Prévia do material em texto
�PAGE �1� �PAGE �418� Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio Direito Penal I – Aula 15 Teoria Geral do Crime – Módulo XI Erro de Tipo Erro de Proibição 1 . Considerações Introdutórias Cabe-nos, nesta nossa aula, estudarmos situações que excluem o dolo ( e também a culpa, conforme o caso), e por conseqüência a tipicidade ( erro de tipo), bem como uma das causas de exclusão da culpabilidade que não foi abordada na aula passada, por questões didáticas, qual seja, o erro de proibição. Em outros termos: trataremos, na presente aula, do erro jurídico-penal, em suas modalidades, quais sejam: erro de tipo e erro de proibição. A propósito: cremos ser importante, antes de mais nada, que se faça uma atenta leitura dos dispositivos legais referentes à matéria, para que assim tenhamos consciência, ao longo deste nosso estudo, da maneira como o Código Penal disciplina a matéria. O legislador tratou de disciplinar a matéria nos artigos 20 e 21 do Código Penal, que assim preceituam: Erro Sobre Elementos do Tipo Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal do crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. § 1º. É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. § 2º. Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. § 3º. O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima , senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto à um terço. Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. 2. Erro de Tipo e Erro de Proibição 2.1. Considerações Gerais Têm-se como certo que só se pode punir o agente por um dano ou perigo censuravelmente provocados, e esta censurabilidade se alicerça na consciência, por parte do agente, tanto dos elementos estruturais do delito quanto da ilicitude da sua conduta Sendo que: o erro jurídico-penal consiste na visão distorcida da realidade, e pode incidir sobre os elementos estruturais do delito ( erro de tipo) ou sobre a ilicitude da ação ( erro de proibição). Em outros termos: o erro que vicia a vontade pode recair sobre a tipicidade, que deve ser entendida como sendo a perfeita adequação de uma determinada conduta com a descrição feita pelo tipo penal incriminador, ou sobre a ilicitude da conduta, sobre sua antijuridicidade, que por sua vez deve ser entendida como sendo a contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico. Saiba que: o erro que recai sobre a ilicitude da conduta ( erro de proibição) gera reflexos na culpabilidade, no juízo de reprovação�, por prejudicar no agente a consciência da ilicitude, que como já se viu, é um dos elementos basilares da culpabilidade. Lembrando que: o que se exige é um conhecimento potencial, e não efetivo, da ilicitude. Tal como ensina-nos o Profº. Cezar Roberto Bitencourt , não se trata de uma consciência técnico-jurídica, formal, mas da chamada consciência profana do injusto. A propósito: segundo o penalista em questão, esta consciência provém das normas de cultura, dos princípios morais e éticos, enfim, dos conhecimentos adquiridos na vida em sociedade. Preste muita atenção: não se pode confundir a ausência de conhecimento da ilicitude com a ignorância da lei (com ausência de conhecimento da lei) que, conforme preceitua o artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil�, será sempre inescusável. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece. Ou seja: a ignorância da lei não pode servir de argumento para o seu descumprimento. Esta regra é por demais coerente, pois como bem enfatizam os mestres Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, “ a vigência do direito não pode ser deixada ao arbítrio da consciência individual “. Sendo que: tal como ensina-nos o Profº. Cezar Roberto Bitencourt , a ignorantia legis ( ignorância da lei) é matéria de aplicação da lei que, por ficção jurídica, se presume conhecida por todos. Enquanto que o erro de proibição é matéria de culpabilidade, num aspecto inteiramente diverso. A propósito: os doutrinadores sempre se preocuparam em fazer a distinção entre erro e ignorância. E partem eles da seguinte premissa: quem ignora não conhece, quem erra conhece mal. Em outros termos: tal como ensina-nos o Profº. Luiz Regis Prado, o erro é uma falsa noção ou um falso conhecimento do fato ou de uma regra jurídica, enquanto que a ignorância consiste na completa ausência de conhecimento ou de representação. Tenha em mente que: tal distinção é de grande relevância, uma vez que a ignorância da lei sempre será irrelevante, enquanto que o erro, em determinadas circunstâncias, pode excluir a tipicidade ( erro de tipo) ou a culpabilidade ( erro de proibição). A propósito: diz-se que a ignorância da lei é sempre inescusável pois, como lecionava Binding, citado por Francisco Assis Toledo , na quase totalidade dos casos a invocação do desconhecimento da norma não passa de uma mentira grosseira e transparente. Sem contar que: o já citado artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, bem como a primeira parte do artigo 21 do Código Penal, são de clareza ímpar ao preceituarem, respectivamente, que: ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece o desconhecimento da lei é inescusável. 2.2. Erro de Tipo 2.2.1. Considerações Introdutórias Cumpre estudarmos, no presente momento desta nossa aula, o denominado erro de tipo. É chegada a hora de conceituá-lo, ver suas classificações, e ver quais os efeitos penais que esta modalidade de erro pode produzir. A propósito: esta modalidade de erro é disciplinada pelo já mencionado artigo 20 do Estatuto Repressor, que fora, há pouco, transcrito. Preste muita atenção: o erro de tipo é aquele erro que recai sobre elemento essencial do tipo penal. Sendo que: pode, ainda, o erro de tipo incidir sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ( erro de tipo permissivo) ou sobre dados secundários da norma penal incriminadora ( erro de tipo acidental)�.. Saiba que: um dos mais citados exemplos desta espécie de erro, é o caso do sujeito que dispara um tiro de revólver no que supõe ser um animal bravio, vindo, no entanto, a matar um homem. Perceba que: no exemplo supracitado o erro incidiu sobre um elemento do crime de homicídio. E isto afirmamos pois o sujeito que disparou o tiro pensava ser inexistente a elementar “alguém”, contida no tipo de homicídio ( art. 121 do Código Penal). Sendo que: como bem leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, em face do erro, não se encontra presente o elemento subjetivo do tipo de homicídio, qual seja, o dolo. Isto porque: nestes casos, tal como enfatiza o penalista em questão, há uma desconformidade entre a realidade e a representação do sujeito, que se a conhecesse, não realizaria a conduta. Em outros termos: diz-se que está ausente, no exemplo em tela, o elemento subjetivo do crime de homicídio, pois o dolo, tal como já dissemos em uma aula anterior, deve abranger todos os elementos objetivos do tipo. Sendo assim: é de se concluir que, tal como ensina-nos o Profº. Júlio Fabbrini Mirabete, o dolo será inexistente se o autor desconhece ou se engana a respeito de um dos componentes da descriçãolegal do crime. Em outras palavras: quando ocorre um “erro de tipo”, o dolo ficará excluído por não haver, no agente, uma efetiva vontade de realizar o tipo objetivo, ou seja, quando o agente se engana acerca de um dos elementos do crime, não se pode dizer que agiu, ele, dolosamente. A propósito: vejamos mais alguns exemplos do chamado erro de tipo, para que assim se possa melhor compreender o que estamos a expor: Tirar a coisa alheia supondo-a própria. O agente não responde por crime de curto, uma vez que supôs inexistente no fato praticado a elementar alheia contida na descrição do crime de furto ( artigo 155, caput) ( exemplo do Profº. Damásio) O professor de anatomia, durante a aula, fere uma pessoa viva, supondo tratar-se de cadáver. Não responder por crime de homicídio. ( exemplo do Prof. Nelson Hungria) Preste muita atenção: não importa se o erro do agente diz respeito à elementos fáticos ou jurídicos. Tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, importa, isto sim, que faça parte da estrutura do tipo penal. A propósito: nada impede que o erro do sujeito recaia sobre uma circunstância qualificadora, sendo que, sobre particular aspecto, temos por oportuno que se atente para um exemplo formulado pelo Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que pode assim ser transcrito: “O sujeito, desconhecendo a relação de parentesco, induz a própria filha a satisfazer a lascívia de outrém. Responde pela forma típica fundamental do artigo 227 do Código Penal, sem a qualificadora do § 1º.” ( Grifo Nosso) Não se esqueça que: uma das principais conseqüências do denominado erro de tipo, será a descaracterização do dolo. Sendo que: não importa se o erro é vencível ou invencível, o dolo sempre será excluído. A propósito: falando em erro vencível e invencível, é chegado o momento de estudarmos esta e outras classificações do erro de tipo. Preste atenção: esta divisão, esta “classificação” não é meramente didática, pois cada espécie de erro de tipo produz um efeito distinto. 2. 2.2 Erro de tipo: classificações e efeitos Temos por oportuno, de início, fazermos alguns comentários acerca do erro de tipo essencial e do erro de tipo acidental. Sendo que: o primeiro ( erro essencial) se traduz em sendo o erro que recai sobre elementares ou circunstâncias do crime. Tal como ensina-nos Francisco de Assis Toledo� , erro de tipo essencial é o que recai sobre algum elemento do tipo, sem o qual o crime deixa de existir. E por recair sobre elemento essencial do tipo penal, o erro essencial impede o sujeito de compreender a natureza criminosa do fato. Em contrapartida: o erro de tipo acidental, compreende o erro que versa sobre dados secundários da figura típica. A propósito: cita-se, comumente, como exemplo de erro de tipo acidental, o caso do sujeito que pretendia furtar um quilo de açúcar e por engano acaba por furtar um quilo de sal. Saiba que: a tipificação da conduta não é alterada por este tipo de erro. Não importa se furtou sal ou açúcar, o que importa que é furtou. Preste muita atenção: o erro de tipo essencial, por sua vez, pode ser dividido em invencível (escusável) e vencível ( inescusável). Vejamos qual a diferença entre o erro de tipo vencível o erro de tipo invencível. Têm-se por invencível ou escusável o erro que não pode ser evitado pela normal diligência. Ou seja: mesmo que o sujeito aja com toda a cautela exigível, incorrerá em erro. Sendo que: se o erro não poderia ser evitado pela normal diligência, não há que se falar que o sujeito violou um dever objetivo de cuidado, e consequentemente, não como puni-lo à título de culpa. Em outros termos: como, no erro invencível ou escusável, o agente não viola nenhum dever de cuidado, o dolo e culpa serão excluídos. Já o erro vencível ou inescusável é o que poderia ter sido evitado, se o sujeito tivesse tido o mínimo de cautela exigível naquela determinada situação. Continue prestando atenção: tal como dissemos anteriormente, a classificação não é sentido, pois cada uma destas espécies de erro gera um efeito distinto, sendo que, tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, é a análise do caso concreto que irá concluir pelo caráter escusável ou inescusável do erro. Pois bem: Vejamos agora, então, os distintos efeitos de cada uma destas modalidades de erro ( vencível e invencível), Erro de Tipo invencível ( ou escusável): tal como dissemos anteriormente, esta modalidade de erro exclui o dolo e a culpa. Em outros termos: nessa espécie de erro o sujeito não age nem dolosa nem culposamente, por isso não há que se falar tipicidade culposa ou dolosa. Erro de Tipo vencível ( ou inescusável): exclui o dolo, mas não a culpa. Ou seja: tal espécie de erro ( vencível) afasta a tipicidade dolosa, mas permite o enquadramento da conduta na modalidade culposa quando esta ( modalidade culposa da conduta) esta estiver prevista em lei. A propósito: em se tratando de erro de tipo vencível, é conveniente expor que este é o erro que resultou de desatenção, leviandade, negligência do sujeito, tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, sendo que, por isso o sujeito poderá responder à título de culpa. Não se esqueça que: o erro de tipo, quando inevitável, excluirá o dolo e a culpa, e por conseguinte a tipicidade. Ao passo que o erro de tipo evitável excluirá o dolo, mas não a culpa, permitindo, assim, se for o caso, a punição do agente por crime culposo, quando tal modalidade estiver legalmente prevista. Pois bem: antes de terminarmos nossa exposição sobre o erro de tipo, convém que se atente para as elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim serem transcritas: “Casos há em que o erro de tipo, ainda que inescusável, não exclui a criminalidade do fato, operando-se apenas sua desclassificação para outro delito. Tal ocorre, por exemplo, quando o agente ofende um indivíduo sem imaginá-lo funcionário público. Exclui-se o delito de desacato, mas subsiste o crime injúria cometido contra particular. ( Grifo Nosso) Saiba que: os delitos de injúria e desacato são tipificados, respectivamente, pelos artigos 140 e 331 do Código Penal. Vamos dar uma olhada nos referidos dispositivos: Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. 2.2.3 Descriminantes Putativas É chegado o momento de falar das denominadas descriminantes putativas, que são reguladas pelo § 1º do artigo 20 do Estatuto Repressor. Sendo que: de início, devemos conceituá-las: descriminantes, são as causas de exclusão de antijuridicidade arroladas no artigo 23 do Código Penal ( Legítima Defesa, Estado de Necessidade, Estrito Cumprimento do Dever Legal e Exercício Regular de Direito). E a palavra putativa, vem do latim, “putare”, e nos dizeres de Luiz Regis Prado , traduz a idéia do pensado mas inexistente. Em suma: as descriminantes putativas são os casos em que o agente, por erro, imagina estar agindo sob o abrigo de uma causa de exclusão de antijuridicidade, quando esta ( causa de exclusão de antijuridicidade), na verdade, é inexistente. Saiba que: o tema das descriminantes putativas gera calorosos debates na doutrina. Discute-se se estas seriam erro de tipo, erro de proibição ou um erro “sui generis” . A propósito: no que toca à natureza das descriminantes putativas, mas se falará posteriormente. Por hora: temos por oportuno que se atente para um exemplo de descriminante putativa que nos é fornecido pelo Profº. Damásio Evangelista de Jesus, e que pode assim ser transcrito: “Durante uma sessão cinematográfica alguém grita ‘fogo’, dando a entender que o edifício se encontraem chamas, o que não acontece na realidade. No atropelo, A, supondo encontrar-se em estado de necessidade, vem a ferir B, a fim de salvar-se. O agente não responde por lesão corporal, uma vez que agiu em estado de necessidade putativo ( que exclui a tipicidade a título de dolo ou culpa). ( Grifo Nosso) Preste muita atenção: apesar das divergências doutrinárias a respeito do tema, a maioria da doutrina afirma, com base na teoria limitada da culpabilidade ( lembra dela ? ), que se deve fazer uma diferenciação entre o erro que versar sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, e o que versar sobre os limites de uma causa de justificação. Isto porque: o erro que versar sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação é o que se denomina erro de tipo permissivo, e o erro que versa sobre os limites de uma causa de justificação se configura em sendo erro de proibição. Em outras palavras: quando o erro versar sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, sobre uma situação de fato que se existisse tornaria a ação legítima�, será considerado erro de tipo ( permissivo), e portanto, se for invencível, inevitável, eliminará o dolo e a culpa, e se for vencível, evitável, excluirá o dolo, mas permitirá a punição à título de culpa. Em contrapartida: se o erro versar sobre os limites de uma causa de justificação, estaremos diante de um erro de proibição, que é regulado pelo artigo 21 do Código Penal, segundo o qual quando erro for inevitável, o réu será isento de pena, e quando o erro for evitável, diminui-se a pena. Vamos dar mais olhada no artigo 21, que já fora transcrito anteriormente, para que assim se possa compreender melhor o que estamos a expor: Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto à um terço. Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Entretanto: deve-se atentar para o fato de que as descriminantes putativas descritas no § 1º do artigo 20, constituem, em verdade, um erro “sui generis”, em virtude de seus efeitos distintos do erro de tipo propriamente dito. Pare e pense: enquanto o erro de tipo propriamente dito, se inevitável, exclui o dolo e a culpa, e consequentemente a tipicidade, as descriminantes putativas influem na culpabilidade. O crime continua a existir, porém, sobre a conduta não recairá nenhuma espécie de reprovação. Tal como bem leciona o Profº. Fernando Capez , ficar isento de pena significa cometer crime, mas por ele não responder. A propósito: dissemos que as descriminantes putativas, ao contrário do erro de tipo propriamente dito, influem na culpabilidade pois o § 1º do artigo 20, que disciplina a matéria, diz que nesses casos o agente será isento de pena. E como já se sabe, isenta o réu de pena significa dizer que ele não é culpável , e não que será excluído o dolo ou a culpa ( strictu sensu) da conduta. Vejamos, mais uma vez, o dispositivo em questão: § 1º. É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Sendo que: com base neste raciocínio, uma parte da doutrina sustenta, ao nosso ver corretamente, que o erro de tipo permissivo não pode ser erro de tipo, pois não exclui o crime, mas a culpabilidade. Entretanto, não nos aprofundaremos no mérito de tal discussão. Por fim, saiba que: diz-se que as descriminantes putativas influem na culpabilidade pois o legislador, ao discipliná-las, usou a expressão “é isento de pena”, e, como bem se sabe, tal expressão está diretamente ligada à culpabilidade, a reprovabilidade da conduta. Preste muita atenção: para que se possa melhor compreender as descriminantes putativas, temos por oportuno que se atente para alguns exemplos que nos são fornecidos pelo Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim serem transcritos: Tício subtrai o medicamento supondo, erroneamente que sua mãe dele necessitava urgentemente. Eis aí o estado de necessidade putativo. João atira em José, supondo que este estava prestes a sacar do revólver para matá-lo. Verifica-se, porém, que José procurava um lenço no bolso. Eis aí a legítima defesa putativa. O Policial, munido de mandado de prisão, prende o homônimo do criminoso. Eis aí o estrito cumprimento do dever legal putativo. A vítima do furto persegue o gatuno, mas, por engano, acaba prendendo em flagrante o sósia do larápio. Eis aí o exercício regular de direito putativo 2.2.4. O erro provocado por terceiro Tal modalidade de erro é prevista no § 2º do artigo 20, que assim preceitua: “responde pelo crime o terceiro que determina o erro”. Como se pode perceber: esta é a hipótese de o agente ter atuado por erro em virtude de provocação ou determinação de terceiro. A propósito: para ilustrar nossa exposição acerca deste tipo de erro, temos por em transcrever um exemplo que nos é fornecido por Júlio Fabbrini Mirabete: Suponha-se que o médico, desejando matar o paciente, entregue à enfermeira uma injeção que contém veneno, afirme que se trata de um anestésico e faz com que ela a aplique. A enfermeira agiu por erro determinado por terceiro, e não dolosamente, respondendo pelo crime apenas o médico. ( Grifo Nosso) Saiba que: a provocação do terceiro pode ser dolosa ou culposa. Sendo que: a provocação será dolosa quando o terceiro conscientemente induzir o agente a incidir em erro e tal como ensina-nos o Profº Damásio Evangelista de Jesus , neste caso, o agente provocador responde pelo crime à título de dolo. Em contrapartida: existirá a provocação culposa quando o terceiro (provocador) agir com imprudência, negligência ou imperícia, e neste caso o terceiro que provocou o erro responde pelo crime praticado à título de culpa. Em outras palavras: o terceiro provocador responderá pelo crime à título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento psicológico do induzimento. Veja que interessante: Basileu Garcia, citado por Damásio, ensinava-nos que o erro provocado pode gerar situações inusitadas. Suponha-se, dizia ele, que um sujeito solteiro induza um outro sujeito, casado, a contrair novo casamento, convencendo-o que cessou o impedimento em face de determinada circunstância. O contraente ( casado) não responde pelo crime de bigamia, enquanto que o provocador doloso, embora solteiro, responde pelo delito em questão, que é descrito pelo artigo 235 do Código Penal. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: Art. 235. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento. Pena: reclusão de 2 ( dois) a 6 ( seis) anos. Preste muita atenção: deve-se ter em mente que, com relação ao erro provocado , vigoram as mesmas regras do erro de tipo espontâneo. Quais sejam: se o erro for invencível, o “provocado” não responderá pelo crime, nem à título de dolo, nem à título de culpa. Entretanto, em se tratando de provocação de erro vencível, o provocado não responderá pelo crime à título de dolo, entretanto, poderá subsistir a responsabilização penal à título de culpa, se prevista em lei. 2.2.5. Do Erro Acidental Em contraposição ao erro de tipo essencial, que recai sobre as elementares ou circunstâncias do tipo penal, e impede o agente de compreender com exatidão a ilicitude de sua conduta, existe o que a doutrina denomina de erro acidental, que pode ser entendido com sendo o erro que incide sobre dados secundários e irrelevantes da figura típica. Saiba que: esta espécie de erro, ao contrário do erro essencial, não impede o sujeito de compreender o caráter criminoso de sua ação. O agente sabe, perfeitamenteque está cometendo um crime, e por isso, como bem leciona o Profº. Fernando Capez , esta espécie de erro não traz qualquer conseqüência jurídica, ou seja, agente responde pelo crime com se não houvesse erro. A propósito: segundo a doutrina, o erro acidental pode ser dividido em: erro sobre o objeto ( “error in objeto) erro sobre a pessoa ( “error in persona”) erro na execução ( “aberratio ictus) resultado diverso do pretendido ( “aberratio criminis”). Tenha em mente que: os dados secundários sobre os quais recaem o erro acidental não constituem elementos do tipo. Ou seja, recai esta espécie de erro, sobre circunstâncias acessórias ou estranhas ao tipo, sem as quais o crime não deixa de existir, tal como ensina-nos o Profº. Francisco de Assis Toledo. Falemos agora sobre cada uma das espécies de erro acidental supramencionadas: Erro sobre o objeto: este é o erro que recai sobre a coisa, que se constitui objeto material do delito. Tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, há erro sobre o objeto quando o sujeito supõe que sua conduta recai sobre uma coisa, sendo que, na realidade, incide sobre outra. Seria o caso, por exemplo: do sujeito que pretendia furtar uma caixa de cerveja, mas se engana na hora de pegar a caixa e acaba levando uma caixa de tubaina. A propósito: é sempre bom lembrar que, como bem expõe o Profº. Fernando Capez , tal erro é absolutamente irrelevante, na medida em não traz qualquer conseqüência jurídica. E isto porque o Direito Penal protege a posse e propriedade de qualquer coisa, e não de objetos determinados. Preste muita atenção: segundo o supracitado penalista, devemos tomar cuidado com o erro sobre o objeto, e isto porque, segundo ele, se a “coisa” sobre a qual recair o erro se constituir em sendo elementar do tipo, o erro passará a ser essencial. Por exemplo: se o agente confunde cocaína com talco, o erro é essencial, isto porque a cocaína, enquanto substância entorpecente, é elementar do crime de tráfico, que é descrito pelo artigo 12 da Lei 6368 / 76 ( Lei de Tóxicos)), e o talco não é. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena – reclusão de 3 (três) a 15 (quinze) anos e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Erro sobre a pessoa: esta espécie de erro acidental é disciplinada pelo artigo 20, § 3º, do Código Penal, que assim preceitua: o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. A propósito: tal como ensina-nos o Profº. Fernando Capez , nesta modalidade de erro, o agente olha um desconhecido e confunde-o com a pessoa que quer atingir. Em outras palavras: o agente pretende atingir uma pessoa, mas acaba por ofender, em virtude erro de representação, pessoa totalmente alheia às suas intenções. Pare e pense: A irrelevância de tal erro é explícita, pois, tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus , a norma penal não tutela a pessoa de João ou Pedro, mas todas as pessoas. Sendo que: é de se levar em consideração, ainda, que o dispositivo legal em estudo preceitua que no caso de erro sobre a pessoa, não devem ser consideradas as condições da vítima efetiva, mas sim da pessoa que o agente pretendia ofender. Preste atenção: esta regra é por demais relevante, e assim, se “A” resolve matar sua esposa, porque deseja se casar com a amante, mas por engano acaba por atingir uma pessoa que com ela é muito parecida, responderá por homicídio doloso, agravado com a circunstância prevista no artigo 61, inciso II, alínea “e” do Código Penal, que assim preceitua: Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: ( ... ) II - ter o agente cometido o crime: ( ... ) e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; Erro na execução ( “aberratio ictus”): esta modalidade de erro se traduz em sendo uma aberração no ataque ou desvio no golpe, e ocorre quando o agente, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra. Preste muita atenção: apesar da similitude com o erro sobre a pessoa, os conceitos não se confundem. . Isso porque, enquanto que no erro sobre a pessoa o terceiro é atingido em virtude de um erro de representação por parte do agente, no caso da “aberratio ictus”, o terceiro é atingido em virtude de um erro ou falha no emprego dos meios de execução do delito, com por exemplo, erro de pontaria ou desvio da trajetória do projétil. Em outras palavras: na “aberratio ictus”, o erro é de execução ( daí o nome “erro na execução), e não de representação, como ocorre nos casos de erro sobre a pessoa. A propósito: no tocante à diferenciação dos dois conceitos ( “aberratio ictus” e erro sobre a pessoa), é importante que se fixe também que, segundo o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, na “aberratio ictus” a pessoa visada pelo agente sofre perigo de dano, enquanto que isso não ocorre no erro sobre a pessoa. Saiba que: esta modalidade de erro acidental é disciplinada pelo artigo 73 do Código Penal, que assim preceitua: Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código Não se esqueça que: por ser a “aberratio ictus” uma espécie de erro acidental, ela não exclui a tipicidade da conduta. Ou seja: a “aberratio ictus” é juridicamente irrelevante. Preste muita atenção: pode ocorrer que o agente, além de atingir a vítima visada, acerte também uma terceira pessoa. Neste caso, ocorrerá o que a doutrina denomina de “aberratio ictus” com unidade complexa ou resultado duplo. Sendo que: quando isso ocorrer, deve ser aplicada a regra do concurso formal, tal como preceitua o artigo 73. Tal como ensina-nos o Profº. Fernando Capez , nesse caso, o resultado produzido em terceiro desconhecido é imputado ao agente na forma culposa, pois o dolo só se transporta quando a vítima virtual não é atingida. Resultado diverso do pretendido ( “aberratio criminis” ): esta modalidade de erro acidental é regulada pelo artigo 74 do Código Penal, que assim preceitua: Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. Preste muita atenção: esta espécie de erro não se confunde com a já estudada “Aberratio Ictus”, que se constitui em sendo um desvio na execução ou no golpe. Em outros termos: no caso da “Aberratio Ictus”, o agente quer atingir uma pessoa e atinge outra, ou ambas. Já no caso da “Aberratio Criminis” , o agente quer atingir um bem jurídico e ofende outro ( de espécie diversa), tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus. . Sendo que: pode-se citar como exemplo desta modalidade de erro acidental, o caso do sujeito que, querendo quebrar a janela alheia com uma pedrada, fere um transeunte ou vice-versa. A propósito: de acordo com o dispositivo legal que regula o tema, como se viu, ocorrendo resultado diverso do pretendido,responderá o agente à título de culpa, se houver previsão legal para tanto, e se ocorrer também o resultado pretendido pelo agente, deverão ser aplicadas as regras do concurso formal, previstas no artigo 70 do Código Penal. Saiba que: sobre o concurso formal, mais se falará quando estudarmos a teoria geral da pena, mas desde já, temos por oportuno que se atente ao que preceitua o artigo 70 do Código Penal, que pode assim ser transcrito: Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior Tenha em mente que: tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, na “Aberratio Ictus”, se o agente quer ofender “A” e vem a atingir “B”, responderá com se tivesse atingido o primeiro, ao passo que, na “Aberratio Criminis” a solução é diferente, pois o Código manda que o resultado diverso do pretendido seja punido à título de culpa. Preste atenção: de acordo com a melhor doutrina, a “aberratio criminis” compreende duas espécies, quais sejam: com resultado único ou unidade simples: onde o agente só atinge o bem jurídico diverso do pretendido, e neste caso, como já se expôs, o agente só responderá pelo resultado diverso do pretendido, e à título de culpa. “aberratio criminis” com unidade complexa ou resultado duplo: onde são atingidos o bem visado e o bem diverso. Neste caso, tal como preceitua o dispositivo legal pertinente ao tema, aplicar-se-ão as regras do concurso formal, quais sejam: aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 ( um sexto) até a metade. 3 – Erro de Proibição 3.1. Considerações Introdutórias Quando estudamos as excludentes de culpabilidade, no capítulo anterior, dissemos que uma destas excludentes era o que se denomina erro de proibição, ou erro sobre a ilicitude do fato, que é regulado pelo artigo 21 do Estatuto Repressor. Sendo que: nos eximimos de estudá-lo no capítulo anterior por acharmos mais conveniente que esta excludente de culpabilidade fosse tratada em capítulo apartado, juntamente com o erro de tipo, dada a confusão que, por vezes, cerca o estudo do tema. Preste muita atenção: tal como dissemos anteriormente, o erro de proibição é o erro que recai sobre a ilicitude da conduta. É o erro que impede o agente de compreender o caráter ilícito de sua ação. Continue prestando atenção: também já foi dito que, diferentemente do erro de tipo, que exclui a tipicidade, o erro de proibição exclui a culpabilidade, por prejudicar no agente a potencial consciência da ilicitude, que é um de seus pressupostos. Em outras palavras: sem consciência da ilicitude, como já se expôs anteriormente, não há que se falar em reprovabilidade da conduta. A propósito: vejamos alguns exemplos que nos fornecidos pelo Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros de casos onde ocorre o chamado erro de proibição, para que assim se possa melhor compreender o instituto: o agente mantém conjunção carnal consentida com alienada mental, ignorando a ilicitude de sua conduta. Saiba que: neste caso, a incriminação da conduta é feita através do artigo 213, combinado com o artigo 224, alínea “b”. Vamos dar uma olhada nos citados dispositivos legais: Art. 213. Constranger mulher conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena: reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos. ( ... ) Art. 224. Presume-se a violência se a vítima: ( ... ) b ) é alienada ou débil mental e o agente conhecia esta circunstância. O homem rústico abate um tatu-galinha, desconhecendo a proibição de matar animal silvestre. Saiba que: neste caso, a incriminação da conduta é feita pelo artigo 29 da Lei 9605/98 ( Lei do Meio Ambiente). Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena: detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. Lembre-se ainda que: a ausência de conhecimento da ilicitude não deve ser confundida com a ignorância da lei, que será sempre inescusável, será sempre “imperdoável”. Sendo que: como se já não bastasse o artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, que preceitua que ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece, o artigo 21 do Código Penal, na sua primeira parte dita que o desconhecimento da lei é inescusável. Saiba que: a ignorância da lei pode apenas funcionar como atenuante genérica, nos moldes do artigo 65, inciso II do Código Penal. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: ( ... ) II - o desconhecimento da lei; A propósito: acerca da diferença entre ausência do conhecimento da ilicitude e ignorância da lei, cremos ser oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que podem assim serem transcritas: “A falta da potencial consciência da ilicitude exclui a culpabilidade, isentando de pena quando inevitável. Enquanto a simples alegação de ignorância da lei não escusa, a ausência de possibilidade de conhecimento da ilicitude do fato, ou a impossibilidade de o sujeito conhecer a regra de proibição, exclui a culpabilidade.” ( Grifo Nosso) Tenha em mente que: o erro de proibição tem por objeto a proibição jurídica do fato. Tal como ensina-nos o Profº. de Luiz Regis Prado, o agente perde, em decorrência do erro de proibição, a compreensão da ilicitude do fato. Não se esqueça também que: o erro de tipo influi na tipicidade e o erro de proibição, por sua vez, gera efeitos na seara da culpabilidade. Sendo que: acerca da diferenciação entre o erro de tipo e o erro de proibição, temos por conveniente que se atente para um elucidativo exemplo que nos é fornecido pelo Profº. Luiz Regis Prado, e que pode assim ser transcrito: “Quem se apodera de coisa alheia, que erroneamente supõe ser sua, encontra-se em erro de tipo, pois não sabe que subtrai coisa ‘alheia’ ; mas quem acredita ter direito de fazer justiça com as próprias mãos ( caso do credor / devedor insolvente), encontra-se em erro de proibição, sobre a ilicitude de sua conduta.” ( Grifo Nosso) Em outros termos: tal como o Profº. Fernando Capez, no erro de proibição o agente pensa agir plenamente de acordo com o ordenamento jurídico, mas em verdade pratica um ilícito, em razão de sua equivocada compreensão do direito. Saiba ainda que: tal como ensina-nos o penalista em questão, mesmo conhecendo o direito, pois todos presumivelmente o conhecem, em determinadas circunstâncias as pessoas podem ser levadas a pensar que agem de acordo com o que o ordenamento jurídico delas exige. 3.2. Erro de Proibição: Classificações e Efeitos A primeira grande distinção que se faz, dentro da seara do erro de proibição, é entre o erro inevitável ou escusável e o erro evitável ou inescusável ( a exemplo do que ocorre com o erro de tipo). Sendo que: esta distinção, tal já dissemos quando falamos do erro de tipo, é de extrema importância pois cada uma destas espécies de erro de proibição gera um efeito distinto. Preste muita atenção: o erro inevitável é aquele que ocorre quando o agente não tinha a mínima condição de conhecer a ilicitude de sua conduta, em face das circunstâncias do caso concreto. E no que toca ao erro evitável, este deve ser entendido com sendo aquele em que, embora o agente desconheça a ilicitude de sua conduta, ele tinha potencial consciência desta ilicitude, ou seja, ele poderia ter consciência da ilicitudede sua conduta. A propósito: com relação à evitabilidade do erro de proibição, há de se atentar para o que preceitua o parágrafo único do artigo 21, que pode assim ser transcrito: Art. 21. ( ... ) Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Continue prestando atenção: no que toca aos efeitos do erro de proibição, convém expor que eles são previstos pelo “caput” do artigo 21, cuja redação é de clareza ímpar. Sendo que: segundo o dispositivo legal em questão, quando o erro de proibição for inevitável ou escusável, o réu ficará isento de pena, se excluirá a sua culpabilidade. Entretanto: se o erro for evitável ou escusável, a pena será diminuída de 1/ 6 ( um sexto) à 1/3 ( um terço). Em outras palavras: quando ocorrer um erro de proibição evitável, a culpabilidade não será excluída, mas sim diminuída. E tal diminuição de pena ( no caso do erro evitável), tem sua razão de ser, uma vez que, tal como ensina-nos o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, não se pode reprovar quem não sabia, mas apenas podia saber, igualmente a quem efetivamente sabia, isto é, a quem tinha a real consciência da ilicitude. Perceba ainda que: quando dizemos que o erro de proibição exclui a culpabilidade, estamos nos referindo ao erro de proibição inevitável, pois o erro de proibição evitável, como já se expôs, diminui, e não exclui a culpabilidade, a reprovabilidade da conduta. A propósito: classifica ainda, a doutrina, o erro de proibição em: erro de proibição direto erro de mandamento erro de proibição indireto ( erro de permissão) Falemos um pouco então sobre cada uma destas modalidades de erro de proibição: Erro de proibição direto: nesses casos, tal como ensina-nos o Profº. Francisco de Assis Toledo, o agente, por erro inevitável, realiza uma conduta proibida ou por desconhecer “a norma proibitiva”, ou por conhecê-la mal, ou por não compreender o seu verdadeiro âmbito de incidência. Erro mandamental: , esta modalidade de erro de proibição ocorre nos chamados crimes omissivos, sendo que, nesta espécie de erro, tal como ensina-nos o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, o erro recai sobre uma norma mandamental, sobre uma norma impositiva, sobre uma norma que manda fazer. Em outras palavras: no erro mandamental, o agente desconhece a ação que lhe é imposta pela norma mandamental. Ou seja: supõe, o agente, por erro inevitável, que não está obrigado a agir para impedir o resultado. A propósito: o erro mandamental pode ocorrer tanto nos crimes omissivos próprios como nos impróprios. Preste muita atenção: engana-se quem pensa que o erro jurídico-penal ocorrido nos crimes omissivos será sempre “erro de proibição mandamental”. Isto porque: nada impede que nos delitos omissivos ocorra um erro de tipo. E para que se possa melhor compreender este particular aspecto temos por oportuno que se atente par as elucidativas lições do Profº. Cezar Roberto Bitencourt, que podem assim serem transcritas: “Se alguém deixar de prestar socorro, por exemplo, porque acredita, erroneamente, que esta prestação de socorro lhe acarretaria risco pessoal, isto é, se engana sobre existência desse risco, se pensa que há tal risco, quando este não existe. Engana-se, na verdade, sobre um elemento do tipo incriminador, comete um erro de tipo.” ( Grifo Nosso) Erro de proibição indireto: nesses casos, o agente erra sobre a existência ou os limites de uma causa de justificação. Tal como ensina-nos o Profº. Francisco de Assis Toledo, quando da ocorrência desta espécie de erro de proibição, o agente sabe que pratica um fato em princípio proibido, mas supõe, por erro inevitável, que, nas circunstâncias, milita a seu favor uma norma permissiva prevalecente. Saiba que: Esta modalidade de erro, por vezes é denominada de erro de permissão, uma vez que o agente, nestes casos, não erra porque, simplesmente, desconhece a ilicitude de sua conduta, ela erra porque pensa, equivocadamente, que uma norma permissiva acoberta sua ação. Ou seja: o agente pensa que lhe é permitido a realização de uma determinada conduta, e não apenas desconhece sua ilicitude. Preste muita atenção: não se pode confundir esta espécie de erro de proibição com o chamado erro de tipo permissivo ( descriminantes putativas), que vem disciplinado no artigo 20, § 1º do Código Penal. A diferença entre os dois conceitos, apesar de sutil, não pode ser ignorada. Continue prestando atenção: no que toca ao erro que recai sobre as causas de justificação ou excludentes de antijuridicidade, convém lembrar que se o erro versar sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, estaremos diante do que se denomina erro de tipo permissivo ( descriminantes putativas). Contudo: quando o objeto do erro for a existência ou limites da norma permissiva, erro será de proibição ( indireto ). Tenha em mente que: todas as modalidades de erro de proibição supracitadas geram os mesmos efeitos. Quais sejam: excluem a culpabilidade quando inevitáveis, e diminuem a pena, de 1/6 à 1/3 quando evitáveis. 4 – Teorias do Dolo e da Culpabilidade Não poderíamos deixar de tratar, nesta nossa aula que cuida do erro jurídico-penal, sobre as teorias do dolo e da culpabilidade. Isto porque cada uma delas disciplina a matéria ( erro jurídico-penal) de uma forma diferente. Em outros termos: é chegado o momento de fazermos uma breve explanação sobre as referidas teorias para que possamos, assim, finalizar nossos estudo sobre o erro jurídico-penal. Vejamos então quais são estas teorias, para depois falarmos sobre cada uma delas: teoria extremada do dolo teoria limitada do dolo teoria extremada da culpabilidade teoria limitada da culpabilidade. Teoria extremada do dolo: esta é a mais antiga das teorias, e tem como principal característica situar o dolo na culpabilidade, e a consciência da ilicitude no próprio dolo. Para a teoria em apreço, portanto, o dolo é formado dos seguintes elementos: vontade, previsão e consciência da ilicitude. Sendo que: tal como ensina-nos o Profº. Francisco de Assis Toledo , para esta teoria, o erro jurídico-penal, seja de tipo, seja de proibição, exclui o dolo, permitindo, todavia, a punição por crime culposo. Em outras palavras: a teoria extremada do dolo equipara as duas espécies de erro, quanto aos seus efeitos. A propósito: segundo alguns doutrinadores, é justamente nesta equivalência das conseqüências que reside o maior erro desta teoria. Nós, particularmente, concordamos com tal assertiva, haja vista que uma coisa é sujeito agir sem consciência dos elementos integrantes do tipo, e portanto, sem dolo, e outra coisa, completamente distinta, é o agente agir dolosamente, entretanto, sem consciência da ilicitude. A ausência de dolo, em face de erro sobre os elementos integrantes do tipo, nada tem a ver com falta de conhecimento da ilicitude. Saiba que: tal como ensina-nos Francisco de Assis Toledo , esta teoria perdeu adeptos devido às críticas que recebeu e às dificuldades de sua aplicação prática, sendo mencionada na maioria dos tratados modernos mais pelo seu valor histórico do que pela adesão dos autores. Teoria limitada do dolo: esta teoria teve, como principal objetivo, ser um aperfeiçoamento da teoria extremada do dolo, e desta ( teoria extremada do dolo) se diferencia apenas em alguns aspectos. A teoria limitada do dolo, tal como ensina-nos o supracitado penalista, substituiu o conhecimento atual da ilicitude, que era exigido pela teoria extremada do dolo, pelo conhecimento presumido, sendo que o tratamento do erro jurídico penal é semelhante em ambas as teorias ( extremada e limitada do dolo) A propósito: de acordo com Mezger, que foi o principal idealizador desta teoria, o dolo deveria ser presumido quando aignorância da ilicitude se originasse de uma cegueira jurídica ou de uma inimizade ao direito, que podem se exteriorizar através de condutas incompatíveis com uma razoável concepção de direito ou de justo. Sendo que: este aspecto foi alvo de inúmeras críticas, pois é por demais imprecisa a definição de “cegueira jurídica” ou “inimizade ao direito”. Além do que, é bom que se lembre que esta teoria se alicerça numa modalidade de culpabilidade que é extremamente combatida pelos modernos preceitos de Direito Penal, qual seja, a “culpabilidade pela condução da vida.” E tem mais: segundo o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, dessa forma se criaria a possibilidade de condenar o agente, não por aquilo que ele fez, mas sim pelo que ele é, dando origem ao combatido Direito Penal de Autor. Convém saber, ainda, que: segundo o penalista em questão, esta teoria passou a exigir consciência da ilicitude material e não puramente formal. A propósito: assim como a teoria extremada do dolo, a teoria limitada do dolo também perdeu bastante de sua importância e tanto uma, como a outra, hoje são lembradas apenas por seu valor histórico. Sendo que: tais teorias ficaram ainda mais obsoletas, segundo o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, com a reforma penal da Alemanha, nesta metade de século, que aderiu aos princípios fundamentais das teorias da culpabilidade. Teoria extremada da culpabilidade: esta teoria se originou da reformulação feita pela doutrina finalista, dos conceitos de dolo e culpabilidade. Sendo que: o maior avanço empreendido por esta teoria foi a separação do dolo e da consciência da ilicitude. Com tal separação, segundo o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, o dolo, no seu aspecto puramente psicológico ( dolo natural) é transferido para o injusto, passando a fazer parte do tipo penal, e a consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa passam a fazer parte da culpabilidade, num puro juízo de valor. Em outras palavras: para as teorias da culpabilidade, dolo e consciência da ilicitude são conceitos completamente distintos. A propósito: após a separação do dolo e da consciência da ilicitude, substituiu-se a consciência atual da ilicitude pelo conhecimento potencial, sendo que, acerca desta particular aspecto, temos por oportuno que se atente para os elucidativos ensinamentos do Profº. Cezar Roberto Bitencourt, que podem assim serem transcritos: “O conhecimento da antijuridicidade, tendo natureza distinta do dolo, não requer o mesmo grau de consciência; o conhecimento da antijuridicidade não precisa ser atual, pode ser simplesmente potencial.” ( Grifo Nosso) Preste muita atenção: os efeitos do erro jurídico-penal, após esta reestruturação do delito, variam conforme seu objeto. Isto porque: se o erro recair sobre os elementos estruturais do tipo penal ( erro de tipo) , se excluirá o dolo, mas se permitirá a punição à título culposo quando o erro for evitável, inescusável, e tal modalidade de responsabilização penal ( culposa) estiver prevista em lei, ou excluirá tanto o dolo como a culpa, se o erro for inevitável ou escusável. Entretanto: se o erro incidir sobre a consciência da ilicitude , sobre a consciência de contrariedade do fato com o ordenamento jurídico ( erro de proibição), não se excluirá o dolo. Este permanecerá intacto. Se afastará, neste caso, a culpabilidade, pelos motivos que já expusemos anteriormente. A propósito: vale relembrar que o erro de proibição afasta a culpabilidade pois afeta a consciência da ilicitude, que é um de seus principais fundamentos. Teoria limitada da culpabilidade: esta teoria, assim como a teoria extremada da culpabilidade, situa o dolo no tipo e a consciência da antijuridicidade na culpabilidade. Sem contar que ambas as teorias da culpabilidade adotam o erro de tipo como excludente do dolo e admitem, quando for o caso, a punição à titulo de culpa. Além de estabelecerem que o erro de proibição inevitável é causa de exclusão da culpabilidade, e não permite a permite a punição quer a título de dolo, quer a título de culpa. Entretanto: sérias divergências surgem entre estas duas teorias ( extremada e limitada da culpabilidade ), quando se trata de erro que verse sobre as causas que excluem a antijuridicidade, que verse sobre as causas de justificação. Isto porque: para a teoria extremada da culpabilidade, sempre que o erro versar sobre uma causa de justificação, será tratado como erro de proibição, com as conseqüências desta espécie de erro. Em contrapartida: para a teoria limitada da culpabilidade, há que se fazer uma distinção entre o erro que versar sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, e o erro que versar sobre a abrangência ou existência de uma causa de justificação. Sendo que: de acordo com a teoria limitada da culpabilidade, quando o erro recair sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, deverá ser considerado como erro de tipo permissivo, e sofrer, por conseqüência, os mesmos efeitos do erro de tipo, quais sejam: o dolo será excluído e se permitirá a punição à título de culpa quando tal modalidade estiver prevista em lei. Quando, entretanto: o erro versar sobre os limites ou existência de uma causa de justificação, reza a teoria em estudo que deverá, o erro, ser considerado “erro de proibição”, e sofrerá os efeitos pertinentes à esta espécie de erro, quais sejam: a culpabilidade será excluída quando o erro for inevitável, e diminuída quando o erro for evitável. Preste muita atenção: a Reforma Penal de 1984, não obstante a polêmica que permeia o assunto, seguiu a mesma linha do Código Penal de 1940, e adotou teoria limitada da culpabilidade. E isto se afirma com base no que preceitua o item 19 da Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do Código Penal, que pode assim ser transcrito: 19. Repete, o Projeto as normas do Código de 1940, pertinentes às denominadas “descriminantes putativas”. Ajusta-se assim, o Projeto, à teoria limitada da culpabilidade, que distingue o erro que recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação do que incide sobre a norma permissiva. Tal como no Código vigente, admite-se nesta área a figura culposa. ( Grifo Nosso) Questão-Problema Um sujeito conhecido como Juquinha Chifronésio, pretendia matar sua esposa Maria dos Prazeres, pois esta, há mais de um ano vinha lhe traindo. Para tanto, ele sai de casa com seu revólver e se esconde atrás de um poste, visando atingi-la com tiros quando descesse do ônibus. Ao ver uma mulher descer a rua ele, supondo que se tratava de sua esposa, dispara conta ela vários tiros e depois, para aumentar ainda mais a sua “ira”, ele percebe que acabara de matar a mulher de seu melhor amigo, que não tinha nada a ver com a história. Após o ocorrido ele é preso em flagrante, sendo que, segundo seu Advogado, ele ( Juquinha Chifronésio) incorreu em erro de tipo vencível e sendo assim, deverá ser excluído o dolo e a culpa da conduta, e consequentemente, a tipicidade. Responda: as alegações do advogado do homicida estão corretas ? Porque ? Quadro Sinóptico 1 - Dispositivos legais pertinentes ao tema: artigos. 20 e 21 do Código Penal�. 2. A punibilidade deve se alicerçar em um dano ou perigo censuravelmente provocados. Esta censura, por sua vez, se funda na consciência, por parte do agente, dos elementos estruturais do delito e da ilicitude da conduta. 3. Erro de tipo: visão distorcida da realidade que incide sobre os elementos estruturais do delito. 4. Erro de Proibição: visão distorcida da realidade que impede que se forme, no agente, a consciência da ilicitude. E justamente por prejudicar no agente a consciência da ilicitude, o erro de proibição gera efeitos na culpabilidade, pois como já se lecionou, o potencial conhecimento da ilicitude éum dos elementos basilares da culpabilidade. Sem consciência da ilicitude não há que se falar em culpabilidade. Lembre-se que: falta de consciência da ilicitude nada tem a ver com ignorância da lei. Esta será sempre inescusável, de acordo com o que preceituam o artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, e a primeira parte do artigo 21 do Código Penal. Ou seja: a ignorância da lei não pode servir de argumento para seu descumprimento. Por isso estabeleceu o legislador que ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que não a conhece. 6. Principal conseqüência do erro de tipo: descaracterização do dolo. 7. Erro de Tipo Permissivo: incide sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação. 8. Erro de Tipo Essencial: recai sobre elementares ou circunstâncias do crime, sem os quais o crime deixa de existir. O erro de tipo essencial se divide em: a – Invencível ( escusável): é o erro que não pode ser evitado pela normal diligência. Esta modalidade de0 erro exclui o dolo e a culpa. b – Vencível ( inescusável): é erro que poderia ter sido evitado se o agente tivesse tomado o mínimo de cautela exigível naquela situação. Esta modalidade de erro exclui o dolo, mas não exclui a culpa. Ou seja: esta espécie de erro exclui o dolo mas permite a punição à título de culpa, quando tal modalidade for prevista legalmente. Erro de Tipo Acidental: incide sobre dados secundários na norma penal incriminadora, e não impede que ao agente compreenda com exatidão a ilicitude de sua conduta. É por bem que se fixe que esta modalidade de erro de tipo não traz qualquer conseqüência jurídica. O agente responde pelo crime como se não houvesse erro. O erro de tipo acidental se divide em: a – Erro sobre o objeto – “Error in Objecto” – é o erro que recai sobre a coisa, que se constitui objeto material do delito. b – Erro sobre a pessoa – “Error in Persona” – tal modalidade de erro é disciplinada pelo artigo 20, § 3º do Código Penal. Nesta modalidade de erro, o agente pretende atingir uma pessoa, mas acaba por ofender, em virtude de erro de representação, pessoa totalmente alheia às suas intenções. Anote-se ainda, que a irrelevância do “error in persona” é de coerência ímpar, pois a norma penal não deve proteger esta ou aquela pessoa, mas sim todas as pessoas. c – Erro na Execução – “Aberratio Ictus”- esta espécie de erro se traduz em sendo uma aberração no ataque ou desvio no golpe. Ocorre quando uma pessoa, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra. d – “Aberratio Criminis” – Resultado Diverso do Pretendido – nesta espécie de erro, que é disciplinada pelo artigo 74 do Código Penal, o agente quer atingir um bem jurídico e ofende outro ( de espécie diversa). 10. “Aberratio Ictus” e “Error in persona” – apesar da aparente similitude, os dois conceitos não se confundem. No caso do “error in persona”, o terceiro é atingido em virtude de um erro de representação por parte do agente. E no caso da “aberratio ictus”, o terceiro é atingido em virtude de um erro ou falha nos meios de execução do delito, como por exemplo, erro de pontaria, desvio do projétil 11. Descriminantes Putativas são as causas de exclusão de antijuridicidade pensadas, mas inexistentes. São os casos em que o agente , por erro, imagina estar agindo sob o abrigo de uma causa de exclusão de antijuridicidade quando esta, na verdade, é inexistente. 12. As descriminantes putativas são reguladas pelo artigo 20, § 1º do Código Penal. 13. Erro Provocado Por Terceiro : Esta é a hipótese de o agente ter atuado em erro, em virtude de provocação ou determinação de terceiro. 14. O erro provocado por terceiro é disciplinado pelo artigo 20, § 2º do Código Penal. Lembre-se que: de acordo com o dispositivo legal que disciplina a matéria, o terceiro que determinar o erro responde pelo crime. E é por bem que se fixe que o terceiro responderá pelo crime à título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento subjetivo do induzimento. 15. Erro de Proibição: erro de proibição é o erro que recai sobre a ilicitude da conduta. É o erro que impede o agente de compreender o caráter ilícito de sua ação. 16. esta espécie de erro é disciplinada pelo artigo 21 do Código Penal. Erro de Proibição - Conseqüências Jurídicas: o erro de proibição, quando inevitável, exclui a culpabilidade, e quando evitável diminui a pena de 1/6 à 1/3. Quando da ocorrência de erro de proibição evitável, a culpabilidade não será excluída, mas apenas diminuída. Não se esqueça que: a falta de consciência da ilicitude, que configura o erro de proibição, nada tem a ver com a ignorância da lei, que será sempre inescusável. 18. Erro de Proibição – Classificações e Efeitos Erro de Proibição Inevitável ou Escusável: é o erro que ocorre quando o agente não tinha a mínima condição de conhecer a ilicitude de sua conduta, em face das circunstâncias do caso concreto. Como já se expôs, esta modalidade de erro de proibição exclui a culpa. Erro de Proibição Evitável ou Inescusável: é aquele em que, embora o agente desconheça a ilicitude de sua conduta, tinha condições para compreender que sua conduta ia de encontro ao ordenamento jurídico. Ou seja: era o agente, neste caso, dotado do potencial conhecimento da ilicitude. Como fora dita anteriormente, esta modalidade de erro de proibição apenas diminui a culpabilidade. Erro de Proibição Direto: neste caso, o agente, por erro inevitável, realiza uma conduta proibida ou por desconhecer a “norma proibitiva” ou por conhecê-la mal, ou por não compreender o ser verdadeiro âmbito de incidência. Erro Mandamental: é o erro que recai sobre uma norma mandamental, sobre uma norma impositiva, sobre uma norma que manda fazer. No erro mandamental o agente desconhece a ação que lhe é imposta pela norma mandamental. Nestes casos, supõe o agente, por erro inevitável, que não está obrigado a agir para impedir o resultado. Erro de Proibição Indireto: é o erro que versa sobre a existência ou sobre os limites de uma causa de justificação. Quando da ocorrência desta espécie de erro de proibição, o agente sabe que pratica um fato em princípio proibido, mas supõe, por erro inevitável que, nas circunstâncias, milita a seu favor uma norma permissiva. 19. Teorias do Dolo e da Culpabilidade a – Teoria Extremada do Dolo: situa o dolo na culpabilidade, e a consciência da ilicitude do próprio dolo. Para esta teoria o dolo é formado dos seguintes elementos: vontade previsão consciência da ilicitude Lembre-se que: para esta teoria, o erro jurídico-penal, seja de tipo, seja de proibição, exclui o dolo. Permitindo, entretanto, a punição por crime culposo. Esta teoria equipara as duas espécies de erro, quanto aos seus efeitos. b – Teoria limitada do dolo: esta teoria não se diferencia muito da teoria extremada. Entretanto, convém lembrar que esta teoria substituiu o conhecimento atual da ilicitude, que era exigido pela teoria extremada, pelo conhecimento presumido. c – Teoria estrita ou extremada da culpabilidade: se originou da reforma, feita pela doutrina finalista, dos conceitos de dolo e culpabilidade. Tal teoria separou o dolo da consciência da ilicitude. Este desmembramento gerou efeitos consideráveis, pois, como bem leciona Cezar Roberto Bitencourt, o conhecimento da antijuridicidade, tendo natureza distinta do dolo, não requer o mesmo grau de consciência; o conhecimento da antijuridicidade não precisa ser atual, pode ser simplesmente potencial. d – Teoria Limitada da Culpabilidade: esta difere da teoria extremada da culpabilidade apenas no que tange ao erro que versa sobre as causas de justificação, sobre as causas que excluem a antijuridicidade. Isso se afirma, pois para a teoria extremada da culpabilidade, sempre que o erro versar sobre uma causa de justificação, será tratado como erro de proibição, com as conseqüências desta espécie de erro. Já para a teorialimitada da culpabilidade, há que se fazer uma distinção entre o erro que versar sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, e o erro que versar sobre a abrangência ou existência de uma causa de justificação. � - uma vez que acaba por excluir ou diminuir a culpabilidade � - Decreto - lei 4.657 / 42 � - cada uma destas modalidades de erro de tipo será estudada de maneira mais detalhada logo adiante � - Princípios Básicos de Direito Penal. Saraiva; São Paulo; 1994, p. 269 � - Tal como preceitua o artigo 20, § 1º do Código Penal � - É de se asseverar que algumas modalidades de erro de tipo acidental são disciplinadas pelos artigos 73 e 74 do Código Penal, que disciplinam, respectivamente, a ”aberratio ictus” ( erro na execução) e a “aberratio criminis”( resultado diverso do pretendido). Ensino Jurídico à Distância