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KARL MARX
MuitopoucospensadoresnaHistóriaformularamidéias,tantosobrequestõesint
Icctuais~uantosobrequest<1e!práticas,quetenhamtidoumimpactoequivalenteaod
idéiasde)KarlMarx11818-1883As influênciasintelectuais,políticas,econômicaseso
ciaisdesuasidéiassãosuficienementeconhecidasenãoprecisamsermaiselaboradasne
telivro.Comotodososgêniosintelectuais,desdeo tempodosantigosgregosatéhoje,el
formulouumsistemaintelectualcompletoe integrado,queincluiuconcepçõesbemelO
boradassobreontologiae epistemologia,anaturezahumana,anaturezadasociedade,
relaçãoentreo indivíduoeo todosocialeanaturezadoprocessodaHistóriasocial.
Comoseusistemaintelectualeraumtodointegrado,pode-seargumentarquenão
possívelentenderinteiramenteumapartedestesistema,seessapartenãoestiverinserid
nocontextoapropriadodetodoo sistema.Emborao autordestelivrotenhaalgumasinl
patiapor esteargumento,nãoépossívelassimproceder,considerando-seasfinalidad
limitadasdaobra.Portanto,deixaremosdeladomuitosaspectosdosescritosdeMarx
abordaremosoutrosmuitoresumidamente,quandofor necessário,paradiscutirmossu'
idéiasrelativasà natureza,àsorigense ao mododo funcionamentodeumaeconoml
capitalista.Sóestasúltimasidéiasserãoanalisadasnestecapítulo. ,
A análisedeMarxsobreo capitalismofoi elaboradademodomaiscompletoems\t'
obraemtrêsvolumesintituladaO Capital.SóoVoI. 1foipublicadoenquantoeleain
eravivo(em]867).Rascunhose anotações,quedeveriamserreescritosequeforamp
blicadosnosVols.2 e 3, foramescritos,quasetodos,emmeadosdadécadade]86
(antesdeeletercompletadoo Vol. 1)e aindanãoestavamacabadosquandoMarxmo
reu,em]883.Foramorganizados,ordenadosepublicadosporFrederickEngels(oVol.
em1885eoVoI.3 em1894).Marxescreveumuitosoutroslivros,panfletoseartigos,C
queanalisavao capitalismo;departicularimportânciafoi umasériedesetecadernos
anotações,escritosem1857e ]858,queeramrascunhosdemuitasanálisesquedeveria
serpublicadasemO Capitale deoutrostópicosqueMarxpretendiaincluirnumaob
maisamplaainda,daqualO Capitaleraaprimeiraparte.Estasanotaçõesforampubllo
dasemalemão,sobo títulodeGrundrissederKritik derP.olitischenOkonomie(FUlUl,
mentosdaCriticadaEconomiflPolitica).A traduçãoinglesadestescadernosdeanot
çõesfoi publicadasobo título deGrundrisse.:ÉumcomplementoútildeO Capital,
principalfontedasidéiaseconômicasdeMarx.
A CRfTICADEMARX À ECONOMIACLÁSSICA
) 18
,.
1I1!~tecaso,Marxcriticouseveramentemuitasdasidéiasdessesautores.LevouasérioMill
IIUIIIOoponenteintelectual;quantoa Malthus,Bentham,Senior,Saye Bastiat,Marxqua-
li' queselimitouacriticá-los.
A ll.:laiordeficiênciadamaioriadestesau!ores,naopiniãodeMarx,~~s~alta de
pdr$pectiv~h~tó.!i~a(emboraest~críticasedirigi~em~n~~mith).§et!vessem~estuJl.a-
,lullist~~~s c~ic!!!.9o.~insistiaele- teriamdescobertoqueaproduçãoé u~
1IIIvldadesocial!.quepodeassumir.!!1uitasformasoUJ:n,odos.~endendolI~as. vi-
~~IIII~Sdeorganizaçãoso~ dascorrespo}lÇ!€llil~stécnicasdeproduc~~A sociedadeeu-
IUpl1iatinhapassadoporváriasépocashistóricasdistintas,oumodosdeprodução,inclu-
_Ivoasociedadeescravocrataeasociedadefeudal,eestava,naquelemomento,organizada
,li'limaformahistóricaespecífica- omodocapitalista.
SeestesautoresdeEconomiativessemfeitoumestudodetalhadosobreosváriosmo-
11l)~deprodução,teriamdescobertoque"todasasépocasdeproduçãotêmcertostraços
'1)IIIUnS,certascaracterísticascomuns".1Indispensáveisà produção,comoeramalgumas
II~slascaracterísticas,o primeiropassoparaentenderqualquermododeprodução- co-
11111ocapitalismo- eraisolarascaracterísticasqueeramnãosóessenciais,comotambém
1'411icularesdaquelemododeprodução:
Oselementosquenãosãogeraisnemcomunstêmqueserseparadosda...(gamadecaracterísti-
cascomunsatoda)produçãocomotal,demodoque emsuaunidade- quejá surgedaidenti-
dadedosujeito- ahumanidade- edoobjeto- a natureza- suadiferençaessencialnãoseja
esquecida.Todaa profundidadedoseconomistasmodernosquedemonstrama eternidadeea
harmoniadasrelaçõessociaisexistentesrepousanesteesquecimento.2
Esta incapacidadedeestabelecerdiferençaentreascaracterísticasdaproduçãoque
'1"11Icomunsa todosos modosde produçãoe asqueeramespecíficasdo capitalismole-
~"VIIa inúmerasconfusõese distorções.Duas destasdistorçõeseramparticularmente
IIlIplHlantcsna opiniãodeMarx:a primeiraeraa crençadequeo capitaleraumelementv
1Illlvl~rsalemtodososprocessosdeprodução,ea segundaeraquetodaatividadeeconômi-
I'. podiaser reduzidaa uma sériede trocas.Quasetodos os economistasanterioresa
Itll,I!'doforamculpadospelaprimeiradistorção(comexceção,comovimos,deHodgskin).
I ()IIIIS\'todosos economistasque escreveramdepoisde Ricardo(principalmenteSeniore
ItWltlllt)foramculpadospelasegundadistorçãoapontadaporMarx.
A identificaçãoerradado capitalse originavado fato de que o capitaltinha uma
1'4111llcrísticauniversalemtodaa produçãoeumacaracterísticaparticularcomrelaçãoao
.'.pllal1smo."A produção"- admitiaMarx - não era "possívelsemum.instrumentode
1IIIIdllçao";tambémnão poderiahaver"produçãosemtrabalhoacumuladopassado...
II 'lIpltalé também,entreoutr~coiSas.,__.uIIljl}strum~ntodeproduçã02.~t,!m.!2.émtra:.
h,llhupassadomatcriaTf~ado...:_Port~!:!to~~ital é uma relaçãogerale e~erna_d_~na-
1'"1lil, assimdefinido se eu omitir apenasa-qualidadeespecítica-clue,por si meima,.
1lIlIl.l'ollllao 'instrumcntode pro{ução'e o 'trabalho'acumúfado'em Cãpital"! ssta
MAHX, Karl. Gnmdrisse.Novalorque,VintageBooks,1973,p. 85.
1111<1.
11'1<1,p. H:\.Hh.
'1'1
4
qualidadecspecít1caerao poderdo capitaldegerarlucrosparaumaclassesocialeJp
daI. So nocapitalismoos"ini!!.ument9_$deprodução-tie "0_tralJalllOacumwado";em
a fontederendae dôpoderdaclassesocialdominante.Marx,contrariamenteaosecon
IlIlstasquecriticava,procurouentendercomoesteaspectodo capitalsurgiue,depol'
comoseperpetuou.
A maioriadoseconomistasanterioresa Marxachavaqueapropriedadeerasagra
(MilI,é claro,eraumaexceção).Alémdomais,elestinhamidentificadoapropriedadee
geralcomaformaexistentedepropriedadeprivadacapitalista.Marxeracontraisso;ta
bémfezobjeçãoàseparaçãototal,feitaporMilI,entreproduçãoedistribuição.Havia
insistiaele- inúmerasformasdepropriedade,cadamododeproduçãoparticulartin
suasformasparticularesde propriedade,e estasformasdeterminavama distribuiç6
Assim,a produçãoe a distribuiçãonãoeram,comoMilI acreditara,independentesUI
daoutra:
Toda produçãoé apropriaçãoda naturezapor partede umindivíduoqueviveemumaforma.
pecíficade sociedade,formaessaque lhe permitea apropriação.Nestesentido,é tautológl
dizer que a propriedade(apropriação)é uma precondiçãoda produção.l~,porém,intelram~
te ridículo dizero mesmode umaformaespecíficade propriedade,como,por exemplo,a pr
priedadeprivada... A lIistória mostraque a propriedadecomum(por exemplo,na fndia,\'
treoseslavos,entreosceltasetc.)é a formamaisoriginal,umaformaquecontinuadescmpenh~
do um papel significativo na determinaçãoda propriedade comunal ...
Toda formade produçãocria suasprópriasrelaçõeslegais(tipos de propriedade),suaprópr!
formadegovernoetc Tudoo queoseconomistasburguesessabemdizeré queaproduçãopu\11
ser melhorlevadaa caboatravésdo policiamentomodernodo que,por exemplo,combaseI
princípio dequea forçafaz o direito.Esquecem-se,porém,de queesteprincípio(a for~'afa,
direito) tambémé umarelaçãolegal,eque° direitodo maisfortetambémvigoraemsuas"rep
blicasconstitucionais",sÓquedeoutraforma."
Na verdade,na medidaemquea mercadoriabemcomOo trabalhoscjamconcebidosapel1UM\'Ilr
mo valoresde troca e a relaçãosegundoa qual asváriasmercadoriasserl'lal'iunaml'l1lrl''I.:
i
I
lbid., p. 87-88.
,~()
I'oncebidacomoa trocadestesvaloresde troca... os indivíduossão... simplesmenteconcebidos
'~omotrocadores.No que diz respeitoao caráterformal, não existe,absolutamente,distinção
algumaentreeles... Cadaum é um trocador,istoé, cadaumtemeomo outro amesmarelação
,oeialqueo outro temcomele.Como sujeitosde troca,suarelaçãoé,portanto,deigualdade.t:
Impossívelencontrarqualquersinalde distinção- isto semsefalaremcontradição- entreeles;
nãoexistesequerumadiferença.5
Umtrabalhadorquecompn:mercadoriaspor3 shi11ingsseapresenta,diantedo
vendedor,names-
lI1a função,coma mesmaigualdade- naformade 3shillings- queo reiquefaçao mesmo.Toda
distinçãoentreeleséeliminada.O vendedor.comotal,apareceapenascornodonodeumamerca-
doriaquc custa3 shillings,de modoqueambossãoabsolutamente iguais;sÓque3 shillingsexis-
tem,aquisoba formadeprata;emoutraocasião,soba formadeaçúcaretc.6
Portanto,superficialmente,umsistemadetrocapareceumsistemadeigualdade.
Dadaatotalnegligênciadoseconomistasburguesescomrelaçãoàscaracterísticasque
Iluw,nciamo capitalismodeoutrosmodosdeprodução,umaeconomiadetrocatambém
1'*I,'"laumaeconomianaqualprevaleciaaliberdadehumana.Narelaçãodetroca,
,'ntra,alémdaqualidadedaigualdade,adeliberdade.Emborao indivíduoA sintaumanecessida-
'\l' de ter a mercadoriado indivíduoB, nãoseapropriadelaà força,nemvice-versa.Ambosse
rcconhecemreciprocamentecomoproprietários...Nenhumdelestira o queé do outro à força.
('udaumsedesfazvoluntariamentedesuapropriedade.'
. Joinalmente,umaeconomiadetrocatambémpareciaumsistemanoqualosatosmo-
l'I~IHllJS pelointeressepr~rio-egoístaeramcanãITiããos,T'como-queporumamãoInvisí~I . --- - - - - . -- .--
'~'II",paraum todosocia~_en~eharmonioso.pmotivoparaa frocapresSupunha,clara-
=
1~llIlIll"queosii1divíduosnãoproduzissemriempossuíssemo quequisessemnemaquilo
.~qUl'necessitassem."Só asdiferençasentresuasnecessidadesesuaproduçãodavamori-
m1\trpca"- escreveuMarx.8
! I) aparecimentodaharmoniaera,então,inevitável:
() II1divíduoA atendeà necessidadedo indivíduoB pormeiodamercadoriaa, apenasnamedida
"111<llIee porquco indivíduoB atendeà necessidadedo indivíduoA pormeiodamercadoriab c
vll'l'-versa.Cadaum atendeao outro paraatendera si mesmo;cadaumfazusodo outrorecipro-
'alllentecomoummeio...Assim,é irrelevante,paraambasaspartesenvolvidasnatroca...que
,',tareciprocidadeSÓlhe interessena medidaemquesatisfaçaseuinteresse...semreferênciaao
Interessedo outro. Que\dizer,o interessecomumqueaparececomomotivodo atocomoumto-
Ilué rcconhecidocomoumfato,porambosos lados,mas,comotal,nãoéo motivo.'
, J\ssim,a hamlOniaeconômicado capitalism~r~ visível quan~ ~ei!ava "a
1.,11/1111tivade quee~iste,!lmaúnicarelaç!QeconôI1!i~"_- ~trQca.10}'. cOI1c1l1sãodeMarx
~I"IIhvia:
II>III..p.241.
tlIIII , p. 246.
110"1,p. 243
110',\,p. ~42.
11>111,p 1.13.244.
tI"II ,11 '4'),
I 'I
I~no caráterda relaçãomon~tária- namedidaemqueelaé desenvolvidaemsuapurezaatéu
ponto,e semselevaremcontarelaçõesdeproduçãomaisaltamentedesenvolvidas- quetoda.
contradiçõesinerentesà sociedadeburguesaparecemdesfazer-seemrelaçõesmondárias,con
bidasde umaformasimples;e a democraciaburguesa- maisaindado queos economistasli
gueses- se refugianesteaspecto ...a 11mde construira apologéticadasrelaçõeseconôml
existentes."
~MERCADORIAS,VALOR, VALOR DE USOE VALOR DETROCA*,
Marxestavainteressadoemexplicaranaturezadarelaçãosocialentrecapitalista.
trabalhadores.Em termosdeteoriaeconômica,istosignificavaa relaçãoentresalário.
lucros.Quandoseconsideravaapenasaesferadatrocaoucirculação,ossalárioseluctl
pareciamconseqüênciadasimplestrocademercadorias.Então,Marxcomeçouo Vol,
deO Capital(como subtítulodeUmaAnáliseCn'ticadaProduçãoCapitalista)comu
análisedasmercadoriasedaesferadacirculação.
+-- O capitalismoeraumsistemaemquea riquezaparecia"umaimensaacumulação
mercadorias,comumaúnicamercadoriacomounidade".12Umamercadoriatinhali
I c;;ãcter7sticã~~;en~rTmeirã~ era"u;; ~i~~q~,-porsU,asyroEriedades,j
I tisfaziaàsnecessidadeshumanas",-uAsqualidadesfísicasparticularesoeumamercador
I quetTnílautiffif<idêparaaspessoas,faziamcomquea I"!]ercadoria.tivesseUI~:mlor
uso.As qualidadesfísicasparticularesquetornavamútil umamercadorianãotinham,
I
opiniãodeMarx,qualquerligaçãodefinidaousistemáticacOm"aquantidadedetrabal
necessárioparaaapropriaçãodesuasqualidadesúteis".14Emsegundolugar,asmerca
\riaseram,"alémdisso,o depositÜriomaterialdovalordetroca".ISO valordetrocaumame'rcadoriaeraumarelaçãoentreaquantidadedestamercadoriaquesepoderiac
~eguiremtrocadeumacertaquantidadedeoutraououtrasmercadorias. I
O valordetrocaera,habitualmente,expressoemtermosdopreçomonetáriode\
mercadoria,querdizer,eraexpressoemtermosdaquantidadedamercadoriadinheiro'
sepoderiaobteremtrocadeumaunidadedamercadoriaemquestão.Assim,seo pr
deumpardesapatosfosse2 dólares,istosignificava,simplesmente,queumpardesu
tosseriatrocadoporduasunidadesdamercadoriadinheiro(nocaso,2 dólares),ou
umaquantidadedequalqueroutramercadoriaquepudessesertrocadapor2 dólaf(:I~
dinheiro,então,eraumamercadoriáespecial,geralmenteusadacomonuméraire,CIIII,
mosdoqualosvaloresdetrocaeramgeralmenteestabelecidosequetambémfunclOl1
comoequivalenteuniversaldetroca.Comotal,funcionavacomoummeiodetroca,
é,erausadoemquasetodatrocaouvenda.Erao usouniversaldodinheirocomoe'luti'
lentedetrocaquediferenciavaumaeconomiadetrocamonetáriadeumaeconOllll1&
11
Ibid., p. 240-241.
MARX, Karl.O Capital.Moscou,Editorade LínguasEstrangeiras,1961,I: 35,3 v.
Ibid.
Ibid., 1:36.
lbid.
12
13
14
15
J' )
11'1111peloescambo.A moedatambémeraummeiodeguardarriqueza,quandosequeria
li.. muitariquezaacumuladasoba formadevalordetrocapuroe nãodevaloresdeuso.
l,tlllÚrmeveremosmaisadiante,a moedatambémpodia, emcertascircunstâncias,ser
~IIII~docapital.
i () valorde trocaerao meio atravésdoqualtodasasmercadoriaspodiamserdiretae
, 1IIIIIIIIltativamentecomparadas.Osvaloresdetrocapressupunhamwnelementocomuma
11111u as mercadorias,em virtude do qual tais comparaçõespodiamser feitas.Além de
'111valorde troca,asmercadoriassó tinhammaisduascaracterísticasem comum:todas
i1II,IIIIInvalordeusoe todaseramproduzidasapenasj!elo gapalhohumano:.-. -~\
Cada uma destasduascaraclerístícascomuns- comojá dissemosnestelivro - foi
1,llIIlIldacomodeterminantedo valorde trocapor diferentestradiçõesda teoriaeconô-
.~IIII"Marx,porém,rejeitouo valordeusocomopossíveldeterminantedospreços.Escre-
'~~IIIJ seguinte:"Como valoresde uso,asmercadoriassão,acimade tudo, de diferentes
:IIlIlllidades,mas,como valoresde troca, são meramentequantidadesdiferentes."16As-
tI"" Marxafinnavaquea variedadeinfinitadequalidadesfísicasquedavaàsmercadorias
illitlllvlllorde uso - ou utilidade- nãoeradiretamentecomparável,emsentidoquanti-
I
hllVII,
Portanto,o únicoelementoque~_çqlJ1ul!!~lQQ.a,sasmercadoliasegireta.!l1ente
'IIIparávelemtennosquantitativosera9 tempodetrabalhonecessárioJ~~rasuaprodu-
II OuandoMarxconsiderou,abstratamente,asmercadoriasignorandotodasassuas
H"II'lIçase peculiaridades,elasforamreduzidasàsincorporaçõesmateriaisdotrabalho
IIIIII\!gadoemsuaprodução.As mercadorias,assimconsideradasporMarx,eramdefini
11_,'111110 valores."O trabalhohumanoestácontidonelas.Quandoencaradascomocris
Illksle... (trabalhohumano),todaselaseramcomuns- eramvalores."I?
IlIlelizmente,Marxdefiniuo trabalhohumanocristalizadonasmercadoriascomova-
Ii ".Iepoderiaterusadoo termovalor-trabalho),porqueapalavravalortinhasidousada
11111Ill'qüênciaporeconomistasqueescreveramantesdeMarx,epassouaserusadaqua-
'I"\'l'xclusivan1entepeloseconomistasposteriorescomo sentidodesimplesvalorde
'1'I1oupreço.Ao lerO Capital,é precisoteremmenteadefiniçãodeMarx,a fim de
11111l'l>nfusão.Modernamente,o estudantedeEconomia,muitasvezes,verificaqueesta
1I111I~il()émuitoagravadano VoI. 1,porduasrazões.Primeiramente,Marx,àsvezes,es-
~\IIIwmoseo trabalhoincorporadoàsmercadoriasfossediferentede.seusvalores(e,às
1'.,l'omoseosdeterminasse).Consideremoso seguintetrecho:"O valordeumamer-
I,d,11111está para o valordequalqueroutraassimcomoo temponecessáriodetrabalho
1III lua produç;ioestáparao da outra.,,18Esta fraseé redundante,implicandoconfu-
II dI' lermos.t. redundante,seele tiver usadoapalavravalortal comojá a haviadefini-
I." "timesnão erammeramenteproporcionaisàsquantidadesdetrabalhoincorporadas;
."'111Idellticosa elas.Paraqueestafrasenãofosseredundante,deve-sesuporqueMarx
:'11'dl/l'l valorde troca,quandodissevalor.Masnãotemoscomosaberseeraisto()que
'.h I ,lllIwlltequeriadizer.Talvezsejamaissegurosuporquesim.
l
1"101, I 37 3H,
1"10\,I 1H,
111101I 1'1O!O,
" I
TRABALHO ÚTIL E TRABALHOABSTRATO
hll sc.'gundolugar,estaconfusãoé facilmenteagravada,porque,no Vol. 1,Marx 11
('~rlll'/If'/'('()('upadocomqualquerteoriadestinadaa explicarpreçosreais.Estava,istosill'
1111111111110explicara naturezado capitale asorigensdo lucro.Paratanto,achouconven~
~lItl'aceitara idéiade Ricardo,dequeo trabalhoincorporadoàproduçãoerao princip
dl'terminantedosvaloresdetroca. Para""~dõ, f;toreSCõil1õdiferençasda razãoellt'
IIHiquinase trabâfnõou diferençasde duraçãodosprocessosde produçãoemdiferellt
indústriaseramdiferençassecundáriasemrelaçãoaospreços.Estasdiferençassecundári
eramnãosó relativamentesemimportância,como tambéminteiramenteexplicáveisp
princípiossubsidiáriosdateoriado valor,deRicardo.Marxpartiudestaidéiae,no Vol.
abstraiu-sede consideraressasinfluênciassecundárias.Paraexplicar'a naturezae asor
gensdo capitale do lucro,supôs,comoprimeiraaproximaçãoabstrata,queosvalor
(trabalhoincorporado)fossemos únicosdeterminantesdosvaloresdetroca.Naquele11"
veldeabstração,comovimosnoscapítulossobreSmitheRicardo,osvaloresdetro,
eramsempreproporcionaisaosvalores(talcomoMarxdefiniavalores).Portanto,emto
o Vol. I, Marxusouostermosvalore valordetrocacomosinônimos.Emboraistofo ,
muitoapropriado,considerando-seesteníveldeabstraçãoteórica,agravoua confus'
feitaporleitoresdeseustrabalhos.Marxsabiamuitobemquaiseramasdistinçõesenl.,
valorese valoresde trocae preços."Temos que perceberà primeiravista"- escrcvqi
ele - "as deficiênciasdaformaelementarde valor:eleé um merogerme,quetemq'
passarpor umasériede metamorfosesantesdepoderamadurecersoba formadep
çO.,,19
SónoterceirovolumedeO Capitalé queMarxestendeusuateoriadotrabalho
modoa explicarospreçosreais,istoé,a levaremcontaasinfluênciassecundáriassob
ospreçosquemencionamosanteriormente.Infelizmente,o Vol. 3 nãochegouaserac
badopor Marxe suadiscussãosobreo trabalhocomodeterminantedospreçosreal
emboraconceituaImentebastanteadequada,tinhaumaincoerênCiaquesófoi solucion
daváriasdécadasdepois,comoveremosnoCapo10. i
Tendochamadoatençãoparaospossíveispontosconfusosnamaneirasegundoa'lU'
Marxusouostermosvalore valordetroca,voltamos,agora,a discutirasmercadoriu.
seusvaloresdetroca. li
i
I
QuandoMarxafirmouqueo trabalhodeterminavaosvaloresdetroca,definiuo le
po detrabalhocomoconsistindoemtrabalhosimplesehomogêneo,emqueeramabstr
dastodasasdiferençasespecíficasentreváriostiposdeprocessosdetrabalho:"O trab
lho... queformaasubstânciadovaloré trabalhohumanohomogêneo,o gastodl' IlIt'
forçadetrabalhouniforme.,,2oIstoo levouadistinguirduasmaneirasdiferentesdever
trabalhoeo processodetrabalhar.Quandoseencaravamascaracten'sticasespe('IjI('(J,~
processosespecificasdetrabalho,viam-sequesuasqualidadesdiferenciadoraspartll'lIlur
19 Ibid., J :62.
Ibid., J :39.
20
1'111111necessáriasparagerarosvaloresdeusoparticularesdasdiferentesmercadoriasem
'I1I.5tão.O trabalhoencaradodestamaneirafoi definido como trabalhoútil e, comotal,
1',uJuziaos valoresde usoparticularesdediferentesmercadorias.Assim,trabalhoútil era
" ,lIusado valordeusodas_mer.ca.daJ:ips:---~.. --.-
U paletóé umvalordeusoquesatisfazaumanecessidadeparticular.Suaexistênciaéoresultado
deumtipoespecialdeatividadeprodutiva,cujanaturezaédeterminadaporsuafinalidade,sua
formadeoperação,seusujeito,seumeioeseuresultado.O trabalhocujautilidadeéassimrepre-
sentadapelovalordéusodeseuproduto,ouquesemanifestatornandoseuprodutoumva-
Iardeuso,serápornóschamadodetrabalhoútil.21
O trabalhoquecriavavalordetroca,porém,eratrabalhoabstrato,ondeasdiferenças
11,qualidadedosváriostiposdetrabalhoútileramábffiãTcfàs:"A atividadeprodutiva,se
I'rlxarmosdeladosuaformaespecial,como,porexemplo,ocaráterútildotrabalho,na-
1111maisédoqueo gastodeforçahumanadetrabalho...Ovalordeumamercadoriare-
Itll"I.!ntatrabalhohumanonestesentidoabstrato,e gastodetrabalhohumanoemge-
111,1 ..22
Quandoafirmouqueo trabalhoabstratodeterminavaovalordetroca,Marxfezduas
~ullllficaçõesimportantes.Primeiramente,a dequenãoeraapenaso tempodetrabalho
.",'/a/mentenecessárioquecontava:"O tempodetrabalhosocialmentenecessárioéo que
. \lII'cisoparaproduzirumartigoemcondiçõesnormaisdeproduçãoecomograumédio
~I'habilidadee intensidadeexistentenaépoca.,,23
Marxtambémadmitiaquealgunstiposdeproduçãoexigiamqueostrabalhadores
ilhl"III$semumtempoconsideráveladquirindohabilidades.especiais,aopassoqueoutros
111t1l\:I.~ssosdetrabalhopodiamserexecutadosporsimplestrabalhadoressemqualificação
.1~lIlIIa.Nessecaso,o cálculodosvaloresexigiriaqueo trabalhoqualificadofossereduzi.
,1~IIIUI11simplesmúltiplodotrabãIh-onão-quaTIITc:ado:- - --- - --
() trabalhoqualilicadosó contacomotrabalhosimplesintensilicadoou comotrabalhosimples
l1Iultiplicadoquandoseconsideraumadeterminadaquantidadede{trabalho)qualificadoiguala
UUlaquantidademaior de trabalhosimples.A expcriênciamostraquesempresefaz estaredu-
'ii\) ... As diferentesproporçõesem que diferentestipos de trabalhosão re~zidos a trabalho
uiio-qualilicadocomopadrãosãoestabelecidasporumprocessosocialdespercebidopelosprodu-
IUI"Se,por isso,parecemserlixadaspelocostume!4
Ouandodescrevermosa teoriadopreçodaforçadetrabalho(ousalário),deMarx,
~WII'veremosamaneiracomopercebemosa determinaçãodasdiferençasdesaláriospc-
I.. qUlliso trabalhoqualificadofoireduzidoatrabalhosimples.
I('lido,então,estabelecidoaligaçãoentreo valordetrocadeumamercadoriae "a
_Utllllllhldedetempodetrabalhosocialmentenecessárioparasuaprodução",Marx,coe-
i'~IIIi'mll1suacríticaanterioraoseconomistasburgueses,mostrouascondiçõessócio.
111"lllIlla~específicasnecessáriasparaosprodutosdotrabalhohumanosetransformarem
i.," 1lIi'Il'adorias.
I
110101 , / :41.
110101,J '44.
Ihhl. / \'),
110101, /.101
E necessáriohavercondiçõeshistóricasdefinidasparaum produtopodertransformar-seemUJl'
mercadoria.Ele nãopodeserproduzidocomomeio.imediatode subsistênciado próprioprol!
tor... A produçãoe a circulaçãodasmercadoriaspodemocorrer,emboraa grandemaioriaLI
objetos produzidosse destinea atenderàs necessidadesimediatasdos produtores,não sCIIJ
transformadosem mercadorias;conseqüentemente,a produçãosocialaindanãoé muitodomin
da,tantoemsuaextensãoquantoemsuaprofundidade,pelovalordetroca."
1
NATUREZASOCIALDA PRODUÇÃODEMERCADORIAS
Osprodutosdotrabalhohumanosósetransformavamemmercadoriasquandoera
plOduzidosapenascomo fito deseremtrocadospordinheironomercadoe não pa
usoougozoimediatopelosprodutoresou poroutraspessoasdiretamenteassociadasI1
eles."O mododeproduçãono qualo produtotomaa formadeumamercadoria011
produzidodiretamenteparatroca"- escreveuMarx- "ou éa formageraleembriul1
riadaproduçãoburguesa".25A produçãodemercadoriaserasempredominadapelabus
dovalordetroca:
I'I~visãoe daaçãodosprodutores.Paraeles,suaprópriaaçãosocialassumea formada
li,aodeobjetosquegovernamosprodutores,emvezdeseremporestesgovernados".28
".sim,o queeramrelaçõessociaisentreprodutoresparecia,a cadaprodutor,simples-
1l1llOte,umarelaçãoentreeleeumainstituiçãosocialimpessoaleimutável- omercado.
II mercadopareciaenvolver,simplesmente,umasériederelaçõesentrecoisasmateriais-
"I mercadorias."Portanto,as relaçõesqueligavamo trabalhodeumindivíduoaodos
~(llIlaisaparecem"- concluiuMarx- "nãocomorelaçõessociaisdiretasentreindivíduos
IllIlrabalho,mascomo...relaçõesentreobjetos".29
Assim,emumasociedadequeproduzmercadorias,osvaloresdeusoproduzidospelo
tlllbalhoútilnãopoderiamserconsumidose usadossemo funcionamentoacontentoda
trucanomercado.Aindaera,porém,apenaso trabalhoútilqueproduziavaloresdeuso
'i"~mantinhama vidahumanaequegeravamtodaautilidadeconseguidaatravésdocon-
11111I0.A grandeingenuidadedoargumentoda"mãoinvisível",deSmith,e detodasas
IIIIISvariaçõesapologéticaselaboradasporoutroseconomistasburgueseseraconseqüência
,Irmafaltadevisão.Encarandoapenassuperficialmenteo atodatrocaeaesferadacir-
,,"III~1[O,oseconomistasburguesesachavamqueestautilidadeerageradanaprópriatroca.
" Iroca,portanto,lhespareciauniversalmentebenéfica,harmonizandoosinteressesde
IllIJu indivíduoe detodososoutrosindivíduos.A verdadepuraesimpleseraqueo traba-
IlIuIltilerasemprea fontedetodautilidadeproporcionadapelasmercadorias,eatroca
I m meramenteo pré-requisitonecessárioparao própriofuncionamentodeumasociedade
11111produzissemercadorias.Oseconomistasburguesestinhamsidoincapazesdevisualizar
111I.lquercoisaalémdeumasociedadequeproduzissemercadorias,demodoqueoapare-
l'IIIH~lItodomercadocomoinstituiçãoharmonizadoraesocialmentebenéficameramente
IlIiHl:avao fatosubjacentedeque,nestasociedade,ninguémpoderiatirarvantagemdauti-
1"I,Hkproporcionadapelotrabalhoútil,a nãoserqueo mercadofuncionasse.Estefato,
1'"1si mesmo,nãodavaqualquerindicaçãoquantoà naturezadasrelaçõessociaisentre
II variasclassesemumasociedadecapitalistanemindicavaseestasrelaçõeseramharmo-
tllll~IISou conflitantes.
Paraqueumasociedadefosse"dominada,emsuaextensãoeprofundidade,pelo
lor detroca",querdizer,paraquefosse,basicamente,umasociedadeprodutorade11I11
cadorias,eramnecessáriostrêspré-requisitoshistóricos:primeiramente,tinhaqueIw
umgrautãograndedeespecialização,quecadaprodutor,individualmente,produzi
sempreo mesmoproduto(oupartedeumproduto).Emsegundolugar,estaespeciah"
çãoexigia,necessariamente,acompleta"separaçãodovalordeusodovalordetroca".
Comoavidaeraimpossívelsemoconsumodemuitosvaloresdeuso,umprodutor1'0
ria relacionar-secomseupróprioprodutoapenascomovalordetrocae nãopoderill.
quirirseusvaloresdeusonecessáriosdosprodutosdeoutrosprodutores.Emtercel
lugar,umasociedadeprodutorademercadoriasexigiaummercadoamplo,bemdesenv
vido,queprecisavadousogeneralizadodamoeda,comoequivalentedevaloruniverl
mediandotodasastrocas.
Em umasociedadequeproduzissemercadorias,qualquerprodutortrabalhariaiso
damentedetodososdemais..eclaroqueerasocialeeconomicamenteligadoourelae
nadoa outrosprodutores.Muitosdelesnãopoderiamcontinuarcomseushabituais
'i
drõesdiáriosdeconsumo,semoprodutorproduziramercadoriaqueseriaconsumida
los outrosprodutores;domesmomodo,o produtornãopoderiacontinuarcomseu
drãodeconsumo,anãoserqueosváriosoutrosprodutoresproduzissemsempreas111
cadoriasdequenecessitassem.Assim,haviaumarelaçãosocialdefinidae indispclI$ll
entreosprodutores.
Todavia,cadaprodutorsóproduziaparavendernomercado.Como produtodeI
venda,compravaasmercadoriasdequeprecisava.Seubem-estarpareciadependeraponl
dasquantidadesdeoutrasmercadoriaspelasquaiselepoderiatrocara suamcrcadorl,
"Estasquantidadesvariamsemp,re"- escreveuMarx- "independentedavOllt1HIl-,
CIRCULAÇÃOSIMPLESDE MERCADORIASE CIRCULAÇÃOCAPITALISTA
Ascondiçõeshistóricasnecessáriasparaaproduçãodemercadoriasnãoeram,segun-
1111;1urgumentaçãode Marx, idênticasàsnecessáriasparaa existênciado capitalismo.Ele
~III'VIIIIlteressadoem entendera naturezahistóricae socialespecíficado capitalcomo
1i,,\II'dos lucros.Asseveravaqueas"condiçõeshistóricasdaexistênciadocapitalnão.§.iio,
110fluIdoalgum,determinadaspelameracirculaçãodamoedae demercadorias".3o
Na produçãosimplesde mercadorias,em um sistemanão-capitalista,produziam-se
111"11IIdoriasparavendacomo fl111deadquiriroutrasmercadoriasparauso.Emtalsis-
"11111,Marx escreveu:
26
Ibid., J :82.
Ibid., /:169-170.
Ihid., /: 170.
Ihld., I 7S.
Ihld, I 7].
111111,I I'IU
27
'"
n Irocademercadoriasé... acompanhadadasseguintesmudançasemsuaforma:
Mercadoria- Moeda- Mercadoria
Me-Mo-Me.
oresultadodetodoo processoé... a trocadeumamercadoriaporoutra,acirculaçãodetru
lhosocialmaterializado.Quandoseatingeesteresultado,oprocessochegaaofim.3I
Contrastandocom isso,em umsistemacapitalista,logosepoderiaobservarque,p~
umsegmentodasociedade- oscapitalistas- o processodetrocaseriamuitodiferente:'
(
I
A formamaissimplesdecirculaçãodemercadoriaséMe-Mo-Me,a transformaçãodemeren
riasemmoedaeatransformaçãodamoedanovamenteemmercadorias,ouseja,venderparaco
prar;mas(nocapitalismo>,juntamentecomestaforma,encontramosoutraformaespcciticarn
tediferente:Mo-Me-Mo,ouseja,a transformaçãodemoedaemmercadoriase atransfolllHlç
dasmercadoriasnovamenteemmoeda,ouseja,comprarparavender.A moedaquecirculadc~
" últimamaneirasetransforma,então,emcapitalejáé,potencialmente,capital.)]
Era óbvio - prosseguiaMarx - quea circulaçãoMo-Me-Mo"seriaabsurdae semSCI
tido, se a intençãofossetrocar,por estemeio,duassomasiguaisde moeda,como,p
exemplo,100libraspor 100libras.O planodo avarentoseriamuitomaissimplese 111:1'
seguro:eleseagarrariaàssuas100libras,emvezdeasexporaosperigosdacirculação",
Estavaclaroquea únicaintençãopossíveldestetipo decirculaçãoera"comprara fim
vendermaiscaro".34
Portanto, esteprocessode circulaçãopoderiaser maisbemdescritocomoMo.!IJ'
Mo', onde Mo' é maior que Mo. Diversamenteda circulaçãoMe-Ma-Me,a circulaç
Mo-Me-Mo' terminavacomumvalormaiorqueo inicial.
"
MAIS-VALIA,TROCAE A ESFERADA CIRCULAÇÃO
A diferençaentreMo' eMo eraamais-valia.ParaMarx,abuscadequantidadesCII
vezmaioresdemais-valiaeraaforçamotivadoraquemoviatodoo sistemacapitalista:
Comorepresentanteconscientedestemovimento,o donodo dinheirosetransformaemumCII
talista.Suapessoa,ou melhor,seubolso,é o pontodepartidae deretornodo dinheiro.
O aumentodo valoI torna-sesuafinalidadesubjetivae, apenasnamedidaemquea aprupr
çãode cadavezmaisriqueza,numsentidoabstrato,se tornao único motivodesuasativid:1I1
é queeleagecomocapitalista,querdizer,comocapitalpersonificadoedotadodeconsci'::n~1
vontade.Portanto,os valoresde usonuncadevemserencaradoscomoa verdadeirafinalid:Hhl
capitalista;tampoucoo lucroemumaúnicatransação.O processoincansávele intermin:ívl'l
obtençãode lucrosé a únicacoisaqueelequer.Estaânsiailimitadapor riqueza,estabusl':!,1\1
xonadade valorde trocaé comumaocapitalistaeaoavare,nto;mas,enquantoesteli melUnll'U
um capitalistaqueficou louco,o capitalistaé umavarentoracional.O :!umentointermll1:ivl'l1i
valorde troca,queo avarentoestásempretentandoconseguir,procurandopouparseudinhl'llIl
31
lbid., 1:105-106.
Ibid.,l:146-l47.
Ibid.,/:147.
Ibid., /: 155.
32
33
34
.!vltarqueelecircule,é conseguidopeloscapitalistasmaisinteligentes,queestãosemprecolocan-
doo dinheiroemcirculação.35
. MarxconcluiuqueacirculaçãoMo-Me-Mo'era,"portanto,emrealidade,afórmula
1"""11docapital,tal comoeleapareceprimafaciedentrodaesferadacirculação".36A
I'.'"11110centralparaMarxeraestabelecerseacaracterísticaessencialdocapitalismo,e
I'"''originavaa mais-valia- o excessodeMo' emrelaçãoaMo - podiaserencontrada
1""11'0daesferadacirculação.A trocadeumamercadoriapoderiaocorrerpelovalorda
:III'"':lIdoria,acimadeseuvalorou.abaixodele.Seatrocafossefeitapelovalordamerca-
.'1111.atrocaseriadeequivalentesenãohaveriamais-valiaalguma.Seamercadoriafosse
~.ltl.daacimadeseuvalor,o vendedorficariacomvalordetroca,masocompradorper-
.~II"limaparcelaequivalentedo valorde troca.Bóbvioquenãohaveriaqualquerganho
1~lllIdodemais-valiaentreasduaspartes.Analogamente,seatrocafossefeitaabaixodo
1,.1.11damercadoria,oganhodocompradorseriaidênticoàperdadovendedor.Maisuma
1w.111transaçãonãogerariaqualqueraumentolíquidodemais-valia.A conclusãoera
*111111"Pormaisquesetente,o fatopermaneceinalterado.,seforemttocasequivalentes,
~.'~hllverámais-valiaalgumae seforemtrocadasmercadoriasquenãosejamequivalen-
. :Ilndanãohaverámais-valia'/Acirculaçãoou trocademercadorias.nãogeravalor
_'un,"3?
-\ssim,Marxconcluiuqueacaracterísticaessencialdocapitalismoquedavaorigem
1lIlIlsvalia,ou lucro,nãopodiaserencontradanaesferadacirculação,evoltousuaaten-
li paraaesferadaprodução: .
'\ssim,deixamosde lado, por algumtempo,estaesferacomplicada(da circulação),onde'tudo
~l'Ollteceà superfíciee à vistadetodos,e... entramosnaáreaocultadaprodução,emcujolimiar
~1.IItUS,lugode início, a advertência"entradapermitidaapenasa pessoasemserviço".Aqui vere-
musnãosó comoo capitalproduz,mastambémcomoo capitalé produzido.Afinal, forçaremos
11r"velaçãodo segredodaobtençãodelucros,
I lIa esferade quenosestamosafastando...é, emrealidade,um verdadeiroparaísodosdireitos
IlIalosdo homem.Só nelaimperama Liberdade,a Prosperidadee Bentham.A Liberdadeporque
1111110o compradorquantoo vendedordeumamercadoria...sóérestringidoporsuaprópria
" livrevontade.Fazemcontratoscomoagenteslivres... Igualdadeporquecadaumentranarela-
\Ilu como outrocomoumsimplesdonodemercadorias,e elestrocamequivalenteporequivalen-
I" Propriedadeporquecadaumsódispõedaquiloqueé seu.E Benthamporquecadaumsóolha
1"lIa si próprio.A únicaforçaqueosuneequefazcomqueserelacioneméo interessepróprio,o
Wlllhoe o interesseparticularde cadaum.Cadaqual olhaapenasparasi mesmoe nenhumdeles
. IlIcomoda com os outros e, exatamente por fazerem isso, todos eles,de acordo com a harmo-
11111precstabc1ecidadascoisas,ou sobosauspíciosdeumaprovidênciaonisciente,trabalhamjun-
1mparabenefíciomútuo,paraaprosperidadecomumeparao interessedetodos.
111'Ixandode ladoestaesferadasimplescirculaçãoou datrocademercadorias,ondeviveo "livre
I IIIIIIII,tavlllgaris",comsuasvisõese idéiase como padrãopeloqualjulgaumasociedadebaseada
. 111('apitale salários,achamosquepodemosperceberumamud:!nçano aspectodenossasdrama.
11'"..,sullae.Quem,antes,erao donodo dinheiro,agoramarchaà frentecomocapitalista;quem
1
1111<1,/.152.153.
1111.\.1 1~5,
11'1.1.I I(.J
111)
J
11'111força de trabalho o acompanha como seu empregado. Um tem um ar de importância, um
riso malicioso e uma direção nos negócios;o outro é tímido e inseguro, como quem está trazu
11própria pele para o mercado e nada mais pode esperara não ser esconder-se.38
CIRCULAÇÃODOCAPITAL E A IMPORTÂNCIADA PRODUÇÃO
O fatodequeamais-valiafoicriadanaesferadaproduÇãopoderiaserconfirmadO]1
examinássemoscuidadosamenteo processodacirculaçãodocapital.NafórmulaA/().j
Mo', ficouclaroqueo processodeobtençãodelucrosqueestavasendodescritoeraO
capitalcomercial:"O circuitoMo-Me-Mo'- comprarparavendermaiscaro_ évistoO'
a maiorclarezano... capitaldoscomerciantes.,,39Durantesuainvestigaçãohistóri
suaanáliseampladacirculação,Marxtinhachegadoàconclusãodequenemo cal'
comercialnemo capitalmonetárioquerecebiajurosseenvolviamnoprocessodaver,
deiracriaçãodemais-valia.Logono iníciodoVol. I, escreveu:"Emnossainvestigaç,
verificaremosquetantoo capitaldoscomerciantesquantoo capitalquerendejuros
formasderivadase,aomesmotempo,ficaráclaraarazãopelaqualestasduasformasIl
recem,nocursodaHistória,antesdaformapadronizadamodernadocapital.,,40
Ambasestasformasdecapitaleramessencialmenteparasitárias.Poderiamligar.
qualquermecanismoquefosseusadoparaaexpropriaçãodeumexcedenteeconôllIl
Apósestaligação,oscomercianteseagiotaspoderiamterumaparticipaçãonoexcede
mesmoqueseucapitalnãotivessesidoenvolvidodiretamentenacriaçãodesteexcede
EraporestarazãoqueestasduasformasdecapitalpuderamaparecernomododepriJ
çãofeudaleparticipardeseuexcedente.
O capitalindustrialeraa formadecapitalmaisrepresentativadomododeprodu
capitalista.Constituíao mecanismoatravésdoqualamais-valiaeracriadaeexproprt
nocapitalismo.No esquemadecirculação,deMarx,o capitalindustrialpodiaseridoficado
emtrêsestágiosque... formavama seguintesérie:
Primeiroestágio:o capitalistaaparececomocomprador...
cadorias...
i
seudinheiroétransformadocmI'
Segundoestágio:consumoprodutivodasmercadoriascompradaspeloscapitalistas.Eleagc~
capitalistaprodutorde mercadorias;seucapitalpassapeloprocessodeprodução.O resultau
umamercadoriadevalormaiordo queoselementosqueentraramemsuaprodução. I
Terceiroestágio:o capitalistavoltaao mercadocomovendedor;suasmercadoriassãoIr11"'1madasemdinheiro...
Portanto,a fórmulado circuito do dinheiro-capitalé: Mo-Me... P... Me'.Mo" comos J1u~
indicandoqueo processodecirculaçãoé interrompido,eMe' eMo' representandoMe eMo "\,cidasdamais-valia." J
38
Ibid., 1:176.
Ibid.,1:163.
Ibid., 1:165.
Ibid., 1:167.
39
40
41
P,nafórmuladeMarx,indicavao processodeprodução.Estáclaro,nestafórmula,
1111I'Mo'eramaiorqueMo,porqueMe'eramaiorqueMe.Alémdisso,osexcedentes,em
'"Ihososcasos,eramiguais.
Assim,aorigemdamais-valiaeradevidaaofatodequeoscapitalistascompravamum
,~tlflJ"ntodemercadoriasevendiamumconjuntointeiramentediferente.O primeirocon-
!11111\11demercadorias(Me) consistianosingredientesparaaprodução.O segundoconjun-
111111'mercadorias(Me') erao produtodo processoprodutivo.No atodaprodução,o ca-
1"'~Ii$tausavacompletamente,ou consumia,o valordeusodosinsumosprodutivosque
;"lIlupravacomomercadorias:
I
I'urapoderextrairvalordo consumode umamercadoria,nossoamigo"sacodedinheiro"(apeli-
duqueMarx davaa um capitalista)temquetera sortedeencontrar,dentrodaesferadecircula-
~'IIOno mercado,umamercadoriacujovalordeusopossuaa propriedadepeculiardeserumafon-
11-devalor,cujoconsumo,portanto,é,emsi mesmo,umaincorporaçãodetrabalho,e,conseqüen-
temente,umacriaçãode valor.O donodo dinheiro,realmente,encontranomercadoestamerca-
doriaespecial,soba formadecapacidadeouforçadetrabalho.
I-,ntende.sepor forçaou capacidadedetrabalhoo agregadodascapacidadesmentaise físicasexis-
ll'ntesemumapessoa,queelaexercesemprequeproduzqualquerespéciedevalordeuso..2
TRABALHO,FORÇA DE TRABALHOE A DEFINIÇÃO DECAPITALISMO
i /I. força de trabalho,então, era a capacidadede trabalharou trabalhopotencial.
I
bunndOa força de trabalhoeravendidacomomercadoria,seuvalorde usoera,simples
"1"IItC,aexecuçãodo trabalho- aconcretizaçãodotrabalhopotencial.Quandoo traba
111111 l'ra executado,era incorporadoà mercadoria,dando-lhe,assim,valor. Portanto a
til\!afontepossíveldemais-valiaeraadiferençaentreo valordo poderdetrabalhocómo
'flltll'lIdoria(ou trabalhopotencial)e o valor damercadoriaproduzida,que incorporava
!IiIllilhalhoconcretizado(ou o valor de usoconsumidoda forçade trabalho).A forçade'
l
'hMhlllhOeraumamercadoriaabsolutamenteúnica:seuconsumoou usocriavanovovalor,
~I'" bastavanão só para substituirseuvalororiginal,comotambémparagerarmais-valia,rIIhvlOque a forçade trabalhoeraumamercadoriaquetinhaqueserexaminadacom
11111111Icuidado.
I \ existênciada força de trabalhocomomercadoriadependiadeduascondições
1,._.IIdais.Primeiramente,
I
11Im~'ude trabulho podeaparecerno mercadocomomercadoriasomentesee namedidaemqlI~'
" li dono - o indivíduoque temestaforçade trabalho- a oferecerà vendacomomercador!u.
1',lIaqueele possafazerisso ...teráqueser,semqualquerimpedimento,o dono desuacupaei'
01.111<'oIetrubalho,isto é, de suapessoa...O dono daforça de trabalhotemquevendi:.laupcnus
1IIIIiUllecertotempo,pois,setivessequevendê-Iatotalmentee parasempre,estariavendendou
,I proprio, transformando-sede homemlivreemescravo,de donode umamercadoriaemunw
""!{l'admiu...
" .1'IWllllucondiçãoessencial...é ... queo trabalhador,emvezdeficarnaposiçãodevenderllH'r
1 110111nasnusquaisseutrabalhoestáincorporado,ficaobrigadoa oferecerà vendacomoIlll'lClldo
11.1" pr\lpria r()r~'ade trubalho, que só ele tem.
Ihlol .I 1(>'/_
, 1i

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