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05/02/2013 Adam Smith dizia que as falhas do mercado podem ser resolvidas pelo próprio mercado, o mercado autorregulado tem condições de fazer os ajustes necessários para sua própria superação. Em 2008 e não necessariamente nesse período do século XX, o Estado foi chamado a intervir, se não fosse à ação dos Estados, principalmente dos Estados Unidos, intervir fortemente no mercado, intervir fortemente na atividade econômica, os Estados Unidos compraram fábricas, emprestaram dinheiro. O Estado teve que fazer uma mobilização muito grande, caso contrário provavelmente o capitalismo teria sofrido uma crise maior do que efetivamente sofreu. Então essa ideia de Hobbes e o ponto de interrogação fora do Estado é de alguma maneira do ponto de vista da economia uma grande preocupação, uma grande dúvida sobre as suas possibilidades de serem construídas ou não e o que a gente vai poder fazer se já está tudo dado e a gente tem que continuar ou com esse Estado liberal ou essa ideia de Estado protetor, ou essa ideia de Estado de previdência, ou Estado de bem estar social. E outra questão que ficou da discussão do Rosanvallon e Sping Andersen é uma discussão sobre democracia. A gente volta a ter que definir democracia de uma forma mais adequada, mais apurada, porque vimos também nos textos anteriores que esse Estado liberal mesmo que de uma forma o Estado do bem estar social, não conseguiu promover efetivamente a igualdade entre todos, quer dizer, não conseguiu eliminar a divisão de classes e que, portanto a ideia de democracia não seria a ideia de cada cabeça uma sentença, as potencias democráticas não são divididas de forma absolutamente igualitárias. Ainda hoje no Brasil temos situações interessantes de pessoas que podem votar, mas não podem ser votadas, isso parece um pouco anti-cidadão, se você pode ser um eleitor, porque não pode ser eleito? Analfabeto pode ser votado? Formalmente analfabeto não pode ser votado. Então se tem 02 problemas, primeiro não universalizaram uma sociedade escolarizada, uma sociedade alfabetizada e penalizaram porque não universalizaram o cidadão que eventualmente pode ser analfabeto vir a representar os próprios analfabetos. A democracia continua a sendo um conceito extremamente interessante, extremamente instigante de se pensar efetivamente qual é a unidade democrática que deve viger. As possibilidades de democracia na América (Alain Touraine) na visão de Lobão: Esse texto foi apresentado numa palestra do Congresso de Ciências Sociais da Associação de Pesquisadores em Ciências Sociais e ele foi apresentado em 1985. Então essa década de 80, estamos no Brasil fazendo uma discussão da redemocratização, no auge do fim da ditadura, ou seja, o período de exceção democrática já está definido como por terminar, mesmo que a eleição do Sarney e do Tancredo tenha se dado por voto indireto, a sociedade brasileira se encontrou satisfeita com a decisão daquele colégio eleitoral do Congresso e tanto isso que posteriormente estabeleceu a Assembleia Nacional Constituinte e varias questões seriam interessantes de serem pensadas nesse sentido. 05/02/2013 E o Touraine que é um sociólogo e filósofo francês veio fazer é exatamente discutir como a democracia ou como pelo menos esse ideal de democracia chegou ou como ele funciona na América Latina. O que é interessante de pensar a partir deste texto? É porque do ponto de vista da ciência política ou da própria sociologia aquilo que pro direito é universalmente igual, do ponto de vista da reflexão sociológica da ciência política não o é. E aí ele analisa um pouco essa importação e aí talvez a questão do título a gente possa fazer de uma discussão mais próxima do que eu estou falando, são as possibilidades do Estado democrático de direito na América Latina, leiam esse conceito de democracia como uma pergunta. Esse Estado democrático de direito que foi constituído com base naquelas premissas todas que a gente vem lendo, do ponto de vista do pensamento do contratualismo inglês, do contratualismo francês, do Estado protetor, do Estado liberal, do Estado do bem estar social (Walfere State). Como é que essas ideias chegam até aqui? Como é que elas efetivamente podem ser implementadas? A nossa realidade social, política, social, econômica, jurídica permite com que a gente tenha essa visão de democracia de forma clara dentro do alcance do território de cada um dos países. Aí ele tem algumas questões que são interessantes, principalmente quando ele faz a comparação entre dois modelos coloniais. Por que isso passa a ser de alguma forma interessante na perspectiva da América Latina? Porque toda a América Latina foi colonizada de certa maneira por um mesmo lugar, a Península Ibérica, ou os colonizadores são espanhóis ou são portugueses. Apesar de que vocês sabem que num determinado momento da história ou pelo menos em mais de um momento da história desse modelo colonial, Portugal e Espanha estiveram em conjunto. Apesar disso mesmo durante esses momentos de trabalho em conjunto, os modelos coloniais são absolutamente distintos. E aí tem uma nova vertente do direito, que se chama o novo constitucionalismo latino-americano, então o que Lobão vai falar a seguir tem que ser guardado porque mais a frente isso vai debater fortemente em nossa reflexão porque o constitucionalismo latino-americano ou o novo constitucionalismo latino-americano está apontando para questões interessantes que vem exatamente de um pós-colonialismo muito claro, muito especifico que apesar disso bastante diferente entre si. Só para fazer um paralelo aqui, lembrando a aula passada e anteriores, do ponto de vista do colonialismo europeu, principalmente daquele localizado na Inglaterra e na França, principalmente sobre a África, ele seguiu outro modelo colonial, não foi claramente um modelo colonial de ocupação, os franceses não foram ocupar a África, nem os ingleses, os belgas, holandeses, alemães, a grande maioria foi apenas para garantir mercados ou explorar recursos. A colonização anterior a essa, seja a colonização inglesa, seja a colonização francesa, colonização espanhola, colonização portuguesa nas Américas seguiu outro modelo, foi uma colonização basicamente de ocupação e de atividades econômicas não extrativas, ou seja, levou-se lógico que a Espanha e Portugal roubaram muito ouro, mas depois do ciclo do ouro e das pedras preciosas, eles vieram produzir coisas no Novo Mundo. A França foi produzir coisas no Caribe, foi produzir coisas na América do Sul, no Suriname. Há lugares onde esse modelo 05/02/2013 colonial foi produtivista. Mas o que nos interessa para falar da América Latina é esses dois modelos coloniais que aparentemente são semelhantes, mas são muito diferentes. Como vocês diriam que os países que compõe a América do Sul que tem origem espanhola se constituíram como países independentes? Como é que eles se tornaram independentes? Porque em cada um dos lugares que hoje é a capital de um Estado da América do Sul, havia universidade. Havia uma cultura crioula local. Havia um grupo de ocupação, não simplesmente de ocupação no sentido de exploração, havia um grupo que se consolidou e principalmente o colonizador espanhol fez uma política de assentamento inclusive acadêmica, universitária. A colonização espanhola muito antes do Brasil já tem universidades dentro da colonização espanhola e principalmente depois do século XVI, mas perto do século XVII e XVIII é que o sistema colonial que o Alain Touraine chama atenção no seu texto caracterizaria de uma forma mais clara essa colonização seria o da encomienda. Aí qual é a expressão que ele está usando? Que dizia a forma de lidar com os nativos, a tal da encomienda ou encomendero, eles são basicamente distintos do conceito que atravessou a colonização portuguesa que foi oposto, foi a ideia das Seis Marias. Então o que é interessante analisar, qual é a diferença desses dois conceitos que implica no futuro isso tem impactos interessante? Se na América espanhola o que você tem é uma forma de o colonizador se relacionar com o colono no sentindo de cuidar dos nativos e ser responsável pelos nativos, ou seja, pelos grupos originários, a colonização portuguesa trabalhou no sentido de distribuir terra para a terra ser produtiva. Então não é de menos importância o que você percebe que é a consequência natural dessa divisão. O que aconteceu necessariamente para garantir as Seis Marias do colonizador português, tendo sentido que as Seis Marias só era garantida como terra produtiva, o que precisou para esse sistema funcionar? Mão-de-obra, e ela foi escrava. Então a ideia da mão-de-obra escrava é algo que fez parte intimamente desse processo de colonização portuguesa. Se no processo da colonização espanhola o que se está mais preocupado é com a construção de uma sociedade que respeite e cuide dos nativos, depois de ter dizimado o império Inca, Maia, Asteca, etc, se tem claramente uma mão-de-obra não escrava. O que tem aqui é um processo de mão-de-obra livre enquanto na colonização portuguesa tem um processo de mão-de-obra escrava, isso quer dizer que estes Estados que compõe a América Latina, diferentemente do Estado brasileiro, eles têm claramente uma discussão plurinacional. O que isso significa que está acontecendo dentro das possibilidades de democracia na América Latina, de alguma maneira o que Alain Touraine diz é que nesses dois sistemas, quer queria, quer não, no sistema onde haja várias nações dentro de um Estado, ou num sistema como no Brasil que haja apenas uma nação mais várias etnias. É preciso, ou foi preciso, você sempre alternar numa situação de força para controlar essa qualidade. Então se for pega a história das constituições brasileiras, da democracia brasileira, perceberemos que a partir do republicanismo, temos 02 grandes períodos de exceção democrática bastante longos, bastante fortes e principalmente com muita pouca participação democrática nos entre ditaduras. 05/02/2013 A ideia do Gaudilho, a ideia do populismo, essas outras versões do sistema político tanto no Brasil quanto na América Latina e todos os países da América Latina, você acompanha claramente ditaduras, famílias que se apoderam do poder político para tentar produzir de alguma forma, algum tipo de controle. Essas então as discussões de Touraine e ele apresenta 04 condições básicas para a construção da democracia. A primeira coisa que ele chama atenção é que do ponto de vista de sua teoria dele ou da teoria sociológica francesa para a democracia você tem que ter um espaço político reconhecido por todos que ele afirma claramente que não há democracia se não há cidade. Então a primeira coisa que ele chama atenção é o seguinte, é claro que fruto da revolução francesa, é fruto de todo esse problema, a ideia é que para haver a democracia, tem que haver cidade e cidadãos. Essa é uma condição básica, e a ideia não é mais trabalhar um conceito de individuo. A democracia não está pautada em cima do individuo, está pautada em cima da ideia de cidadãos. E da mesma forma ele também recusa aquilo que também já havia acontecido na década de 40 e na década de 30 que é a ideia do Estado corporativo. Então mesmo no Brasil na década de 30, ou seja, a ideia de grupos profissionais que estabeleça como base do pilar da democracia, pra ele não é possível acontecer e simplesmente ele chama atenção que democracia também precisa ter a ideia de um sistema político. E esse sistema politico então tem que estar ligado como espelho da cidade. A outra pré-condição que ele estabelece para existência de democracia, é a ideia de separação de sociedade civil, como sendo o espaço plural de diversos interesses, e o Estado que é um só. A teoria já preparou aquela dimensão que a gente chamou atenção de que a nação já foi elevada a ideia de um espaço plural, não é mais um espaço singular, o Estado continua singular, mas a nação passou a ser plural e a ideia é que ela é governada, organizada pelo Estado. A outra discussão que ele faz como necessária para trazer a democracia é a ideia de igualdade entre os indivíduos, ou seja, toda a base democrática, toda a base eleitoral para se puder chamar de democracia, tem que ter uma igualdade entre os indivíduos, ou seja, todos tem que ter os mesmo direitos apesar das diferenças das capacidades dos indivíduos. O que ele chama atenção então, é que a democracia é necessariamente algo que estabelece a outorga de igualdade de direitos, ela não pode permitir que diferentes capacidades, diferentes recursos separem o potencial ou a potência democrática. E a ideia é que ele termina no final é uma articulação com o sistema político que é a ideia de grupo de interesse, o que ele está chamando atenção com isso? O problema não é necessariamente da democracia é a existência de partido político. E aí é uma questão interessante de pensar, que Cuba apesar de ser acusada e evidentemente por vários autores de não democrática porque ela só tem um único partido, o modelo democrático cubano é totalmente diferente do modelo democrático chinês. Em Cuba se tem várias formas de chegar até o poder da representação, se pode ser eleito pelo bairro, pelo sindicato ou pelo partido político, ou seja, é exatamente que você tem grupos de interesses reconhecidos e esses são a ideia da representatividade que se dá em níveis. A ideia que ele chama atenção é que a democracia é contrário de uma sociedade de 05/02/2013 massas é que seria como se a gente dissesse que democracia se toda hora nós fossemos chamados a participar. Então aqui é um problema que ele tá dizendo o seguinte, ele tá falando que a democracia representativa é o contrario disso, mas ele tem uma pergunta que não está respondida que é a qualificação da democracia participativa. Hoje acreditamos que nós elegemos um deputado, um vereador, um senador e a nossa participação democrática está completa. A gente é chamado a cada questão legislativa a participar? A pergunta é: é possível uma democracia participativa? É possível ou desejável que cada um de nós, cidadãos, sejamos consultados para cada decisão que o Estado tem que tomar? Cada vez mais temos tecnologia para fazer isso. Então se a ideia do espaço público é exatamente aquilo que ele comentou que é ideia desse espaço onde você possa construir essa cidadania, onde ela possa acontecer. Para ele é claro que esse espaço público é o espaço do cidadão e o espaço do cidadão é o espaço da cidade. Esse é para Lobão um dos maiores problemas da teoria política ou da teoria sociológica importada da Europa. Na Europa é claro que essa sociedade está praticamente toda ela organizada nas cidades ou em função das cidades. Lobão não tem certeza se no caso brasileiro ou no caso da América Latina isso aconteça da mesma forma. Alain Touraine faz toda uma discussão histórica sobre essa questão. A segunda questão que ele lança mão e é interessante pensar é essa discussão da separação entre Estado e sistema político. O que ele quer dizer com isso para ele imaginar uma democracia? Ele tem que imaginar que esse Estado tenha uma longevidade, ele tem uma estrutura que independe do sistema político. Então no pensamento de um francês que entendam é um Estado não federativo, é um Estado unitário, ele tem claramente uma centralidade do poder e a certeza, por exemplo, que um prefeito é um funcionário público, é mais ou menos óbvio. A gente não sabe exatamente o que é um prefeito ou é um governador, ou seja, na relação que nós temos com a prefeitura, até mesmo com o presidente, nós não temos a certeza que ele está realizando uma função pública. A gente considera que ele está realizando uma função de mando político, ele não está a nossa serviço, está lá para dirigir os nossos interesses, os nossos negócios. E o que ele chama atenção para isso funcionar direito, o Estado funcionar normalmente, primeiramente é necessário um corpo de funcionários que funcione independentemente da pressão política. O que ele chama atenção então é que de certa maneira deve haver uma separação entre Estado e sistema político. Essa discussão é bastante clara na federação Norte Americana e também no Estado francês, que é a figura do concurso público, ou seja, do ponto de vista desse funcionamento da máquina estatal tanto nos Estados Unidos quanto na França, o concurso público é uma forma que legitima essa unicidade, esse funcionamento do Estado tem a ideia da unidade acessada pelo concurso público, o que não quer dizer que de alguma maneira isso corresponda aquilo que a gente tem aqui que é a ideia do patrimonialismo que funciona como resultado do nosso concurso público. Lobão quer chamar atenção ao fato de que se essa ideia de unicidade do Estado e essa formação e essa seletividade de quem vai executar as funções públicas separado do sistema 05/02/2013 político partidário, e aí a ideia do concurso público fazer uma seletividade universal, o resultado do concurso público nessas sociedades não quer dizer que o cargo público é uma fração do Estado e que passa a ser patrimônio de quem foi aprovado no concurso. Lobão quer dizer com isso que nesse modelo, um cargo público é uma função pública que vai ser exercida por alguém que foi escolhido por uma seleção universal, um concurso, mas que poderá ser dispensando no momento em que aquela função ou atividade daquela pessoa não for considerada suficiente ou aquela função não for mais considerada necessária, ou seja, é uma forma de você garantir essa unidade do Estado separado do sistema político. O que quer dizer com isso? Quer dizer que quem vai ocupar o cargo público não é uma indicação do partido político que está no poder. O nosso sistema não funciona assim a partir de que eu faça concurso público para que? No momento em que eu sou aprovado no concurso público, eu posso passo a ocupar um cargo e aí é outra história no nosso caso. No momento em que eu passo a ocupar um cargo público, eu passo a possuir um pouquinho do Estado, “é meu!”. A ideia do patrimonialismo, ele tem claramente outra definição que poderia se dizer no caso brasileiro que é um autismo entre Estado e sistema político. Depois que você se torna um servidor público estável, você vira quase que um autista, não escuta mais a sociedade. É claro que ele volta então de alguma maneira a discutir a ideia de igualdade e de novo a gente volta a essa ideia de igualdade e da unicidade. A gente poderia fazer uma reflexão interessante no caso brasileiro é a ideia entre igualdade, desigualdade e diferença. A igualdade é um principio que todos defendemos, mas não existe. E aí caímos em outros dois princípios, diferença e desigualdade. Se materialmente as pessoas não são tratadas igualmente, defenderíamos que as pessoas devem ser tratadas desigualmente ou diferentemente? O que seria razoável para se opor ao conceito de igualdade? Diferença, só que infelizmente a nossa sociedade trabalha com desigualdade, o direito trabalha com desigualdade. Porque diferença é algo que nem todos são a mesma coisa, uma coisa é ter potencias diferentes na sociedade, isso é desigualdade, isso é você claramente entender que um indenização por dano moral sobre a mesma acusação seja valorada de forma diferente de acordo com a posição do individuo na sociedade. Ou seja, não é uma questão de diferença, é uma questão de desigualdade. Tem um outro conceito que esses autores do primeiro mundo não conseguem captar na nossa sociedade. Para eles isso aqui é um processo de estratificação social que se encerrou no antigo regime. O conceito de honra era muito presente nos países de primeiro mundo, mas ao longo do tempo ele foi desaparecendo e sendo substituído pelo conceito de dignidade. Dignidade é algo que todos temos igual, ela não é estratificada, ela não é hierarquizada. Ninguém é mais digno que outro, não há gradação. No Brasil ora se chama o principio da dignidade, ora se chama o principio da honra. 05/02/2013 No Brasil temos ainda dois conceitos diferentes, individuo e pessoa. Para determinadas questões nós somos indivíduos para outras pessoas. Num processo judicial dependendo de como for, seremos ou indivíduos ou pessoas. Por fim, nós temos também a ideia dos atores sociais. Ele chama atenção com isso, é a possibilidade ou a necessidade de para poder atingir a democracia, é a ideia de que não é o individuo ou conjunto de individuo. Ele chama atenção que esses atores sociais têm que ser ou devem ser necessariamente instituições. E aí a gente pode fazer uma ponte com algo que se desenvolveu fortemente nos último 20/30 anos que é a ideia do associativismo, ou a ideia de associações não governamentais, ou a ideia da construção de um terceiro setor, ou seja, a gente tem Estado de um lado, a gente tem sociedade do outro e um outro lado com a sociedade civil organizada. Essa sociedade civil organizada representa de alguma forma outro espaço publico para o qual o Estado tem que se relacionar para garantir essa ideia de pluralidade. E aí a gente tem uma complicação no nosso caso. No caso do associativismo visto como primeiro mundo, as ONG’s são efetivamente representatividade de uma parcela expressiva da sociedade, ou seja, quando uma associação não governamental fala com o governo, quando ela reclama, ela fala em nome de um conjunto de pessoas expressivo que estão vinculados através do associativismo daquela organização. No nosso caso Lobão não tem certeza se funciona assim. Por exemplo, quando o CAOV fala, ele fala da cabeça dele. No Brasil não temos uma ideia de “ING” – indivíduo não governamental – e não de ONG. Às vezes são ONG’s compostas por 2/3 indivíduos. A ideia do ING substitui um pouco essa ideia dos atores sociais coletivizados dentro do Estado, ou dentro das relações com o Estado. Mas de qualquer maneira é interessante pensar que para você se tornar um ator social dentro nesse conceito de democracia moderna, não adianta você censurar um individuo. Você tem que se revestir de uma legitimidade, que a ideia do associativismo ou da associação formal te permite. Ou se você quiser ser morador de um bairro e ir reclamar da prefeitura, você provavelmente não será ouvido. Se você fundar uma associação de moradores e ir reclamar em nome da associação de moradores você terá muito mais chances de ser ouvido, mesmo que seja você mesmo, mas se você falar coletivamente você terá mais atenção. Isso é algo que foi visto no texto do Tocqueville, foi algo que chamou a atenção dele, essa dimensão do associativismo na democracia norte americana. Só que isso hoje até mesmo na democracia norte americana já está em bastante declínio e é só importante pensar sobre isso até aqui!