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Apostila Ética e Sociedade 2012 2 - ALTERADA

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Ancelmo Pereira de Oliveira 
Ardinete Rover 
Cláudio Luiz Orço 
Evandro Ricardo Guindani 
Idovino Baldissera 
Rejane Ramborger 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joaçaba 
 
 
 
2º semestre de 2012 
© 2010 Unoesc Virtual 
Direitos desta edição reservados à Unoesc Virtual 
 
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. O material apostilado desta disciplina é para uso 
exclusivamente didático, sem intenção comercial. 
 
 
 
E84 Ética e sociedade : educação a distância / (coord.) Ardinete 
Rover. – Joaçaba : UNOESC, 2009. 
80 p. : il. ; 23 cm. – (Material didático) 
 
Modo de acesso: Portal de ensino. 
Também disponível para reprografia. 
Inclui bibliografia 
 
1. Ética. I. Unoesc Virtual II. Rover, Ardinete, (coord.) 
CDD 170 
Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) 
Reitor 
Aristides Cimadon 
 
Vice-reitor Acadêmico 
Luiz Carlos Lückmann 
 
Vice-reitores de Campus 
Campus de São Miguel do Oeste 
Vitor Carlos D‟ Agostini 
 
Campus de Videira 
Antonio Carlos de Souza 
 
Campus de Xanxerê 
Genesio Téo 
 
 
Coordenação geral da Unoesc Virtual 
Ardinete Rover 
 
Coordenações locais da Unoesc Virtual 
Roseli Rocha Moterle – Joaçaba 
Aníbal Lopes Guedes – São Miguel do Oeste 
Rosa Maria Pascoali – Videira 
Cristiane Sbruzzi Berté – Xanxerê 
Professores conteudistas da disciplina 
Ancelmo Pereira de Oliveira Ardinete Rover 
Cláudio Luiz Orço 
Evandro Ricardo Guindani 
Idovino Baldissera Rejane 
Ramborger 
 
 
 
Elaboração e produção gráfica: Roseli Rocha Moterle 
Copidesque: Marisa Vargas Revisão 
eletrônica: Carolina Nodari Capa: 
Elediana Fátima de Quadros 
SUMÁRIO 
 
 
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 7 
 
PROGRAMA DE APRENDIZAGEM .......................................................................... 9 
 
Unidade 1 A importância da ética na sociedade.................................................. 11 
 
SEÇÃO 1 A importância do outro .............................................................................. 12 
 
SEÇÃO 2 A ética e a vida social ................................................................................ 16 
 
SEÇÃO 3 Ética e sociedade na universidade ............................................................. 18 
 
Unidade 2 Ética, moral e cultura ............................................................................ 21 
 
SEÇÃO 1 Ética e moral.............................................................................................. 22 
 
SEÇÃO 2 A cultura, a moral e a violência.................................................................. 25 
 
SEÇÃO 3 Preconceito e discriminação: violência contra o outro diferente ................. 30 
 
SEÇÃO 4 Os valores morais e a liberdade de consciência.......................................... 32 
 
Unidade 3 O pensamento filosófico e a ética ....................................................... 35 
 
SEÇÃO 1 A filosofia e a ética ..................................................................................... 36 
 
SEÇÃO 2 O surgimento da ética na filosofia .............................................................. 39 
 
SEÇÃO 3 O pensamento de Aristóteles e Marx .......................................................... 43 
 
SEÇÃO 4 Reflexão sobre a construção da moral ....................................................... 44 
 
Unidade 4 A globalização e a ética ........................................................................ 51 
 
SEÇÃO 1 “Querer é poder”: as conseqüências éticas desse modelo de sociedade ..... 52 
 
SEÇÃO 2 O fenômeno da globalização ..................................................................... 53 
 
SEÇÃO 3 O fundamentalismo da globalização econômica ........................................ 55 
 
SEÇÃO 4 O avanço tecnológico e a ética .................................................................. 57 
 
Unidade 5 Os conflitos éticos da sociedade atual............................................... 63 
 
SEÇÃO 1 Grandes questões éticas da contemporaneidade........................................ 64 
 
SEÇÃO 2 A construção de valores morais na sociedade brasileira ............................. 69 
 
SEÇÃO 3 Características da sociedade brasileira capitalista ....................................... 71 
 
SEÇÃO 4 A legitimação da concentração de renda e da corrupção no Brasil ............ 72 
 
SEÇÃO 5 Esperança ética.......................................................................................... 75 
 
Referências ................................................................................................................. 79 
 
Gabarito ...................................................................................................................... 81 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
 
 
Apresentamos a você, aluno da Unoesc na modalidade a distância, o 
material didático da disciplina Ética e Sociedade. Ele foi elaborado 
visando a uma aprendizagem autônoma; os conteúdos foram 
cuidadosamente selecionados e a linguagem utilizada facilitará seus 
estudos a distância. 
 
A disciplina Ética e Sociedade tem fundamental importância para a 
reflexão acerca do significado de nossa ação no mundo. Na perspectiva 
de construir nosso “ser ético”, precisamos refletir teoricamente sobre os 
valores que norteiam nossas ações. Nessa disciplina, procuramos lançar 
um olhar acadêmico sobre o tema da ética, revelando sua real importância 
para o desenvolvimento das atividades cotidianas em sociedade e, 
também, no desempenho das atividades profissionais. Com isso, buscamos 
reconhecer, nas contradições sociais, a carência de uma discussão sobre a 
ética em suas instâncias normativas e prescritivas do agir humano. 
 
 
 
Desejamos que você tenha muito sucesso nessa disciplina e em todo o 
curso. 
 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
Equipe Unoesc Virtual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ementário 
 
 
 
PROGRAMA DE APRENDIZAGEM 
 
Conceituação (ética x moral). Fundamentos históricos e filosóficos. Os conflitos 
éticos da sociedade atual (doutrinas éticas). A ética e o processo de globalização. 
Arquegenealogia da ética brasileira. Desafios éticos do cotidiano. 
 
 
 
 
 
Objetivo geral 
 
 
Compreender e analisar a ética dentro do contexto sócio-histórico, considerando 
suas diferentes concepções. 
 
 
 
Objetivos específicos 
 
 
 Perceber as implicações da reflexão ética no conjunto das ações sociais do 
homem. 
 
 Conhecer o processo de construção histórico-social da moral. 
 
 Compreender a complexidade das questões éticas na sociedade. 
 
 
 
 Carga horária 
 
 
A duração da disciplina seguirá um cronograma de atividades para orientar o seu 
estudo, conforme a carga horária proposta na matriz curricular. 
 
 
 
Formas e momento de avaliação 
 
 As atividades avaliativas, descritas no Guia do Aluno, serão realizadas a 
distância; compreendem a avaliação G1, com peso 4. 
 
 A avaliação final, que compreende a avaliação G2, é presencial; consiste em 
uma prova sobre todo o conteúdo, com peso 6. 
Cronograma de estudo 
 
Utilize o cronograma a seguir para organizar seus estudos de acordo com as 
datas de realização das atividades. É obrigatório obedecer ao cronograma 
previsto para a entrega das atividades avaliativas. 
 
 
ATIVIDADES DATAS 
Primeira aula presencial 
 
Apresentação e orientações sobre o funcionamento da
disciplina; 
oficina de utilização do Portal de Ensino Unoesc 
 
 
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A
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1
 
Primeira temática: Homem, meio ambiente e 
sociedade 
 
Leitura das unidades: 
 
 1 A importância da ética na sociedade 
 2 Ética, moral e cultura 
 
 
 
 
Fórum de 
discussão 
 
 
 
 / 
a 
/ 
 
Leitura das unidades: 
 
 1 A importância da ética na sociedade 
 2 Ética, moral e cultura 
 3 O pensamento filosófico e a ética 
 
Avaliação 
on-line 
 
/ 
a 
/ 
Segunda temática: Mídia e ética 
 
 
 
Leitura das unidades: 
 
 4 A globalização e a ética 
 5 Os conflitos éticos na sociedade atual 
 
 
 
Fórum de 
discussão 
 
 
 / 
a 
/ 
 / 
 Encontros presenciais 
 
Datas agendadas conforme orientação da Coordenação do Curso 
 
/ 
 
 / 
 
 
Avaliação G2 / 
 
 
Avaliação G2 fora de prazo 
 
/ 
 
Avaliação G3 / 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
U
n
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a
d
e
 1
 
 
 
Unidade 1 
A importância da ética na sociedade 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao final desta unidade, você terá condições de: 
 
compreender a importância da ética na sociedade; 
 
identificar os elementos que unificam as categorias ética, o outro e a 
sociedade; 
 
refletir sobre as implicações éticas na vida cotidiana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: A importância do outro 
 
Seção 2: A ética e a vida social 
 
Seção 3: Ética e sociedade na universidade 
Ética e Sociedade 
12 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
Uma das capacidades mais requeridas pela sociedade atual é a de conviver com as 
diferenças, sejam elas de idéias, comportamento, atitudes, raça, cultura. 
 
A vida em sociedade exige que reconheçamos a importância do outro, sejamos 
compreensivos, tolerantes e sensíveis aos desafios que nos rodeiam! 
 
Como nossa cultura ainda é muito individualista, precisamos de um longo caminho 
para nos tornar mais éticos. É esse caminho que o convidamos a trilhar na disciplina 
de Ética e Sociedade . 
 
Então, vamos iniciar nossos estudos de Ética e Sociedade? Para isso, precisamos 
entender por que se estuda a ética e em que momento surge a preocupação ética na 
sociedade. Inicialmente, vamos falar daquilo que é o eixo central da ética: o 
reconhecimento do outro. 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
A importância do outro 
 
Com a correria do dia-a-dia, somos levados a nos preocupar bastante com nós 
mesmos. Nesta seção, vamos pensar sobre o papel que o outro ocupa na nossa 
vida? 
 
Quais os motivos de sua alegria ou tristeza? Procure fazer uma retrospectiva em sua 
memória emocional e destaque seus principais motivos de alegria e tristeza, no dia- 
a-dia. 
 
Reflita sobre sua família, amigos, universidade. O que, em sua família, afeta os seus 
sentimentos? Se as condições financeiras são as melhores possíveis, você já se sente 
plenamente feliz? Vivemos grande parte da vida em função de nossas necessidades e 
desejos, mas por que será que existe o ditado popular de que “dinheiro não traz 
felicidade”? 
 
Vamos auxiliar essas reflexões com uma dinâmica? Escolha, para cada item, o que 
for solicitado. 
 
Um bem material muito importante para você: 
 
 
 
Um sonho que almeja: 
 
 
 
Um local para onde gostaria de viajar: 
 
 
 
Uma pessoa ou grupo de pessoas muito importantes na sua vida: 
 A importância da ética na sociedade 
13 
 
 
 
 
 
Se você precisar se desfazer de uma dessas coisas, qual será? Elimine uma de suas 
escolhas. 
 
E se você precisar abrir mão de mais duas coisas? Elimine outras duas respostas. 
Enfim, o que restou? 
Essa dinâmica nos ajuda a perceber o papel que o outro ocupa na nossa vida. 
Praticamente, ninguém se desfaz das pessoas, nesse exercício. Geralmente, os 
grandes responsáveis pelos nossos sentimentos de alegria ou tristeza provêm das 
relações que temos com as pessoas. 
 
Quantas vezes perdemos o sono ou não acordamos bem porque temos algum 
problema de relacionamento interpessoal? 
 
Você já se sentiu assim? 
 
Você imaginaria a sua vida isolada dos outros? 
 
Enfim, o outro é a causa de nossa alegria e de nossa tristeza, contribui e prejudica 
em nossa busca pelo sentido da vida. É importante percebermos que nossa condição 
humana é marcada pela incompletude e inacabamento; a todo momento buscamos 
o outro, ou para partilhar, ou para nos completar como indivíduos. 
 
Quantas vezes você está desanimado, chateado e ao conversar com outra pessoa 
parece ficar mais leve e tranqüilo? 
 
Isso tudo nos ajuda a entender que o outro nos completa em nossos pensamentos e 
ações. 
 
Mas, quem é o outro? 
 
O outro pode ser a pessoa que está à sua frente, um familiar, um amigo, ou qualquer 
ser humano de qualquer raça e cultura, uma criança, um trabalhador, um portador de 
HIV. Podemos, também, compreender o outro como os animais e a natureza; as 
idéias de outras culturas, de outras religiões, de outros partidos políticos; o mundo 
exterior que se apresenta a nós a todo momento. O outro também pode 
ser a nossa própria capacidade de reflexão, quando se volta sobre si mesma, analisa 
a consciência, capta os apelos que nela se manifestam (ódio, compaixão, 
solidariedade, vontade de dominação ou de cooperação, sentido de 
responsabilidade), percebe os seus atos e as conseqüências que deles derivam; 
quando analisamos nossas próprias idéias (BOFF, 2003a). 
 
Com relação ao reconhecimento do “outro”, Boff (2003a) também se refere ao meio 
ambiente, ao planeta Terra, a tudo o que sai da nossa esfera individual. Reconhecer 
o outro-animal, o outro-natureza, na sua dignidade, é reorganizar toda uma forma 
de ver o mundo, é, como sugere o autor, produzir uma nova ótica: “A tese de base 
desta ótica afirma que a lei suprema do universo é a da inter-dependência de todos 
com todos. Tudo está relacionado com tudo em todos os pontos e em todos 
momentos. Ninguém vive fora da relação.” (BOFF, 2003a). 
 
Percebemos, assim, que o outro faz parte de nossa vida. 
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Ética e Sociedade 
14 
 
 
 
A necessidade que temos de nos comunicar também evidencia a importância do 
outro. Observe, atualmente, os sites de relacionamento e os programas de 
comunicação instantânea. Por que as pessoas buscam, de forma obsessiva, outros 
colegas, outras comunidades? Será que isso não revela uma constante busca pelo 
outro, às vezes ofuscada pela ideologia do individualismo competitivo da nossa 
sociedade? 
 
 
 
Por que precisamos tanto falar da importância do outro para falarmos de ética? 
 
A base de toda a construção ética fundamenta-se nesta pressuposição: a ética surge 
quando o outro emerge diante de nós. 
 
 
 
Boff (2003a) leva-nos a perceber que sempre temos uma postura diante do outro: 
ou nos distanciamos, ou nos aproximamos, ou ignoramos. É nessa relação que 
somos considerados éticos ou não. 
 
 
A ética surge a partir do modo como se estabelece a relação com 
esses diferentes tipos de outro. Pode fechar-se ou abrir-se ao 
outro, pode querer dominar o outro, pode entrar numa aliança 
com ele, pode negar o outro como alteridade, não respeitando-o, 
mas incorporando-o, submetendo-o ou, simplesmente, 
destruindo-o. (BOFF, 2003a). 
 
 
A todo momento, estamos em relação com o outro, e isso nos caracteriza como seres 
morais – moralmente bons ou ruins; não há como negar essa condição
humana, 
temos nossa dimensão moral. 
 
O que é essa dimensão moral? 
 
É nossa dimensão relacional, o nosso ser social. Somos seres morais à medida que 
vivemos em sociedade, que buscamos adaptar nossas ações ao meio em que 
vivemos, aos outros que nos circundam. 
 
Cada cultura, cada código moral vai determinando um tipo de relação com o 
outro. Na antiga Palestina, os leprosos eram considerados impuros, por isso as 
pessoas deveriam ignorá-los e romper relações com eles. Isso fazia parte de uma 
regra moral aceita por todos. 
 
Na caça às bruxas, durante a Idade Média, as mulheres eram consideradas 
demoníacas, portanto podiam ser destruídas, mortas. 
 
As tribos maias, incas e astecas, na América, também foram praticamente 
extinguidas pelos espanhóis porque eram consideradas pagãs e inferiores. 
 
No início da colonização brasileira, negros e índios podiam ser escravizados, eram 
considerados inferiores aos brancos. A relação do branco (proprietário) com o 
negro e o índio era de dominação e submissão. 
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 A importância da ética na sociedade 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Observe como a cultura e a moral de cada tempo determinam a forma como nos 
relacionamos com os outros. 
 
 
 
 
 
Como é a sua relação com o outro? Com o outro diferente de 
você, com o outro de outras raças, culturas, classes sociais? Como 
a sua cultura familiar o educou a se relacionar com o outro? 
 
 
 
Boff (2003a) nos alerta: “O outro é determinante. Sem passar pelo outro (que posso 
ser eu mesmo), toda ética é antiética.” 
 
As considerações de Boff (2003a) nos levam a perceber que não podemos falar de 
ética sem, antes, resgatar o reconhecimento do outro em nossa vida pessoal. 
 
Hoje, isso se torna muito necessário; nossa sociedade está marcada por um modelo 
de relações predatórias, no qual o outro é importante até o momento em que tem 
utilidade. Boff (2003a) afirma que nossa sociedade “[...] magnifica o indivíduo que 
constrói sozinho sua vida.” O que isso quer dizer? Que se costuma admirar, 
magnificar as pessoas que têm sucesso individualmente, por intermédio da fama e 
da riqueza, mesmo que, para isso, acreditem que não precisam ser éticas, que há 
sempre um jeito para tudo, que podem usar a sua influência para conseguir o que 
querem, que devem ser egoístas! 
 
 
 
 
 
Se você quiser aprofundar suas percepções sobre a 
importância do outro na vida de cada um, assista ao filme Shyrlei 
Valentine. 
 
 
 
O filme narra a história de uma mulher que durante, praticamente, toda sua vida 
cuidou da casa e dos filhos, passa o dia só e tem uma relação muito diferente e 
peculiar com as paredes de sua casa. 
 
 
 
 
 
Antes de tentar entender o que seja a ética, devemos estar 
conscientes de que ela surge no momento em que aparece o outro, 
no momento em que reconhecemos nossa dimensão de vida social. 
É o que veremos na próxima seção. Precisamos discutir a ética num 
âmbito social; do contrário, acreditaríamos que cada um deve ter 
sua ética e não haveria sociedade, mas um conjunto de indivíduos 
lutando por interesses particulares. 
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Ética e Sociedade 
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SEÇÃO 2 
A ética e a vida social 
 
 
 
 
 
Consigo compreender que minha vida pessoal está vinculada à 
sociedade? Tenho consciência de que minhas ações individuais têm 
conseqüências sobre o meio que habito? Por que nossa disciplina 
se chama Ética e Sociedade, e não apenas Ética? 
 
 
 
Precisamos discutir a ética dentro da sociedade em que vivemos, na qual buscamos 
concretizar nossas aspirações individuais. Sociedade e indivíduo formam um todo 
inseparável. Não há como negarmos essa relação entre ações individuais e 
sociedade. Esta possui uma lógica de funcionamento que acaba determinando 
grande parte de nossas ações individuais. 
 
Mas, o que isso tem a ver com a ética? 
 
Basicamente, a relação que a sociedade tem com a ética é que o meio social 
(econômico, político, cultural, educacional) determina e condiciona em grande parte 
o comportamento das pessoas. Para analisarmos eticamente o comportamento dos 
indivíduos, precisamos, antes de tudo, analisar a relação entre as atitudes individuais 
e o meio onde estão inseridos. 
 
Como isso se percebe concretamente? 
 
Procure analisar a nossa sociedade capitalista: as idéias presentes no mundo 
publicitário, no cinema, na televisão estão centradas na busca pelo sucesso. 
 
Você se lembra do desenho do Pica-pau? Que idéias esse personagem transmite? 
Que devemos obter sucesso a qualquer custo. E o Tio Patinhas? Para ele, ganhar 
dinheiro é o mais importante. 
 
 
 
Fonte: Um Mundo Mágico (2005). 
 
 
A lógica da sociedade capitalista assenta-se sobre a busca ilimitada pelo dinheiro e 
pelo sucesso. Se você tem uma casa, vai querer melhorá-la, ampliá-la; depois vai 
querer comprar mais uma. Você acha que em nossa sociedade alguém diria que já 
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 A importância da ética na sociedade 
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tem dinheiro suficiente para viver? Dificilmente. As pessoas sempre se consideram 
insatisfeitas e canalizam seus desejos para acumular e consumir, independentemente 
de a sociedade estar com altos índices de miséria e de pobreza. 
 
A sociedade constrói modelos de relações entre as pessoas, estabelece normas de 
convivência. Nas grandes capitais, não se vê nada de anormal em tropeçar em 
alguém dormindo nas calçadas, faz parte do cotidiano da cidade haver crianças 
pedindo dinheiro nas ruas; essa indiferença começa a fazer parte do costume, da 
vida cotidiana. 
 
 
Fonte: Rulli (2005). 
 
 
Por esses e outros motivos, não podemos discutir ética sem antes 
entender a lógica de funcionamento da sociedade em que vivemos. 
 
Estudamos ética e sociedade, justamente, porque a sociedade determina valores, 
princípios, normas e regras de sobrevivência e convivência. 
 
Uma reflexão ética precisa entender as concepções de homem e de sociedade; em 
cada período histórico, há uma ideologia vigente que norteia o comportamento dos 
indivíduos, por isso a ética fundamenta-se em uma análise filosófica e sociológica. 
 
Na sociedade medieval, o comportamento das pessoas estava pautado em bases 
religiosas. O medo e a concepção de pecado eram fundamentados na idéia de que 
Deus estava sempre vigiando as atitudes humanas. As pessoas temiam ir além dos 
limites impostos pelas regras sociais. O bem e o mal, Deus e o demônio estavam 
sempre presentes no imaginário das pessoas. 
 
Outra importante característica da sociedade medieval era a ligação entre poder 
terreno e divino. As pessoas acreditavam que o Rei ou Imperador possuíam ligação 
direta com Deus, por isso o respeito e a obediência aos governantes eram algo 
incontestável. 
Você percebeu que o limite e a obediência foram fatores que marcaram a sociedade 
medieval? Isso acabava determinando comportamentos e atitudes das pessoas. 
 
 
 
 
 
E a sociedade moderna, que tipo de transformação ela traz? 
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Ética e Sociedade 
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A primeira grande transformação é que a religião perde espaço e o homem passa, 
lentamente, a assumir o lugar de Deus. No período medieval, as pessoas 
acreditavam que o Paraíso, a plenitude da felicidade, viria após a morte e que nesta 
vida deveriam suportar as privações e o sacrifício. O advento da modernidade faz 
com que a razão
humana passe a ocupar o lugar da fé e da crença em Deus. Outra 
grande transformação da sociedade moderna é a perda do limite e a busca pelo 
infinito, tanto do conhecimento quanto do lucro. A Igreja, que no período medieval 
atuava como inibidora de atitudes, vai perdendo espaço na sociedade moderna. 
 
Enfim, como percebemos, a sociedade está em constante transformação, alterando 
seus valores, crenças, concepções de certo e errado e, conseqüentemente, a moral e 
a ética. 
 
A universidade busca formar pessoas e está inserida em uma sociedade, por isso 
surge o desafio: que modelos de ser humano e de profissional estão presentes em 
nossa sociedade? Quais os valores morais e éticos de nossa sociedade? Quais atitudes 
são fundamentais em um profissional que atua na sociedade do século XXI? 
 
Essa é a razão (e, como você percebeu, são muitas) de estudarmos ética e sociedade 
na universidade. 
 
 
 
 
 
SEÇÃO 3 
Ética e sociedade na universidade 
 
Na seção anterior, procuramos esclarecer que não é possível estudar a ética 
desvinculada da sociedade. 
 
Por que estudar ética e sociedade na universidade? O que isso 
tem a ver com minha profissão? 
 
 
 
Muitos cientistas do século XIX acreditavam que a ciência deveria aprimorar seus 
inventos e descobertas, apenas debruçar-se sobre seu campo específico do saber 
para evoluir a partir de suas próprias pesquisas. 
 
Sabe qual foi o resultado disso? 
 
O lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, a morte de milhares de 
judeus em campos de concentração, a dizimação de tribos africanas e indígenas, a 
degradação ambiental quase irreversível, a desigualdade de renda, a exclusão social. 
 
O conhecimento científico que não traz a ética para dentro de sua área específica 
corre o risco de desenvolver sérios prejuízos à sociedade e a todo o planeta Terra. 
Os acontecimentos citados tiveram como causa principal a crença de que a ciência 
possui poderes absolutos e é sempre fonte de verdade e certeza. 
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 A importância da ética na sociedade 
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A produção do conhecimento, em qualquer área, precisa discutir e refletir sobre a 
relação do conhecimento com a realidade, com a sociedade. O profissional, 
professor ou aluno, deve sempre levantar questões sobre a sua área de 
conhecimento: para quem se destina esse conhecimento? Qual a sua finalidade? 
Quem pode ser beneficiado ou prejudicado com a sua aplicação? Por que estamos 
realizando pesquisas e descobertas nessa área? 
 
Essas questões são necessárias, pois discutem a finalidade do conhecimento e sua 
relação com a sociedade, com as pessoas, com o presente e o futuro da sociedade. 
 
 O conhecimento pode ser utilizado tanto para o benefício 
quanto para o malefício da sociedade. De acordo com a forma com 
que empregarmos o conhecimento aprendido na universidade, 
poderemos ser ótimos ou péssimos profissionais. O que nos 
conferirá excelência profissional na nossa área, além dos 
conhecimentos técnicos, é o modo como utilizaremos esses 
conhecimentos. 
 
 
 
A universidade precisa buscar respostas para os desafios do século XXI, tão 
complexos que um campo do conhecimento não pode alcançá-los sozinho, por isso 
da necessidade de abertura e diálogo, de rever posturas profissionais e acadêmicas 
que no século XX eram tidas como verdadeiras. 
 
Mas quais são os desafios? 
 
A fome, a miséria, novas doenças... 
 
Esses desafios globais que afetam nossa realidade local não podem ser enfrentados e 
resolvidos por uma única ciência, possuem grande dimensão socioeconômica, 
ambiental, política; portanto o profissional do século XXI precisa dialogar com outras 
áreas do conhecimento. Precisa, assim, reconhecer a importância do outro, do 
outro-profissional, do outro-ciência. 
 
Os desafios do terceiro milênio possuem alto grau de complexidade, de inter- 
relações e interdependências. O profissional da Economia não consegue, sozinho, 
resolver o problema da fome; o profissional da Educação não consegue educar 
sozinho; o profissional da Saúde não consegue, sozinho, garantir saúde a todos; o 
profissional do Direito não consegue, somente por meio da lei, criar uma sociedade 
justa e organizada; o profissional de Engenharia precisa discutir as finalidades de 
sua técnica numa perspectiva humana e social. Nenhum desses profissionais 
consegue, sozinho, resolver todos esses problemas. 
 
Em razão de um período acentuado de especialização, a ciência acabou se fechando 
no seu objeto de conhecimento e perdendo um pouco a relação com a sociedade e 
com outras áreas do saber. É muito comum encontrarmos algumas ciências 
considerando-se superiores a outras, ou profissionais que se fecham ao diálogo com 
outros profissionais por considerá-los inferiores ou pouco relevantes. 
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Ética e Sociedade 
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Assim, a ética nos convida a reconhecer a importância do diálogo e da consciência 
do inacabamento, porque nunca estamos prontos, sempre precisamos aprender com 
o outro diferente. 
 
Auto-avaliação 1 
 
1 Qual a importância da ética no meio em que você vive? Como a ética pode 
contribuir para a melhoria desse lugar, desse ambiente? 
 
 
 
 
 
 
 
2 A ética surge no momento em que aparece o outro. Por que o outro é o centro da 
ética? Assinale V para as alternativas corretas e F para as incorretas: 
 
( ) Porque o outro é aquele que nos julga se agimos corretamente ou não. 
 
( ) Porque é somente quando estamos diante do outro que podemos ser ou não 
considerados éticos. 
 
( ) Porque o outro sempre é nossa referência de certo ou errado. 
 
( ) Porque diante do outro sempre precisamos tomar uma atitude, podemos nos 
fechar a ele, abrir-nos ou negá-lo, ou seja, essa relação é que será ou não 
ética. 
 
RESUMINDO 
 
 
Nesta unidade, refletimos sobre a dimensão social de nossa vida. Em uma sociedade 
marcada pelo individualismo, antes de definir o que é ética e moral, precisamos 
reconhecer a importância e a presença do outro na nossa vida, precisamos 
reconhecer nossa interdependência. Nessa interdependência, vamos construindo e 
definindo nosso ser moral, nossa forma de nos relacionar com o outro. De acordo 
com nossas preferências, vamos incluindo e excluindo pessoas de nosso convívio. 
Definimos nosso círculo de amigos e pessoas indesejáveis a partir de nossos critérios 
do que seja uma pessoa boa e ruim, assim determinamos nossos valores morais. 
Cada sociedade define e determina alguns valores e crenças, e isso influencia muito 
a forma como as pessoas vivem em sociedade. 
 
Na universidade, precisamos incluir a ética na produção e construção do 
conhecimento. Um conhecimento sem ética pode tornar-se prejudicial à sociedade, 
assim como um profissional sem ética pode não ser considerado bom, por mais 
conhecimento técnico que possua. 
 
A próxima unidade nos ajudará a compreender melhor a relação entre a ética e a 
sociedade e como ocorre a construção dos valores morais. 
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Unidade 2 
Ética, moral e cultura 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao final desta unidade, você terá condições de: 
 
compreender o que é ética e o que é moral; 
 
diferenciar ética e moral; 
 
identificar os elementos que unificam as categorias ética, moral e cultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: Ética e moral 
 
Seção 2: A cultura, a moral e a violência 
 
Seção 3: Preconceito e discriminação:
violência contra o outro diferente 
 
Seção 4: Os valores morais e a liberdade de consciência 
Ética e Sociedade 
22 
 
 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
 
 
Nesta unidade, você vai saber como a nossa educação cultural contribui ou não para 
sermos mais éticos, como somos educados na relação com o outro, principalmente 
com o outro de cultura diferente. 
 
Para compreender a importância do outro e o modo como a cultura determina essa 
relação, vamos fazer uma reflexão sobre a moral, a forma de os indivíduos 
conceberem o certo e o errado numa determinada cultura e num determinado 
tempo, e sobre a filosofia, que é o berço da ética. 
 
Vamos lá?! 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
Ética e moral 
 
Quando nos deparamos com as palavras ética e moral, o que nos vem à mente são 
questões relativas ao comportamento humano: é certo ou errado fazer isso? 
 
Dizemos que uma pessoa é ética porque ela agiu com respeito ao outro ou a algo 
além de si mesma. Se uma pessoa faz uma boa refeição e sente-se satisfeita, você 
não dirá que foi ou não ética, mas se comeu de forma abusiva, deixando quem 
estava ao seu lado com fome, então poderíamos dizer que ela não foi ética. Por isso, 
iniciamos nossa apostila sobre ética falando da presença do outro em nossa vida, 
assim vamos compreendendo o que estuda a ética e qual sua importância para a 
nossa vida e a nossa comunidade. 
 
Os seres humanos não nascem geneticamente pré-programados; diferentes de outros 
animais, os seres humanos são inacabados e não-determinados pela natureza, 
tampouco delimitados pelo destino ou por Deus(es). Se fosse assim, agiriam por 
instinto e não refletiriam sobre suas ações. Por isso, cada um, ou cada grupo social, 
cria respostas e soluções diferentes para perguntas e problemas semelhantes. O ser 
humano deve, portanto, construir ou conquistar o seu ser; ele não nasce pronto, ele 
se faz ser humano, torna-se pessoa. 
 
 
 
 
 
Mas, por que devemos compreender a ética na relação com a 
moral e a cultura? 
 
 
 
Porque, geralmente, o que direciona as ações e comportamentos individuais, ou 
seja, o que condiciona as decisões do indivíduo provém da cultura e da moral. Há 
uma forte influência da cultura nas nossas escolhas e decisões. 
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 Ética, moral e cultura 
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Quando nós, brasileiros, estamos com fome, podemos pensar na possibilidade de 
matar um boi e fazer um bife suculento. Já os indianos (hindus) jamais pensarão 
nessa possibilidade para saciar a sua fome, pois, em sua grande maioria, são 
vegetarianos. 
 
Esse exemplo nos ajuda a entender que as nossas escolhas e decisões são 
determinadas pela cultura em que vivemos, que estabelece normas, regras e valores 
morais. 
 
A ética é o estudo e a reflexão sobre os valores morais, que se modificam em cada 
cultura e em cada época. As noções de certo e errado, o que devemos ou não fazer, 
são construídas na cultura em que nascemos. Você pode perceber que as questões 
culturais influenciam o modo como as pessoas organizam sua vida, e a cultura é o 
ponto de partida para o estudo da ética. 
 
 
 
 
 
Mas, afinal, o que é ética? 
 
Podemos considerar a ética como a ciência do comportamento moral dos homens 
na sociedade; ainda que o objeto da ética é a moral, e a moral é um dos aspectos 
do comportamento humano. No nosso dia-a-dia, não fazemos distinção entre ética e 
moral, usamos as duas palavras como sinônimos, mas, ao contrário do que pensa o 
senso comum, ética e moral não são a mesma coisa; é o que veremos agora. 
 
A ética busca analisar o conjunto de práticas morais ligadas ao costume e à cultura, 
em um determinado tempo e espaço. De acordo com Leonardo Boff (2003b), a 
ética é parte da filosofia; estuda as concepções de mundo, os princípios e valores 
que orientam pessoas e sociedades. 
 
A moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, 
valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é 
normativa (relativo a normas); é parte da vida concreta, da prática real das pessoas, 
que se expressam por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral 
quando age em conformidade com os costumes e valores estabelecidos, que podem 
ser, eventualmente, questionados pela ética. 
 
Uma pessoa pode ser moral, mas não ser ética? 
 
Segundo Boff (2003b), a moral refere-se aos costumes, à educação que recebemos 
da família, aos valores da religião, da tradição. Esses valores forma o caráter e 
molda a dimensão ética do indivíduo, que passa a acreditar que são valores 
universais (éticos) os valores que ele aprendeu em casa, que está acostumado a 
praticar (morais). 
 
Se um filho é tratado em casa como o centro da família, nunca recebe um “não”, 
nunca é repreendido, os pais fazem tudo o que ele quer, compram o que pede, ele 
vai formando seu caráter e seus valores de acordo com essa relação. Como a família 
é o primeiro espaço de socialização, o filho vai aprender a se relacionar com os 
outros da escola como se comportava em casa. Ele vai acreditar que tudo o que 
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Ética e Sociedade 
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quer tem direito a receber, que onde estiver deve ser tratado como o mais 
importante; provavelmente terá dificuldade de aceitar uma idéia contrária à sua. 
 
Para Boff (2003b), as pessoas serão éticas se tiverem adquirido uma boa moral, ou 
seja, terão um caráter ético se no seu ambiente cultural, familiar mais próximo, 
tiverem aprendido valores universais, de respeito ao outro, de diálogo. De acordo 
com o exemplo, o filho aprendeu que pode impor sua vontade aos outros, pode 
pedir, fazer o que quiser, e isso não será errado. Assim, ele terá um caráter ético 
próprio que não estará de acordo com uma ética universal. 
 
Na sociedade atual, as pessoas estão acostumadas com a desigualdade, com a 
pobreza e com a miséria, mas isso é ético? A palavra ethos, da qual se originou a 
palavra ética, precisa ser entendida como o lugar onde vivemos, que é o planeta 
Terra, e não apenas nossa casa, nossos amigos, nosso trabalho, nossos ideais. 
Pensar eticamente nos coloca além de nossa realidade particular, que tem sua moral, 
seus costumes, por isso a ética exige uma atitude reflexiva, profunda, investigativa e 
interligada. 
 
Segundo Boff (2003b), a ética e a moral vigente hoje é a capitalista, cuja ética diz: 
bom é o que permite acumular mais com menos investimento e em menos tempo 
possível; e cuja moral concreta reza: empregar menos gente possível, pagar menos 
salários e impostos e explorar melhor a natureza. Eis a razão da grave crise atual. 
 
 
 
 
A moral é particularista, identificada e vinculada com grupos 
religiosos, nacionalistas, políticos, classistas; com normas e 
sanções que mudam de acordo com as transformações da 
sociedade. A ética tem conteúdo universal, parte do princípio da 
igualdade dos seres humanos e de seus direitos à paz, ao bem- 
estar, à felicidade individual e coletiva; relaciona-se com os valores 
reais da existência humana. 
 
 
Salientamos essa diferença com a citação de Rodrigues e Souza (1994, p. 13): "A 
ética é muito mais ampla, geral e universal do que a moral. A ética tem a ver com 
princípios mais abrangentes, enquanto a moral se refere mais a determinados 
campos da conduta humana." Entre moral e ética há uma tensão permanente: a 
ação moral busca justificar seus valores em fundamentos ligados à natureza
humana, 
à ciência e à religião, enquanto a ética exerce vigilância crítica sobre os fundamentos 
da moral para transformar a vida cotidiana. 
 
Você já consegue entender a relação entre ética e moral? 
Na próxima seção, vamos compreender como os costumes, os 
valores, as tradições e o cotidiano podem legitimar ações 
antiéticas. 
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 Ética, moral e cultura 
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SEÇÃO 2 
A cultura, a moral e a violência 
 
Você deve estar se perguntando: por que a cultura seria o ponto 
de partida para estudar ética? 
 
 
 
Há duas razões fundamentais para essa argumentação: 
 
 a cultura é um produto da história coletiva dos diferentes grupos sociais; 
 
 a cultura contém componentes simbólicos que contemplam formas de agir, 
pensar, sentir e reagir em um determinado espaço, onde cada um desses 
elementos traz em si um apelo especial pela realidade ética. 
 
 
 
A cultura é o espaço em que se formam nossas concepções de certo e errado, ou 
seja, nossos valores morais. Se observarmos a história da humanidade, desde que o 
homem de vivia em conjunto com outros homens, as normas de comportamento 
moral têm sido necessárias para o bem-estar do grupo. Percebemos que cultura e 
moral são inseparáveis. 
Um dos objetivos de falarmos sobre cultura é porque ela conserva e legitima padrões 
de comportamento que são questionados e estudados pela ética. 
 
 
 
 
 
Será que determinadas culturas e costumes não contribuem 
para que os seres humanos sejam violentados? Por que algumas 
pessoas aceitam ser inferiorizadas, exploradas e outras acreditam 
que isso é normal? Que reflexões éticas podemos fazer sobre a 
aceitação da violência? 
 
 
 
Em nossa cultura, a violência é entendida como o uso da força física e do 
constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua 
natureza e ao seu ser. Então nos perguntamos: que relação existe entre cultura e 
violência? Costumes e violência? 
 
O termo violência nos remete a algo que foge à normalidade, ao eventual, a um 
acidente, enfim, a algo que não estamos acostumados a ver. Esta seção convida 
você a perceber com mais atenção o cotidiano. Como a palavra moral também 
significa costume, muitas vezes estamos tão acostumados com essa realidade que 
nem mais percebemos se há algo de errado com ela. Você já deve ter ouvido a 
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expressão “águas calmas não representam ausência de perigo.” Com o cotidiano é a 
mesma coisa; superficialmente, tudo parece estar dentro da normalidade, mas se 
analisamos com mais profundidade, percebemos que existem turbulências 
profundas. 
 
A ética surge na história com a preocupação de conter a violência entre as 
pessoas; cabe a nós, ao falarmos em ética, aprofundar o conceito de violência e 
percebê-la no cotidiano dos nossos costumes e da nossa cultura. 
 
Há situações nas quais não existe violência física, mas outro tipo de violência, de 
natureza psicológica. Quando, mesmo sem usar o chicote ou a palmatória, o pai ou 
o professor exigem o comportamento desejado, doutrinando as crianças, impondo 
valores e dobrando-as para a obediência cega e aceitação passiva da autoridade, 
existe violência simbólica, já que a força que exercem é de natureza psicológica e 
atua sobre a consciência, exigindo a adesão irrefletida que só aparentemente é 
voluntária (ARANHA, 1992, p. 171-172). 
 
Como seres sociais, vivenciamos e buscamos a felicidade em grupo. Para atingir 
determinados objetivos, agrupamo-nos em instituições. Para sobreviver e buscar 
proteção, vivemos em um grupo, a família. Preparando-nos para a vida adulta, 
entramos na escola, participamos de um grupo religioso, uma Igreja. Como vivemos 
em uma sociedade organizada com um Estado de direito, pagamos impostos para 
usufruir de serviços públicos, de saúde, por exemplo. Quem de nós nunca precisou 
ou precisará de um hospital? Quando nos profissionalizamos, entramos no mundo 
do trabalho, que também ocorre, na maior parte das vezes, de forma 
institucionalizada. A empresa, uma organização, as leis trabalhistas, a relação patrão- 
empregado-economia constituem o cotidiano do trabalho. 
 
 
 
 
 
Como essas diferentes organizações que compõem nosso 
cotidiano se tornam antiéticas? Como as diferentes instituições 
transformam o ser humano de sujeito em objeto? Que tipo de 
violação pode acontecer contra o ser humano nessas instituições? 
 
 
 
A ética faz parte do nosso cotidiano, nossa vida familiar, educacional, profissional, 
etc. Vamos refletir sobre a presença da violência na nossa sociedade em alguns 
espaços do nosso cotidiano: família, educação, trabalho, saúde pública. 
 
 
 
FAMÍLIA 
 
Se você já precisou sair de casa, está estudando fora ou morando distante da 
família, deve sentir muita saudade e falta de um aconchego; a família é vista como 
um lugar e espaço do bem, mas você sabe que não precisamos ir muito longe para 
nos defrontar com problemas de violência familiar: pais que espancam filhos e, 
ainda mais grave, cometem abusos sexuais contra eles, problemas de alcoolismo, 
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 Ética, moral e cultura 
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drogas, desemprego, todos esses fatores desencadeiam processos de violência. A 
reflexão sobre a violência traz consigo a necessidade de discutirmos as relações de 
poder. Há abuso de poder quando uma pessoa reduz a outra à condição de objeto – 
assim se concretiza a violência. 
 
Além dessas formas de violência explícita, procure refletir sobre a violência velada, 
como as relações de poder entre os membros da família que, aparentemente 
consideramos dentro da normalidade, próprias do cotidiano, entretanto são formas 
de violência. 
 
Uma mulher, dona-de-casa, acorda cedo, limpa a casa, leva os filhos à escola, lava a 
roupa de todos (filhos, marido), prepara o almoço. À tarde, costura, lava e passa. À 
noite, o esposo chega em casa, tira o sapato, deita no sofá, solicita o jantar e ainda 
reclama do atraso e do barulho. Os filhos chegam da rua, jogam a roupa e os 
calçados pelo chão, sujam a cozinha. A mulher prepara o jantar, lava a louça, ajuda 
o filho a fazer a lição de casa, leva roupa e toalha de banho ao marido que, depois, 
descansado, prepara-se para deitar. Quando ele deita, a mulher ainda prepara os 
alimentos para o almoço do outro dia, sem ter sentado um minuto sequer. Contudo, 
se perguntassem aos filhos e ao marido se ela trabalha, eles certamente poderiam 
dizer que não, entendendo que o trabalho de casa não pode ser considerado como 
tal. 
 
 
 
 
 
Quais questionamentos éticos poderíamos fazer sobre essa 
família? Quem é tratado como objeto? Quem exerce poder sobre o 
outro? Como a violência faz parte do cotidiano, da normalidade e 
do costume? 
 
 
 
Você lembra que iniciamos nossos estudos falando sobre a reflexão ética? Pois bem, 
ela surge para questionarmos a moral, os costumes, mas estes estão no nosso dia-a- 
dia, e o que é considerado normal pela tradição e pela cultura pode ser fonte de 
violência contra as pessoas, ações antiéticas presentes na moral familiar. A família, 
no mundo ocidental, é essencialmente patriarcal e, por conseguinte, essa estrutura 
tem grande possibilidade de se tornar machista. Os papéis sociais, definidos desde 
cedo, contribuem para que algumas pessoas se tornem submissas às outras na 
estrutura familiar, como acontece com a menina que faz os serviços
domésticos em 
relação ao menino que tem mais liberdade para buscar uma profissão; assim, as 
relações de poder têm continuidade. 
 
 
 
Vamos, agora, a outro cotidiano no qual passamos grande parte de 
nossa vida: a escola, a universidade. 
Na cultura 
ocidental 
patriarcal, o 
pai é o chefe 
de família. 
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Ética e Sociedade 
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EDUCAÇÃO 
 
No Brasil, no início do século XX, era considerado normal professores baterem em 
alunos, aplicarem castigos, enfim, a violência na escola era explícita; uma ação que 
também refletia a moral familiar da época. Para as provas, o aluno precisava decorar 
todo o conteúdo e responder de forma idêntica ao professor. Essa metodologia 
expressava que o mais importante era o conteúdo. Se o aluno interpretasse, 
traduzisse o conteúdo com suas palavras, a resposta era considerada errada. O 
aluno não podia fazer perguntas, era um meio de passagem entre a lousa e a folha 
da prova, era um objeto. 
 
Precisamos, portanto, entender as formas de violência na transmissão do 
conhecimento. Quantas vezes o conhecimento científico e a figura do professor são 
colocados pela escola como algo superior ao aluno? 
 
Outra forma de violência existente na escola é a reprodução da exclusão. Filhos de 
famílias ricas têm maiores chances de prosperar na vida acadêmica do que os de 
classe menos favorecida. Muitas crianças, para ajudar a sustentar a casa, acabam 
deixando a escola, enquanto muitas outras, além de freqüentar a escola regular, têm 
condições de fazer cursos paralelos. 
 
Essa forma de violência, sofrida no âmbito educacional, muitas vezes é obscurecida 
pelo simples argumento de que alguns aproveitaram as oportunidades e outros não; 
uma lógica de pensamento que busca naturalizar o processo de exclusão social. 
 
 
 
 
 
Para enriquecer essa discussão, assista ao filme Sociedade 
dos Poetas Mortos. 
 
 
 
O filme aborda o conflito entre a postura do professor e a escola. 
Um carismático professor de literatura chega a um colégio muito conservador, 
onde revoluciona os métodos de ensino ao propor que seus alunos aprendam 
a pensar por si mesmos. 
 
 Fique atento, estamos construindo nossas reflexões dentro de 
uma relação entre a violência e o cotidiano. 
 
Outro espaço de convivência é o local onde exercemos nossa 
profissão, em que as relações interpessoais se tornam mais 
intensas e competitivas. 
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TRABALHO 
 
Vamos analisar como as relações de poder se transformam em relações de violência 
no trabalho. É necessário situar o trabalho dentro de uma sociedade e de um 
determinado tempo, por isso nos deteremos à sociedade capitalista do século XX. Já 
que estamos falando do cotidiano, vamos partir de expressões do senso comum que 
expressam de que maneira o ser humano é tratado como objeto no mundo do 
trabalho. 
 
Já ouvimos que “algumas pessoas nasceram para mandar e outras, para obedecer.” 
Essa afirmação é muito reproduzida; foi feita, inicialmente, pelo filósofo Aristóteles. 
Segundo ele, “[...] uns homens são livres e outros, escravos por natureza, e que esta 
distinção é justa por natureza.” (VASQUEZ, 1990, p. 31). Na época de Aristóteles, 
ninguém julgava antiético uma pessoa escravizar a outra; hoje, esse pensamento não 
é diferente. Se uma pessoa precisa se submeter a horas de trabalho sem um salário 
digno, muitos poderiam afirmar que foi predestinada e que é uma realidade social à 
qual precisa se submeter. 
 
Outra realidade do mundo do trabalho é a “ditadura do desemprego”; muitas vezes, 
quando um colaborador procura por melhorias salariais, tem como resposta que 
precisa aceitar essa realidade, pois há uma fila de pessoas esperando por sua vaga. 
À medida que vamos considerando isso algo normal, aceitamos uma forma de 
violência contra o ser humano. Muitos direitos trabalhistas são cortados em função 
de uma realidade maior e global, que se impõe sobre as pessoas. 
 
Outra forma de violação à liberdade do ser humano é a escolha da profissão: muitos 
submetem o seu desejo, sua empatia por alguma área à realidade do mercado de 
trabalho e, assim, tornam-se objetos de um sistema maior. 
 
Também é muito comum o conflito entre colegas de trabalho na busca pela 
promoção profissional, no qual os interesses particulares se chocam com o outro. 
 
 
 
É impossível responsabilizar uma única pessoa por essa realidade, nosso objetivo é 
evidenciar as formas de violência, muitas vezes tidas como algo normal do cotidiano. 
 
 
 
 
 
Vamos, agora, a outro cotidiano, a instituição que cuida de 
nossa saúde. 
 
 
SAÚDE PÚBLICA 
 
Quem já esteve doente sabe que é um momento em que nos sentimos fragilizados e 
carentes de atenção e cuidado. Por outro lado, é uma situação em que, com muita 
freqüência, somos tratados como objetos. A falência do sistema público, aliada às 
relações de poder, provoca um descaso contra o ser humano. As pessoas se 
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acostumam a essa realidade e não percebem mais como são violentadas nessas 
instituições. 
 
Há algum tempo, uma reportagem comprovou o fato de que as pessoas não 
percebem mais determinadas ações como uma forma de violência: após 
permanecer das 4h às 9h da manhã em uma fila para ser atendido em um hospital, 
um indivíduo, não tendo conseguido a sua vaga, declarou que estava acostumado 
com isso e que voltaria no dia seguinte. Esses fatos vão se cristalizando como uma 
cultura do descaso público, tornam-se costume e não são mais questionados. Aqui 
reside o papel da ética: identificar e perceber a violência velada nos costumes e na 
moral das instituições, nesse caso, a saúde pública. 
 
Todas as instituições exercem, de uma forma ou de outra, violência contra o 
indivíduo; cabe a você considerar e perceber a importância dessas reflexões em 
qualquer projeto profissional. 
 
 
 
 
 
 
Você percebeu que estamos trabalhando com vários 
conceitos? Se você não conseguiu compreender a relação entre 
ética, moral e cultura, retome seus estudos nas seções anteriores 
ou procure seu professor tutor. 
 
 
 
 
SEÇÃO 3 
Preconceito e discriminação: violência contra o outro 
diferente 
 
Nossa formação cultural acontece a partir de modelos, de princípios certos e errados, 
comportamentos morais e imorais. Vamos nos deter, especificamente, ao fato de 
considerarmos o outro errado, imoral, por ser diferente, por fugir aos nossos 
padrões culturais. Isso está relacionado à ética por dois motivos: primeiro, por não 
considerarmos o outro diferente em sua especificidade; segundo, como 
conseqüência, por não refletirmos sobre o que pensamos a respeito do outro. 
 
 
 
 
 
A ética é uma reflexão crítica sobre nossas formas de 
perceber o outro e agir sobre ele. Assim, fechamo-nos à ética 
quando nos fechamos à autocrítica sobre o que e como pensamos a 
respeito do outro. 
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 Ética, moral e cultura 
 
Para Aranha (1992, p. 181), preconceito (pré-conceito) significa conceito (ou 
opinião) formado antecipadamente, sem adequado conhecimento dos fatos. O 
perigo do preconceito está na recusa em reexaminarmos as convicções quando se 
tornam dogmáticas. Nesse ponto, o preconceito é fonte de intolerância e, 
portanto, de violência. O preconceito leva à discriminação, quando o diferente é 
considerado inferior, excluído dos privilégios de que os melhores desfrutam. 
 
Os antropólogos nos alertam que,
ao analisarmos os costumes de outros povos, 
convém não os avaliar a partir de nossos valores culturais, o que significaria uma 
atitude etnocêntrica. Quando isso acontece, corremos o risco de procurar neles o 
que lhes falta e esquecer de ver com clareza o que são de fato. 
 
Da mesma forma, dentro de cada cultura, há preconceitos que levam à 
discriminação dos pobres, negros, homossexuais, mulheres, idosos e tantos outros. 
 
 Um exemplo de preconceito cultural é o dos colonizadores 
europeus, que consideravam os povos tribais inferiores não como 
uma cultura diferente, mas sim de menor importância. Aqui, surge 
a legitimidade de muitos atos violentos contra povos indefesos. 
Sabemos que a população indígena brasileira foi praticamente 
exterminada pelos brancos. 
 
 
 
Conforme Aranha (1992, p. 182), a origem da discriminação, de raça ou de sexo, 
geralmente é conseqüência da desigualdade social. Desde a antiguidade grega, em 
toda a história do mundo ocidental, o poder é branco, masculino e adulto. 
 
O Brasil tem uma longa tradição histórica de rígidas hierarquias sociais – uma 
sociedade marcada pelo poder de elites (senhores de engenho, barões do café, 
coronéis-fazendeiros). Apesar de a sociedade brasileira apresentar grandes 
desigualdades sociais, há uma camuflagem do preconceito por meio do mito da 
democracia racial; uma idéia de que todos são iguais e que no Brasil as pessoas 
sabem conviver entre negros e brancos e entre ricos e pobres. Quando 
aprofundamos o assunto, percebemos que isso não é verdade, que existe 
preconceito e discriminação, principalmente com negros, índios e migrantes. 
 
 
 
O ÍNDIO, O NEGRO E O MIGRANTE 
 
Quando os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil, o processo de cristianização dos 
índios por eles empreendido facilitou a política de dominação de Portugal. Mesmo 
não sendo essa a intenção dos religiosos, imbuídos de ardor religioso, eles estavam 
convencidos da superioridade de sua cultura e religião. Ao docilizarem os índios, 
adequando-os a padrões estranhos, deram início à desintegração da cultura 
indígena. 
 
Dogmática: 
que se 
apresenta com 
caráter de 
certeza 
absoluta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Etnocêntrica: que 
tem a tendência 
de considerar a 
cultura de seu 
próprio povo a 
medida para 
todas as demais. 
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Ética e Sociedade 
 
 
 
 
Assim como a inferiorização do índio, a origem do preconceito contra o negro 
encontra-se na tradição da escravidão. Os senhores acalmaram a consciência com a 
convicção de que o negro era semi-animal, bruto e rebelde, e exigia pulso forte por 
parte do dominador. Por resistir ao trabalho escravo, o negro passa a ser avaliado 
por meio de estereótipos: é indolente, malandro, cachaceiro. A dominação é 
justificada por considerar o negro inferior. 
 
Estereótipos: 
que são vistos 
todos de um 
mesmo modo 
de ser. 
 
 
 
 
 
Sabemos que o racismo é muito presente em nossa cultura. A 
reflexão ética nos convida a analisar como o racismo está 
fundamentado na ignorância e na falta de racionalidade crítica. 
 
 
 
O preconceito e a discriminação não atingem apenas o índio e o negro, vítimas do 
estigma da escravidão. Em um país como o Brasil, com irregular desenvolvimento 
nas diversas regiões, o Sul e o Sudeste constituem o espaço do progresso e da 
riqueza, onde se instalam as indústrias. Por motivos histórico-sociais, amplas regiões 
permanecem empobrecidas, além de serem assoladas pela seca. Essa situação 
obriga as pessoas a migrarem; com a esperança de dias melhores, vêm para os 
grandes centros, ocupam funções subalternas, enfrentam o desemprego e outras 
dificuldades, sofrendo preconceitos. As regiões mais ricas acabam aproveitando a 
mão-de-obra barata e discriminando essas pessoas. 
 
 Ainda é vigente no Brasil a mentalidade de que existem 
estados e culturas mais importantes do que outras. Esse 
pensamento é mais uma forma de exercer violência sobre o outro; 
confunde o diferente com o errado ou inferior. 
 
Na próxima seção, vamos compreender como a cultura e a moral 
nos impedem de ser éticos. 
 
 
 
 
SEÇÃO 4 
Os valores morais e a liberdade de consciência 
 
Estamos falando de cultura; sabemos que os valores morais são construídos e 
legitimados nela, na relação que temos com a nossa família e com a comunidade 
desde que nascemos. 
 
Por que falarmos em liberdade? Porque a liberdade de consciência é elemento 
fundamental para o agir ético; somente quando tomamos consciência de nossas 
ações é que podemos refletir sobre elas. 
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 Ética, moral e cultura 
 
Ainda podemos nos perguntar: o que têm a ver os valores 
morais com a liberdade? 
 
 
 
Acreditamos que os valores (concepções de certo e errado) que aprendemos em 
casa são as melhores coisas que trazemos conosco, são os pilares de nossa conduta e 
de nossas ações. Chauí (2003, p. 311) afirma que nossos sentimentos, nossas 
condutas, nossas ações e nossos comportamentos são modelados pelas condições 
em que vivemos (família, classe e grupo social, escola, religião, trabalho, 
circunstâncias políticas, etc.). Somos formados pelos costumes de nossa sociedade, 
que nos educam para respeitar e reproduzir os valores propostos por ela como bons 
e, portanto, com obrigações e deveres. Desse modo, valores e maneiras parecem 
existir por si e em si mesmos, parecem ser naturais e atemporais, fatos ou dados com 
os quais nos relacionamos desde o nosso nascimento: somos recompensados 
quando os seguimos, punidos quando os transgredimos. 
 
Sócrates, filósofo grego de Atenas, levava os jovens a questionar aquilo em que 
acreditavam e que repetiam, a questionar os próprios valores. Foi um dos primeiros 
filósofos a estimular o questionamento ético, porque provocava uma reflexão 
profunda sobre os valores. A grande contribuição do pensamento e da ação 
socrática foi no sentido de demonstrar que o que entendemos como valores (certo, 
errado, bonito, feio) é construído dentro de um contexto cultural, geográfico e num 
determinado tempo. Sócrates fazia as pessoas indagarem sobre a origem e a 
essência das virtudes (valores e obrigações) que julgavam praticar ao seguir os seus 
costumes. 
 
Portanto, não podemos afirmar que nossos valores sejam válidos para todos. 
Quando você não consegue perceber a particularidade dos seus valores, não 
conseguirá pensar além da sua cultura e da sua moral. Assim, seus valores morais 
limitam a sua liberdade de pensamento e reflexão. Muitas vezes, ouvimos a 
expressão: “a minha opinião é esta e não abro mão porque é a verdade!”; uma 
afirmação como essa demonstra que o sujeito não consegue refletir além de seus 
princípios morais, tirando-lhe a liberdade de reflexão. É o chamado 
fundamentalismo ou fanatismo: o indivíduo fica preso aos seus referenciais 
culturais de mundo. 
 
Em nossa vida, quando seguimos o que é dito como correto pela cultura da 
sociedade em que vivemos, achamos que estamos no caminho certo. Sócrates nos 
perguntaria: 
 
Você está seguindo esses valores conscientemente ou apenas 
para atender a um costume, para não sair da moda? 
 
Por que e como a moral, os costumes podem exercer algum tipo de 
violência contra o ser humano? 
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Ética e Sociedade 
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Como vimos, a moral e os costumes exercem algum tipo de violência quando surge 
o
racismo e o preconceito, mas também quando impedem e dificultam o indivíduo 
de refletir racionalmente, ou seja, ser de fato livre nos seus pensamentos. 
 
De acordo com Aranha (1992, p. 113), desde que nascemos enfrentamos o 
problema do determinismo cultural: ao nascer, o homem já se encontra em um 
mundo constituído, recebe como herança a moral, a religião, a organização social e 
política, a língua, enfim, os costumes, que não escolheu e que, de certa forma, 
determinam sua maneira de sentir e pensar. 
 
Quando não conseguimos perceber que muitos de nossos valores são válidos 
somente para nossa cultura e para nossa profissão, não estamos fazendo uso 
adequado de nossa liberdade. 
 
Auto-avaliação 2 
 
1 A partir de seu cotidiano cultural e social, cite outros exemplos de práticas 
silenciosas de violência praticadas e obscurecidas pelo costume e pela tradição. 
 
 
 
 
 
 
 
2 Como a cultura pode dificultar o processo de liberdade de pensamento, ou seja, 
como ela pode permitir o surgimento de um pensamento fundamentalista? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMINDO 
 
 
Nesta unidade, percebemos a importância da cultura para o estudo da ética, como 
nossos valores e visões de mundo são construídos no ambiente familiar e como o 
costume e a tradição podem abrigar formas de violência contra o indivíduo. A 
reflexão ética exige um constante processo de autocrítica, de revisão de concepções 
e dos valores morais. Essa reflexão torna-se fundamental para o crescimento ético; 
do contrário, caímos no fundamentalismo, escravizamos nossa capacidade de pensar 
livremente, nossas idéias ficam enquadradas em sistemas de pensamento 
construídos em uma cultura. 
 
Para a ética, é essencial de um olhar crítico sobre a realidade, por isso, na próxima 
unidade, buscaremos compreender a relação entre a filosofia e a ética, já que a 
filosofia tem como princípio a dúvida e a reflexão. 
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Unidade 3 
O pensamento filosófico e a ética 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao concluir a leitura desta unidade, você terá condições de: 
 
identificar os principais fundamentos teóricos da ética; 
 
compreender a ética como um ramo da filosofia; 
 
perceber a ética inserida na história da sociedade e do conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: A filosofia e a ética 
 
Seção 2: O surgimento da ética na filosofia 
Seção 3: O pensamento de Aristóteles e Marx 
Seção 4: Reflexão sobre a construção da moral 
Ética e Sociedade 
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PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
 
 
Nas unidades anteriores, percebemos a necessidade de refletir sobre nossas ações, 
pois nascemos em uma sociedade, estamos no mundo com outras pessoas, nossas 
ações ou omissões interferem no contexto social em que vivemos. Sempre que 
falamos: “estive refletindo sobre...”, “pensei muito sobre...”, “freqüentemente me 
pergunto se é correto...”, as pessoas ao nosso redor nos dizem: “já está 
filosofando...”. Precisamos, então, quando falamos em ética, andar pelo caminho da 
filosofia ou da reflexão do homem sobre seus atos, seu contexto, seu mundo e seus 
iguais. É por isso que, nesta unidade, falaremos da importância de compreender a 
ética a partir da filosofia. 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
A filosofia e a ética 
 
O que vem à sua mente quando você ouve a palavra filosofia? Por que falarmos de 
filosofia? Muitas vezes, o professor de filosofia é aquela pessoa que sempre faz 
reflexões profundas sobre um tema aparentemente simples. Por essa razão, numa 
sociedade marcada pelo utilitarismo e pela praticidade, a primeira acusação sobre a 
filosofia é de que ela é inútil. Entretanto, veremos adiante que, para 
compreendermos a ética, é fundamental refletirmos sobre a filosofia. 
 
Mas, por quê? 
 
A filosofia nasce na história trazendo a dúvida para o centro das discussões sobre a 
vida. A ética nada mais é do que a sistematização de grandes questionamentos sobre 
o agir humano e a relação entre os indivíduos. 
 
 
 
 
 
É correto fazer isso? Por que devo agir assim? Que lugar o 
outro ocupa nas minhas escolhas e decisões? Existe uma 
consciência ética que nasce conosco? Sabemos agir de forma ética 
naturalmente ou precisamos aprender? 
 
 
 
As questões éticas são, acima de tudo, questões filosóficas. Daí que, para 
construirmos uma reflexão ética, precisamos, antes de tudo, resgatar o papel e o 
conceito de filosofia. 
 
Chauí (2003, p. 23) discute a idéia de filosofia como a “[...] fundamentação teórica 
e crítica dos conhecimentos e das práticas.” 
 
Com isso, percebemos que a filosofia busca problematizar as práticas e os 
conhecimentos já estabelecidos. Em nossa educação, o conhecimento é transmitido 
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 O pensamento filosófico e a ética 
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por intermédio dos costumes e, por isso, não buscamos levantar dúvidas sobre ele, 
até porque todo mundo pensa igual, então acabamos nos acostumando com certas 
idéias e práticas. Para progredirmos eticamente, contudo, precisamos colocar em 
dúvida e em questão os nossos próprios costumes . 
 
Tendo como premissa a idéia da filosofia como base racional de análise do real, a 
definição de Chauí (2003) leva-nos a um caminho parecido com o que sugeriu 
Marx, ao afirmar que a filosofia ficou muito tempo refletindo e que deveria agir. 
Portanto, ela deve nos conduzir a uma ação que tenha reflexos imediatos na 
sociedade, interferindo diretamente nas ações dos seres humanos e nas suas relações 
com o mundo, com os outros e consigo mesmos. 
 
Assim, precisamos compreender que o conhecimento filosófico deve proporcionar 
uma reflexão sobre a vida concreta que nos leve a transformá-la para melhor. Essa 
foi a busca de muitos filósofos. Marx pode ser exemplo desse papel da filosofia na 
história. Ele questionava filosoficamente a desigualdade de classes, a dominação de 
umas pessoas por outras: é natural que existam ricos e pobres? Como superar o 
abismo existente entre patrões e empregados? Perceba, aqui, que a filosofia surge 
como um pensamento que provoca questionamento e problematização para uma 
transformação social. 
 
Dessa maneira, a importância do conhecimento filosófico é evidente para comprovar 
que a filosofia não é somente abstrata, como afirmam algumas teorias, mas possui 
interferência prática. Alguns teóricos ajudam a reforçar a idéia de que o 
conhecimento filosófico não é mera abstração. Platão concebia a filosofia como um 
saber a ser usado em benefício do homem; Descartes via na filosofia a possibilidade 
de se conhecer, conservar e inovar, quer nas artes, quer no mundo das técnicas. 
 
 
 
 
 
 
 
Platão. 
Para saber mais sobre o assunto, leia A República, de 
 
 
 
 
 
A filosofia assume, na história, uma função investigativa, crítica 
e problematizadora. 
 
 
 
Mas, o que isso tem a ver com a ética? 
 
Como já vimos, nem sempre costumamos refletir e buscar os porquês de nossas 
escolhas, comportamentos, valores; agimos por força do hábito, dos costumes e da 
tradição, tendendo a naturalizar nossa realidade social, política, econômica e 
cultural. 
 
É muito comum ouvirmos as expressões: “as coisas não mudam, sempre foi assim e 
sempre será”; “eu sou assim mesmo, é de minha natureza agir dessa forma.” Essas 
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Ética e Sociedade
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expressões refletem a naturalização da realidade humana e social, que acarreta uma 
considerável perda da capacidade de auto-reflexão e de problematização da 
sociedade e de nossos próprios pensamentos; perdemos nossa capacidade crítica 
diante da realidade. 
 
Você percebe como isso é muito grave? 
 
Em outras palavras, não costumamos fazer ética porque não fazemos crítica, nem 
buscamos compreender e problematizar a nossa realidade moral. Com isso, 
podemos compreender a íntima relação entre o descaso pela filosofia e, como 
conseqüência, o abandono da ética. Não é possível ser ético sem, antes de 
tudo, ser reflexivo e crítico. 
 
 
 
 
 
Temos uma experiência ética quando conseguimos perceber 
a diferença entre aquilo que é e o que poderia ser melhor. 
 
 
 
Quando percebemos que as coisas podem mudar, estamos vivendo uma experiência 
ética. 
 
Essa capacidade de questionar é a característica principal do pensamento filosófico. 
A filosofia, historicamente, fez forte oposição ao pensamento mítico e ao senso 
comum. 
 
Mas, em que se baseia o pensamento mítico? Nas crenças, na aceitação da realidade 
como algo definitivo e acabado. O senso comum também se caracteriza por essa 
adaptação do pensamento à realidade e a uma idéia comum. Podemos perceber 
que a vida em grupo e em comunidade influencia as ações, as atitudes e o 
pensamento das pessoas; a maioria dos indivíduos pensa e age de forma semelhante 
e até mecânica. Nesse agir e pensar é que se manifesta o senso comum, dificultando 
o pensamento crítico e investigativo. Em nossa cultura, de forte descendência 
européia, o racismo é muito comum, presente no cotidiano das pessoas, nas piadas, 
brincadeiras, de forma tão mecânica e consensuada (em que todos concordam) que 
dificilmente abre espaço para um “por quê?”. 
 
 
 
 
 
O que você pensa a respeito desse assunto? Você questiona 
sobre por que, para que e como tem determinadas atitudes, falas ou 
pensamentos? Quando conseguimos fazer isso, estamos refletindo 
sobre nossas ações e, conseqüentemente, preparando-nos para 
mudar nosso modo de agir. 
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 O pensamento filosófico e a ética 
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Dessa forma, percebemos que, para fazer uma reflexão ética, precisamos exercitar o 
pensamento filosófico, que nada mais é do que o pensamento crítico diante das 
idéias e costumes aceitos em nossa cultura. Na próxima seção, vamos compreender 
como acontece a relação entre ética e filosofia. 
 
 
 
 
SEÇÃO 2 
O surgimento da ética na filosofia 
 
Vários foram os filósofos que se preocuparam em entender e analisar as questões 
éticas. 
 
Sócrates foi um deles, conforme já mencionamos; foi um dos primeiros a fazer uma 
reflexão ética sobre os valores e as crenças das pessoas. Propôs a busca dos valores 
universais pela razão e a idéia de que já nascemos com o conhecimento dentro de 
nós. Quando sugeria: “conhece-te a ti mesmo”, Sócrates convidava os seus 
concidadãos a voltarem-se para dentro de si, ignorar os mitos e as determinações 
das verdades impostas pelas autoridades; ao afirmar “só sei que nada sei”, 
convocava os seus companheiros à reflexão constante sobre os acontecimentos do 
mundo à sua volta – é preciso educar-se para não se deixar manipular pelos outros; 
para isso, a educação deve cuidar da alma, ou seja, cultivar a razão. 
 
Perceba como é relevante o pensamento de Sócrates para a ética e, em especial, 
para a nossa atualidade. Sócrates acreditava que o conhecimento deveria, 
automaticamente, provocar o auto-conhecimento, ou seja, deveria levar o indivíduo 
a refletir e questionar suas certezas e idéias. Seu pensamento é uma defesa do 
diálogo e da compreensão ao outro e ao novo. 
 
 
[...] ao indagar o que são a virtude e o bem, Sócrates realiza na 
verdade duas interrogações. Por um lado, interroga a sociedade 
para saber se o que ela costuma considerar virtuoso e bom 
corresponde efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, 
interroga os indivíduos para saber se, ao agir, possuem 
efetivamente consciência do significado e da finalidade de suas 
ações, se seu caráter ou sua índole são realmente virtuosos e 
bons. A indagação ética socrática dirige-se, portanto, à sociedade 
e ao indivíduo. (CHAUI, 2003, p. 311). 
 
 
Vemos, aqui, a manifestação de um vínculo indissociável entre reflexão filosófica e 
ética. Observe que Sócrates levava as pessoas a questionarem suas próprias 
compreensões e idéias sobre o bem, o mal, o certo e o errado. 
 
A questão da ética assume uma primeira sistematização, um pensamento mais 
elaborado teoricamente com Aristóteles. Teria sido ele o primeiro filósofo a pesquisar 
os princípios da ação humana por meio de uma reflexão acerca da diferença entre 
conhecimento teórico e prático, pela constatação de que o saber relacionado às coisas 
humanas não poderia ser demonstrado teoricamente, como na física ou na 
matemática. 
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Ética e Sociedade 
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Aristóteles percebeu que seria necessário pensar em uma nova ciência que se 
aprofundasse sobre as ações e intenções do homem. 
 
 
 
 
 
O comportamento humano é, muitas vezes, inexplicável pela 
ciência e não podemos subordiná-lo ao conhecimento científico. O 
ser humano é um ser com muitas dimensões, imaginação, sonhos, 
ilusões, que fogem à exatidão da ciência. 
 
 
 
Sabemos que em cada ambiente cultural e social e em distintos momentos da 
história humana podemos perceber uma gama de valores voltados a discutir os 
procedimentos do homem sob o ponto de vista do certo e do errado, do justo e do 
injusto. A especificidade da reflexão filosófica sobre a ética está no fato de que os 
princípios éticos não podem partir de princípios exatos, como em outras áreas do 
conhecimento. As ações do homem podem ser consideradas boas em um momento 
e ruins em outro; em cada período historico, elabora-se uma determinada reflexão 
sobre a ética. 
 
Essas reflexões vão construindo o campo específico da ética e nos ajudando a 
entender que a ética não pode se preocupar em definir de forma exata e definitiva 
os modelos de ações e comportamentos humanos; precisa se fundamentar numa 
análise sociológica e antropológica, identificando as características de cada período 
histórico e de cada modelo de sociedade. 
 
Na Idade Média, por exemplo, a sociedade organizava-se em torno da Igreja, a 
grande detentora do poder político, social e religioso. Os princípios éticos da época, 
alicerçados na ótica cristã, enfatizavam a revelação dos Livros Sagrados; o Pai, o 
Filho e o Espírito Santo determinavam as normas de conduta. Jesus torna-se o 
grande mensageiro de uma nova ética, a ética do amor ao próximo, porém essa 
ética foi conspurcada pelos juízos de valores de seus representantes, que 
distorceram a pureza do cristianismo primitivo: o amor ao próximo presente nos 
discursos de Cristo foi sufocado pela ganância, pelo poder que a manipulação da fé 
proporcionava aos ocupantes dos altos cargos religiosos. O século XVI sofre a 
pressão do protestantismo, em que alguns católicos reagem às determinações da 
Igreja de Roma. Foram chamados de “protestantes” por questionarem alguns 
procedimentos, decisões e determinações da Igreja Romana. Para os protestantes, a 
ética é baseada nos valores éticos; a base para o agir ético está nas relações com o 
mundo e com as pessoas que nele estão, e não na relação com o divino ou o 
sagrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conspurcada:
manchada, 
corrompida, 
pervertida, 
maculada. 
 O pensamento filosófico e a ética 
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Se quiser ampliar seus conhecimentos, assista ao filme 
Lutero. Você poderá convidar seus colegas para uma discussão 
sobre as reflexões dos personagens! 
 
 
 
Atente para o fato de que as mudanças de poder na sociedade também alteram as 
concepções morais (do que é certo e errado, de onde estão as fontes da verdade, do 
bem). O catolicismo difere do protestantismo, mesmo ambos sendo cristãos. 
 
Os teóricos da modernidade buscam substituir uma reflexão cristã por uma reflexão 
mais racional. No período moderno, surge Kant (apud SANTOS, 1965), para quem 
a ética é autônoma, e não heterônoma, isto é, a lei é ditada pela própria consciência 
moral, e não por qualquer instância alheia ao Eu. Kant dá prosseguimento à 
construção de uma moral própria, que não espera algo de fora – aquilo que o 
homem procura está dentro dele. Na concepção de Kant, uma sociedade mais ética 
não precisa de regras e normas, mas sim do progresso e da ampliação da 
consciência ética presente em cada indivíduo. 
 
Durkheim, ao contrário, voltou-se à compreensão do fato social como produção 
coletiva e histórica e, portanto, fenômeno sobre o qual deveriam recair 
preocupações éticas. Durkheim parte do pressuposto de que, por natureza, as 
pessoas são portadoras do mal, cabendo à sociedade encontrar mecanismos que as 
forcem ao exercício do bem. 
 
É importante percebermos que esses filósofos influenciaram muitos outros teóricos e 
estudiosos de várias áreas da saúde, da economia, da sociologia, da psicologia, etc. 
Observe que Kant defende a idéia de que cada indivíduo possui condições de 
estruturar seus próprios valores éticos, não precisando de normas, regras e leis; já 
Durkheim acredita que as pessoas são más por natureza e que a sociedade deve 
torná-las boas. 
 
 
 
O que você acha disso? As pessoas têm condições de saber o que é certo e errado, 
ou precisam da sociedade? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Observe que os fundamentos da ética não são simples, 
precisam de muita profundidade e investigação. Sabemos que, com 
tanta diversidade cultural, não podemos deixar de buscar a 
harmonia social, desejada por todos, mas praticada por poucos. 
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Nota
as pessoas tem sim condições de saber o que é certo ou erro pois elas tem consciência, claro a influencia da sociedade pode tornar a pessoa mais ética fazer com que ela pense mais antes de fazer, mas a consciência vem com a pessoa.
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Nenhum homem é uma ilha. O que essa frase quer dizer para você? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essa famosa frase, do filósofo inglês Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a 
vida humana é convívio. Para o ser humano, viver é conviver. É justamente na 
convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza 
como um ser moral e ético. 
 
É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais. 
 
 
 
 
 
O que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como 
me comportar perante o outro? 
 
 
 
A ética preocupa-se, portanto, com as formas humanas de resolver as contradições 
entre necessidades e possibilidades, entre tempo e eternidade, entre o individual e o 
social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e 
o cultural, entre a inteligência e a vontade (VALLS, 2003, p. 52). 
 
Quando você se pergunta “o que devo fazer?”, ou “esta decisão irá prejudicar 
alguém?”, quando você pensa como deve agir diante de uma situação concreta, 
empírica, real, que obriga a uma tomada de decisão, você sempre pensa nos 
resultados dessa decisão, não é? 
 
Às vezes, diante dessas questões, parece que, qualquer que seja a decisão, favorecerá 
alguém e prejudicará alguém. É assim que nos tornamos éticos, porque nós não 
apenas vivemos com os outros, nós “convivemos”, e nesse “conviver” é que nos 
descobrimos éticos e morais, ou seja, só é possível respeitar os princípios máximos da 
ética (vida, liberdade, privacidade, etc.), as leis e as normas de conduta, se estivermos 
com outras pessoas, o que exige um comportamento ético e moral. 
 
Nesta seção, você estudou sobre a construção do campo de conhecimento da ética 
ao longo da história da filosofia. Agora, vamos estudar alguns filósofos que muito 
contribuíram para a reflexão ética. 
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Nota
quer dizer que as pessoas nao vivem sozinhas, elas tem necessidade de se relacionar com outros individos, de ideias iguais e diferente, para que o proprio homem se adapte ao mundo.null
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 O pensamento filosófico e a ética 
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SEÇÃO 3 
O pensamento de Aristóteles e Marx 
 
Nesta seção, apresentaremos as concepções de Aristóteles e Marx sobre a ética; esses 
teóricos ajudaram a construir os fundamentos da moral ocidental. 
 
Aristóteles concebeu uma ordem socioeconômica como sendo a natural, na qual a 
relação entre os seres e as coisas é determinada por uma hierarquia: 
 
Deus – Espírito – Alma – Razão – Homem – Emoção – Mulher – Animais – Vegetais 
– Minerais – Matéria – Caos – Diabo 
 
Na concepção aristotélica, Deus é a fonte de toda a autoridade e o legitimador dessa 
estrutura de superioridade-inferioridade. Cada ser deve cumprir sua finalidade de 
acordo com sua posição nessa hierarquia e sua natureza, que é fixa. Qual a 
implicação ética dessa hierarquia? A inferioridade da mulher em relação ao homem 
é concebida como algo natural; o escravo é escravo por natureza e deve desenvolver 
sua escravitude, sendo aquilo que a sua condição determina. Cada ser ocupa um 
lugar nas relações sociais ou naturais e o ser humano, para ser “bom”, deve não 
apenas cumprir sua tarefa, sua parte do desenvolvimento dessas relações, mas 
cumpri-la bem. 
 
Para Aristóteles, o homem é um ser racional e cumpre sua finalidade de acordo com 
essa natureza. A ética conduz a ação humana a ser realizada de acordo com a 
natureza racional. O fim último, ou seja, a finalidade do ser humano é a felicidade e, 
sendo um ser dotado de razão, esta deve trabalhar para que alcance a felicidade. 
 
Em resumo, percebemos que Aristóteles apresenta um modelo de relações sociais 
que se transforma, posteriormente, em códigos morais: o escravo, por exemplo, na 
sociedade antiga, não tinha direitos iguais aos do homem livre. Veja como um 
filósofo tinha o poder de influenciar toda uma forma de pensamento e de ações! 
 
A concepção aristotélica foi, também, o alicerce sobre o qual se assentou a ética 
cristã, divergindo no que diz respeito a alcançar a felicidade – para Aristóteles, a 
felicidade deveria ser alcançada pelo homem entre seus iguais e, segundo a ética 
cristã, a felicidade estaria na vida futura, depois da morte, no céu. O pensamento de 
Aristóteles influenciou fortemente a ética cristã com relação à questão da aceitação 
do sacrifício e da submissão à Igreja e ao Rei ou Imperador, acreditando que esses 
expressavam a vontade de Deus. 
 
Um pensador moderno que também abordou as questões éticas em sua teoria foi 
Marx. Em contraposição ao cristianismo, apresentou a religião como “o ópio do 
povo”, ou seja, um mecanismo de fuga da realidade. Diante das contradições da 
realidade socioeconômica, evidenciou que as estruturas econômicas determinam as 
relações sociais. Assim, a situação de superioridade-inferioridade entre as pessoas 
não ocorre por intermédio da natureza, como afirmava Aristóteles,
mas em razão do 
papel ocupado no sistema econômico da sociedade. O rico é superior ao pobre em 
virtude do sistema econômico capitalista, e isso não é algo natural. 
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Ética e Sociedade 
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Para Marx, uma sociedade sem conflitos e mais igualitária resultaria da luta de 
classes entre capitalistas e proletariados. Por isso, o homem pode agir sobre a 
realidade, e o conhecimento e a ciência devem ser uma construção coletiva e 
histórica, a partir da realidade socioeconômica, com vistas à transformação dessa 
realidade. Um fator ético importante do pensamento de Marx é que ele substituiu a 
ideologia do individualismo, como fator decisivo no processo civilizatório, pela 
construção coletiva da sociedade; desconstruiu a idéia de naturalidade, de tradição, 
de nobreza; apresentou a sociedade como resultado de um processo coletivo. 
 
Até aqui você percebeu como os teóricos foram trazendo e construindo novos 
elementos à reflexão ética, mas por que apresentamos todas essas teorizações? 
Justamente para entendermos que a ética exige reflexão aprofundada. Não devemos 
achar que sobre ética não podemos refletir, nem discutir porque cada um tem a sua, 
isso é uma visão simplista da ética e responsável pela sua banalização (minimização 
da importância) na sociedade. A discussão aprofundada e filosófica sobre as 
ideologias e as crenças que fundamentam as nossas ações nos ajuda a possibilitar 
um progresso ético na sociedade. Para enriquecer nosso aprofundamento, vamos 
compreender como, em cada espaço e tempo histórico, a ética retrocedeu ou 
avançou. 
 
 
 
 
SEÇÃO 4 
Reflexão sobre a construção da moral 
 
A ética é uma reflexão sobre a moral, por isso precisamos entender a construção da 
moral na história. Todos os filósofos que adentraram no campo da ética começaram 
suas discussões e reflexões indagando sobre o ser humano, sobre a origem do agir 
humano e, ainda mais, sobre a relação desse agir com a sociedade. Os teóricos da 
ética fundamentaram suas reflexões sobre a natureza social do homem. 
 
 
 
 
 
A moral acontece quando o homem supera sua natureza 
puramente natural, instintiva, e passa a possuir uma natureza 
social, que surge quando o homem passa a ser membro de uma 
coletividade. 
 
 
 
Para entender essa relação social entre os homens, também precisamos entender a 
relação do homem com a natureza, ou seja, com a realidade material. 
 
Na sociedade primitiva, a luta pela sobrevivência exigia a construção de uma 
coletividade. Assim, surge uma série de normas que beneficiam a comunidade. A 
moral nasce com a finalidade de assegurar a concordância do comportamento de 
cada um com os interesses coletivos. O que é bom ou ruim é definido em função da 
comunidade, ou seja, tudo o que venha a reforçar os interesses da coletividade 
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 O pensamento filosófico e a ética 
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passa a ser bom, enquanto tudo o que ameaça a coletividade passa a ser ruim; 
surgem alguns deveres de todos os membros de uma tribo (todos são obrigados a 
lutar contra os inimigos da tribo, por exemplo). 
 
Essa moral coletivista, característica das sociedades primitivas que não conhecem a 
propriedade privada, nem a divisão de classes, é uma moral única e válida para 
todos os membros da comunidade. 
 
Isso parece constituir um modelo de sociedade ética, mas qual é o problema? 
 
Essa moral única para todos os membros da tribo é limitada pelo próprio âmbito da 
coletividade: além dos limites da tribo, seus princípios e suas normas perdiam sua 
validade; as outras tribos eram consideradas inimigas e, por isso, não lhes eram 
aplicadas as normas e os princípios válidos no interior da comunidade. Na sociedade 
primitiva, há uma absorção do individual pelo coletivo, não havendo espaço para 
uma autêntica decisão pessoal e, por conseguinte, uma responsabilidade pessoal. A 
coletividade apresenta-se como um limite da moral, por isso uma moral pouco 
desenvolvida, cujas normas e princípios são aceitos, sobretudo pela força do 
costume e da tradição. Observe que uma moral coletivista não contribui para o 
desenvolvimento da consciência ética; as pessoas cumpriam as regras porque as 
recebiam da tradição, não porque tinham consciência desses valores e normas. O ser 
humano somente tem valor se pertence à tribo; os membros de outras tribos podiam 
ser mortos e escravizados, eram considerados inferiores. 
 
Perceba que uma comunidade aparentemente sem problemas de violência nem 
sempre pode ser considerada eticamente avançada. 
 
Veremos que houve mudanças no decorrer da história... 
 
Com o aumento da produção (decorrente, em grande parte, da transformação dos 
prisioneiros de tribos inimigas em escravos), surge o excedente e a desigualdade de 
bens. A decomposição do regime comunal (tribal) e o aparecimento da propriedade 
privada acentuam a divisão entre os homens livres e os escravos. O trabalho físico 
passa a ser indigno para homens livres; os escravos tornam-se coisas, podem ser 
vendidos como objetos e mortos, quando não servem mais ao trabalho. 
 
Essa divisão provocou a separação da sociedade em duas morais: uma dominante, 
dos homens livres – a única considerada verdadeira – e a dos escravos. A moral dos 
homens livres era legitimada nos escritos da época e por muitos filósofos. 
 
Perceba que houve uma significativa mudança na forma de as pessoas se 
relacionarem: já não há mais separação entre o bem e o mal a partir de quem 
pertence ou não à tribo, mas sim entre quem é escravo ou livre. 
 
Com o desaparecimento do mundo antigo, assentado sobre a escravidão, nasce a 
sociedade feudal, dividida em duas classes: senhores feudais e camponeses servos. 
Os homens livres da cidade (artesãos, pequenos comerciantes) estavam sujeitos à 
autoridade do senhor feudal que, por sua vez, estava sempre em situação de 
dependência a outro senhor feudal, mais poderoso. Nesse sistema hierárquico, o Rei 
ou Imperador, por meio da força de seu exército, garantiam seu domínio e 
exploração econômica. Com o papel preponderante da Igreja, a moral estava 
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Ética e Sociedade 
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impregnada de conteúdo religioso. A religião assegurava certa unidade moral à 
sociedade, pois ditava as normas, baseada em um sistema de obediência a Deus, 
cujas exigências e determinações eram interpretadas pelo clero da época, 
considerado representante e tradutor de Deus no mundo. Na divisão da sociedade, 
havia também diversos códigos morais: dos nobres ou cavaleiros, dos monges. 
Somente os servos não tinham uma formulação dos seus princípios morais. A moral 
cavalheiresca e aristocrática partia da premissa de que o nobre, por motivos de 
sangue, possuía uma série de qualidades morais que o distinguia dos servos e 
plebeus. Estes aceitavam sua condição social inferior, com a promessa de uma vida 
melhor após a morte, já que no mundo terreno sua felicidade era negada pelo fato 
de nascerem servos. 
 
Observe que, na sociedade feudal, há certa continuidade da separação entre os 
homens livres e os escravos, mas surge o papel fundamental da Igreja na legitimação 
da desigualdade e da hierarquia. 
 
No interior da velha sociedade feudal, deu-se a gestação de uma nova classe social, 
a burguesia, que possuía o poder da produção e comprava a mão-de-obra dos 
assalariados. 
 
Nesse novo sistema econômico, que alcançou sua expressão maior em meados do 
século XIX, na Inglaterra,
vigora, como fundamental, a lei do lucro. O operário é 
considerado, exclusivamente, um homem econômico – é um meio e instrumento de 
produção. O trabalho, para ele, é algo totalmente sem significado, a não ser como 
fonte de renda. A economia é regida pela lei do máximo lucro e esta possui uma 
moral própria. 
 
 
 
 
 
Com efeito, o culto ao dinheiro e à tendência de obter mais lucro 
constitui o terreno propício para que, nas relações entre os 
indivíduos, floresçam o espírito de posse, a ganância, o egoísmo. 
 
 
 
Cada um confia nas suas próprias forças, desconfia dos demais, busca seu próprio 
bem-estar, ainda que precise passar por cima dos outros. A sociedade converte-se 
em um campo de batalha, numa guerra de todos contra todos, tal é a moral 
individualista e egoísta que corresponde às relações sociais burguesas. 
 
Atualmente, a exploração do homem pelo homem não se faz mais por meio de 
métodos brutais, mas o trabalho mecânico, repetitivo, submete milhões de pessoas 
em função da sobrevivência. O trabalho na sociedade capitalista é privado de 
criatividade e de consciência; prolifera a idéia de pertencimento do operário à 
empresa, sem incentivo à cooperação e à colaboração. O operário é um 
colaborador, e não um trabalhador; a exploração, longe de aparecer, não faz senão 
adotar formas mais astuciosas para se manter como fonte de lucro. A moral 
construída no sistema capitalista de produção ajuda a justificar e a reforçar os 
interesses do sistema regido pela lei da produção. A moral burguesa busca, então, 
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 O pensamento filosófico e a ética 
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regular as relações entre os indivíduos numa sociedade baseada na exploração do 
homem pelo homem. As relações interpessoais são pautadas por valores 
econômicos; o ser humano passa a ser visto unicamente na sua dimensão 
econômica, e não humana. 
 
 Como percebemos, a moral vivida na sociedade muda 
historicamente de acordo com as reviravoltas fundamentais 
verificadas no desenvolvimento social. 
 
 
 
Observamos as mudanças decisivas que ocorreram na moral, com a passagem da 
sociedade escravista à feudal e desta à sociedade burguesa. Notamos que, numa 
sociedade baseada na exploração de uns homens pelos outros ou de uns países por 
outros, a moral se diversifica de acordo com os interesses antagônicos fundamentais, 
em que um grupo quer explorar e o outro não quer ser explorado. A superação 
desse desvio social e, portanto, a abolição da exploração do homem pelo homem e 
da submissão econômica e política de alguns países a outros constituem a condição 
necessária para construir uma nova sociedade, na qual vigore uma moral 
verdadeiramente humana, universal, válida para todos os seus membros 
(VASQUEZ, 1990, p. 40-53). Você acredita ser possível uma reestruturação social 
para que não ocorra a exploração do homem pelo homem? Como isso ocorreria? O 
que você estaria disposto a fazer por essa sociedade? Você está construindo a sua 
profissão, na universidade, pensando nessa universalidade ou tentando levar 
vantagem nos trabalhos em grupos, colocando o nome de algum colega nos 
trabalhos sem que ele participe, passando cola, etc.? 
 
 
 
Com essa análise histórica da moral, percebemos a complexidade de uma reflexão 
ética, quando esta busca estudar e compreender os princípios morais. No decorrer 
da nossa vida, nem sempre percebemos que aquilo que consideramos bom ou ruim 
para nós, certo ou errado no comportamento humano, foi construído 
historicamente. Estudar os fundamentos teóricos e sociais da moral ajuda-nos a 
compreender melhor as ações humanas e o comportamento dos indivíduos. 
 
Uma análise ética convida-nos sempre a contextualizar a ação individual. A 
historicidade da moral ajuda-nos a refletir sobre nossa forma de pensar os valores 
vigentes na sociedade em que vivemos. 
 
 
 
 
 
Às vezes, achamos normal que determinado indivíduo não tenha 
boas condições financeiras ou passe fome. Por que achamos isso 
normal? 
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Ética e Sociedade 
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Porque, em nossa sociedade, vigora uma moral individualista, que culpa o indivíduo 
pela situação em que vive. Porque o sistema de mercado assenta-se sobre a 
máxima: “querer é poder”. Então, ao analisar a situação de um miserável, na moral 
do mercado globalizado, diríamos: “se ele quiser sair da situação, ele pode.” A moral 
vigente (ideologia) não nos permite olhar além e perceber que milhões de pessoas 
passam fome no mundo, e isso não é um problema apenas pessoal, não se resolve 
somente com empenho individual. 
 
O estudo da contextualização da moral ajuda-nos a perceber que a nossa forma de 
ver o outro e nos relacionar com ele é pautada e fundamentada em valores morais, 
construídos na sociedade em que vivemos, por intermédio das instituições (família, 
escola, universidade, mídia). 
 
Se você absorver todos os valores morais da sociedade capitalista de mercado, 
poderá ficar tranqüilo, acreditando que cada um é responsável pelo sucesso ou 
insucesso, buscando sua riqueza pessoal e erguendo muros ao redor de sua 
residência; poderá legitimar sua ação com a idéia de que, simplesmente, a vida 
resume-se em obter sucesso individual, e que sucesso é sinônimo de ficar rico. 
Quando estamos absortos por essa ideologia, ficamos cegos à complexidade social, 
política e econômica do mundo. 
 
A atitude e o agir humano são objetos da ética, considerada a arte da reta condução 
da vida, que se ocupa com a garantia de temas universais, ou seja, com o que todos 
desejam possuir: vida, liberdade, autonomia, consciência, etc. Cabe a cada um 
encaminhar-se para esse viver ético, independente das ações dos outros – posso 
observar as ações do outro, mas são as minhas ações que devo modificar; não posso 
reprovar uma ação alheia, mas posso observar e não agir da mesma forma. Lembre- 
se de que somos autônomos, porém não sozinhos, estamos no mundo com outros 
seres e uma ação pode modificar o contexto, mas não cabe a nós esperar o agir 
ético dos demais, fazemos parte da construção do mundo. Como você está 
participando dessa construção? Você costuma refletir, pensar sobre suas atitudes? 
Pondera suas decisões? 
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 O pensamento filosófico e a ética 
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Auto-avaliação 3 
 
1 Faça uma reflexão socrática (de acordo com Sócrates) sobre a sociedade atual. 
Que indagações você faria sobre a sociedade atual? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 Que diferença básica existe entre a sociedade tribal e a sociedade capitalista? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMINDO 
 
 
Nesta unidade, você estudou sobre os fundamentos da moral e percebeu que, em 
cada período histórico, a moral assume diferentes características. O pensamento de 
alguns teóricos e a organização econômica e social ajudam a estruturar e legitimar 
modelos de relacionamento entre as pessoas. Também, você percebeu que a ética 
fundamenta-se em uma atitude investigativa sobre a moral, por isso a ética emerge 
da filosofia que tem como eixo norteador a dúvida. 
 
Na próxima unidade, faremos uma reflexão ética sobre o fenômeno da globalização. 
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Unidade 4 
A globalização e a ética 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao final desta unidade, você terá condições de: 
 
compreender a relação entre política, economia e o avanço tecnológico no 
processo de globalização;
identificar as conseqüências éticas do capitalismo global; 
 
refletir sobre o modo de ser e de pensar das pessoas diante da hegemonia 
da globalização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: “Querer é poder”: as conseqüências éticas desse modelo de sociedade 
 
Seção 2: O fenômeno da globalização 
 
Seção 3: O fundamentalismo da globalização econômica 
 
Seção 4: O avanço tecnológico e a ética 
Ética e Sociedade 
52 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
 
 
Fazendo uma reflexão filosófica sobre a ética e os valores morais, vamos percebendo 
que eles mudam com o decorrer do tempo. 
 
Um conceito que marca a nossa realidade é a globalização. Esse fenômeno está 
modificando a configuração cultural e a relação do homem com o outro e com o 
meio em que vive. Esse será o tema de discussão desta unidade. 
 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
“Querer é poder”: as conseqüências éticas desse 
modelo de sociedade 
 
A sociedade em que vivemos, chamada globalizada, é resultante da hegemonia 
capitalista no mundo. Como já vimos, essa sociedade construiu e legitimou uma 
moral, uma forma de relação entre as pessoas pautada na máxima: “querer é 
poder”. O progresso científico e econômico dos séculos XIX e XX esteve ancorado 
nos paradigmas da conquista e dominação. 
 
Na história do progresso econômico da humanidade, o homem buscou gerar 
riquezas mediante conquista e domínio da natureza e de outros homens. Segundo 
Boff (2003c), conquistar povos e “dilatar a fé e o império” foi o sonho dos 
colonizadores. Conquistar os espaços extraterrestres e chegar às estrelas é a utopia 
dos modernos; conquistar o segredo da vida e manipular os genes; conquistar 
mercados e altas taxas de crescimento, conquistar mais e mais clientes e 
consumidores; conquistar o poder de Estado e outros poderes, religioso, profético, 
político; conquistar e controlar os anjos e demônios que nos habitam. Enfim, a 
máxima “querer é poder” torna-se ao longo da história um paradigma (estrutura 
de pensamento, modo de ver o mundo). Até mesmo o sonho e a felicidade são 
vistos como conquistas; insaciável é a vontade de conquista do ser humano. 
 
Mas, enfim, quais as conseqüências éticas desse paradigma? 
 
Boff (2003c) afirma que, depois de milênios, o paradigma-conquista entrou, em 
nossos dias, em grave crise. Já conquistamos 83% da Terra e nesse afã a 
devastamos de tal forma que ela ultrapassou em 20% sua capacidade de suporte e 
regeneração. 
 
Sofremos, hoje, as conseqüências desse paradigma da conquista. A conquista de 
novos espaços, de novos mercados, de sonhos de consumo, de grandes taxas de 
lucro, do avanço tecnológico que alcançamos é responsável pelos grandes desafios 
éticos que enfrentamos. Na sociedade atual globalizada sofremos as duras 
conseqüências de um poder sem limites de conquista, de um consumismo 
exagerado que gerou grandes problemas ambientais. 
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 A globalização e a ética 
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A busca desenfreada pelo lucro e pela expansão dos mercados gerou, também, um 
alto índice de exclusão social. Pochmann e Amorin (2003) apontam que a exclusão 
social no Brasil cresceu 11% entre 1980 e 2000, revertendo a tendência verificada 
entre os anos 60 e 80, quando houve queda de 13,6%. No início dos anos 60, o 
país tinha 49,3% de excluídos. A taxa caiu para 42,6% em 1980, mas retornou para 
47,3% em 2000. 
 
Muitos acreditam que a razão da miséria é o aumento populacional, mas o problema 
está no consumo excessivo, na busca desenfreada por maior poder de conquista. 
 
Segundo os pesquisadores, entre 1960 e 1980, os excluídos no Brasil eram, em sua 
maioria, imigrantes da zona rural, com grandes famílias, pessoas de baixa 
escolaridade, baixa renda, mulheres e negros. Entre 1980 e 2000, os excluídos são 
aqueles nascidos nos grandes centros urbanos, excluídos do mundo do trabalho e da 
cidadania. Após os anos 80, a exclusão passa a atingir, também, setores da antiga 
classe média brasileira. 
 
Esses dados nos fazem compreender que a sociedade em que vivemos foi 
estruturada a partir de uma dimensão individualista de conquistas e de posses. 
Alguns autores apontam como causa fundamental da crise ética o individualismo, 
argumentando que a preocupação desenvolvida pelas pessoas em cuidar de seus 
interesses permite o descuido com o outro e com as regras determinadas pela 
sociedade que garantem um relacionamento saudável, um comportamento ético. 
 
O individualismo associado ao corporativismo tem constituído uma barreira 
limitadora do desenvolvimento ético dentro da sociedade. As pessoas buscam 
conquistar melhor qualidade de vida para si ou para seu grupo; surge, com grande 
evidência, o problema da corrupção. A cada momento, deparamo-nos com 
escândalos envolvendo pessoas cuja tarefa deveria ser a de garantir a ordem ética, 
em função da posição que ocupam. 
 
As principais conseqüências éticas do “querer é poder” recaem sobre a exclusão 
social e a degradação ambiental. A busca pela conquista acontece numa perspectiva 
infinita que não conhece limites, quando se trata de ganhar dinheiro ou consumir. E, 
quando se torna um processo global, como isso se agrava? É o que vamos estudar 
na próxima seção: o fenômeno da globalização. 
 
 
 
 
SEÇÃO 2 
O fenômeno da globalização 
 
Quando falamos em globalização, logo nos vem à mente apenas a questão 
econômica, porém a globalização é um processo no qual surgem questões políticas, 
sociais e culturais. Nesse processo de interação global, encontramos a mudança de 
valores éticos e morais da sociedade. 
 
Vamos, inicialmente, entender como e onde se percebe essa realidade da 
globalização. De acordo com Ramos (2004), precisamos compreender que existem 
quatro importantes fatores que têm contribuído de forma diversa para configurar o 
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Ética e Sociedade 
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processo de globalização nos últimos vinte anos: a globalização nas comunicações, a 
econômica, a política e a dos valores presentes no convívio em todos os níveis: 
pessoal, social, nacional e mundial. 
 
Mas há alguma relação entre esses fatores? 
 
A ligação entre esses quatro fatores demonstra que a revolução nas comunicações 
favorece e permite a integração econômica; o fator econômico, por sua vez, tem 
implicações no cenário e no relacionamento político; e o elemento político, em 
última instância, está presidido por valores e princípios. A presença ou ausência de 
valores éticos e princípios morais nas pessoas que comandam a política, a cultura, a 
economia e as comunicações é fundamental para compreender a evolução da 
humanidade e o processo de globalização em curso. 
 
É importante perceber que o processo de globalização aparece como uma 
continuidade das grandes conquistas realizadas pelas principais potências mundiais. A 
aliança entre poder político, econômico e meios de comunicação possibilitou, com 
maior facilidade, a formação de monopólios. Isso tudo facilita o surgimento de um 
único modelo de sociedade, de grupos financeiros e de mídia. 
 
A globalização, segundo Branco (2003), contribuiu para determinar um modelo de 
sociedade que atende aos interesses do individualismo e do consumismo, portanto 
não se trata apenas de globalização econômica, mas sim de um processo social. 
 
Branco (2003) afirma que a globalização vem sendo empregada em diversas 
ocasiões, mas nem sempre com o mesmo significado. Poderíamos conceituar esse 
termo,
de forma básica, como o conjunto de transformações na ordem política e 
econômica mundial que vêm acontecendo nas últimas décadas, em que o ponto 
central da mudança é a integração dos mercados numa "aldeia-global", explorada 
pelas grandes corporações internacionais. 
 
Economicamente, estamos vendo crescer uma política que visa à saída parcial do 
Estado da economia, deixando o mercado livre, por isso é que vemos a grande onda 
de privatizações existente hoje. 
 
 
 
 
 
Mas, o que significa essa saída parcial do Estado da economia? 
 
 
 
Significa que o privado começa a ganhar superioridade em relação ao público, que 
o interesse financeiro se sobrepõe ao interesse social. Essa lógica do privado sobre o 
público se intensifica com o processo de globalização, em que os grandes 
investidores procuram países e economias que paguem os melhores juros para o 
maior rendimento do dinheiro. O direito à saúde, educação, transporte e 
alimentação acaba ficando em segundo plano na ação política dos governantes, que 
busca proteger esse capital financeiro com altos juros para que permaneça no país. 
Você se lembra do período das eleições, no qual os candidatos não podiam falar 
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 A globalização e a ética 
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nada que afetasse a lógica de mercado, que prejudicasse a lógica do capital 
financeiro? 
 
A globalização também ultrapassa os limites da economia e da política, começa a 
provocar certa homogeneização cultural, por meio da crescente popularização dos 
canais de televisão por assinatura e da internet. Isso se percebe na forte influência da 
cultura americana em todo o mundo. 
 
No contexto atual, as preocupações são generalizadas entre todos aqueles que 
buscam uma vida melhor. Um ponto de grande importância que vem se destacando 
na globalização é a questão do meio ambiente; empresas, cidadãos, instituições e 
ONGs dedicam-se cada vez mais a conservá-lo e restaurá-lo. Vemos isso nos 
diversos debates de alcance mundial que acontecem em torno desse assunto. 
 
 
 
 
 
O que precisamos compreender nessa relação entre ética e 
globalização é que todo esse processo de interligação e 
interdependência entre os países – que é positivo – deu-se a partir 
de uma lógica capitalista, que provocou o aumento da 
concentração de renda e da exclusão social. Além dessa questão, 
alguns autores apontam que a globalização impôs certo 
fundamentalismo; aprofundaremos isso na seção seguinte. 
 
 
 
 
SEÇÃO 3 
O fundamentalismo da globalização econômica 
 
A globalização econômica é uma faca de dois gumes: de um lado, descortina novos 
horizontes para a economia mundial; de outro, entretanto, pode abrir o fosso que 
separa pessoas e países, aumentando o abismo entre os beneficiados com o 
processo e os desfavorecidos da fortuna. De acordo com o Relatório do 
Desenvolvimento Humano (1999), publicado pelas Nações Unidas, 20% dos países 
mais ricos detêm 86% do PIB mundial, enquanto os 20% mais pobres participam 
apenas com 1% da produção mundial. 
 
Há um claro divisor de águas entre aqueles que defendem os aspectos positivos da 
integração econômica e aqueles que somente vêem as mazelas do processo, que são 
conseqüências, mesmo que por vezes involuntárias, da integração econômica 
mundial. 
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Ética e Sociedade 
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Lembre-se de que a reflexão ética é essencialmente 
investigativa: quais os benefícios da globalização, para quem e 
como são buscados? 
 
 
 
Para as empresas, a globalização facilitou o acesso às novas tecnologias, 
financiamento, trabalho e difusão dos produtos e serviços; ao mesmo tempo, 
acelerou o processo de fusão e incorporação de empresas. Além disso, observamos 
uma concentração do capital e uma expansão das empresas multinacionais; novas 
marcas mundiais, com know-how (conhecimento) e tecnologia própria, avançam na 
maioria dos países. 
 
A abertura econômica promovida pela globalização aumentou a competição entre as 
empresas, mas também valorizou o mercado de trabalho, o fator educacional, as 
habilidades técnicas dos trabalhadores e a experiência profissional, ou seja, o fator 
capital humano adquiriu maior importância com a globalização. Em função desse 
diagnóstico, a combinação entre abertura econômica e uma força de trabalho bem 
treinada e educada produz, em especial, bons resultados para a redução da pobreza 
e o bem-estar humano. Portanto, um bom sistema educacional, que providencie 
oportunidades para todos, é decisivo para o sucesso nesse mundo globalizado. 
 
 
 
 
 
Mas como se caracteriza o fundamentalismo na globalização? 
 
 
 
É preciso entender o fundamentalismo como uma forma de ver o mundo, agir e 
pensar em torno de um único fundamento. Boff (2003c) afirma que a globalização 
provoca uma primeira manifestação de fundamentalismo: da ideologia política do 
neoliberalismo, do modo de produção capitalista e de sua melhor expressão, o 
mercado mundialmente integrado, apresentando-se como a solução única para 
todos os países e para todas as carências da humanidade (todos precisam de um 
necessário choque de capitalismo, dizem fundamentalisticamente). A lógica interna 
desse sistema, entretanto, é ser acumulador de bens e serviços, por isso criador de 
grandes desigualdades (injustiças), explorador ou dispensador da força de trabalho e 
predador da natureza. 
 
Surge aqui, segundo o autor, a construção de uma cultura capitalista, uma 
cosmovisão materialista, individualista e sem qualquer freio ético. Tal cultura 
provoca uma certa homogeneização da sociedade: um só pensamento, um só modo 
de produção (capitalista), um só tipo de mercado, um só tipo de religião 
(cristianismo), um só tipo de música (rock), um só tipo de comida (fast food), um só 
tipo de executivo, um só tipo de educação, um só tipo de língua (inglês), etc. Boff 
(2003a) apresenta um questionamento ético para a globalização, quando esta se 
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 A globalização e a ética 
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torna uniforme e quando há a imposição de um único modelo de vida para o 
planeta. 
 
Com a negação da heterogeneidade, da diferença, a sociedade-mundo atual se 
coloca em contradição com a ética. Essa atitude perversa tem como conseqüência 
a má qualidade de vida atual em todos os âmbitos sociais, culturais e ambientais. 
 
Nesse processo de globalização, o desenvolvimento tecnológico assume grande 
importância, influenciando o modo de ser e de pensar das pessoas, provocando o 
surgimento de grandes questões éticas. 
 
 
 
 
SEÇÃO 4 
O avanço tecnológico e a ética 
 
Podemos dizer que o mundo tecnológico contempla dois horizontes contrapostos. De 
um lado, a internet e todas as maravilhas trazidas pelo mundo computadorizado que 
deram ao homem uma capacidade criativa nunca vista; no campo da informação, os 
recursos tecnológicos asseguraram ao homem uma mobilização sintonizada com 
tudo o que ocorre em nosso planeta. De outro lado, percebemos que a mesma ação 
que coloca todas as pessoas em sintonia escraviza e cria fundamentos ideológicos 
também de natureza global; com isso, homogeneiza, limita a capacidade criativa e 
desenvolve uma lógica cega que tem como norte conduzir as pessoas a uma forma 
de consumo irracional. 
 
Na análise ética da sociedade atual, vemos entrar em cena o conhecimento científico 
e tecnológico, que assume vital importância na vida de cada pessoa e passa a ser um 
diferencial de grande relevância
no embate competitivo provocado pelo mercado. A 
capacidade científica do homem, associada ao desenvolvimento tecnológico, 
garantiu à humanidade o desenvolvimento de grandes projetos sociais. Foi com base 
no conhecimento científico que as distintas sociedades em nosso planeta passaram a 
estruturar o trabalho de forma a facilitar o desenvolvimento. 
 
As mudanças protagonizadas pelo mundo tecnológico passam a: 
 
 
 
[...] exercer profundas influências no modo de ser e de pensar de 
cada um de nós, assim como na forma de organização econômica, 
política e cultural das sociedades contemporâneas. As máquinas, 
os robôs, a redução do tempo de execução do trabalho, o 
aumento do tempo de lazer, já não são mais temas de ficção 
científica, mas fatos que hoje permitem à humanidade sonhar em 
libertar-se definitivamente do trabalho monótono e em construir 
uma civilização baseada no ócio criativo. (CORDI, 2000, p. 228). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ócio criativo: 
significa libertar-se 
da idéia tradicional 
do trabalho como 
obrigação e ser 
capaz de apostar 
numa atividade em 
que o trabalho se 
confundirá com o 
tempo livre e o 
estudo, isto é, 
quando 
trabalhamos, 
aprendemos e nos 
divertimos ao 
mesmo tempo. 
 
 
 
 
 
Nas últimas décadas, a integração econômica mundial foi 
impulsionada pela revolução das comunicações que, por sua vez, 
foi favorecida pelos avanços na tecnologia. 
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Ética e Sociedade 
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A revolução nas comunicações tem demonstrado que a tecnologia busca a cada dia 
encurtar distâncias e apressar a transmissão de informações que determina a 
importância dos meios de comunicação para o processo de integração social, 
política e cultural. 
 
O avanço das comunicações, na década de 90, foi surpreendente, como mostram os 
indicadores de comunicação global divulgados pela International 
Telecommunication Unit (ITU). De 1990 a 2000, a receita do mercado de 
telecomunicações mais do que duplicou. 
 
Esse crescimento vertiginoso das comunicações, entretanto, não está ocorrendo de 
modo simétrico no mundo. O mercado da indústria de tecnologia está concentrado 
nos países industrializados. De acordo com o European Information Technology 
Observatory (1998), a Europa (30%), os Estados Unidos (35%) e o Japão (14%) 
concentram 79% do mercado mundial das tecnologias de comunicação e 
informação, restando aos outros países apenas 21% do mercado. 
 
O Relatório do Desenvolvimento Humano (1999), publicado pelo Programa das 
Nações Unidas para o Desenvolvimento, divulgou dados mostrando que os países 
que se encontram no topo da pirâmide da riqueza mundial – os 20% mais ricos – 
concentram 93,3% dos usuários da internet. De acordo com o mesmo relatório: 
 
 
[...] nos últimos anos da década de 90, o quinto da população 
mundial que vive nos países de renda mais elevada tinha [...] 74% 
das linhas telefônicas mundiais, meios básicos de comunicação 
atuais, enquanto que o quinto de menor renda possuía apenas 
1,5% das linhas. Alguns observadores previram uma tendência 
convergente. No entanto, a década passada mostrou uma 
crescente concentração de renda, recursos e riqueza entre pessoas, 
empresas e países. (RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO 
HUMANO, 1999, p. 5). 
 
 
Temos testemunhado uma corrida eufórica em busca do saber tecnológico aplicado 
ao mundo do mercado. Procuramos freneticamente pelo conhecimento da última 
técnica, do mais novo produto, elaborado com a mais sofisticada tecnologia, porém 
essa é uma realidade que não se universaliza, pelo contrário, passa a ser privilégio 
de alguns. 
 
O geógrafo Milton Santos (2001, p. 22) apresenta-nos uma reflexão sobre a 
tecnologia: “A desigual difusão da tecnologia provocou diferenças consideráveis, 
algumas vezes extremas, nos preços dos produtos industrializados de diferentes 
países.” 
 
Uma das grandes questões éticas levantadas em torno do avanço tecnológico diz 
respeito à questão teleológica. Uma reflexão ética sobre o avanço tecnológico 
reside, portanto, nas questões: para quem se destina essa invenção tecnológica? Que 
tipo de relação humana essa invenção vai proporcionar? Enfim, que modelo de 
sociedade o progresso tecnológico buscará construir? São questões que colocam o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Teleologia é a 
discussão e o 
estudo das 
finalidades, dos 
objetivos de 
determinada ação. 
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 A globalização e a ética 
59 
 
 
 
 
 
progresso científico sob o crivo da ética. No decorrer da história, percebemos 
diversos acontecimentos que tiveram fundamentação científica e tecnológica, porém 
acarretaram drásticas conseqüências para a humanidade, como foi o caso do 
holocausto (morte de milhares de judeus) na Alemanha, da bomba atômica no 
Japão e da guerra no Vietnã. 
 
A reflexão ética nos faz perceber que o progresso tecnológico pode não significar um 
avanço para a sociedade, porque a evolução da ciência nem sempre contribui para 
a solução dos grandes desafios sociais, como a exclusão social e a degradação 
ambiental. 
 
 
 
 
 
 
 
Auto-avaliação 4 
 
 
 
Estudo de caso 
 
Leia com atenção o texto Promessa é dívida, de Denys Monteiro, e responda às 
questões. 
 
Aspirações individuais e as organizações: realidades incompatíveis? 
 
Em épocas difíceis, nas empresas, é comum, infelizmente, que os gerentes, para não 
perder seus funcionários, façam promessas de dias melhores: “não se preocupe, 
assim que aumentarmos as vendas, iremos promover você”, ou então: “se 
conseguirmos atingir as metas, distribuiremos um percentual maior de lucro este 
ano”. E, lá se vai o gestor desferindo golpes certeiros no bolso e no ego de sua 
equipe. 
 
Nesse momento, a reação na empresa é vigorosa. Todos se dão as mãos e vibram 
como se fossem a seleção brasileira entrando no Maracanã após a palestra do 
treinador, todos confiantes de que o título já está “no papo”. Soa o apito e o jogo 
começa, com tudo dando certo: as áreas se falam mais e resolvem suas diferenças 
em benefício do cliente, e não mais baseadas nas rixas entre elas; um novo serviço 
é implementado, com redução de custos para a empresa; os memorandos param de 
circular vagarosamente pela empresa e as decisões são tomadas on-line; as equipes 
de venda convertem mais vendas. Algumas faltas cometidas, pequenos erros e 
retrabalhos... mas tudo bem, faz parte da tensão e ansiedade pelo resultado positivo. 
 
Ao apito final, não há mais nada a fazer. O ano acabou, as entregas foram feitas. 
Vendas, só no próximo ano. Todos com o sentimento de dever cumprido: ganharam 
market share, reduziram gastos em publicidade, contratos de longo prazo foram 
estabelecidos com clientes estratégicos. Só o que se vê pela empresa são pessoas 
cansadas, mas felizes por terem corrido sem parar durante os 90 minutos do jogo. 
 
Eis que as reuniões de avaliação de desempenho começam. Todos na expectativa 
de ganhar a recompensa pelo bom desempenho. Uma grande reunião é convocada 
Ética e Sociedade 
60 
 
 
 
e os números da “partida” são apresentados. O discurso começa com um 
agradecimento pelo desempenho de todos e comprometimento de cada um nos 
últimos meses. Em seguida, iniciam-se as surpresas: “como vocês podem ver neste 
gráfico, apesar de as vendas na região Sul estarem maiores, em compensação, as da 
região Norte ficaram abaixo da expectativa e, com isso, houve uma
pequena queda 
no resultado global da companhia em relação ao esperado”. Surgem os primeiros 
olhares, incrédulos, e o “zumzumzum” percorre a sala. E, o discurso continua: 
“graças às reduções de despesas que conseguimos, as margens por produto 
aumentaram num primeiro momento, mas, como grande parte dos componentes 
são importados, a oscilação do dólar fez com que a margem operacional diminuísse 
em aproximadamente 30%.” Alguns já começam a entender o recado de que o juiz 
não viu a mesma partida de futebol que os atletas jogaram. 
 
Mais meia hora de gráficos, tabelas, justificativas, recomendações e surge um novo 
desafio para o próximo semestre. Se atingido, pode recuperar os resultados desse 
período e aí tudo volta à normalidade, com o crescimento da empresa e da 
economia. Mas como essa foi apenas a “coletiva para a imprensa”, os funcionários 
aguardam ansiosos as suas avaliações individuais. Afinal, todos tinham metas bem 
definidas e a confiança reina nos craques. 
 
Os feedbacks começam. Aqueles que tiveram desempenho ruim recebem pouco 
mais do que uma cobrança mais rígida e uma avaliação não muito animadora para 
o próximo ano. Chega a hora dos confiantes e... e... lá vem o discurso de novo: 
“Pedro, você foi um líder durante todo o processo, sem você não teríamos 
conseguido nem este resultado, as pessoas confiam em você e no seu potencial. Na 
sua região, você superou os objetivos, inclusive. Agora, com relação à promoção 
que eu havia lhe prometido... não vou poder fazer ainda. Veja bem, não fique 
preocupado, é só até as coisas melhorarem. Eu não tenho como justificar para a 
matriz uma promoção e aumento com este resultado ruim.” 
 
Ainda há uma tentativa de argumentação, um início de discussão, que não leva a 
nada, além de outras promessas ainda mais audaciosas: “veja bem, estou te 
preparando para o meu lugar, é preciso maturidade nesta hora.” E dá-lhe 
blábláblá... 
 
A frustração é imensa. Quantas horas de sono perdidas, viagens constantes, o tempo 
que você não ficou com os seus amigos e filhos. Não existe coisa pior no mundo 
corporativo do que prometer em vão. O tiro sai pela culatra, o time perde a 
confiança em tudo o que vem pela frente. É preciso que os gestores – e o papel do 
RH é fundamental na orientação de sua postura – joguem limpo, conhecendo e 
esclarecendo a situação e as possibilidades da empresa. Mencionar só ao final 
fatores dos quais ninguém tinha conhecimento (como a variação do dólar) é 
imperdoável. 
 
Duas são as opções dos funcionários nessa hora: fazer uma nova aposta para a 
próxima temporada ou colocar o currículo no mercado e sair em busca de novas 
oportunidades. Se a experiência ajuda a refletir, tenho visto a segunda opção com 
mais freqüência do que a primeira. Uma vez abalada, a confiança, premissa 
indispensável entre funcionário e empregador, jamais será a mesma. 
 A globalização e a ética 
61 
 
 
 
Portanto, pense bem na importância de debater esse assunto com a cúpula da 
empresa e com os responsáveis por equipes. Ajude sua empresa a evitar surpresas 
desagradáveis, como a perda dos seus melhores talentos para a concorrência. 
 
Questões sobre o texto 
 
 
1 Qual o problema ético percebível na empresa? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 Como a vida dos funcionários teve relação com o fenômeno da globalização? 
Ética e Sociedade 
62 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMINDO 
 
 
Você percebeu que uma sociedade que foi construída e ancorada no modelo “querer 
é poder” produz sérias conseqüências éticas? Ter sucesso, hoje, é ter dinheiro e, 
talvez, conhecimento. Os caminhos para obter esse sucesso, até agora, foram muito 
centralizados no indivíduo; uma sociedade que busca sempre acumular dinheiro e 
conhecimento, de forma ilimitada e individualizada, conduz as pessoas a olharem 
sempre para si mesmas, deixando de reconhecer a importância e a dignidade do 
outro. Isso representa uma grave conseqüência ética. 
 
Nesta unidade, refletimos sobre as conseqüências éticas de um modelo econômico; 
capitalismo, globalização e progresso tecnológico são faces da mesma moeda que 
compõem a estrutura de nossa sociedade. Percebemos que a busca pela conquista 
de novas terras, de novos espaços de mercado, de maiores taxas de lucro foi um 
eixo norteador da organização da nossa sociedade, que perpassou os vários séculos 
de nossa história. A reflexão ética sobre a globalização ajuda-nos a compreender 
melhor e de forma interligada as ações no campo da política, da economia e da 
ciência; faz-nos entender que as ações estão inseridas em um processo global que 
possui uma lógica de funcionamento. 
 
Na próxima unidade, você observará quais são os grandes desafios éticos da 
modernidade. 
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Unidade 5 
Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao concluir a leitura desta unidade, você terá condições de: 
 
caracterizar os desafios éticos da sociedade atual; 
 
compreender a relatividade e a limitação da moral na explicação do 
comportamento humano; 
 
compreender a construção da moral brasileira; 
 
analisar eticamente a sociedade brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: Grandes questões éticas da contemporaneidade 
 
Seção 2: A construção de valores morais na sociedade brasileira 
 
Seção 3: Características da sociedade brasileira capitalista 
 
Seção 4: A legitimação da concentração de renda e da corrupção no Brasil 
 
Seção 5: Esperança ética 
Ética e Sociedade 
64 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
 
 
O processo de globalização trouxe grandes transformações para a sociedade em que 
vivemos. Nesta unidade, vamos refletir sobre o impacto das mudanças globais no 
campo da ética. 
 
Diante desse avanço tecnológico, da queda e do descrédito das grandes instituições 
– família, Igreja e Estado –, surgem algumas conseqüências para o campo da ética, 
surgem, novas formas de se compreender o certo e o errado, novos valores morais, 
tanto na vida pessoal quanto social, econômica e política. Esse será o tema da 
quinta unidade. 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
Grandes questões éticas da contemporaneidade 
 
Você já observou como vivemos em um tempo de mudanças? 
 
Que o progresso tecnológico avança quase sem podermos acompanhá-lo? 
O que é certo ou errado fazer? 
Cada um deve fazer o que é melhor para si? E como fica a sociedade? 
 
Deus irá punir aqueles que agirem errado? Mas, e a certeza sobre a existência de 
Deus? 
 
Se não vou ser castigado depois da morte, por que devo respeitar o outro? 
A eutanásia, o aborto, a engenharia genética podem ser aprovados legalmente? 
Unir-se com uma pessoa do mesmo sexo é certo ou errado? Por que é certo ou 
errado? Onde vamos buscar fundamento para condenar ou aprovar o casamento 
entre homossexuais? Nos Livros Sagrados? Mas é verdade o que está escrito neles? 
E como fica o respeito à liberdade de escolha de cada um? 
 
Você percebe como surgem grandes questionamentos éticos na atualidade? Há 
algum tempo esses questionamentos não eram tão intensos, em razão da autoridade 
que era conferida a grandes instituições como a Igreja, a família, a escola. À medida 
que o pensamento científico substituiu as crenças nas instituições e as pessoas 
passaram a perceber a autoridade como algo não-sagrado, evidenciam-se a 
racionalidade individual, o questionamento e a crítica. Assim, sem a crença em uma 
autoridade que define o que é certo ou errado, as
pessoas começam a se perguntar: 
mas é certo ou errado? Depende de cada um? Enfim, surgem dilemas éticos que 
antes não existiam porque as pessoas seguiam fielmente os códigos morais que 
estavam nos Livros Sagrados, na tradição na família, na cultura. 
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 Os conflitos éticos da sociedade atual 
65 
 
 
 
Iniciaremos a reflexão sobre os grandes desafios éticos da contemporaneidade 
refletindo sobre como podemos compreender o período em que vivemos. Uma das 
características principais da nossa era é a falta de perspectivas. 
 
 
 
A FALTA DE PERSPECTIVA 
 
A sociedade atual, marcada por um acelerado processo de empobrecimento, de 
diminuição das oportunidades, de desemprego, acaba contribuindo para a 
construção de um espírito de pessimismo diante do futuro. Surgem, assim, muitos 
questionamentos que evidenciam esse espírito. 
 
Vale a pena estudar? Vou fazer um investimento, mas qual será o retorno? 
 
Vivemos na sociedade do conhecimento, então, é imprescindível a busca pela 
formação acadêmica; mas como o indivíduo vai conciliar essa formação com uma 
vaga no mercado de trabalho? 
 
Você concorda que esses são grandes motivos da falta de perspectivas que toma 
conta de muitas pessoas? Que outras coisas você acredita que também contribuem 
para que as pessoas não possuam perspectivas? 
 
 
 
 
 
 
 
A diminuição de oportunidades de emprego e o conseqüente empobrecimento da 
população, a desigualdade de renda... 
 
Em nenhum momento de sua existência, a humanidade contou com tamanha 
riqueza. Esta riqueza, como evidenciamos, é produzida pelo avanço tecnológico, que 
surgiu com a finalidade de dar ao homem maior comodidade. No entanto, o 
monopólio que se estabeleceu sobre as tecnologias serviu para ampliar riquezas e, 
conseqüentemente, a distância entre quem possui ou não acesso às tecnologias e às 
estruturas que asseguram o ordenamento material da vida de cada pessoa, 
indicando que houve uma real limitação na participação de todos os indivíduos 
dentro dos mais variados benefícios produzidos pelos avanços tecnológicos. 
 
A crise de perspectivas é mais evidente na súbita retirada dos meios materiais de 
subsistência da população desprovida de um capital cultural e econômico que lhe 
permita acompanhar o desenvolvimento do mundo tecnológico. Isso provoca 
frustração e desinteresse ante a necessidade de uma sociedade de convivência 
solidária. 
 
A falta de perspectivas também contribui para a relativização do valor da vida, no 
avanço da criminalidade e do uso de drogas. Cada um busca resolver as coisas da 
maneira que considerar conveniente, surge o problema da intolerância. 
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66 
Ética e Sociedade 
 
 
A INTOLERÂNCIA 
 
A intolerância tem sido a grande responsável pelo estado de violência que 
acompanha o cotidiano da humanidade. Os avanços tecnológicos e a aproximação 
das pessoas, motivados pela globalização, não foram suficientes para reduzir o 
índice de violência; pelo contrário, parecem ter acentuado as diferenças. 
Convivemos com diferentes formas de violência: a violência no campo, em função 
do problema agrário que vivem os países ditos “periféricos”; também, nos grandes 
centros urbanos, provocada pelo estado de miséria vivido por um considerável 
contingente populacional, por questões de fundo religioso ou desentendimentos 
políticos, etc. Ainda, há outra forma de violência, institucionalizada: a repressão. A 
América Latina viveu por um longo tempo essa realidade; com a instalação dos 
regimes militarizados, o povo foi vítima de um franco processo de violência, cujas 
conseqüências até hoje se fazem sentir. 
 
Entre os perigos da intolerância, podemos ressaltar o seu poder de obstruir o 
desenvolvimento democrático de uma sociedade, tornando inviável a convivência, 
resultando, assim, uma constante quebra da alteridade. 
 
Evidências da intolerância se percebem no fundamentalismo religioso e também no 
fundamentalismo étnico e cultural. Os Estados Unidos, por exemplo, considerando- 
se os defensores da liberdade e da democracia, criam políticas intolerantes contra os 
árabes, iraquianos, mexicanos. A intolerância contra o diferente torna-se um 
agravante também no que se refere à sexualidade humana; é o caso da 
homossexualidade. 
 
 
 
O CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO 
 
O casamento entre pessoas do mesmo sexo tem sido muito discutido no mundo 
contemporâneo. Essa questão surgiu na Europa, nos países de tradição democrática, 
intimamente ligada ao respeito à individualidade humana. No entanto, é de uma 
realidade polêmica, pois vai de encontro aos pressupostos de ordem moral que 
imperam na cultura ocidental. De forma objetiva, vai contra a moral religiosa, que 
compõe um dos substratos da visão de mundo do homem ocidental. 
 
Há, também, a questão da igualdade jurídica, comparada às relações heterossexuais. 
É uma questão importante, para a qual muitos países deram encaminhamento 
distinto, ou seja, a instância jurídica foi superior aos ordenamentos de ordem moral, 
assegurando que as pessoas pudessem constituir uma união estável, sendo ambas 
do mesmo sexo. 
 
Muitos argumentos contrários fundamentam-se ou na questão da natureza humana, 
ou nos Livros Sagrados, mas por que surge um dilema ético? Por que um Livro 
Sagrado deve ser superior à liberdade humana? Será que a natureza humana é 
estática, ela não evolui, não muda? Por que o casamento deve ser entre homem e 
mulher? 
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67 
 Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
Esse torna-se um grande dilema ético que os códigos morais, as leis, não dão conta 
de responder, e a pessoa que se apega a um único código moral pode acabar sendo 
fundamentalista, apegando-se a uma única fonte de verdade. 
 
 
 
A PENA DE MORTE 
 
Por muitos anos, alguns países ou estados vêm adotando a pena de morte como 
alternativa para a solução dos problemas sociais. Da forca até a cadeira elétrica, 
vários instrumentos foram criados para eliminar as pessoas. No Brasil, muito se 
discute sobre a adoção da pena de morte. As pessoas que refletem o senso comum 
levantam essa bandeira, defendida por alguns parlamentares, como uma medida 
redentora da situação caótica que vivemos em função da violência urbana. 
 
Ao trazer essa reflexão para o campo da ética, devemos formular uma nova 
argumentação, acompanhada de muitas perguntas: assumir a pena de morte como 
forma de coibir a violação das normas elementares de uma convivência social 
representa a solução para o problema? Em que proporção ela não representaria a 
instituição da própria violência? Tirar a vida do assassino não contraria a própria lei 
que condena o assassinato como crime? A pena de morte inibiria outros 
assassinatos? O assassino teria medo de ser morto? Quem tem o direito de tirar a 
vida de alguém? 
 
Enfim, essas e outras questões contribuem para que a pena de morte se transforme 
em um dilema ético. 
 
E a eutanásia? É uma “pena de morte” justificada pela doença? 
 
 
 
A EUTANÁSIA E A MORTE ASSISTIDA 
 
Quando o problema da eutanásia aparece na sociedade, é sempre polêmico. Por 
diversas vezes em que a eutanásia foi autorizada pela justiça americana, 
imediatamente a polêmica instalou-se dentro e fora do país. Isso demostra que as 
pessoas estão divididas sobre o direito que temos de interferir no curso da vida do 
outro. 
 
Nesse campo, surgem algumas questões referentes à eutanásia e à morte assistida: 
podemos decidir
por outra pessoa a hora que deve morrer? Como fica o caso das 
pessoas dadas como mortas clinicamente que voltaram à vida após uma década de 
coma? Esses argumentos são suficientes para deliberarmos por uma atitude extrema 
ante a vida de quem não pode decidir nada? 
 
A eutanásia, ao ser liberada, abre um caminho para a discussão sobre a morte 
assistida. Muitas pessoas, no afã de abreviar o sofrimento, poderão desejar acabar 
com a vida. Como a sociedade deve reagir a essa situação? O que justifica, de fato, 
a opção pelo fim da existência de uma pessoa? Podemos decidir sobre a vida e a 
morte de uma pessoa? 
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68 
Ética e Sociedade 
 
 
A ENGENHARIA GENÉTICA 
 
Nossas reflexões sobre a engenharia genética podem ser vistas no plano da bioética, 
que “[...] estuda a moralidade da conduta humana na área das ciências da vida.” 
(NALINI, 1999, p. 120). Como ramo do saber, associado à filosofia e à biologia, a 
bioética procura argumentar em torno dos elementos que configuram a biomedicina, 
que, no mundo pós-moderno, avançou de forma espetacular, protagonizando coisas 
somente cogitadas na ficção. 
 
As nações, por intermédio de seus representantes científicos, vivem um grande 
dilema no sentido de precisar qual deve ser o limite nas buscas humanas para 
desvendar o universo da genética, deixando em alerta os pensadores das ciências 
humanas e, também, alguns intelectuais das ciências jurídicas. 
 
Não há como negarmos que a engenharia genética tem apresentado grandes 
resultados que apontem para a solução de sérios problemas no campo da saúde 
humana. Há uma grande euforia por parte dos cientistas que defendem, de forma 
irrestrita, a manipulação da genética; cumpre a nós o papel de inquiridores. 
 
Quem serão os grandes beneficiados com essas pesquisas? Elas representarão, de 
forma efetiva, um momento de inclusão das pessoas carentes na área da saúde? Em 
que proporção e de que modo a clonagem representa ou não a violação da moral e 
da ética? Devemos impor limites a quem tem se dedicado a essas pesquisas? Ao 
condenar as ações dos cientistas que atuam na área, não estaríamos reprimindo o 
processo de evolução da ciência? 
 
Observe que a reflexão ética parte de uma visão mais ampla sobre a questão; não 
podemos apenas analisar o tema na ótica da ciência ou da moral religiosa, 
precisamos analisar se as decisões podem beneficiar ou prejudicar as pessoas. 
 
 
 
O PROBLEMA AMBIENTAL 
 
Os geógrafos que refletem sobre as questões ambientais afirmam que dois terços dos 
ecossistemas estudados até agora sofrem de forma implacável as ações exercidas 
pelo homem nesses últimos anos; que algumas regiões estão irremediavelmente 
comprometidas pela ação irrefletida do homem. Essa situação nos faz pensar sobre 
um novo conceito de cidadania, a cidadania ambiental, que “[...] vai mais longe ao 
estabelecer uma visão holística sobre o problema da preservação.” (HUMBERG, 
2002, p. 65). 
 
Uma visão holística sobre o meio ambiente ajuda-nos a fazer uma reflexão mais 
ampla sobre o problema ambiental, entender que a preservação do meio ambiente 
depende, além de uma consciência individual, também de uma nova concepção de 
sociedade, de um novo modelo econômico que não tenha o lucro como eixo central 
do desenvolvimento. Uma visão holística de cidadania ambiental ajuda-nos a 
compreender que fazemos parte do meio ambiente. 
 
O consumo dos recursos ambientais chegou a tal ponto que discutimos a capacidade 
dos ecossistemas em garantir recursos para as próximas gerações. Sem dúvida, o 
 
 
 
Holística: em 
sentido amplo – 
ecológico, 
econômico, 
social, político. 
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69 
 Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
 
 
aumento da atividade humana sobre a natureza afetou de forma nunca vista o 
contexto biológico de animais e plantas, que foram extintos sem que tivéssemos a 
possibilidade de detectar sua verdadeira propriedade ou sua real função no contexto 
da biodiversidade. 
 
Os benefícios sociais provenientes da agricultura e da exploração direta de minérios 
ajudaram o homem a protagonizar um estado de riqueza e bem-estar que até então 
não havíamos visto, entretanto, o custo desse processo deve nos levar a refletir sobre 
as ações que desenvolvemos. 
 
Sem dúvida, a forma predatória com que o homem tem explorado os recursos 
naturais fere os princípios da ética e nos leva a pensar em um plano global de ação 
conjunta voltado a garantir o futuro da humanidade. 
 
 
 
 
 
Procuramos apresentar algumas questões que causam grande 
inquietude às pessoas, que afetam todos os segmentos da 
sociedade. 
 
Mas o que fazer para superar esses desafios? 
 
 
 
Nenhuma ciência poderá responder individualmente a essas questões, por serem 
múltiplas e complexas em suas origens. É necessária a construção de um campo 
multidisciplinar que possibilite uma maior aproximação dos problemas sugeridos 
pelas indagações. A união dos diferentes campos das ciências permitirá respostas 
mais significativas. 
 
Ao falar de conflitos éticos da sociedade atual, é importante refletirmos sobre esses 
conflitos na sociedade brasileira. 
 
 
 
 
SEÇÃO 2 
A construção de valores morais na sociedade 
brasileira 
 
Temos grandes desafios éticos, que possuem particularidades e somente são 
compreendidos por meio de uma contextualização histórica da formação étnica e 
cultural do país. A forma como o Brasil foi colonizado é responsável pela construção 
de valores e concepções de mundo que perpassam a história e chegam até nossos 
dias. 
 
Revisando nossa história, observamos que, quando chegaram ao Brasil, os 
portugueses encontraram “a terra de muitos bons ares” e tentaram catequizar os 
índios para o serviço à Coroa Portuguesa. A catequese dos jesuítas servia para a 
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70 
Ética e Sociedade 
 
 
 
 
cristianização, mas também para o trabalho servil, o qual não fazia parte da cultura 
indígena que, por isso, foi vista como preguiçosa e indolente. 
 
O início da colonização ocorreu por meio de três etnias: branca (portugueses), 
amarela (índios) e negra (africanos). O domínio e a superioridade eram reservados 
ao branco, fidalgo, colonizador, sinônimo de cultura. A subjugação do índio e do 
negro marcou todo o período colonial (1500 a 1822), o período imperial (1822 a 
1889) e boa parte do período republicano (1889 em diante). 
 
Os portugueses alimentaram uma visão “capitalista” sobre negros e índios que 
perpassa o século XXI. Os índios viviam na selva, em grupos seminômades, não 
tinham trabalho regular, não valorizavam os metais preciosos, não tinham 
preocupações com o futuro e eram facilmente enganados no escambo (troca de 
mercadorias) e, ainda, analfabetos. Os negros, “acostumados” ao trabalho, eram 
tratados como peças, não como pessoas. 
 
A inserção do capitalismo no Brasil assenta-se sobre uma violenta dominação do 
branco sobre o índio e o negro. Uma dominação não apenas física, mas também 
ideológica, com conseqüências éticas: o índio e o negro vistos como inferiores ao 
branco, vistos como objetos. 
 
 
 
 
 
O problema ético gerado pela formação populacional brasileira é 
que o ser humano (principalmente o índio e o negro), na sua 
diversidade, passa a ser valorizado apenas como instrumento de 
geração de riqueza. 
 
 
 
O índio foi subjugado e tratado como “animal selvagem”, tanto é que, em 
linguagem corrente da época, os jesuítas
“amansavam” os índios, o mesmo 
tratamento dado aos animais não acostumados ao trabalho servil. Os negros, por 
sua vez, eram tratados pela política dos três “pês” (pau, pano e pão) ou, numa 
linguagem mais branda, o escravo era “as mãos e os pés de seu amo”. 
 
O negro “amansou” as terras, produziu o açúcar (o ouro branco da época), cavou as 
minas. Quando, não por circunstâncias humanitárias, mas mercantilistas, a crescente 
economia inglesa passou a ver no escravo um potencial consumidor dos seus 
produtos, a Europa deixou de admitir a escravidão negra e exigiu o fim do tráfico 
negreiro. 
 
Veja que até mesmo a Abolição da Escravatura, que nos parece um avanço no 
campo da ética, foi uma ação necessária ao sistema econômico. A liberdade não 
veio em respeito aos negros, mas para gerar consumidores. Novamente, nesse 
estágio da sociedade brasileira, os seres humanos são meios e instrumentos de um 
sistema de mercado que beneficia a poucos. 
 
Com a necessidade de operários, o Brasil, novamente, torna-se um espaço de 
exploração e de escravidão; é o que acontece com a imigração européia ao Brasil. 
71 
 Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
Os imigrantes, que se encontravam em condições de pobreza na Europa, obrigaram- 
se a partir em busca de sobrevivência. 
 
Perceba como a sociedade brasileira, historicamente, contribuiu para a violência 
contra o ser humano. Toda vez que o ser humano é inferiorizado na sua condição 
de humano, a ética considera isso uma forma de violência. O Brasil foi uma colônia 
de exploração na qual os habitantes se dividiam entre exploradores e explorados. O 
Brasil não foi constituído como uma nação que se preocupou com suas pessoas, que 
se preocupou em formar um povo, em tratá-lo com dignidade; foi um país que se 
caracterizou como um terreno de exploração. E, hoje, como e onde se percebe isso? 
 
 
 
 
SEÇÃO 3 
Características da sociedade brasileira capitalista 
 
Para fazer uma análise sobre a sociedade brasileira, não podemos esquecer que se 
trata de uma sociedade estruturada sobre a lógica capitalista. 
 
O capitalismo adotado pela sociedade brasileira, conforme Nickelle (2005), tem no 
pobre a mais obscena prática de obter desse segmento social ganhos, lucros, 
vantagens, expropriação jamais imaginada por qualquer teórico desse sistema social. 
Procure lembrar, da seção anterior, a questão do ser humano como meio de geração 
de riquezas. No Brasil, o processo capitalista concentra de forma exponencial o 
capital nas mãos de poucos. A concentração de renda é, hoje, um dos maiores 
causadores dos problemas sociais do país. Altos salários para uma minoria 
favorecem um consumo sofisticado, que aumenta a importação e o turismo para 
fora do país, inibindo a produção de bens e serviços internos pelo gradativo 
empobrecimento dos demais trabalhadores. 
 
Uma das conseqüências da sociedade brasileira, capitalista, é o crescimento da 
miséria e a busca de soluções imediatas pelos que fazem parte da classe mais pobre 
da população. De acordo com Nickelle (2005), os que recorrem aos baús da 
“felicidade”, à loteria ou mesmo à fé religiosa, como forma de aceitar tal esperança, 
são iludidos por verdadeiras quadrilhas de espertalhões que, em nome da sorte e de 
Deus, enriquecem à custa da ignorância e ingenuidade. As esperanças, de fato, estão 
comprando redes de televisão, mansões e enviando milhões de reais, não mais para o 
céu, mas sim para o paraíso fiscal. 
 
É uma característica dos países mais pobres a busca por uma vida melhor por meio 
da religião ou de soluções imediatas, como loterias e premiações milionárias. 
Percebemos bem forte a ideologia do capitalismo, do “cada um por si e Deus por 
todos”; isso vai dificultando a formação da cidadania, da democracia, da 
consciência da coletividade. 
 
Os próprios meios de comunicação contribuem para induzir as pessoas a resolver sua 
situação de forma individualizada; basta ver a quantidade de programas de auditório 
que premiam pessoas com carros, casas, inclusive cujos apresentadores são 
considerados pessoas que colaboram para uma sociedade melhor. A mídia também 
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72 
Ética e Sociedade 
 
 
 
 
legitima o individualismo quando busca criminalizar os movimentos sociais; toda a 
forma de organização da sociedade, como povo e classe, é vista de forma negativa. 
Comece a perceber a cobertura dos veículos de imprensa sobre as manifestações e 
protestos sociais; geralmente, ressaltam os aspectos negativos, como o 
congestionamento do trânsito, as depredações, brigas, levam-nos a concluir que 
cada um deve trabalhar individualmente, fazer sacrifícios sozinho para obter o 
sustento, ou seja, ao assistir à TV, você chega à conclusão de que se você é pobre a 
culpa é sua, se quer comprar uma casa ou um carro você deve trabalhar em dois 
empregos, e não lutar pelo aumento do seu salário. 
 
 
 
 
 
A ética torna-se artigo de luxo no Brasil. A sociedade vai 
estruturando-se sobre a exclusão de uma grande maioria e o 
privilégio de uma pequena elite consumista. 
 
 
 
 
SEÇÃO 4 
A legitimação da concentração de renda e da 
corrupção no Brasil 
 
“O sucesso não é para todos”, “se fulano é rico, foi por seu próprio mérito”; essas 
expressões indicam-nos que a desigualdade de renda e a concentração de riqueza 
são vistas como algo natural no Brasil. 
 
Segundo Pochmann (2004 apud FUTEMA, 2004), o Brasil é um dos países mais 
desiguais do mundo, o número de ricos no país dobrou de 1980 a 2000. Em 2000, 
existia 1.162 milhão de famílias ricas no país, o correspondente a 2,4% da 
população brasileira. Vinte anos antes, havia 507 mil famílias ricas, 1,8% da 
população na época. Esse 1.162 milhão de famílias ricas é dono de 75% do PIB do 
país. Desse total, 5.000 famílias detém 45% do PIB. Além disso, a participação dos 
ricos sobre a renda nacional subiu de 20% para 33% nesse período. 
 
Mesmo com esses dados alarmantes, ainda vigora entre os brasileiros a idéia de que 
a riqueza ou a pobreza é um problema pessoal. Essa idéia não é apenas brasileira, 
mas essa concepção não contribui para uma reflexão ética mais aprofundada sobre 
a geração de riqueza na sociedade brasileira. Essa superficialidade e a falta de 
profundidade reflexiva também colabora para uma certa tolerância à corrupção e ao 
famoso “jeitinho brasileiro” – que, na grande maioria das vezes, corresponde a uma 
habilidade para trapacear e tirar vantagens. Essa realidade toma conta da esfera 
pública e privada, passando por caixa 2, desvio de dinheiro, propina e compra de 
votos. 
 
Toda essa realidade de desigualdade social, corrupção e analfabetismo político 
acaba esquecida e tolerada sob o argumento de que vivemos num país maravilhoso 
e de que “Deus é brasileiro”. A beleza das mulheres, a riqueza natural, o carnaval e 
73 
 Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
 
 
o futebol parecem desempenhar um papel de viseira ética diante de uma realidade 
violenta e injusta. 
 
Rega (2004) afirma que “O jeito, ou o jeitinho brasileiro, é a imposição do 
conveniente sobre o certo”. É a “filosofia” do: “se dá certo, é certo”; desde, é 
claro, que “dar certo” signifique “resolver meu problema”, ainda que não 
definitivamente. Assim é o brasileiro: dá jeito em tudo. Sua versatilidade abrange 
um sem-número de situações: é o pára-lama do carro amarrado, em vez de soldar; 
são os juros embutidos no valor da prestação “fixa”; é matar a avó pela quinta vez 
para justificar a ausência a uma prova na escola, mas o jeitinho é, também, pedir 
a um médico amigo para atender uma
pessoa carente ou para fazer uma cirurgia 
pela Previdência; é o revezamento dos vizinhos para socorrer uma pessoa doente; 
é conseguir um emprego para um pai desempregado. 
 
Você viu que o brasileiro foi criando uma cultura própria para lidar 
com os seus problemas? 
 
Aí surgem alguns dilemas diante do jeitinho, apresentados por Rega (2004): que 
dizer, então, do jeitinho? Podemos fazer uso dele para resolver as questões do dia- 
a-dia? Será que todo jeito é desmoralizante, ilegal, burlador, inconveniente? Será 
que ele também pode ser criativo, solidário, benevolente? 
 
Segundo o autor, a mídia tornou o “jeitinho” algo negativo, mas ele revela o 
desejo do ser humano de não se prender às normas, e sim de superá-las, subjugá- 
las. Suspende-se temporariamente a lei, cria-se a exceção e depois tudo volta ao 
normal; primeiro dá-se um jeitinho na situação, resolvendo o problema, e depois 
vê-se como fica... 
 
Se o jeitinho busca suspender a lei, a regra oficial, o brasileiro seria, então, um 
anarquista, um fora-da-lei? Para Rega (2004), “O brasileiro não nega a existência 
da lei, o que ele nega é a sua aplicação naquele momento.” Justifica-se: se 
podemos pagar menos imposto de renda a um governo que não retribui 
adequadamente em benefícios sociais para seus contribuintes, por que fazê-lo? Por 
que pagar uma multa de trânsito – altíssima – se podemos dar um jeito de cancelá- 
la? 
 
Você percebe que a cultura do jeitinho vai se fundamentando na idéia de que o 
país não cuida de seu povo? E podemos perceber que, historicamente, de fato, foi 
isso que aconteceu. As pessoas eram um meio de gerar riquezas, tanto para 
Portugal quanto às elites nacionais, e sabemos que isso se repete até hoje. Então o 
jeitinho busca uma ação que faça protesto a isso. 
 
 
 
 
 
Mas será que isso não contribui para alimentar a cultura da 
corrupção? 
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74 
Ética e Sociedade 
 
 
De acordo com Rega (2004), a corrupção, tema diariamente discutido na mídia 
escrita e falada, está presente naquele jeito de conseguir uma concorrência, ou no 
jeito de "ajudar" o fiscal a esquecer determinada lei, ou mesmo no jeito de apressar 
um processo numa repartição pública. “O jeito não se contenta apenas em 
transgredir a norma. Às vezes, pela própria transgressão da norma, é preciso dar um 
jeito para não haver punição. Nesse caso, há a união incestuosa entre o jeito e a 
corrupção.” 
 
Claro que não podemos condenar essa cultura do jeitinho, pois nem todo jeito é 
negativo. Para o autor, a inventividade e a criatividade são algumas das facetas mais 
relevantes do lado positivo do jeito. Inventar e criar são habilidades do brasileiro na 
sua capacidade de adaptação a situações inesperadas, como a falta de dinheiro. 
 
O jeitinho busca encontrar uma solução possível para uma situação que a princípio 
seria impossível. Rega (2004) cita o caso do operário que “cobre” o outro em seu 
turno enquanto aquele participa de um curso no supletivo para ganhar o tempo 
perdido. 
 
Diante disso, voltamos à especificidade da ética que – como parte da filosofia – 
busca sempre fazer uma análise mais global do assunto. Devemos condenar o 
jeitinho brasileiro como uma ação antiética? O desemprego não é uma situação 
individual, então algumas ações encontradas para superar essa problemática social 
precisam ser analisadas de forma global e profunda. 
 
Observe a situação dos vendedores ambulantes; muitos estão em situação ilegal, 
deram um jeitinho para sobreviver. O operário que faz curso supletivo e conta com a 
ajuda do colega para isso também faz parte de uma situação que deve ser analisada 
dentro de uma ótica global. 
 
Segundo Rega (2004), enquanto o lado negativo do jeito gera situações delicadas e 
comprometedoras da conduta ética, o lado positivo muitas vezes alivia o brasileiro 
da vida oprimida que precisa vencer, e então se estabelecem os dilemas éticos do 
jeito. 
 
O dilema ético surge quando analisamos essa realidade do jeitinho numa perspectiva 
social, política e econômica. Rega (2004) afirma que a inconsistência da ação 
governamental em áreas como a segurança pública, a fiscalização e o planejamento 
da política tributária e financeira conduz o cidadão a uma situação tal que sua única 
saída no momento é o “jeito”, a “escapada”, sob pena de perder o emprego ou 
inviabilizar sua empresa. 
 
Em suma, o descaso generalizado das autoridades públicas quanto às reais 
necessidades do povo gera o “salve-se quem puder” que, por sua vez, alimenta o 
jeito e incentiva a transgressão das normas. Disso à corrupção é apenas um passo; 
tão logo se estabeleça, a corrupção generalizada acolhe a impunidade e assim fecha- 
se o círculo. 
 
Em uma ocasião, um adolescente entregou-me sua agenda para que lesse alguns 
poemas que ele havia feito. Li-os, cuidadosamente; tratavam da realidade de nosso 
país. Ao final de um deles, havia uma frase, cuja autoria o adolescente ignorava: 
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75 
 Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
 
 
“Em Roma, ela se chama bustarela; em Moscou, vzyatha; em Berlim, tink gel; e, em 
Brasília, pode ser „jeitinho‟, mas em qualquer lugar do mundo e a qualquer época 
será sempre corrupção, uma prática tão antiga quanto à existência do homem. Sua 
arma predileta é a dissimulação, e seu instrumento mais eficaz, o suborno, desde o 
mais célebre da História, o de Judas Escariotes, ao do empreiteiro que paga 
comissão ao homem público.” Copiei a frase e tenho buscado identificar seu autor. 
Ela produziu bons efeitos; foi capaz de sensibilizar aquele adolescente, mostrando 
que em todos os espaços da vida social impera a preocupação com procedimentos 
que fluam isentos de mazelas humanas como a corrupção. 
De acordo com Rega (2004), percebemos que o jeitinho brasileiro possui contexto 
dentro de um círculo vicioso que envolve o cidadão brasileiro. Torna-se negativo 
quando usa de justificativas para o ato corrupto, para a negligência. 
 
 
 
 
 
O jeitinho é também o hábito de simplificar a realidade com 
afirmações reducionistas, como: “Ah!, todo mundo faz, então farei 
também.” 
 
 
 
Essas expressões são as responsáveis pela corrupção crônica que assola o país e o 
impede de encontrar saídas sustentáveis. O jeitinho brasileiro aliado à lógica do 
capitalismo individualista dificulta a construção de uma sociedade mais justa e ética. 
 
 
 
 
SEÇÃO 5 
Esperança ética 
 
A reflexão ética na universidade não tem outra função senão a de provocar em nós 
a necessidade de construção de um novo projeto de vida. O século XXI exige que 
mudemos as concepções de felicidade e realização pessoal, até então assentadas 
num plano individual, para um plano social e comunitário. Em nossa sociedade, não 
cabe mais o desejo de escolher uma profissão para ficarmos ricos e desfrutarmos 
individualmente de todos os prazeres oferecidos pelo progresso econômico e 
tecnológico. 
 
Os desafios éticos deste século exigem de nós o despertar de uma nova inteligência, 
a inteligência social. A modernidade, como já vimos, legou-nos uma racionalidade 
egocêntrica, centrada na ideologia em que “querer é poder”. Precisamos, 
urgentemente, substituir essa racionalidade pela lógica da sensibilidade, da 
alteridade e da solidariedade. A sociedade em que vivemos precisa fazer parte de 
nossas vidas, e não mais ser somente o lugar no qual buscamos realizar nossos 
sonhos individuais. O outro precisa ocupar maior espaço nas nossas decisões e nas 
nossas escolhas. 
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76 
Ética e Sociedade
No entanto, isso precisa acontecer depois de nos formarmos, quando estivermos no 
mercado de trabalho? 
 
Não! Precisa começar agora, na nossa vida acadêmica. Precisamos compreender 
que o conhecimento que buscamos na universidade deve contribuir para a resolução 
dos problemas sociais e para a melhoria da qualidade de vida no lugar onde vivemos. 
 
Essa inteligência ética pressupõe, necessariamente, uma mudança de crenças e de 
concepções, um olhar mais profundo sobre a realidade em que vivemos, que não se 
limite ao senso comum, legitimado pelas instituições, pela cultura e pela grande 
mídia. Por isso, a inteligência ética é um saber que ultrapassa o conhecimento 
específico que adquirimos em nossos cursos. Além de sermos bons em nossa função, 
em nossa área, precisamos ser sábios. 
 
O que é ser sábio? A palavra sabedoria origina-se do grego, sophos, que significa 
totalidade. Uma pessoa sábia é, portanto, alguém que olha o mundo na sua 
totalidade, além de sua realidade individual, ou poderíamos dizer além de seu 
“próprio umbigo”. 
 
 
 
 
 
A esperança ética na sociedade atual concretiza-se à medida que 
mudamos nossas concepções e atitudes sobre a realidade em que 
vivemos. 
 
 
 
Mas como fazer isso? 
 
Teremos um progresso ético à medida que nos abrimos a novas idéias, a novas 
áreas do conhecimento, a novas pessoas dispostas a vivenciar experiências 
diferentes. Portanto, para sermos mais éticos, antes de mais nada, precisamos 
abandonar a auto-suficiência e a intolerância. Uma sociedade ética precisa partir do 
pressuposto de que nenhuma área do conhecimento, nenhuma ideologia consegue, 
sozinha, resolver problema algum. Assim, você estará buscando construir uma 
inteligência ética, aberta ao novo, ao diferente, ao diálogo. 
 
 
 
 
 
Uma sociedade mais ética não é uma utopia, mas uma 
construção humana e social, necessária e viável! 
77 
 Os conflitos éticos da sociedade atual 
 
 
 
 
 
 
 
Auto-avaliação 5 
 
1 A partir dos casos apresentados, procure escrever sua opinião, fundamentada 
numa reflexão ética. 
 
Eutanásia/Morte assistida 
 
Uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo 
está ligado a máquinas que o conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, 
geme no sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz? Não seria preferível 
deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos, ou não temos o direito de fazê-lo? 
Que fazer? Qual a ação correta? 
 
 
 
 
 
 
 
Aborto 
 
Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu corpo e seu espírito ainda não 
estão preparados para a gravidez. Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá- 
la, é tão jovem e despreparado quanto ela e que ambos não terão como se 
responsabilizar plenamente pela gestação, pelo parto e pela criação de um filho. 
Estão desorientados e não sabem se poderão contar com o auxílio de suas famílias 
(se as tiverem). 
 
Se ela for apenas estudante, terá de deixar a escola para trabalhar, a fim de pagar o 
parto e arcar com as despesas da criança. Sua vida e seu futuro mudarão para 
sempre. Se trabalha, sabe que perderá o emprego, porque vive numa sociedade em 
que os patrões discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. Receia não 
contar com os amigos. Ao mesmo tempo, deseja a criança, sonha com ela, mas teme 
dar-lhe uma vida de miséria e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode 
fazer um aborto? Deve fazê-lo? 
78 
Ética e Sociedade 
 
 
 
 
RESUMINDO 
 
 
Nesta unidade, refletimos sobre grandes questões éticas da nossa atualidade que 
perpassam todas as profissões e áreas do conhecimento. Na sociedade brasileira, 
algumas questões éticas assumem maior evidência; são exemplos disso a corrupção 
e a concentração de renda. 
 
Como a ética é uma reflexão sobre o costume e a cultura, percebemos que esses 
grandes desafios éticos de nosso país precisam de uma mudança cultural, que 
implica em atitudes e posturas profissionais comprometidas com o bem comum. 
79 
 Referências 
 
 
 
 
Referências 
 
 
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VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
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81 
 
 
Gabarito 
 
 
Auto-avaliação 1 
 
1. Nesta questão, espera-se que o aluno possa perceber a ética no meio onde 
vive. Ele deve citar exemplos sobre a relação da ética com o meio social, 
focados à sua comunidade local. 
 
2. F, V, F, V 
 
 
 
Auto-avaliação 2 
 
1 Aqui, o aluno deverá citar outros exemplos de violência (que não sejam 
violência física) percebíveis no seu cotidiano, como a prática da coação, da 
inferiorização de pessoas, de opressão silenciosa. 
 
2 A cultura é o espaço onde se formam e se legitimam valores morais e, assim, 
um indivíduo que se fecha nos valores morais de sua cultura pode se tornar 
fundamentalista, ou seja, analisar a realidade fundamentada somente no seu 
ponto de vista. 
 
 
 
Auto-avaliação 3 
 
1 Aqui, o aluno deverá levantar questionamentos sobre a moral da sociedade 
em que vivemos, por exemplo, será que a riqueza provém somente do 
trabalho? Será que quem não trabalha é porque não tem vontade? Existe 
uma religião verdadeira? 
 
2 Na sociedade tribal, as atitudes são pautadas por valores coletivos e, na 
sociedade capitalista, as atitudes se pautam em valores individuais. 
 
 
 
Auto-avaliação 4 
 
1 O problema ético é que os funcionários foram elementos essenciais para a 
rentabilidade da empresa e, no final do ano, não foram reconhecidos pelo 
trabalho. As expectativas deles não foram reconhecidas. 
 
2 A relação acontece na dependência da empresa à oscilação do dólar. As 
expectativas e sonhos dos funcionários estão depositados na empresa, mas a 
frustração dessa expectativa parece vir de fora da empresa. 
82 
Ética e Sociedade 
 
 
 
 
Auto-avaliação 5 
 
 
 
 
1 Aqui, o aluno deverá manifestar sua opinião fazendo uma reflexão sobre os 
dilemas éticos na decisão, por exemplo, se desligar, estaríamos respeitando a 
liberdade de escolha da pessoa? 
 
2 No caso do aborto, quem tem mais direito à felicidade, a mãe ou o filho? Quais 
os critérios que sustentam uma decisão?

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