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o próprio meio de trabalho, a forma de existência material do capital. Revolta-se contra essa forma determinada do meio de produção como base material do modo capitalista de produção. Durante o século XVII, quase toda a Europa vivenciou revoltas de trabalhadores contra o assim chamado tear de fitas (também de- nominado em alemão Schnurmühle ou Mühlenstuhl), uma máquina de tecer fitas e galões.142 No final do primeiro terço do século XVII, uma serraria movida a vento, construída perto de Londres por um holandês, sucumbiu devido aos excessos do populacho. Ainda no começo do século XVIII, máquinas de serrar movidas a água só com dificuldade venceram a resistência popular apoiada no Parlamento. Quando, em 1758, Everet construiu a primeira máquina de tosquiar lã movida a água, ela foi queimada pelas 100 mil pessoas que deixou sem trabalho. Contra as scribbling mills143 e máquinas de cardar de Arkwright se dirigiram ao Parlamento 50 mil trabalhadores, que até então tinham vivido de cardar lã. A destruição maciça de máquinas nos distritos manufatureiros in- gleses durante os 15 primeiros anos do século XIX, provocada sobretudo pelo emprego do tear a vapor, ofereceu, sob o nome de movimento luddita, pretexto ao governo antijacobino de um Sidmouth, Castlereagh etc., para as mais reacionárias medidas de violência. É preciso tempo e experiência até que o trabalhador distinga a maquinaria de sua apli- cação capitalista e, daí, aprenda a transferir seus ataques do próprio meio de produção para sua forma social de exploração.144 OS ECONOMISTAS 60 142 O tear de fitas foi inventado na Alemanha. O abade italiano Lancellotti conta, num texto publicado em Veneza no ano de 1636: “Anton Müller de Dantzig viu, há cerca de 50 anos” (L. escrevia em 1629, “uma máquina muito engenhosa, que fabricava 4 a 6 tecidos ao mesmo tempo; mas como o Conselho Municipal receava que essa invenção transformasse uma porção de trabalhadores em mendigos, suprimiu o emprego da invenção e mandou secretamente estrangular ou afogar o inventor”. Em Leyden, a mesma máquina foi em- pregada pela primeira vez em 1629. As revoltas dos tecelões de galões obrigaram inicial- mente os magistrados a proibí-la; mediante diversas ordenações, de 1623, 1639 etc. por parte dos Estados Gerais, seu uso devia ser limitado; finalmente ela foi permitida, sob certas condições, mediante uma ordenação de 15 de dezembro de 1661. “Nessa cidade”, diz Boxhorn (Inst. Pol. 1663) sobre a introdução do tear de fitas em Leyden, “certas pessoas inventaram há cerca de 20 anos um instrumento para tecer, com o qual um indivíduo podia produzir mais tecido e com maior facilidade do que, de outro modo, várias pessoas em tempo igual. Isso levou a distúrbios e a queixas dos tecelões, até que o uso desse instrumento foi proibido pelo magistrado etc.” Essa mesma máquina foi proibida em Colônia em 1676, enquanto sua introdução na Inglaterra provocou na mesma época agitações entre os trabalhadores. Por meio de um édito imperial de 19 de fevereiro de 1685, seu uso foi proibido em toda a Alemanha, Em Hamburgo, ela foi queimada publicamente por ordem do magistrado. Carlos VI renovou a 9 de fevereiro de 1719 o édito de 1685 e o eleitorado da Saxônia só permitiu seu uso em 1765. Essa máquina, que causou tanta barulheira no mundo, era efetivamente precursora das máquinas de fiar e tecer, portanto da Revolução Industrial do século XVIII. Ela capacitava um jovem sem nenhuma experiência em tecelagem a pôr em movimento, empurrando e puxando uma barra acionadora, o tear inteiro, com todas suas lançadeiras, e produzia, em sua forma aperfeiçoada, 40 a 50 peças de uma só vez. 143 Moinhos de cardar. (N. dos T.) 144 Em manufaturas antiquadas, ainda hoje se repete às vezes a forma primitiva da indignação dos trabalhadores contra a maquinaria. Assim, por exemplo, em Shefield, em 1865, entre os afiadores de limas.