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11/5/2011 1 Canais e Bombas de Membranas Permeabilidade seletiva • A bicamada lipídica é impermeável a íons e moléculas polares, mas às vezes é necessário que eles atravessem tais membranas. • Para que isso seja possível, duas classes de proteínas de membrana fazem esta função: as bombas e os canais. • As bombas usam uma fonte de energia (como ATP) para efetuar um transporte termodinâmicamente desfavorável, enquanto os canais apenas facilitam a difusão. 11/5/2011 2 Transporte em membranas • Algumas moléculas (lipófilas) podem passar pelas membranas por se dissolverem na camada lipídica. Exemplo: esteróides. • O sentido em que elas passarão por um processo de difusão simples, a favor de um gradiente de concentração. • Se a molécula for muito polar, há outros fatores envolvidos: mesmo a favor do gradiente de concentração (143mM�14mM), o sódio não entra livremente na célula. • Para que o sódio entre na célula, canais específicos permitem a difusão facilitada. Medida da energia livre • A energia livre relativa a gradientes de concentração pode ser medida (R é a constante universal dos gases (8,315*10-3kJ/mol ou 1,987*10-3kcal/mol): • Para moléculas com carga elétrica, um termo adicional deve ser usado devido à repulsão por cargas iguais. • Neste caso, os dois termos (devidos à concentração e à carga elétrica) são chamados conjuntamente de potencial eletroquímico ou potencial de membrana, e a energia livre é dada por: 11/5/2011 3 Transporte ativo • Quando a diferença de energia livre é positiva, o transporte é desfavorável, precisando ocorrer com gasto de energia livre (em geral ATP). • É o caso do transporte do sódio e potássio, feito pelas bombas de Na+ e K+ ou ATPases de Na+ e K+. • Através da hidrólise de ATP, elas transportam sódio para fora da célula e potássio para dentro, contra os gradientes de concentração. • Mais de um terço do ATP consumido por um animal em repouso é usado para bombear esses íons. ATPases do tipo P • Em geral, bombas de membranas podem existir em duas conformações: em cada um, os sítios de ligação a íons está aberto para um lado. • Muitas informações sobre esses mecanismos foram obtidas através das estruturas da ATPase para Ca2+, uma ATPase do tipo P (nome devido à formação de um intermediário fosforilado) 11/5/2011 4 ATPase para Ca2+ • A ATPase para Ca2+ do retículo sarcoplasmático (SERCA) constitui 80% das proteínas da membrana do retículo sarcolasmático, tendo importante papel na contração muscular (disparada por um rápido aumento no nível de cálcio citoplasmático). • O relaxamento muscular depende da eliminação do Ca2+ do citoplasma para o retículo sarcoplasmático (especializado para o armazenamento de cálcio) pela SERCA. ATPase para Ca2+ • Cada íon cálcio é coordenado a sete átomos de hidrogênio de resíduos de ácido glutâmico, ácido aspártico, treonina e asparagina, além de grupos carbonil da cadeia principal e água. • Quase metade da massa da proteína é constituída pela sua parte citoplasmática, composta pelo domínio N (que se liga ao nucleotídeo ATP), P (em que há a fosforilação de um ácido aspártico) e A (que pode servir como ativador da enzima unindo as alterações em N e P à porção transmembranar). 11/5/2011 5 Mecanismo da SERCA • A SERCA funciona segundo o seguinte ciclo: – No primeiro estágio, a proteína está defosforilada e ligada a dois íons de cálcio (Estado E1). Só pode haver troca de cálcio no lado citoplasmático. – Ligando-se ao ATP, há um rearranjo dos domínios N, P e A, mas não na porção transmembranar. Os íons cálcio encontram-se aprisionados. – Uma fosforila é transferida do ATP para o Asp351. – Ao liberar ADP, a enzima inteira muda de conformação (Estado E2 ou E2-P quando fosforilada). – No estado E2-P há rompimento da coordenação do Ca 2+, liberando-os no lado oposto. – Hidrólise do fosforil-aspartato, liberando fosfato inorgânico. – Com a defosforilação, as interações que estabilizam o estado E2 são perdidas, com a enzima voltando ao estado E1. – Dois íons cálcio ligam-se à enzima novamente. Mecanismo da SERCA Molmovdb.org 11/5/2011 6 Inibição de bombas • Alguns compostos, como os esteróides derivados de vegetais digitoxigenina e ouabaína (conhecidos como esteróides cardiotônicos), são potentes inibidores da bomba de sódio e potássio (Ki≈10nM). • Tais compostos podem aumentar a força de contração do músculo cardíaco, possibilitando seu uso para o tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. Outras ATPases do tipo P • O genoma de levedura revelou a presença de 16 homólogos de ATPases do tipo P. • Análises da seqüência sugerem que duas destas transportam íons H+, duas transportam Ca2+, três transportam Na+ e duas transportam metais como o Cu2+. • Outros cinco membros aparentemente transportam fosfolipídeos contendo aminoácidos como “cabeça”. • Com o advento do genoma humano, identificou- se 70 ATPases do tipo P. 11/5/2011 7 Proteínas MDR • A partir de estudos de doenças humanas, outra classe de bombas foram identificadas: as Proteínas MDR (do inglês multi drug resistance). • Estudando o fenômeno de resistência múltipla a fármacos, verificou-se correlação com a expressão de uma proteína de 170kD – uma bomba dependente de ATP que extrai várias moléculas das células que as expressam. Transportadores ABC • Análises de seqüência das MDR e suas homólogas revelaram uma arquitetura comum, com quatro domínios, dois deles transmembranares e dois ligantes de ATP, chamados ABC (do inglês ATP binding cassette). • Trassportadores que incluem esse domínio são chamados de Transportadores ABC, que em humanos apresentam 150 genes. 11/5/2011 8 Mecanismo dos transportadores ABC • Pode-se também definir um ciclo para o mecanismo dos transportadores ABC: – O primeiro estado consiste no transportador livre ATP e substrato, que pode se interconverter nas formas aberta e fechada. – O substrato se liga na cavidade central da forma aberta do lado de dentro da célula. Mudanças conformacionais nos domínios ABC aumentam sua afinidade pelo nucleotídeo. – O ATP se liga aos domínios ABC, gerando uma forte interação entre eles. – Há uma consequente mudança nos domínios que atravessam a membrana, liberando o substrato para fora. – A hidrólise do ATP com liberação de ADP e fosfato leva o transportador ao estado inicial. Acoplamento de transportes • Não necessariamente é necessário usar ATP para o transporte ativo – o transporte termodinamicamente desfavorável de uma molécula ou íon pode ser feita através do acoplamento com um transporte termodinamicamente favorável. • Nesse caso, as proteínas são chamadas transportadores secundários ou co- transportadores. 11/5/2011 9 Acoplamento de transportes • Há proteínas que acoplam o fluxo favorável de uma molécula/íon ao fluxo desfavorável de outro em sentido contrário – nesse caso diz-se que ela efetua antiporte. • Quando a proteína acopla o fluxo desfavorável ao fluxo favorável de outra molécula/íon no mesmo sentido, diz-se que ela efetua simporte. Lactose permease • A lactose permease é um dos transportadores secundários mais estudados, e acopla o transporte de H+ e de lactose para dentro da célula. • O transporte de lactose para dentro da célula é desfavorável, portanto a energia livre vem do gradiente de concentração de H+, muito mais concentrado no exterior da célula. 11/5/2011 10 Ciclo da lactose permease • Para efetuar o simporte, a lactose permease passa pelas seguintes etapas: – As duas metades da molécula se orientam com a abertura para o lado externo da célula, e um próton externo se liga a um aminoácido na permease (provavelmente Glu269). – Na forma protonada, a permease se liga à lactose. – A estrutura se everte, liberando a lactose e em seguida um próton para o interior celular. – A estrutura se everte novamente, voltando ao estado inicial. Canais iônicos • Enquanto as bombas podem transportar milhares de íons por segundo, os canais iônicos podem fazer este transporte (no caso, passivo) em velocidades até mil vezes maiores, próximas às esperadas para a difusão livre em solução. • Porém, eles não apenas permitem o fluxo livre dos íons, mas também são suscetíveis a variações físicas e químicas do ambiente, levando também a mudanças conformacionais. 11/5/2011 11 Impulsos nervosos • O interior do neurônio (assim como a maioria das células) possui alta concentração de potássio e baixa de sódio, gradiente gerado pelas ATPases de Na+ e K+. • A membrana apresenta potencial elétrico referente às concentrações iônicas externa e interna, sendo -60mV em repouso. • Um impulso nervoso, ou potencial de ação, é gerado quando há uma despolarização desse potencial de membrana além de um valor crítico (e.g.: -60mV para - 40mV), que torna-se positivo dentro de aproximadamente 1ms (chega-se a aproximadamente 30mV) antes de voltar ao valor negativo inicial. Potenciais de ação • Os potenciais de ação são resultado de alterações grandes mas transitórias na permeabilidade da membrana do axônio aos íons sódio e potássio. • A passagem de Na+ pela membrana despolariza-a além do limiar, aumentando ainda mais a permeabilidade (realimentação positiva), levando à rápida e intensa mudança no potencial de membrana. • Em seguida, a membrana se torna menos permeável ao sódio e mais permeável ao potássio, expulsando estes e levando o potencial de volta ao valor negativo, restaurado em poucos milissegundos. 11/5/2011 12 Patch-clamp • Em 1976, Neher e Sakmann introduziram a técnica de patch-clamp, capaz de medir a condutância iônica em uma única célula. • Uma micropipeta é comprimida contra uma célula, formando uma vedação. • Essa vedação permite medidas de corrente com alta resolução pela aplicação de uma voltagem conhecida através da membrana, por intervalos de microssegundos. Patch-clamp 11/5/2011 13 Obtenção de canais • O canal de sódio foi purificado primeiramente a partir de enguias, usando como guia sua capacidade a se ligar muito fortemente (Ki≈10nM) à tetrodotoxina. • Já a purificação dos canais de potássio foi muito mais difícil, devido à baixa quantidade e falta de ligantes conhecidos com alta afinidade. Ela ocorreu após a clonagem de um gene de mosca- das-frutas, descobrindo-se que uma das subunidades do canal de potássio é homóloga a uma das unidades dos canais de sódio. Estrutura do Canal de Potássio • A especificidade iônica do canal de potássio pode ser compreendida através de sua estrutura cristalográfica. 11/5/2011 14 Estrutura do Canal de Potássio • O diâmetro inicial do poro é de 10Å, estreitando- se para uma cavidade consideravelmente menor (3Å). • A abertura externa e a cavidade central são preenchidas com água, e um íon de potássio pode se adaptar ao poro ainda solvatado. • Na porção mais estreita, os íos devem doar as moléculas de água e interagir diretamente com a proteína, o que ocorre com as carbonilas da sequência TVGYG Permeabilidade seletiva • Os canais de potássio são 100 vezes mais permeáveis ao potássio que ao sódio. • Íons com raios maiores que 1.5Å não passam na porção mais estreita (o potássio tem ráio 1.33Å). • O sódio não solvatado poderia passar (raio 0.95Å). Porém, como a dessolvatação do sódio não é tão favorável que a do potássio (devido à orientação das carbonilas), ele acaba não tendo seu transporte facilitado. 11/5/2011 15 Canais acionados por voltagem e ligantes • Há canais de sódio e potássio* acionados pelo próprio potencial de membrana. Nestes canais, a diferença de potencial leva a uma mudança de conformação que abre ou fecha o canal. • Há também aqueles ativados por ligantes, como o receptor de acetilcolina, que quando da ligação desta molécula altera sua permeabilidade a íons (tanto sódio quanto potássio), disparando um potencial de ação. Junções em fenda (gap junctions) • As junções em fenda ou canais de célula a célula são vias de passagem entre células adjacentes, com um orifício central de 20Å. • Pequenas moléculas hidrofílicas e íons podem passar. Isso ocorre para todas as moléculas polares abaixo de 1kD, o que inclui muitos metabólitos como oses, aminoácidos e nucleotídeos. 11/5/2011 16 Junções em fenda (gap junctions) • Elas são importantes para a comunicação intercelular, permitindo respostas sincronizadas a estímulos. • Estes canais ligam citoplasma a citoplasma, atravessando duas membranas ao invés de uma. • Eles podem ser bloqueados por Ca2+ e H+, isolando células normais de vizinhas traumatizadas ou mortas, além de poderem ser controladas por potencial de membrana e fosforilação. Canais para permeabilidade à água • Há também canais que não transportam íons ou pequenas moléculas, mas aumentam a velocidade de difusão da água pelas membranas. • Embora a água já seja capaz de passar pela membrana, às vezes isso precisa ser feito de forma rápida, como nos rins ou na secreção da saliva e das lágrimas. • Essas proteínas são chamadas aquaporinas, e possui um canal hidrofílico que permite a passagem de água a 106 moléculas por segundo. 11/5/2011 17 Aquaporinas • A estrutura da aquaporina foi determinada, o que também possibilitou a sua utilização para simulações de dinâmica molecular. Theoretical and Computational Biophysics group Urbana-Champaign Pesquisa no ICB