 188 - não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido". Ä Não, porque nela não há a sanção. Segundo Kelsen, o direito subjetivo deve ser entendido como um direito reflexo a um dever. Assim, o art.188 do C.C./02 prevê uma norma não autônoma que excepciona a sanção. ANALISE O ART. 10 DA LEI 5197/67 E RESPONDA: SEGUNDO KELSEN, SEMPRE HAVERÁ UM DIREITO REFLEXO A UM DEVER (DIREITO SUBJETIVO)? "Art. 10 - a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de espécies da fauna silvestre é proibida: a)com visgos, atiradeiras, fundas, bodoques, veneno, incêndio ou armadilhas que maltratem a caça." Ä Não, pode ocorrer que, reflexo ao dever jurídico exista um interesse coletivo na realização da conduta, sem que haja, contudo, um direito subjetivo correspondente. Ä "Tal acontece, por exemplo, no caso das normas jurídicas que prescrevem uma determinada conduta dos indivíduos em face de certos animais, plantas e objetos inanimados, solo com cominação de pena (...)". (p. 143 IED) COMO PERSPECTIVA KELSIANA DE DIREITO SUBJETIVO COMBATE A CONCEPÇÃO DO DIREITO NATURAL? Ä Segundo Kelsen, apenas os direitos são consequência de um dever. Assim, não há direitos inatos, mas decorrentes de uma disposição normativa. ANALISE O ART. 1228 DO CC/02 E RESPONDA: POR QUE, NA VISÃO DE KELSEN, SE PODE DIZER QUE O IUS IN REM (DIRETO REAL) É TAMBÉM UM IUS IN PERSONAM (DIREITO PESSOAL)? "Art.1228 - o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou a detenha". Ä Não há um direito de dispor da coisa de que é proprietário, mas sim um dever de outros indivíduos de suportarem esse ato de disposição. COMO PODEMOS VER NO FILME “A CASA DE AREIA E NÉVOA” A RELAÇÃO ENTRE DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO? Ä O direito subjetivo que cada personagem alega que a teria sobre a casa pressupõe o dever do outro. OBS: KELSEN TEM VISÃO DIFERENTE, POIS, PARA ELE, OS DIREITOS REAIS (QUE SÃO REFLEXOS), NA VERDADE, SÃO COMO UM SÉRIE INFINITA DE DIREITOS PESSOAIS, POIS OS DEVERES SÃO SEMPRE DE PESSOAS. 19 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira COMO PODEMOS RELACIONAR OS CONCEITOS DESENVOLVIDOS POR KELSEN DE DIREITOS REAIS COMO UMA SÉRIE INFINITA DE DIREITOS PESSOAIS COM O FILME “A CASA DE AREIA E NÉVOA”? Ä A titularidade da casa (direito real de propriedade), que está sendo disputada pelas personagens principais. SEGUNDO TERCIO, QUAL A FUNÇÃO PRINCIPAL DO TERMO DIREITO SUBJETIVO NA VISÃO DE ALF ROSS? Ä A função do termo direito subjetivo e a de instrumento teórico, não designa algo existente na realidade em si, mas atua de modo operacional para identificar a vinculação jurídica de determinadas consequências a determinado fato. Ä "A função do concerto é permitir ao jurista operar relações ao apresentar sinteticamente imensos conjuntos normativos todas as normas incidentes sobre o fulano e sua propriedade pela compra e venda passam a incidir sobre sicrano e a propriedade agora dele". (p.121 IED) COMO O CONCEITO DE DIREITO SUBJETIVO É FORMULADO POR TERCIO SEGUNDO A PRAGMÁTICA COMUNICATIVA? Ä A expressão direito subjetivo identifica a ''posição de um sujeito numa situação comunicativa, que se vê dotado de faculdades jurídicas (modos de interagir) que o titular pode fazer valer mediante procedimentos garantidos por normas" (p.124 IED) SEGUNDO TERCIO E ROSS, O DETENTOR DO DIREITO SUBJETIVO SEMPRE SE IDENTIFICA COM AQUELE QUE DETÉM A FACULDADE DE EXERCÊ-LOS? Ä Deve-se diferenciar as situações típicas das situações atípicas. Ø TÍPICAS: O titular do direito é também aquele que dispõe da faculdade de fazer valer seu direito. Ø ATÍPICAS Não há coincidência entre o titular do direito e aquele que detém a faculdade de fazer valê-lo . Ex: ação penal pública em que o ministério é titular do direito de reivindicara a tutela jurisdicional, mas não é o detentor do direito subjetivo o qual é atribuído à vítima ou à coletividade como um todo. COMO ALF ROSS - realista - NO TEXTO PROPOSTO, FORMULA, EM TERMOS LÓGICOS, A NORMA JURÍDICA? Ä Para Ross, adepto do realismo jurídico, as normas jurídicas devem ser escritas como comandos (diretivas) a um juiz ou tribunal. Assim, devem ser descritas conforme a seguinte proposição lógica: D (se F, então C). Ou seja, percebe a norma jurídica “como uma diretiva para o juiz no sentido de que quando existe F, sua sentença deve ser C” (Alf Ross, Direito e Justiça, p.203). PODER JURÍDICO COMO TECNOLOGIA DA DOMINAÇÃO - TERCIO E HANS KELSEN A VIOLÊNCIA ESTÁ LIGADA À NATUREZA DO HOMEM E DO DIREITO, SEGUNDO TERCIO? Ä Sim, por isso é preciso impor limites ao seu uso. A violência não é só um instrumento de execução como também de manifestação simbólica da ordem. O poder, contudo, não se apoia apenas na violência, mas também no prestígio, no conhecimento e na lealdade. COMO A VIOLÊNCIA APARECE NUM ESTADO DE DIREITO? Ä Ela seria um privilégio da autoridade, devendo ser estritamente regulada, podendo ser discricionária, mas não indiscriminada. A relativa margem para o seu uso estaria limitada pelo desinteresse público. ONDE ESTARIA A AMBIGUIDADE DA RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E DIREITO? Ä Ela pode sustentar ou romper a ordem social. Através dela, não podemos realmente saber se a sociedade está ou não juridicamente organizada. Como podemos discriminar a violência não razoável e jurídica da não razoável e antijurídica? 20 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira A VIOLÊNCIA TORNA-SE JURÍDICA PELO SIMPLES FATO DE SER LEGAL? Ä Segundo Tercio, não. Além da autoridade legal, deve haver suposição de consenso e aceitação da valoração dominante. Deve haver correlação entre estes três fatores. Trata-se da legitimidade que legal, institucional e valorativa. Kelsen - o sentido objetivo da coação/violência. A EFICÁCIA COMO CONDIÇÃO DA VALIDADE Ä A validade não deve confundir-se com a eficácia da norma, isto é, com o fato de que as pessoas efetivamente assim se conduzem, mas também fizemos notar que pode existir uma relação essencial entre essas duas coisas que uma ordem coercitiva que se apresenta como direito só será considerada validade quando globalmente eficaz. O BANDO DE SALTEADORES Ä Seria uma ordem jurídica se fosse mais eficaz do que a ordem jurídica. PERCEPÇÃO DO PROBLEMA PRAGMÁTICO DA VALIDADE JURÍDICA Ä "Se esta ordem de coação é limitada no seu domínio território de validade a um determinado território e, dentro desse território, é por tal forma eficaz que excluiu toda e qualquer outra ordem de coação. Pode ela ser considerada como ordem jurídica e a comunidade através dela constituída como 'Estado' ". CAPACIDADE DE EXERCÍCIO - KELSEN Ä "A capacidade de exercício é definida como a capacidade de um indivíduo para produzir efeitos jurídicos através da sua conduta". O SENTIDO OBJETIVO DO CONTRATO Ä Uma norma geral autoriza os indivíduos a concluírem contratos, assim eleva o sentimento subjetivo do ato negocial da um sentido objetivo. A norma jurídica liga a conduta contra o contrato a uma sanção. CAPACIDADE / COMPETÊNCIA / PODER JURÍDICO Ä “A capacidade negocial e o direito subjetivo - privado ou político - de um indivíduo são a sua “competência” no mesmo sentido em que o é a capacidade de certos indivíduos de fazer leis, proferir decisões judiciais ou tomar resoluções administrativas. Seminário - PODER JURÍDICO COMO TECNOLOGIA DA DOMINAÇÃO - Kelsen e Tercio NORMA FUNDAMENTAL É SINÔNIMO DE CONSTITUIÇÃO FEDERAL? Ä Não. A norma fundamental é pressuposta e a constituição é posta. PARA EXISTIR NORMA BASTA UM ATO DE VONTADE DE UM INDIVÍDUO QUE INTENCIONALMENTE VISA À CONDUTA DE OUTRO? NESSE SENTIDO, A ORDEM DE COAÇÃO CONSTITUÍDA POR “UM BANDO DE SALTEADORES” É UMA ORDEM JURÍDICA? Ä Não. N (outra norma que dê validade a criação desta norma abaixo) | N (coerção da norma) - DEVER SER | A (ato de vontade) - SER QUANDO A ORDEM JURÍDICA FOR MENOS EFICAZ DO QUE A ORDEM DE COAÇÃO CONSTITUÍDA POR “UM BANDO DE SALTEADORES” HAVERÁ O ENFRAQUECIMENTO DA NORMA FUNDAMENTAL? 21 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Ä A norma fundamental é pressuposta quando o ordenamento possui eficácia duradoura. A eficácia duradoura é de tal forma que exclui toda e qualquer ordem jurídica, passando a ser reconhecida pelos doutrinários mesmo quando desenvolviam uma atividade criminosa. Portanto, a ordem emanada pelo bando de salteadores, caso alcance uma eficácia durável, poderá suplantar a ordem jurídica anterior, por meio de um processo revolucionário. EM OUTROS TERMOS, QUAL A RELAÇÃO ENTRE EFICÁCIA E NORMA FUNDAMENTAL (VALIDADE)? Ä A validade nunca vem da eficácia somente; porém se não tiver o mínimo de eficácia, pode ser considerada inválida. Ä Existe porque é validade por outra, ainda no campo do DEVER SER (eficácia) e não de SER (validade) POR QUE KELSEN AFIRMA QUE NORMA PRODUZIDA POR UM NEGÓCIO JURÍDICO É UMA NORMA NÃO AUTÔNOMA? Ä A norma de um negócio jurídico não tem sanção nela mesma, a sanção está em outra norma. DIFERENCIE CAPACIDADE JURÍDICA DE COMPETÊNCIA Pessoa física Pessoa jurídica Ä Capacidade jurídica: a capacidade para ser sujeito de direitos e obrigações é adquirida com o nascimento da pessoa. A capacidade jurídica de ação: aptidão para agir (exercer direitos e deveres). Ä Competência: poder jurídico atribuído pelo estatuto de pessoa jurídica (pública / privada) a seus órgão. Trata-se de um conceito típico de organizações burocráticas. POR QUE PODEMOS DIZER QUE KELSEN ACABA COM A DICOTOMIA ENTRE A CAPACIDADE E A COMPETÊNCIA? Ä Para Kelsen, a capacidade negocial e o direito subjetivo - privado ou político - de um indivíduo são a sua competência no mesmo sentido em que o é a capacidade de certos indivíduos de produzir / aplicar leis. O conteúdo da função é o mesmo em ambos os casos: produção de normas jurídicas. O SUJEITO DE DIREITO: O SER HUMANO? - Tercio PARA TERCIO, ESTUDAR O DIREITO RESUME-SE AO ESTUDO RACIONAL E SISTEMATIZADO? Ä Para ele, o direito localiza-se dentro de um cenário complexo de obediência e revolta. O direito garante e oprime a liberdade, ao mesmo tempo. Compreender o direito não se resume a conceituações lógicas e racionalmente sistematizadas. Seu estudo exige não apenas inteligência, acuidade, mas também encantamento, intuição e espontaneidade. É preciso ter rigor técnico e abertura para o humano, ao mesmo tempo. QUAL SERIA O PAPEL DA EDUCAÇÃO, SEGUNDO EDGARD MORIN? Ä Não seria apenas o de transmitir informações e conhecimentos sempre mais numerosos aos alunos, 22 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira mas se transformação existencial do conhecimento adquirido em sapiência, que deve ser incorporado por toda a vida. A importância da cultura de humanidades (literatura, poesia, cinema). ESCOLAS DA COMPREENSÃO HUMANA Ä Na romana ou no espetáculo, a magia do livro ou do filme faz com que compreendamos o que não compreendemos na vida comum, onde percebemos os outros de forma exterior, ao passo que na tela e nas páginas do livro eles surgem em todas as dimensões, subjetivas e objetivas. O CONCEITO DE IMAGEM Ä Para compreensão profunda de um problema filosófico, não basta o entendimento racionalmente do ponto de vista lógico, como conceito teórico / semântico. É preciso senti-lo, vivê-lo. EM QUE MEDIDA OS FILMES TRADUZEM ESTA AMBIGUIDADE BÁSICA? Ä Em um ambiente onde o direito positivo dominante eliminou as liberdades básicas, os filmes mostram exemplos de indignação diante desta mesma perda de liberdade. Cada personagem, em cada filme, luta a seu modo contra a dominação. COMO SURGE A NOÇÃO DO DIREITO COMO OBJETO DE CONSUMO? Ä Na Antiguidade, a defesa privada era própria do labore, que tinha a ver com o processo ininterrupto de bens de consumo, como por exemplo: alimentar-se, repousar e procriar. A casa era a sede da família e baseava-se nas relações desiguais - mando / obediência. Neste espaço, estava-se privado na liberdade pública da ação política também efêmera e fugaz. Ä O trabalho era considerado como uma atividade não fútil, dominada pela relação meio / fim. Gerava um produto permanente: o produto como um bem de uso. Ä O direito era fruto da ação - jus - e do trabalho - lex. DIREITO COMO TRABALHO PRODUTOR DE NORMAS Ä Na Era Moderna, a ação política é absorvida pelo fazer político - ocorre uma progressiva redução do jus ao lex; o direito passa a ser visto como um produto do Estado, como um conjunto abstrato de normas. O fazer é transposto para o mundo político, mas não como domínio sobre as coisas, mas sobre os seres humano. Era do homo faber, quando tudo está colocado numa relação instrumental do gênero meio / fim. DIREITO COMO OBJETO DE CONSUMO Ä Na Era Contemporânea há uma absorção da ideia de trabalho pela de labor; o Direito passa a ser produto do labor que se transpões da esfera privada para a pública. Ä Era do animal laborans, ligada à necessidade de sobrevivência. Ä O labor tem a sua própria produtividade na força humana que o produz e se desenvolve de forma isolada, em termos humanos e políticos. Ä O Direito se torna contingente e passa a ser posto por decisão com uma enorme disponibilidade de conteúdo. QUE RELAÇÃO EXISTE ENTRE OS FILMES E A IDEIA DE DIREITO NA SOCIEDADE DO HOMO LABORANS? Ä Neste contexto, o pensamento humano só tem valor se tiver atrelado à lógica de consumo. Os filmes retratam uma perversão do positivismo jurídico, relacionado à contingência e todo e qualquer direito. Ä Criou-se a manipulação de estruturas contraditórias sem que a contradição afetasse a produção normativa. QUESTÕES: 01.QUAL A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE SABER JURÍDICO E SABER TECNOLÓGICO? 23 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira 02.NO QUE O SABER JURÍDICO TECNOLÓGICO SE DISTINGUE DO SABER JURÍDICO ZETÉTICO? 03.O SABER JURÍDICO TECNOLÓGICO EXCLUI A INTERPRETAÇÃO DO SEU DESENVOLVIMENTO? 04.O QUE O AUTOR ENTENDE PELA EXPRESSÃO “O JURISTA DEVE ATUAR COMO UMA ESPÉCIE DE TEÓRICO DO ACONSELHAMENTO? Seminário SEGUNDO KELSEN, AS RELAÇÕES JURÍDICAS SÃO RELACÕES ENTRE SERES HUMANO? Ä Não. As relações jurídicas são relações entre normas. COMO O FILME “UMA MULHER CONTRA HITLER” APRESENTA CONCEITOS IMAGEM EM TORNO DA DISTINÇÃO PRAGMÁTICA ENTRE CONFIRMAÇÃO, REJEIÇÃO E DESCONFIRMAÇÃO DA MENSAGEM NORMATIVA? EXISTE O RISCO DA AUTORIDADE META-COMPLEMENTAR DO REGIME NAZISTA SER ENFRAQUECIDA? Ä Sim. Se não existisse risco eles não seriam presos nem executados em 4 dias. PODEMOS FALAR DA EXISTÊNCIA DE UMA VIOLÊNCIA RAZOÁVEL (TERCIO) OU DE UMA COAÇÃO JURÍDICA (KELSEN) NESTE REGIME? COMO O FILME COLOCA O RELATIVISMO AXIOLÓGICO EM FACE DA OBJETIVIDADE JURÍDICA CALCADA NA IDEIA DE DEVER JURÍDICO DE KELSEN? QUAL É A CONTRARRELAÇÃO EFETIVADA PELO REGIME NAZISTA? TEMAS IMPORTANTES PARA A PROVA: M DIREITO COMO TECNOLOGIA M RELATIVISMO MORAL M OBJETO DA TEORIA DE KELSEN M TERCIO: COMUNICAÇÃO Expressãos de impacto: M Questão de decidibilidade de conflitos com o mínimo de pertubação social possível; M Descolamento da realidade. 24 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Materiais Fílmicos - Sinopses e críticas: (Retirados do site “www.trabalhosfeitos.com“ e "pt.wikipedia.org" . Coloquei só pra dar uma noção àqueles que não viram os filmes, mas não sei se o material está bom) p.s.: vou ficar devendo quase metade dos filmes porque as provas estão chegando e preciso entregar o caderno logo - e pela Lei de Murphy, justo o filme que você não viu não vai estar aqui haha :x A História de Qiu Ju A história de Qiu Ju começa a partir de um conflito que não presenciamos, mas que nos é relatado pelos próprios personagens. Qiu Ju vive no campo de plantação de pimenta, num remoto povoado, está grávida do primeiro filho e, conjuntamente, com seu marido, pede autorização para o chefe local para utilizar uma parte do terreno para a construção de uma casa para armazenar a pimenta. O chefe nega o pedido, alegando que a lei apenas autoriza o uso da terra para plantar e não para construir. Irritado, Qinglai, marido de Qiu Ju, ofende verbalmente o chefe dizendo que ele só criará galinhas, uma referência ao fato dele só ter tido filhas mulheres, um grande desprestígio na cultura patriarcal. Como resposta, o Chefe chuta com força os testículos de Qinglai, que quase perde a sua fertilidade. Depois de levar o marido ao médico, Qiu Ju, mesmo sendo quase analfabeta e mesmo enfrentando o penoso final de uma gravidez, percebe que houve um abuso na atitude do chefe, pois, não havia respaldo legal para uma atitude violenta como esta, mesmo diante da ofensa praticada pelo marido. Sentindo que seu marido sofreu uma injustiça, abuso de poder e uma ofensa moral por parte do chefe, ela sai em busca da justiça, esperando que o chefe peça desculpas e se arrependa por seus atos abusivos. Em primeiro lugar, ela contata, no povoado, o Oficial Li. O chefe aceita entrar num acordo, propondo-se a pagar as despesas médicas do marido e o seu salário. Qiu Ju vai ao encontro do chefe, mas a mediação fracassa, na medida em que o chefe se recusa a pedir desculpas, joga o dinheiro no chão, exigindo que Qiu Ju se curve para alcançá-lo várias vezes. Ela não aceita o pagamento, dizendo que a luta continuará. A partir deste momento, a saga de Qiu Ju tem início. Ela vende a pimenta, utiliza meios de transporte precários, vai até a comarca em Beijing, depois ao tribunal, enfrenta as dificuldades da falta de honestidade na cidade grande e a decisão é a mesma, pagamento das despesas médicas, mais o salário da vítima. Qiu Ju contrata até um advogado, mas não conseguem dar uma resposta à angústia humana e ética de Qiu Ju, que parece sentir-se cada vez mais frustrada com o universo jurídico, várias vezes ela repete a pergunta: Mas isto é a justiça? Ela decide recorrer para o tribunal intermediário do povo, que solicita uma nova perícia médica em seu marido, um exame de raio-x. Uma certa noite, enquanto todos os moradores assistem a uma ópera tradicional, Qiu Ju tem dificuldades graves no parto e precisa ir para um hospital. O chefe está em casa e é procurado, pela parteira, para salvar a sua vida e do bebê. A princípio, ele se recusa a ajudá-la, mas acaba cedendo e salvando a sua vida e a da criança. Em casa, ela visita o chefe e expressa a sua enorme gratidão por ter salvado a vida deles, convidando-o para a festa de um mês da criança, um saudável menino. Na comemoração, a alegria 25 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira domina o coração de Qiu Ju, em nenhum momento, ela põe foco no exaustivo problema de seu marido, o filme sugere que houve uma espécie de compensação ética na atitude do chefe. Se ele causou um dano, colocando a fertilidade de seu marido em risco, quando o chutou, ilegalmente, o desequilíbrio foi sanado, com a realização de um bem maior, na sua atitude de salvá-la da morte, junto com o filho. Tudo parece caminhar para um final feliz até a chegada do Oficial Li. O Oficial Li chega e avisa Qiu Ju que o chefe acabou de ser preso, e assim deverá permanecer por quinze dias, pois o raio-x detectou uma nova evidência, que a agressão praticada foi mais grave, pois causou a quebra de uma das costelas. Mais angustiada do que nunca, ela reafirma que nunca pleiteou a sua prisão, mas sim a sua retratação, ela ouve a sirene do carro da polícia e sai correndo atrás, mas já é tarde e não consegue alcançar. Mar Adentro Baseado na história real de Ramón Sampedro, o filme retrata a luta de um homem, nascido em uma pequena vila de pescadores na Galícia, e que, aos 25 anos, sofreu um acidente que o deixou tetraplégico. Após o acidente Ramón viveu praticamente 29 anos “lutando” na justiça pelo direito de decidir sobre a sua vida. Lúcido e inteligente, suscitou questões morais, com a igreja e a sociedade. Ramón conhecia o mar como ninguém, viajou por todo o mundo como marinheiro, mas um dia, num mergulho igual a tantos outros, bateu com a cabeça num fundo da areia; devido ao choque da cabeça contra a areia, comprometeu irreversivelmente sua coluna vertebral e ficou tetraplégico. Passou então a viver nesta situação de paralisia durante vinte e oito anos. Morava na casa de seu irmão e era cuidado por sua cunhada, sobrinho e seu pai. Inconformado com essa situação, porém sempre alegre e carismático, Ramón lutava contra o que acreditava ser o seu direito, ter uma morte digna. Nessa parte entra em questão a eutanásia. Ramon teve como aliada uma advogada chamada Julia que tenta conseguir o direito de morrer para Ramón. Este encontra em Julia o último sentimento de amor, juntos partilham um cigarro, trocam um beijo, afeto, impossibilidades, desejos, frustrações e a morte como finalidade, pois Júlia é portadora de doença degenerativa hereditária, caracterizada por acidentes vasculares frequentes que conduzem à invalidez e demência. Ao mesmo tempo, Júlia é o canal entre o espectador e o lado poético do filme. Ela o ajudou a escrever um livro, publicado com o título “Cartas del inferno”, difícil encontrar realismo mais cruel para descrever sua própria interpretação de condição de vida. Esse livro deu origem ao filme. Há também outra mulher que se aproxima dele após vê-lo na TV em uma entrevista em que ele expressa o desejo de morrer. O nome dela é Rosa e no filme ela tenta dar uma esperança a mais para que ele sinta vontade de viver. Ela acaba por se apaixonar por ele. Essas duas mulheres representam no filme a dicotomia morte e vida no contexto da vida de Ramón. Na carta que dirige aos juízes, em 13 de novembro de 1996, Sampedro apresenta um argumento muito trabalhado no filme: viver é um direito, não uma obrigação. Ao colocar em cheque a regulação da vida e da morte pelo Estado e pela Igreja, aponta a hipocrisia do Estado laico diante da moral religiosa. O argumento legal utilizado pela advogada de Ramón, de que, num Estado dito laico, tal decisão, a liberdade de privar-se da própria vida, não deve pautar-se por princípios teológicos, é das mais coerentes. Por outro lado, eleva-se também o questionamento sobre o que pode ser caracterizado como vida: se é a capacidade para locomover-se, conhecer novas coisas, a racionalidade ou a capacidade de amar. Para Ramón, sua condição não é digna, mas isso é apenas um exemplo de como cada indivíduo lida e compreende sua situação sob diferentes perspectivas. Para alguém que pautou sua existência pela liberdade, a incapacidade de mover-se é talvez o maior obstáculo. Ramón tem a sua volta familiares e amigos que o amam, porém, para ele, ter isso sem a liberdade plena que caracteriza o individualismo contemporâneo, não é suficiente. Outra parte do filme é quando um padre também tetraplégico visita Ramon a fim de mostrar a ele como a vida pode ser boa até para quem não pode se mover, e fala da dádiva que Deus nos dá e que só Ele pode retirar; no entanto, Ramon demonstra que a Igreja Católica não tem moral para falar de respeito à vida depois da Inquisição. Segundo ele a única coisa em que não podemos escolher é nascer, e que Deus nos dá o Livre Árbitro para que possamos escolher o que acharmos melhor para nós, mesmo sendo a morte. A advogada Júlia se opõe diretamente ao padre e procura levar a discussão e legitimação do caso para o plano racional e legal. O debate de Ramón com a Igreja sobre o 26 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira direito à eutanásia é estabelecido com Padre Francisco. Nesse aspecto o filme é parcial e tendencioso, intervém a voz da fé cristã na figura um pouco ridicularizada do padre paraplégico. Vale lembrar também dos personagens Gene e de seu marido, defensores do movimento Morrer com Dignidade e da Luta pela Legalização da Eutanásia. Em uma cena em que Gene, no final de sua gravidez, coloca sua barriga perto do ouvido de Ramón, pode demonstrar a tese de que não é porque se é a favor da eutanásia que se é contra a vida em geral, e, principalmente, contra novas vidas. Ao final do filme Ramon acaba por conseguir o tão sonhado desejo de morrer dignamente, Em janeiro de 1998, em segredo, conseguiu realizar seu intento, assistido por pessoa amiga, Ramona Maneiro. Essa amiga, vivida nas telas como a personagem Rosa, confessou no início de 2005 ter ajudado Sampedro a tomar cianureto para morrer. A confissão foi feita sete anos após a morte de Ramón, quando o delito já estava prescrito e o julgamento inviabilizado. O momento da morte é filmado e Sampedro fala sobre a questão do direito a morrer. Dirigir corpos é uma forma de controlar mentes. Fala-se em liberdade e direito, mesmo quando paradoxalmente nega-se a opção de escolher entre a vida e a morte. Esse direito é negado em nome da civilidade e da religião. É o que o filme mostra. O direito do ser humano deve ser respeitado. Sem a pretensão de exaltar, é válido citar que o ordenamento jurídico dá mais ênfase aos conceitos religiosos com relação à vida, do que propriamente ao direito do humano de deliberar sobre aquilo que se pretende. Os homens em geral nas mais diversas culturas e sociedades, até as modernas têm, por diversas razões, se distanciado da morte tentando exorcizá-la. Desde tempos imemoriais as sociedades têm delegado o poder de decisões sobre a vida, o cuidado da vida e sobre a morte à uma instância especial, a medicina. O conceito de morte era há até pouco tempo um conceito médico. Hoje já se exige que seja contextualizado, passando toda a problemática que diz respeito às condições do viver e do morrer a ser do interesse de toda a sociedade. Vida e morte são dois aspectos de um mesmo processo, de uma mesma condição, a humana. A morte é parte integral da vida. Desse modo, é razoável supor-se que a morte deve ter uma proteção, prevista no ordenamento jurídico. A aceitação é consensual, aliás, inscrita na "Declaração dos Direitos Humanos", de que todo ser humano deve ser tratado humanamente. Isso dar a entender que cada ser humano – sem distinção de sexo, idade, cor, língua, religião, origem étnica ou social – possui uma dignidade não alienável e intangível. Espera-se então, como consequência, que cada um, indivíduo ou o Estado, se veja obrigado a honrar essa dignidade e garantir sua efetiva proteção. E porque não confiar que o direito de morrer com dignidade deva também ser tão bem protegido como outro direito vinculado ao viver. É importante ressaltar que, a partir do momento que se tem certeza do que fazer com a própria vida, o direito da pessoa humana deve ser respeitado, porque a vida é um direito (e não uma obrigação), é uma garantia (e não uma determinação). Mesmo se tratando de uma pessoa que necessite de eutanásia, ela tem direito de viver uma vida verdadeiramente digna, nem que para ela a dignidade seja a própria morte. O Quarto Poder O Quarto Poder é um filme do diretor grego Costa-Gavras, lançado em 1997 com o título original de “Mad City”. O próprio título já nos conduz a uma expressão que visa equiparar o poder da mídia ao dos outros três poderes (legislativo, executivo e judiciário). No desenrolar da narrativa, fica evidente a intenção do diretor de mostrar o poder dos meios midiáticos na atualidade, que podem transformar uma simples ocorrência num espetáculo de gigantescas proporções, não sendo respeitados nem mesmo os limites éticos. O filme conta a história de Sam Baily, um ex-segurança de museu que, no desespero de reaver o seu emprego, toma uma atitude desesperada e inconseqüente: pedir o seu emprego de volta à diretora do museu, ameaçando-a com uma espingarda e muita dinamite na mão, apesar do meio empregado, fica claro que ele não planejava de forma alguma causar qualquer dano a alguém. Acontece que o museu estava sendo visitado por alunos de uma escola primária e um jornalista – Max Brackett – que fazia uma matéria sobre a falta de verba do museu. É a partir desse quadro que a narrativa vai se desenrolar. Max Brackett (Dustin Hoffman) vê nessa situação a chance de se reerguer na emissora em que trabalhava, onde estava desprezado fazia tempo, trabalhando com as matérias menos importantes da 27 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira programação. Ele transforma esta situação, que poderia ser resolvida de forma simples, em um grande espetáculo, com ares de jornalismo sensacionalista. Sam é apenas um desempregado que toma uma decisão equivocada para reaver seu emprego, no entanto, Max faz dele o protagonista de um grande “circo” que é armado em troca de audiência. O filme mostra o poder de manipulação que a mídia exerce sobre a opinião pública. Costa-Gavras mostra como a mídia pode transformar um personagem em herói ou vilão, dependendo das suas conveniências. O desenrolar da história mostra que Sam é um personagem de personalidade infantil. Em sua inocência, ele vai servindo como massa de manobra nas mãos de Max, inescrupuloso jornalista que só pensa em prolongar cada vez mais a situação, com a intenção de aumentar os níveis de audiência do caso e vê num tiro acidental disparado por Sam em Cliff Williams, um amigo e ex-companheiro de trabalho, a oportunidade de alcançar seu objetivo não medindo as conseqüências que ocasionalmente poderão surgir. Brackett aproxima-se de Sam aproveitando-se da ingenuidade do mesmo, e desta forma dispõe de informações privilegiadas e de exclusividade, visto que o jornalista conquista a confiança do ex- segurança, moldando assim tais informações de acordo com os seus interesses, e fazendo uso de diversos artifícios para manipular a opinião pública, inclusive indicando a todo o momento como Baily deveria agir e o que deveria dizer. Um ponto a ser destacado no filme é o momento em que duas garotas são libertadas do museu, como condição para Baily conceder uma entrevista exclusiva a Brackett. Era de se esperar que as garotas saíssem amedrontadas, pois acabaram de ser libertadas, no entanto as meninas se assustam com a multidão de repórteres que partem desesperadamente em sua direção, a fim de capturar alguma declaração, certamente uma crítica ao modo de agir da mídia. O jornalista tenta construir uma imagem positiva de Sam, o que inicialmente dá certo e atrai uma multidão para o entorno do museu. No entanto a situação foge de controle quando a situação desperta o interesse de toda a imprensa nacional, que encontra um meio de obter mais audiência a partir do acontecido, e acaba tendo uma grande repercussão na população. Ao contrário de Max, outros jornalistas têm o objetivo de caracterizar Sam como alguém com uma personalidade agressiva e perigosa, utilizando o fato dele ter atirado em Cliff como um ato racista, justificando que ele agiu motivado pelo fato de o seu colega ser negro e continuar empregado e utilizando também a pressão dos pais das crianças que estão no museu sobre as autoridades como motivo para condená-lo. Neste ponto é possível observar o poder que a mídia tem de criar heróis e vilões, modificando as situações de acordo com os seus interesses. O desfecho trágico da obra, com o suicídio de Sam e o desespero de Max, que provavelmente sentiu-se culpado pela morte dele, simboliza os impactos negativos que o mau uso das informações pode gerar, impactos esses que por vezes podem ser irreversíveis. Embora algumas vezes exagere na construção da personalidade e nas atitudes dos personagens, o resultado final não fica prejudicado, pois o filme cumpre bem o seu papel de evidenciar o quanto a mídia pode ser inescrupulosa e inconseqüente, sendo capaz de interferir em diversos setores da sociedade, formando opiniões, manipulando informações, destruindo reputações, formulando padrões de comportamento ideais, entre outras coisas. Vale lembrar que a obra nos alerta também sobre a necessidade de se lançar olhar crítico sobre as informações que são passadas por qualquer meio midiático, verificando até que ponto a informação é verdadeira, analisando todos os possíveis interesses por trás da divulgação da mesma. Notícias de uma Guerra Particular O Morro Através do cotidiano dos moradores do morro Dona Marta o documentário mostra a situação de violência nos morros do Rio de Janeiro. A narrativa inicial do vídeo afirma que a expansão do tráfico de drogas é diretamente responsável pelo crescimento assustador do número de homicídios, e as imagens mostram o destino dado às drogas apreendidas. As fortes declarações feitas tanto pelos moradores, quanto por policiais, traficantes e crianças que aspiram entrar para a vida do crime – “O Movimento” – chamam a atenção pela naturalidade que relatam fatos de extrema crueldade e violência que presenciam quase todos os dias. 28 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Um rapaz afirma que rouba para alimentar a família, não tem intenção de praticar nenhum tipo de maldade com as pessoas. Quer viver normalmente como qualquer cidadão. Tal observação é natural entre os garotos do morro. Enquanto num emprego comum o adolescente recebe R$112,00 por mês (salário mínimo da época), no tráfico essa quantia sobe vertiginosamente para R$300,00 por semana. Até mesmo o policial acha que é bom negócio. A polícia Federal estima que o tráfico de drogas empregue cerca de 100.000 pessoas no Rio, ou seja, o mesmo número de funcionários da prefeitura. Isso faz com que as pessoas tratem o tráfico como uma empresa que oferece emprego bem remunerado e proporciona inclusive plano de carreira. Desde criança esses cargos são desejados pelos jovens. Desemprego e Preconceito A discriminação também é um ponto forte nessa história. O morador do morro é visto pela sociedade em geral como o possível delinquente, assim, é negado a ele a mesma oportunidade dos outros. O estigma da pobreza limita, atrasa e às vezes impede o desenvolvimento profissional dessas pessoas. Por outro lado tem a situação do próprio país, onde o índice de desemprego é alto e a qualidade de mão de obra ainda deixa a desejar. Nossos representantes políticos não demonstram interesse em preparar os cidadãos para o mercado de trabalho. Dessa forma, fica praticamente impossível para um adolescente da favela competir por uma vaga em qualquer emprego com remuneração acima de um salário mínimo. A guerra Sobre a própria guerra entre polícia e traficantes o vídeo mostra imagens fortes de confrontos e as armas de que cada lado dispõe. Fica evidente que os traficantes tem acesso às armas mais modernas do mercado, algumas delas não são utilizadas nem mesmo pelo exército. Um adolescente afirma gostar da vida no tráfico, lá ele tem respeito e dinheiro. Diz que quando tem confronto com a polícia e eles conseguem matar algum deles, a comemoração é boa. “É uma vitória, não é para comemorar?”. Percebe-se também um certo prestígio desses adolescentes entre as mulheres. Um dos moradores diz que se não andar armado elas não dão nem papo. “Só o cara armado tem direito as cocotinhas lá de baixo, se não, elas nem olham”. Através das grades o presidiário conta com orgulho os feitos que o levaram para o presídio. Disse que assaltava bancos e gostava disso, e mais, afirmou que uma vez liberto voltaria a praticar crimes “Vai ser muito pior”. O tom agressivo na voz, e o olhar de revolta nos fazem acreditar que realmente está dizendo a verdade. Isso nos leva a pensar se o nosso sistema carcerário realmente funciona. Qual é o objetivo de manter uma pessoa presa numa cadeia brasileira? Punir, humilhar, educar, preparar essas pessoas para voltar a conviver em sociedade? E será que além da humilhação os outros objetivos estão sendo alcançados? Será que nossas cadeias são mesmo “A faculdade de formar bandidos?” Pelo menos o entrevistado nos mostrou que podem sim sair de lá ainda mais cruéis. Policiais e abuso de poder Uma moradora descreve sua rotina que começa às 2:30 da manhã, quando se levanta para ir trabalhar como entregadora de jornal, e termina às 22:00 horas, quando vai pra cama exausta depois de preparar o jantar do marido. Trata-se do dia de uma pessoa trabalhadora que luta com dignidade para sobreviver, mas, morador do morro, independente de qualquer coisa, é tratado como bandido: “A polícia adentrava a favela metendo o pé em tudo, invadindo as casas e levando o que quisessem. Não perguntavam se determinado aparelho de televisão tinha nota fiscal ou não, pegava e levava. Agora eles entram com mais cautela. Estão com medo dessa nova geração, porque eles realmente matam”. (Janete, moradora do morro Dona Marta). Os relatos mostram uma certa cumplicidade entre os moradores e os traficantes, uma moradora diz recorrer ao “movimento” quando precisa de alguma coisa, pois eles ajudam as pessoas que não tem condições de comprar um remédio, comida e até mesmo cigarro. Uma criança afirmou que entre polícia e bandido, os moradores ficam do lado dos traficantes. Janete diz que o lado ruim das armas é quando os traficantes precisam cobrar alguma coisa, seja de criança ou de adulto, morador do morro ou não, eles usam os mesmos métodos de crueldade, 29 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira ou seja, matam, trucidam etc.… Paulo Lins, escritor conta como começou a história do tráfico, diz que quem praticava eram pessoas idosas, porque não era comum. Cocaína era coisa de rico, favelado não usava cocaína, era só maconha Entre outras coisas afirma que sempre morreu gente na favela, mas não saía daquele espaço. A mídia descobriu a violência quando ela saiu da favela. Injustiça social Esse documentário nos alerta para a situação deprimente que está o nosso país. A realidade social, a negligência, a falta de justiça, o comodismo, e tudo o que faz de nós, brasileiros, o que somos diante do resto do mundo. Do “Primeiro Mundo”, que nos vê com o mesmo olhar de preconceito que lançamos sobre as pessoas que moram nas favelas. Enquanto nas suas casas são perseguidos e ameaçados por policiais e bandidos, também na sociedade, eles sofrem um tipo de massacre, aquele que ignora e transforma uma pessoa comum em um ser invisível. Dessa forma experimentam em vida, o que acredito ser a pior de todas as sensações, a de não existir, ou melhor, de não ser gente. Corrupção, violência, falta de perspectiva e uma escola pública deficitária são alguns dos pilares que patrocinam e alimentam o crime organizado. O crime nada mais é do que uma extensão da sociedade brasileira. Todas as brechas de uma máquina estatal falida são preenchidas pelo crime. Isto tudo com a conivência das autoridades que aproveitando dessa situação de ignorância social da esmagadora maioria da população só fazem algo em épocas de campanha eleitoral. Prometendo às vezes o incumprível. Pois se não temos educação, saneamento, emprego digno, segurança e saúde pública, como vamos convencer que com o trabalho, poderemos comprar aquele carro ou um tênis da moda. A falência da maquina pública, se mostra de uma forma mais atroz na policia. Armamento defasado, salário de fome e um despreparo psicológico aumentam sensivelmente a possibilidade de um parco cumprimento do seu dever ou de um desvirtuamento indo para o sedutor e criminoso ambiente da corrupção. Uma polícia capenga só privilegia os criminosos e não o social. Todos os dias os policiais vão para uma guerra civil. Com um único alento. Se conseguirem sobreviver, retornam para casa. A Lista de Schindler Schindler nasceu 28 de abril de 1908, seu pai foi um industrial muito rico. Pertenciam á comunidade que falava alemão nos sudetos e alguns de seus vizinhos eram judeus . Depois da anexação alemã dos sudetos em 1938 com o partido nazista , Schindler inscreveu -se no partido alemão Konsad Henlein`s Sudeten , ele queria seguir os passos do pai tentando ficar à frente da fábrica de máquinas agrícolas . Casou-se muito cedo e mais tarde passou a trair sua esposa com uma mulher polonesa frequentadora dos meios sociais dos oficias alemães do SS . A guerra estourou em 1939, Schindler com 31 anos mudou se para Cracóvia com o pensamento de tirar proveito da guerra . Cerca dos 60000 judeus que lá viviam foram proibidos, através de um decreto , de serem proprietários , quem lucrava co isso eram os empresários alemães , que se apropriavam de estabelecimentos comercias de propriedade dos judeus e ainda os obrigavam ao trabalho forçado . Schindler progrediu nos negócios quando se apropriou de uma fábrica de panelas que ficava em Zablocie , perto de Cracóvia , com sua fortuna crescente ele ' comprava " membros da Gestapo e dos altos escalões nazistas com bebidas , mulheres e produtos do mercado negro . Decidiu contratar um contador judeu , pois este valia menos que um trabalhador polonês , este contador é Itshak Stern que com o argumento de que os trabalhadores judeus dariam lucros maiores a sua fábrica , ele convenceu Schindler a adotar mão de obra judia . Os judeus trocavam suas reservas financeiras por um " lugar " na fábrica , assim se manteriam longe dos campos de concentração . Hitler lançou um plano , no qual acabaria com os guetos e mandaria a população judia para o campo de concentração . Amon Goeth era um dos comandantes e amigo próximo de Schindler dentre os oficiais da Gestapo. Em 1942, passou para o ramo de munições , empregando cerca de 800 pessoas , sendo 370 judeus do gueto de Cracóvia . Os guetos foram criados pelos alemães e eram bairros onde viviam grupos de qualquer etnia ou outro grupo menor devido circunstâncias econômicas ou sociais . Schindler no começo demonstrava -se um homem interesseiro e sem qualquer resistência ao regime nazista , mas com o passar do longa , se mostra um homem totalmente intolerante à insensível brutalidade e perseguição aos judeus . No começo tinha objetivos que atendia aos seus próprios 30 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira interesses , que era enriquecer , mesmo que fosse ás custas de inocentes judeus , mas depois se vê com a missão de salvar o maior numero de vidas , com o argumento de que sua fábrica era essencial para o esforço de guerra na Polônia . Schindler obtinha contratos com os militares tendo como prioridade retirar judeus da jurisdição das SS. Guando alguns de seus funcionários eram ameaçados à deportação para Auschwitz (um dos piores campos de concentração existentes ), Schindler mantenha a ideia de que tal deportação dificultaria a produção essencial para o esforço da guerra . Schindler fazia de tudo para salvar os judeus desde falsificação de documentos à empregar crianças , domésticas como mecãnico , até trabalhadores incapacitados. Quando preso se mantinha na ideia de que era um nazista e apenas queria se favorecer de mão de obra barata além de comprar os oficias oferecendo-lhes muito dinheiro . Com o gueto extinto, os judeus foram transportados para campos de trabalhos forçados de Plaszóvia. Com o avanço dos russos em 1944, Plaszóvia e os campos secundários foram evacuados, mais de 20000 pessoas entre homens , mulheres e crianças foram levados à campos de extermínio . Schindler obteve autorização oficial para continuar a produção numa fábrica que ele e sua mulher fundaram em Brünnlitz, nos Sudetos. Cerca de 700 homens e 300 mulheres judias, foram levados para campos de concentração. Para libertação dos mesmos foram necessários 7 marcos alemães por cabeça pagos á Gestapo por dia . A luta de Schindler era incansável, vivia as voltas com seu contador, tentando ajuntar o maior número de pessoas possíveis numa lista , a fim de proteger-lhes contra a morte , torturas físicas e psicológicas . Foram 11000 nomes na lista e uma boa soma de dinheiro pagos à Goeth por cada um , para que ele fizesse o desvio de rotas . Estes chegaram salvos à Tchecoslováquia . Schindler estava falido e com o fim da guerra teria que fugir pois era mais um dos nazistas que seria caçados e mortos . O Pianista O filme conta a história do pianista judeu Wladyslaw Szpilman na Polônia de 1940. Época em que Hitler começava a se expandir, tentando atingir os países europeus com o regime fascista e sua ditadura. Era, então, a famosa época da Segunda Guerra Mundial, e do genocídio judaico por toda Europa. Resumidamente, o filme retrata o surgimento do Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para manter os judeus em áreas isoladas do resto da sociedade na capital polonesa. Szpilman trabalhava como pianista para a rádio polonesa até a invasão da Polônia pela Alemanha. Sua família é mandada para um campo de concentração, sua terra natal está tomada pelos nazistas e totalmente destruída e ele é obrigado a se esconder na esperança do fim da guerra. "O Pianista", baseado nos relatos de Szpilman, é definitivamente aterrador, e, mesmo assim, por vezes, o protagonista parece objetivo e distante, o que torna a obra ainda mais interessante. Ele é diretamente atingido pela repressão nazista, mas permanece lúcido o suficiente para perceber as nuances de uma sociedade humilhada e que, mesmo assim, continua a tentar agir da mesma forma. Além do sofrimento humano e das injustiças da guerra, fatos interessantes são mostrados como a revolta do gueto de Varsóvia e a total devastação da Polônia sendo pela artilharia russa, ou os próprios alemãs destruindo tudo que não podiam levar. Sobre o dia a dia do gueto é o retrato da total degradação humana, pessoas passando fome, amontoadas em sobrados e edifícios frequentemente revistados pelas forcas alemãs. Inclusive uma dessas revistas é que se tem uma das cenas mais chocantes do filme onde um aleijado é arremessado pela janela por não poder se levantar da sua cadeira de rodas. O protagonista do filme consegue sobreviver as custas de favores e da boa vontade de alguns do inicio ao fim do filme. Seja ele escapando do trem da morte, onde sua família foi levada para morrer em campos de concentrações ou sendo ajudado pela resistência polonesa. Cabe aqui dizer que em nenhum lugar do mundo o dominante conseguiu se impor ao dominado com a total assimilação e sem resistência por parte de quem esta sendo dominado. No caso da conhecida façanha do gueto de Varsóvia vê que o povo polonês tentou impor uma resistência ao domínio alemão na região. Inclusive o próprio levante foi de certa forma bem sucedido ao passo que a total tranquilidade das tropas alemãs foi "quebrada" por um grito interno de protesto e resistência. O que foi até mesmo uma tentativa de mostrar ao mundo o que acontecia dentro da Polônia. Inclusive foi considerado inadmissível para os alemãs ao passo de poloneses judeus pudessem ter organizado um levante. O próprio Hitler vai pedir providencias ao general responsável que eles sejam massacrados como exemplo. 31 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira Em suma a Polônia será totalmente devastada em todos os sentidos estruturalmente como também moralmente, foi um dos países mais devastados de toda a guerra e um dos países que mais perderam vidas. Fruto da arrogância e ignorância de um líder com um sonho louco de purificar a humanidade de possíveis “sujeiras”. Parece realmente surpreendente que o refúgio final de Szpilman tenha sido o lugar no qual se instalou um comando de defesa dos alemães. “O Pianista”, sem dúvidas, é um filme que contém um relato muito consistente sobre os sofrimentos impostos a uma população por um invasor cruel e os seus impactos devastadores sobre uma pessoa que se tornou algo a ser esmagado simplesmente por ter uma característica que os diferenciava dos demais. É uma obra impactante que também se destaca por relatar acontecimentos na Polônia, os quais são consideravelmente mais desconhecidos do que outros da Segunda Guerra Mundial. O único sobrevivente de toda uma família aniquilada pelo nazismo, uma rede de pessoas que se arriscou e colaborou para que, mais que uma arte, um ser humano pudesse sobreviver. Esse filme toca profundamente. A trama gira em torno da invasão alemã à Varsóvia no início da Segunda Guerra Mundial, e enfoca o sofrimento dos judeus no holocausto, o que faz o filme parecer-se muito com “A Lista de Schindler” de Steven Spielberg. Um dos grandes filmes e um classico sobre a segunda guerra. Onde veremos a principal diferença, é que o de Spielberg tratava a dominação germânica em aspectos gerais, mostrando várias situações bélicas, além de mostrar o lado alemão através de Schindler, enquanto o do franco-polonês Roman Polanski mostra especificamente a angustia do protagonista judeu na dividida capital polonesa. O Leitor “The Reader” oferece um duplo sentido. Pode-se ler como “O Leitor” - como foi traduzido – e como “A Leitora. Ela analfabeta recebia o garoto todos os dias após as aulas dele, para que o mesmo lesse para ela romances. Histórias essas que a levavam das lágrimas, ao riso e a cara de surpresa ao ver um mundo novo sendo relevado a sua frente. O que parecia ser apenas uma história de amor sobre pessoas com idades diferentes toma proporções dramáticas, quando o menino – agora estudante de direito – encontra Hanna no banco de réus, acusada de ser uma das funcionárias de Hitler, portanto culpada pela morte de cerca de 300 mulheres, queimadas. Os valores humanos são postos em cheque quando vemos que o garoto recusa-se a defender Hanna, que acusada pelas “amigas”, assume o crime sozinha. Michael sabe que Hanna é analfabeta e que, portanto seria impossível ter escrito num caderno os relatos diários de sua função. Envergonhada, Hanna não assume a ignorância e paga o preço sozinha, pelo crime de ter trabalhado para um dos maiores assassinos da história. A colaboração voluntária desta mulher nos campos de concentração é o que está em julgamento. Quantos não acataram as ordens de Hitler, sem ter a noção de crueldade ao qual estavam se submetendo? Até que ponto os carrascos do holocausto poderiam ter impedido o genocídio? Essa “responsabilidade moral” é o que provoca – também – o julgamento do expectador. Culpar Hanna ou não? Eis uma das questões – pertinentes – do filme. Aqui ele conta a história de Michael. Começa com ele adulto (Fiennes) e passa para contar a história da sua adolescência (Kross). Quando tinha 15 anos e conheceu Hanna (Winslet). Um dia, voltando para casa, Hanna percebe que ele está doente e cuida dele, o leva até em casa. Ele volta para agradecer e os dois acabam se envolvendo sexualmente. Hanna é bem mais velha que ele. E essa não é a única diferença, as situações financeiras, culturais e tudo o mais são diferentes. Ele ganha a primeira experiência da sua vida. Ela ganha histórias. “Primeiro leia, depois sexo”, ela diz para ele. E ele traz todo tipo de livros para ler para ela. Até que um dia, ela some e despedaça o coração do garoto. Pulamos 8 anos. Ele está agora na faculdade de direito, parte de uma aula bem restrita, com apenas 6 alunos. O professor (Ganz) os leva para um julgamento. Mulheres estão sendo julgadas por terem trabalhado em um campo de concentração. Entre elas, está Hanna. Muitos podem pensar que o conflito está em Hanna. Por ela ter trabalhado no campo de 32 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira concentração, mas eu não creio. Claro que há uma discussão sobre o fato de ela estar “apenas fazendo o seu trabalho”. Ela precisava de um emprego. Essa discussão eu deixo para cada um. Eu não consigo imaginar o que eu teria feito. Por sorte nem preciso, mas cada um pode dizer com certeza que não teria participado? Uma questão complicada de ser respondida. O Segredo de Vera Drake O filme acompanha a trajetória de Vera Drake, uma mulher de classe baixa que mora com a família na cidade de Londres, na década de 1950. Vera é incansavelmente devotada à sua família; ela cuida de seu marido, de seus dois filhos e de sua mãe idosa, além de um vizinho doente. Os filhos de Vera são: Ethel, que trabalha em uma fábrica, e Sid, que trabalha como alfaiate. O marido de Vera, Stanley, trabalha como mecânico. Apesar da família de Vera não viver em luxo, os fortes laços que possuem entre si os mantêm unidos. Vera trabalha como diarista. No entanto, o que sua família não sabe, é que ela também realiza abortos de forma ilegal. Ela não recebe dinheiro por essa tarefa, acreditando que o faz por generosidade. O que Vera não sabe, no entanto, é que sua parceira de negócios, Lily, que é quem arranja os encontros entre ela e as mulheres que querem abortar, cobra das pacientes. O filme também acompanha a história de Susan, a filha de uma das patroas de Vera, para mostrar como as mulheres da classe alta faziam para abortar na Inglaterra daquela época. Susan é estupro estuprada e engravida. Ela pede a uma amiga para entrar em contato com um médico que realiza abortos. A prática do aborto era ilegal, mas podia ser feito de forma legal, desde que a mulher tivesse em mãos um atestado assinado por um psiquiatra explicando que não tinha doença mental|capacidade mental o suficiente para ser mãe. Essa prática, no entanto, consumia muito mais dinheiro do que um aborto clandestino (um aborto ilegal custava, pelos valores de hoje, £48. Já um aborto legal era r$2400). No caso de Susan, ela dá todas as respostas certas para o psiquiatra e consegue um atestado explicando que devido à sua condição mental ela poderia se machucar durante a gravidez. Quando uma das cliente de Vera adoece e é levada ao hospital, ela é apontada para a polícia como a autora do aborto. A família de Vera está celebrando o noivado de Ethel quando a polícia a prende. O delegado dá à Vera a chance de confessar seu segredo para Stan, que fica bastante confuso. Antes do Natal, começa o julgamento de Vera e, em janeiro, ela é condenada a dois anos e meio de prisão. A Casa de Areia e Nevoa A faxineira Kathy Nicolo (Jennifer Connelly) é uma ex-viciada em drogas que vive sozinha, em uma casa modesta defronte para o mar, em San Francisco. Kathy está muito solitária desde que o marido a largou, oito meses antes. Tanta solidão lhe deixou em depressão, praticamente sem forças para viver. Ela se surpreende ao receber uma ordem de despejo da Prefeitura. Em tese, Kathy deve um imposto que, na realidade, está sendo cobrado de forma indevida há meses. Como não abre a correspondência, contudo, a garota toma um choque. Tardio. A casa, único bem que lhe resta, vai a leilão alguns dias adiante, a despeito dos desesperados esforços dela para que isso não aconteça. O oficial iraniano Massoud Amir Behrani (Bem Kingsley) não conhece Kathy, mas suas vidas vão se cruzar depois que o coronel compra a residência. Ele não deseja morar lá, mas reformá-la e revendê-la a um preço quatro vezes maior, de forma a conseguir dar à família mais conforto. “Casa de Areia e Névoa” enfoca a batalha dessas duas pessoas comuns pela casa. O título do filme é uma beleza de múltiplos sentidos. A casa é de areia e névoa, na metáfora mais óbvia, porque fica na praia de San Francisco, onde a neblina cobre tudo nos dias frios. Mas existe um sentido mais profundo. Areia e névoa são elementos intangíveis, que não se pode possuir, pois escapam entre os dedos. A casa é a chave da narrativa. Ela não passa de um bangalô modesto, mas representa mais do que simples moradia para os dois personagens. Para Kathy, a casa é a única ligação entre ela e a família, que ela tanto ama e que se mantém tão distante. Foi lá que ela passou a infância. Suas memórias moram lá. Um pedaço de sua alma se vai, quando é obrigada a deixar o lugar. Para Behrani, é claro, a cabana não evoca nenhum laço afetivo, mas também é um símbolo poderoso. O coronel reformado a elege como o primeiro passo para deixar os subempregos e 33 Introdução ao Estudo do Direito - Sala 13 - Turma 185 - Caderno de Juliana Constancio Professora Mara Regina de Oliveira proporcionar à mulher e ao filho adolescente um padrão de vida mais digno. A vista para o mar, mesmo que longínqua, também lhe traz à memória um passado feliz – a casa de verão da família, que dava para o mar Cáspio. Por isso, Behrani não hesita em gastar alguns milhares de dólares construindo um terraço com vista para o oceano, mesmo sabendo que não vai permanecer o suficiente no lugar para desfrutar dela. Para complicar tudo, há ainda um terceiro personagem. Lester Burdon (Ron Eldard) é xerife assistente do lugar, e um dos homens designados para expulsar Kathy do lugar. Ele a vê desamparada e sente pena, oferecendo ajuda. Lentamente, vai se apaixonar por ela. Entediado com a profissão e preso a um casamento frustrado com uma amiga de infância, Lester vê em Kathy a promessa de uma vida diferente. Por causa disso, se envolve diretamente na confusão e é, dentro todos, aquele que toma as decisões de maneira mais impulsiva e emocional. O encontro desses três seres infelizes e solitários rende um drama triste, melancólico e emocionalmente forte. Como em um filme de Kieslowski, os personagens precisam, a todo instante, tomar decisões moralmente difíceis. Aqui, não há vilões ou mocinhos, mas apenas pessoas de carne e osso, com dilemas morais, pessoais e profissionais. Kathy é solitária e carente, mas também irresponsável e descontrolada. Por trás do autoritarismo de Behrani, existe um homem paciente e amoroso. Lester tem boa índole e vontade genuína de ajudar, mas deixa escapar traços de anti- semitismo nos momentos desesperados. A gente sabe que ele não é racista, mas a situação o guia para uma posição bem próxima a isso. Uma Mulher contra Hitler Fale com Ela A Rainha O Profeta Présumé Coupable Agradeçam à Juliana Constancio!